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Ani Sobral Torres é doutora pelo Ipen – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da Universidade de São
Paulo na área de Sensoriamento Remoto da Atmosfera. Realizou pesquisas durante o doutorado sanduíche no Goddard
Space Fight Center – Nasa e na Howard University dentro da mesma área, publicando alguns artigos científicos como
resultado dessa pesquisa. Também é mestra pela Escola Politécnica da USP e graduada em Microeletrônica pela
Faculdade de Tecnologia de São Paulo. Publicou diversos artigos na área de sensoriamento remoto e monitoração de
poluentes na atmosfera e leciona diversas disciplinas nas instituições de Ensino Superior, UNIP – Universidade Paulista,
desde então. A Metodologia Científica sempre esteve presente ao longo de sua carreira acadêmica.
CDU 001.8
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Ana Luiza Fazzio
Sumário
Metodologia Científica
Apresentação.......................................................................................................................................................9
Introdução............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 CIÊNCIA.................................................................................................................................................................11
1.1 O que é ciência?......................................................................................................................................11
2 MÉTODO............................................................................................................................................................... 18
2.1 O que é método?................................................................................................................................... 18
2.1.1 Método indutivo...................................................................................................................................... 18
2.1.2 Método dedutivo..................................................................................................................................... 18
2.2 O papel do cientista............................................................................................................................. 19
2.3 O que é metodologia científica?..................................................................................................... 19
2.4 Histórico do método científico........................................................................................................ 20
2.5 O que é um paradigma?..................................................................................................................... 20
2.6 Um pouco mais da história da ciência......................................................................................... 20
2.7 Movimentos metodológicos............................................................................................................. 22
Unidade II
3 PRINCÍPIOS DE METODOLOGIA CIENTÍFICA........................................................................................... 30
3.1 Tipos de pesquisa................................................................................................................................... 30
3.1.1 A pesquisa acadêmica............................................................................................................................ 30
3.1.2 A pesquisa “de ponta”............................................................................................................................ 31
3.1.3 Caracterização das pesquisas............................................................................................................. 31
3.2 Leitura crítica.......................................................................................................................................... 35
3.3 Identificação do texto......................................................................................................................... 38
3.4 Leitura proveitosa.................................................................................................................................. 38
4 ANÁLISE DE TEXTOS........................................................................................................................................ 40
4.1 Análise textual........................................................................................................................................ 40
4.2 Análise temática.................................................................................................................................... 40
4.3 Análise interpretativa.......................................................................................................................... 40
4.4 Problematização.................................................................................................................................... 41
4.5 Síntese....................................................................................................................................................... 41
4.6 Pesquisa bibliográfica.......................................................................................................................... 41
4.7 Fontes de pesquisa................................................................................................................................ 42
4.7.1 Biblioteca.................................................................................................................................................... 42
4.8 Outras fontes utilizadas...................................................................................................................... 44
4.8.1 Arquivos oficiais do estado ou município..................................................................................... 44
4.8.2 Internet........................................................................................................................................................ 44
4.9 Resumo...................................................................................................................................................... 44
Unidade III
5 TIPOS DE TEXTO................................................................................................................................................. 48
5.1 Resenha crítica....................................................................................................................................... 48
5.2 Fichamento.............................................................................................................................................. 48
5.3 O processo da escrita........................................................................................................................... 49
5.4 Estrutura interna do texto acadêmico......................................................................................... 50
5.4.1 Dicas importantes para a construção do texto acadêmico.................................................... 54
5.5 Redação..................................................................................................................................................... 55
6 Projeto de pesquisa.................................................................................................................................. 57
6.1 Método indutivo.................................................................................................................................... 66
6.2 Método dedutivo................................................................................................................................... 67
6.3 Método hipotético dedutivo............................................................................................................. 68
6.4 Método dialético................................................................................................................................... 69
Unidade IV
7 ABNT – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – RELATÓRIOS DE PESQUISA – TRABALHOS
CIENTÍFICOS............................................................................................................................................................ 75
7.1 Monografia científica.......................................................................................................................... 75
7.2 ABNT........................................................................................................................................................... 77
7.3 Apresentação do trabalho................................................................................................................. 77
7.4 Estrutura do trabalho.......................................................................................................................... 78
7.4.1 Elementos pré‑textuais......................................................................................................................... 78
7.4.2 Elementos textuais.................................................................................................................................. 88
7.4.3 Elementos pós‑textuais......................................................................................................................... 89
8 CITAÇÕES............................................................................................................................................................. 96
8.1 Regras gerais de apresentação........................................................................................................ 96
8.2 Citação direta.......................................................................................................................................... 96
8.3 Citação direta de até 3 linhas.......................................................................................................... 97
8.4 Citação direta com mais de 3 linhas............................................................................................. 97
8.5 Citação indireta...................................................................................................................................... 97
8.6 Informações verbais............................................................................................................................. 98
8.7 Correspondências, cartas e telegramas........................................................................................ 98
8.8 Notas de rodapé..................................................................................................................................... 98
8.8.1 Ibid................................................................................................................................................................. 98
8.8.2 Idem.............................................................................................................................................................. 99
8.9 Relatório de pesquisa........................................................................................................................100
8.10 Projeto de pesquisa..........................................................................................................................100
8.11 Estrutura do projeto.........................................................................................................................101
8.12 Relatório de pesquisa......................................................................................................................103
8.13 Estrutura do relatório de pesquisa............................................................................................104
8.14 Tópicos da estrutura do relatório...............................................................................................106
8.15 Publicações e trabalhos científicos............................................................................................109
8.16 Trabalhos de congressos................................................................................................................109
8.17 Artigos científicos.............................................................................................................................109
8.18 Informe científico............................................................................................................................. 110
8.18.1 Ensaio científico................................................................................................................................... 110
8.19 Resenha crítica...................................................................................................................................111
8.20 Conferência..........................................................................................................................................111
Apresentação
Hoje em dia, o estudante universitário precisa redigir um trabalho de conclusão de curso, uma
monografia, uma dissertação ou uma tese, e a carência de um método científico pode comprometer a
qualidade do trabalho. A Metodologia Científica é usada em diversas áreas de pesquisa. Para o aluno de
Tecnologia da Informação, por exemplo, saber redigir uma monografia é um dos requisitos fundamentais
para concluir um trabalho de qualidade ao final do curso, bem como guiar o estudante nas etapas de
pesquisa científica. Imagine que um novo site como o Google ou outra ferramenta de informática foi
criado, mas não foi apresentado da forma apropriada; qual o resultado disso?
Da mesma forma, ao final de um curso universitário, de Pós‑graduação ou não, o estudante tem que
apresentar um trabalho escrito que siga os padrões da instituição de ensino, bem como as normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
Esta disciplina se caracteriza pelo estudo das principais ferramentas e especificações necessárias
para se desenvolver uma metodologia científica. Tem como objetivo geral que o aluno possa adquirir
conhecimento para o desenvolvimento de uma pesquisa científica pelo estudo da Metodologia Científica,
bem como desenvolver conhecimento para a redação de um trabalho, seguindo as normas estabelecidas.
Este livro‑texto é dividido em quatro unidades. Como objetivos específicos dessa disciplina, espera‑se
que você adquira conhecimentos.
Na unidade I, a história da ciência e seus conceitos, assim como uma introdução a Metodologia
Científica é apresentada.
Na unidade II, espera‑se que o aluno entenda os princípios da Metodologia Cientifica, os tipos de
pesquisa e como fazer uma análise textual.
Na unidade III, são estudados os tipos de texto acadêmico e quais são as diferenças entre monografia,
dissertação, tese e trabalho de conclusão de curso.
Ao final da unidade IV, espera‑se que o estudante seja capaz de definir um tema e uma metodologia
de trabalho para redigi‑lo e saber redigir um trabalho de pesquisa, respeitando as normas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
Introdução
A universidade evolui a grandes passos hoje. Voltada anteriormente à transmissão do saber adquirido
ou à conservação do patrimônio cultural do passado orienta‑se, em nossos dias, sob a pressão das
mudanças constantes que o desenvolvimento impõe à formação de profissionais de nível universitário.
Em razão dessa nova filosofia, o Ensino Superior tem por objetivo o desenvolvimento das ciências,
letras e artes por meio da pesquisa.
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Assim como foi estruturada e elaborada, a Metodologia Científica vem constituir para essa
tarefa um subsídio, cujo valor não pode ser negado: fornece os pressupostos do trabalho científico.
Estes compreendem certas normas consagradas pelo uso, entre cientistas, referentes à estrutura e à
apresentação do trabalho científico, além das técnicas e métodos reativos à pesquisa e à elaboração do
mesmo. Também são pressupostos do trabalho científico os mecanismos mentais que se desencadeiam
mediante o processo reflexivo.
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Metodologia Científica
Unidade I
O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário
(Albert Einstein).
1 CIÊNCIA
Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima (Louis Pasteur).
Existem inúmeras definições para “ciência”. Devido à dificuldade de encontrarmos uma única
explicação para o termo, começaremos falando sobre a origem etimológica da palavra.
No grego, a palavra ciência – scire – significa conhecer, portanto, a ciência para os gregos era
todo o saber criticamente fundamentado, ou seja, todo o resultado da indagação racional fazia parte
integrante de um único saber. Nessa fase, ela não se distinguia da filosofia.
Em latim – scientia – significa “um conhecimento que inclui, em qualquer modo ou medida, uma
garantia da própria validez”.
Deduzimos que a ciência é filha da filosofia (“amor à sabedoria”). Observamos que a vontade
humana de conhecer e buscar explicações para os fenômenos naturais fez com que os homens, desde
a Antiguidade, buscassem explicações fora dos conceitos metafísicos ou religiosos. Portanto, para
entendermos o que é ciência, precisamos entender quais os tipos de conhecimentos que permeiam a
nossa vida e diferenciá‑los.
Lembrete
Utilizaremos um texto escrito por Lakatos e Marconi para exemplificar a diferença entre o senso
comum e o conhecimento científico:
Desde a Antiguidade até aos nossos dias, um camponês, mesmo sendo letrado e/
ou desprovido de outros conhecimentos, sabe o momento certo da semeadura,
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Unidade I
Ao prestarmos atenção ao texto, percebemos que existem dois tipos de conhecimentos diferentes
que se misturam: empiria e teoria. Ou seja, um conhecimento que é adquirido por meio de experiência
e observação dos fatos e outro que é adquirido pela sistematização dessa observação.
Concluímos que o que diferencia esses dois conhecimentos “é a forma, o modo ou método e os
instrumentos do ‘conhecer’” (LAKATOS; MARCONI).
O filósofo grego Platão (428 – 348 a.C.) já afirmava que a garantia e a validade da ciência eram
constituídas pelo fato de ela se diferenciar das opiniões. Opiniões, segundo Platão, “[...] saem da alma
humana e não têm muita utilidade até que alguém consiga ligá‑las em um raciocínio causal”. Percebemos
que há muito tempo já se falavam nas diferenças existentes nas formas de conhecer o mundo.
O homem não age diretamente sobre as coisas. Sempre há um intermediário, um instrumento entre
ele e seus atos. Isso também acontece quando faz ciência, quando investiga cientificamente. Ora, não é
possível fazer um trabalho científico sem conhecer os instrumentos. E estes se constituem de uma série de
termos e conceitos que devem ser claramente distinguidos, de conhecimentos a respeito das atividades
cognoscitivas que nem sempre entram na constituição da ciência e de processos metodológicos que
devem ser seguidos, a fim de chegar a resultados de cunho científico e, finalmente, é preciso imbuir‑se
de espírito científico (CERVO; BERVIAN, 1976).
O que é conhecer? É uma relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido.
No processo do conhecimento, o sujeito cognoscente se apropria, de certo modo, do objeto conhecido.
Se a representação não é sensível, isso ocorre com realidades, tais como conceitos, verdades,
princípios e leis, tem‑se então um conhecimento intelectual.
Segundo Cervo e Bervian, têm‑se quatro espécies de considerações sobre a mesma realidade; o
homem e consequentemente o pesquisador estão se movendo dentro de quatro níveis diferentes de
conhecimento: conhecimento empírico, conhecimento científico, conhecimento filosófico e
conhecimento teológico.
Existem quatro formas ou tipos de conhecimentos, segundo Trujillo (2008), que diz que o
conhecimento se divide em:
Tipos de
conhecimentos
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Unidade I
• Conhecimento popular
É passado de geração para geração, chamado também de senso comum. É o conhecimento empírico
comum baseado nas experiências do ser humano com a própria natureza e com a sociedade.
Segundo Babini (1957), “[...] é o saber que preenche nossa vida diária e que se possui sem procurá‑lo
ou estudá‑lo, sem a aplicação de um método e sem se haver refletido sobre algo”.
Podemos dizer que esse conhecimento é valorativo, ou seja, depende dos estados de ânimo
e emoções do sujeito que irá colocar as suas opiniões a respeito dos objetos estudados sem ter um
distanciamento crítico do mesmo. Baseia‑se na organização particular das próprias experiências e não
de uma sistematização das ideias. Apesar de verificável, é falível e inexato.
O homem comum, sem formação, tem conhecimento do mundo matéria exterior onde se acha
inserido e de certo número de homens, seus semelhantes, com os quais convive. Vê‑los no momento
presente e lembrar‑se deles prevê o que poderão fazer e ser no futuro. Tem consciência de si mesmo, de
suas ideias, tendências e sentimentos. Cada qual se aproveita da experiência alheia.
Pela linguagem, os conhecimentos se transmitem de uma pessoa a outra, de uma geração a outra.
Pelo conhecimento empírico, o homem simples conhece o fato e sua ordem aparente, tem explicações
concernentes às razões de ser das coisas e dos homens e tudo isso obtido pelas experiências feitas ao
acaso, sem método e por investigações pessoais feitas ao sabor das circunstâncias da vida, ou então
haurido no saber dos outros e nas tradições da coletividade, ou ainda tirado da doutrina de uma religião
positiva.
• Conhecimento filosófico
Sua principal característica, segundo Trujillo (2004), é que as hipóteses filosóficas são baseadas na
experiência e na observação e não na experimentação. Ou seja, suas hipóteses não podem ser refutadas
nem confirmadas, apesar de serem sistematizadas e racionalizadas.
Portanto, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar
os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da
própria razão humana (LAKATOS; MARCONI, 2008).
A razão, vista sobre esse ponto de vista, tende a substituir e reunir as experiências numa única
vertente irrefutável.
A ordem natural do procedimento é, sem dúvida, partir dos dados materiais e sensíveis (ciência) para
se elevar aos dados de ordem metaempírica, não sensíveis, razão última da existência dos entes em geral
(filosofia).
Na acepção clássica, a filosofia era considerada como a ciência das coisas por suas causas supremas.
Modernamente, prefere‑se falar em filosofar. O filosofar é um interrogar, é um contínuo questionar a
si e a realidade. A filosofia não é algo feito, acabado. A filosofia é uma busca constante de sentido, de
justificação, de possibilidades, de interpretação a respeito de tudo aquilo que envolve o homem e sobre
o próprio homem em sua existência concreta (CERVO; BREVIAN, 1976).
A filosofia procura compreender a realidade em seu contexto mais universal. Não há soluções
definitivas para grande número de questões. Habilita, porém, o homem a fazer uso de suas faculdades
para ver melhorar o sentido da vida concreta.
• Conhecimento religioso
Tem como principal característica a utilização de doutrinas que contêm proposições sagradas e
reveladas pelo sobrenatural, ou seja, pela inspiração. Portanto, não pode ser contestado.
Sua origem é a criação divina e suas evidências não podem ser verificadas. O conhecimento
teológico ou religioso depende de um ato de fé, por ser considerado “revelação” de uma divindade
sobrenatural.
— Conhecimento teológico
• Conhecimento científico
É baseado em fatos (factual), lida com acontecimentos e é real. Sistematiza as observações em teorias,
criando hipóteses que podem ou não ser refutadas. Portanto, é falível, mas aproximadamente exato. Exige
verificação racional mediada pela observação e pela teorização das experiências e fatos. Forma um sistema
de ideias que possuem relações e conexões, organizando, assim, a experiência e a experimentação.
Hoje em dia, sabemos que todas essas formas de conhecimento, apesar de estarem metodologicamente
separadas, coexistem no ser humano e é a partir dessa interação entre valores, culturas, pontos de vista
e experiência que podemos refletir e observar a realidade, apreendendo‑a de formas diferentes.
Observação
Para Cervo e Brevian, o conhecimento científico vai além do empírico: por meio dele, além do
fenômeno, conhecem‑se suas causas e leis que o regem. É metódico.
Aristóteles diria que conhecemos uma coisa de maneira absoluta, quando sabemos qual é a causa
que a produz e o motivo porque não pode ser de outro modo; isso é saber por demonstração; por isso a
ciência se reduz à demonstração (apud CERVO; BREVIAN).
• É certo, porque sabe explicar os motivos de sua certeza, o que não ocorre com o empírico.
• É geral, isto é, conhece no real o que há de mais universal, válido para todos os casos da mesma
espécie. A ciência, partindo do indivíduo, procura o que nele há de comum com os demais da
mesma espécie.
• É metódico, sistemático. O sábio não ignora que os seres e os fatos estão ligados entre si por
certas relações. O seu objetivo é encontrar e reproduzir este encadeamento. Alcançá‑lo por meio
do conhecimento das leis e princípios. Por isso, toda a ciência constitui um sistema.
Características da teoria
Restringe à amplitude dos fatos a serem estudados; define os aspectos da investigação e os fatos
a serem observados oferecem um sistema de conceitos, classificando e estruturando fatos; resume o
conhecimento; possibilita inter‑relações entre fatos e teorias já conhecidas e explica os fenômenos de
forma mais ampla.
16
Metodologia Científica
Podemos dizer então que entendemos, por teoria, o conhecimento sistemático, fundamentado
em observações empíricas e/ou postulados racionais, voltado para a formulação de leis e categorias
gerais que permitam a ordenação, a classificação minuciosa e também a transformação dos fatos e das
realidades da natureza (HOUAISS, 2009).
Temos, assim, um processo de autoalimentação entre teoria e empiria, ou entre teoria e prática.
Teoria: Empiria:
Conceitos e conjuntos de Dados coletados,
ideias explicativas da área observações ou experiência
de conhecimento prática
Nova teoria:
Relação da teoria e empiria.
Autoalimentação do processo
pode fortificar ou gerar uma
nova teoria.
Com base nesses dados, concluímos que a ciência é o processo racional usado pelo homem para se
relacionar com a natureza e, assim, obter resultados que lhe sejam úteis. É o corpo de conhecimentos
sistematizados que adquiridos via observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas
categorias de fenômenos e fatos são formulados metódica e racionalmente.
Segundo Ferrari (apud Lakatos; Marconi, 2008), a ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades
racionais dirigidas ao sistemático conhecimento com objetivo limitado, capaz de ser submetido à
verificação.
Lógica
Formais
Matemática Física
Química
Naturais
Biologia e outros
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Unidade I
2 MÉTODO
Palavra de origem grega – metá (reflexão, raciocínio, verdade) + hódos (caminho, direção). Portanto:
Para Lakatos e Marconi, “[...] método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais
que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e
verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do
cientista.”
Lembrete
Existem inúmeros métodos que podem ser usados para elaborar uma dissertação científica; cabe
ao aluno escolher aquele que se aproxima mais de seus interesses e objeto de estudo. Os principais
métodos são:
Raciocínio que parte de dados particulares (fatos, experiências, enunciados empíricos) e por meio de
uma sequência de operações cognitivas, chega a leis ou conceitos mais gerais, indo dos efeitos à causa,
das consequências ao princípio, da experiência à teoria.
Inferência lógica de um raciocínio; conclusão, ilação. Processo de raciocínio por meio do qual é
possível, partindo de uma ou mais premissas aceitas como verdadeiras (por exemplo, A é igual a B e B é
igual a C) a obtenção de uma conclusão necessária e evidente (no exemplo anterior, A é igual a C).
Interessante notarmos que o método está intimamente ligado às ideias que o cientista tem sobre
o objeto ou o fenômeno que irá estudar, ou seja, o método ou a metodologia se baseia na “visão
de mundo” do cientista. Isso não significa que o cientista influencie diretamente no resultado da
pesquisa.
E o que é ideologia?
O cientista não está isento, enquanto pessoa, de “preconceitos”. Mas ele busca, numa atitude racional,
abster‑se o máximo possível. Porém, podemos afirmar que por meio de um método racional pretende‑se
conhecer senão a verdade total dos fenômenos, suas particularidades dentro de determinadas condições.
Não afirmando verdades absolutas, a ciência pode, em uma constante autocorreção, buscar novos fatos
e relações para os fenômenos. E assim, continuamente, alimentar teorias.
Ao longo do tempo, essa forma de pensar e fazer a ciência se modificou. Veremos a seguir alguns
dos autores e as principais mudanças que ocorreram até os dias de hoje.
A metodologia científica tem sua origem no pensamento de Descartes, que foi posteriormente
desenvolvida empiricamente pelo físico inglês Isaac Newton.
Lembrete
Karl Popper (1975) demonstrou que nem a verificação nem a indução serviam ao método científico,
pois o cientista devia trabalhar com o falseamento, ou seja, devia fazer uma hipótese e testá‑la,
procurando não provas de que ela estava certa, mas provas de que ela estava errada. Se a hipótese não
resistisse ao teste, dizia‑se que ela foi falseada. Popper provou também que a ciência é um conhecimento
provisório, que funciona por intermédio de sucessivos falseamentos.
Thomas Kuhn (2006) percebeu que os paradigmas eram elementos essenciais do método científico,
sendo os momentos de mudança de paradigmas chamados de revoluções científicas.
19
Unidade I
Mais recentemente, a metodologia científica tem sido abalada pela crítica ao pensamento cartesiano
e elaborada pelo filósofo francês Edgar Morin (1991). Ele propõe, no lugar da divisão do objeto de pesquisa
em partes, uma visão sistêmica, do todo. Esse novo paradigma é chamado de teoria da complexidade.
Saiba mais
A ciência é uma das poucas realidades que podem ser legadas às gerações seguintes.
É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria. Métodos e valores que são concebidos como
modelos ou mesmo uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas.
Na filosofia grega, paradigma era considerado a fluência (fluxo) de um pensamento, pois, mediante
os vários pensamentos sobre o mesmo assunto é que se concluía a ideia, seja ela intelectual ou material.
Após a realização dessa ideia, surgiam outras ideias, até que se chegasse a uma conclusão final – seja da
intuição à representação sensível ou à representação intelectual.
A partir do Renascimento (século XIV e XVI), surge o conflito entre o teocentrismo e antropocentrismo,
gerado pela necessidade do homem de se tornar o centro do universo.
As novas descobertas exaltam a valorização do ser humano por meio da razão e da capacidade
de transformar a natureza mediante a técnica. Há uma “briga” entre a fé e a razão, que culmina no
Iluminismo.
20
Metodologia Científica
A palavra de ordem do teocentrismo e da época medieval era a Bíblia. Para entendermos melhor o que
aconteceu no Renascimento, é preciso lembrar o desenvolvimento de novas técnicas que acompanhavam
as descobertas científicas sobre os fenômenos naturais. Exemplos: os estudos matemáticos auxiliaram
na melhoria das técnicas de construção.
Ciência clássica
Pretende, por meio do raciocínio de causas e efeitos, garantir a sua validade para a explicação dos
fenômenos naturais e do homem. Busca se diferenciar das opiniões de senso comum, pois elas não
possuem explicações autossuficientes.
A partir desse primeiro conceito, diferentes concepções de ciência foram criadas conforme a “garantia
de validade” que lhe é reconhecida.
Ciência moderna
As transformações geradas após a Revolução Industrial abriram caminho para novas tecnologias. O
fluxo da informação passou a não depender exclusivamente do tempo e do espaço, nascendo, assim, a
percepção de que não existe uma única verdade e de que a ciência pode ser construída por intermédio
de diferentes pontos de vista e estruturas.
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Unidade I
Hoje em dia, a ciência não tem a pretensão de ser absoluta. A teoria da complexidade, desenvolvida por
Edgar Morin, afirma que a ciência não precisa ser necessariamente construída de forma linear ou apenas por
meio da razão. O conhecimento atual é construído por redes, sejam elas sociais, culturais ou informativas.
Ao longo do tempo, o papel da ciência se transformou, assim como a sua utilidade na sociedade.
A velocidade das informações cada vez maior e as novas descobertas tecnológicas influenciaram a
maneira de pensar e agir do ser humano como ser social e produtor de significação e sentido.
Observação
Faremos uma retrospectiva, a partir das principais correntes científicas para entendermos o processo:
Racionalismo
Corrente filosófica que afirma ser o raciocínio (“razão pura”, sem influência dos sentidos empíricos)
uma operação mental, discursiva e lógica utilizada para uma ou mais proposições. Com ela, é possível
extrair conclusões se uma ou outra proposição é verdadeira, falsa ou provável. A razão seria, assim, a
maior (ou única) fonte de conhecimento.
Empirismo
Corrente filosófica que considera a experiência (uso dos sentidos) como critério ou norma da verdade.
Caracteriza‑se por:
• negar o absolutismo da verdade ou, pelo menos, da verdade acessível ao ser humano;
• reconhecer que toda verdade pode e deve ser posta à prova e, para tanto, ocasionalmente
modificada, corrigida ou abandonada.
Positivismo e Neopositivismo
Criado por Auguste Comte (1798 – 1857), o Positivismo prega a “neutralidade nas ciências”. O cientista
não deve se deixar levar por pressupostos metafísicos ou teológicos. Ele deve utilizar operações de
“mensuração”, ou seja, medição, análise sistemática e experimentação para os estudos dos fenômenos.
Do final do século XIX até meados do século XX, surgiram novos estudos com base fundamentada
no positivismo.
Vários pesquisadores, entre eles o matemático Wittgenstein, combinaram as ideias empiristas com a
lógica moderna. Para os neopositivistas, a verificabilidade seria o critério de significação de um enunciado.
Ou seja, a validade de proposição científica só era atribuída após sua verificação empírica. Assim, o uso da
lógica e da matemática alicerçava o conhecimento do real e separava o que é científico do não científico.
Pragmatismo
Fundado pelo filósofo, matemático e cientista Charles Sanders Peirce (1839 –1914), o Pragmatismo
recebeu contribuições de uma série de pesquisadores. Sua origem filosófica teve ramificações em outras
áreas de conhecimento, como na política, na educação e na literatura. Também como método científico o
Pragmatismo compreende que “[...] a clareza de nossas ideias implica concebermos seus efeitos práticos”.
Sua estrutura metodológica se divide em:
Marxismo e dialética
Aqui se utiliza o marxismo como método científico, sem considerar as discussões em torno do seu
programa social. O filósofo e economista alemão Karl Marx (1818 –1884) desenvolveu seu método de
análise da realidade por intermédio do viés da dialética – tese/antítese/síntese. Esse processo consiste em
fazer uma proposição afirmativa (tese), em seguida a confrontação dela com o seu contrário (antítese)
e, finalmente, com o embate entre afirmação e negação, chegar a uma síntese. Esse movimento se daria
continuamente.
por meio do desenvolvimento interno das ciências, métodos e lógicas, mas levando em consideração os
efeitos socioeconômicos que influenciam todas as esferas da sociedade.
Estruturalismo
Discussões contemporâneas
Thomas Kuhn escreveu A estrutura das revoluções científicas. Nela, desenvolveu os conceitos de
paradigma e de ciência normal. Por paradigma, Kuhn entende “[...] um mapa ou roteiro de uma ciência,
fornecendo critérios para a escolha de seus problemas e das propostas para as soluções desses problemas”
(KUHN, 2006). Seria, de maneira simplificada, um parâmetro geral, base para o desenvolvimento de teorias.
Exemplos:
O sistema astronômico de Cláudio Ptolomeu (100 – 170 d.C.) – imobilidade da Terra e posição no
centro do Universo – dominou o pensamento científico até o século XVI. No entanto, foi substituído por
outro sistema, o de Nicolau Copérnico (1473 – 1543), que demonstrou ser o Sol o centro do universo,
com a Terra realizando o movimento de rotação em torno dele.
Saiba mais
Teoria da complexidade
25
Unidade I
Morin determinou que o estudo da ciência não pode ser destinado apenas ao estudo da lógica e da
técnica determinada pela produção; defendeu também a análise do ponto de vista qualitativo e não
apenas quantitativo, e a vulnerabilidade da própria ciência moderna, tentando não defini‑la com valores
maniqueístas (certo e errado) e sim a partir de redes complexas que dão significados à vida social e à
própria tecnologia. Quando o autor fala em complexidade, ele se refere à interdisciplinaridade existente
no processo científico. Ou seja, nos dias atuais, é muito difícil estudar separadamente cada área do
conhecimento, principalmente dentro das ciências humanas, pois estas são constituídas não só por
todo o aparato tecnológico, econômico e político mas também pelo imaginário cultural existente em
cada região. A significação acontece nas relações e interações existentes na sociedade, portanto, não
são estáticas.
São complexas, constituídas por inúmeros tecidos associados que não seguem um padrão evolutivo
formal e positivista, como pensamos séculos atrás.
Ele observa que não é possível retirar o problema ou a pesquisa do meio em que ela está inserida e
tratá‑la como uma parte isolada do mundo; apesar de haver a necessidade de “recortar” e definir pontos
de vista, não é possível saber o significado de alguma coisa deixando de lado suas relações com outras
categorias e fenômenos.
Atualmente, o ser humano não está mais tão “encantado” com o progresso, pois descobriu que esses
avanços trazem inúmeros problemas ecológicos e sociais. Morin ressalta a importância da consciência,
ou seja, a necessidade de avaliar as consequências e transformações trazidas pela modernidade de
forma ética e sustentável, buscando não somente a categorização do progresso mas também a sua
estrutura e prática.
O mesmo objeto deve ser observado por ângulos diferentes, evitando que uma nova descoberta
traga consigo mais problemas em relação ao ambiente e à sociedade, pois seria um “falso progresso”. O
avanço só é válido quando é percebido por meio dos diversos pontos de vista existentes dentro do tecido
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Metodologia Científica
complexo em que se encontra o ser humano, seja na sua parte física e natural ou na sua produção ou
na criação do imaginário humano, que é constituído também por seres vivos. Mesmo que as ideias, por
exemplo, não sejam palpáveis, esses seres são reais.
Resumo
Exercícios
Questão 1: Francis Bacon, também referido como Bacon de Verulâmio (Londres, 22 de janeiro
de 1561 – Londres, 9 de abril, de 1626) foi um político, filósofo e ensaísta inglês, barão de Verulam (ou
Verulamo ou ainda Verulâmio), visconde de Saint Alban. É considerado como o fundador da ciência
moderna. Em suas investigações, ocupou‑se especialmente da metodologia científica.
Atualmente, graças a esses estudos anteriores, podemos inferir que conhecimento científico:
III – Surge da necessidade de se oferecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas
através de provas empíricas.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a alternativa não contempla o fato do conhecimento científico também ser resultado
da intersubjetividade dos cientistas.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa correta.
Questão 2: A charge de Maurício de Souza retrata um conceito do filósofo Francis Bacon, discutido
por Marilena Chauí em seu texto O ideal científico e a razão instrumental:
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Metodologia Científica
Figura 4
A)“Natureza atormentada”, proposto por Bacon, no século XVII, que denota o tormento sofrido pela
natureza, fazendo‑a reagir a condições artificiais, criadas pelo homem em nome do desenvolvimento.
B)“Ideologia cientificista”, proposto por Bacon, no século XVII, que denota o tormento sofrido pela
natureza fazendo‑a reagir a condições artificiais, criadas pelo homem em nome do desenvolvimento.
C)“Confusão entre ciência e técnica”, proposto por Bacon, no século XVII, que denota o tormento
sofrido pela natureza, fazendo‑a reagir a condições artificiais, criadas pelo homem em nome do
desenvolvimento.
D)“Corporificação de conhecimentos científicos”, proposto por Bacon, no século XVII, que denota o
tormento sofrido pela natureza fazendo‑a reagir a condições artificiais, criadas pelo homem em nome
do desenvolvimento.
E)“Ideologia do progresso”, proposto por Bacon, no século XVII, que denota o tormento sofrido pela
natureza fazendo‑a reagir a condições artificiais, criadas pelo homem em nome do desenvolvimento.
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