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REGIONAL CATALÃO
UNIDADE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
CATALÃO – GO
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
REGIONAL CATALÃO
UNIDADE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
CATALÃO – GO
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
REGIONAL CATALÃO
UNIDADE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Prof(a). Dra. Aparecida Maria Almeida Barros(orientador(a) – UAEE/RC/UF
________________________________________________
Prof.Ms. Manoel Messias Oliveira– UAEE/RC/UF
________________________________________________
Profa. Dra. Rita Tatiana Cardoso Erbs– UAEE/RC/UF
________________________________________________
Prof. Eduardo Danilo Ribeiro dos Santos Ravagnani – Mestrando PPGEDUC/UFG-RC
CATALÃO-GO
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
REGIONAL CATALÃO
UNIDADE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
O presente texto monográfico é produto do Trabalho de Conclusão de Curso II, no qual objetivamos
refletir sobre o Humano (a Pessoa), a Humanidade e o Currículo. Situa a Educação enquanto processo
de Humanização, considerado na expectativa do despertar da pessoa como Ser Humano Critico e
consciente; enquanto condição para a busca de autonomia e emancipação
humanas.Metodologicamente é um estudo subsidiado pela pesquisa bibliográfica e de documentos
oficiais, realizado por meio da consulta a obras de autores do campo do currículo e da vertente do
personalismo; dos documentos oficiais foram abordados três para caracterizar as diretrizes e
referenciais que estruturam a organização do currículo escolar: o Plano Nacional da Educação (PNE –
2014-2024) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB). A fundamentação do currículo é ancorada em Silva (2014); na composição de
umaanálise contemporânea do currículo e da escola referenciamos autores como Arroyo (2007).Ao
problematizar o ser humano, o processo de conscientização crítica, a sua humanização pontuando
como contrapontoa desumanização, assim como o despertar para o esclarecimento são referenciados
em Freire e Mounier. O conhecimento proporcionado pelos autores Freire e Mounier possibilita
explicitar características comuns entre ambos, no sentido de pensar a educação sobre o prisma do
personalismo, filosofia que se centraliza no universo da pessoa. Um aspecto que surpreende de forma
positiva nesses autores e seus ensinamentos serem pertinentes na sociedade contemporânea, ou seja,
são atuais e relevantes para a sociedade moderna, suas visões contribuem para refletir e dialogar a
respeito do humano e da humanidade, subsidiando as prescrições curriculares inscritas nos
documentos oficiais atualmente em discussão.
Palavras-chave: FormaçãoHumanística.Currículo.Conscientização.Despertar.
ABSTRACT
The present monographic text is a product of the Conclusion Work of Course II, in which we
aim to reflect on the Human (the Person), Humanity and the Curriculum. It situates Education
as a process of Humanization, considered in the expectation of the awakening of the person as
a Critical and conscious Human Being; as a condition for the search for autonomy and human
emancipation. Methodologically it is a study subsidized by bibliographical research and
official documents, carried out through the consultation of works of authors of the field of
curriculum and of personalism; of the official documents were approached three to
characterize the guidelines and frameworks that structure the organization of the school
curriculum: the National Education Plan (PNE - 2014-2024) and the National Curricular Joint
Base (BNCC) and the Education Guidelines and Bases Law National (LDB). The foundation
of the curriculum is anchored in Silva (2014); in the composition of a contemporary analysis
of the curriculum and the school, we refer authors such as Arroyo (2007). By problematizing
the human being, the process of critical awareness, its humanization punctuating as a
counterpoint to dehumanization, as well as the awakening to enlightenment are referenced in
Freire and Mounier. The knowledge provided by the authors Freire and Mounier makes it
possible to make explicit common characteristics between the two, in the sense of thinking
about the prism of personalism, a philosophy centered on the universe of the person. One
aspect that positively surprises these authors and their teachings are relevant in contemporary
society, that is, they are current and relevant to modern society, their visions contribute to
reflect and dialogue about the human and humanity, subsidizing the curricular prescriptions
registered in the official documents currently under discussion.
1.3.Questões da Pesquisa:......................................................................................................... 12
5.REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 46
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1. INTRODUÇÃO
humana, consubstanciada por um padrão ético, estético, político, religioso, moral, virtuoso, há
uma contramão nos sentidos do humano e da humanidade, cujos efeitos podem, inclusive,
colocá-la em risco, especialmente quando se verifica fatos e ocorrências de violência, de
agressividade, de barbárie, que põem em xeque o que se considera como essencial na
edificação da pessoa.
As contribuições de Freire, Mounierpodem lançar possibilidades de compreensão
dessa realidade, com vista a pensar diretrizes ou direções que permitam restaurar as vias da
humanidade enquanto processo civilizatório que poderá ter a educação escolar como uma
aliada.
Desde o início da sociedade moderna um fenômeno recorrente por isso facilmente
notado, por uma mentalidade atenta éo da polarização, esse evento se configura no fato dos
indivíduos tendem a se polarizarem, isto é fixar em demasia em um determinado ladoe
desconsiderar tudo que advêm de outro ponto, gerando posturas extremistas e fixas, portanto,
contrárias àautocrítica. Isso ocorre em todos os setores e segmentos sociaise culturais como o
político, religioso, sobre a sexualidade, no entretenimento e nopróprio campo do
conhecimento.
A polarização frustra o debate impende o consenso e o bem comum. Uma pessoa, um
ser humano, independente de sua condição ou cultura não é identificado pelas suas funções,
mas sim pela sua humanidade.
As diferenças culturais seriam apenas a manifestação superficial de características
humanas mais profundas. Os diferentes grupos culturais se tornariam igualados por
sua comum humanidade. Deve-se tolerar e respeitar a diferença porque sob a
aparente diferença há uma mesma humanidade (SILVA, 2004, p.86)
processo. No propostoa alteridade é considerada tendo em vista seu conceito simplório sem
se debruçar, portanto nacomplexidade filosófica e existencialista da palavra.
Isto posto, alteridade é aqui abordada como a capacidade de secolocar no lugar do
outro em todas asrelações sejam elas de trabalho familiares, grupais, eventos, circunstâncias
diversas, nas quais os indivíduos, enquanto ser social, toma parte, participam da vida em
comum, de decisões e encaminhamentos, de ordem pessoal e coletiva.
Ao se colocar no lugar do outro, relativiza as posturasextremas que objetiva apenas o
bem de um grupo, partido, equipe em detrimentodo bem comum e da coletividade, não
qualquer coletividade, mas aquela quedefende Mounier (1964) que é a coletividade criadora.
Por coletividade criadora o autor considera situações nas quais o indivíduo em um
contexto coletivo é considerado pela sua humanidade, pois para ele “o elo da pessoa com a
comunidade é tão orgânico, a ponto de podermos dizer das verdadeiras comunidades que são
realmente e não figurativamente, pessoas coletivas, pessoas de pessoas” (MOUNIER, apud
MOIX, 1968,p.148), portanto, a coletividade criativaque configura a verdadeiracomunidade,
uma vez que, nela, “ cada um dos membros descobriu cada um dos outros como Pessoa, e
começa a tratá-la como tal” (MOUNIER, apud MOIX, 1968,p.152).
A monografia delineada no sentido de pensar sobre uma FORMAÇÃO
HUMANÍSTICA E CURRÍCULO ESCOLAR: REFLEXÕES A PARTIR DE FREIRE E
MOUNIER, foi desenvolvida, considerando:
1.1.Objetivo Geral:
Refletir sobre uma formação humanística, subsidiada em Freire e Mounier e os
indicadores do Currículo Escolar que a possibilitam.
1.2.Objetivos Específicos:
Apresentar osconceitos de Conscientização em Freire e de Despertar em Mounier,
para as reflexões em torno de uma formação humanística na atualidade.
Refletir os indicadores do Currículo Escolar, interpretados em Freire e Mounier, na
possibilidade da formação humanística.
1.3.Questões da Pesquisa:
1. Um Currículo Escolar comprometido com a formação humanística é possível?
Freire e Mounier apontam as prerrogativas para esse desafio, ao esboçar o sentido humano
dos conceitos de Conscientizare Despertar.
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O papel da educação, não é primeiro fazer cidadãos, pois a escola não tem por
função principal o fazer cidadãos conscientes, bons patriotas, ou pequenos fascistas,
pequenos comunistas, pequenos mundanos. A sua missão é despertar pessoas
capazes de viver e de assumirem posições como pessoas. (MOUNIER, 1967, p.133).
Abordando ambos os autores para refletir e propor alternativas de uma formação humanística,
tangenciada pelo Currículo Escolar.
O foco na formação humanística pensada na materialidade das prescrições do
currículo – conforme disposto nocaderno 2 reunido na temáticaIndagações do Currículo,
doMinistério da Educação, Educando e educadores: seus direitos e o currículo, elaborado por
Miguel Gonzáles Arroyo, na Base Nacional Comum Curricular, no PNE (2014-2024 - Lei
n.13.005, de 25 de junho de 2014)e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional, Lei
9.394/96O Currículo Escolar,seu conceito, seus relato histórico, suas indagações e o debate
sobre a flexibilidade domesmojá se constatada na atualidade, será situado em Silva (2004) e
Arroyo (2007). Na discussão, abordamos tambémas contradições e desafios colocados para a
efetivação de uma proposta emancipatória e humanística, mas não impossível, da Educação.
Estruturalmente o texto está assim caracterizado: na primeira parte a introdução
situando o tema proposto, a justificativa, objetivos, metodologia e a estrutura da monografia.
A segunda parte é composta pelo capitulo um que aborda o currículo de maneira abrangente, a
constituição histórica, as indagações e a possibilidade de reorientação, pautada na
flexibilidade e nas prescrições que legitima a formação humanística em Silva e Arroyo.Na
terceira parte apresentamosos autores Freire e Mounier, situando os conceitos
(Conscientização e Despertar), com a finalidade de pensar um currículo flexível e uma
formação voltada para a edificação do ser humano, da pessoa.O último capítulo situou a
discussão proposta no sentido de refletir sobre a humanização, bem como a possibilidade de
consolidação do currículo e dos estados de conscientização e despertar que efetivam uma
educação calcada na perspectiva humanista.
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Esse capítulo versa sobre o currículo em Silva (2004) e Arroyo (2007), inicialmente
são abordadas as contribuições de Silva nessa temática, na obra Documentos de Identidade:
uma abordagem das teorias do currículo. Na introdução o autor aponta a correlação entre o
tipo de humano desejável e o modelo currículo, ressaltando que ideal de ser humano almejado
no âmbito escolar.
Qual é o tipo de ser humano desejável para uma determinada sociedade? Será a
pessoa racional e ilustrada do ideal humanista da educação? Será a pessoa
otimizadora e competitiva dos atuais modelos neoliberais da educação? Será a
pessoa desconfiada e crítica dos arranjos existentes preconizados nas teóricas
educacionais críticas? A cada um desses “modelos” de ser humano corresponderá
um tipo de conhecimento, um tipo de currículo. (SILVA, 2004, p.15)
visão de Bobbit, nessa época o EUA vivia um ambiente de massificação escolar, movimentos
imigratórios provenientes do crescente processo de industrialização e urbanização.
Na confluência de várias forças sociais, culturais e econômicas atuando no cenário
social, sobretudo no educacional, intervindo decididamente na sua estruturação e orientação,
essas forças procuravam responder que tipo de formação humana pretendia a forma
imperativa de governo.
Esse foi um terreno fértil para as ideias de Bobbitt, já que segundo seuideal de
currículo a escola deveria funcionar de forma similar a uma empresa objetivando apenas os
resultados pretendidos, os quais poderiam ser administrados e quantificados por meio de
elementos deprecisão, sobre essas ideias Silva elucida,
O sistema educacional deveria começar por estabelecer de forma precisa quais são
os objetivos. Esses objetivos, por sua vez, deveriam se basear num exame daquelas
habilidades necessárias para exercer com eficiência as ocupações profissionais da
vida adulta Modelo de Bobbitt estava claramente voltado para a economia. Sua
palavra-chave era a “eficiência”. O sistema educacional deveria ser tão eficiente
quanto uma empresa econômica. (SILVA, 2004,p.23)
A forma como Bobbitt, segundo Silva (2004), pensava o currículo era algo que pode
se assemelhar a uma ferramenta de controle social e talvez não seja, embora atualmente o
currículo, esteja permeado por tônicas diferentes ainda possui várias influências desse
modelo, de acordo com Silva (2004), proposto por Bobbit
E pertinente ilustrar que a concepção de currículo, anterior a de Bobbit, concebida por
Dewey dada a sua natureza, não encontrou, no contexto citado, espaço, uma vez na sua visão,
pensava um currículo democrático, que considera essas experiências e vivências das pessoas;
entretanto, esses aspectos curriculares de Dewey, conforme Silva (2004), não podiam ser
mensurados, logo não representou as aspirações da economia do país, isto é, não
representavam as aspirações estadunidenses da época.
Como explana Silva (2004) esse modelo curricular de Bobbit se consolida em Tyler
que para Silva (2004), embora considerasse importante a filosofia e a sociologia sua visão de
currículo estava pautada na organização e desenvolvimento pensando o currículo, tal como
Bobbitt, de forma cientifica e técnica, portanto esse modelo não representou uma mudança
significativa, apenas reforçou ainda mais esse molde curricular pautado na técnica.
Na década de 60, conforme salienta Silva (2004), surgiram vários acontecimentos que
modificaram a visão de mundo da sociedade, devido alguns acontecimentos pontuais como os
movimentos de independência das antigas colônias europeias, protestos estudantis na França e
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outros nos EUA, a contracultura, o feminismo e liberação sexual, no cenário nacional a luta
contra ditadura.
Para ele, contrastando a abordagem tradicional que privilegiava o padrão empresarial
assim como a manutenção dostatus quo, as teóricas críticas do currículo visavam à destituição
desse status como o próprio nome diz eram teorias que se pautavam na crítica, sobretudo da
forma de pensar o currículo fundamentado no modelo empresarial e com foco apenas na
técnica.
A Escola é um aparelho do estado de destaque, visto que a escola representa um
espectro de alcance prolongado, isto é, ela atinge a vida das pessoas por um longo período de
tempo modificando-as e fomentando os princípios almejados por um grupo social dotado de
grande privilégio no contexto social. Sobre a configuração da Escola como aparelho
ideológico Silva discorre,
A produção e a disseminação da ideologia é feita, como vimos, pelos aparelhos
ideológicos de estado, entre os quais se situam, de modo privilegiado, na
argumentação de Althusser, justamente a escola. A escola constitui-se num aparelho
ideológico central, porque, afirma Althusser, atinge praticamente toda a população
por um período prolongado de tempo. (SILVA, 2004, p.31)
Esse excerto dá visibilidade ao papel que era atribuído a escola, qual seja, de
disseminar uma determinada ideologia no contexto social isso na visão das teóricas críticas do
currículo, Silva (2004) esclarece que a escola é o aparelho central e possui um lugar
privilegiado entre os demais aparelhos ideológicos do estado.
Sobre a transmissão de uma ideologia presumindo a Escola como esse aparelho central
e como se dá essa transmissão o autor aponta,
Como a escola transmite a ideologia? A escola atua ideologicamente através de seu
currículo, seja de forma mais direta, através de matérias mais suscetíveis ao
transporte de crenças explicitas sobre a desejabilidadedas estruturas sociais
existentes, como Estudos Sociais, História, Geografia, por exemplo, seja de uma
forma mais indireta, através de disciplinas mais “técnicas” como Ciências e
Matemática. (SILVA, 2004, p.31-32)
O currículo oculto, por sua vez, de acordo com Silva (2004), representa para alguns
pesquisadores como sendo as relações sociais na escola, mais do que seu conteúdo explicito,
que eram responsáveis pela socialização.
Para Silva (2004), porémas definições desse currículo vãoalém, O currículo oculto
seria constituído por todos aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem fazer parte do
currículo oficial, explicito, contribuem, de forma implícita, para aprendizagens sociais
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relevantes. Esse currículo se é que pode ser chamado assim, é caracterizado por não seguir
especificamente nenhuma norma ou diretriz.
Ascontribuiçõesde Silva (2004) abordadas acima, a respeito do currículo oferecem
subsídiosrelevantes para entender o projeto curricular e o seu lócus na formação, permitindo,
portanto, a possibilidade de pensá-lo para o tipo de formação que se almeja, como a humana,
nesse cenário o currículo oculto já se configura como um pressuposto para vislumbrar um
currículo mais flexível.
Antes de transitar paraa discussão desse guia em Arroyo, convêm, para fins
descritivos, bem como para respeitar umasequência lógica dasideias, situar e finalizar a
abordagem em Silva.
Portanto, com as contribuições do mencionado autor pode-se concluir que um dado
modelo de currículo evidencia a visão de humano, que uma instituição da qual tal modelo é
inerente tem como ideal para a sociedade fica explicito também sua culturada escolara
ideologia que a mesma visa transmitir.
O conceito de currículo oculto é uma discussãoque pode ser considerada o cerne para
se pensar o projeto curricular flexível, e por fim, tal guia é uma ferramenta que pode ser usada
para o controle social, por via do aparelho ideológico que se configura socialmente a
escola.Ferramenta que, como exposto, foi uma realidade historicamente construída pelo
homem, portanto pode ser por este desconstruída, repensada.
Ao se constatar que o currículoestá aí posto por meio dessa construção histórica e para
desconstruí-lo é imprescindível inicialmente conhecê-lo.Nesse processo de repensar esse guia
é fundamental refletir sobre o mesmo, e, sobretudo, indagá-lo.Essas indagações, de acordo
com Arroyo (2007) foram feitas pelos administradores e sujeitos envolvidos no processo
educativo, e que adquiriu ênfase e subsídios no MEC.
Desde o final de 2008 e início de 2009 as bases para um currículo flexível estão sendo
projetadas no Brasil através de indagações, isto é, desde então esse guia está em debate.
Portanto a flexibilidade curricular a partir dessa data vem se constituindo uma realidade cada
vez mais solidificada na sociedade Brasileira.
A Secretaria de Educação Básica (SEB) do Ministério da Educação (MEC), por meio
de uma equipe de especialistas, elaborou uma coletânea com cinco cadernos reunidos na
temáticaindagações do currículo, com a seguinte descrição:
-Currículo e Desenvolvimento Humano (caderno 1);
- Educando e Educadores: seus direitos e o currículo (caderno 2);
- Currículo,Conhecimento e Cultura (caderno 3);
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Esses cadernos partem de uma realidade, não de criação ou intenção geradora, visto
que ele é reativo, ou seja, busca oferecer pressupostos para atender às aspirações que advém
dos próprioseducadores.
Realça a premissa de indagação do currículo que está posto e foi historicamente
construído em um determinado contexto e que, tal como se apresenta frente à atualidade, ou
seja, ainda não consideram no seu ordenamento os educandos e educadores como sujeitos de
direito e ainda perdura a visão mercantilizada.
Evidenciando que esse documento necessita de uma nova dinâmica e visão,
evidenciando a gênese de uma nova consciência pelos sujeitos envolvidos no processo
educacional, consciência essa que Arroyo elucida,
As indagações sobre o currículo presentes nas escolas e na teoria pedagógica
mostram um primeiro significado: a consciência de que os currículos não são
conteúdos prontos a serem passados aos alunos. São uma construção eseleção de
conhecimentos e práticas produzidas em contextos concretos e em dinâmicas
sociais, políticas e culturais, intelectuais e pedagógicas. Conhecimentos e práticas
expostos às novas dinâmicas e reinterpretados em cada contexto histórico. As
indagações revelam que há entendimento de que os currículos são orientados pela
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Os textos de Arroyo, que constituem o caderno dois, partem dessa realidade e enfatiza
sua visão dinâmica e contextualizada do conhecimento e das práticaseducativas. O
pesquisador tem como finalidade última, oferecer subsídios para desconstruir e reorientar o
que já está posto de retrocesso nesse guia escolar,
É proposta do texto que se desconstruam visões mercantilizadas decurrículo, do
conhecimento e dos sujeitos do processo educativo. Otexto traz crítica ao
aprendizado desenvolvido por competências ehabilidades como balizadores da
catalogação de alunos desejados eaponta o direito à educação, entendido como o
direito à formação eao desenvolvimento humano pleno. (ARROYO, 2007,p.10)
Embora tenha sido utilizado apenas o caderno dois neste estudo, é relevante ressaltar
que os demais temas da coletânea também são importantes no sentido de corroborar com
indagações em torno do currículo vigente, bem como da proposta de um guia flexível calcado
em uma formação que visa o desenvolvimento humano. Como aponta Arroyo, “Os textos
coincidem ao pensar a educação, o conhecimento, a escola, o currículo a serviço de um
projeto de sociedade democrática, justa e igualitária (ARROYO, 2007, p.13)
A pertinência dessas indagações se comprova pelo fato de que o currículo já está
sendo repensado pelos coletivos de educadores e administradores escolares em toda a
sociedade Brasileira, portanto desde sua distribuição no começo de 2009 o ambiente e o
contexto escolar se configuram como espaços para tais questionamentos, bem como para uma
formação igualitária, portanto humanística.
Areorientação curricular deve ser pensada a luz de diretrizes e subsídios como em
Arroyo (2007)e a equipe de pesquisadores renomados que elaboraram oscadernos já
mencionados, foram e são capazes de compreender as contradições sociais bem como suas
mudanças, mudanças essas que na leitura de Arroyo resulta da constituição de novas
identidades seja de educando ou educador;
(...) as identidades pessoais vêm sendo redefinidas.Identidades femininas, negras,
indígenas, do campo. A identificação de tanta se tantos docentes com os
movimentos sociais suscita novas sensibilidades humanas, sociais, culturais e
pedagógicas, que se refletem na forma de ser professora-educadora, professor-
educador. Refletem-se na forma de ver os educandos, o conhecimento, os processos
de ensinar-aprender. Que indagações sobre o currículo vêm dessa nova identidade
pessoal e coletiva dos(as) educadores(as)? (ARROYO, 2007, p.)
Essas novas identidades são as que assumem posturas críticas frente ao currículo
vigente, mas que indagações são essas? Como elas se orientam? Qual questão estrutural do
guia é indagada por essas novas identidades?.Assim Arroyo (2007) aborda núcleos de
indagações a respeito desse documento curricular, pois este, para o pesquisador é o polo
estruturante do trabalho docente, uma vez que a forma como e realizado esse trabalho, ou
seja, se há ou não a ocorrênciade autônima, carga horária ou isolamento no trabalho são
aspectos que seguem a mesma lógica com a qual o currículo foi orientado, pensado.
O que suscita, nesse contexto de novas identidades, algumas questões,
o currículo, seu ordenamento, suas hierarquias, a segmentação dos conhecimentos
em disciplinas, cargas horárias não condicionam o nossotrabalho? Os esforços por
formas de trabalho docente mais humano nãoestão condicionados pelo ordenamento
dos currículos? Que mudar nesse ordenamento? Como a organização curricular
condiciona a organização da escola e por consequência do nosso trabalho? Que
organização dos currículos e da escola tornará nosso trabalho mais humano?
(ARROYO, 2007, p.18)
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Essas indagações, para Arroyo (2007) partem das insatisfações com a organização
escolar, essa mesma que é condicionada pelo trabalho e se ratifica pela ordenação curricular.
Essa ordenação como já discutido é orientada pelo currículo que em sua elaboração
segue uma lógica, esse modelo que está ai posto não representa as aspirações dos sujeitos
envolvidos, se não os respeita como seres humanos, necessita de uma reorientação o que
significa mudar a lógica com que foi elaborada este modelo.
Se esse documento fosse orientado para a formação humanística este não seria
abordado no presente texto monográfico, sequer faria parte das indagações de Arroyo (2007),
ou objeto de insatisfação dos coletivos de educadores e gestores.
Mas o que faz com esse documento esteja em constante debate nacional é a cultura e
organização escolar é a estrutura do trabalho docente, mas é acima de tudo a visão e a lógica
que este tem em relação aos educandos visão essa lançada pelos próprios coletivos de
administradores e educadores, essa visãoé também exposta por Arroyo:
Se continuarmos vendo os educandos desde a educação infantil e, sobretudo, no
Ensino Médio e nas séries finais do Ensino Fundamental como recursos humanos a
serem carimbados para o mercado segmentado e seletivo, seremos levados a
privilegiar e selecionar as habilidades e competências segundo a mesma lógica
segmentada, hierarquizada e seletiva. O ordenamento dos conteúdos por séries,
níveis, disciplinas, gradeado e precedente, por lógicas de mérito e sucesso nada mais
é do que a tradução curricular dessa lógica do mercado e da visão mercantilizada
que nós fazemos dos educandos.(ARROYO, 2007,p.24)
24
O autorcomplementa sobre um contexto recente marcado por essa visão, bem como da
persistência dela em alguns contextos atuais:
Esta é uma das imagens mais reducionistas dos educandos e dos currículos. É a
imagem que mais tem marcado o que ensinamos e privilegiamos em nossa docência.
Foi assim que a Lei no. 5692/71 via as crianças, adolescentes e jovens: candidatos a
concursos, a vestibulares, ao segmentado mercado de emprego. Esta visão
reducionista marcou as décadas de 1970 e 1980 como hegemônica e ainda está
presente e persistente na visão que muitas escolas têm de seu papel social e na visão
que docentes e administradores têm de sua função profissional. Sobretudo ainda essa
visão dos alunos como empregáveis é determinante nos formuladores de políticas de
currículo. (ARROYO, 2007,p.24)
que o currículo possui no âmbito da formação escolar, portanto o estudo deste não poderia
estar ausente da temática aqui abordada.
Além dos documentos oficiais, que serão brevemente abordados em seguida, bem
como a coletânea produzida pelo MEC, constata que a flexibilidade curricular desde2009 é
tema de debate, ou seja, o currículo flexivo, mesmo que não seja satisfatoriamente uma
realidade consolidada em sua integralidade seria uma realidade.
Todos os cadernos reunidos nessa temática que tece indagações sobre o
currículooferece pressupostos para a consolidação desse documento em um molde flexível,
bem como para a possibilidade de um currículo orientado para a formação humanística, como
pode ser constatado pelas diversas menções da palavra humano, humanidade e humanização
ao longo das discussões presentes apenas nesse caderno, bem como de pressupostos para
legitimar condições de igualdade e democracia, o que satisfaz as questões problematizadas
nestes estudo.
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Analisar documentos oficiais que oferecem diretrizes e leis para a educação sobre o
ponto de vista humanístico, ou seja, evidenciar prescrições e indicadores não é tarefa fácil,
dada a extensão destes, entretanto ao longo da leitura justamente por serem documentos de
certa forma burocráticos em alguns aspectos desses documentos ficam evidentes a
preocupação com uma formação pautada no humano, sobretudo em partes que tratam dos
princípios que orientam a educação, logo apenas essas partes desses documentosserão
abordadas.
A lei de diretrizes e base da educação nacional (LDB) é uma legislação que
regulamente tanto o ensino público quanto o privado, da educação básica ao ensino superior.
Essa Lei estabelece a elaboração de um plano nacional da educação o qual já foi feito.
O Plano Nacional da Educação (PNE), instruído pela Lei n.13.005, de 25 de junho de
2014, estabelece 20 metas para a Educação em todos os segmentos, da Educação Infantil ao
Ensino Superior chegou no primeiro quadriênio com apenas 20 por cento de suas metas
concluídas, como justificativa do não cumprimento hábil das metas está a crise financeira.
Até o último ano da vigência do PNE — 2024 — toda a população entre 9 e 14 anos
precisa estar matriculada no Ensino Fundamental de 9 anos.Segundo pesquisa divulgada no
observatório do PNE feita no final de 2017 existem 2,5 milhões de criança e adolescentes fora
da escola. Outra meta pertinente, ao segmento focal se evidencia assume relevância a de que
pelo menos 95% dos alunos matriculados no Ensino Fundamental devem concluir tal etapa
dentro da idade recomendada, sobre essa meta segundo o observatório do PNE, 900 mil ainda
não finalizaram essa etapa, uma meta sobre a alfabetização até a terceira série foi mudada
para a segunda série, pelo documento que cumpre uma das metas que é universalizar o ensino
fundamental de 9é a Base Nacional Comum Curricular.
A BNCC foi homologada em 20 de dezembro de 2017 e no próprio documento assim
se define:
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento decaráter normativo
que define o conjunto orgânico e progressivo deaprendizagens essenciaisque todos
os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação
Básica, de modoa que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e
desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de
Educação (PNE). Este documento normativo aplica-se exclusivamenteà
educaçãoescolar (BRASIL, 2016, p.7).
que as escolas cabem a competência de organizar a sua pratica, a sua abordagem e estratégias
levando em consideração o seu contexto, significa também que os regionalismos e autonomia
das escolas, serão respeitados.
Ao ler o documento a palavra mais enfática que se nota em boa parte do documento é
a palavracompetência o documento estabelece no seu início dez competências gerais, que se
desdobrará em competências especifica para cada área do conhecimento, no contexto desse
documento competência assume um conceito como sinaliza o mesmo, “Cada área de
conhecimento estabelece competências específicas de área, cujo desenvolvimento deve ser
promovido ao longo dos nove anos. Essas competências explicitam como as dez competências
gerais se expressam nessas áreas”. (BRASIL, 2016,p.28)
Nesse capítulo, a ênfase será dada aos autores e conceitos que subsidiarão as reflexões
para uma formação humanística, centrada no despertar da pessoa, para tanto foi pensado
tópicos que identificam as definições abordadas, no âmbito dessa formação.Dialogando com
os doisautores que ousaram desafiar os limites impostos por seus contextos, bem como
orientaram seus estudos e vida para a pessoa, o ser humano. Escolhemos ambos para
fundamentar esse debate, que envolve atemática _humano, pessoa _ proposto neste estudo.
A ênfase das leituras fundamentadas nos dois autores evidenciamos conceitos de
Conscientização em Freire e de Despertar em Mounier, estudos que possibilitam refletir
acerca da formação embasada na pessoa, no ser humano.
Em 1980 volta ao Brasil sendo docente na PUC de São Paulo e na Unicamp. De1989 a
1991 foipara asecretaria da Educação em São Paulo no governo de Luiza Erundina.
Ele recebeu prêmios de Educação para a Paz, dadopelas Nações Unidas, em 1986 e
de Educador dos Continentes da Organização dos Estados Americanos, em 1992.
Paulo Freire morreu em 2 de maio de 1997, em São Paulo, de infarto agudo do
miocárdio.
Em 2006 sua segunda Esposa, nomeada sua herdeira intelectual ela lançousua
BiografiaPaulo Freire: uma história de vida.
Paulo Freire assim como Mounier, como será constatado posteriormente, viveu
momentos conturbados, convém, portanto abordarsuas contribuições, sobretudo no âmbito da
formação da pessoa e o papel da educação nessa formação.
Que é o conceito de conscientização, no presente projeto, esse conceito apenas será
abordado no seu ponto de vista existencialista.
No texto a seguir sendo fiel àsua escrita o termo homem será predominante usada
assumindo um sentido amplo, assumindo o mesmo significadoque humano.
Para o autor não se pode encarar a educação sem que se considere a pessoa, visto que
segundo ele a educação é um que-fazer humano, ou seja, reconhecia a educação como um
fenômeno humano, logo ele considera, tal como Silva que há uma correlação entre um ideal
de humano que se tem e o processo educativo,
O que é o homem, qual a sua posição no mundo - são perguntas que temos defazer
no momento mesmo em que nos preocupamos com educação. Se essa preocupação,
em si, implica nas referidas indagações (preocupações também, no fundo), a
resposta que a ela dermos encaminhará a educação para uma finalidade humanista
ou não. (FREIRE, 1969, p.1)
sua volta no contexto no qual estásituado, ou seja, quando é consciente da sua realidade,
assim para o próprio a educação só poderia ser consideradahumanista quando
conscientizassede fato, isto é ,na leitura que fazia de pessoa, humano,
Como se pode mudar alguma qualquer coisa se o indivíduo não é ciente dele, logo a
inconsciência ou mesmo a consciência ingênua, termo que Freire usava eram um empecilho
par que a consciência se afirmasse.O ser humano para Freire era entendido em um contexto de
devir, pois para ele ser uma pessoa significa ser mais, esse ser maior sóse legitimaquando há
consciência, sobretudo da sua condição humana. Aquele que é se situa na consciência percebe
sua realidade, assim é capaz de transformá-la.Freire era consciente da educação e de seu
aspecto dual, ou seja, existia nessaspráticas que desumaniza, praticas essas que ele
denominava como educação bancaria “Mas, se para a concepção “bancária” a consciência é
essa caixa que deve serpreenchida, é esse espaço vazio à espera do mundo, a educação é então
esse ato de depositar fatos, informações semimortas, nos educandos (FREIRE, 1969, p.5)
perceber que tipo de educação almeja, evidencia também um tipo de currículo, bem como
qual a visão de humano os sujeitos envolvidos nesse processo possui.
Segundo Freire (1969), a busca do ser mais passa pelas relações humanas nos diversos
contextos, o estar no mundo, com o mundo. Essa relação homem mundo significa as relações
entre homens e seus semelhantes.
O ponto de partida dessa busca está no próprio homem. Mas, como não háhomem
sem mundo, o ponto de partida da busca se encontra no homem-mundo, istoé, no
homem em suas relações com o mundo e com os outros. No homem em seu aquie
seu agora. Não se pode compreender a busca fora desse intercâmbio homemmundo.
Ninguém vai mais além, a não ser partindo daqui. A própria
“intencionalidadetranscendental”, que implica na consciência do além-limite, só
explica na medida emque, para o homem, seu contexto, seu aqui e seu agora, não
sejam círculos fechados em que se encontre. Mas, para superá-los, é necessário que
esteja neles e deles sejaconsciente. (FREIRE, 1969, p.3)
Portanto a busca, o tonar-semais não existe sem as relações humanas, mas imbuídas
por essa busca as relações assumem um dimensão, inversamente proporcional da relação que
se verifica, na maioria dos contextos, atualmente na qual o outro e considerada penas um
objeto, uma coisa, passível de classificação, essa qualidade de relação também se constata na
escola, uma vez que é de senso comum que a escola não é um lugar a parte do convívio social,
senão seu reflexo.
As ferramentas de análise e reflexão que Paulo Freire (1969) oferece sobre o conceito
de conscientização, nada mais é do que um estado, um estado no qual o homem e capaz de ver
além de todas as contradições e apenas situado nesse estado ele é capaz de ser mais, tornar-se
mais, apenas situado nesse lócus o homem é capaz de mudar a sua realidade.
Pelo conceito atribuído a Freire a conscientização, se a realidade não está humanizada
é também fácil concluir que a mesma ainda não foi modificada, bem como evidencia a
inconsciência do homem, o que irá refletir nas relações do homem com o homem, uma vez
que o homem ao se humanizar, humaniza o outro daí o fato dessa relação ser imprescindível
paraa busca básica, o ser mais.
Considerando o enfoque existencialista de sua obra essa busca, assim como o processo
de conscientizar-se,é o ponto básico da humanização, “o objetivo básico de sua busca, que é o
“ser-mais”, a humanização, apresenta-se-lhe como um imperativo que deve ser
existencializado. Existencializar é realizar a vocação a que nos referimos” (FREIRE, 1969,
p.3).
Como se constata para ele a humanização dever ser uma pratica efetivamente
consolidada e a educação é a da ferramenta mais poderosa para esse humanizar. Não pode
haver uma mudança significativa em nenhum cenário da realidade sem que a conscientização
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a direcione.O resultado da busca do ser mais é a humanização, mas essa busca que resulta na
humanização só se iniciará com a conscientização, pois subsidiará o agir reflexivo:
não pode haver reflexão e ação fora da relação homem- realidade. Esta relação
homem-realidade, homem-mundo, ao contrário do contato animal com o mundo,
como já afirmamos, implica a transformação do mundo, cujo produto, por sua vez
condiciona ambas, ação e reflexão. E, portanto, através de sua experiência nestas
relações que o homem desenvolve sua ação-reflexão também pode tê-la atrofiadas.
Conforme se estabeleçam estas relações, o homem pode ou não ter condições
objetivas para o pleno exercício da maneira humana de existir. (FREIRE, 1979, p.8)
O homem estando no estado de inconsciência sua ação não será reflexiva, suas
relações não serão positivas, apenas a consciência plena oferece o homem a capacidade de
transcender as dualidadesde extremos, ao mesmo tempo em que está no mundo, o homem
consciente é capaz de distanciar-se dele para refletir sobre ele, assim e apenas assim sua
realidade pode ser transformada.
Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de “distanciar-se” dele para
ficar com ele; capaz de admirá-lo para, objetivando-o, transformá-lo, um ser que é e
esta sendo no tempo que é seu, um ser histórico, somente este é capaz, por tudo isto,
comprometer-se. (FREIRE, 1979, p.8)
Freire (1979) esclarece acerca desse vocábulo evidenciando que esse termo–
Conscientização -confidencia que a primeira vez que ouviu essa palavra foi capaz de perceber
a profundidade que a mesma possuía. Segundo o autor, à primeira vista a realidade não se
revela de forma cognoscível, ou seja, em um primeiro momento a aproximação que o homem
faz com a realidade e feita de forma espontânea. Assim existem duas formas de se relacionar
com a realidade para vislumbrar eentender o conceito de conscientização é imprescindível
distinguir essas duas posturas, as quais o ser humano pode apresentar frente a realidade que
lhe é apresentada,
(...) na aproximação espontânea que o homem faz do mundo, a posição normal
fundamental não é uma posição crítica mas uma posição ingênua. A este nível
espontâneo, o homem ao aproximar-se da realidade faz simplesmente a experiência
da realidade na qual ele está e procura. (FREIRE, 1979, p.15)
A realidade abordada por Freire é uma espécie de balizador do real, portanto quanto
mais consciente uma pessoa seja, mais profundo ela pode mergulhar no que é verdadeiro, no
que é real,
A conscientização é, neste sentido, um teste de realidade. Quanto mais
conscientização, mais se “desvela” a realidade, mais se penetra na essência
fenomênica do objeto, frente ao qual nos encontramos para analisá-lo. Por esta
mesma razão, a conscientização não consiste em “estar frente à realidade”
assumindo uma posição falsamente intelectual. A conscientização não pode existir
fora da “práxis”, ou melhor, sem o ato ação – reflexão. Esta unidade dialética
constitui, de maneira permanente, o modo de ser ou de transformar o mundo que
caracteriza os homens. (FREIRE, 1979, p.15)
Estar consciente não significa somente estar consciente verdadeiramente, mas sim agir
frente a realidade dentro da práxis, isto é agir reflexivamente só assim o homem pode ser e
transformar essa realidade. Essencialmente em Freire (1979) o conceito de Conscientização
implica ultrapassar o campo da postura ingênua de assimilação do que é real para assim se
posicionar de forma reflexiva na qual o ser humano reconhece a realidade, isto é a torna
objeto do seu conhecimento. O sentido de Conscientização para Freire, nos ajuda a
compreendê-la como ação de humanização. Ao pensar uma escola comprometida com esse
processo, supõe que o aluno, concebido enquanto sujeito, e, portanto, participante, agente de
Conscientização, desenvolva habilidades e capacidades relativas à ação consciente, sendo
capaz de desvelar, como Freire indica a realidade, bem como seja capaz de exercer a práxis
isso é agir e refletir sobre os contextos nos quais estão inseridos que e assim devidamente
conscientes pela educação seja capaz de assimilar a realidade de forma crítica se posicionando
para além da apreensão ingênua.
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1
As Noções de Pessoa e Vida em Emmanuel Mounier: fundamentos de sua proposta de sociabilidade e
de sua critica ao processo de despersonalização de Rocha (2011), Crise da Pessoa e da Educação: um estudo na
perspectiva personalista de Emmanuel Mounier, de Paula (2010) e A Pessoa e a Educação no Pensamento de
Emmanuel Mounier de Bosa (2008), referenciadas no presente projeto.
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uma neutralidade.Mas o autor, por sua vez não desejava que o movimento evidenciasse um
caráter confessional ou fixo, a visão de Mounier permaneceu.
A neutralidade éalgo sempre temido, inclusive para vários autores que enxergam nela
uma atitude passiva na qual a pessoa abdica de suas ações e permite que outras pessoas as
direcionem.Nos contextos de dualidade sempre uma das partes exigeque umindivíduo
considerado sem posicionamento e iniciativase posicione acusando-o de inércia, todavia, um
indivíduo que possui uma mentalidade transcendental, tal como Mounier, se posiciona em um
contexto que transcende essa dualidade, estando assim ele pode agir e refletir sem ter seu
pensamento limitado ou cego.
Assim a revista Esprit representou uma terceira força, justamente por não demonstrar
acepção a dualidade predominante, Capitalismo e Marxismo. Essa revista bem como esse
movimento representou os alicerces para a constituição da sua filosofiapersonalista que age
em defesa da própria pessoa e sua edificação contra todas as forças que atentam contra sua
emancipação e despertar. O autorse dedicou ativamente a busca de soluções por meio de
debates com vários grupos e pelo conteúdo revolucionário e evoluído exposto pela revista,
toda sua obra foi um reflexo do contexto no qual estava inserido e envolto pelo respeito à
pessoa, aspecto central do seu trabalho. Mounier não esteve tão conectadoà vida acadêmica
pelo contrário ele não observava que as instituições eram imbuídas de idealismo e pouco
engajamento e não representava segundo Severino (1974), a realidade, as aspirações dos
educandos,suas emoções, tampouco o contexto mais importante o contexto humano.
Casa-se em 1936, e posteriormente no matrimonio sofre outra perda mais dessa vez
mais significativa do que apenas uma parte do corpo, a sua filha. Em uma época de
totalitarismos defendera pessoa se faz uma luta dura e difícil, por isso Mounier foi preso, bem
como a revista esteve paralisada entre os anos de 1941 a 1944. Ele tentou levar para vários
países seu pensamento embasa do humano, nunca se aliou a nenhum partido, ou a dogmas
filosóficoso que foi motivo, como mencionado, de tensões entre amigos da revista e do
movimento Esprit, causando o fim de amizades.
Não é eufemismo dizer que sua vida determinou sua obra, mergulhou no seu tempo,
contexto viveu profundamente o momento maiscrítico da sociedade mundial e emergiu dessa
vida as suas obras que traduzem tudo que elevivenciou. A filosofia personalista de Mounier se
entendida e praticada evitaria várias crises e problemas tanto sociais comoculturais, sobretudo
problemas de âmbito humanístico teve na revista seu piano, com o qual tocou músicas que
atingiu e inspirou vários amigos e estudiosos. Vários pesquisadores concordam que qualquer
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biografia que seja elaborada fará jus a Mounier, bem como analisar sua obra sem considerar
sua vida é recorrer a incoerência o autor faleceu em 1950.
Para Mounier (1976), o personalismo não é um sistema é uma filosofia, tampouco é
uma atitude, contudo, não está isenta de certa ordem ou sistematização.
Por ser uma filosofia que adentra o universo da pessoa e a pessoa é um constante devir
não pode, de forma alguma, assumir uma sistematização absoluta. Nota-se uma similaridade
de Freire e Mounier ao compartilharem da condição humana na qual o ser humano é um
constante vir a ser, ser mais. Eleatribuía a pessoa o termo de permanência aberta, portanto,
assim como Freire, Mounier em sua filosofia personalista também percebe o ser humano, a
pessoa como um ser em constante processo de devenir, bem como a concebe em uma
possibilidade de abertura, como explicita Moix, discorrendo sobre o pensamento de Mounier,
A dificuldade de definir a pessoa vem de ela não ser um objeto que se aprende: “Ela
é uma realidade que conhecemos e fazemos ao mesmo tempo de dentro”...,Mounier
Crê na natureza humana, mas dela não faz absolutamente uma imagem estática, epor
isso chama-a de “permanência aberta”... Para ele como para Scheler, a pessoa é um
centro de atos, “uma atividade vivida de autocriação, de comunicação e de adesão,
que se apreende e se conhece a si mesma no seu ato, como um movimento de
personalização” (MOIX, 1968, p. 180)
O meu feitio e a minha maneira de pensar são amoldados pelo clima, a geografia, a
minha situação á face do globo, a minha hereditariedade, e, talvez, até pela ação
maciça dos raios cósmicos. Para além dessas influencias temos ainda determinações
psicológicas e coletivas. Nada está em mim que não seja imbuído de terra e sangue.
(MOUNIER, 1976, p.40)
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Essa dimensão de estar com outro de respeitá-lo como pessoa, abordada acima faz
parte de outra dimensão da pessoa para Mounier a comunicação. Outra dimensão da pessoa
Segundo Mounier (1976) é a vocação aqui cabe ressaltaro que o mesmo entendida por
vocação uma vez que essa palavra e imbuída de outros sentidos.
Esse termo era entendido para Mounier não como aptidões físicas e características que
tornariam o indivíduo apto a determinação tarefa ou função, mas sim diz respeito
àsingularidade da pessoa, aquilo que a torna única no mundo. Sobre o sentido dessa palavra
Mounier argumenta,
todos fossem iguais a existência seria condicionada pela massificação não haveria o que
compreender, nem a riqueza do diálogo, não haveria a possibilidade do discurso.Considerar
essas três dimensões na relação entre os sujeitos do processo educativo se torna condição
indispensável para uma mudança na cultura escola, na própria educação, consolidando
efetivamente a formação humanística.Na esteira do processo educativo e necessário abordar o
aspecto pedagógico da filosofia personalista de Mounier.
Assim como Freire, Mounier reconhecia a educação como uma ação essencial tanto
para a mudança da realidade, quanto para a humanização, a qual resultaria de um processo de
despertar da pessoa.Para Mounier na educação e imperativo que se determine a sua finalidade
para ele estava claro que a finalidade da educação era o despertar da pessoa e não adequá-la
ao conformismo do ambiente familiar, do estado ou do social, tampouco capacitá-lo para
desempenhar uma função na vida adulta.
A educação deveria conduzir a edificação da pessoa, isso implica dizer que a pessoa
não pertença a ninguém, mas apenas a si mesma, só assim ela atingira a maior idade, seria
emancipada, isso enfatiza o quanto prezava a liberdade, a qual considera um direito que
deveria ser invocado em qualquer contexto.
Aqui cabe um paralelo com Arroyo, com finalidade de esclarecimento, ambos
Mounier e Arroyo reconhecem a importância do trabalho na sociedade e formação para o
mundo do trabalho e importante. Ambos compartilham, porém, que essa formação para o
trabalho e para cidadania não deve ser balizadora do processo educativo.
O sentido de despertar, o uso dessa palavra pressupõe o oposto claro o sono, tal qual
era imperativo para Freire a humanização no cenário educacional, era o despertar para
Mounier, logo se a educação não se orientava para esse fim, ela conduzia consequentemente
para o sono e existem várias formas sonolência,
Há muitas formas de sono: as diversas formas de vida inautêntica ou da existência
perdida; a dispersão, o impessoal, a alienação nas coisas exteriores que torna a
pessoa “coisa entre as coisas”; a tagarelice quotidiana e a comum; a maneira de ser
de uma existência desenraizada, a demissão. (MOUNIER 1963, p. 114).
Assim como Freire, Mounier denota um aspecto negativo da educação a qual por ter
alguns determinantes como balizadores da sua orientação induzem ao sono, como Freire que
percebeu na educação bancaria uma qualidade nefasta, Mounier atribui a educação para o
sono como um massacre de inocentes, colocações bem significativas em um contexto
negativo, como se constata. Para ele a educação que humaniza e desperta deve respeitar a
pessoa em todas as dimensões e para que se consolide um ensino que desperta deve seguir
uma orientação sistemática,
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A escola, desde o primeiro grau, tem por função ensinar a viver, e não acumular
conhecimentos exatos ou processos eficientes. E é próprio de um mundo de
pessoasque a vida não se ensine mediante uma instrução impessoal distribuída em
verdadescodificáveis. (MOUNIER, 1967, p. 135)
Esse postulado de Mounier, assim como o aspecto pedagógico de sua filosofia é uma
constatação, e se qualifica, portanto como uma condição para a efetivação da educação
preconizada no desertar da pessoa, na humanização via escola.
Mounier fundamentou a sua filosofia personalista estritamente na pessoa, embora não
a definanem sistematize, o autor enfatiza nas três dimensões uma delas é a comunicação, logo,
o processo despertar, só se consuma no contato com próximo, assim a questão a ser pensada é
a qualidade desse contato se o mesmo se fundara em preceitos humanísticos.
Nas contribuições de Freire é evidente que o “ser mais”, a transformação da realidade
resulta na relação do homem com o mundo com o outro, explanando que a qualidade dessa
relação determina ocorrência da comum humanidade, “Conforme se estabeleçam estas
relações, o homem pode ou não ter condições objetivas para o pleno exercício da maneira
humana de existir.” (FREIRE, 1979, p.8)
A escola desde a Educação Infantil se configura como uma peça fundamental para o
processo de socialização é nela que a pessoa inicia de forma efetiva o aspecto social, isto é, o
encontrocom o outro, com o mundo. A tolerância especialmente, o respeito às diversidades
edificados na socialização é a tônica das prescrições oficiais como constatado, sendo assim se
objetiva na escola uma qualidade nas relações que possibilitam a maneira humana de existir
preconizadas em Freire e Mounier.
Outras propostas dos documentos oficiais são o desenvolvimento humano,
reconhecimento dos sujeitos do processo educativo como sujeitos de direito e a promoção
humanística. Para que isso se efetive é necessário, que se mude o olhar em relação a todos os
sujeitos desse processo, sobretudo, os discentes, como sugere Arroyo (2007).
Mounier elucida como estes devem ser tratados para que sejam vistos como pessoas,
“Tratá-lo como sujeito, como ser presente é reconhecer que não o posso definir, nem
classificar” (MOUNIER, 1964, p.67).
Assim como Freire já preconizava a educação é a ferramenta fundamental para a
humanização, mas para que as adversidades e a promoção humanística aconteçam via
educação e necessário que os sujeitos envolvidos se humanizem e humanizemo outro, essa é
uma condição indispensável para que a humanização seja consolidada por meio da escola.
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Esse humanizar e humanizar o outro só será uma realidade por meio dos processos
subsidiados em Freire e Mounier, o despertar e a conscientização.
A filosofia personalista de Mounier faz um apelo Socrático, convidando o homem a
acordar,atenta o existente para uma tomada de consciência, esse despertar não é uma tarefa
solitária, mas sim solidaria, isto é se faz em duas dimensões,tanto no âmbito da singularidade
quanto no âmbito comunitário.
Despertar em Mounier é reconhecer a pessoa como tal, mesmo em um contexto
coletivo, isso significa ver o outro em uma ótica de igualdade se desfazendo de todas as
diferenças, diversidades, funções sociais ou rótulos é um convite ao reconhecimento do que
todos essencialmente todos igualmentecompartilham que é acomum humanidade,
entretantoesse conceito não se limita a um simples acordar ou reconhecimento da pessoa ele
implica em engajamento comprometido com o objetivo de transformar a realidade.
Como as escolas fomentam diversas relações interpessoais ao longo da existência nela
se encontra um grande potencial para o exercício das relações noâmbito comunitário aspecto
de destaque na filosofia personalista de Mounier.De acordo com Severino (2001), a educação
é a mediação efetiva para a consolidação da solidariedade que orienta o outro a reconhecer
como eu como parceiro.Nesse cenário a escola assume um potencial absurdamente
significativo por ser espaço de relações interpessoais podendo constituir no ambiente escolar
junto com os educadores e administradores o aspecto solidário essencial para solidificar o
caráter comunitário. Com alunos cada vez mais amadurecidos no âmbito comunitário, fazendo
parte da coletividade criadora, os sujeitos do processo educativo podem exercer a ação
reflexão, como intuitode edificar na sociedade, a solidariedade e acomunhão.
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5. REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 42.ª edição
______.O personalismo. 2 ed. Trad. de João Bernard da Costa. São Paulo: Duas Cidades,
1964. 169 p