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CARDIOVASCULAR
autora
JULIANA RIBEIRO FONSECA FRANCO DE MACEDO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2018
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.
isbn: 978-85-5548-556-5.
Doenças hipertensivas 20
Hipertensão arterial sistêmica 20
Hipertrofia ventricular esquerda 22
Cardiomiopatias 24
Fisioterapia na doença hipertensiva 25
2. Arritmias e valvopatias 31
Arritmias 32
Eletrofisiologia cardíaca básica 32
Fibrilação atrial 36
Morte súbita 37
Marcapasso 37
Valvopatias 40
Aspectos cirúrgicos 41
Insuficiência cardíaca 43
Valvopatias isoladas e associadas 44
3. Cardiopatias isquêmicas 53
Cardiopatias isquêmicas 54
Aterogênese 54
Fisiopatologia da isquemia cardíaca 58
Síndromes isquêmicas agudas 59
Síndromes isquêmicas crônicas 64
Revascularização do miocárdio 66
Reabilitação precoce no paciente infartado 68
4. Métodos diagnósticos 73
Métodos diagnósticos 74
Verificação da pressão arterial sistêmica 74
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
5
1
Aspectos
epidemiológicos
da doença
cardiovascular
e doenças
hipertensivas
Aspectos epidemiológicos da doença
cardiovascular e doenças hipertensivas
Você conhece alguém que possui hipertensão arterial? Se sua resposta for sim,
podemos dizer que você conhece uma pessoa que tem risco de ter uma doença
cardiovascular.
Você deve estar pensando: “Nossa! Então todo mundo tem!”. Atualmente,
32% da população brasileira adulta têm o diagnóstico de hipertensão arterial. Esse
distúrbio é apontado como o principal fator de risco para doenças cardiovascula-
res, no entanto, a boa notícia é que pode ser evitado!
Neste capítulo você irá aprender quais outros fatores, além da hipertensão arte-
rial, podem causar uma doença cardiovascular e quais são as doenças hipertensivas.
OBJETIVOS
• Identificar os fatores de risco para doença cardiovascular;
• Diferenciar as doenças cardíacas hipertensivas;
• Conhecer a atuação da fisioterapia na doença hipertensiva.
capítulo 1 •8
2010 2011 2012 2013
ÓBITOS POR 326.371 335.213 333.295 339.672
DCV
Tabela 1.1 – Óbitos decorrentes das DCV entre os anos de 2010 e 2013. Fonte: Siqueira,
Siqueira-Filho e Land (2017).
Observe que houve aumento dos óbitos entre os anos de 2010 e 2013, sabe-
se que em 2015, o número de óbitos por DCV ultrapassou os 400.000. Muitas
dessas mortes estão relacionadas com o envelhecimento da população brasileira.
Você verá adiante que a idade é um fator de risco para DCV.
FATORES DE RISCO
MODIFICÁVEIS NÃO MODIFICÁVEIS
Hipertensão arterial Idade
Diabetes mellitus Sexo
Tabagismo Raça
Sobrepeso e obesidade Hereditariedade
Dislipidemias
Sedentarismo
Homocisteinemia
Síndrome metabólica
Aterosclerose
Tabela 1.2 – Fatores de Risco para Doença Cardiovascular. Kaiser (2004), Simão (2013).
capítulo 1 •9
Veja que os fatores de risco não modificáveis não receberam este título por
acaso. Você não pode modificá-los!
A idade, por exemplo, quanto mais aniversários você fizer, maiores são suas
chances de desenvolver uma doença cardiovascular. Em relação ao sexo, as doen-
ças cardiovasculares são mais frequentes em homens e em relação à raça, é mais
frequente em pessoas da raça negra. E se seu pai ou avô tem uma doença cardio-
vascular? Então você já possui a ‘hereditariedade’ como um fator de risco.
Exemplificando, imagine um homem, negro, 50 anos, cujo pai morreu decor-
rente de um infarto; este homem é obeso, fumante e hipertenso. Este homem pos-
sui sete fatores de risco para doença cardiovascular, no entanto, três destes fatores
são modificáveis – obesidade, fumo e hipertensão – com o tratamento correto dos
fatores modificáveis, ele reduz seu risco cardiovascular.
Em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, as doenças não trans-
missíveis estão no topo das estatísticas de letalidade. Dentre elas, as doenças car-
diovasculares são responsáveis por mais de 33% dos óbitos e ainda representam a
principal causa de gastos em assistência médica. Os dados a seguir são referentes às
mortes ocorridas no Brasil no ano de 2014 de acordo com a Organização Mundial
de Saúde (OMS) decorrente de doenças cardiovasculares.
NÚMERO DE MORTES EM 2014 DECORRENTES DE DCV
Doença Doenças
cerebrovascular vasculares
99.264 (37,4%) 12.409 (4,7%)
Você pode ver que a isquemia cardíaca matou mais de 107.000 brasileiros no
ano de 2014. Neste mesmo ano, a Austrália registrou apenas 20.173 mortes por
isquemia cardíaca. Essa diferença se dá não só pela etnia, mas também pelo estilo
de vida e hábitos alimentares, estes últimos considerados fatores de risco modifi-
cáveis para DCV.
capítulo 1 • 10
Dislipidemias
capítulo 1 • 11
ÓTIMO DESEJÁVEL LIMÍTROFE ALTO
HDL > 60 mg/dL
150-200 200-499
TRIGLICERÍDEOS < 150 mg/dL
mg/dL mg/dL
HDL – lipoproteína de alta densidade; LDL – lipoproteína de baixa densidade; mg/dL: miligrama por decilitro.
Tabela 1.3 – Valores de referência para o colesterol. I Diretriz Brasileira de Prevenção Car-
diovascular (2013).
Tabagismo
capítulo 1 • 12
ANO %
1989 32%
2002 19,4%
2008 17,2%
2012 14,8%
capítulo 1 • 13
Porto Alegre 25,2 28,2 22,9
Tabela 1.5 – Percentual de fumantes em 17 capitais brasileiras nos anos de 2002 a 2004.
Figueiredo (2007).
capítulo 1 • 14
evidenciando as consequências deste ato, os benefícios da cessação a curto e longo
prazos, mudança no estilo de vida sedentário, auxílio farmacológico e psicotera-
pêutico, além da vontade do paciente em parar de fumar (CARVALHO, 2000;
GRAVINA; GRESPAN; ARAÚJO, 2009).
CURIOSIDADE
A fumaça do cigarro é dividida em dois fluxos: central e periférica. A fumaça central é a
que o fumante traga, com temperatura acima de 950 °C e passa pelo filtro do cigarro. A fu-
maça periférica é a queima lenta do cigarro que acontece entre as tragas e tem temperatura
de 350 °C. Este tipo de fumaça não passa pelo filtro e libera no ambiente uma quantidade de
substâncias tóxicas muito maior do que a que é inalada pelo fumante.
(Diretriz para Cessação do Tabagismo, 2004)
CRITÉRIOS DEFINIÇÃO
OBESIDADE ABDOMINAL
Homens ≥ 94 cm
Mulheres ≥ 80 cm
Triglicérides ≥ 150 mg/dL
HDL-COLESTEROL
Homens < 40 mg/dL
Mulheres < 50 mg/dL
capítulo 1 • 15
PRESSÃO ARTERIAL
Sistólica ≥ 130 mmHg ou tratamento para hipertensão
Diastólica ≥ 85 mmHg ou tratamento para hipertensão
Glicemia Jejum ≥ 100 mg/dL
capítulo 1 • 16
há alteração na secreção de insulina pelas células β pancreática, secretando quan-
tidade insuficiente de insulina ou na ação inadequada dessa insulina, causando
resistência à insulina (ZIEGLER et al., 2003; POZZAN et al., 2004; MILECH
et al. 2017; SKYLER et al., 2017).
2H APÓS 75 G
CATEGORIA JEJUM CASUAL
DE GLICOSE
Glicemia Normal < 100 < 140
Tolerância à glicose
≥ 100 a < 126 ≥ 140 a < 200
diminuída
≥ 200
Diabetes mellitus ≥ 126 ≥ 200 (com sintomas
clássicos)
capítulo 1 • 17
Na prevenção primária “o paciente não é um paciente”, ou seja, é uma pes-
soa sem doença que busca na prevenção uma forma de evitar o aparecimento de
doenças.
A vacinação e a manutenção de um estilo de vida saudável são exemplos de
prevenção primária (FILHO; SALLES; SALVETTI, 2005).
A prevenção secundária é feita com o objetivo de evitar a ocorrência de novos
eventos cardiovasculares ou evitar complicações das doenças já existentes (SAAD,
2004; MENEGHELO et al., 2005). Por exemplo, um homem obeso que pratica
atividade física com o objetivo de evitar um novo infarto agudo do miocárdio.
A prevenção secundária envolve mudanças comportamentais – como modi-
ficação dos hábitos alimentares, prática regular de atividade física – e tratamento
das comorbidades já existentes (MENEGHELO et al., 2005).
Atividade física
capítulo 1 • 18
A tabela 1.8 descreve os principais efeitos agudos e crônicos da atividade física.
SISTEMA AUTONÔMICO
HAS Pressão de pulso no exercício
Marcadores inflamatórios FCR e FC de exercício submáximo
Hiperlipemia pós-prandial Lipemia
Velocidade da onda de pulso Rigidez arterial
Risco de doenças degenerativas cog-
nitivas (demência e Alzheimer)
Hormônios reguladores do apetite Ansiedade e sintomas associados
à depressão
Risco de quedas nos idosos
FC: frequência cardíaca; FCR: frequência cardíaca de repouso. HAS: hipertensão arterial sistêmica
Tabela 1.8 – Efeitos agudos e crônicos da atividade física. I Diretriz Brasileira de Prevenção
Cardiovascular (2013).
capítulo 1 • 19
Doenças hipertensivas
A pressão arterial (PA) é a pressão que o sangue exerce contra a parede das
artérias, já a hipertensão, como o nome diz, é um excesso dessa pressão nas paredes
arteriais, podendo gerar acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, insufi-
ciência renal crônica e doenças vasculares (MALACHIAS et al., 2016).
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial,
muitas vezes assintomática e um fator de risco importante para o desenvolvimento
das DCV. Afeta aproximadamente 1 bilhão de indivíduos no mundo. O termo
HAS é utilizado quando há elevação sustentada dos níveis pressóricos acima de
140/90 mmHg sendo medidos pelo menos duas vezes em pelo menos dois dias
(BARCELOS, 2010; MALACHIAS et al., 2016).
É importante descartar a chamada hipertensão do avental branco, trata-se
de uma condição clínica caracterizada pelo aumento da PA quando medida por
um profissional da saúde em consultório (por isso do nome avental branco) acom-
panhadas de valores normais da PAS quando medidas no ambiente residencial ou
por meio da monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) (SERRANO
JR; TIMERMAN; STEFANINI, 2009; BARCELOS, 2010).
Alguns fatores contribuem para o aparecimento da HAS como a idade (mais
prevalente entre idosos), sexo (mais prevalente em mulheres) e etnia (mais pre-
valente na raça negra), obesidade, consumo excessivo de sódio (o recomendado
são 2 g/dia), etilismo (consumo diário acima de 30 g de álcool para homens e
15 g para mulheres), tabagismo, sedentarismo e fatores genéticos (SERRANO
JR; TIMERMAN; STEFANINI, 2009; BARCELOS, 2010; MALACHIAS et al.,
2016).
A HAS é um fator de risco para DCV que pode ser prevenido ou postergado.
Mudanças no estilo de vida, tais como alimentação saudável, baixo consumo de
sódio, baixo consumo de álcool, combate ao sedentarismo, ao tabagismo e à obe-
sidade são altamente recomendáveis (MALACHIAS et al., 2016).
A ingestão de sódio está fortemente associada à gênese da HAS, o consumo
excessivo de sódio provoca retenção de água, aumento do volume plasmático e
do débito cardíaco e assim, aumentando a pressão arterial sistêmica. Outro fa-
tor relacionado com a HAS é o envelhecimento arterial. Com o passar dos anos,
há um enrijecimento dos grandes vasos com redução de sua complacência, ou
capítulo 1 • 20
seja, os vasos perder a capacidade de se vasodilatarem para ajustar a pressão
(SERRANO JR; TIMERMAN; STEFANINI, 2009; MALACHIAS et al.,
2016).
A HAS acomete 36 milhões de indivíduos adultos no Brasil, isso equivale a
cerca de 32% da população.
O controle e o tratamento da HAS reduzem em 46% a ocorrência de in-
farto agudo do miocárdio e em 63%, a ocorrência de acidente vascular cerebral
(MALACHIAS et al., 2016).
A pressão arterial sistêmica é classificada como ótima, normal, limítrofe e hi-
pertensão (valores de referência na tabela 1.9, para indivíduos acima de 18 anos).
PRESSÃO PRESSÃO
CLASSIFICAÇÃO SISTÓLICA DIASTÓLICA
ÓTIMA < 120 < 80
Tabela 1.9 – Valores de referência para pressão arterial sistêmica. I Diretriz Brasileira de
Prevenção Cardiovascular (2013).
PA = DC X RVP
capítulo 1 • 21
O DC, ou seja, a quantidade de sangue que sai do coração a cada minuto, de-
pende do volume de sangue, da contratilidade do miocárdio, do retorno venoso e da
frequência cardíaca. Já a RVP depende de fatores humorais (vasodilatadores e vaso-
constritores), do sistema nervoso simpático e de fatores locais (autorregulação). Os
pacientes podem apresentam HAS pelo aumento do DC ou pelo aumento da RVP.
A HAS em jovens é, geralmente, devido ao aumento do DC; suas causas não
estão totalmente elucidadas. Acredita-se que ocorra devido a um estímulo excessi-
vo do sistema nervoso simpático no miocárdio.
Alguns pacientes hipertensos apresentam aumento da RVP, esse perfil hemo-
dinâmico está associado à idade devido à diminuição da complacência dos va-
sos sanguíneos.
Você verá como realizar a medição da pressão arterial no capítulo de méto-
dos diagnósticos.
capítulo 1 • 22
• Sobrecarga de pressão e volume: o estiramento dos músculos papilares é
um estímulo mecânico para o desenvolvimento da hipertrofia. Esse estiramento
acelera a síntese de proteínas e aumenta as dimensões dos cardiomiócitos que
convertem o estímulo mecânico em sinais bioquímicos – por um processo chama-
do mecanotransdução - que coordenam a hipertrofia. O crescimento das células
cardíacas pode acontecer por adição de sarcômeros em série, gerando sobrecarga
de volume, ou adição de sarcômeros em paralelo, gerando sobrecarga de pressão.
Figura A Figura B
Figura 1.1 – Disponível em: <http://servier.com/Powerpoint-image-bank>. Acesso em:
nov. 2017.
A HVE pode progredir para insuficiência cardíaca (IC), vários fatores expli-
cam esta progressão (MATOS-SOUZA; FRANCHINI; JUNIOR, 2008):
• Diminuição do suprimento de oxigênio e nutrientes para as células cardía-
cas devido à redução na densidade de arteríolas e capilares coronários, aumento da
espessura da parede coronária e aumento do tecido conjuntivo intersticial tornan-
do-se um obstáculo para a chegada de oxigênio nas células cardíacas;
• Desenvolvimento desordenado de fibrose ao redor das células cardíacas.
capítulo 1 • 23
Cardiomiopatias
capítulo 1 • 24
Figura A Figura B
Figura 1.2 – Disponível em: <http://servier.com/Powerpoint-image-bank>. Acesso em:
nov. 2017.
capítulo 1 • 25
• Fase III: o objetivo dessa fase é evitar a evolução da doença e novos episó-
dios de doença cardiovascular;
• Fase IV: as atividades não são diretamente supervisionadas. Nesta fase, o
programa de exercícios é prescrito com a finalidade de obter-se o benefício clínico
e uma melhora contínua da função cardiorrespiratória.
ATIVIDADES
01. Neste capítulo você estudou os fatores de risco para o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares. Dentre eles, vimos a síndrome metabólica e a diabetes mellitus. Explique a
relação entre elas.
02. Vimos que as dislipidemias são fatores de risco para o desenvolvimento das doenças
cardiovasculares. As dislipidemias são causadas por redução do HDL e/ou aumento do LDL
e triglicérides. Uma dessas lipoproteínas tem fator protetor do vaso sanguíneo. Qual é essa
lipoproteína e como ela age protegendo os vasos sanguíneos?
03. A hipertensão arterial é um fator de risco para o desenvolvimento das doenças cardio-
vasculares. A pressão arterial é influenciada por dois fatores, quais são eles?
04. Quais fatores estão relacionados com a gênese da hipertrofia ventricular esquerda?
05. A fisioterapia cardíaca é uma especialidade da fisioterapia que permite reabilitar pa-
cientes com desordens cardiovasculares. Cite os benefícios da fisioterapia cardíaca nes-
tes pacientes.
RESUMO
Neste capítulo você viu como as doenças cardiovasculares, ainda hoje, atingem um nú-
mero grande de pessoas. A maioria dos fatores de risco para DCV são fatores modificáveis,
no entanto, o envelhecimento da população é responsável pelo fator de risco mais prevalen-
te: a hipertensão arterial.
A prevenção primária ainda é a melhor forma de evitar doenças cardiovasculares; uma
forma de prevenir é manter um estilo de vida saudável, praticando atividade física regular e
cultivando hábitos alimentares saudáveis.
capítulo 1 • 26
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capítulo 1 • 30
2
Arritmias e
valvopatias
Arritmias e valvopatias
Você já deve ter ouvido falar em arritmia cardíaca, insuficiência cardíaca,
estenose mitral ou insuficiência aórtica. Nesse capítulo você aprenderá como
acontecem as arritmias e, para isso, iremos relembrar um pouco a eletrofisiolo-
gia cardíaca.
Nesse capítulo você estudará também as principais doenças valvares, você sa-
bia que os jovens são os mais acometidos por doenças de valva? Você também verá
o que é e como se instala a insuficiência cardíaca, doença muito prevalente na
população brasileira.
Boa leitura!
OBJETIVOS
• Identificar os mecanismos desencadeadores das arritmias cardíacas;
• Diferenciar os tipos de arritmias;
• Identificar e diferenciar as valvopatias;
• Conhecer a atuação da fisioterapia na insuficiência cardíaca.
Arritmias
capítulo 2 • 32
Figura 2.1 – Sistema de condução. Disponível em: <http://servier.com/Powerpoint-image
-bank>. Acesso em: nov. 2017.
capítulo 2 • 33
O potencial de ação de resposta lenta é encontrado nas células do NSA e
do NAV e é composto por três fases (BONOW et al.,1998; FENELON;
NASCIMENTO; PAOLA, 2009; HERDY et al.,2014):
• Fase de despolarização: acontece devido à entrada de Ca2+ nas células despo-
larizando-as e alcançando um potencial de membrana positivo (+20 mV);
• Fase de repolarização: acontece a saída de K+, repolarizando a célula;
• Fase de despolarização espontânea: acontece a entrada de Ca2+e uma dimi-
nuição da saída de K+.
capítulo 2 • 34
FIBRILAÇÃO ATRIAL Taquicardia bidirecional
Tabela 2.1 – Tipos de arritmias atriais e ventriculares. Fenelon, Nascimento e Paola (2009);
Grupi, Lima e Barbosa (2009); Herdy et al. (2014).
capítulo 2 • 35
taquicardia está relacionada com os fascículos dos ventrículos e pode ser reversível
com uso de verapamil (CAMANHO et al., 2007). A taquicardia bidirecional
é uma forma pouco comum de taquicardia na qual o ritmo cardíaco é regular,
no entanto, a cada batimento há mudança do eixo elétrico e o impulso elétrico é
conduzido, de forma alternada, por duas diferentes vias de condução. Esse tipo
de taquicardia pode estar presente na intoxicação digitálica (FRIEDMANN et al.,
2011).
A fibrilação ventricular é uma condição grave e geralmente causa mor-
te súbita. Frequentemente ocorre após uma extrassístole seguida de taquicardia
ventricular e fibrilação ventricular. Os Torsades de pointes são acoplamentos
longos da primeira extrassístole ventricular que dão início à arritmia (FENELON;
NASCIMENTO; PAOLA, 2009; MOREIRA et al.,2009).
Fibrilação atrial
Três fatores estão presentes na formação da fibrilação atrial, são eles (MOREIRA
et al., 2009; HERDY et al., 2014):
• A presença de substrato arritmogênico, ou seja, algum fator necessário para
gerar e manter a FA. O aumento de tecido atrial e a fibrose atrial são exemplos, pois
geram sobrecarga nos átrios, podendo ser visto também na hipertensão arterial, no
bloqueio atrioventricular total e nas cardiomiopatias hipertrófica e dilatada;
capítulo 2 • 36
• A presença de gatilhos, como as ectopias atriais, que irão deflagrar o proces-
so de fibrilação;
• Fatores que instabilizam o substrato arritmogênico e aumentam a chance de
os gatilhos deflagrarem a fibrilação. Uma causa frequente é o aumento da pressão
intratrial causado por hipervolemia.
Morte súbita
Marcapasso
capítulo 2 • 37
a mortalidade. Os marcapassos são constituídos de um gerador de pulso, um
circuito eletrônico e eletrodos. O gerador de pulso, por sua vez, é composto
de uma fonte de energia e um circuito, é uma cápsula de titânio hermeticamente
fechada (MATEOS; MATEOS; MATEOS, 2009).
A fonte de energia se dá por meio de uma bateria que fornece energia sufi-
ciente para geração de cada pulso. Essa fonte é composta de lítio/iodo e apresenta
vida útil longa.
Atualmente, os circuitos eletrônicos são muito pequenos, consomem
pouquíssima bateria e são extremamente complexos. Eles permitem troca de
informação entre o marcapasso e o médico por meio de telemetria, permitem
modificar os parâmetros do gerador de pulso de forma não invasiva por meio dos
módulos de programação, permitem controle de tempo e pulsos aplicados ao co-
ração e ainda garantem frequências cardíacas máxima e mínima em caso de pane
do sistema (MATEOS; MATEOS; MATEOS, 2009).
Os geradores de pulso são conectados ao coração por meio dos eletrodos e
assim, conduzem os pulsos do gerador ao coração e também os sinais cardíacos
do coração ao gerador de pulso. Os eletrodos são filamentos condutores revestidos
por silicone ou poliuretano, constituídos por ligas metálicas especiais altamente
resistente (MATEOS; MATEOS; MATEOS, 2009).
capítulo 2 • 38
A tabela 2.2 apresenta os tipos de marcapassos utilizados, bem como algumas
observações referentes a cada tipo específico.
TIPOS DE OBSERVAÇÕES
MARCAPASSOS
TEMPORÁRIOS Usados para tratamento de bradiarritmias reversíveis.
capítulo 2 • 39
cardíaca que sentirá o impulso, em que A = átrio; V = ventrículo; D = átrio e
ventrículo e O = nenhuma, e a terceira letra indica a resposta do marcapasso à de-
tecção de um sinal natural, em que T = deflagração; I = inibição; D = deflagração
e inibição e O = sem resposta (MATEOS; MATEOS; MATEOS, 2009).
Um marcapasso do tipo AAI, significa que ele estimula o átrio, sente o átrio e
se inibe na presença de onda P espontânea. Um marcapasso do tipo DDD estimula
átrios e ventrículos, sente átrios e ventrículos, deflagra em ventrículos quando sente
os átrios e inibe o estímulo em ambas câmaras quando sente o ventrículo. Já o tipo
VVI estimula o ventrículo, sente o ventrículo e se inibe na presença de onda R.
As complicações relacionadas ao uso de marcapasso são divididas em duas
categorias. As complicações precoces acontecem em até trinta dias do implante
e, muitas vezes, estão relacionados com a cirurgia, como pneumotórax, embolia
gasosa, perfuração atrial ou ventricular, estimulação frênica, infecções, falhas de
conexão com o gerador, taquicardia, fibrilação ventricular, pericardite, desloca-
mento do eletrodo, falha de comando e/ou de sensibilidade. As complicações
tardias podem acontecer após os trinta dias do implante, são elas: falha de co-
mando e/ou sensibilidade, estimulação muscular esquelética, deslocamento do
gerador ou do eletrodo, falha do isolante ou falha elétrica, endocardite, infecções,
trombose venosa e arritmias induzidas pelo marcapasso (MATEOS; MATEOS;
MATEOS, 2009).
Valvopatias
capítulo 2 • 40
As valvopatias são classificadas como estenose ou insuficiência, e isso será visto
mais adiante.
Pacientes sintomáticos podem apresentar palpitações, dor torácica ao esforço
e síncope, um sintoma menos prevalente é a presença de rouquidão, que pode se
manifestar em pacientes com estenose mitral.
Alguns achados clínicos podem estar presentes em pacientes com valvopatias,
como as faces mitralis, que é uma hiperemia crônica dos maxilares encontrada
em pacientes com estenose mitral em grau avançado e a hipertensão pulmonar que
pode estar presente em pacientes que apresentam graus severos de estenose mitral
(TARASOUTCHI et al., 2005; TARASOUTCHI et al., 2011).
Todas as valvopatias podem evoluir para insuficiência cardíaca, você verá
a seguir.
Aspectos cirúrgicos
capítulo 2 • 41
método, está a elevada taxa de sucesso e baixas taxas de complicações impactando
positivamente na sobrevida dos pacientes. No caso da valvoplastia aórtica por
balão, o procedimento é paliativo utilizado em pacientes que possuem alto risco
para a cirurgia tais como, indivíduos acima de 80 anos com múltiplas comorbi-
dades, baixo índice de massa corporal e comprometimentos de múltiplos órgãos
(BONOW et al., 1998; TARASOUTCHI et al., 2011).
Na plástica de valva, ou plastia de valva, é feita a reconstrução da valva aco-
metida. Neste caso, não há colocação de prótese e por isso, esta técnica apresenta
algumas vantagens como ausência de complicações devido à presença de próte-
se, aumento da taxa de sobrevida e manutenção da função ventricular. Dentre
as desvantagens, está o tempo total da cirurgia e de uso de CEC, que é bem
maior quando comparado com a cirurgia de troca valvar (BONOW et al., 1998;
TARASOUTCHI et al., 2011; LOPES, 2017).
Quando comparamos as cirurgias reparadoras anteriormente mencionadas
com as substituições das valvas (troca de valva), estas últimas apresentam maior
morbidade e mortalidade operatórias, maior risco de tromboembolismo, endocar-
dite e hemólise.
As trocas de valvas consistem da substituição da valva do paciente por prótese
biológica, também chamada de bioprótese, ou prótese metálica.
As biopróteses são confeccionadas a partir de pericárdio bovino ou a partir da
valva aórtica porcina. As próteses mecânicas são mais indicadas para cirurgias em
crianças e adultos jovens (TARASOUTCHI et al., 2011; LOPES, 2017).
capítulo 2 • 42
Insuficiência cardíaca
capítulo 2 • 43
Valvopatias isoladas e associadas
capítulo 2 • 44
O critério de gravidade da estenose mitral se dá pela avaliação da pressão capi-
lar pulmonar e da pressão sistólica de artéria pulmonar. Os valores estão descritos
na tabela 2.3.
Tabela 2.3 – Critérios de gravidade da estenose mitral. Diretriz Brasileira de Valvopatias (2011).
capítulo 2 • 45
A insuficiência mitral (figura 2.4) apresenta como etiologia a doença reumática
ou o prolapso da valva mitral. Acontece quando há uma regurgitação do sangue do
ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo, devido à incompetência de a valva mitral
fechar após a sístole atrial (TARASOUTCHI et al., 2011; HERDY et al., 2014).
capítulo 2 • 46
o anel fibroso, os folhetos ântero-septal e póstero-lateral, as cordas tendíneas, os
músculos papilares e a musculatura miocárdica da parede ventricular adjacente
(TARASOUTCHI et al., 2011; HERDY et al., 2014).
A estenose aórtica acomete jovens e idosos. Geralmente, em indivíduos jo-
vens, é de etiologia reumática ou congênita e em indivíduos idosos, é de etiologia
aterosclerótica. A estenose aórtica acontece devido a uma dificuldade de abertura
da valva aórtica durante a sístole ventricular causando obstrução ao fluxo sanguí-
neo durante sua saída do ventrículo esquerdo para a artéria aorta, como meca-
nismo compensatório, é comum evoluir com hipertrofia de ventrículo esquerdo
(TARASOUTCHI et al., 2011; HERDY et al., 2014).
O critério de gravidade da estenose aórtica se dá pelo gradiente ventrículo
-aorta, quanto maior o gradiente, maior a gravidade. Os valores estão descritos na
tabela 2.4.
Tabela 2.4 – Critérios de gravidade da estenose aórtica. Diretriz Brasileira de Valvopatias (2011).
capítulo 2 • 47
A insuficiência aórtica pode ser classificada como aguda ou crônica. No quadro
agudo, os pacientes apresentam instabilidade hemodinâmica necessitando de aten-
dimento emergencial. O quadro crônico é mais frequente e gera remodelamento do
ventrículo esquerdo, com dilatação e aumento do volume diastólico final.
Na insuficiência aórtica, a cirurgia está indicada em pacientes sintomáticos
com disfunção ventricular esquerda. Nos casos de pacientes assintomáticos, a ci-
rurgia pode ser indicada após análises de exames de imagem e presença de disfun-
ção ventricular esquerda.
A estenose tricúspide é causada principalmente por doença reumática e
acomete mais o sexo feminino entre os vinte e os sessenta anos de idade. Está
associada à estenose mitral e raramente é encontrada de forma isolada. Neste caso,
a abertura incompleta da valva tricúspide dificulta a passagem do sangue do átrio
para o ventrículo direito, esse sangue pode voltar por meio das veias cavas e cau-
sar ascite e edema de membros inferiores. Já a insuficiência tricúspide pode ser
secundária à doença reumática ou endocardite infecciosa, no entanto, ela é geral-
mente secundária a uma dilatação do ventrículo direito e hipertensão pulmonar
(TARASOUTCHI et al., 2011; HERDY et al., 2014).
A estenose pulmonar mais comum é congênita, apresentando graus variados
de fusão e espessamento das comissuras levando a uma redução da mobilidade
das cúspides. Na estenose pulmonar, a ineficiência durante a abertura da valva
pulmonar na sístole ventricular sobrecarrega o ventrículo direito. A insuficiência
pulmonar é incomum no adulto e causada por dilatação do anel valvar secundária
à hipertensão pulmonar. A insuficiência pulmonar sobrecarrega o ventrículo direi-
to, pois o fechamento incompleto da valva pulmonar faz o sangue refluir para o
ventrículo direito (TARASOUTCHI et al., 2011; HERDY et al., 2014).
capítulo 2 • 48
reabilitação cardiovascular, dentre eles, o incremento no débito cardíaco e na fre-
quência cardíaca máxima. Do ponto de vista muscular, há um aumento de massa
muscular, aumento do número de mitocôndrias, melhora da capacidade oxidativa
dos músculos esqueléticos e maior extração de oxigênio do sangue (JÙNIOR et
al., 2005; HERDY et al., 2014).
Os pacientes com insuficiência cardíaca também apresentam disfunções respirató-
rias que são revertidas com a reabilitação. Nestes pacientes, a fisioterapia gera melhora
na relação ventilação/perfusão pulmonar, melhora na função respiratória e na força da
musculatura respiratória e tudo isso melhora a qualidade de vida e o prognóstico do
paciente (CHEITLIN; DOUGLAS; PARMLEY, 1994; HERDY et al., 2014).
Pacientes que passaram por procedimentos de plastia ou substituição de valva,
geralmente chegam à fisioterapia com uma redução importante da capacidade
funcional semelhante às alterações encontradas em pacientes com IC, no entanto,
em sua maioria, são pacientes mais jovens e tendem a apresentar melhora signifi-
cativa e rápida com a reabilitação cardiovascular.
ATIVIDADES
01. Neste capítulo você estudou a eletrofisiologia cardíaca e viu que o coração possui teci-
dos especializados para gerar e conduzir o impulso elétrico até os ventrículos e contrair as
câmaras cardíacas. Onde o impulso elétrico é gerado? Descreva a sequência anatômica que
o impulso elétrico segue até chegar aos ventrículos.
02. O impulso elétrico gerado pelo nó sinoatrial é chamado de potencial de ação. O potencial
de ação de resposta rápida é encontrado nas células atriais e ventriculares. Quantas fases
compõem o potencial de ação de resposta rápida? Quais são essas fases?
03. Neste capítulo você viu que as arritmias são anormalidades da atividade elétrica cardíaca
e acontecem devido a distúrbios na formação e/ou condução do impulso elétrico. Elas são
divididas em taquiarritmias supraventriculares e taquiarritmias ventriculares. Do ponto de vis-
ta anatômico e elétrico, quais são as diferenças entre elas?
04. Neste capítulo, você aprendeu que morte súbita é a morte natural, inesperada, de causa
cardíaca, que acontece em até 24 horas do início dos sintomas e pode acometer indivíduos
com ou sem doença cardíaca diagnosticada. Quais são os mecanismos desencadeadores da
morte súbita?
capítulo 2 • 49
05. As valvopatias são disfunções das valvas cardíacas, podendo ser classificadas como
estenoses ou insuficiências e ainda, associação de ambas. Qual a diferença entre estenose
e insuficiência de valva?
RESUMO
Neste capítulo você viu a eletrofisiologia cardíaca e os mecanismos desencadeadores
das arritmias cardíacas, bem como as diferenças entre taquiarritmias supraventriculares e
ventriculares. Como terapêutica no tratamento das arritmias, você aprendeu sobre os marca-
passos cardíacos e seus componentes.
Você também aprendeu que as valvopatias são doenças que acometem as valvas car-
díacas e podem causar estenoses e insuficiências. O tratamento das valvopatias vai desde
observação clínica em pacientes assintomáticos, até procedimentos cirúrgicos em pacien-
tes sintomáticos.
Por fim, você viu os efeitos da atuação fisioterapêutica em pacientes com insuficiência
cardíaca e valvopatias, trazendo benefícios que impactam na sobrevida e na qualidade de
vida do doente.
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capítulo 2 • 51
capítulo 2 • 52
3
Cardiopatias
isquêmicas
Cardiopatias isquêmicas
A aterosclerose é um fator de risco para doenças cardiovasculares. Você sabe
como se dá o processo de formação de uma placa aterosclerótica? Nesse capítulo,
você verá como acontece o processo de aterogênese e algumas das consequências
como isquemia cardíaca, angina e infarto agudo do miocárdio.
Você aprenderá também o que são as síndromes isquêmicas e quais as diferen-
ças entre as síndromes isquêmicas agudas e crônicas.
Em relação ao tratamento das cardiopatias isquêmicas, você aprenderá so-
bre a cirurgia de revascularização do miocárdio e a importância da atuação da
Fisioterapia do processo de recuperação do paciente.
Bons estudos!
OBJETIVOS
• Entender o processo de aterogênese;
• Conhecer a fisiopatologia da isquemia cardíaca;
• Diferenciar as síndromes isquêmicas agudas;
• Compreender o papel da fisioterapia na reabilitação do paciente infartado.
Cardiopatias isquêmicas
Aterogênese
capítulo 3 • 54
Camada Íntima
Camada Média
Camada Adventícia
capítulo 3 • 55
Observe na figura 3.2 a evolução de uma placa aterosclerótica. Veja como
a obstrução da luz do vaso sanguíneo acontece de forma gradual até culminar
com seu rompimento e extravasamento do material aterosclerótico na corren-
te sanguínea.
As lipoproteínas plasmáticas (LDL colesterol) são fundamentais na formação
da placa aterosclerótica desencadeando uma cascata inflamatória e liberando uma
variedade de mediadores inflamatórios. O LDL fica retido no espaço subendote-
lial lesado e sofre oxidação (LDL-ox), isso estimula o surgimento de moléculas
de adesão leucocitária que, por sua vez, atraem monócitos e linfócitos para a ca-
mada íntima da parede arterial. Os monócitos migram para o espaço subendo-
telial e se diferenciam em macrófagos, nessa fase, ocorre liberação de citocinas
que causará inflamação do tecido vascular. Os macrófagos irão captar o LDL-ox,
uma vez captados, eles passam a se chamar “células espumosas” (ROSS, 1999;
LIBBY; THEROUX, 2005; LUIZ; LAURINDO, 2009; BARBOSA, 2017;
COUTINHO, 2017).
As células espumosas são o principal componente das estrias gorduras forman-
do assim, as primeiras lesões macroscópicas da aterosclerose. Elas liberam substân-
cias químicas pró-inflamatórias que fazem as células musculares lisas da camada
média arterial se proliferarem e migrarem para a camada íntima, lá elas irão pro-
duzir citocinas, fatores de crescimento e a matriz extracelular que irão compor a
capa fibrosa da placa aterosclerótica. Essas placas são compostas por células mus-
culares lisas, matriz extracelular, núcleo lipídico e células inflamatórias (ROSS,
1999; LIBBY; THEROUX, 2005; LUIZ; LAURINDO, 2009; BARBOSA,
2017; COUTINHO, 2017).
Devido ao remodelamento vascular e obstrução do lúmen vascular, a placa de
ateroma altera o fluxo sanguíneo, causando redução do fornecimento de oxigênio
a órgãos alvo resultando em isquemia cardíaca e acidente vascular cerebral.
As placas ateroscleróticas podem ser estáveis ou instáveis. As placas estáveis
têm predomínio de colágeno, têm uma capa fibrosa espessa e poucas células in-
flamatórias, já as placas instáveis apresentam uma intensa atividade inflamatória,
predomínio lipídico, apresentam uma capa fibrosa fina, pouco colágeno, núcleo
necrótico, e defeitos estruturais na superfície, como rotura da cápsula ou ulcera-
ção. As placas instáveis têm uma grande preocupação do ponto de vista clínico,
pois caso elas se rompam, todo o material necrótico, altamente trombogênico,
capítulo 3 • 56
estará exposto na corrente sanguínea, levando à formação de um trombo e que
poderá obstruir vasos sanguíneos de menor diâmetro. Este processo é conhe-
cido como aterotrombose (LUIZ; LAURINDO, 2009; BARBOSA, 2017;
COUTINHO, 2017).
Outra complicação importante da aterosclerose é o desenvolvimento de aneu-
rismas (ROCHA; LIBBY, 2009; XAVIER et al., 2013; STORCH et al., 2017).
Os aneurismas são dilatações permanentes (figura 3.3), localizados e têm tamanho
maior que 1,5 vez o diâmetro normal.
capítulo 3 • 57
Fisiopatologia da isquemia cardíaca
capítulo 3 • 58
A duração da isquêmica é proporcional à gravidade, se a isquemia durar me-
nos de dois minutos não haverá comprometimento miocárdico, se durar entre 2 e
20 minutos, haverá comprometimento miocárdico e se esse tempo for superior a
20 minutos haverá necrose (infarto do miocárdio). A extensão da área acometida
também é um fator importante, a isquemia pode afetar toda a parede miocárdica
transmural ou apenas a região subendocárdica e pode acometer diferentes regiões
do miocárdio (DUARTE; PELLANDA; PORTAL, 2005; MIOTO; VIANNA;
CÉSAR, 2009; ISSA et al., 2015).
capítulo 3 • 59
Angina instável
capítulo 3 • 60
A tabela 3.1 apresenta a classificação da angina instável.
CLASSE DESCRIÇÃO
Angina de início recente (< dois meses), frequente ou de intensidade
I acentuada (≥ 3x/dia).
Cerca de 10% dos pacientes com angina instável não tratados evoluem para o
infarto agudo do miocárdio, o que aumenta a mortalidade.
capítulo 3 • 61
Elevações da troponina I ou T > que o percentil 99 do ensaio utilizado ou elevação ≥ 20%
se já previamente alterada:
Sintomas sugestivos de isquemia OU
Novas alterações isquêmicas no ECG ou BRE novo OU
Evidências angiográficas de nova oclusão coronariana OU
Exame de imagem mostrando nova perda de miocárdio ou alteração contrátil segmentar.
Tabela 3.3 – Infarto do miocárdio – necrose na região apical. Disponível em: <http://servier.
com/Powerpoint-image-bank>. Acesso em: nov. 2017.
capítulo 3 • 62
O IAM é dividido em duas subcategorias: com supradesnível de ST e sem
supradesnível de ST.
O IAM com supradesnível de ST, também chamado de infarto subendo-
cárdico, é causado por uma oclusão total da artéria coronária por trombos ou
placa aterosclerótica, por isso, quanto mais rápido for o atendimento, maior a
sobrevida. No infarto com supradesnível de ST é necessária abertura imediata da
coronária ocluída por meio de uso de substâncias fibrinolíticas ou pela angioplas-
tia com stent (figura 3.5). É caracterizado como dor precordial intensa, mesmo
em repouso, com duração superior a vinte minutos, supradesnivelamento de ST
ao eletrocardiograma e elevação de marcadores de necrose miocárdica (PESARO;
SERRANO; NICOLAU, 2004; MIRANDA, 2011).
Figura 3.4 – Angioplastia (imagem superior) e colocação de stent (imagem inferior). Dispo-
nível em: <http://servier.com/Powerpoint-image-bank>. Acesso em: nov. 2017.
capítulo 3 • 63
Síndromes isquêmicas crônicas
Angina estável
CLASSE DESCRIÇÃO
Atividades físicas habituais não desencadeiam angina, apenas atividades
I extenuantes ou prolongadas.
capítulo 3 • 64
Importante limitação durante atividades físicas habituais como caminha-
III das em velocidade habitual (inferior a duas quadras) e subir um lance de
escadas em passo normal.
Tabela 3.4 – Classificação clínica da angina estável. Diretriz de doença coronária estável
(2014).
capítulo 3 • 65
O espasmo coronariano é outro exemplo de doença coronariana não obs-
trutiva. É caracterizado por uma vasoconstrição intensa e súbita de uma artéria
coronária reduzindo a perfusão miocárdica. Esse espasmo pode acontecer devido
ao uso de drogas ilícitas, estresse emocional, tabagismo e exposição ao frio extremo
(CESAR et al., 2014; HERDY et al., 2014).
A síndrome X cardíaca é uma angina estável crônica, recorrente e sem altera-
ções visíveis na angiografia. Sua etiologia não está bem definida, no entanto, estu-
da-se a presença de disfunção na microvascularização coronária devido a respostas
anormais de vasodilatação e vasoconstrição, responsáveis pelo quadro de isquemia
e angina (CESAR et al., 2014; HERDY et al., 2014).
Revascularização do miocárdio
capítulo 3 • 66
A CEC consiste de um conjunto de equipamentos e técnicas que substituem
temporariamente as funções do coração e dos pulmões durante a realização da
CRVM, assim, o coração permanece parado e o cirurgião pode visualizar direta-
mente as anormalidades a serem corrigidas durante a cirurgia. Todos os parâme-
tros hemodinâmicos, metabólicos e de troca gasosa são controlados pelo sistema
de CEC (GOMES; VILA; GUN, 2009).
O equipamento para realização da CEC é composto de uma bomba (que subs-
titui a função do coração), um oxigenador (que substitui a função dos pulmões),
bombas aspiradoras, tubos, reservatório de cardiotomia, cardioplegia, termoper-
mutadores, filtros e sistemas de ultrafiltração (GOMES; VILA; GUN, 2009).
O sangue do paciente passa a ter contato direto com os plásticos, polímeros e
metais do circuito de CEC em vez de endotélios vasculares, como ocorre fisiologi-
camente. Esse contato entre o sangue e superfícies não endotelizadas aciona uma
reação de defesa do organismo que desencadeia a produção, liberação e circulação
de grande número de substâncias vasoativas e citotóxicas afetando todos os órgãos
e tecidos do corpo, podendo aumentar a permeabilidade capilar, o extravasamento
de líquidos e a agregação plaquetária (GOMES; VILA; GUN, 2009).
No momento da cirurgia, o paciente é submetido à anestesia geral e decidido
se será ou não utilizado CEC. É realizado punção da artéria radial, acesso venoso
central, controle do ritmo cardíaco por meio do monitor de eletrocardiograma e
colocação da sonda vesical. Após a definição de qual vaso utilizar para realização
da ponte, o cirurgião realiza sua dissecção. Em seguida, o cirurgião realiza uma
esternotomia mediana longitudinal de 12 a 14 cm.
Em cirurgias com uso de CEC, o
cirurgião realiza a canulação atriocaval
para desvio do sangue e a canulação
da aorta ascendente para o retorno do
sangue oxigenado, desviando assim,
o sangue para o sistema CEC. Após o
desvio do sangue, é dada a parada car-
díaca e iniciada colocação do enxerto
(GOMES; VILA; GUN, 2009).
capítulo 3 • 67
As cirurgias sem uso de circulação extracorpórea são utilizadas em pacientes
que possuem doença pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência renal grave, dis-
túrbios neurológicos e doenças malignas. Neste caso, a cirurgia é realizada com
o coração batendo, são utilizados estabilizadores de superfície, posicionamento
corporal e técnicas anestésicas que permitem intervir no coração sem que ter que
pará-lo (BUFFOLO; BRANCO, 2009).
A CRVM dura cerca de 4 a 6 horas, após o procedimento, o paciente é enca-
minhado para uma unidade de terapia intensiva.
Alguns riscos estão relacionados com a CRVM como presença de coágulos,
hemorragias, parada cardíaca, acidente vascular cerebral e infecções.
A recuperação pós-cirúrgica é demorada, lenta e dolorosa (devido à secção do
esterno).
capítulo 3 • 68
ATIVIDADES
01. Neste capítulo você estudou a aterogênese, ou seja, todo o processo de formação de
uma placa aterosclerótica e viu que elas podem ser classificadas como placas ateroscleróti-
cas estáveis e instáveis. Quais as características que te permite diferenciá-las?
03. As cardiopatias isquêmicas são divididas em agudas e crônicas, ambas apresentam de-
sequilíbrios entre a oferta e demanda de oxigênio. Como podemos distinguir a angina instável
da estável?
05. A reabilitação cardiovascular tem sido indicada aos pacientes pós-infarto agudo do mio-
cárdio e apresenta diversos benefícios. Cite os benefícios que a RCV pode proporcionar a
estes pacientes.
RESUMO
Neste capítulo você estudou como se forma uma placa de aterosclerose e esse processo
é chamado de aterogênese. Você estudou também como a aterosclerose pode causar isque-
mia cardíaca e gerar as síndromes isquêmicas agudas e crônicas.
Você estudou sobre a cirurgia de revascularização do miocárdio, os enxertos utilizados e
o emprego ou não de circulação extracorpórea durante o procedimento.
Por fim, você estudou um pouco sobre a atuação da fisioterapia nos pacientes pós-infar-
to agudo do miocárdio.
capítulo 3 • 69
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capítulo 3 • 72
4
Métodos
diagnósticos
Métodos diagnósticos
Neste capítulo você verá os principais métodos diagnósticos para afecções
do sistema cardiovascular. A aferição da pressão arterial sistêmica será o primeiro
método a ser estudado, por sua facilidade de aferição, importância diagnóstica e
grande auxílio na prática fisioterapêutica.
Alguns exames complementares do sistema cardiovascular são realizados ape-
nas por profissionais médicos capacitados, no entanto, cabe aos fisioterapeutas seu
entendimento e sua interpretação, sobretudo durante a reabilitação do pacien-
te cardiopata.
Boa leitura!
OBJETIVOS
• Reconhecer os métodos diagnósticos para doença cardiovascular;
• Reconhecer as alterações cardíacas analisadas através de exames complementares.
Métodos diagnósticos
A pressão arterial (PA) deve ser aferida por todos os profissionais de saúde
devidamente capacitados (SIMÃO et al., 2013; MALACHIAS et al., 2016).
Para uma aferição correta, devem-se seguir criteriosamente os passos e verifi-
car todos os possíveis fatores que podem influenciar no resultado, pois a aferição
incorreta pode fazer pacientes normotensos fazer uso indevido de medicação anti
-hipertensiva ou que pacientes hipertensivos fiquem sem tratamento medicamen-
toso, causando-lhes danos graves e até fatais, devido aos altos níveis tensionais nas
paredes arteriais.
Vários fatores influenciam os valores da pressão arterial como por exemplo, o
ambiente em que o paciente se encontra, a realização ou não de repouso antes da
aferição, fatores emocionais, o ato de fumar e/ou ingerir bebidas cafeinadas antes
da aferição.
capítulo 4 • 74
A aferição da PA pode ser realizada com esfigmomanômetros manuais (figura
4.1), semiautomáticos ou automáticos devidamente validados e calibrados anual-
mente (MALACHIAS et al., 2016).
capítulo 4 • 75
os valores aferidos, deve-se considerar como padrão, o braço que obtiver maior
valor. Caso a diferença for maior que 20 mmHg para pressão sistólica e 10 mmHg
para pressão diastólica, deve-se avaliar a presença de doenças arteriais associadas.
A recomendação é o que paciente esteja assentado, no entanto, a aferição nas
posições ortostática e supina é recomendada na primeira avaliação.
Um fator importante a se considerar é a utilização do manguito adequado à
circunferência do braço do paciente (tabela 4.1). O manguito padrão de adulto
tem largura de 13 cm e comprimento de 30 cm (MALACHIAS et al., 2016).
6-15 Criança 5 15
16-21 Infantil 8 21
27-34 Adulto 13 30
cm: centímetros.
Tabela 4.1 – Dimensões do manguito de acordo com a circunferência do braço. VII Diretriz
Brasileira de Hipertensão Arterial.
capítulo 4 • 76
5. Certificar-se que o paciente está sem fumar pelos trinta minutos ante-
riores à aferição.
6. Questionar o paciente sobre a ingestão de bebidas alcoólicas e café.
7. Posicionar o paciente sentado em uma cadeira com encosto, pernas
descruzadas e pés apoiados. O braço deve estar na altura do coração, apoia-
do e com a palma da mão voltada para cima.
8. Estimar o nível da PA pela palpação do pulso radial.
9. Palpar a artéria braquial e colocar o diafragma do estetoscópio.
10. Inflar até ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível estimado da PA obtido
através da palpação.
11. Desinflar lentamente até auscultar o primeiro som (fase I de Korotkoff)
para verificar a pressão arterial sistólica (PAS), aumentar ligeiramente a ve-
locidade da desinflação e verificar o desaparecimento dos sons, para verifi-
car a pressão arterial diastólica (PAD).
PRESSÃO PRESSÃO
CLASSIFICAÇÃO SISTÓLICA DIASTÓLICA
(MMHG) (MMHG)
ÓTIMA < 120 < 80
capítulo 4 • 77
A monitorização residencial da pressão arterial (MRPA) é a medida da
pressão arterial realizada pelo próprio paciente ou por outra pessoa que tenha co-
nhecimento da técnica de aferição da pressão. É utilizado para controle da pressão
em caso de pacientes sabidamente hipertensos ou para auxiliar no diagnóstico de
hipertensão, uma vez que a medida em uma consulta clínica pode apresentar-
se dentro dos limites da normalidade e não representar a realidade do paciente
(SERRANO JR; TIMERMAN; STEFANINI, 2009; MALACHIAS et al., 2016).
Para realização da MRPA para fins de auxiliar no diagnóstico de hipertensão,
o registro deve ser realizado obtendo-se três medidas pela manhã (antes do desje-
jum) e três medidas à noite (antes do jantar) por um período de cinco dias.
O efeito avental branco (EAB) acontece quando há uma divergência maior ou
igual a 20 mmHg na pressão sistólica e/ou 10 mmHg na pressão diastólica, quando
as medidas são realizadas dentro e fora do consultório. O EAB acontece em cerca
de 18 a 60% dos pacientes devido à ansiedade ou ao nervosismo durante a consul-
ta com um profissional de saúde (SERRANO JR; TIMERMAN; STEFANINI,
2009). Usa-se o termo hipertensão do avental branco (HAB) quando as medidas
no consultório são maiores que 140/90 mmHg e estão entre os valores normais
quando medida fora do ambiente de consultório (MALACHIAS et al., 2016).
Alguns pacientes podem apresentar hipertensão mascarada, que é de-
finida como valores normais de pressão arterial no consultório e valores eleva-
dos na MRPA ou na monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA)
(MALACHIAS et al., 2016).
capítulo 4 • 78
Para avaliação cardíaca, é utilizada projeção frontal com incidência antero-
posterior e lateral esquerda (PEREZ et al., 2003; SERRANO JR; TIMERMAN;
STEFANINI, 2009).
Nas radiografias simples de tórax, é possível analisar o tamanho do coração
por meio do índice cardiotorácico (ICT) medido pela relação entre o maior diâ-
metro látero-lateral do coração e o maior diâmetro do tórax (ICT = A+B / C).
É considerado normal quando essa relação é menor ou igual a 0,5 (figura 4.2)
(PEREZ et al., 2003; SERRANO JR; TIMERMAN; STEFANINI, 2009).
Eletrocardiograma
capítulo 4 • 79
Os eletrodos determinam as 12 variações padrão, seis deles localizados nos
membros e seis no tórax (tabela 4.3). Os aparelhos mais modernos têm mais
três derivações (V7, V8 e V9) localizados na região posterior do tórax (MOFFA;
SANCHES, 2009; ARFELLI et al., 2016).
DERIVAÇÃO LOCALIZAÇÃO
D1 Braço direito e braço esquerdo
VR Braço direito
VF Pé esquerdo
VL Braço esquerdo
V1 4o EI direito
V2 4o EI esquerdo
V3 Entre V2 e V4
capítulo 4 • 80
papel (figura 4.3) apresenta quadrados que medem 5 mm cada e isso equivale a
0,2 segundo de evento cardíaco.
capítulo 4 • 81
Figura 4.4 – Traçado eletrocardiográfico. Disponível em: <http://servier.com/Powerpoin-
t-image-bank>. Acesso em: nov. 2017.
capítulo 4 • 82
• Complexo QRS com duração < 120 ms e amplitude entre 5 e 20 mm no
plano frontal;
• ÂQRS entre –30º e +90º;
• Aumento progressivo da onda R nas derivações de V1 a V5;
• Redução progressiva da onda S nas derivações de V1 a V6.
ARTÉRIA
DERIVAÇÃO ECG LOCAL DO IAM COMPROMETIDA
V1, V4 Septal Descendente anterior
Holter
capítulo 4 • 83
forma quantitativa e qualitativa, por um período de tempo maior, sendo possível
detectar alterações que podem não aparecer no eletrocardiograma, por ser um
exame realizado em poucos minutos.
O equipamento é composto por um gravador, cabo, eletrodos e um sistema
de análise (figura 4.6). Os eletrodos são fixados na pele do paciente com adesivos
próprios. Caso o paciente apresente pêlos na região torácica, é necessário realizar
a tricotomia. O aparelho é acoplado ao corpo do paciente por meio de cintas elás-
ticas. A gravação é feita em cartões de memória e o processamento é digitalizado
(FILHO et al., 2013; APINTYA et al., 2016).
O paciente deve anotar o horário da ocorrência de sintomas, qual o sintoma
e a atividade que ele realizava. O relatório do Holter 24 horas mostra um resumo
estatístico (tabela 4.1) e o laudo médico descritivo.
bpm: batimentos por minuto, h: horas; Máx.: máximo, Min: mínimo; N: número, QRS: complexo QRS, s: segundos.
capítulo 4 • 84
Para realização do exame, o paciente deverá permanecer com o equipamento
por um período de, no mínimo, 24 horas, os eletrodos são posicionados no tórax
do paciente.
O Holter 24 horas é indicado quando se pretende (SERRANO JR;
TIMERMAN; STEFANINI, 2009; FILHO et al., 2013; APINTYA et al., 2016):
• Esclarecer sintomas sugestivos de arritmia, síncope de causa desconhecida,
pré-síncope, tonturas e palpitações recorrentes inexplicadas;
• Estratificar risco de eventos cardiovasculares em pacientes coronario-
patas pós-infarto agudo do miocárdio em casos de cardiomiopatia hipertrófica
ou chagásica;
• Diagnosticar isquemias;
• Avaliar intervenções terapêuticas após tratamento de arritmias ex.: eficácia
da medicação, após procedimento cirúrgico, implante de dispositivos etc;
• Detectar comportamento elétrico anormal do coração.
capítulo 4 • 85
O Looper é um aparelho pequeno, leve, portátil, com baixo consumo de ener-
gia e pode permanecer com o paciente por semanas ou meses. O sistema é com-
posto por um gravador de eventos capaz de digitalizar o sinal eletrocardiográfico,
gravá-lo e transmiti-lo a uma central com a utilização de sinal de internet. Pode
ainda, enviar uma mensagem para o telefone celular do médico, que acessa a inter-
net para visualizar o sinal eletrocardiográfico. Durante o período de utilização do
aparelho, cabe ao paciente acionar um botão durante a ocorrência de um sintoma
cardiovascular, o aparelho então, grava os últimos minutos de sinal eletrocardio-
gráfico antes do início dos sintomas e os primeiros minutos após o início dos
sintomas (BRITO, 2009).
Algumas condições limitam a utilização do sistema Looper como a incapaci-
dade de o paciente acionar o botão no momento dos sintomas (BRITO, 2009).
Ecocardiograma
capítulo 4 • 86
Figura 4.7 – Varredura triangular. Arquivo pessoal.
capítulo 4 • 87
O Ecocardiograma de estresse usa o ETT, no entanto, é realizado imediata-
mente antes e imediatamente após um exercício físico com o intuito de analisar
o comportamento do coração durante o desempenho de uma atividade física. O
Ecocardiograma Transesofágico (ETE) é outro tipo de ECO no qual um trans-
dutor é guiado por meio da cavidade oral até o esôfago e a imagem das câmaras
cardíacas é obtida. Por ser um exame invasivo, é utilizado quando o ETT não
produz imagens suficientes para um diagnóstico ou acompanhamento. Pela sua
proximidade com a estrutura cardíaca, o ETE produz imagens mais nítidas e deta-
lhadas quando comparado com o ETT (CAMAROZANO et al., 2009).
O Ecocardiograma Tridimensional utiliza o ETT para criar imagens do
coração em terceira dimensão, é um exame muito utilizado para diagnóstico de
patologias cardíacas em crianças e no período pré-operatório de valvopatias. O
Ecocardiograma fetal é realizado em gestantes entre a 18a e 22a semanas de ges-
tação, para analisar a estrutura cardíaca do feto e detectar precocemente uma má-
formação cardíaca (CAMAROZANO et al., 2009).
capítulo 4 • 88
Os aparelhos para realização da MAPA são leves, portáteis e emitem baixo
nível de ruído. Fornecem um relatório abrangente quanto às variações da PA entre
os momentos de vigília e sono, permitem correlacionar os valores obtidos de PA
em um dado momento com a atividade realizada pelo paciente e também com
os sintomas apresentados, permitem análises de picos hipertensivos e episódios
de hipotensão, analisar os dados das pressões sistólicas e diastólicas e das cargas
pressóricas sistólicas e diastólicas. Carga pressórica é o percentual de medidas que
ficam acima de 135 x 85 mmHg durante momentos de vigília e acima de 120 x 70
mmHg durante períodos de sono e estão relacionadas com lesões de órgãos alvo
(MALACHIAS et al., 2016).
É considerado um exame válido quando apresenta análise mínima de 21 ho-
ras, com pelo menos 16 medidas em vigília e oito durante o sono. É fundamental
que o paciente anote o horário em que dormiu e o horário em que acordou, bem
como saber sobre a qualidade do sono na noite do exame. O paciente deve anotar
os horários que tomou os medicamentos, caso o paciente apresente algum sinto-
ma, é importante que ele anote qual é o sintoma, qual horário ele ocorreu e qual
atividade estava sendo realizada. É importante que anote horário das refeições,
atividades físicas e dos estados emocionais (GRUPI; LIMA; BARBOSA, 2009;
ISSA et al., 2015; MALACHIAS et al., 2016). Essas informações são importantes
durante a análise dos resultados da MAPA para evitar diagnósticos errôneos, por
exemplo, um aumento da pressão arterial em um momento de atividade esportiva.
Teste Ergométrico
capítulo 4 • 89
Existem inúmeros protocolos utilizados na realização do teste ergométrico. O
teste é comumente realizado em esteira ou bicicleta ergométrica utilizando-se os
protocolos contínuos e progressivos. Os protocolos mais utilizados para realização
do teste ergométrico são os Balke, Naughton, Ellestad, Bruce ou protocolos de
rampa (ROCHA et al., 1997; DAHER et al., 2005; GRUPI; LIMA; BARBOSA,
2009; ISSA et al., 2015). Os protocolos diferem entre si quanto à duração das
etapas e a intensidade de incremento de velocidade e inclinação.
De acordo com as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre o
teste ergométrico, o protocolo para esteira mais utilizado é o Protocolo de Bruce
(tabela 4.5). Este protocolo apresenta aumentos progressivos de inclinação e velo-
cidade, sendo que ocorrem incrementos grandes entre os estágios e por isso, deve
ser usado com cautela em pacientes clinicamente limitados. Existe um protocolo
de Bruce modificado (tabela 4.6), utilizado em pessoas com baixo condiciona-
mento físico e na população idosa.
Este protocolo inicia com velocidade de 2,7 km/h sem inclinação, no segun-
do estágio aumenta-se a inclinação da esteira para 5%. Outro protocolo também
utilizado nesta mesma população é o protocolo de Naughton (tabela 4.7), pois
apresenta aumentos equivalentes a 1 MET por estágio.
2 3 4 12
3 3 5,5 14
4 3 6,7 16
5 3 8 18
6 3 8,8 20
7 3 9,6 22
Tabela 4.6 – Protocolo de Bruce. III Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre o
Teste Ergométrico.
capítulo 4 • 90
DURAÇÃO DO VELOCIDADE INCLINAÇÃO
ESTÁGIOS ESTÁGIO (MIN) (KM/H) (%)
1 3 2,7 0
2 3 2,7 5
3 3 2,7 10
4 3 4 12
5 3 5,5 14
6 3 6,8 16
Tabela 4.8 – Protocolo de Naughton. III Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia so-
bre o Teste Ergométrico.
capítulo 4 • 91
VELOCIDADE
TEMPO (MIN) INCLINAÇÃO (%) (KM/H)
3 10 2,7
2 10 4,8
2 10 6,4
2 10 8
3 15 8
2 15 9,7
2 15 11,3
2 15 12,9
2 15 14,5
2 15 16,1
2 15 17,7
2 15 19,3
2 15 20,9
2 15 22,5
ATIVIDADES
01. A aferição da pressão arterial é um método diagnóstico para doenças cardiovasculares
muito utilizado. No entanto, muitos fatores podem afetar os resultados obtidos durante a
aferição. Cite alguns fatores.
capítulo 4 • 92
02. O eletrocardiograma capta sinais elétricos das células cardíacas e os registra em um
papel milimetrado gerando ondas P, Q, R, S e T. A que fase do ciclo cardíaco corresponde
cada inscrição no exame de eletrocardiograma?
05. O teste ergométrico é um teste máximo que pode ser realizado em uma esteira ou bici-
cleta ergométrica e é limitado por sintomas ou exaustão. Existem vários protocolos padroni-
zados para sua realização. Qual é o protocolo mais utilizado, de acordo com as Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia? Explique este protocolo.
RESUMO
Neste capítulo você viu os principais métodos diagnósticos para avaliação do sistema
cardiovascular e, dentre eles, a aferição da pressão arterial. Por ser um método simples e
amplamente realizado, muitas aferições errôneas podem acontecer. A aferição da pressão
arterial é um método diagnóstico amplamente utilizado pelo fisioterapeuta, sobretudo, duran-
te a reabilitação cardíaca, tema do próximo capítulo.
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capítulo 4 • 95
capítulo 4 • 96
5
Prescrição do
exercício para
a reabilitação
cardiovascular
Prescrição do exercício para a reabilitação
cardiovascular
OBJETIVOS
• Reconhecer as respostas cardiovasculares, respiratórias, metabólicas e endócrinas ao trei-
namento físico aeróbico e resistido;
• Entender o sentido e a importância da reabilitação cardiovascular;
• Conhecer todas as fases de um programa de reabilitação cardiovascular.
capítulo 5 • 98
energia, sendo assim, o ATP necessita ser ressintetizado de forma contínua, isso
acontece por meio de três mecanismos: síntese ATP-CP, metabolismo anaeró-
bico e metabolismo aeróbico.
Os exercícios podem ser de alta intensidade e curta duração ou baixa intensi-
dade e longa duração.
Exercícios de alta intensidade e curta duração são conhecidos como exercícios
anaeróbicos e são utilizados para ganho de força muscular. Eles podem gerar energia
por meio da síntese ATP-CP ou por meio do metabolismo anaeróbico. O sistema
ATP-CP (figura 5.1) ressintetiza ATP por meio da quebra da ligação fosfato-energéti-
ca da creatinina fosfato (CP). Já no metabolismo anaeróbico (figura 5.2), são necessá-
rias várias reações químicas a partir de moléculas de glicose, resultando na produção de
moléculas de ATP. Esta molécula de glicose é proveniente da ingestão de carboidratos
em um processo denominado glicólise, que resulta em duas moléculas de ATP. Nesse
metabolismo, não há utilização de oxigênio, logo, são formadas duas moléculas de
ácido pirúvico, que são convertidas em ácido lático (BARROS et al., 2009).
Sistema ATP-CP
ADP ATP
Contração muscular
Metabolismo Anaeróbico
Carboidrato
Glicólise
2 ATP
Contração muscular
capítulo 5 • 99
Os exercícios anaeróbicos são exercícios para ganho de força muscular e en-
volvem contrações musculares dinâmicas ou estáticas (isométrica). Os exercícios
isométricos são exercícios que geram tensão muscular sem encurtamento do ven-
tre muscular (CASTRO et al., 2005).
Exercícios de baixa intensidade e longa duração são conhecidos como exercí-
cios aeróbicos, são exercícios para ganho de condicionamento físico. Para que ele
ocorra, é necessário moléculas de oxigênio que irão converter ácido pirúvico em
ácido acético (acetil CoA), que será oxidado no ciclo de Krebs e na cadeia respira-
tória gerando ATP (figura 5.3). Esse processo libera trinta e seis moléculas de ATP
e ainda gera moléculas de CO2 e H2O (BARROS et al., 2009).
Modelo Aeróbico
Ácido Oxigênio
Carboidrato Ácidos graxos
lático
Ciclo de Krebs
H2O
CO2
36 ATP
Contração muscular
capítulo 5 • 100
Respostas cardiovasculares ao treinamento físico
capítulo 5 • 101
oxigênio local. A pressão arterial sistêmica aumenta de forma brusca na tentativa
de manter a pressão de perfusão para os músculos em atividade, resultando em
aumento da pós-carga e redução da pré-carga devido à redução do retorno venoso
(CASTRO et al., 2005).
Durante o exercício físico, a demanda aumentada de oxigênio para os mús-
culos esqueléticos é atendida devido à redistribuição de fluxo sanguíneo, ou seja,
o fluxo sanguíneo é direcionado para os músculos em atividade e reduzido nos
órgãos e sistemas menos ativos durante o exercício, como por exemplo, sistema
renal, hepático e gastrointestinal (POWERS; HOWLEY, 2014).
capítulo 5 • 102
Respostas metabólicas ao treinamento físico
capítulo 5 • 103
físico interferem na capacidade de outros hormônios de mobilizar combustível
para geração de energia (POWERS; HOWLEY, 2014).
O cortisol estimula a mobilização de AGL do tecido adiposo, mobiliza pro-
teínas dos tecidos para produção de aminoácidos para síntese de glicose hepática e
reduz a velocidade de utilização da glicose pelas células. O exercício físico estimula
a secreção de cortisol que por sua vez, permite que a adrenalina e o glucagon se
ocupem com a mobilização de glicose e AGL (POWERS; HOWLEY, 2014).
O hormônio do crescimento desempenha um papel na síntese de proteínas
dos tecidos, influencia no metabolismo das gorduras e dos carboidratos, diminui a
absorção de glicose pelos tecidos e promove a gliconeogênese hepática (POWERS;
HOWLEY, 2014).
A adrenalina e a noradrenalina atuam mobilizando a glicose hepática e o AGL
do tecido adiposo e interferem na absorção de glicose pelos tecidos. A concentra-
ção plasmática de noradrenalina aumenta de dez a vinte vezes durante o exercí-
cio físico.
A insulina e o glucagon são responsáveis pela maior parte da glicose mobiliza-
da do fígado durante exercícios vigorosos (POWERS; HOWLEY, 2014).
Reabilitação cardiovascular
capítulo 5 • 104
No contexto da prevenção secundária, os PRC são direcionados a pacien-
tes que apresentaram pelo menos um dos seguintes eventos cardiovasculares
no ano que antecede a reabilitação: infarto agudo do miocárdio, síndrome
coronariana aguda, cirurgia de revascularização do miocárdio, angioplastia
coronária, angina estável, reparação ou troca valvar, transplante cardíaco, in-
suficiência cardíaca crônica, doença vascular periférica, doença coronária as-
sintomática e/ou apresentar alto risco de doença cardiovascular (HERDY et
al., 2014). Os PRC extra hospitalares (fase 2, 3 e 4) são contraindicados em
determinados pacientes ou situações momentâneas. As contraindicações estão
descritas no tabela 5.1.
capítulo 5 • 105
metabólicas (MENEGHELO et al., 2005). Diversos estudos (BELLARDINELLI;
GEORGIOU; CIANCI, 1999; JOLLIFFE et al., 2004; TAYLOR; BROWN;
EBRAHIM, 2004; HAMM, 2008) demonstram que a reabilitação cardiovascular
reduz de 20 a 30% as taxas de mortalidade, quando comparada com os cuidados
usuais na ausência de exercício.
As modificações morfológicas induzidas pela reabilitação cardiovascular in-
cluem aumento da massa muscular do ventrículo esquerdo, aumento no volume
diastólico final, aumento da massa das fibras musculares periféricas, aumento do
número de capilares, aumento da capacidade oxidativa e aumento da capacidade
vasodilatadora. Essas modificações fazem a frequência cardíaca de repouso e a pres-
são arterial sistêmica ficarem mais baixas (SNELL et al., 1987; MENEGHELO
et al., 2005).
As modificações metabólicas incluem aumento da reserva de glicogênio mus-
cular, aumento do consumo de oxigênio, aumento da utilização de gorduras,
maior remoção de lactato, aumento das enzimas do metabolismo aeróbio, aumen-
to das concentrações do HDL-colesterol, redução dos triglicerídeos e da agregação
plaquetária (MENEGHELO et al., 2005).
Para a prescrição de exercício para pacientes com doenças cardiovasculares
deve-se levar em conta a intensidade, a duração, a frequência e a modalidade. A
prescrição deve ser individualizada levando em consideração as condições clínicas
e o período entre o último evento cardiovascular e a primeira sessão de reabilita-
ção. Você verá mais adiante ao ler as fases da reabilitação cardiovascular.
A intensidade do exercício por ser definida de diversas maneiras, sendo a
frequência cardíaca, a variável mais recomendada. Para determinar a frequência
cardíaca, pode-se utilizar entre 70 a 90% da frequência cardíaca máxima atingi-
da durante o teste ergométrico. Outro método bastante utilizado é a fórmula de
Karvonen descrita no quadro a seguir.
FCT = FCR + % (FCM – FCR)
Em que:
• FCT é a frequência cardíaca de treinamento, ou seja, a frequência atingida
esperada para treinar o paciente;
• FCR é a frequência cardíaca de repouso;
• % = se refere ao percentual da frequência cardíaca máxima que desejo trei-
nar o paciente. Este valor deve variar entre 60 a 80% (0,6 e 0,8 respectivamente);
• FCM é a frequência cardíaca máxima do paciente. Pode ser obtida subtrain-
do a idade do paciente de 220 (FCM = 220 – idade).
capítulo 5 • 106
Os PRC habitualmente empregados são divididos em fases: a fase I, indicada
para pacientes após eventual quadro agudo, tem início ainda dentro da unidade
hospitalar, após estabilidade hemodinâmica. As atividades são de baixa intensida-
de e compreendem ainda orientações quanto aos fatores de risco cardiovascular,
mudanças no estilo de vida, prevenção de complicações respiratórias, remoção de
secreções e promoção da adequada ventilação pulmonar. A fase II deve ser reali-
zada como um ato contínuo da fase I, porém dando ênfase na automonitorização
do paciente, fator considerado eletivo para a promoção desse paciente à fase III
do PRC.
Dentro desta automonitorização, cabe ao paciente, interpretar suas respos-
tas de FC, percepção do nível de esforço e demais sintomas clínicos. Na terceira
fase do processo de reabilitação, o objetivo é evitar a evolução da doença e novos
episódios de doença cardiovascular. Na fase IV, as atividades não são diretamente
supervisionadas. Nesta fase, o programa de exercícios é prescrito com a finalidade
de obter-se o benefício clínico e uma melhora contínua da função cardiorrespi-
ratória (GIL et al., 1995; GUIMARÃES; BABCL; BOCHHI, 1999; BETHEL;
LEWIN; DALAL, 2008; PIOTROWICZ; WOLSZAKIEWICZ, 2008). Os PRC
devem ser individualizados em termos de intensidade dos exercícios. A seguir,
você verá cada fase de forma detalhada.
Antes do início do PRC é importante realizar uma minuciosa avaliação do
paciente que deve incluir a história clínica, os antecedentes pessoais incluindo as
doenças cardiovasculares existentes, as doenças em outros sistemas e informações
relacionadas a cirurgias prévias. É importante identificar presença de fatores de
risco para doenças cardiovasculares (HERDY et al., 2014). Você estudou os fatores
de risco para DCV no capítulo 1.
O exame físico do paciente deve incluir avaliação da pressão arterial (você
aprendeu como aferir a pressão arterial no capítulo 4), frequência cardíaca, aus-
culta cardíaca, palpação de pulsos periféricos, avaliação da coloração da pele (em
busca de cianoses), verificar alterações musculoesqueléticas, frequência respirató-
ria, ausculta pulmonar e saturação periférica de oxigênio (HERDY et al., 2014).
Algumas complicações podem acontecer durante a reabilitação cardiovascular.
Para minimizar esse risco, a Associação Americana de Reabilitação Cardiopulmonar
(AACVPR) propôs uma estratificação de risco de eventos agudos que foi publica-
do na Diretriz Sul-Americana de Prevenção e Reabilitação Cardiovascular e des-
crito na tabela 5.2.
capítulo 5 • 107
Dentre as possíveis complicações estão a parada cardíaca, presença de arrit-
mias e infarto agudo do miocárdio. A reabilitação cardiovascular deve ser realizada
por um profissional fisioterapeuta capacitado para realizar técnicas de reanima-
ção cardiorrespiratória.
BAIXO RISCO
1. Sem disfunção significativa do ventrículo esquerdo (FE > 50%).
2. Sem arritmias complexas em repouso ou induzidas pelo exercício.
3. IAM; CRVM, angioplastia coronária transluminal percutânea, não complicados.
4. Ausência de insuficiência cardíaca congestiva ou sinais/sintomas que indiquem isque-
mia pós-evento
5. Assintomático, incluindo ausência de angina com o esforço ou no período de
recuperação.
6. Capacidade funcional ≥ 7 METS.
RISCO MODERADO
1. Disfunção ventricular esquerda moderada (FE entre 40% e 49%)
2. Sinais/sintomas, incluindo angina em níveis moderados de exercício (5 – 6,9 METS) ou
no período de recuperação
ALTO RISCO
1. Disfunção grave da função do ventrículo esquerdo (FE < 40%)
2. Sobreviventes de parada cardíaca ou morte súbita.
3. Arritmias ventriculares complexas em repouso ou com o exercício.
4. IAM ou cirurgia cardíaca complicadas com choque cardiogênico; insuficiência cardíaca
congestiva e/ou sinais/sintomas de isquemia pós-procedimento.
5. Hemodinâmica anormal com o exercício.
6. Capacidade funcional menor a 5 METS
7. Sintomas e/ou sinais, incluindo angina a baixo nível de exercício (< 5 METS) ou no
período de recuperação.
8. Infradesnível do segmento ST isquêmico durante exercício (maior a 2 mm).
CRVM: cirurgia de revascularização do miocárdio; FE: fração de ejeção; IAM: infarto agudo do miocárdio.
capítulo 5 • 108
Reabilitação cardiovascular no paciente internado – fase 1
Esta é a primeira fase pós-alta hospitalar e tem duração média de três meses
com sessões variando entre três a cinco vezes por semana.
O paciente deve ter atendimento e prescrição de exercícios de for-
ma individualizada.
capítulo 5 • 109
Os objetivos da fase 2 são (HERDY et al., 2014):
• Melhorar a capacidade funcional do paciente;
• Modificar os fatores de risco para DAC;
• Recuperar a autoconfiança do paciente.
capítulo 5 • 110
Reabilitação cardiovascular na comunidade – fases 3 e 4
6 Nenhum esforço
8 Muito leve
9 Muito leve
10
11
capítulo 5 • 111
12 Moderado
13
14 Forte
15
16 Muito forte
17
18
19 Muito, muito forte
20 Exaustão total
Tabela 5.3 – Escala de Borg. Intensidades leves (entre 6 e 12); moderada (entre 12 e 14) e
intenso (> 14). Diretriz Sul-Americana de Prevenção e Reabilitação Cardiovascular (2014).
capítulo 5 • 112
ATIVIDADES
01. Calcule a intensidade de exercício esperada para realizar o condicionamento físico de
um paciente utilizando 75% da FCM calculando por meio da fórmula de Karvonen. Dados do
paciente: sexo masculino, idade: 65 anos, PAS: 130 x 80 mmHg, FCR: 78 bcpm.
02. Neste capítulo você estudou os diferentes sistemas de geração de energia. Você apren-
deu que o glicogênio é um dos elementos que influenciam a geração de ATP. Explique como
os níveis baixos de glicogênio geram fadiga muscular.
04. As sessões de reabilitação das fases 2, 3 e 4 dos PRC são divididas em fase de aqueci-
mento, fase de treinamento e de resfriamento. O que é realizado em cada uma dessas fases?
RESUMO
Nesse capítulo você estudou as repercussões do exercício físico no sistema cardiovas-
cular, respiratório, metabólico e endócrino. Você estudou os três mecanismos básicos para
geração de energia: sistema ATP-CP, metabolismo anaeróbico e metabolismo aeróbico.
Você também estudou o que é e como funciona a reabilitação cardiovascular, os benefí-
cios da realização de programas de reabilitação cardiovascular e conheceu todos os compo-
nentes de um PRC bem como suas fases.
capítulo 5 • 113
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GABARITO
Capítulo 1
01. A síndrome metabólica e o diabetes mellitus estão intimamente relacionados, sendo que
a primeira antecede o segundo. Incialmente, o indivíduo ganha peso (obesidade); este au-
mento de gordura corporal, sobretudo, gordura abdominal, faz a insulina presente na corrente
sanguínea ter dificuldade de desempenhar seu papel (estocar glicose nas células), com isso,
o pâncreas irá secretar mais insulina na tentativa de colocar mais glicose nas células, no
entanto, trabalhando em excesso, esse pâncreas entrará em falência e não conseguirá mais
secretar tanta insulina. Quando isso acontecer, a glicose aumentará na corrente sanguínea
causando a hiperglicemia. Note que neste caso, o indivíduo possui dois fatores de risco mo-
dificáveis para doença cardiovascular (obesidade e diabetes).
capítulo 5 • 115
02. HDL ou lipoproteína de alta densidade. O HDL participa do transporte reverso do coles-
terol transportando ésteres de colesterol dos tecidos periféricos para o fígado. Além desse
efeito, o HDL também tem ação antioxidante, ação inibitória da agregação plaquetária, ação
anti-inflamatória e estimulante da produção de óxido nítrico que é um potente vasodilatador.
03. Débito cardíaco (DC) e resistência vascular periférica (RVP). O débito cardíaco é o volu-
me de sangue que sai do coração a cada minuto e RVP é a resistência imposta pelos vasos
sanguíneos para receber esse sangue.
04. A HVE está diretamente associada a níveis elevados de pressão arterial, no entanto,
outros fatores como sexo, raça, obesidade, diabetes, consumo excessivo de sal, estimulação
do sistema renina-angiotensina-aldosterona e estímulo nervoso simpático também têm sua
importância na gênese da hipertrofia.
05. A fisioterapia nos pacientes cardiopatas visa melhorar as condições física, mental e so-
cial, reduzir o colesterol total, o LDL e triglicérides, melhorar a qualidade de vida e reduzir
a mortalidade.
Capítulo 2
02. O potencial de ação de resposta rápida é composto por cinco fases. Na fase 0 ou des-
polarização rápida, acontece a entrada rápida de sódio (Na+) nas células despolarizando-as;
na fase 1 ou repolarização precoce, acontece a saída de potássio (K+) das células por meio
dos canais de K+, na fase 2 ou platô acontece a entrada de cálcio (Ca2+) por meio dos canais
de Ca2+ e a entrada lenta de Na+. Na fase 3 ou fase de repolarização tardia, há saída de K+,
repolarizando a célula, e na fase 4 ou potencial de repouso, há saída de Na+ e de Ca2+ e a
entrada de K+ e Na+.
capítulo 5 • 116
His, já as taquiarritmias ventriculares se originam e se mantêm nas estruturas localizadas
abaixo da bifurcação do feixe de His.
05. O termo “estenose” é utilizado para descrever uma restrição à abertura das valvas, já o
termo “insuficiência” descreve uma incompetência da valva no seu mecanismo de fechamen-
to, ou seja, enquanto “estenose” é uma dificuldade de abertura da valva, a insuficiência é uma
dificuldade de fechamento.
Capítulo 3
01. As placas estáveis têm predomínio de colágeno, possuem uma capa fibrosa espessa e
poucas células inflamatórias.
A placas instáveis apresentam uma intensa atividade inflamatória, predomínio lipídico,
apresentam uma capa fibrosa fina, pouco colágeno, núcleo necrótico, e defeitos estruturais
na superfície, como rotura da cápsula ou ulceração. Elas ainda são uma grande preocupação
do ponto de vista clínico, pois caso elas se rompam, todo o material necrótico, altamente
trombogênico, estará exposto na corrente sanguínea, levando à formação de um trombo e
que poderá obstruir vasos sanguíneos de menor diâmetro.
02. A oferta de oxigênio ao miocárdio pode ser prejudicada devido à diminuição do fluxo
sanguíneo ou diminuição do conteúdo arterial de oxigênio. Os fatores que podem causar
isquemia cardíaca por redução da oferta de oxigênio são: obstrução arterial, asfixia, intoxi-
cação por monóxido de carbono, insuficiência respiratória, cor pulmonale, aterosclerose e
trombose.
03. A angina instável acontece devido a uma redução súbita do fluxo sanguíneo para o
miocárdio, sem quadro anginoso anterior. A angina estável é previsível, consistente, acontece
durante o esforço ou estresse e alivia com repouso ou nitrato sublingual.
capítulo 5 • 117
04. O contato do sangue com superfícies não endotelizadas do sistema de CEC aciona
uma reação de defesa do organismo que desencadeia a produção, liberação e circulação de
grande número de substâncias vasoativas e citotóxicas afetando todos os órgãos e tecidos
do corpo, podendo aumentar a permeabilidade capilar, o extravasamento de líquidos e a
agregação plaquetária.
Capítulo 4
01. Vários fatores afetam os resultados da aferição da PA. Em relação ao aparelho, ele deve
ser validado, calibrado e deve ter o tamanho adequado em relação ao diâmetro do braço do
paciente. Além disso, o ambiente em que o paciente se encontra, a realização de repouso
antes da aferição, fatores emocionais, ingestão de bebidas alcoólicas e cafeinadas, o ato
de fumar nos trinta minutos que antecedem à aferição, estar com a bexiga cheia e praticar
atividade física uma hora antes da aferição afetam os resultados da PA.
02. Onda P representa a sístole atrial, o complexo QRS representa a diástole ventricular, a
onda T representa a sístole ventricular.
03. O tipo de ECO mais comum é o transtorácico, por meio dele é possível analisar os resul-
tados nas modalidades bidimensional, unidimensional e Doppler.
05. De acordo com as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre o Teste Ergo-
métrico, o protocolo para esteira mais utilizado é o Protocolo de Bruce. O Protocolo de Bruce
tem sete estágios com duração de três minutos cada. A velocidade inicial é de 2,7 km/h e
aumenta progressivamente até 9,6 km/h. A inclinação também sofre aumento progressivo,
começando com 10% até 22%.
capítulo 5 • 118
Capítulo 5
02. O baixo estoque de glicogênio causa redução do piruvato, que por sua vez diminui a
produção de ATP e limita o desempenho muscular, gerando assim, a fadiga.
03. A fase 1 do PRC acontece dentro das unidades hospitalares e constitui de sessões de
vinte minutos realizadas duas vezes ao dia. Compreende exercícios passivos que evoluem
para ativo-assistidos e assistidos. A fase 1 termina quando o paciente recebe alta hospitalar
e então, será atendido em ambiente ambulatorial na fase 2 do programa. A fase 2 dura cerca
de três meses com 3 a 5 sessões semanais, compreende exercícios aeróbicos, anaeróbicos
e de flexibilidade. O paciente passa para a fase 3 após cerca de três meses de reabilitação
caso tenha melhorado sua capacidade funcional, reduzido os fatores de risco para DAC e re-
cuperado a autoconfiança. A fase 3 tem duração média de 3 meses e visa manter e melhorar
as condições adquiridas na fase 2 e ainda aprender a realizar a automonitorização, o que o
fará elegível para a fase 4. A fase 4 não tem duração definida, pois visa à manutenção das
condições adquiridas nas fases anteriores da reabilitação.
capítulo 5 • 119
valores iniciais de FC e PA. Pode ser realizado reduzindo a intensidade da atividade aeróbica
nos últimos cinco minutos de exercício e também por meio de alongamentos e técnicas de
respiração.
capítulo 5 • 120