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Babilônia

Vim de uma estirpe de fugitivos. Explico. Quando se está sob a mira de


um fuzil italiano fascista – Carcano M91 –, qualquer um que se apegue à vida,
torna-se um fugitivo, um Caim, condenado ao nomadismo, sob juízo de morte.
Foi assim que, no início do século XX, a minha família se viu sem-terra,
sem arado e sem futuro, tendo uma única ameaça por herança: a de ser extinta
da face da terra. Em um navio com nome sugestivo – Providenza – vieram
apinhados todos, um amontoado de ressentimento, ambição, rancores e
violência.
A dispersão dos povos sempre me perseguiu. Talvez por isso a música
“Clandestino”, do Manu Chao, penetre fundo na minha consciência.
Já adulto, abrasileirado, como grande parte de minha gente, prestei
serviços ao Exército da República Federativa do Brasil, sendo vinculado à
missão de paz no Haiti. SERVI AO EXÉRCITO (HAITI)
PROGRAMA VOLUNTÁRIO DE REFUGIADOS
REFUGIADOS VENEZUELANOS EM BELÉM

Quando me perguntam quem é Manu Chao, eu respondo: é um artista,


um músico! Quando me perguntam que tipo de musica ele faz, eu respondo:
dub...reggae...ritmos caribenhos...na certeza de quem nem eu sei ao certo o que
é aquilo. De fato, Manu Chao está naquelas categorias “líquidas” (lembrando do
sociólogo polaco Bauman)do artista “perdido nel siglo XX”), própria da estética
do nosso século.
Basta entrar na página oficial do artista (http://www.manuchao.net/) e sentir a
toada da “amalucada vida”, o “vento que vien e que se vá”, um mundo
“viramundo”, que comemora as amarguras, as tristes esperanças, a “sharp
politic”, a insatisfação dos povos, das culturas (“Che cosa vuoi dá-me...que cosa
vuoi ancora...que cosa vuoi de piú).
Manu Chao esteve em Belém recentemente, trazendo uma mensagem que
permeia toda a sua obra: “La resignación és un suicídio permanente”, talvez
herança de uma juventude Manonegrista, permeada pelo punk franco-londrino,
rockabilly espanhol, prédicas anárquicas, panegíricos de outras formas de
coletividades e de relacionamentos com os povos e a natura. Seus shows
lembram mesmo as T.A.Z’s de Hakim Bey, reunindo povos de tantas
estratificações possíveis que esvaziam-se os espaços de poder, dissolvendo-se
tudo na massa pastosa, anterior ao Deus de Mennochio.
De corações desérticos como a Sibéria, à honradez dos heróis futebolísticos (La
vida és una tômbola Maradona, e a loteria começa dia 13!); do canto da
Pachamama que se põe a chorar, às prostitutas das “calles” de coração de
alquilar, das horas que batem no coração em todos os cantos do mundo, aos
pequenos planetas (“L'univers est trés grand avec plein d'étoiles ! Et ces petites
étoiles sont brillantes,elles sont gentilles, elles sont sympatiques si vous les
aimez...”) que rutilam nos olhos de quem vê. É bom ouvir um artista que pensa
a vida em uma perspectiva antropológica tão válida, qual seja, como bem se
expressou a Profª. Ana Paula em palestra na UFPA: uma constante
esquizofrenia.
Agora Manu Chao está flertando com o nosso carimbó, se diz grande admirador
do trabalho de nosso Pinduca. Em seu show disse não saber espanhol, não
saber português...sabe apenas portunhol. De fato Manu Chao sabe das
misturas, mix, mezclas, mixages, mescolanzas, e ninguém como ele consegue,
de tal forma, a partir de nossas diferenças, nos fazer filhos de uma mesma
estirpe, condenados a “nunca llegar”, mas a mensagem está dada: “La muerte
es um regreso que tendrá que esperar, poi yo voy pra frente, deste mundo
demente, e a cada dia eu lucho para não decaer”. ESPERANZA LATINO
AMERICA, ESPERANZA VIRAMUNDO! Vivamos pois, a feira de mentiras!

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