Ano 1 #0 Distribuição gratuita Novembro de 2006

Filtragem natural em água doce

Ampulárias
Ficha de peixes:
Naso vlamingii

Bombas e
circulação
de água

d e
i ç ã o o:
Ed ment
n ç a d e
la vist lia
a
re r iofi
qu a
a

A Biodiversidade
e a sua importância em
ecossistemas «fechados»

A
aquariofilia já atingiu
no nosso país um pa-
tamar de relevância,
quer ao nível quantitativo, ou
seja, o número elevado de
aficionados, quer qualitativo,
revelando alguma maturidade
e qualidade de aquários e co-
nhecimentos de muitos aqua-
riofilistas.
Nos últimos anos temos as-
sistido a um desenvolvimento
muito significativo da aqua-
riofilia, quer seja nos próprios
conhecimentos dos aficio-
nados, quer seja no próprio
sector que explora produtos
específicos para o hobby e os
próprios seres vivos. As tecno-
logias da informação foram o
principal veículo impulsionador
dos conhecimentos que exis-
tem sobre a manutenção de
seres aquáticos em cativeiro
através de fóruns na Internet,
sites e revistas online. Contu-
do, é importante não esquecer
as publicações em papel, que
representaram e continuam
a representar um importante
veículo de comunicação que
não substitui nem se torna ob-
soleto perante as novas tecno-
logias, tal como o mercado da
literatura em papel não sofreu
com o advento da Internet.
No nosso país existe actu-
almente um vazio no que res-
peita a publicações periódicas
dedicadas à aquariofilia. Assis-
timos no passado a algumas
tentativas falhadas, quer seja
por falta de interesse, gestão,
 Novembro 2006
editorial
ou mesmo por situações de me-
nor credibilidade.
O mercado actual, em profun-
da expansão, exige um apoio ri-
goroso e de confiança, traduzido
por uma maior e melhor difusão
de informação que sirva os inte-
resses dos leitores, fabricantes,
importadores, distribuidores, lo-
jistas e amantes deste maravi-
lhoso hobby.
A bioaquaria surge neste con-
texto com o objectivo de res-
ponder a esta lacuna na aqua-
riofilia nacional. Trata-se de um
projecto que pretende o envolvi-
mento de toda a cadeia de valor,
que parte de aquariofilistas para
aquariofilistas e que conta ainda
com a participação de biólogos
e de todos os que demonstrem
paixão pelo ambiente aquático.
Pretendemos reunir os me-
lhores especialistas nacionais e
alguns internacionais neste pro-
jecto.
A revista englobará a aqua-
riofilia de água doce, salgada,
terá uma pequena componente
relacionada com a problemática
ambiental marinha, a biologia, a
aquacultura e o mergulho, todos
os eventos realizados, notícias,
aquários de sucesso, biofichas de
peixes, plantas e invertebrados,
aquariofilia na net e também
será um espaço onde poderá dar
opiniões, tirar certas dúvidas e
certamente, se o desejar, de co-
laborar.
Assim, é com imenso prazer
que lançamos esta edição n.º 0,
totalmente gratuita e online, es-
perando poder contar com todo
o vosso apoio e colaboração
para garantir o sucesso deste
projecto que, como poderão
observar, tem a qualidade ne-
cessária. Nesta edição de lan-
çamento, a publicidade encon-
tra-se completamente ausente.
De futuro, para que a revista
progrida e permaneça no mer-
cado, contamos com a publici-
dade de todas as entidades e
empresas do sector.
Lançaremos a edição n.º 1,
em papel, no primeiro trimes-
tre do ano. Apesar de parecer
algum tempo, é preciso com-
preender que é necessário ul-
trapassar algumas questões
logísticas para que de futuro a
revista não falhe a sua perio-
dicidade bimestral, e seja tam-
bém capaz de cumprir prazos,
garantindo ao mesmo tempo
qualidade e isenção.
Estamos a estabelecer par-
cerias com clubes, associações
e fóruns e a garantir também
conteúdos de alguns autores
estrangeiros.
Não podemos deixar de
agradecer a todos os nossos
colaboradores que têm sido
fantásticos, nomeadamente to-
dos os que contribuíram com
conteúdos e, especialmente, os
que perderam muitas horas de
forma altruísta para a concreti-
zação deste projecto.
bioaquaria
 índice
4 Um filtro vivo Editores
Filtragem natural em água doc�
e João Cotter
Paulo Torres
8 Acumulação de matéria dissolvida e
Revisão
mudas de água Catarina Fonseca
Método analítico para determinar uma solução ade- Sandra Campaniço
quada
Fotografia
10 As ampulárias Diogo Lopes; Duarte Concei-
Grandes caracóis de água doce da família Ampulla- ção; Filipe Oliveira; João Ri-
ridae beiro; Pedro Conceição; Vasco
Gomes
12 BioFicha de peixes
Tetra neon - Paracheirodon innesi Colaboradores
Alexandre Augusto; André
Nóbrega; APC - Associação
14 BioFicha de peixes Portuguesa de Ciclídeos; APK
Rufia - Naso vlamingii - Associação Portuguesa de
Killifilia; Brian Schaff; Diogo
16 BioFicha de invertebrados Lopes; Domingos Leitão; Du-
Lysmata amboinensis arte Conceição; Eduardo Tel-
les Santos; Eric Borneman;
Fórum Aquariofilia; Hugo Gan-
18 Bombas e circulação de água te; João Monteiro; João Soa-
Tipos de bombas de água, suas funções e a impor- res; Luís Simões; Machado de
tância do hidrodinamismo em aquários de água sal- Sousa; Marco Madeira; Miguel
gada Figueiredo; Nuno Prazeres;
ReefForum; Ricardo Calado;
25 Aquariofilia na net Ricardo Cyrne; Ricardo Rodri-
Um site utilitário sobre química de água salgada e gues; Rui Ferreira de Almeida;
outro sobre crustáceos Rui Gaspar; Sandra Campa-
niço; Sérgio Veterano; Tomás
Mendes; Vanda Franco; Vitor
26 Sustentabilidade do mercado de mari- Melo
nhos ornamentais
Visão geral do apanhador ao aquariófilo Design e paginação
João Cotter
29 A Biodiversidade e a sua importância em Paulo Torres
ecossistemas «fechados» - Parte 1 email
Definição e problemática do conceito de biodiversi-
bioaquaria@gmail.com
dade e suas implicações em aquários
Endereço electrónico
37 Eventos http://bioaquaria.planetaclix.pt
PetFil 2006; 2º Aniversário ReefForum
Contactos telefónicos
+351 96 501 75 63
40 Aquário do mês +351 91 618 87 14
Aquário de recife de Ricardo Pinto
Foto da capa: Naso vlamingii
© João Ribeiro

bioaquaria Novembro 2006 

água doce
O lago de jardim do autor
Um filtro vivo
Filtragem natural em água doce
A
final que filtragem a natu-
reza usa em lagos e rios?
Entre outras coisas, recorre a
muitas plantas.
As algas, as plantas aquáticas
superiores e a grande quantida-
de de plantas marginais, sugam
avidamente amónia, nitritos, ni-
tratos, fosfatos e metais pesa-
dos.
Hoje em dia, as ETAR’s mais
avançadas usam enormes plan-
tações de plantas palustres no
tratamento dos esgotos das ci-
dades.
Porém, nós não dispomos de
 Novembro 2006
tanto espaço como a Natureza...
e certamente não queremos
montar uma ETAR em nossa
casa.
A ideia é atraente, usar as
próprias plantas aquáticas para
filtrar o aquário, mas será que
funciona?
Em recife é possivel atingir
esse equilíbrio, através de uma
grande proporção de rocha viva,
movimentação de água e luz,
mas em água doce eu tinha dú-
vidas, suspeitava que a quanti-
dade necessária de plantas fosse
enorme, tornando estes filtros
impraticáveis.
Texto e fotografias:
Miguel Figueiredo
Aquariofilista que mantém peixes há
mais de 30 anos, tendo-se especiali-
zado em espécies africanas de água
doce. O seu interesse pelos peixes
leva-o com frequência aos biótipos
de origem, estudando as espécies
no seu meio natural. Segundo o Mi-
guel, o seu ideal de paraíso é estar
dentro de água, num longínquo rio
de uma floresta virgem qualquer,
observando tranquilamente os pei-
xes e segurando um camaroeiro,
para poder colectar as espécies mais
invulgares...
E se fosse mesmo possivel...
porque é que os outros aquario-
filistas não o faziam?
Há vários anos atrás, em
2000, eu tinha muito mais tem-
po para me dedicar à aquariofilia
e fiz uma experiência:
Instalei um aquário para ciclí-
deos com 120 cm e 240 litros.
Um terço do aquário estava se-
bioaquaria
 água doce
parado por rede e era totalmen-
te ocupado por duas espécies de
plantas de crescimento rápido:
Ceratophyllum demersum e Elo-
dea densa.
Nos restantes dois terços foi
colocado um povoamento com-
pleto de peixes:
1 jack dempsey macho com
18 cm, 1 jack dempsey fêmea
com 14 cm, 5 chanchitos com 5
- 8 cm, 1 tilápia moçambicana
macho com 18 cm, 1 tilápia mo-
çambicana fêmea com 16 cm, 3
peixes-jóia com 6-8 cm, 3 pei-
xes arco-íris de 7 cm. Grupo de
9 espadas pequenos, com cerca
de 1 cm.
Os peixes foram bem alimen-
tados com comida fresca (mistu- O filtro de plantas
ra de espinafres e marisco).
Luz: uma power-glo de 40 W e
va bem povoado logo de início e
uma Daylight (luz branca nor-
que os peixes eram bem alimen-
mal) de 36 W.
tados.
Movimentação da água: po-
A acumulação de nitratos foi
werhead com caudal de cerca
de 10 ppm por semana. Isto é
de 700 L/hora e válvula ventu-
consistente com uma mudança
ri para oxigenação.
de 1/3 de água quinzenal, con-
Parâmetros da água: tempe-
seguindo-se então baixar os ni-
ratura 23ºC, pH: 7,5, GDH: 9
tratos para valores médios.
KH: 7
As plantas apresentaram uma O aquário da experiência
Medições dos compostos
elevadissíma taxa de crescimen-
amoniacais ao longo de 4 sema-
to - cerca de 17 cm a cada 7 dias Três peixes arco-íris, inicial-
nas:
mente introduzidos foram de-
Amónia (NH3) Nitritos (NO2-) Nitratos (NO3-) saparecendo misteriosamente,
Inicial 0 0 < 1 ppm provavelmente comidos. Curio-
samente, estes peixes já tinham
Semana 1 0 3-4 ppm 80 ppm
vivido anos em aquários de afri-
Semana 2 0 < 0,5 ppm 90 ppm
canos.
Semana 3 0 < 0,5 ppm 100 ppm
Os 9 espadas pequenos intro-
Semana 4 0 < 0,5 ppm 110 ppm duzidos na área de plantas foram
desaparecendo até não restar
Inicialmente, os nitritos estoi- - o que dá uma média superior nenhum. Os responsáveis terão
raram: atenção que mesmo os a 2 cm/dia. sido os chanchitos que patrulha-
aquários de plantas irão precisar Um casal de peixes-jóia teve vam sistematicamente a divisó-
de um período de ciclo. uma ninhada, outros peixes, ria. Penso que cada vez que um
O ciclo fez-se em apenas 15 como jack dempseys e tilápias, desses peixinhos passava para o
dias, menos de metade do tem- apresentavam comportamentos outro lado era comido.
po de um aquário tradicional reprodutivos e acabaram por se É muito moroso, talvez por
- de realçar que o aquário esta- reproduzir após as 4 semanas. falta de prática, podar todos os

bioaquaria Novembro 2006 

água doce
molhos de plantas do filtro - ta-
refa que deve ser feita, pelo me-
nos, uma vez a cada 2 semanas,
dada a elevada taxa de cresci-
mento. Para podar as plantas
retiro-as para fora, corto-as a
15-20 cm do topo, deito fora a
parte de baixo e volto a fixar as
extremidades ao lastro (pedras
presas com tiras feitas de meia
de senhora), isto para todos os
molhos presentes no filtro. De-
morou-me mais de uma hora a
fazê-lo.
Retirei 1,5 a 2 kg de biomas-
sa vegetal bruta. Não sei qual é
a percentagem de azoto dessa
biomassa, mas através dela, cer-
tamente, retirei muito do azoto,
além de fosfatos, potássio e ou-
tras substâncias despejadas so-
bre a forma de comida.
Em conclusão:
As plantas podem ser um
eficiente sistema de filtragem,
Ceratophyllum submersum
 Novembro 2006
mesmo em aquários de grandes
peixes e reservando um espaço
com apenas um terço do volume
total de água.
E pergunto eu de novo...
- Então porque é que ninguém
usa os filtros de plantas?
Talvez porque exijam um pou-
co mais de perícia e um pouco
Cichlasoma octofasciata - Jack dempsey
mais de esforço no planeamen-
to.
Eu próprio me penitencio, o Por outro lado, considero que
aquário descrito esteve cerca a maneira como separei as plan-
de ano e meio montado, assis- tas não é estética. Muito melhor
tindo ao nascimento de muitas seria usar um outro aquário por
ninhadas de alevins mas, desde trás, ou dividir o aquário longi-
então, nunca mais voltei a usar tudinalmente, com um vidro. Na
filtros dedicados de plantas. divisória mais afastada seriam
Penso que me faz pena re- introduzidas as plantas e talvez
servar esses grandes volumes até pequenos peixes, criando
do aquário só para as plantas, um vistoso fundo verde. Uma
quando afinal o espaço acaba bomba iria garantir a circulação
sempre por faltar para os pei- da água entre os dois espaços.
xes... Porém, embora actualmen-
bioaquaria

A filtragem por plantas em lago de jardim
te não use filtros dedicados de
plantas, procuro sempre manter
bastantes plantas no aquário,
mesmo em aquários de ciclíde-
os. Em certos aquários, mais
densamente plantados e com
pequenos peixes, nem sequer
uso filtros, apenas alguma oxi-
genação.
No maior espaço aquático que
disponho, o meu lago de jardim,
as plantas são o grande factor
de filtragem e não uso quaisquer
aparelhos eléctricos. Aí, os ma-
tagais de vallisnerias, no fundo,
oxigenam abundantemente a
água, enquanto um conjunto de
Elodea densa
outras plantas «glutonas», como
Associação Portuguesa de Ciclídeos
Junte-se ao Fascínio!
http://www.apciclideos.org • info@apciclideos.org
bioaquaria Novembro 2006
água doce
os jacintos de água, absorvem
as substâncias amoniacais.
As plantas, além de serem
um dos grandes factores deco-
rativos no aquário de água doce,
podem, portanto, também dar
um grande contributo para a fil-
tragem do nosso aquário.
Nesta área, se quisermos re-
almente ser diferentes, podemos
mesmo montar aquários para
grandes peixes, como ciclídeos
ou piranhas, enquadrados por
espantosos fundos verdes, invi-
sivelmente separados do aquá-
rio principal.

manutenção
© Kevin Pelletier

Texto:
Nuno Prazeres Acumulação de
matéria dissolvida
Tem aquários de água doce e sal-
gada desde 1980. Os seus interes-
ses centram-se, essencialmente, na
modelização de biótopos e na ten-
tativa de criação de sistemas tão
auto-sustentados quanto possível.
e mudas de água
Método analítico para determinar uma solução adequada

C
omo sabemos, as mu-
danças parciais de água
são a mais directa res-
posta à acumulação de matéria
nociva nos aquários. É intuitivo
perceber que, quanto mais baixa
for a proporção da água mudada
e a sua frequência, mais ineficaz
é a nossa acção, constituindo-se
mais como um adiar de um pro-
blema inevitável e menos como
uma solução definitiva.
Como saber então se as nos-
sas mudas de água são suficien-
temente eficazes?
Em primeiro lugar, há que en-
contrar um parâmetro de con-
trolo cujo crescimento represen-
te a degradação do ambiente do
aquário. Tipicamente, a concen-
tração de nitratos será o factor a

 Novembro 2006 bioaquaria

 manutenção
controlar na maioria dos casos.

Bastará então utilizar a se-

guinte fórmula:

1
M=Ax --1
p ( )
em que M é o valor máximo
que o parâmetro de controlo
atingirá, A é o aumento do valor
de controlo entre mudas regula-
res e p representa a proporção
em percentagem da água muda-
da.
Vejamos, então, os seguin-
tes exemplos práticos que pres-
supõem a resolução da fórmula
em função de qualquer das três
variáveis:
Um aquariofilista faz uma tro-
ca parcial de 10% da água todas
as semanas com a concentração
de nitratos a aumentar sempre
5 ppm durante esses sete dias.
Segundo a fórmula, a longo pra-
zo, com essa estratégia, o aquá-
rio vai chegar a uma concentra-
ção de 45 ppm de nitratos, o que
pode ser considerado demasia-
do para espécies mais sensíveis,
pelo que parece mais prudente
usar-se uma metodologia mais
agressiva – ou o aumento da fre-
quência das mudas ou aumento
da proporção de água mudada
ou as duas coisas.
que, em situações com uma
quantidade razoável de peixes
frequentemente alimentados que
vivem em ambientes sem plan-
tas, corre o risco de ser atingido.
Consequentemente, temos duas
hipóteses: ou redimensionamos
o sistema de mudas para diaria-
mente renovar uma quantidade
mais apreciável da água ou, en-
tão, há que limitar o número de
peixes, de modo a que não se
atinja esse valor de concentra-
ção de nitratos.
Noutro caso temos um aquá-
rio no qual se pretende evitar
que a conductividade aumente,
face ao valor inicial da água,
mais de 40 µS/cm. Sabendo nós
que a conductividade (via acu-
mulação de detritos orgânicos e
evaporação) sobe 5 µS/cm por
cada quinzena e, como o res-
ponsável pelo aquário pretende
fazer trocas de água de quinze
em quinze dias, a proporção mí-
nima a utilizar será de cerca de
11%.
Nota:
Os três exemplos têm como
pressuposto o uso de água em
que os valores do parâmetro a
controlar são nulos, o que, na
maioria dos casos, não introduz
um erro excessivo se estamos a
falar de nitratos. A fórmula pode
ser ajustada para contemplar
valores não nulos do parâmetro
de referência na água de subs-
tituição, mas isso não é objecto
deste artigo.
© Egmel

Suponhamos agora que te-

mos uma fishroom para discus
com filtragem centralizada na
qual se está a instalar um sis-
tema automático de mudas de
água diárias de 10%. Sabendo
que, devido à sensibilidade da
espécie, tem que se evitar que
a concentração dos nitratos ul-
trapasse os 5 ppm, qual será a
subida diária máxima deste pa-
râmetro que poderemos tolerar?
Aplicando a fórmula chegamos
ao valor de cerca de 0,55 ppm

bioaquaria Novembro 2006 

água doce
As ampulárias
Grandes caracóis de água doce
da família Ampullaridae
C
omo é do conhecimen-
to de muitos, é bastante
comum encontrar ampu-
lárias nas lojas ou a passear nos
aquários domésticos. No entan-
to, muitos são os que se descui-
dam nos cuidados necessários
para que estes seres vivam sau-
dáveis e felizes. Sabia que es-
tes lindos caracóis amarelos (e
não só!) podem atingir 15 cen-
tímetros de comprimento? Sabia
que mesmo que um espécime
10
de ampulária esteja a flutuar,
ele pode ainda estar vivo? Se
pretende ter sucesso com estas
espécies maravilhosas ou saber
mais sobre elas, encontrou o ar-
tigo certo. Assim, abordarei as
questões mais elementares so-
bre as ampulárias e espero con-
tribuir para o vosso sucesso com
as mesmas.
As ampulárias são, sem dúvi-
da, espécies bastante resisten-
tes. Possuem um opérculo crucial
Novembro 2006
Texto:
Tomás Mendes
Aquariofilista desde 2003. Fez par-
te do projecto da Associação Portu-
guesa do Guppy e é moderador do
fórum aquariofilia.net. Prémios con-
quistados em concursos nacionais
de guppies. Principal responsável da
revista online AQUAZINE.
que permite a sua sobrevivência
em águas pouco oxigenadas e
também durante períodos de
seca. Durante estes períodos, en-
terram-se no areão e entram em
hibernação, selando bem a sua
concha. O opérculo é-lhes tam-
bém útil para os proteger contra
alguns predadores. Deste modo,
devido ao desenvolvimento des-
ta placa óssea, aliado a outras
características que contribuíram
para o seu sucesso evolutivo,
bioaquaria

p ra t i c a -
mente toda a
gente consegue man-
tê-las.
No entanto, por muito resis-
tentes que sejam, há que ter
grandes cuidados quando se
adquire uma espécie de ampu-
lária devido aos seus diferentes
hábitos alimentares. As espé-
cies mais populares nas lojas
da especialidade são: Pomacea
bridgesii, Pomacea caniculata,
Marisa cornuarietis e Pomacea
paludosa. As mais comuns são
as duas primeiras; porém, já
encontrei as outras à venda e já
ouvi relatos de amigos que as
adquiriram. É complicado expli-
car como é que se diferenciam
essas espécies, principalmente
as primeiras duas. Para tal, re-
corre-se à análise do formato e
dos ângulos das conchas (para
saber mais, o melhor é mesmo
uma pesquisa num motor de
busca). O meu conselho é que
escolha uma loja em que confie e
pergunte que espécie é que está
a ser vendida. Apenas aconselho
a adquirir a Pomacea bridgesii
pois, com essa, não deverá ter
problemas com as plantas. Acre-
dite que apenas uma Pomacea
canaliculata lhe pode desgraçar
um aquário plantado inteiro em
bioaquaria
poucos dias.
Regra geral, se um peixe
conseguir habitar um
aquário, uma ampulária
também conseguirá,
mas é preciso pres-
tar alguma aten-
ção aos parâ-
metros da água.
Para que as suas
conchas não se
danifiquem, es-
tes seres preci-
sam duma água
neutra ou dura (pH
7 ou superior).
A temperatura é
um factor interessante
nestes seres. O intervalo
tolerado vai desde os 18 aos 28
graus centígrados. O valor ideal
ronda os 24ºC. Quanto maior a
temperatura, mais activas serão
as suas ampulárias. As tempe-
raturas altas são também um
incentivo à reprodução embora
diminuam o seu ciclo de vida.
A reprodução é também mui-
to interessante nestas espécies.
Os ovos são colocados em super-
fícies secas e assim devem per-
manecer até eclodirem para que
os embriões sobrevivam. Essa
eclosão acontece duas a quatro
semanas após a postura. Não
© Tomás Mendes
Pomacea bridgesii (Reeve, 1856)
Novembro 2006
água doce
se preocupe com a alimentação
dos pequenos gastrópodes, pois
estes alimentar-se-ão de peque-
nas algas e restos de comida.
Passados poucos dias, iniciarão
uma alimentação semelhante à
dos seus pais.
Quanto à alimentação, satis-
fazem-se com alface, algas, res-
tos de comida, plantas (depen-
dendo das espécies) ou matéria
orgânica morta. Não deverá ser
um problema, mas é convenien-
te certificar-se que as suas am-
pulárias não estão com falta de
alimento.
Para finalizar, resta-me di-
zer que se vir os seus caracóis
a flutuar durante algum tempo,
não se preocupe pois é um com-
portamento normal. Apenas é
anormal se reparar que a concha
está vazia e a perder a cor. Nes-
se caso, por muito que me cus-
te dizer, penso que a sua linda
ampulária não terá muito mais
alegrias para lhe dar.
Nota:
Nem todas as espécies pos-
suem o método de repro-
dução aqui descrito. Porém,
este é o método mais comum.
11
 BioFicha de peixes
Tetra Neon Texto:
Tomás Mendes

Q
uem não os conhece? São
criados em grande esca-
la em países da Ásia, como
a Tailândia, e chegam a Portugal e
a outros países a preços bastante
baixos. Tornam-se assim uma pre- Classe: Actinopterygii

sença bastante habitual nos primei- Ordem: Characiformes

Família: Characidae
ros aquários comunitários. Porém, Sub-Família: Incertae sedis
Género: Paracheirodon
não são muito bem tratados e são Espécie: Paracheirodon innesi

dados, muitas vezes, como peixes (Myers, 1936)

Nome comum: Tetra Neon
pouco resistentes. Origem: América do Sul
@ Big-E-Mr-G

12 Novembro 2006 bioaquaria

pH: preferencialmente valores
entre 5,8 e 6,5, embora aceitem
valores até 6,9.
dH: 2,0-10,0 ºdH
Temperatura: 23-28ºC
Comprimento máximo: 4 cm

Hábitos alimentares: come

tudo! Flocos, alimentos congela-
dos, vivos e até alguns vegetais.
É claro que sobreviverá apenas
com flocos mas é altamente re-
comendado fornecer também
alimentos vivos ou congelados
(artémia, dáfnia, etc).

Reprodução: infelizmente a re-

produção é extremamente difícil
sendo que é quase tarefa impos-
sível determinar o sexo de cada
um dos exemplares a olho nu.
Porém, não é impossível e há
quem relate reproduções com
mensão, são geralmente pacífi- e no topo do mesmo.
sucesso. Poderá sempre ser um
cos.
desafio novo… Lembre-se sem- Recomendações: fica muito
pre que estes peixes são repro- Dimensões mínimas do aquá- bem em aquários plantados ou
duzidos em cativeiro na Ásia. rio: um pequeno cardume pode de discus. No entanto, há que
prosperar num aquário com cer- ter cuidado, pois discus ou esca-
Comportamento social: aten-
ca de 10 litros, desde de que se lares podem fazê-los desapare-
ção! Trata-se de um peixe de
respeitem as mudas regulares cer. É de realçar que, como pei-
cardume. Só viverão confortá-
de água. xe de cardume, a sua vitalidade
veis em pequenos grupos. Acon-
e segurança dependem muito do
selho 10 exemplares no mínimo, Disposição do aquário: estes comportamento de grupo exibi-
mas grupos de 6 já é aceitável. cardumes precisarão de espaço do por estes organismos.
De resto, estes pequenos carní- aberto no seu aquário para na-
voros, dada a sua reduzida di- dar e costumam nadar no meio
@ Pedro Conceição

bioaquaria Novembro 2006 13

 BioFicha de peixes
Rufia

N
esta edição descobrimos um
Naso, peixe imponente, ter-
ritorial mas, contudo, sociá-
vel, que vagueia pelo seu aquário
de recife.
Classe: Actinopterygii do uma elevação logo na zona
Ordem: Perciformes abaixo do olho; dentes são pe-
Família: Acanthuridae quenos, cónicos, com as pontas

Género: Naso
Espécie: Naso vlamingii (Valen-
ciennes, 1835)
Nome comum: Rufia
Origem: Indo-Pacífico
Comprimento máximo: 60 cm
pH: 8,3
Temperatura: 22-28ºC
Descrição: corpo alongado,
oval; rostro curto, revelan-
© João Ribeiro
ligeiramente deprimidas; bar-
batana caudal direita até ligei-
ramente arredondada com dois
longos filamentos, um em cada
extremidade; dois espinhos ós-
seos em cada lateral da base da
barbatana caudal, à semelhança
das outras espécies da mesma
família.
Coloração: coloração do ama-
© João Ribeiro
relo ao castanho com barras
azuis irregulares ao longo dos
flancos, e pequenos pontos azuis
acima, por debaixo das barras e
na cabeça; banda larga azulada
anterior aos olhos; lábios azuis;
barbatanas anal e dorsal ama-

14 Novembro 2006 bioaquaria

reladas ou acastanhadas com
margens azuis; cauda escura
com filamentos azuis; juvenis
apresentam uma cor acastanha-
da e diversos pequenos pontos
negros espalhados pelo corpo.
Habitat: recifes de coral e ro-
chosos; juvenis são bentónicos
e adultos vagueiam ao longo do
recife até uma profundidade de
50 m.
Hábitos alimentares: prefe-
rencialmente herbívoro (algas),
mas também se alimenta de
pequenos crustáceos como co-
pépodes, camarões e larvas de
peixes.
Reprodução: fertilização exter-
bioaquaria
na, sendo que os ovos são pelá-
gicos.
Comportamento social: des-
de que lhe seja fornecido espaço
suficiente para o seu desenvol-
vimento, não se deverão obser-
var comportamentos agressivos
com outros organismos, nomea-
damente peixes.
Disposição no aquário: es-
tes peixes necessitam de mui-
to espaço num aquário. Assim,
1,20 m é o comprimento mínimo
necessário para um espécime
pequeno, enquanto que para o
albergar e manter seria aconse-
lhado um comprimento mínimo
de 1,80 m. Estes acanturídeos
percorrem o recife colhendo al-
Novembro 2006
gas que nele se fixam.
À noite, adquirem uma coloração
críptica e assentam no recife.
Parâmetros da água: os nasos
são geralmente tolerantes a va-
riações das condições da água, o
que significa que os parâmetros
standard da água de um aquá-
rio serão suficientes. Contudo,
convém que seja colocado num
sistema estável para assegurar
o crescimento de algumas al-
gas e reduzir a probabilidade de
agressões inter-específicas.
Recomendações: este é um
peixe imponente, cujo único fac-
tor limitante é o espaço. Sem
ele, torna-se potencialmente
agressivo e/ou débil.
© João Ribeiro
15
BioFicha de invertebrados
Lysmata amboinensis Texto:
Sandra Campaniço

Um dos camarões mais comuns em

@ Pedro Conceição
aquários marinhos!

P
ara alguns autores, a es- Origem: Indo-Pacífico, Mar Ver-
pécie atlântica Lysmata melho.
grabhami é considerada a Comprimento máximo: 5 cm,
mesma espécie. em aquário 3-4 cm.

Classe: Malacostraca Habitat: habita, normalmente,

Ordem: Decapoda na porção exterior de recife ou
Família: Hippolytidae em baías. Pode ser encontrado
Género: Lysmata em fundos rochosos e grutas.
Espécie: Lysmata amboinensis
(De Man, 1888) Hábitos alimentares: camarão ton e de parasitas existentes na
pH: 8,2–8,4 omnívoro que se alimenta de pele, dentição e brânquias de
Temperatura: 22-26ºC detritos, fitoplâncton, zooplânc- peixes. Em cativeiro pode ali-
@ Lucas Thompson

16 Novembro 2006 bioaquaria

mentar-se de alimentos frescos,
secos, congelados ou em flocos.
Reprodução: hermafrodita si-
multâneo, ou seja, possui os
dois sexos. É provavelmente
devido a esta característica que
se trata de uma espécie fácil de
criar em cativeiro.
Comportamento social: es-
pécie geralmente sociável. Na
natureza, caracteriza-se por ser
uma espécie tímida com hábi-
tos noctívagos, alimentando-se,
durante o dia de parasitas de
peixes. Pode existir em casais
ou em grupos de cerca de uma
centena de indivíduos. Também
é sociável com outros residentes
do aquário, tendendo a apresen-
tar uma menor timidez do que
bioaquaria
no seu meio natural. Deve ter-
se o cuidado de não incluir es-
pécies de peixes em cuja dieta
se incluam invertebrados (ex.:
Pterois volitans). Muito pacato e
caracterizado pela sua capacida-
de de limpar parasitas de peixes
e a zona que o rodeia. Muito pa-
cífico e tranquilo, é adequado a
aquários com peixes de peque-
no tamanho e aquários de reci-
fe com outros invertebrados por
não apresentar qualquer com-
portamento adverso contra póli-
pos e outros invertebrados. Está
normalmente associado a peixes
sedentários como as moreias.
Disposição no aquário: reef
safe, perfeito para um aquário
de recife com esconderijos sufi-
cientes. Uma das espécies mais
Novembro 2006
comummente encontrada em
aquários de água salgada.
Parâmetros da água: espécie
sensível a variações de salini-
dade. Para este camarão deve
ser produzida água sintética,
guardada durante um período
de uma semana. Deve ter-se
cuidado com medicação com co-
bre e com os níveis extremos de
nitratos. Para uma muda conve-
niente, o teor em iodo deve ser
tido em conta.
Recomendações: para que
apresente um comportamento
social mais interessante, deve
ser mantido em grupo. É neces-
sária uma aclimatação cuidado-
sa, dado que se trata de uma
espécie sensível a variações de
pH e salinidade.
@ Pedro Conceição
17
equipamentos
Bombas e
circulação
de água
Tipos de bombas de água, suas
funções e a importância do
hidrodinamismo em aquários de
água salgada
A
s bombas, de uma forma
geral, podem ser divididas
em 2 tipos – as bombas
de centrifugação e as bombas
de diafragma e peristálticas. Nas
primeiras, a água é movimenta-
da através de um movimento
de centrifugação de um propul-
sor instalado na zona central da
bomba. Estas são normalmente
utilizadas como bombas de cir-
culação e de retorno pela sua
18
grande capacidade de movimen-
tação de água.
A maioria das bombas de
centrifugação pode ser comple-
tamente submersa, o que é a
causa de uma das suas poucas
contrariedades, o facto de se-
rem responsáveis pelo aqueci-
mento da água do aquário. Por
poderem estar submersas, são
também mais pequenas, isto
porque a temperatura que é ge-
Novembro 2006
Texto e fotos:
Diogo Lopes
Aquariofilista toda a sua vida. Com
18 anos tinha 8 aquários em casa.
Dedicou-se à criação de peixes
(quase todos os vivíparos, alguns
anabantídeos e muitos ciclídeos, in-
cluindo discus). Com 20 anos voltou-
se para a água salgada e voluntari-
zou-se no Aquário Vasco da Gama.
Criou peixes-palhaço (Amphiprion
ocellaris). Desde então tem-se dedi-
cado à aquariofilia de recife. Escre-
ve e colabora regularmente com as
revistas da especialidade e faz algu-
mas palestras em eventos públicos.
rada pode ser passada para a
água, permitindo, assim, que o
seu “corpo” possa ser significa-
tivamente reduzido. Ora, a tem-
peratura é um dos grandes pro-
blemas dos aquários de recife e
bioaquaria
 equipamentos
do diafragma comece a reduzir um pequeno tubo que envolve

Eric Weaver
o seu tamanho e o líquido se
comece a deslocar. Estes mo-
vimentos são normalmente se-
quenciais, fazendo com que os
fluxos possam ser controlados
de uma forma muito eficaz. Por
esta razão, este tipo de bombas
é usado normalmente em siste-
mas de reposição de água e em
sistemas de doseamento, como
por exemplo, doseamento de
kalkwasser com a água de repo-
sição.
As bombas peristálticas fun-
cionam praticamente da mesma
forma que as de diafragma, mas
em vez de um diafragma têm
um pequeno rotor. Este rotor, ao
fazer movimentos circulares, vai
criando diferenças de pressão
dentro do tubo que, por sua vez,
vão provocando o deslocamento
do líquido no seu interior.
Existem no mercado diversos
tipos de bombas que podem fun-
cionar como bombas de retorno,
mas só faz sentido falarmos des-
tas se estivermos a pensar mon-
tar um aquário com uma sump.
Quando adquirimos uma
bomba, ela normalmente é de-
finida pela sua capacidade de
débito. Este é normalmente me-
dido em litros/hora (litros por

as bombas são uma das causas.

De facto é bem mais fácil aque-
cer um aquário de recife do que
arrefecê-lo, sendo por vezes ne-
cessário usar refrigeradores para
esse efeito.
As bombas de diafragma e as
peristálticas têm o mesmo tipo
de funcionamento, que na sua
génese, é muito semelhante ao
coração humano. Basicamente,
o seu funcionamento assenta
nas diferentes pressões causa-
das pela movimentação de um
diafragma. Quando o diafragma
se estende totalmente, começa
a fazer o movimento em senti-
do contrário, fazendo com que a
câmara criada pelo movimento Bomba centrifugadora submersa (exemplo: Eheim)

bioaquaria Novembro 2006 19

equipamentos
Bomba de centrifugação externa (exemplo: Iwaki ou Deltec)
hora) e a medida apresentada
é sempre a medida do débito
caso tenhamos que transportar
água para uma zona que esteja
à mesma altura que a bomba.
Assim, à medida que elevamos
a zona de descarga, mais baixo
será o débito da bomba até, no
limite, deixar de conseguir fazer
o seu papel. É, assim, de fulcral
importância verificar o gráfico
que normalmente acompanha a
bomba, para nos certificarmos
se serve os nossos propósitos.
Este gráfico mostra a diminui-
ção de débito da bomba com-
parando-o com a elevação do
tubo de descarga. É importante
frisar que não é só a altura que
diminui o débito de uma bomba.
Existem outros factores, como o
20
tipo de tubo que usamos – mais
ou menos rugoso, a quantidade
de curvas, etc. Assim, devemos
tentar criar um percurso para
água o mais directo possível evi-
tando curvas muito acentuadas.
Neste caso, devemos evitar os
ângulos rectos que criarão um
aumento de pressão nos tubos
e, consequentemente, um débi-
to mais reduzido.
Na escolha das nossas bom-
bas temos que ter em atenção,
além dos factores mencionados
atrás, outros que podem afectar
a nossa decisão. Assim, o con-
sumo de energia, a resistência à
água salgada, a fiabilidade e o
barulho que produzem, a tem-
peratura que transferem para
a água, o tamanho e as restri-
Novembro 2006
ções em termos de colocação e
acondicionamento, deverão ser
factores a ter em conta. A fia-
bilidade de uma bomba é sem
dúvida um dos factores mais
importantes e, como tal, antes
de comprar qualquer modelo,
convém que consigamos obter o
máximo de informação possível
sobre o equipamento em cau-
sa. Depois de nos certificarmos
da fiabilidade do equipamento,
devemos conseguir criar um sis-
tema redundante. Assim, se um
dos equipamentos falhar, temos
sempre outro que permite que
tudo continue a funcionar, mes-
mo que com um débito mais
baixo. A paragem de uma bom-
ba, principalmente se se tratar
de uma bomba de retorno, pode
bioaquaria

Bomba peristáltica (exemplo: Prominent)
resultar num desastre para todo
o sistema.
A colocação de uma ou mais
bombas de retorno é também
um tema que deve ser aborda-
do. Assim, como já vimos ante-
riormente as bombas fazem por
natureza algum barulho (princi-
palmente porque estamos a falar
de bombas de centrifugação). A
sua colocação e principalmente
o seu acondicionamento, po-
dem ser factores importantes
para minimizar esta situação. As
bombas de retorno devem ser
colocadas de forma a não fica-
rem em contacto com os vidros
laterais da sump. Este contacto
causaria muita vibração que se-
ria amplificada por soalhos e su-
portes. O contacto com o vidro
de fundo da sump é também um
dos factores que aumenta signi-
ficativamente o barulho provo-
cado pelas bombas. Será, então,
bioaquaria
equipamentos
uma boa ideia forma a poder garantir uma refri-
elevar um pou- geração mais eficaz. No entanto,
co a bomba. não irão promover o aquecimen-
Esta elevação to da água do aquário, pelo que
pode ser feita poderão ser uma boa opção para
com um pedaço bombas de retorno. São, no en-
de borracha ou tanto, mais difíceis de acoplar a
com os supor- um sistema, pois necessitam de
tes que normal- uma instalação mais complicada.
mente são for- Existem dois sistemas possíveis
necidos com os – o uso de um sifão ou um furo
equipamentos. na sump para alimentar a bom-
O retorno da ba de água. O sifão é pouco fiá-
água ao aquário vel e difícil de ferrar na maioria
principal pode dos casos, pois o nível de água
ser feito de di- numa sump é mais baixo do que
versas formas. o seu limite (permitindo que, em
Uma delas, e a caso de falha da corrente eléc-
que mais reco- trica, toda a água que cai para a
mendamos, é sump, possa ficar nela contida).
que seja feita A perfuração de uma sump, caso
junto à superfí- desejemos colocar uma bomba
cie, proporcio- externa, deverá ser feita numa
nando com o parte inferior, garantindo as-
fluxo do retorno sim o funcionamento da bomba
uma movimentação à superfície mesmo que o nível de água seja
que pode causar um efeito de baixo. A colocação de um furo
contra-corrente, por exemplo, bastante abaixo do nível máxi-
com algumas powerheads, colo- mo da sump facilita também a
cadas no lado oposto. ferragem da bomba pois, na sua
Uma outra solução é fazer
com que o retorno passe numa
zona inferior do aquário. Neste
caso, devemos ter em conta que,
se por alguma razão, a corrente
for interrompida, todo o aquário
vazará, pois o retorno funciona-
rá como um sifão. Esta situação
é facilmente resolvida com um
pequeno furo feito no tubo de
retorno junto à superfície. Este
fará, em caso da água inverter
o sentido, com que entre ar no
sistema, provocando o desferrar
do tubo.
As bombas de centrifugação
podem-se também colocar fora
de água, mas estas são sempre
maiores. Pelo que vimos acima,
Bomba de fole (exemplo: Iwaki)
necessitam de um corpo maior de
Novembro 2006 21
equipamentos
grande maioria, estas não têm
a capacidade de puxar a água
para o seu interior. Se optarmos
por colocar uma bomba exter-
na, devemos também colocar
uma válvula anti-retorno entre a
saída da sump e a bomba para
garantir a manutenção da bom-
ba sem termos necessidade de
retirar toda a água da sump ou
mesmo parar o sistema, caso
estejamos a usar uma solução
combinada de uma bomba ex-
terna e uma interna.
A circulação de água é, sem
dúvida, a forma mais eficiente de
oxigenar os nossos aquários e,
por isso, devemos dar uma aten-
ção especial a este tema quando
montamos os nossos aquários.
Se pudéssemos ordenar a im-
portância de cada componente,
poderíamos dizer que este tema
estaria talvez, entre os três mais
Dispersor
22
importantes. Quanto mais oxi-
génio, maior será a eficiência
das bactérias responsáveis pela
redução dos elementos nocivos
e tóxicos produzidos diariamen-
te nos nossos aquários. Quanto
maior a oxigenação maior a ca-
pacidade que as bactérias terão
de aumentar significativamente
a sua população.
É muito comum as pessoas
associarem a presença de bolhas
à oxigenação e, na realidade, há
alguma verdade neste pensa-
mento, pois as bolhas ao subirem
e rebentarem na superfície pro-
vocam alguma movimentação,
permitindo a mistura do ar. No
entanto, devemos evitar a todo
custo as bolhas nos aquários
de recife. Estas, quando reben-
tam na superfície de aquários de
água salgada, fazem com que o
sal seja projectado, aumentando
Novembro 2006
a probabilidade de danificarmos
alguns equipamentos que pos-
sam rodear o aquário. Este sal
não é mais do que um conjun-
to de diferentes elementos que
constituem a água, alguns dos
quais essenciais. Assim, quando
temos muitas bolhas no nosso
aquário, além de termos uma
maior tendência para as quedas
na densidade, temos também
uma perda significativa de al-
guns sais e elementos importan-
tes.
As bolhas na água salgada são
muito finas e demoram a atingir
a superfície, ficando muito tem-
po em suspensão pelo aquário,
o que impede a sua perfeita vi-
sualização.
Por fim, e não menos impor-
tante, as bolhas irritam o teci-
do de alguns corais e inverte-
brados, impedindo que estes se
bioaquaria

Vista geral - circulação de 50X o volume do aquário sem bombas visíveis
abram completamente para re-
ceber luz nos seus corpos, que
é, como já vimos anteriormente,
fundamental para a sua sobre-
vivência.
Quando falamos de circulação
de água, temos também de pen-
sar nos organismos que temos
no nosso aquário e nas suas ne-
cessidades. Existem corais que
gostam de muita movimentação
e outros pura e simplesmente
não gostam de movimentação.
Além de uma eficiente oxige-
nação, uma forte circulação de
água no nosso aquário exerce
também outras funções:
• exercita os peixes, evitando
que se tornem sedentários, au-
xiliando o seu metabolismo;
• alimenta invertebrados e
corais que retiram da água ele-
mentos importantes para a sua
nutrição, promovendo a circula-
ção dos organismos de que se
alimentam;
• permite que a mucosa pro-
tectora dos peixes seja constan-
temente renovada e limpa, evi-
tando assim problemas de pele;
• ajuda na redução do stress.
Como regra, podemos seguir
a teoria de que o volume de água
a movimentar poderá andar à
volta de 20x o volume do aquá-
bioaquaria
rio por hora. Não basta, no en-
tanto, dizer que temos 20x o vo-
lume em movimentação e achar
que temos um sistema perfeito.
É necessário que as correntes
sejam bem pensadas e que a
água, ou parte dela, seja dirigi-
da para a superfície de forma a
criar um efeito de onda que vai
permitir melhores trocas com o
exterior e, consequentemente,
aumentar o Potencial Redox.
Bombas mais pequenas pode-
rão ser dirigidas para certas zo-
nas do aquário, especificamente
para algum tipo ou tipos de co-
ral. É também muito importan-
te, caso queiramos colocar uma
parede de rocha viva, garantir
que existe circulação de água
por trás desta parede, evitando
assim, a estagnação de água ou
a acumulação de detritos. Estas
bombas são normalmente cha-
madas de powerheads e não são
mais do que bombas de circula-
ção, normalmente com débitos
mais reduzidos.
Um desafio grande que en-
frentamos é conseguir colocar
as bombas dentro do aquário
(caso seja essa a nossa opção),
garantindo uma circulação eficaz
e, ao mesmo tempo, conseguir
que estas não sejam demasiado
Novembro 2006
equipamentos
ostensivas quando olhamos para
o layout como um todo. Como é
óbvio, neste campo temos que
ter alguns cuidados. Entre eles
está o facto de não devermos
colocar as bombas em locais
onde o seu manuseamento seja
dificultado, pois estas necessita-
rão, ao longo do tempo, de ma-
nutenções periódicas. Assim, a
colocação de bombas por baixo
da rocha viva é, de facto, uma
má ideia. A melhor colocação,
neste caso, será perto da super-
fície e perto das laterais, pois
não só estarão menos visíveis,
como também, como vimos an-
teriormente, irão promover uma
melhor oxigenação da água e
uma mais acentuada evapora-
ção da água. Esta evaporação
é muito importante porque não
só provoca o arrefecimento da
água, como possibilita a adição
de água de reposição, onde nor-
malmente adicionamos alguns
suplementos (como veremos
mais à frente).
Quando colocamos bombas
dentro do nosso aquário há um
factor que nunca devemos des-
curar, que é o facto de termos
que proteger a entrada da bom-
ba. Muitos são os relatos de
anémonas, corais e peixes que
23
equipamentos
morrem presos à entrada de
uma bomba. Um caso destes,
não só pode matar o animal que
fica preso, como também pode
destruir um sistema inteiro, caso
o animal em causa se decom-
ponha ou liberte alguma toxina
para a água do aquário. Assim,
existem no mercado algumas
soluções para evitar estas situa-
ções. A maior parte das bombas
trazem nos seus componentes
uma protecção. Estas podem,
no entanto, ser demasiado pe-
quenas e, ainda assim, não con-
seguirem proteger a entrada de
água na bomba, pelo que, neste
caso, aconselhamos a colocação
de protecções extra.
Hoje em dia, existem meca-
Dissimulação de bomba de circulação interior através de rocha falsa
24
nismos que permitem a criação
de correntes artificiais dentro
do aquário e a sua utilização
apenas depende da sua dispo-
nibilidade financeira. Devemos,
no entanto, ter em conta que
uma grande parte das bombas
existentes no mercado ficam
danificadas com o constante li-
gar e desligar provocado pelos
chamados wavemakers, porque
estes, para que possam ser cria-
das correntes, ligam e desligam
diversas bombas de uma forma
alternada. Existem no mercado
vários kits que vêm já prepara-
dos para este tipo de actuação
mas, infelizmente, o seu custo
está ainda longe de ser baixo.
Assim, antes de montarmos um
Novembro 2006
sistema deste género, devemos
ter a certeza que as bombas a
adquirir permitem este tipo de
funcionamento.
Investir numa ou mais bom-
bas de retorno com uma alta
fiabilidade e num conjunto de
bombas de circulação é algo in-
dispensável na montagem de
um aquário de recife. A questão
deverá ser colocada da seguinte
forma – a economia neste tipo
de equipamentos levará o aqua-
riofilista a gastar dinheiro futu-
ramente para a solução de pro-
blemas que podem ser evitados
com uma circulação eficaz?
bioaquaria
 internet

A bioaquaria traz-lhe, em todas

lia as edições, alguns sítios na In-
aquariofi
na
ternet relacionados com a aqua-
riofilia e as ciências aquáticas,
net os quais vale a pena espreitar
e navegar um pouco.

Nesta edição começamos com um

site utilitário sobre química de água
salgada e outro sobre crustáceos.

Reef Chemistry Calculator

http://jdieck1.home.comcast.net/chemcalc.html

Se tem um aquário de água salgada e anda às

voltas com as dosagens de aditivos de cálcio, du-
reza carbonatada e magnésio, este é o site ideal
para visitar.
Trata-se de um calculador muito simples e útil
que permite indicar dosagens de aditivos adequa-
das, de acordo com as concentrações que preten-
de atingir em relação aos elementos químicos da
água já identificados.
Imaginemos que pretende elevar o cálcio: in-
dica a capacidade do aquário, escolhe o aditivo a
utilizar (entre vários disponíveis), indica a concen-
tração que pretende atingir de cálcio e a actual e o
calculador fornece a dosagem e os efeitos secun-
dários noutros parâmetros da água.
Crustikon - Crustacean photographic website
http://www.imv.uit.no/crustikon/Index.htm
Se gosta particularmente de crustáceos, inde-
pendentemente do seu tipo de aquário, este é o
site que procura. Aqui poderá encontrar fotogra-
fias de qualidade e caracterizações taxonómicas
de muitas das espécies utilizadas hoje em aqua-
riofilia, assim como referências bibliográficas e
links sobre as mais variadas temáticas relaciona-
das com estes organismos.
Este site encontra-se integrado na página do
Museu de Tromsø, pertencente à Universidade de
Tromsø, localizada na Noruega. O autor, Dr. Cédric
d’Udekem d’Acoz, é um conceituado especialista
em crustáceos, responsável por muitas publica-
ções e investigações nesta área.

bioaquaria Novembro 2006 25

água salgada
Sustentabilidade do mercado
de marinhos ornamentais
Visão geral do apanhador
ao aquariófilo
E
stima-se que entre 1,5 a
2 milhões de pessoas de
todo o mundo possuam
um aquário marinho. Os Esta-
do Unidos da América surgem
como o maior mercado, seguido
da Europa, com particular inci-
dência na Grã-Bretanha, França
e Alemanha, seguidos do Japão.
Apesar de bem difundida, a
aquariofilia marinha represen-
ta apenas 10% do mercado or-
namental (a restante de água
26
doce), com cerca de 90% das
espécies comercializadas oriun-
das de ambientes naturais. São
espécies tipicamente de recifes
de coral e têm como principais
fornecedores os países da zona
do Indo-Pacífico, nomeadamen-
te a Indonésia e as Filipinas.
As zonas de recife apresen-
tam uma grande biodiversidade
e uma enorme dinâmica ecoló-
gica com elevada produtividade
primária, que serve de base a
Novembro 2006
Texto:
Ricardo Cyrne
Tem uma licenciatura em Biologia
Marinha e Pescas na Universidade
do Algarve, fez um estágio de 6 me-
ses em produção de ornamentais
marinhos na Lusoreef Lda. e um es-
tágio de aprendizagem na Univ. do
Algarve em 2004 em aquacultura de
copépodes e cadeia trófica.
toda a cadeia trófica. Estas áre-
as encontram-se sobre grande
pressão antropogénica: turismo
excessivo (devido à sua beleza
e variedade de espécies); sobre-
exploração dos recursos, com
técnicas de pesca muito destru-
bioaquaria

tivas e não selectivas em rela-
ção à espécie alvo; poluição; su-
bida da temperatura do oceano,
responsável pela lixiviação dos
corais, a base do ecossistema.
Devido à sua dependência de
animais selvagens, o mercado
ornamental marinho exerce al-
guma pressão sobre este ecos-
sistema.
Estima-se que são comercia-
lizados entre 20 a 24 milhões de
peixes de 1.471 espécies, 11 a
12 milhões de corais (140 es-
pécies) e 9 milhões de outros
invertebrados (500 espécies).
No entanto, para além da sobre-
bioaquaria
água salgada
exploração, também o mercado como altamente exi-
método como esta é gente, revelando-se como pou-
feita afecta profunda- co sustentável, com uma taxa
mente o ecossistema. reduzida de aproveitamento dos
Por outro lado, a ex- recursos disponíveis.
tracção de rocha viva Deste modo, é imperativo
apresenta, de igual agir sobre a actividade para se
modo, impactos signi- tornar sustentável, minimizando
ficativos, uma vez que o seu impacto ambiental. Algu-
são removidos habitats mas restrições locais estão já
para além do facto de implementadas, como a interdi-
aumentar a erosão. ção sazonal, quotas de apanha,
A técnica de pesca malhagem e tipo de rede. A nível
mais comum baseia- internacional, com o objectivo
se no uso do cianeto, o de regular o mercado, surgem
que permite atordoar organizações como o Marine
os animais e apanhá- Aquarium Council, que zela para
los vivos com alguma atribuir certificados à cadeia do
facilidade. É uma téc- mercado (desde a apanha ao
nica altamente des- retalho). Em 1973, foi também
trutiva que, para além assinado um tratado na Con-
de potencialmente vention of International Trade
prejudicial para o or- in Endangered Species of Flora
ganismo alvo, afecta and Fauna (CITES), que promo-
toda a área em redor, ve a protecção da vida selvagem
© www.picture-newsletter.com
podendo matar peixes ao assegurar que o mercado in-
e corais envolventes. ternacional é baseado num uso
Cerca de 75% dos pei- sustentável que não põe em ris-
xes capturados morre co a sobrevivência das espécies
após a captura e ou- descritas. Estas são medidas
tros 60% durante o que permitem um maior con-
trajecto até ao consu- trolo no registo de transacções
midor final, revelando e na regulamentação. Por outro
muitas deficiências no proces- lado, permitem ao consumidor
samento, desde a captura ao e todos os elementos da cadeia
lojista. Na realidade, em deter- de mercado, exigir qualidade e
minadas espécies, apenas 1 em contribuir positivamente para a
cada 100 chega ao aquário do continuidade da actividade, re-
cliente final em boas condições. duzindo o impacto ambiental.
O transporte é, de facto, um Este género de medidas inter-
problema, mas, no entanto, este nacionais é muito interessante e
é, normalmente, acusado sem entusiasmante e, do qual, já se
justa causa. Existe uma elevada conseguem ver alguns resulta-
falta de capacidade das empre- dos na qualidade dos produtos.
sas que apanham os animais e Infelizmente, a certificação MAC,
mesmo das que importam para e outras semelhantes, carecem
manter os animais nas melhores de uma vigia contínua que asse-
condições, revelando-se como gure a manutenção dos parâme-
um dos principais problemas tros de qualidade, embora, por
camuflados. Assim, define-se o vezes, este certificado seja utili-
Novembro 2006 27
água salgada
Amphiprion spp. - Peixe-palhaço
zado por motivos de marketing,
em vez de melhoria de serviços.
Estas medidas de conserva-
ção, ao restringirem as apanhas,
diminuem a oferta, mas a procu-
ra mantém-se, razão pela qual
são necessários outros meios
que permitam manter o stock
das espécies procuradas. Assim,
neste contexto, a aquacultura
surge como uma fonte alterna-
tiva de fornecimento de peixes
e invertebrados ornamentais,
bastante citada hoje em dia. A
produção actual está limitada a
poucas espécies, caso dos pei-
xes Amphiprion spp, algumas
espécies de Hippocampus spp,
entre outros. Nos invertebra-
dos do género Lysmata já existe
produção de L. wurdemani e L.
seticaudata. Nos corais existem
as chamadas quintas de corais,
que utilizam a propagação como
meio de reprodução, não sendo
Lysmata seticaudata (Risso, 1816)
28
contudo auto-sustentável, em-
bora já surja como alternativa
à apanha em ambientes selva-
gens.
Além de aumentar o stock
para a indústria, o cultivo per-
mite o repovoamento de certas
áreas com reduzido efectivo po-
pulacional, através da libertação
de juvenis criados em cativeiro.
Permite, igualmente, diminuir o
esforço sobre espécies selvagens
e, assim, permitir a continuação
do mercado de ornamentais de
forma sustentada.
Seja através de aquários
públicos ou privados, a aqua-
riofilia é uma ferramenta mui-
to importante na divulgação e
aprendizagem de assuntos rela-
cionados com o meio marinho e
permite o contacto com animais
que, na maioria das vezes, se-
ria impossibilitada pela distância
geográfica. É importante uma
consciencialização de todos os
intervenientes na procura de um
mercado que proporcione o me-
lhor para o hobby e para o meio
ambiente.
É importante ultrapassarem-
se os problemas reais, de más
condições de apanha, aclimati-
zações e manuseio errados pós-
Novembro 2006
apanha, transportes inadequa-
dos e a chegada ao distribuidor
ou lojista que resultam em mor-
talidades muito elevadas e ani-
mais em más condições e que,
quando chegam ao aquariofilis-
ta, geram descontentamento e
desinteresse.
Uma vez que o mercado exis-
te em grande parte devido ao
interesse dos aquariófilos, es-
pera-se dos mesmos um inte-
resse em procurar espécies que
estejam em conformidade com
a conservação da natureza, fa-
vorecendo meios de distribuição
que respeitam e implementam
este conceito. O sucesso do nos-
so mercado depende dos nossos
hábitos de consumo. Um consu-
midor consciente não deve ad-
quirir espécies que são já conhe-
cidas por serem muito difíceis de
manter em aquário, corais ina-
dequados para serem mantidos
em cativeiro, peixes que não são
compatíveis uns com os outros,
animais mal aclimatizados e em
quarente-
na, entre
outros
proble-
mas. Este
tipo de
a c ç ã o
permite
reduzir a
mortali-
Hippocampus spp. dade des-
necessária directa e indirecta,
uma vez que, para conseguir es-
sas espécies, muitas vezes ou-
tras são sacrificadas.
Poderá ser encontrada mais in-
formação em:
www.aquariumcouncil.org
www.cites.org
www.ofish.org
www.icn.pt
bioaquaria
 A Biodiversidade
e a sua importância em
ecossistemas «fechados»
parte I
© Dan Barbus

bioaquaria Novembro 2006 29

 BioCiência
© Pedro Conceição

A
biodiversidade é um conceito que, em-
Texto:
bora o leitor decerto conhece e identifi- João Cotter & Paulo Torres

ca, não é fácil de definir e muito menos O primeiro autor tem um Mestrado
em Biologia e Gestão dos Recursos
de compreender toda a sua amplitude e impor- Marinhos. Foi Director Editorial da
revista Aquário Magazine. Tem de-
tância em qualquer sistema de suporte de vida. zenas de artigos de aquariofilia pu-
blicados e apresentadas algumas
Este artigo pretende ajudar o leitor a apreen- palestras em eventos públicos. É in-
vestigador no Instituto de Oceano-
der melhor este vasto e dinâmico conceito e a grafia da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa. É aquario-
sua importância, relacionando-o com um mun- filista desde a infância e dedica-se
do que todos nós conhecemos – a aquariofi- a aquários de recife (água salgada)
desde 1992. É moderador do fórum:
lia. Neste contexto, é fundamental perceber o www.aquariofilia.net.

papel que a biodiversidade existente em cada O segundo autor tem uma Licen-
ciatura em Biologia Marinha e um
aquário desempenha, garantindo a existência Mestrado em Biologia e Gestão de
Recursos Marinhos. É investigador
e continuidade de um «mini» ecossistema fun- no Laboratório Marítimo da Guia da
Faculdade de Ciências da Univer-
cional e saudável, essencial para o sucesso de sidade de Lisboa e é aquariofilista
desde 2000.
qualquer aquário.
Parte 1 mos, os genes que eles contêm conceito engloba várias escalas
e os intricados ecossistemas que do micro ao macrocosmo, consi-
A biodiversidade eles ajudam a construir no meio derando três níveis bem defini-
A biodiversidade ou diversi- ambiente». Vamos tentar per- dos de diversidade. O primeiro,
dade biológica, de acordo com o ceber melhor este conceito, as mais específico, está relaciona-
Fundo Mundial para a Natureza suas implicações, a sua exten- do com toda a variação genéti-
(1989), consiste na «…riqueza são e toda a sua importância. ca que existe, tanto intra como
da vida na terra, os milhões de Numa primeira abordagem, inter espécie e/ou população, e
plantas, animais e microorganis- denota-se, à partida, que este por isso é denominada diversida-

30 Novembro 2006 bioaquaria


de genética. Em seguida, surge
uma outra vertente: a diversida-
de das espécies, ou seja, toda a
sucessão de espécies existentes
na Terra, desde os humildes or-
ganismos unicelulares até aos
mais complexos reinos multice-
lulares dos chamados animais
superiores. Finalmente, há que
ter em consideração uma outra
vertente mais geral e abran-
gente: a diversidade ecológica,
representada pela imensa varie-
bioaquaria
dade de biomas, ecossistemas,
comunidades, nichos e habitats,
resultado de uma resposta con-
junta das espécies de acordo com
as condições ambientais, origi-
nando muitas das zonas mais
produtivas e essenciais para a
sobrevivência do planeta.
Todas estas vertentes são
importantes para a sobrevivên-
cia das espécies e ecossistemas
envolventes e, por isso mesmo,
cruciais para o Homem. Talvez
Novembro 2006
BioCiência
seja preferível dar um exemplo
para facilitar ao leitor a identi-
ficação de cada nível de diver-
sidade, utilizando para isso um
mundo fácil de aceder: o seu
próprio aquário. Assim, toda a
variedade de plantas, peixes,
corais, moluscos, crustáceos ou
equinodermes, toda a gama de
espécies que o seu aquário possa
possuir, representam a vertente
das espécies. Contudo, cada or-
ganismo vale também pela sua
31
BioCiência
individualidade e singularidade
fornecida pelo seu código gené-
tico, o que define a diversidade
genética do seu aquário. Se ain-
da assim este nível for difícil de
distinguir do anterior, podemos
pensar, por exemplo, em vários
organismos de uma mesma es-
pécie de peixe, certamente tão
diferentes como qualquer um de
nós em relação à restante popu-
lação humana, que valem pela
sua particularidade, cada qual
possuindo um diferente conjun-
to de genes que o representam
e definem. Todo o conjunto de
organismos existentes no seu
aquário interage como uma co-
munidade, alterando e influen-
32
ciando o ambiente em seu redor,
originando ecossistemas dife-
rentes. Deste modo, cada aquá-
rio em si representa uma varia-
ção deste nível mais amplo de
diversidade.
É necessário ter em conside-
ração uma outra particularidade
em relação ao conceito de biodi-
versidade. As populações de que
trata estão sujeitas a uma evo-
lução constante e permanente, o
que significa que é um conceito
dinâmico, o que é essencial para
melhor apreender este conceito
e perceber alguma da sua pro-
blemática.
Novembro 2006
Diversidade funcional
Em última análise, parece evi-
dente a existência de uma imen-
sa diversidade funcional que en-
quadra esta definição, na medida
em que cada espécie é responsá-
vel por uma determinada função
que, directa ou indirectamente,
de acordo com o seu nível de di-
versidade, é essencial para a so-
brevivência do mundo natural e
importante para o Homem. Nes-
te sentido, os ecossistemas são
responsáveis pelo fornecimento
de serviços de uso directo, tais
como recursos alimentares, me-
dicina e saúde, material indus-
trial, controlo biológico de pra-
gas e ecoturismo (ex.: parques
bioaquaria

As florestas de mangal são ecossistemas extremamente importantes para a manutenção da biodiversidade
nos recifes de coral
marinhos), e de uso indirecto,
© Kynne A.T.
muitas vezes mais cruciais, tais
como a regulação atmosférica,
climática e hidrológica, ciclagem
de nutrientes, controlo de pes-
tes e pragas, filtragem de ar e
água, protecção e estabilização
dos solos, polinização, entre ou-
tros.
A partir da compreensão da
extrema importância que estas
funções representam, é logica-
mente natural que um ecossis-
tema mais diversificado possua
uma maior capacidade de resis-
tência ao stress e, consequente-
mente, seja mais produtivo, ou
seja, quanto maior a biodiversi-
dade de um ecossistema maior
será a sua estabilidade. Deste
modo, a perda de espécies irá
resultar numa perda de funções
por parte do ecossistema, di-
minuindo a sua capacidade de
renovação, restabelecimento e
regeneração.
As ameaças à biodiversidade
A biodiversidade tem, assim,
bioaquaria Novembro 2006
BioCiência
© Michael Scaduto
contribuído de muitas formas
para o desenvolvimento da cul-
tura humana. Porém, o Homem
tem retribuído alterando signi-
ficativamente e, em certos ca-
sos, permanentemente, toda a
diversidade do mundo natural.
Durante o último século, tem-
se assistido a uma quebra da
biodiversidade. É verdade que
sempre existiu uma certa conti-
nuidade e equilíbrio entre o apa-
recimento de novas espécies e a
extinção de outras. Contudo, o
que é preocupante, e que se tem
vindo a agravar, é a taxa de ex-
tinção a que se assiste, estima-
da em cerca de 80 espécies por
dia, ou seja, aproximadamente
3 por hora, o que significa que
se o leitor demorar uma hora a
ler esta revista, no final ter-se-
ão extinguido 3 espécies, o que
dá que pensar!
A grande redução da biodiver-
sidade ocorre a todos os níveis
com a degradação/destruição
de ecossistemas, comunidades
e espécies, sendo estas condu-
33
BioCiência

zidas à extinção. Esta redução

deve-se à alteração e destrui-
ção de habitats naturais para
satisfação das necessidades
humanas. Assim, as principais
ameaças à biodiversidade, no-
meadamente do meio aquático,
são: a pressão sobre as zonas
costeiras (destruição de habitats
costeiros, como as florestas de
mangal), a produção de energia
(barragens), a extracção/explo-
ração de recursos vivos e não
vivos, a poluição atmosférica e
aquática, a introdução de espé-
cies exóticas e o aquecimento
global. Apesar de se assistir a
uma cada vez maior sensibiliza-
ção por parte de alguns gover-
nantes, a verdade é que ainda
há muito a fazer antes que seja
© Duarte Conceição

tarde. Ironicamente, estamos

a destruir o que é responsável
pela nossa própria sobrevivên-
cia e um dos problemas é que
aquilo que não é macroscopica-
mente visível ou quantificável a
curto prazo não conta para mui- em ambiente terrestre; 21 Filos ovos e larvas pelas correntes
ta gente, que nem se apercebe exclusivamente marinhos). através do vasto espaço multidi-
que muitas vezes esses são os A ausência de barreiras físicas mensional oceânico. Perante es-
processos mais importantes e entre os diversos habitats per- sas migrações, a sobrevivência
essenciais ao sucesso da popu- mite o transporte activo dos se- vai depender da adaptabilidade
lação humana. A verdade é que res marinhos e passivo dos seus das diferentes espécies às varia-
se não formos nós a cuidar do
planeta e, automaticamente,
do nosso meio de subsistência,
quem o fará?

O meio marinho como um

sistema aberto
O oceano aberto e os siste-
mas costeiros são fontes ines-
gotáveis de biodiversidade. Das
mais de 1,5 milhões de espé-
cies descritas, apenas 250.000
são marinhas, porém estas en-
contram-se distribuídas por um
maior número de Filos e Classes Cadeia trófica simplificada (constituída 84% por peixes) num recife de
(32 Filos no oceano e apenas 12 coral das Caraíbas

34 Novembro 2006 bioaquaria


ções das condições oceanográ-
ficas ao longo do meio marinho
(hidrodinamismo, temperatura,
luminosidade, salinidade, pro-
fundidade, disponibilidade de
nutrientes, etc.). Apesar destes
constrangimentos, o meio mari-
nho não apresenta verdadeiras
barreiras físicas (exceptuando
plataformas continentais, ilhas e
arquipélagos).
A base das cadeias tróficas
inicia-se com o input energético
proveniente do sol (salvo excep-
ções como é o caso das fontes
hidrotermais, em que a energia
é obtida de sulfureto de hidrogé-
nio). Esta energia permite o de-
senvolvimento de algas e plan-
tas, que constituem a produção
primária marinha. O fitoplâncton
(ex.: diatomáceas, dinoflage-
bioaquaria
lados e cianobactérias), as
macroalgas (ex.: laminárias
e caulerpa) e mesmo as plan-
tas adaptadas ao meio mari-
nho (ex.: fanerogâmicas ma-
rinhas e mangais) constituem
o início das cadeias tróficas
marinhas, pois alimentarão
zooplâncton, peixes, crustá-
ceos e outros seres que, por
sua vez, irão alimentar ou-
tras espécies, originando-se
um entrelaçado de relações
mais ou menos complexo.
Nos habitats marinhos,
os seres primários circulam
e abundam o suficiente para
garantir a sobrevivência dos
seres dos níveis tróficos se-
guintes. Temos, desta for-
ma, um sistema aberto na
medida em que se dispõe de
um fluxo energético contínuo
(ainda que em determinadas
regiões geográficas possa
ter características de varia-
ção de intensidade sazonal)
que o alimenta e, por outro
lado, a diversidade é de tal
ordem que se pode falar em
multi-sistemas mais ou me-
nos interligados e que se
Fanerogâmicas marinhas
Novembro 2006
BioCiência
compensam, obtendo-se trocas
energéticas que beneficiam o
ecossistema global, o que não
ocorreria em sistemas fechados
ou isolados.
O aquário – sistema aberto
ou fechado?
Garantir o equilíbrio autó-
nomo de produtividade num
aquário de recife é algo extre-
mamente complicado, diríamos
mesmo impossível. Um sistema
em cativeiro requer um conjun-
to de intervenções artificiais ou
humanas para garantir o seu
funcionamento. Meios artificiais
para garantir a iluminação, a
propulsão da água, a manuten-
ção da temperatura, a salinida-
de, o cálcio e dureza carbona-
tada, etc., são utilizados para
simular as condições do habitat
natural no meio marinho. Para
efeitos desta análise, vamos ig-
norar o facto de que estas condi-
ções são manipuladas artificial-
mente e consideremo-las como
se de um ecossistema natural se
tratasse. Deste ponto de vista,
de que é que diferem os nossos
aquários de recife de um recife
© Consuelo Puchades
35
BioCiência
Produção de fitoplâncton para a aquariofilia
natural num ambiente tropical?
Num aquário, ao contrário
do recife natural, temos verda-
deiras barreiras físicas relativa-
mente ao exterior. Não temos
trocas energéticas com outros
habitats e não há, portanto, re-
posição autónoma de vida atra-
vés de movimentos migratórios.
Estamos então perante um sis-
tema verdadeiramente fechado?
Vejamos...
36
© Paul J. Thompson
Num recife doméstico a pro-
dutividade primária é escassa
(quem é que pretende ver o de-
senvolvimento de microalgas no
seu aquário?) e, mesmo quando
não o é, dificilmente consegui-
mos ter presente todos os ní-
veis tróficos que permitam, por
exemplo, que todos os nossos
peixes se alimentem autono-
mamente e que não requeiram
qualquer tipo de intervenção nu-
Novembro 2006
tricional por parte do aquariofi-
lista.
Determinados seres planc-
tónicos e planctonívoros sim-
plesmente não sobrevivem num
aquário porque, ou não encon-
tram a diversidade de alimento
de que necessitam, ou o am-
biente é demasiado adverso
para a sua sobrevivência (bom-
bas de água, demasiados preda-
dores por volume de água, etc.).
O equilíbrio é de tal ordem frágil
que os elos da cadeia trófica es-
tão e são facilmente quebrados.
Assim, estes sistemas requerem
inputs energéticos externos adi-
cionais.
O aquariofilista adiciona fre-
quentemente alimento a peixes,
corais e outros invertebrados.
Por outro lado, ocasionalmente
repõe biodiversidade através da
adição de seres marinhos cujas
populações decrescem com o
tempo (ex.: detritívoros). Al-
guns aquariofilistas simulam
ainda aumentos de produtivida-
de primária, recorrendo à adição
de concentrados de células fito-
planctónicas.
Se, por um lado, os sistemas
domésticos são fechados peran-
te habitats e biodiversidade ex-
terna, por outro são nitidamente
abertos, já que beneficiam de
constantes inputs energéticos e
de diversidade através de uma
«mãozinha» humana vinda do
exterior.
Na próxima edição
analisaremos com maior
detalhe a biodiversidade
marinha e sua relevância
dentro de um aquário de
recife, nomeadamente as
relações ecológicas fun-
cionais.
bioaquaria
 eventos

PetFil 2006
3º salão dos animais de
estimação realizado nos
dias 22 a 24 de Setembro
em Lisboa.

R
ealizou-se no passado mês de Setembro na
FIL – Feira Internacional de Lisboa – a PetFil,
uma das maiores exposições do país de ani-
mais de companhia, seus produtos e acessórios. A
PetFil, com cerca de 15.000 m2, contou com cerca de

© Miguel Marques
300 expositores nas mais variadas áreas ligadas aos
animais de companhia, nomeadamente cães, gatos,
aves, animais exóticos, equinos e, como não podia
deixar de ser, a aquariofilia.
A aquariofilia fez-se representar por várias em-
presas nacionais de distribuição e representação de
marcas, lojas, associações, clubes e um fórum de
discussão online. Foi uma oportunidade de divulga-
ção de produtos, serviços e marcas, assim como de
estabelecimento de negócios. Para muitos visitantes

© Pedro Conceição
aquariofilistas foram também momentos de convívio,
© Miguel Marques

© Pedro Conceição

troca de impressões e aprendizagem através

de várias iniciativas que ocorreram (palestras
e workshops).
© Miguel Marques

O número de visitantes rondou os 30.000,

sendo que o domingo (dia 24) apresentou um
afluxo de visitantes bastante elevado.

bioaquaria Novembro 2006 37

eventos

Evento do aniversário
do ReefForum

No passado dia 9 de Setembro comemorou-se o 2º aniversário do ReefForum, um

fórum de aquariofilia nacional na Internet inteiramente dedicado à água salgada.
O evento foi realizado no Centro Cultural de Belém e contou com a presença de
três mestres da aquariofilia mundial: Eric Borneman, Anthony Calfo e Gustavo Duarte.

E
ntre outros aspectos, coral como zonas de elevada
Gustavo Duarte abordou produtividade e biodiversidade.
a importância e papéis da Anthony Calfo abordou a sus-
pigmentação nos corais como tentabilidade económica da pro-
factor protector dos mesmos, pagação de corais em cativeiro.
relacionando o estado de saúde Relatou algumas das suas expe-
dos mesmos com a fluorescência riências de aquacultura de corais
emitida, recorrendo-se à medi- e salientou a importância da pro-
ção através de um fluorómetro. pagação de corais como forma
Referiu também a gravida- de aliviar a pressão da captura
de da situação dos oceanos em nos recifes.

Anthony Calfo

termos de alterações climáticas

e seus impactos nos recifes de
coral, nomeadamente a acidi-
ficação dos oceanos devido ao
aumento de CO2 atmosférico,
diluindo-se nos oceanos e con-
tribuindo para uma menor con-
centração de carbonatos.
Salientou também a impor-
Gustavo Duarte tância ambiental dos recifes de Um dos expositores presentes

38 Novembro 2006 bioaquaria


Referiu que muitas das es-
pécies de coral mais simples de
manter e com taxas de cresci-
mento elevadas apresentam
rentabilidades elevadas em
aquacultura, pois a maior parte
da procura concentra-se em ini-
ciantes que adquirem essas es-
pécies em grandes quantidades.
Essa rentabilidade pode até ser
significativa em simples aquá-
rios domésticos.
A sua boa disposição foi uma
Eric Borneman
constante ao longo de todo o
evento.
Eric Borneman realçou a im-
portância da alimentação de co-
rais. Colocou a alimentação de
corais como factor ainda mais
importante que a própria ilu-
minação. Para tal revelou vá-
rias experiências e fez menção
a estudos e artigos científicos
que mostram a necessidade
da alimentação de corais para
a manutenção da sua saúde e
favorecimento do crescimento,
nomeadamente em muitas es-
pécies de Scleractinia, incluindo
as espécies com pólipos mais
pequenos. O plâncton, as bac-
térias, os detritos e a matéria
orgânica constituem elementos
bioaquaria
eventos
No workshop a boa disposição foi uma constante
O material utilizado no workshop
fundamentais na alimentação de foram utilizadas variadíssimas
corais. ferramentas, algumas delas in-
Eric resumiu ainda o projecto sólitas. Foram fragmentados
Catalaphyllia e toda a investiga- vários corais e reveladas vá-
ção que está a ser feita no sen- rias técnicas de corte e fixação.
tido de determinar a origem da A boa disposição acompanhou
doença que tem dizimado este todo o workshop.
coral. Muito ainda há para ser Estiveram ainda presentes al-
feito! guns expositores de empresas
O evento culminou com um nacionais do sector da aquario-
workshop sobre fragmentação filia.
de corais,
em que os http://www.reefforum.net
três convi-
dados brin-
daram o
público com
uma sessão
de «brico-
lagem» e
Novembro 2006 39
 A quário do mê
S
Aquário no início

Nesta nossa primeira edição fomos visitar um

pequeno aquário de recife, comprovando que até nos
aquários mais pequenos o sucesso pode ser atingido.

Aquariofilista: Ricardo Pinto

Dimensões do aquário: 85 x 55 x 60 cm
Capacidade bruta do aquário: 280 l
Dimensões da sump: 70 x 40 x 50 cm.
Tipo de aquário: Recife.
Centropyge loriculus
Data de montagem: 30 de Outubro de 2005.
Circulação: Bombas Eheim 1262 e OR 3500.
Iluminação: Calha SOHAL 8 x 39 W T5’s (4 actínicas) com ventoi-
nha de pc incorporada dentro da calha.
Escumador: Deltec APF 600.

Euphyllia sp.

Aquário actualmente Fungia sp.

40 Novembro 2006 bioaquaria

 Acanthastrea sp.

Adição de cálcio: Reactor de kalkwasser com bomba peristáltica

Aquamedic SP 3000 ligado durante a noite.
Aditivos: Kalk Kent Marine; Turbo Calcium; Tropical Marine Centre:
Pro – Coral Phyton para alimentar a Tridacna.
Peixes: Centropyge loriculus; Cirrhilabrus cyanopleura; Chromis di-
midiata; Siganus virgatus.
Corais: Acropora efflorescens; Fungia sp.; Euphyllia sp.; Acanthas-
trea sp.; Acropora valida; Montipora sp.; etc.
Outros invertebrados: Lysmata amboinensis; Lysmata seticauda-
ta; Thor amboinensis; Tridacna crocea; Nassarius sp.

Fotos: Ricardo Pinto e João Soares Acropora sp.

Acropora efflorescens

bioaquaria Novembro 2006 41

Publicidade
No início do próximo ano a bioaquaria vai ser distribuída
pelas lojas de todo o país. Se tem um negócio ou empresa
ligada à aquariofilia ou a qualquer área de negócio cujo pú-
blico-alvo seja comum com o da bioaquaria, então não perca
a oportunidade de nos contactar.
Queremos ajudar a publicitar os seus produtos, serviços,
marcas e/ou empresas.

Temos vários formatos de anúncios disponíveis, incluíndo

página dupla, página simples, 1/2 página, 1/3 página, 1/4
página e 1/8 página.
Peça a tabela de preços de publicidade e reserve já o seu
espaço nas primeiras edições da bioaquaria.

Temos ainda um
espaço dedicado a
pequenos anúncios
© Twm™

através da conjuga-
ção de módulos de
36,5 a 57,5 mm.
email
bioaquaria@gmail.com

Endereço electrónico
http://bioaquaria.planetaclix.pt 36,5
© Duarte Conceição

Contactos telefónicos
+351 96 501 75 63
+351 91 618 87 14
57,5

contacte-nos
42 Novembro 2006 bioaquaria
Não perca a Próxima
edição...
A Biodiversidade e a sua
importância em sistemas
«fechados» - 2ª Parte
Depois dos conceitos, não perca o desen-
volvimento deste emocionante tema e
descubra a importância que cada organis-
mo pode ter directa ou indirectamente no

© Duane Moody
seu aquário.

Mitos do Aquário
J��������������������������������������������������
unte-se a Eric Borneman e desvende alguns dos pre-
© Manuel M. Almeida

conceitos e mistérios que assombram os nossos aquá-

rios.

Nudibrânquios
Belos, exóticos, misteriosos... e perigo-
sos. Conheça estes fascinantes seres que,
embora não muito desejados, são, sem

© António Guerra
sombra de dúvida, inigualáveis.

Leitos de folhas
Conheça um dos habitats e refúgios mais fantásti-
cos que se podem ter num aquário de água doce. Entrevista
Não perca a en-
trevista a Gustavo
Duarte, o Biólogo
Marinho e especia-
lista em corais que
esteve presente
no 2º Aniversário
do ReefForum.
© Nuno Prazeres

... e muito mais!

bioaquaria Novembro 2006 43