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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL

PÓS GRADUAÇÃO EM CULTURA E TERRITORIALIDADES - PPCULT

Trabalho final da disciplina Epistemologia da pesquisa científica

Unidade II – Representação

Aluna Viviane Laprovita Cardozo

Professor Paulo Carrano

Niterói
2018
Telhas, árvores e uma cerca. Uma pequena casa entre duas casas maiores, o
horizonte ao fundo, tudo arranjado como se estivesse emoldurado entre janelas de
madeira. Poderia ser a realidade, mas é uma fotografia. Um registro documental, a
memória de um território e de uma época, a experiência diária de um indivíduo congelada
no tempo. ‘Point de vue du Gras’i: é uma imagem heliográfica considerada a primeira
fotografia permanente do mundo, feita a partir da janela do inventor francês Joseph
Nicéphore Niepce em 1826 na cidade de Saint-Loup-de-Varennes, na França. Um
processo que seria repetido até hoje: o acontecimento relacional humano com as
representações atravessado pela visualidade.

Podemos observar que desde a sua criação, a fotografia se mostra uma tentativa
de captura da realidade, um interesse em tentativas de representação dos aspectos da
cotidianidade. Na imagem da esquerda temos a vista da janela da casa do fotógrafo, na
imagem da direita uma reconstrução digital colorida criada no computador, do que seria
a vista da casa que hoje não existe mais. Essa tentativa de parar o tempo pode ser
considerada uma representação parcial da realidade, um fragmento da visão cotidiana,
mas não a realidade em si. Assim são as representações sociais, uma relação entre
produtores e usuários consolidada por aspectos visuais: “A fotografia junta fragmentos
visuais. Sem a imagem a cotidianidade seria impossível. Mesmo quando não temos uma
fotografia para cada situação, o imaginário cria a imagem em nós e para nós. De certo
modo, em boa parte, hoje, pensamos fotograficamente.”. (MARTINS,2008, p. 43).
Para além de ser um apontamento da memória humana, a fotografia é um desejo
de não perder a cotidianidade, uma forma de revivê-la. O fotógrafo, por sua vez, é o
responsável pelo enquadramento do que será capturado, como produtor de uma
representação ele busca estrategicamente criar um arranjo composto pela seleção
cuidadosa do tema, a tradução reveladora do assunto escolhido e a produção da fotografia:
o momento mágico do click. A fotografia é uma visão de mundo específica, que ao entrar
em contato com o observador (usuário) será também cuidadosamente interpretada. É um
jogo de quebra cabeça, onde o observador precisa dedicar um tempo à reflexão da
fotografia em busca de respostas, considerando todas as ‘dimensões de comparação’ da
imagem, sem deixar de imaginar um contexto e localizá-la no tempo e no espaço. Um
processo de ação e reação, produção, representação, análise e interpretação.
(BECKER,2009 p 59-71)
Após a histórica abertura da sociologia para as análises da cotidianidade, que
nasce da necessidade de observar os aspectos subjetivos da vivência humana para o
entendimento da sociedade, considerou-se utilizar metodologias de descrição sociológica
baseadas em aspectos visuais. Um princípio de relação com a fotografia que pode
contribuir com os processos de pesquisa, registro e observação das realidades sociais de
forma subjetiva. A visualidade pode ajudar a desvendar o imaginário social, e mais
explicitamente, ajudar investigar as mediações nas relações sociais a partir de um ponto
de vista único da câmera e da lente que reflete o interno e o externo, ocultações e
revelações da vida cotidiana: “Ao expor a teatralidade dos processos sociais referidos ao
cotidiano e a sua inevitável espacialidade, a Sociologia passou a usar orientações e
procedimentos que, na verdade, são fotográficos. ”. (MARTINS,2008,p.35)
A partir do processo de observação das subjetividades criam-se outros tipos de
representações e para compreende-las é necessário observar também o processo de
construção e as relações e intenções presentes nesse sistema. A análise da sociedade é
atravessada pelo mundo dos produtores e dos usuários, que se relacionam
cooperativamente através de padrões. Os produtores transformam suas investigações e
pesquisas em produtos que comunicam uma intenção especifica, mas que não são
necessariamente objetos, são formas de uso, modos de fazer e oferecem aos usuários, que
por sua vez, num processo de reação, interpretam, ressignificam e adaptam os produtos
para sua própria necessidade, configurando assim uma relação fluida de múltiplas visões:
“Representações só existem plenamente quando alguém as usa, lê, vê ou ouve,
completando a comunicação ao interpretar os resultados e construir para si mesmo uma
realidade a partir do que o produtor lhe apresentou. (…) essas coisas alcançam seu pleno
potencial na utilização. ” (BECKER,2009,p. 39-40)
O resultado final sempre vai estar condicionado as intenções e interesses de algum
dos lados, se refletirmos sobre o processo de pesquisa científica, por exemplo, veremos
que as representações produzidas estão num formato de argumentação, onde existe uma
ordem de fatores pré-estabelecida afim de uma condução de pensamento, um controle
com a intenção de que os argumentos convençam os usuários de forma eficiente: “Eles
antecipam questões e críticas que seu trabalho poderia suscitar e introduzem respostas e
defesas no que escrevem, de modo que parece impossível ao leitor contestar os
argumentos.” (BECKER,2009, p 46-47)
Desse modo, percebemos que as representações são criadas a partir de um ponto
de vista específico, passam por uma ressignificação através da interpretação e uso de
outros pontos de vista, também específicos, e são por vezes recriadas, de acordo com os
interesses em questão. Representações não podem ser puramente a realidade pois são
atravessadas por muitas interferências, elas são um encontro subjetivo de mundos:
estamos diante de um processo que envolve a observação, a análise e a enunciação. É por
isso que se torna inadequado dizer que as formas de representação são retratos da
realidade.”.(CARRANO & BRENNER, 2017,p 442)
A partir disso, podemos analisar pelo mesmo direcionamento, o processo de
criação de um filme: o diretor ou roteirista podem ser considerados autores intencionados,
produtores de representações que desenvolvem estratégias de seleção e tradução para
criarem arranjos argumentativos em uma ordem específica, que resultará na estrutura
narrativa do filme. Naturalmente o filme é resultado do interesse dominante do autor,
interpretado pelo usuário em um contexto espécífico: “Este trabalho implica tanto em
selecionar o que se quer representar quanto traduzir e produzir um arranjo que permita
que os usuários das representações compreendam o que está sendo representado e
estabeleçam suas próprias interpretações.” (CARRANO & BRENNER, 2017,p 442)
Como em um processo de pesquisa ou interpretação literária, o afastamento é
importante para a busca das respostas. As indagações seguem o fluxo da adivinha, o
processo de descoberta é tão importante quanto o resultado, assim como a arte, as
percepções não são simples e rápidas, é preciso um aprofundamento da observação
interpretativa. Antes de buscar o sentido da coisa existe o espanto, o estranhamento,
fatores importantes no processo de busca pela percepção: “Compreender menos, ser
ingênuos, espantar-se, são reações que podem nos levar a enxergar mais, a aprender algo
mais profundo, mais próximo da natureza. ”. (GINZBURG,2001,p 29)
Podemos observar, por outro lado, na criação de um documentário, que o autor
precisa elencar estratégias de abordagem em entrevistas, que sejam relacionadas aos
objetivos da narrativa pré-estabelecida pelo roteiro. O diretor tem a intenção de captar as
respostas que ele necessita para sua argumentação e conectá-las ao arco narrativo: “O
entrevistador deve buscar, ao mesmo tempo, centramento e abertura durante o ritual da
entrevista, isso implica ouvir, entrar em contato com representações do outro sem
urgências classificatórias.”. (CARRANO & BRENNER, 2017,p 444)
A escolha das perguntas precisa ser condicionada também ao direcionamento da
conversa, numa entrevista enquanto o documentarista busca a autenticidade dos fatos,
representar os indivíduos mais próximos da realidade em que vivem e do que são, o
entrevistado naturalmente cria um discurso relacionado a ideia de representação que ele
tem de si mesmo, uma forma de manipular sua ‘essência’ para que ele se pareça com o
que deseja se parecer. Nossas estratégias auto narrativas refletem nossa visão de mundo,
estão relacionadas ao que acreditamos interna e externamente, por isso a relação entre
documentarista e entrevistado não é totalmente passiva: “Nossos processos interativos
são, também, técnicas para dar vida e realidade a ficção que nos move na sociedade.”.
(GINZBURG,2001,p 29). É o que observamos nos casos de autorretratos discursivos,
percebemos intenções de representação que condizem com nossa verdadeira identidade,
com nossa vivência e ponto de vista, mas que são em parte a ficção que escolhemos ser
no mundo, nossa narratividade.
Por isso, é necessário que o documentarista esteja preparado para identificar as
nuances da estrutura do discurso do entrevistado durante a conversa, criar um espaço de
abertura para que o ponto de vista do narrador possa estar em evidência, que ele esteja
livre para criar sua narratividade. As indagações do documentarista podem refletir uma
espécie de indução analítica diante da pesquisa de campo, a observação minuciosa e
escolha das investigações discursivas precisam considerar não só o que se define
anteriormente, mas também do que está sendo dado no andamento da conversa.
Durante uma entrevista podem surgir fragmentos da realidade diluídos no discurso
auto representativo do entrevistado que podem facilitar o entendimento de tensões vividas
por ele e apontar certas contradições de sua personalidade ou vivência, revelando o que
está oculto – a segunda camada, as entrelinhas dessa identidade. Um exemplo disso
acontece nos filmes realizados pelo observatório Jovem – UFF: “Uma escola entre redes
sociais” e “Jovens do Palácio – 5 caminhos”.
No primeiro temos a situação de um debate acerca da utilização da internet e redes
sociais pelos professores em sala de aula e pelos alunos de uma escola de ensino médio
no rio de janeiro. A entrevista é filmada com os alunos uniformizados em um ambiente e
com os professores em outro ambiente, além de entrevistas individuais também. Na
situação do debate entre os alunos, alguns opinam sobre o uso das redes sociais, seus
discursos na maioria se direcionam a consciência de que o uso precisa ser otimizado para
absorção de conhecimento principalmente. Em um dos depoimentos, a aluna Ana
Caroline nos fala: “tem muita gente que acha que facebook é mais pra se divertir,
descontrair, não quer misturar escola com isso.” – nesse momento os alunos tem a
intenção de discordar e ela continua – “É tem gente que acha que escola é chato, trabalho
de casa é chato, a maioria acha, não é todo mundo, tem certas coisas que são legais e tal.”
– os alunos riem um pouco sem jeito. Considerando que estamos vendo a representação
de um grupo de jovens no filme, a postura deles em relação ao tema se mostra de certa
forma condizente com o que a reflexão que o documentário propõe no ambiente escolar.
Durante a fala da entrevistada existe um momento em que uma parte da subjetividade do
grupo de jovens e sua essência fora da escola é revelada, essa iniciativa reflete aspectos
comportamentais que são negados e ficam inibidos diante de um contexto especifico, no
caso a instituição escolar e a própria situação de gravação do filme. Por isso os alunos
reagem de forma diferente a fala da colega, dentro daquele contexto a performance de
cada um é específica para o local, no âmbito social cada jovem irá ter um discurso e uma
performance diferente da que tem ali, é uma contradição de suas próprias representações.
O segundo filme acompanha o cotidiano de cinco jovens moradores da
comunidade do Morro do Palácio, Niterói. A maioria das cenas, além de retratar o estilo
de vida de cada um, revela também suas representações a partir do discurso nas entrevistas
individuais. Isabela Aguiar, a única mulher entrevistada no documentário, explica em
uma de suas falas, os atravessamentos da igreja evangélica em sua vida. A entrevistadora
pergunta se ela é vaidosa e Isabela responde: “ah, um pouco. ” – a entrevistadora rebate:
“isso é bom ou ruim?” e Isabela responde – “Na minha posição é (ruim). Assim, de cristã,
porque a vaidade, é um dos 7 pecados capitais, não é? A gente que é cristã tem que fazer
a diferença.”. Em seguida o filme mostra Isabela se arrumando para uma festividade na
igreja: -“agora eu me maquio pra igreja mesmo, assim é vaidade, coisa de jovem, não
pode muito não, mas como hoje é um dia de festa...” Na continuação a entrevistadora
pergunta: - “E como você faz a diferença?” e Isabela finaliza: “Eu sou vaidosa, mas nem
tanto que nem antes. Eu tenho minha necessidade de ficar bonita porque eu já sou mãe,
sou nova, se eu ficar só do meu jeito eu não me sinto bem, eu procuro botar uma coisinha
aqui, uma coisinha lá.”. Nesse momento percebemos a aparição de algo que estava oculto
em seu discurso, diante da instituição da igreja e no contexto da entrevista, Isabela tem a
auto representação que reflete a postura que ela acha adequada para a situação, é uma
manipulação de sua essência que ocorre durante a entrevista. É a postura que ela quer ter,
é como ela quer ser vista, sua performance naquela hora. Mas logo em seguida ela deixa
escapar aspectos da sua realidade, sua verdadeira identidade, qualquer jovem como ela
tem tendências a ser vaidosa, logo Isabela reconhece isso, mesmo sabendo que é uma
contradição naquela situação, a representação que ela quer mostrar no filme é outra.

Conclusão

Desse modo, percebemos que o pesquisador (cientista), o autor, o fotógrafo e o


cineasta possuem semelhanças em seus processos de construção de representações, eles
são produtores que observam, analisam e enunciam questões acerca da sociedade em
busca de retratarem a realidade, mas as representações criadas são produtos, são
representações parciais da realidade, nunca ela própria: Segundo Bruno Latour - “Os
cientistas transformam continuamente seus materiais. Começam com uma observação no
laboratório ou no campo e transformam isso em matéria escrita num caderno; depois
transformam essas anotações em tabela, a tabela em diagrama, o diagrama em conclusão,
a conclusão no título de um artigo. A cada passo, a observação se torna mais abstrata,
mais divorciada da concretude de seu contexto original.”. (BECKER,2009,p32). Existe
uma intenção específica do produtor que cria uma argumentação em forma de produto
para ser interpretado, é um raciocínio conduzido dos usuários, mas não um processo
passivo, a qualquer momento pode ser reinventado e ressignificado por quem faz uso dele.
Enquanto o indivíduo reflete sobre o que se é – o que se quer ser – como quer se mostrar,
o pesquisador considera o que é real – o que se vê – e o que se tenta representar: “Os
mundos representacionais diferem de acordo com o conjunto de interesses dominante.”.
(BECKER,2009,p 41)
Bibliografia

BECKER, Howard S. Falando da sociedade: ensaios sobre as diferentes maneiras de


representar o social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2009, 15-77.

CARRANO, Paulo & BRENNER, Ana Karina. A escuta de jovens em filmes de


pesquisa. In: Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 42, n. 2, P. 439-454, abr./jun. 2017.
Disponível na Internet:
http://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/64317/40982

GINZBURG, Carlo. Estranhamento: Pré-história de um procedimento literário. In:


Olhos de madeira: nove reflexões sobre a distância. São Paulo: Companhia das Letras,
2001, P 15-41.

MARTINS, José de Souza. A fotografia e a vida cotidiana: ocultações e revelações.


In: Sociologia da fotografia e da imagem. - São Paulo: Contexto, 2008, pp.33-62.

Filmes

JOVENS do Palácio – cinco caminhos Direção: Paulo Carrano. Filme integrante da


pesquisa ‘jovens do morro do palácio’ – Observatório Jovem –UFF. (57’ – 2011)
http://www.uff.br/observatoriojovem/materia/jovens-do-pal%C3%A1cio-cinco-
caminhos-debate-de-lan%C3%A7amento-e-filme-completo

ESCOLA entre redes sociais, uma. Direção: Paulo Carrano. Filme integrante da
pesquisa ‘redes sociais na escola pública’ – Observatório Jovem UFF. (22’ – 2013)
http://www.uff.br/observatoriojovem/materia/uma-escola-entre-redes-sociais

i
I PHOTO CHANNEL, as vinte primeiras fotos da história da fotografia. Disponível em
<http://iphotochannel.com.br/historia-da-fotografia/as-20-primeiras-fotos-da-historia-
da-fotografia> Acesso em: 09/01/2018.

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