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EXMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA

COMARCA DE FORTALEZA, CEARÁ

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADO COM PRECEITO


COMINATÓRIO E PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

“Na verdade, o princípio da dignidade da pessoa humana exprime, em termos


jurídicos, a máxima kantiana, segundo a qual o Homem deve sempre ser tratado
como um fim em si mesmo e nunca como um meio. O ser humano precede o Direito
e o Estado, que apenas se justificam em razão dele. Nesse sentido, a pessoa
humana deve ser concebida e tratada como valor-fonte do ordenamento jurídico,
como assevera Miguel Reale, sendo a defesa e promoção da sua dignidade, em
todas as suas dimensões, a tarefa primordial do Estado Democrático de Direito”.
(SARMENTO, Daniel. A ponderação de Interesses na Constituição. Rio de Janeiro:
Lúmen Júris, 2000, p.59).

XXXXXXXXXX., vem por intermédio de seu advogado (procuração em anexo) que ao final
subscreve, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência para, com fundamento nos
artigos 1º, III, 3º, I e IV, 5º, caput e par. 2º, e 196, todos da Constituição Federal, e artigo
461, do Código de Processo Civil, propor a presente, propor a presente AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PRECEITO COMINATÓRIO E PEDIDO DE TUTELA
ANTECIPADA contra o ESTADO DO CEARÁ, pessoa jurídica de direito público interno,
CNPJ 07.954.480/0001-79, com sede no Palácio Iracema - Centro Administrativo
Governador Virgílio Távora, sito na avenida Dr. José Martins Rodrigues, nº 150, bairro
Edson Queiroz, CEP 60811-520, a ser citado na pessoa de seu representante legal e o
MUNICÍPIO DE FORTALEZA, pessoa jurídica de direito público interno, inscrito no CNPJ de
n° 07.954.605/0001-60, com sede na Rua São José, nº 01, Bairro Centro, Fortaleza, Ceará,
CEP: 60.060-170, a ser citado na pessoa de seu representante legal . pelas razões de fato
e de direito adiante expostas.

I - PRELIMINARMENTE
I.A – DA INEXISTÊNCIA DE E-MAIL.

A autora, desde já, informa que não possui endereço eletrônico por ser pessoa
carente de recursos financeiros e de pleno acesso aos meios de comunicação virtuais – e-
mail – razão pela qual deixa de indicá-lo na presente Inicial.
Requer, outrossim, que a ausência de indicação de endereço eletrônico não seja
interpretada em seu desfavor sob pena de restar caracterizado óbice ao acesso à Justiça e
violado o princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição.

I.A - DA JUSTIÇA GRATUITA:

Mister ressaltar que a requerente, conforme documentação em anexo, trata-se


de dona de casa, portanto, é pobre no conceito da lei e de acordo com o que estipula o
ordenamento jurídico vigente, uma vez que sua situação financeira não permite arcar com
os ônus processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo de seu sustento e de seus
familiares.

Deste modo, o promovente declara que não podem arcar com as despesas
processuais e requer concessão dos benefícios da gratuidade de justiça, nos termos dos
artigos 98 e 99, § 3º do Novo Código de Processo Civil.

III - DOS FATOS

Trata-se de a autora, conforme laudo em anexo, senhora portadora de


Glaucoma primário de ângulo fechado (CID H 40.2), doença crônica, cujo tratamento deve
ser feito durante toda a vida, sob pena de perda da visão, caso não ocorra o tratamento.
A autora é acompanhada pelo Programa de assistência ao portador de
glaucoma do município de Fortaleza e recebia seus medicamentos continuamente, até que
houve a suspensão do fornecimento dos fármacos em virtude de novo processo para a
aquisição dos medicamentos, informação amplamente divulgada pelos maiores jornais em
circulação de nosso estado.
Até o presente momento não houve regularização no fornecimento dos colírios e
a autora necessita dos mesmos para dar continuidade de seu tratamento e manter a
pressão ocular a níveis aceitáveis.
Dito isto, convém destacar que o custo anual do tratamento da requerente é de:

ITEM Quantidade Quantidade/ Valor Valor do tratamento


/ mês ano Unitário (12 meses)
Maleato de Timolol 1 frasco 12 frascos R$ 55,33 R$ 663,96
Travoprosta 1 frasco 12 frascos R$ 127,14 R$ 1.525,68
TOTAL R$ 2.189,64

Douto julgador, em virtude de estar desempregada, a autora, por ser de família


pobre não tem como arcar com todas essas despesas e, por isso, não restou outra opção a
não ser recorrer-se do judiciário a fim de garantir seu acesso ao direito à saúde, e a vida
com o mínimo de dignidade.

IV – DO DIREITO

IV.A – DO DIREITO À SAÚDE

O Estado Brasileiro erigiu, através do seu estatuto jurídico-político, que é a


Constituição Federal, como um dos seus fundamentos, a dignidade da pessoa humana (art.
1º, III).

Por outro lado, a saúde, direito fundamental de índole social previsto no art. 6º
da CF, é assegurada a todos os brasileiros pelo seguinte dispositivo constitucional:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação.

Trata-se de corolário do direito à vida, expressamente previsto entre os Direitos


e Garantias Fundamentais Individuais, no caput do artigo 5º da Constituição da República, in
verbis:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes.

Diante dos princípios insculpidos na Constituição Federal sobre a saúde,


Excelência, resta ao Judiciário atuar no caso em epígrafe para dar eficácia aos
mandamentos da Carta Magna. Desse modo, em casos análogos, o Supremo Tribunal
Federal decidiu de maneira a resguardar tal direito fundamental. Veja-se:

EMENTA: PACIENTE COM HIV/AIDS - PESSOA DESTITUÍDA DE


RECURSOS FINANCEIROS - DIREITO À VIDA E À SAÚDE -
FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS - DEVER
CONSTITUCIONAL DO PODER PÚBLICO (CF, ARTS. 5º, CAPUT, E 196) -
PRECEDENTES (STF) - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. O DIREITO
À SAÚDE REPRESENTA CONSEQÜÊNCIA CONSTITUCIONAL
INDISSOCIÁVEL DO DIREITO À VIDA. - O direito público subjetivo à saúde
representa prerrogativa jurídica indisponível assegurada à generalidade das
pessoas pela própria Constituição da República (art. 196). Traduz bem
jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de
maneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular - e
implementar - políticas sociais e econômicas idôneas que visem a garantir,
aos cidadãos, inclusive àqueles portadores do vírus HIV, o acesso universal
e igualitário à assistência farmacêutica e médico hospitalar. O direito à
saúde - além de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas
as pessoas - representa consequência constitucional indissociável do direito
à vida. (...) A INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROGRAMÁTICA NÃO PODE
TRANSFORMÁ-LA EM PROMESSA CONSTITUCIONAL
INCONSEQÜENTE. (RE nº 271.286-AgR, rel. Min. CELSO DE MELLO)
Em caso semelhante, o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, também aduziu
entendimento favorável em ser dever dos entes aludidos quanto ao fornecimento de
fármaco/produto necessário à garantia do direito à saúde dos cidadãos. Veja-se:
“APELAÇÃO CÍVEL. FORNECIMENTO CADEIRA DE RODAS. PACIENTE
HIPOSSUFICIENTE PORTADOR DE HIPERTENSÃO ARTERIAL
SISTÊMICA, DIABETES MELITUS TIPO 2, INSUFICIÊNCIA CARDIÁCA,
DOÊNCA ARTERIA CORONARIANA, DOENÇA RENAL CRÔNICA
TERMINAL E DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA. DIREITO
FUNDAMENTAL À SAÚDE E À VIDA COM UM MÍNIMO DE DIGNIDADE.
SOLIDARIEDADE ENTRE OS ENTES DA FEDERAÇÃO. DEVER DO
ESTADO E DIREITO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO. ARTS. 1º, III, 6º, 23,
II, 196 E 203, IV DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INCUMBE AO PODER
PÚBLICO, EM TODAS AS ESFERAS DE PODER POLÍTICO, A
PROTEÇÃO, DEFESA E CUIDADO COM A SAÚDE O FORNECIMENTO
DE MEDICAMENTOS PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) […]
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E IMPROVIDA. SENTENÇA DE 1º GRAU
CONFIRMADA EM TODOS OS SEUS TERMOS. ACÓRDÃO Vistos,
relatados e discutidos estes autos, acordam os integrantes da 3ª Câmara de
Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade,
em conhecer do recurso para negar-lhe provimento, nos termos do voto do
Relator. Fortaleza, 26 de março de 2018. (Relator (a): FRANCISCO DE
ASSIS FILGUEIRA MENDES; Comarca: Fortaleza - Fórum Clóvis
Beviláqua; Órgão julgador: 7ª Vara da Fazenda Pública (SEJUD I); Data do
julgamento: 26/03/2018; Data de registro: 26/03/2018).

Não bastasse a previsão interna, não olvidemos que, por força do § 2º do art. 5º
da CF, “os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes
do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte.” É neste sentido que se impõe o destaque ao
Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, Protocolo de San Salvador, adotado em São Salvador, El
Salvador, em 17 de novembro de 1988, ratificado pela República Federativa do Brasil em 21
de agosto de 1996, o qual dispõe sobre o direito à saúde nos seguintes termos: “Art. 10.
Toda pessoa tem direito à saúde, entendida como o gozo do mais alto bem- estar físico,
mental e social”.
Assim sendo, o descumprimento do dever estatal em propiciar ao paciente
condições adequadas ao exercício do direito à saúde, a par de acarretar a seu cidadão
consequências físicas e mentais reprováveis, é passível de reprimenda internacional, ante à
obrigação transnacional assumida pela nossa república.

IV.B – DA RESPONSABILIDADE DOS ENTES PÚBLICOS ACIONADOS E DA


LEGITIMIDADE PASSIVA

Não se pode negar a legitimidade passiva dos entes de direito público acionados
na presente ação. A Constituição Federal é bastante clara ao estatuir, em seu art. 196 que:
“A Saúde é direito de todos e dever do Estado (...)” - assim entendido no seu sentido amplo.

Por óbvio, e em interpretação sistemática com os demais dispositivos


constitucionais, o termo “Estado” engloba todos entes de direito público interno, quais sejam,
União, Estados, Municípios e Distrito Federal, com atribuição, portanto, de responsabilidade
solidária entre os mesmos, dado se tratar de competência material comum, senão vejamos:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e


dos Municípios: (...)

II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das


pessoas portadoras de deficiência; (...)

Trata-se de um dever solidário que pode ser cobrado por inteiro de qualquer dos
entes obrigados, conforme entendimento jurisprudencial da nossa Corte Egrégia
Constitucional – STF – abaixo colacionado:

PROCESSUAL CIVIL. TUTELA ANTECIPADA. MEDICAMENTO.


FORNECIMENTO. DIREITO À SAÚDE. MULTA. Não se discute que ao
Estado (gênero) cabe proporcionar os meios necessários para alcançar a
saúde, sendo certo ainda que o sistema único de saúde torna tal
responsabilidade linear, abrangendo a União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios (RE 19592/RS, STF, T2, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de
31/03/2000) O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de
sua atuação no plano da organização federativa brasileira, não pode
mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de
incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento
inconstitucional. O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da
Carta Política - que tem por destinatários todos os entes políticos que
compõem, no plano institucional, a organização federativa do Estado
brasileiro - não pode converter-se em promessa constitucional
inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas
nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o
cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de
infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do
Estado. (RE nº 271.286- AgR, rel. Min. CELSO DE MELLO)

Elucidativa a transcrição, ainda, do seguinte trecho de julgado do Tribunal de


Justiça do nosso Estado que, pelo Eminente Desembargador José Arísio Lopes da Costa,
explica: “Essa solidariedade, contudo, não determina nenhum litisconsórcio passivo
necessário, pois, em verdade, cada ente federativo possui parcela de responsabilidade
autônoma (art. 198, I da CF/88).” (Agravo de Instrumento nº 2005.0004.8909-5/0; Primeira
Câmara Civil TJ-CE). Assim, não há que se negar atribuir responsabilidade ao ente
municipal ora acionado.

Incumbe, portanto, aos entes acionados figurarem no polo passivo desta ação, a
fim de que seja reconhecida sua responsabilidade e dever de providenciar ao paciente o
tratamento que necessita.

IV.C – DO MÍNIMO EXISTENCIAL E DA RESERVA DO POSSÍVEL

O mínimo existencial consiste no conjunto de bens e utilidades indispensáveis a


uma existência humana digna. Dessa forma, o mesmo possui dependência inegável do grau
de desenvolvimento econômico de cada país, do avanço da cooperação internacional entre
os Estados e dos laços de solidariedade social para garantia do mais fundamental dos
direitos: a vida.

Utilizando-se de uma visão social, percebe-se a existência dos direitos


econômicos e sociais e, por reflexo, a reserva do possível, ou seja, dos desígnios da lei
instituidora das políticas públicas, da reserva da lei orçamentária e do empenho da despesa
por parte da Administração Pública.

Cumpre destacar ainda que, apesar do princípio da reserva do possível não


prevalecer sobre o direito fundamental ao mínimo existencial, não se pode fazer a conclusão
de que não deve ser observado o princípio da reserva do orçamento. Ou seja, os gestores
públicos ao receberem uma determinação judicial devem dar cumprimento integral,
entretanto, devem também, observar os limites previstos no orçamento público, para que
não haja prejuízos e nem tenha que responder futuramente junto ao Tribunal de Contas. No
entanto, negar o mínimo existencial é negar o próprio direito à vida, pressuposto
lógico do exercício de qualquer outro direito fundamental.

Assim, a reserva do possível só pode ser invocada pelo Estado se houver um


motivo justificável objetivamente aferível, confrontando-se a razoabilidade da pretensão com
a disponibilidade orçamentária.

Neste sentido, a fim de corroborar com o alegado, cita-se trecho de julgado do


Tribunal de Justiça do Estado do Ceará:

REEXAME NECESSÁRIO - FORNECIMENTO DE ALIMENTAÇÃO


ENTERAL ESPECIAL - DIREITO À SAÚDE - DEVER DO PODER PÚBLICO
- RESERVA DO POSSÍVEL - DIREITO AO MÍNIMO EXISTENCIAL -
OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA SEPARAÇÃO DOS PODERES E
IGUALDADE - REEXAME NECESSÁRIO CONHECIDO E DESPROVIDO -
SENTENÇA MANTIDA - 1- Argui o Estado do Ceará a preliminar de
ilegitimidade passiva ad causam, sob fundamento de ser responsabilidade
do Município de Fortaleza fornecer tratamento nutricional e prestar serviços
de atenção básica à saúde. A bem da verdade, é assente na jurisprudência
do STF, do STJ e desta Augusta Casa, que o funcionamento do Sistema
Único de Saúde - SUS é de responsabilidade solidária dos Entes
Federados, de maneira que, qualquer dessas entidades têm legitimidade ad
causam para figurar no pólo passivo de demanda que objetive a garantia do
acesso à medicação para pessoas desprovidas de recursos financeiros,
razão pela qual afasto aludida preliminar; 2- No mérito, sabe-se que, o
direito à saúde, como consectário natural do direito à vida, tem assento
constitucional e detém absoluta prioridade, consoante dispõe o art. 196,
ostentando categoria de direito fundamental, garantido a todas as pessoas,
conforme estabelece o art. 6º da Magna Carta , representando
consequência constitucional da dignidade da pessoa humada, um dos
fundamentos da República Federativa do Brasil, art. 1º, III, da CF ; 3- Na
espécie, o autor, que tem 80 anos de idade, é portador em fase avançada
de CAQUEXIA CID-J 189, tipo de desnutrição aguda que leva ao
emagrecimento repentino, perda de massa muscular, fraqueza, cansaço,
causada por alguma infecção, intoxicação ou doença degenerativa,
necessitando de dieta enteral através de sonda por tempo indeterminado,
não havendo atualmente outra forma melhor de se alimentar. Precisa da
seguinte alimentação enteral: NUTRISON ENERGY (45 litros/mês), bem
como de materiais essenciais, a saber, ENTEROFIX (180 unidades/mês),
EQUIPOS (180 unidades/mês) e SERINGA de 20ml (60 unidades/mês), não
tendo condições financeiras de arcar com referido tratamento, razão pela
qual o Estado do Ceará deverá disponibilizá-lo; 4- No tocante ao requesto
indenizatório imaterial, a presente demanda é pautada em
omissão/ineficiência do Poder Público, motivo pelo qual a questão deve ser
decidida sob o prisma da responsabilidade subjetiva, que exige, para que
decorra a obrigação de indenizar, a comprovação, de forma concorrente, da
má atuação ou omissão do Estado, e da culpa. No caso, tem-se ausente a
omissão dolosa ou culposa por parte do Poder Público, porque a mera
frustração de uma expectativa, ainda que legítima, desacompanhada de
outros elementos que demonstrem a excepcional situação de dor e
constrangimento do autor, não enseja reparação por dano moral; 5-
Reexame conhecido e desprovido Sentença mantida. (TJCE - RN 0891938-
13.2014.8.06.0001 - Relª Maria Iraneide Moura Silva - DJe 03.03.2016 - p.
28)

Nesse caso, tem-se por imprescindível que o Poder Judiciário atue visando à
efetivação do direito fundamental à saúde, em razão de sê-lo uma prerrogativa jurídica
indisponível assegurada para todas as pessoas pela Carta Magna como bem jurídico
constitucionalmente tutelado, estritamente ligado à noção de dignidade da pessoa, por cuja
integralidade deve-se velar, não cabendo ao réu negar ou se omitir perante os pedidos de
assistência à saúde do autor.

IV.D – DA POSSIBILIDADE DO SEQUESTRO DE VERBAS PÚBLICAS E DAS


ASTREINTES

Interessante destacar que os arts. 297 (que trata da tutela provisória) e 536 (que
trata do cumprimento de sentença em obrigação de fazer) do Código de Processo Civil
preconizam que o juiz poderá adotar as medidas que considere adequadas ou necessárias
para a efetivação da tutela específica.

Em caso envolvendo a preservação da saúde humana – no caso, fornecimento


de medicamentos - o Superior Tribunal de Justiça vem entendendo cabível o bloqueio de
valores em contas públicas, vejamos:

ADMINISTRATIVO - DIREITO À SAÚDE - AÇÃO JUDICIAL PARA O


FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS - ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS
DA TUTELA JURISDICIONAL CONTRA A FAZENDA PÚBLICA -
POSSIBILIDADE - PRESSUPOSTOS DO ART. 273 DO CPC – SÚMULA
7/STJ - RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERATIVOS
PELO FUNCIONAMENTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE -
LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DA UNIÃO - 1- É possível a
concessão de antecipação dos efeitos da tutela contra a Fazenda Pública
para obrigá-la a fornecer medicamento a cidadão que não consegue ter
acesso, com dignidade, a tratamento que lhe assegure o direito à vida,
podendo, inclusive, ser fixada multa cominatória para tal fim, ou até mesmo
proceder-se a bloqueio de verbas públicas. Precedentes. 2- A apreciação
dos requisitos de que trata o art. 273 do Código de Processo Civil para a
concessão da tutela antecipada enseja o revolvimento do conjunto fático-
probatório dos autos, o que é vedado pela Súmula 7/STJ. 3- O
funcionamento do Sistema Único de Saúde é de responsabilidade solidária
da União, dos Estados e dos Municípios, de modo que qualquer um desses
entes tem legitimidade ad causam para figurar no polo passivo de demanda
que objetiva a garantia do acesso a medicamentos para tratamento de
problema de saúde. Precedentes. 4- Agravo regimental não provido. (STJ -
AgRg-REsp 1.291.883 - (2011/0188115-1) - 2ª T. - Rel. Min. Castro Meira -
DJe 01.07.2013 - p. 1483)

O Tribunal de Justiça do Estado do Ceará já determinou o bloqueio das verbas


públicas para a garantia do direito fundamental à saúde:

ADMINISTRATIVO - CONSTITUCIONAL - DIREITO À SAÚDE - AGRAVO


REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO - DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE NEGOU SEGUIMENTO À RECURSO DO
MUNICÍPIO DE PACAJUS E RECONHECEU A POSSIBILIDADE DO
BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS PARA GARANTIR O DIREITO À
PERCEPÇÃO DE LEITE ESPECIAL POR CRIANÇA PORTADORA DE
ALERGIA ALIMENTAR - ART. 461, § 5º DO CPC - AGRAVO REGIMENTAL
CONHECIDO E IMPROVIDO - DECISÃO MONOCRÁTICA MANTIDA - 1-
Agravo Regimental interposto em face de decisão monocrática que manteve
a decisão interlocutória que determinou o bloqueio mensal do valor de
R$ 513,24, nas contas bancárias do Município de Pacajus e a transferência
deste valor para a conta bancária de titularidade da representante do menor,
a fim de garantir o fornecimento de leite especial de que necessita, em
razão do descumprimento por parte do ente estatal de decisão judicial
nesse sentido. 2- A negativa de fornecimento de um medicamento de uso
imprescindível ou, no caso, de leite especial a criança pequena, cuja
ausência gera grave risco à saúde, é ato que, per si, viola a Constituição
Federal, pois vida e a saúde são bens jurídicos constitucionalmente
tutelados em primeiro plano. 3- O bloqueio de conta bancária da Fazenda
Pública encontra respaldo no art. 461, §5º, do CPC, que não se trata de
norma taxativa, mas exemplificativa, autorizando o juiz, de ofício ou a
requerimento da parte, a determinar as medidas assecuratórias para o
cumprimento da tutela específica. 4- Agravo Regimental improvido. Decisão
monocrática mantida. (TJCE - AG 0078855- 34.2012.8.06.0000/50000 - Rel.
Raimundo Nonato Silva Santos - DJe 23.08.2013 - p. 50).

Além disso, o Superior Tribunal de Justiça também já determinou o bloqueio de


verbas da própria AGU no caso de descumprimento, pois o ÓRGÃO que representa a União
não induziu o Ministério da Saúde a cumprir o julgado ou pelo menos indicou outro meio de
alcançar esse resultado, senão vejamos:

PEDIDO DE SUSPENSÃO DE LIMINAR. BLOQUEIO DE VALORES.


CONTINUIDADE DE TRATAMENTO DE SAÚDE. INEXISTÊNCIA DE
GRAVE LESÃO AOS INTERESSES TUTELADOS PELA LEI Nº 8.437, DE
1992. Não há jurisdição sem efetividade (o Judiciário é inútil acaso não tiver
força para fazer cumprir suas decisões). Se a Advocacia-Geral da União,
que é a interface da Administração Pública com o Poder Judiciário, não tem
meios para fazer cumprir um acórdão proferido por tribunal regional federal,
nem propõe uma alternativa de solução (v.g., indicando uma conta do
Tesouro Nacional com recursos disponíveis), deve ela responder com o seu
orçamento pelo desvio de conduta da entidade que representa em Juízo.
Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg na SUSPENSÃO DE LIMINAR
E DE SENTENÇA Nº 1.570 – RS 2012/0090654-0 RELATOR : MINISTRO
PRESIDENTE DO STJ)

Incumbe ainda examinar que não há que se confundir multa diária com o
sequestro de contas públicas, pois enquanto no primeiro caso é meio de coerção indireta
onde se busca a tutela específica; no segundo há meio executivo por sub-rogação. Neste
último caso, o Judiciário obtém diretamente a satisfação total ou parcial da obrigação,
independentemente da vontade do obrigado.

Destarte, in casu, surge a necessidade do sequestro de contas públicas, como


medida de emergência, com o escopo de garantir imediatamente a alimentação especial
necessária para manter a saúde e vida da parte autora, bem como a imprescindibilidade das
astreintes, como forma de impulsionar o Estado a prestar continuadamente tal material.

Ademais, mostra-se também cabível no pleito em voga, a possibilidade de


astreinte para compelir os Entes Federativos acionados a pagar o tratamento acometido ao
requerente.

Sobre a astreinte, entende-se que trata-se de uma técnica de obtenção de tutela


que se utiliza de uma multa de caráter coercitivo que visa compelir o devedor ao
cumprimento espontâneo da obrigação que lhe foi imposta, sob a ameaça de ver-se
obrigado ao pagamento de um valor pecuniário pelo descumprimento da ordem jurisdicional.
O CPC leciona acerca da possibilidade de tais multas em seu artigo 537, senão vejamos o
que diz tal legislação:

Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada


na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase
de execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que
se determine prazo razoável para cumprimento do preceito.

§ 1º - O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a


periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:

I - se tornou insuficiente ou excessiva;

II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação


ou justa causa para o descumprimento.

§ 2º - O valor da multa será devido ao exequente.

§ 3º - A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório,


devendo ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o
trânsito em julgado da sentença favorável à parte ou na pendência do
agravo fundado nos incisos II ou III do art. 1.042.

§ 4º - A multa será devida desde o dia em que se configurar o


descumprimento da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão
que a tiver cominado.
§ 5º - O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento de
sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza não
obrigacional.

Nesse sentido, em relação a possibilidade de fixação de astreintes, já consolidou


o entendimento o STJ:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. TUTELA ANTECIPADA.


MEIOS DE COERÇÃO AO DEVEDOR (CPC, ARTS. 273, §3º E 461, §5º).
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS PELO ESTADO. BLOQUEIO DE
VERBAS PÚBLICAS. CONFLITO ENTRE A URGÊNCIA NA AQUISIÇÃO
DO MEDICAMENTO E O SISTEMA DE PAGAMENTO DAS
CONDENAÇÕES JUDICIAIS PELA FAZENDA. PREVALÊNCIA DA
ESSENCIALIDADE DO DIREITO À SAÚDE SOBRE OS INTERESSES
FINANCEIROS DO ESTADO. 1. É cabível, inclusive contra a Fazenda
Pública, a aplicação de multa diária (astreintes) como meio coercitivo para
impor o cumprimento de medida antecipatória ou de sentença definitiva de
obrigação de fazer ou entregar coisa, nos termos dos artigos 461 e 461A do
CPC. Precedentes. 2. Em se tratando da Fazenda Pública, qualquer
obrigação de pagar quantia, ainda que decorrente da conversão de
obrigação de fazer ou de entregar coisa, está sujeita a rito próprio (CPC, art.
730 do CPC e CF, art. 100 da CF), que não prevê, salvo excepcionalmente
(v.g., desrespeito à ordem de pagamento dos precatórios judiciários), a
possibilidade de execução direta por expropriação mediante sequestro de
dinheiro ou de qualquer outro bem público, que são impenhoráveis. 3.
Todavia, em situações de inconciliável conflito entre o direito fundamental à
saúde e o regime de impenhorabilidade dos bens públicos, prevalece o
primeiro sobre o segundo. Sendo urgente e impostergável a aquisição do
medicamento, sob pena de grave comprometimento da saúde do
demandante, não se pode ter por ilegítima, ante a omissão do agente
estatal responsável, a determinação judicial do bloqueio de verbas públicas
como meio de efetivação do direito prevalente. 4. Recurso especial a que se
dá provimento." (Resp Nº 827.133/ RS; Primeira Turma; Rel. Min. Teori
Albino Zavaschi; j. 18/05/2006).

Dada à relevância do direito em causa, insta registrar que, em casos


semelhantes, o mesmo Superior Tribunal de Justiça já vem admitindo, como inserta no
poder geral de cautela do juiz, a possibilidade de se bloquearem as verbas dos entes
públicos acionados, como forma de tornar efetivo provimento jurisdicional pleiteado e
deferido liminarmente, acaso haja urgência no acesso ao medicamento/tratamento
postulado.

IV.E – DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

Para resguardar situações como a descrita nesta exordial, o legislador


estabeleceu, no CPC/2015, a possibilidade de antecipar os efeitos da tutela pretendida:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso,
exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra
parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após
justificação prévia.

No caso em epígrafe, é notória a necessidade de concessão de tutela de


urgência para sanar, o mais rápido possível, a lesão que vem sendo perpetrada contra
direito fundamental da acionante. Neste diapasão, imprescindível que se diga que se
encontram presentes todos os requisitos impostos à concessão desta espécie de tutela de
urgência, senão vejamos:

a) DA PROBABILIDADE DO DIREITO: A enfermidade do autor e a indicação do tratamento


prescrito como mais adequado já se encontram, de todo, provadas através da prova
documental já pré-constituída e acostada a esta exordial, notadamente pelos documentos
médicos em anexo. Outrossim, a verossimilhança das afirmações também está
patentemente demonstrada à medida em que se cotejam os fatos à prova de antemão
produzida.

b) DO PERIGO DE DANO: O esculápio, em laudo médico apenso, admoestou que o


tratamento deve ser realizado em caráter de URGÊNCIA, eis que o não uso pode levar a
paciente a problemas de visão irreversíveis. Mantê-la submetida a tal enfermidade, sem
tratamento, a pretexto do exaurimento final do processo, seria, no mínimo, cruel e
desumano.

V – DO PEDIDO

Diante do exposto e com base na legislação vigente, requer, de V. Exª:

a) A CONCESSÃO dos benefícios da assistência judiciária gratuita, preceituados no


art.5º, LXXIV, da Carta Magna e nos termos dos artigos 98 e 99, § 3º do Código de Processo
Civil, por ser o requerente pobre, na acepção jurídica do termo, não reunindo condições de
arcar com os encargos decorrentes do processo sem prejuízo se seu sustento e de sua
família;

b) A CONCESSÃO da tutela de urgência liminar, fundada no art. 300 do Código de


Processo Civil, determinando que o Estado do Ceará e o Município de Fortaleza
forneçam, solidariamente, a tutela específica da obrigação de fazer, consubstanciada na
determinação aos requeridos propiciem a autora, gratuitamente, os medicamentos
maleato de timolol e travaprosta, tudo em conformidade com os laudos anexos e na
quantidade determinada pelo médico que assiste ou vier a assistir a parte autora, cuja
orientação deverá observar para o tratamento completo de tal doença, tudo no prazo de 48
(quarenta e oito) horas para o cumprimento da ordem judicial, sob pena do pagamento de
multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais), citando-se e intimando-se o requerido, inclusive sob
pena de desobediência, e, ainda, o bloqueio de verbas da Procuradoria Geral do Estado –
PGE, conforme SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE SENTENÇA Nº 1.570 – RS
2012/0090654-0 do STJ;

d) A CITAÇÃO dos Réus, após concedida a tutela de urgência liminar para, querendo, no
prazo legal, contestar a presente ação, sob pena de revelia;

e) O JULGAMENTO TOTALMENTE PROCEDENTE do pedido, tornando definitiva a tutela


de urgência concedida, condenando os demandados em FORNECER a autora,
gratuitamente, os medicamentos maleato de timolol e travaprosta, tudo em
conformidade com os laudos anexos e na quantidade determinada pelo médico que assiste
ou vier a assistir a parte autora, cuja orientação deverá observar para o tratamento completo
de tal doença, tudo no prazo de 48 (quarenta e oito) horas para o cumprimento da ordem
judicial, sob pena do pagamento de multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais) a título de
astreintes;

f) A intimação do douto Ministério Público estadual, a fim de ingressar ao pleito como custus
legis;

g) a condenação dos acionados ao pagamento das verbas de sucumbência, isto é, custas


processuais e honorários advocatícios, estes na base de 20% (vinte por cento) sobre o valor
da condenação, nos termos do art. 85 do CPC.

h) Protesta e desde logo requer todos os meios de prova em direito admitidas.

O autor, em virtude da urgência em ver tutelado o seu direito e da extrema


importância em ver prontamente resolvido o litígio, desde já manifesta seu desinteresse na
realização da audiência de conciliação.

Dar-se a causa o valor de R$ 2.189,64 (dois mil, cento e oitenta e nove reais e
sessenta e quatro centavos).

Termos em que,
Pede e espera deferimento.

Fortaleza, 23 de julho de 2018.

Flávio Aragão Ximenes


OAB/CE nº 8802

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