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São Paulo
2018
Após um grande período de perseguições, em 313 o edito de Milão possibilitou
liberdades de culto aos Cristãos. Tal fato trouxe um período de tranquilidade fez com que
a profissão do credo cristão pudesse se desenvolver em múltiplas concepções que iam
fermentando novas formas de entender a pessoa de Cristo e sua mensagem.
Contudo algumas dessas concepções culminaram em heresias e cismas exigindo
uma resposta por parte da Igreja. Assim nascem os concílios, sem um planejamento prévio
em busca de respostas para este ou aquele questionamento. Importantíssimo ressaltar que
as ideias consideradas heréticas não nascem com esta finalidade. Nem Ario, Nestório ou
Eutiques propuseram ideias com fim de serem heresias. Eram reflexões de homens
apaixonados pela Igreja tanto quanto o eram um Atanásio, um Gregório de Nissa e um
Cirilo de Alexandria. Outro fato e o encontro dos cristãos judeus com a cultura helênica
exigia uma precisão linguística, coisa que muitas vezes não se encontra na língua
hebraica. E os primeiros concílios vinham por convocações do imperador, que querendo
unir seu império precisava de uma resposta rápida frente aos problemas.
A primeira grande heresia foi a de Ario, que sustentava que Jesus não era Deus, tal
como o era Deus Pai, tendo a mesma substancia, mas um Deus menor, uma espécie de
demiurgo. Dessa forma em 325 Constantino convoca um concílio se celebra em Niceia e
o Arianismo acaba por ser condenado. Porém como cita Verdette:
Mas, ao concílio condenatório da heresia
ariana seguiu-se, paradoxalmente, um período filo
ariano, tendo como dirigente máximo o bispo
Eusébio de Nicomédia, que alcançou uma grande
influência na própria corte imperial, a ponto de o
imperador Constantino acabar por ser batizado no
seu leito de morte, em 337, pelo bispo pró-ariano.
Dois anos depois, Eusébio de Nicomédia tornou-
se bispo de Constantinopla, sendo, assim, um
ariano confesso um dos mais poderosos chefes da
Igreja1.
Um novo concilio foi necessário para acabar com o Arianismo e este teve lugar em
381 na cidade de Constantinopla e foi convocado pelo imperador Teodósio. De fato, o
Arianismo foi derrotado na Igreja, porém surge uma nova heresia: O Macedonianismo,
que negava o Espirito Santo, porem também suprimida. Ficava assim completa a teologia
1
Carlos verdete, história da igreja, vol.1 – das origens ao cisma de 1054, São Paulo:Paulus, 2009, p.99
trinitária, mas uma nova questão nasceu: como se conjugavam em Cristo a divindade e a
humanidade.
Esse tema de como se conjuga em Cristo divindade e humanidade é discutido por
duas grandes escolas da antiguidade no século V: Alexandria e Antioquia. A primeira
defendia um modelo teológico onde se enquadra é o da teologia do Logos; Cristo é
apresentado como mediador entre Deus e os homens. É um modelo descendente: o Logos
se faz carne, exatamente como se apropria da humanidade completa. A segunda segue
mais de perto a filosofia aristotélica e opta por uma interpretação literal das Escrituras.
Sem excluir o uso literal da alegoria, os antioquenos recorriam à filologia e à história.
Dois grandes representantes das referidas escolas: Cirilo de Alexandria e Nestório
entram em embate quando o segundo passa a afirmas que Maria não é Theotokos e sim
apenas Christotokos, pois afirmava que Cristo tinha duas naturezas vagamentes
relacionadas. A heresia de Nestório pode ser entendida como uma antítese do
monofisismo que emergiria em reação a suas ideias.
As pregações nestorianas incendiaram os ânimos de muitos ante a negação do título
de Maria como Mãe de Deus e Cirilo, recorre ao Papa Celestino I que exige uma
retratação de Nestório, sendo a mesma negada. Assim o imperador Teodósio II entra em
cena e convoca um Concilio que acontece em Éfeso em 431, presidido pelo patriarca de
Alexandria.
Concilio de Éfeso
O concílio foi conduzido em uma atmosfera de confronto aquecido e recriminações,
e condenou o nestorianismo como heresia, assim como o arianismo e o sabelianismo.
Estiveram presentes cerca de 250 bispos.
Principais pontos tratados no Concílio:
1. Em Jesus Cristo, o Filho do homem não é pessoalmente distinto do Filho de Deus;
2. A Virgem Santíssima é verdadeiramente a Mãe de Deus, por ser a Mãe de Jesus
Cristo, que é Deus;
3. A união hipostática – refere se à forma como Deus e a humanidade estão unidos
em Jesus Cristo (o mistério da Encarnação). Existem duas naturezas: humana e divina em
Jesus Cristo, e por isso pode se dizer que Deus morreu por nós, Deus salvou o mundo,
Deus ressuscitou
Contudo após a morte do bispo de Alexandria, Cirilo, a querela reacendeu – se.
Alguns teólogos em Alexandria refutam a doutrina das duas naturezas, e as questões
acerca do termo physis volta a ser debatida. Os referidos teólogos afirmavam que em
Cristo não havia mais que uma natureza: a divina, pois a natureza humana havia sido
absorvida na encarnação.
No concilio Nestório é condenado e deposto, mas não aceita fazendo que em 433
se fizesse um acordo, a partir de uma fórmula conciliatória, proposta por João de
Antioquia: da União hipostática das duas Naturezas de Cristo, designando-se Maria como
Theotokos.
Em 449, Fláviano, patriarca de Constantinopla convoca um Sinodo que se reúne em
Éfeso, mas este acaba sendo deposto junto com aqueles que defendiam as duas naturezas.
Após a morte do imperador Teodósio I, o novo imperador Marciano pede ao Papa
Leão a convocação de um novo concílio, e este é reunido na cidade de Calcedônia em
451
Concílio de Calcedônia
Quarto concílio ecumênico da história da Igreja (451 d.C), foi convocado por
Pulqueria e Marciano, com o apoio de Leão 1, chamado Leão Magno. O Concílio teve
início no dia 08 outubro e, depois de dezesseis sessões, concluiu-se o 01 de novembro do
mesmo ano. Os participantes do Concílio fora quase 600 bispos, dos quais, 5 eram
orientais, 2 africanos e 3 legados do papa.
Os principais temas a debater foram:
As decisões de Éfeso
Monofisismo
Emissão de 30 cânones disciplinares
Direitos patriarcais de Constantinopla:
Conflito entre Alexandria e Antioquia
O grande tema que perpassou todos os debates do Concilio de Calcedônia foi a
natureza humana de Jesus, debatendo a ideias de Eitiquis, quem afirmava que “Jesus
Cristo apenas era divino, uma vez que a sua natureza humana foi absorvida pela divina”2.
Esse será o grande mérito deste concilio, ao afirmar a fé em uma pessoa com duas
2
Antonio S. Bogaz, Márcio A. Couto e João H. Hansen, Patrística, caminhos da tradição cristã, São Paulo:
Paulus, 2014, p. 206.
naturezas, construiu as barreiras contra o adocionismo, o monarquianismo, o arianismo,
o apolinarismo, o nestorianismo e o monoficismo.3
O concílio de Calcedônia é considerado por muitos como uma correição de Éfeso,
considerado este último como “latricínio efésio” pelas circunstancias nas que se
desenvolveu. Porém, Calcedônia deve ser considerado como uma continuação de Éfeso,
um passo a mais nas discussões sobre a cristológica.
Outra questão de grande importância foi a atribuição do primado da honra, após
Roma, ao bispo de Constantinopla, por ser considerada a nova Roma. O Concílio emitiu
30 cânones disciplinares, dos quais o cânon 28 aborda a questão de Constantinopla,
porém, Roma aceitará somente até o Sec. XIII. 4
3
Luigi Padovese, Introdução À Teologia Patrística. São Paulo: Loyola, 1999., p. 58.
4
Danilo Mondoni, O cristianismo na antiguidade, São Paulo: Loyola, 2014, p. 166.
5
Padre Luiz Cechinato, Os vinte Séculos de Caminhada da Igreja. Principais acontecimentos da
cristandade, desde os tempos de Jesus até João Paulo II. Petrópolis: Vozes, 2003., pp. 107-108.
6
Ibid., p. 107.
7
Ibid., p. 107.
preservadas as respectivas propriedades, unem-se numa única pessoa. Cristo, portanto, é
perfeito tanto na natureza humana como na divina.8
Além disso, foi dada a eloquência de Leão I, a exclamação era que "Pedro falou
pela boca de Leão":9
"Todos nós, com voz uníssona, ensinamos a fé num só e mesmo Filho, Nosso
Senhor Jesus Cristo, sendo o mesmo perfeito na divindade e o mesmo perfeito na
humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, com
alma racional e com corpo, da mesma substância do Pai quanto à divindade e
quanto à humanidade da mesma substância que nós, em tudo semelhante a nós
menos no pecado; o mesmo que desde a eternidade é procedente do Pai por
geração quanto à divindade e o mesmo que quanto à humanidade nos últimos
tempos foi gerado pela Virgem Maria, Mãe de Deus, por nós e nossa salvação;
sendo um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que nós reconhecemos
com o existente em duas naturezas, sem confusão, sem mutação e sem divisão,
sendo que a diversidade das naturezas nunca foi eliminada pela união, ao
contrário, a propriedade de cada uma das naturezas ficou intata e ambas se
encontram em uma só pessoa e uma só hipóstase. O Filho não foi dividido ou
separado em duas pessoas, mas é um só e o mesmo a quem chamamos de Filho,
Unigênito, Deus, Verbo, Senhor, Jesus Cristo, como desde o início a respeito dele
falaram os profetas e o próprio Jesus Cristo nos ensinou e como nos foi
transmitido pelo Símbolo dos Padres."
8
Luigi Padovese, Introdução À Teologia Patrística. São Paulo: Loyola, 1999., p. 57.
9
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Calced%C3%B3nia#As_principais_decis%C3%B5
es_de_Calced%C3%B4nia), foi consultado no di 09 de abril de 2018, às 23h54.
10
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Calced%C3%B3nia#As_principais_decis
%C3%B5es_de_Calced%C3%B4nia), Ibid., foi consultado no dia 09 de abril de 2018, às 23.45.
segundo a divindade, consubstancial a nós segundo a humanidade, "semelhante
a nós em tudo com exceção do pecado"(Hb4,15); gerado do Pai antes de todos os
séculos segundo a divindade, e nesses últimos dias, para nós e para nossa
salvação, nascido da Virgem Maria, mãe de Deus, segundo a humanidade. Um
só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único que devemos reconhecer em duas
naturezas, sem confusão, sem mudanças, sem divisão, sem separação. A diferença
das naturezas não é de modo algum suprimida pela sua união, mas antes as
propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas em uma só pessoa e
uma só hipóstase."(DS 301-302)."
Nestorianismo
Bibliografia
BETTENCOURT, Estevão. Curso de Patrologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae,
2003.
DENZINGER, H. Compêndio dos Símbolos definições e declarações de Fé e
Moral. São Paulo: Loyola; Paulinas, 2007.
ROPS, Daniel. Igreja dos Tempos Bárbaros. São Paulo: Quadrante. 1991.
CECHINATO, Luiz. Os Vinte Séculos de Caminhada da Igreja: Petrópolis:
Editora vozes, 2003. Pp. 103-104.
MONDONI, Danilo. O Cristianismo na Antiguidade. São Paulo: Edições Loyola,
2014. Pp. 161-162.
BOGAZ, Antônio. Patrística: Caminhos da Tradição Cristã. São Paulo: PAULUS,
2ª edição 2009. Pp. 184-188.
VERDETE, Carlos. História da Igreja Volume I:das Origens até o cisma do Oriente
1054. Lisboa:Paulos, 209. Pp. 99 - 103
“O terceiro concílio ecumênico em Éfeso e o título: Mãe de Deus” Acesso em
academico.arautos.org/.../o-terceiro-concilio-ecumenico-em-efeso-e...no dia
11/04/2018.
“Maria já era venerada desde o princípio do cristianismo” Acesso
emwww.universocatolico.com.br/index2.php?... no dia 14/04/2018.
“Visão Carismática: Os dogmas Marianos” Acesso em
https://visaocarismatica.blogspot.com/.../os-dogmas-marianos.htm... no dia