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A INTERPRETAÇÃO JURÍDICA COMO UM

MOMENTO METODOLÓGICO DA REALIZAÇÃO


DO DIREITO, SEGUNDO A PERSPECTIVA DE
CASTANHEIRA NEVES

LEGAL INTERPRETATION AS A METHODOLOGICAL


MOMENT FOR LAW REALIZATION, ACCORDING TO
CASTANHEIRA NEVES’S PERSPECTIVE

Ana Carolina de Faria Silvestre*

O direito não é apenas um sentido a compreender, é para além disso e antes de mais
uma validade (uma axiológica normatividade) que só se pode atingir e asssumir pelos
seus constitutivos fundamentos (também axiológico-normativos). A realização concreta
do direito não se cumpre apenas por uma compreensão significante da sua normatividade,
convoca uma problemático-concreta decisão normativo-judicativamente fundada – não
se trata aí de um tão-só correcto compreender, mas de um justo decidir, de (...) concreta 1
justeza problemático-normativa.
(CASTANHEIRA NEVES, A. O actual problema metodológico da interpretação jurídi-
ca. Revista de Legislação e de Jurisprudência. Coimbra: Coimbra Editora, n. 3919-3920. p. 292).

RESUMO

A pretensão deste artigo é introduzir o leitor em uma concepção norma-


tivo-metodológica que compreende a interpretação e a aplicação das nor-
mas legais como momentos inseparáveis da realização do Direito. Por essa
perspectiva, o caso concreto é mais do que um ponto de partida para a
interpretação jurídica, é o prius metodológico do qual emergem as questões
jurídico-problemático-concretas e para o qual há que se mobilizar o sistema
jurídico em busca da resposta mais correta.
Palavras-chave: interpretação jurídica – metodologia jurídica – jurispru-
dencialismo – realização do direito.

*
Pós-graduada e Mestre em Ciências Jurídico-filosóficas pela Faculdade de Direito da Universida-
de de Coimbra (FDUC). Aluna especial do programa de pós-graduação stricto sensu da Faculda-
de de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP). Professora de Filosofia Geral e do Direito
da Faculdade de Direito do Sul de Minas (FDSM).

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Ana Carolina de Faria Silvestre

ABSTRACT
This paper aims at introducing to the reader a normative-methodological
conception of legal interpretation that comprehends the interpretation and
application of rules of law as inseparable moments in law realization. Under
such perspective, the concrete case is more than just a starting point for
legal interpretation, but it is actually the methodological prius from which
problematic-concrete legal issues emerge, and to which the most correct
answer must be searched, mobilizing the legal system.
Keywords: legal interpretation – legal methodology – jurisprudentialism – law
realization.

1. QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
O tema da interpretação jurídica nunca me pareceu tão interessante, estimu-
lante..., na verdade só agora começo a perceber sua real importância e a grande
relevância que seu estudo convoca. Devo confessar que nunca havia seriamente
pensado sobre ele, acreditando-o acabado e acerca do qual não restavam muitas
coisas a se dizer. Confesso ainda que, por vezes, me foi extremamente difícil vi-
sualizar certas colocações e raciocínios, tão arraigada-contaminada de certeza era
essa minha compreensão.
Mas de que forma será que o caso confere significação à norma? A norma
2 não é uma proposição normativa dotada previamente de significado, de sentido?
Em face da qual nada se acrescenta, mas, sim, se retira, mediante um exercício
cognitivo de apreensão, desse significado pré-dado para, então, posteriormente,
aplicá-lo ao caso concreto? Não é a norma uma proposição normativa que expressa
uma vontade?
A norma é uma proposição normativa dotada de um sentido. Essa resposta
genérica satisfaz tanto uma concepção manifestamente positivista quanto a concep-
ção jurisprudencialista – objeto deste estudo. Mas qual será esse sentido? A busca
por tal resposta é uma busca jurisprudencialista? Em que medida o caso-problema
é importante para a interpretação jurídica, perspectivada como um momento da
concretização do direito?
Antes de iniciar este trabalho, entendia eu a interpretação jurídica como um
momento apartado da aplicação do direito. O objeto da interpretação jurídica era
exclusivamente a lei, ainda que não restritivamente encerrada em sua literalida-
de, mas em consonância com as demais normas positivas que compreenderiam
conjuntamente o sistema jurídico. Era na perspectiva desse sistema que se deveria
buscar a significação da norma para, então, posteriormente, aplicá-la ao caso
concreto.
Quanto ao caso jurídico, este era, claramente, um elemento do qual se ex-
trairiam as questões juridicamente problemáticas (os chamados fatos jurídicos) e

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para as quais emergiriam a necessidade e o dever do poder judiciário, por meio da


figura do juiz, de respondê-las de acordo com os ditames e nos limites da lei.
Essa minha perspectiva – que o desenvolvimento dos estudos resultou por
desmistificar e alterar – pode, quem sabe, parecer a alguns dos caros colegas correta
ou ao menos parcialmente correta, e, se assim for, convido-os a lerem as breves
páginas aqui escritas em um esforço de compreensão de uma outra perspectiva,
para a qual o prius metodológico é o caso jurídico ou caso-problema, e o sistema
jurídico, um constituendo, cujo sentido prático-concreto somente será encontrado
na perspectiva do caso-problema e de sua intencionalidade prática. Essa concepção
é o jurisprudencialismo.
Segundo o jurisprudencialismo, o sentido da norma não se extrai ou se de-
preende mediante um esforço meramente cognitivo, mas, sim, somente se con-
cretizará, se constituirá concreto-intencionalmente na perspectiva do caso jurídico
concreto. O caso é “o horizonte problemático e pragmático em função do qual
se pergunta interpretativamente (...) constitui a intencionalidade que orientará
esse perguntar”1.
O caso interpela a normatividade previamente estabilizada, cuja resposta
pode ou não estar a princípio disponível, ou seja, pode ou não haver uma norma
disponível no sistema de normatividade capaz de se oferecer como critério prá-
tico-normativo de resolução para o caso, e esse fato não deve ser compreendido
como falha ou “lacuna do direito” no seu sentido mais tradicional. 3
O sistema jurídico não é um dado previamente constituído e acabado. Sua
intencionalidade está imediatamente relacionada à intencionalidade dos casos
jurídicos problemáticos que o interpelam. Há entre sistema e problema uma
relação dialética que resulta, em última análise, na constituição ininterrupta do
sistema, como veremos.
As pretensões deste trabalho não vão além de um esforço no sentido de, em
linhas gerais, compreender a relação dialética entre sistema e problema, segundo
a concepção jurisprudencialista. O que, a propósito, pode-se dizer, não é um ob-
jetivo modesto. A todos aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de entrar
em contato com tão rica concepção do direito e do sistema jurídico, esperamos
incutir a curiosidade, esse impulso inquietante que nos conserva no caminho
do crescimento intelectual e pessoal; quanto aos já introduzidos às suas razões e
sentidos, esperamos sinceramente não decepcionar.
Tecidas as considerações iniciais, é chegada a hora de enfrentar o desafio
de expressar por meio de palavras os conhecimentos apreendidos, e foi imbuída

1
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica. Problemas fundamentais. Stvdia Ivridica, 1.
Coimbra: Coimbra Editora, Universidade de Coimbra, Boletim da Faculdade de Direito, 1993.
p. 143.

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por esse espírito que algumas linhas de um escrito de Saramago – leitura breve
entrecortada por outras mais urgentes – me chegaram à consciência como algo
mais do que um sussurro... um alento encorajador!

Comecemos pelo princípio (...) nunca foi a ponta nítida e precisa de uma
linha, o princípio é um processo lentíssimo, demorado, que exige tempo e
paciência para se perceber em que direcção quer ir, que tateia o caminho
como um cego, o princípio é só o princípio2.

2. O PROBLEMA DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA: UM PROBLEMA


HERMENÊUTICO OU UM PROBLEMA NORMATIVO?
Qual será o problema atual da interpretação jurídica? Será “um problema
estrita e rigorosamente hermenêutico ou um problema essencialmente normati-
vo?”3. Antes, o que significa dizer que o problema da interpretação jurídica é um
“problema hermenêutico” ou um “problema normativo”? Vejamos:

O problema da interpretação jurídica está em saber o que significativo-textual-


mente consta, p. ex., da lei, e como esta em termos puramente hermenêuticos
se deverá determinar, ou antes, em saber de que modo prático-normativa-
mente se deve assimilar o seu sentido jurídico-normativo para que ela possa
4 ser critério também judicativamente adequado de uma justa decisão do
problema jurídico concreto?4

Segundo a concepção que se pretende investigar, quer seja, a concepção juris-


prudencialista de Castanheira Neves5, o problema atual da interpretação jurídica
é um “problema essencialmente normativo”.
A norma é interpelada pelo caso concreto singular e irrepetível com o intuito
de se revelar ou não critério judicativamente adequado de solução para esse caso.
Daí por que se afirmar: “o caso problema é o ponto de partida (o prius) e a ‘pers-
pectiva’ (o modus) da reflexão judicativo-decisória”6.
Uma boa interpretação é “aquela que numa perspectiva prático-normativa
utiliza bem a norma como critério da justa decisão do problema concreto”, e não
“aquela que, numa pura perspectiva hermenêutico-exegética, determina correc-
tamente o sentido textual da norma”7. Isso não quer dizer que o autor rechace a

2
SARAMAGO, J. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 71.
3
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 83.
4
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 83-84.
5
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 83.
6
BRONZE, F. J. Lições de introdução ao direito. 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2002. p. 818.
7
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 84.

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hermenêutica peremptoriamente, desconsiderando haver momentos hermenêu-


ticos na interpretação jurídica; muito pelo contrário, declara expressamente que

(...) vão eles, desde logo, no relevo do axiológico contexto comunitário-


consensual e histórico-culturalmente significante, na “pré-compreensão”
jurídico-socialmente interrogante em cada problema jurídico concreto, na
unidade intencional entre o objeto interpretando e o conteúdo da interpre-
tação, no próprio círculo metodológico da “concretização”, etc. (...) e pode
mesmo reconhecer-se, com HRUSCHKA, que uma dimensão hermenêutica
é “a condição de possibilidade” de compreender os textos jurídicos. Mas
nem aqueles momentos nos dizem só por si da índole e intencionalidade
específicas da metodológica interpretação jurídica, nem esta dimensão
define os critérios de validade (da justeza) dessa mesma interpretação8.

De acordo com o modelo da interpretação jurídica tradicional, o objeto da


interpretação era o texto das normas jurídicas formalmente prescritas. Para além
da interpretação, havia, posteriormente, o momento da aplicação das normas aos
fatos; dois momentos metodologicamente distintos.
Na perspectiva que se pretende analisar, há apenas um momento metodoló-
gico de interpretação-aplicação-realização do direito, momento este que envolve
duas problemáticas ou uma dialética: a dialética entre o sistema e o problema; duas
problemáticas a serem articuladas na confluência da resolução do caso concreto,
da justa decisão do problema jurídico (caso jurídico).
5

3. A CONCEPÇÃO TRADICIONAL DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA


Explicitamos que, segundo a perspectiva hermenêutica tradicional da in-
terpretação jurídica, o objeto da interpretação era o texto normativo-prescritivo
das fontes jurídicas, e a interpretação, um trabalho de exegese do sentido contido
na letra da lei. Agora, resta-nos investigar as raízes ou origens de tal concepção.
Salientamos, no entanto, que os pontos-objeto dessa despretensiosa análise são
apenas alguns dentre muitos outros aspectos não menos importantes e cuja inves-
tigação seria necessária se a intenção fosse a de produzir um estudo englobante da
matéria9. Advertidos, passamos à consideração das seguintes questões:

3.1 Quanto à origem cultural e seus desdobramentos

A origem cultural tem a ver com a concepção do direito e o pensamento


jurídico medieval – a partir do século XI – e que desde então, sobretudo

8
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 84.
9
Para uma análise aprofundada da matéria, ver: CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídi-
ca, p. 85-97.

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através do ius commune, não deixaria de determinar metodologicamente


o pensamento jurídico europeu até o positivismo legalista do século
XIX – o qual, aliás, em muitos aspectos, apenas continuou aquele pen-
samento tradicional10.

Tanto o corpus iuris civilis quanto o corpus iuris canonicis eram perspectivados
pelo pensamento jurídico como textos de autoridade, ou seja, textos que encer-
ravam em sua literalidade toda a verdade. Eram, comparativamente, “tal como a
bíblia para a teologia”11,12:

Sabe-se, com efeito, que tanto sociológica como culturalmente, o pensa-


mento medieval especificamente se submetia a um característico princípio
de autoridade e isso viria a implicar que o pensamento jurídico medieval
se viesse a constituir essencialmente como interpretatio.

O corpus era um elemento pré-dado, que encerrava em si toda a sabedoria


e todo o conhecimento; em suma, toda a verdade. Em face da verdade objetiva,
não havia outra emergência que não a de um exercício de exegese pura e simples
de seu significado.
Para a cultura medieval em geral, “conhecer não é investigar, mas entender
devidamente a palavra decisiva e as doutrinas das autoridades que a proclamam;
daí que o comentário das palavras e doutrinas tenha a prioridade na Idade Média,
6
no que toca à aquisição de conhecimentos”13.
O corpus iuris civilis era perspectivado como um todo coerente e completo,
“é a expressão da ratio e da aequitas”14, capaz de dar resposta a qualquer questão
jurídica.

E nessa perspectiva o pensamento jurídico assumiu-se decerto como in-


terpretação de textos: o direito oferecia-se enunciado em textos e através
desses textos, no modo exegético-comentarístico e sob o argumentum ex
verbo, obter-se-iam todos os critérios jurídicos para a prática jurídica. Ou
seja, e como resultado geral, o direito é compreendido como uma norma-
tividade que se infere de fontes prescritivo-textuais (...) que se infere de

10
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 86.
11
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 86.
12
“Apesar da sua relação dialética, o direito romano e o direito canônico são dois direitos gene-
ticamente distintos. No século XII, se o direito romano surge como um direito-sistema de ca-
racterísticas monolíticas, o direito canônico estende-se continuamente. No entanto, este direito
que nos séculos XIII e XIV se aproximará do figurino daquele, surge sempre ao lado do direito
romano com valor de universalidade” (MARQUES, M. R. Codificação e paradigmas da moderni-
dade. Coimbra: Almedina, 2003. p. 56).
13
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 86.
14
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 86.

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leges. Na Idade Média, pensar o direito mesmo teológico-filosoficamente,


era pensá-lo, decerto em referência à justiça, mas como lex (...) por isso
os juristas medievais se diziam “legistas”15.

Há que se considerar, ainda, “o ambiente cultural do tempo: a base formativa


era o trivium e a metodologia era a da escolástica (...) a aplicação dos métodos
da lógica aristotélica”16 e da retórica à disputatio sobre quaestiones, e, assim,
uma discussão tópico-argumentativa sobre questões doutrinais, fossem elas
suscitadas por problemas práticos reais ou imaginados, que invocavam sempre
como argumentos textos sancionados e opiniões de autores (autoridades), e
estas com tanto maior relevo quanto se conjugassem em uma communis opinio.
Pois isso o exigiria “um pensamento argumentativo-retórico do domínio do
‘provável’ (...) daí que o pensamento jurídico fosse hermenêutico na intenção
epistemológica, posto que dialético argumentativo ou lógico-dialético na pers-
pectiva metódica”17.
A ciência jurídica européia nasceu com o que se alcunhou primeira recep-
ção do direito romano ou recepção medieval do direito romano, marcada pelo
nascimento das universidades e pelo predomínio do método escolástico18. Essa
primeira perspectivação do corpus foi superada por uma outra de conseqüências
metodológicas distintas; nessa altura, o Corpus Justinianeu ainda é entendido como 7
um elemento pré-dado, havendo agora, no entanto, um esforço de sistematização
externa que visa à superação das repetições, lacunas e entendimentos conflituosos19.
Essa primeira tentativa de sistematização externa do direito é empírica e chamada
de periférica20:

15
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 86-87.
16
Dois dos princípios centrais da lógica aristotélica são: lei da não-contradição e lei do terceiro
excluído. Segundo a lei da não-contradição, uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao
mesmo tempo, e segundo a lei do terceiro excluído, uma afirmação da forma P e não-P é verda-
deira (CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 87).
17
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 87.
18
Sobre as recepções do direito romano e a evolução do pensamento sistemático, ver: CANARIS,
C. W. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito. Tradução de A. Menezes
Cordeiro. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002. p. LXXIV et seq.
19
“Os jurisprudentes humanistas aceitaram o Direito romano, tal como podiam conhecê-lo, como
elemento pré-dado: constituía uma base histórico-cultural de toda a elaboração posterior. In-
tentaram, no entanto, dar-lhe uma ordem exterior” (CANARIS, C. W. Pensamento sistemático e
conceito de sistema na ciência do direito, p. LXXVII).
20
“A tentativa é empírica, mas surge eficaz: o Direito assume, pela primeira vez, uma or-
denação ou, nesse sentido, um sistema externo: é a primeira sistemática ou sistemática pe-
riférica” (CANARIS, C. W. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito,
p. LXXVII).

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As matérias, em vez de aparecerem ao acaso das massas de fragmentos


dos Digesta, são ordenadas em função de certos factores de similitude
exterior: equivalência lingüística, proximidades do objeto, etc. (...) as
aproximações periféricas tornam-se dominantes21.

A essa primeira sistemática segue-se uma segunda, alcunhada de “sistemática


racionalista”22. Ela é marcada pela adoção de pressupostos de validade univer-
sais, perspectivados como princípios nucleares, dos quais era depois retirada a
seqüência, dedutivamente23. Não obstante a perspectivação do dado seja agora
marcada por uma postura sistemática centralizante, há que se reconhecer e
salientar que, na sua essência, o texto ou o dado continua a ser compreendido,
assim como o era para os cultores do mos italicus, como um texto de autoridade.
Conforme Marques:

O humanismo jurídico, nascido na primeira metade do século XVI, postula


uma nova orientação para o direito, associado este às “belles lettres” (...) os
textos antigos, considerados intangíveis na sua validade, continuam a ser
comentados (...) a interpretação dos textos é ainda feita no pressuposto da
auctoritas incontestável dos mesmos. Todavia não pode sustentar-se que o
respeito por estes textos seja exactamente o mesmo manifestado pelo mos
italicus. À estratégia exegética segue-se uma outra em que predomina a
identificação de um conjunto de normas abstratas extraídas de princípios
8 atemporais. A interpretatio visa agora recuperar o contexto histórico das
diversas passagens do Corpus Iuris Civilis e depurá-las da exegese secular
das Escolas jurídicas medievais24.

O contexto cultural do positivismo-legalista é outro, o texto não é entendido


como “texto de autoridade” nos moldes que a expressão adquiriu no contexto
medieval. Pode-se dizer que é “texto de autoridade” em sentido diverso, é ago-
ra a emanação de um poder legislativo, mas de conseqüências metodológicas
similares, uma vez que a significação do texto se entendia encerrada no próprio
texto.
Tem-se aqui uma interpretação que atende ao esquema sujeito-objeto, que
perspectiva o direito positivo como um sistema fechado. Segundo Castanheira

21
CANARIS, C. W. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito, p. LXXVII.
22
CANARIS, C. W. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito, p. LXXX.
23
“Nestas condições, seria possível elaborar um esquema jurídico inverso do da sistemática peri-
férica: em vez de assentar em elementos pré-elaborados a intentar a sua ordenação, escolher-se-
iam uns quantos princípios nucleares; destes, por dedução, seria depois retirada toda a sequência.
Houve uma significativa confluência metodológica de fracções aparentemente diversas, num cla-
ro sinal dos tempos” (CANARIS, C. W. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do
direito, p. LXXIX).
24
MARQUES, M. R. Codificação e paradigmas da modernidade, p. 81-82.

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Neves25, “o direito posto ou legalmente imposto encontrará unicamente no sentido


da formal expressão prescrita, no sentido incorporado na sua expressão textual, o
seu interpretando sentido jurídico”.
Especialmente após Savigny, a teoria tradicional da interpretação fixou-se
em três elementos interpretativos, sob uma verdadeira canonização: o elemento
gramatical (elemento básico), o elemento sistemático e o elemento teleológico
ou racional – ainda que este último elemento só fosse aceito por Savigny com
reservas26.
Esse último impunha que o sentido das normas deveria ser determinado em
função da razão de ser, do objetivo prático da lei. A importância desse elemento foi
sendo gradativamente sublimada. Pode-se dizer que sua crescente importância foi
fator determinante para a superação da própria teoria tradicional à qual pertencia
e no seio da qual ocupava posição marginal27.

3.2 Quanto aos fatores políticos e suas conseqüências


Para Castanheira Neves28, “há que considerar os que resultam do legalismo
contratualismo-constitucional assumido pelo positivismo jurídico”, uma vez que,
para o positivismo jurídico o direito era o

direito posto (imposto) nas leis e as leis identificavam-se com o texto 9


– porque é no texto da lei que se exprime o imperativo do legislador e
se manifesta vinculativamente a sua autoridade legislativa, porque no
texto da lei encontra o direito a objetivação que garante a segurança
jurídica29.

O texto da lei definia a divisão dos poderes e a esfera de competência destes,


“em referência ao texto da lei se poderá aferir do cumprimento do princípio da
separação dos poderes, ou seja, da obediência ou da rebeldia do poder ou função
judicial perante o poder legislativo”30.

25
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 95-96.
26
Acerca dos elementos da interpretação propostos por Savigny, ver: SAVIGNY, F. C. von. Metodo-
logia jurídica. Tradução de Hebe A. M. Caletti Marenco. Campinas: Edicamp, 2001. p. 9-22.
27
“Elemento este que, se começou por ser minimizado pela tendência mais marcadamente exegéti-
co-positivística da teoria tradicional (assim tanto na École de l´exegèse como em Savigny), viria,
porém, a adquirir uma crescente importância e a determinar mesmo a evolução dessa teoria, de
tal modo que ela por este elemento (...) se foi a si mesma superando” (CASTANHEIRA NEVES,
A. Metodologia jurídica, p. 103-106).
28
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 88.
29
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 88.
30
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 88.

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A função jurisdicional passa a ser observada com desconfiança pelo legislador.


A um momento de grande abertura e notória importância do papel do juiz – veja-se
a relevância da comunis opinium doctorum – sucede-se um momento de retração e
de concentração do poder criativo nas mãos do legislador. Ao jurista caberia apenas
o papel de dizer o direito contido na letra da lei. É essa a função que Montesquieu
atribui ao juiz ao dizê-lo “boca da lei”.

3.3 A finalidade da interpretação: orientações subjetivista e objetivista


Se, como vimos, o que se objetiva interpretar é o texto da lei, resta-nos ainda
compreender o que se pretende atingir por meio da análise desse objeto. Qual é o
objetivo ou o fim da interpretação? A essa pergunta respondiam diferentemente
duas orientações no quadro da interpretação tradicional; uma orientação subje-
tivista e uma orientação objetivista.
Para a orientação subjetivista, na qual se inseria Savigny, a finalidade da
interpretação jurídica era a de atingir a vontade do legislador ou, nas palavras de
Castanheira Neves, compreender a

vontade real, subjetivo-histórica ou histórico-psicológica do legislador


que se exprime na lei: o objetivo essencial da interpretação seria o de
reconstruir o real pensamento do legislador histórico (...) a vontade
10 legislativo-prescritiva que está genericamente na base do texto-norma
legal31.

No entanto, há que se salientar que essa concepção não tratava o texto com
indiferença ou preconizava o predomínio da “vontade do legislador” em sacri-
fício do texto. Ela não pretendia a sobreposição da vontade do legislador, mas a
busca dessa vontade por meio do texto. Assim, “esta Escola assentava-se em dois
princípios: ‘o culto do texto da lei’ e ‘a predominância da intenção do legislador
na interpretação do texto da lei’”32.
Segundo a orientação objetivista, o texto da lei é um corpus significativo
jurídico, capaz de encarnar e exprimir sua intencionalidade normativa. Dessa
forma, para Castanheira Neves33, “a interpretação se deverá orientar para o sentido
objetivamente assimilado pelo próprio texto da lei, para o sentido autonomamente
(i. é, com abstracção ou desligado do seu autor real)”.
De acordo, ainda, com o mesmo autor, o objetivismo, diferentemente do
subjetivismo,

31
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 88.
32
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 98.
33
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 100.

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A interpretação jurídica como um momento metodológico...

aceita da hermenêutica geral (...) a idéia de que a lei pode ser juridica-
mente mais sábia do que a intenção do seu autor ou de que o intérprete
a poderá compreender melhor do que a entendeu o próprio legislador
– é que a lei vai ser referida, na sua interpretação actual, a hipóteses que
o legislador não teve em mente e nessa actualidade reflecte contextos
significantes distintos e mais evoluídos do que aquele que esteve na
sua origem34.

São traços comuns de ambas as compreensões o fato de considerarem o texto


um objeto de interpretação e de distinguirem letra de espírito. Mas, enquanto para
o subjetivismo o espírito das leis se identificava com a vontade do legislador, para
o objetivismo esse espírito coincidia com a própria lei como objetivação do ser
cultural – assumindo, pois,

uma perspectiva que lhe permite uma evolução adequada a actualizadas


exigências jurídicas da aplicação e do contexto normativo (oferece, no
dizer de Manuel de Andrade, “maiores possibilidades de desentranhar
da lei as soluções requeridas pelas necessidades da prática e pelas exi-
gências do sentimento jurídico preponderante na comunidade social”),
visa antes de mais a justeza ou a rectidão das soluções a obter pela
interpretação35.

Diferenças que culminaram em distintas concepções do direito: 11


O subjetivismo, em coerência com a sua origem legalista, concebe o direito
em termos imperativo-decisionistas: como um conjunto de imperativos,
de comandos-regras simplesmente imputáveis a um poder que se titula
e personaliza no legislador e que este imporia por livre decisão político-
jurídica – pelo que as normas jurídicas só se compreenderiam averiguando
essa decisão imperativa do legislador. Pressuposto que o objetivismo
vai, bem diferentemente, em que se assimila o projecto ou o consensus
histórico-culturalmente comunitário, de uma intencionalidade e raciona-
lidade próprias, e perante o qual, por um lado, o próprio legislador será
intérprete, e do qual, por outro lado, as leis, tomadas em si e não como
livre criação de alguém36.

34
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 100.
35
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 100.
36
Atualmente há um predomínio de “‘teorias mistas’, ‘gradualistas’ ou de síntese” porque “se as
coordenadas culturais gerais e filosófico-jurídicas próprias do objetivismo (...) superaram his-
toricamente aquelas outras coordenadas que se implicavam no subjetivismo, e se os objetivos
práticos sobretudo acentuados por aquele primeiro igualmente se têm por irrenunciáveis, não
deixa, todavia, de acentuar-se também, por imperativo constitucional, a indispensável vincula-
ção do intérprete às prescritas intenções legais e às decisórias opções do poder legislativo” (CAS-
TANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 101).

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4. A INTERPRETAÇÃO JURÍDICA SEGUNDO A PERSPECTIVA DE CASTA


NHEIRA NEVES  A INTERPRETAÇÃO JURÍDICA COMO MOMENTO DA
CONCRETA E PROBLEMÁTICODECISÓRIA REALIZAÇÃO DO DIREITO
A interpretação jurídica deve ser perspectivada como um momento metodoló-
gico no âmbito de uma problemática realização do direito. É a realização do direito,
e não a interpretação, o objeto e o problema da metodologia jurídica atual37.
Segundo Castanheira Neves, a interpretação jurídica é um

ato metodológico de determinação do sentido jurídico-normativo de


uma fonte jurídica em ordem a obter dela um critério jurídico (um
critério normativo de direito) no âmbito de uma problemática realização
do direito e enquanto momento normativo-metodológico dessa mesma
realização38.

Uma vez que este interrogar tem um sentido intencional-concreto, podemos


dizer que é por meio da interpretação jurídica que a fonte-norma interpretanda
se concretiza constitutivamente39.
Há apenas um momento metodológico de interpretação-aplicação-realização
do direito40, momento este que envolve duas problemáticas ou uma dialética: a
dialética entre o sistema e o problema.
12 A norma é interpelada pelo caso concreto – juridicamente relevante, singular
e irrepetível – a fim de se revelar ou não critério prático-normativo adequado a
ser mobilizado no juízo judicativo decisório.

37
“O objecto e o problema da metodologia jurídica deixaram de identificar-se pela interpretação
em sentido estrito – tal como acontecia no positivismo jurídico – e os termos antes na concreta
realização do direito. E isto significa: a realização da intenção axiológico-normativa do direito
enquanto tal, em termos normativamente adequados ao problema jurídico concreto (ao seu mé-
rito problemático-juridicamente concreto)” (CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica,
p. 372-343).
38
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 83.
39
“E isto significa, por um lado, que o critério normativo que a fonte jurídica interpretanda ofereça
só pode oferecê-lo pela mediação da interpretação – ‘a norma será tal como interpretada’ (ASCA-
RELLI) –; por outro lado, que a interpretação, ao propor-se referir a fonte-norma interpretanda
às concretas exigências ou ao mérito concreto do problema jurídico a resolver, para que possa ser
um critério adequado da sua solução, traduzir-se-á sempre numa constitutiva ‘concretização’”
(CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 83).
40
A teoria tradicional separava como momentos metodológicos distintos interpretação, aplicação
e integração. Não obstante se possam distinguir esses momentos em abstrato, eles são meto-
dologicamente integrados em concreto. “Todos eles participam, sem solução de continuidade,
num mesmo unitário e decisivamente determinante objetivo problemático normativo: a correcta
(materialmente adequada e normativamente justa) realização do direito – através dos critérios
que ofereça, enquanto e no grau em que os ofereça, o pressuposto direito positivo” (CASTA-
NHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 371).

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A interpretação jurídica como um momento metodológico...

O problema, perspectivado em concreto, coloca uma situação irrepetível e


singular que se pode dizer de direito porque pré-concebemos (ou pré-compreen-
demos) um sistema de normatividade, mas há que se compreendê-lo como um
sistema normativo-intencionalmente aberto. Ele próprio é um problema que se
vai constituindo pela mediação do caso e das questões conflituosas que este àquele
coloca, interpelando-o.
O sistema deve, pois, ser perspectivado não como um dado, mas como uma
tarefa41.

4.1 A racionalidade jurídica: uma racionalidade estruturada sob


duas dimensões – o sistema e o problema
4.1.1 O sistema
Quando falamos em sistema jurídico, referimo-nos não a um algo acabado e
autônomo, mas a uma “unidade de totalização normativa”, nos dizeres exatos de
Castanheira Neves42. Não obstante o exposto, podemos distinguir analiticamente
essa unidade de totalização em quatro estratos constitutivos que se relacionam inte-
grantemente. São eles: os princípios, as normas, a jurisprudência e a dogmática43 .

4.1.1.1 Princípios
No estrato dos princípios encontramos os princípios normativo-jurídicos
13
positivos, transpositivos e suprapositivos44.
Os princípios transpositivos incluem as cláusulas gerais mais relevantes, e os
suprapositivos manifestam a regulativa validade fundamentante do sistema ou a
subjetividade em um sentido ontológico45.
Há que se sublinhar que princípios jurídicos não são normas de direito; são
fundamentos do sistema jurídico46, o que nos conduz à conclusão de que os prin-
cípios jurídicos não podem ser convocados como critérios prático-concretos de
solução para o caso. Para Castanheira Neves somente as normas legais

41
“Daí que o sistema jurídico não seja um dado (pressuposto) e sim uma tarefa (objetivo), já que
há-de assimilar uma sempre nova experiência problemática e assumir numa totalização con-
gruente as novas intenções normativas de que, através da experiência, o direito se vai enrique-
cendo” (CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 158).
42
“É uma unidade de totalização normativa que se analisa em quatro elementos – os elementos
constitutivos da sua normatividade, organizados em quatro estratos distintos e entre si relacio-
nados num todo integrante” (CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 155).
43
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 155-157.
44
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 155.
45
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 155-157.
46
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 143.

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podem desempenhar a função metódica de critério e porque têm a seu favor a


força vinculante de autoridade (autoridade jurídico-política) (...) daí que se pos-
sa dizer que as normas legais constituem o “núcleo duro” desses sistemas47.

4.1.1.2 Normas
As normas compõem o segundo estrato do sistema. São prescrições que ob-
jetivam uma “opção político-estratégica e de um vinculante valor normativo que
provém das já aludidas legitimidade e autoridade político-jurídicas”48.
Há entre as normas e os princípios uma relação de possibilidade, e não de
necessidade. Assim,

A validade não é para o direito positivo premissa, mas verdadeiramente


fundamento. Daí que não possa prescindir-se, como é próprio de toda e
qualquer positivação dogmática, de uma constituinte instituição – de uma
mediação constituinte como positivação. E decerto através de auctoritas
que assimile a validade numa positiva determinação constituída e não a
quaisquer outras determinações possíveis49.

O direito tem uma iniludível dimensão de ordem, não dispensa determinações,


e o regulativo da validade emanada pelo princípio pode ser determinado de formas
diferentes50. Apesar de o direito positivo ser uma resposta normativa à contingente
14 realidade histórico-social (justificação), essa resposta deve ser normativamente
válida (fundamento)51.

4.1.1.3 Jurisprudência
O terceiro estrato é ocupado pela jurisprudência,

momento da objetivação e estabilização de uma já experimentada realiza-


ção problemático-concreta do direito, com o valor normativo que resulta
de uma presunção de justeza dessa realização e que assim só poderá ser
posta em causa, por posições diferentes ou contrárias, através de um
infirmante “ônus de contra-argumentação”52.

47
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 143.
48
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 155.
49
“A relação entre a validade e o direito positivo não é (...) uma relação de necessidade, mas só uma
relação de possibilidade: o direito positivo não se deduz da validade normativa, não é perante ela
um resultado necessário, embora se tenha de mostrar fundado pela validade normativa e deve ser
possível perante ela” (CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 156).
50
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 156.
51
“Pelo que de novo há de distinguir entre fundamento (validade normativa) e justificação (político-
social ou teleológico-estratégica)” (CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 156).
52
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 157.

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A interpretação jurídica como um momento metodológico...

A jurisprudência traduz a realização concreta e concretizada do direito. O


estudo da jurisprudência é, certamente, decisivo para que se possa, com pro-
priedade, dizer qual é a intencionalidade normativa previamente constituída de
um determinado sistema. Possui presunção de justeza que serve de guia, a par
das discussões mais atuais quanto à real força vinculativa dos posicionamentos
e decisões jurisdicionais, especialmente no que tange aos julgados emanados de
nossas mais altas cortes jurisdicionais.

4.1.1.4 Dogmática jurídica


No quarto estrato temos a dogmática jurídica,

enquanto o resultado de uma elaboração “livre” (GÉNY) e de uma


normatividade que apenas se sustenta na sua própria racionalidade fun-
damentada – não pode invocar a directa vinculação da validade, como
os princípios, nem a autoridade político-prescritiva, como as normas
legais, ou sequer a auctoritas jurídica da jurisprudência – posto seja esse
momento dogmático aquele em que o sistema encontra a sua racional e
decisiva objetivação53.

A dogmática jurídica é elaborada precipuamente a partir das normas e da ju-


risprudência54. É uma elaboração racional e sistemática, que objetiva compreender,
sobretudo, as leis e a jurisprudência como um todo unívoco de inteligibilidade. 15

4.1.2 O problema
De acordo com Castanheira Neves

O problema (...) traduz a intencionalidade problemática dos casos de-


cidendos (...) e para cuja solução se exige os concretos juízos decisórios
que mobilizarão, como seu fundamento e o seu critério racionalmente
materiais, a normatividade do sistema55.

A objetivação de um problema como um problema jurídico não está relacio-


nada somente à pré-compreensão da normatividade pressuposta do sistema, uma
vez que é também o sistema uma dimensão problemática, como temos vindo a
salientar. Como esboçamos antes, o sistema não está intencionalmente fechado,
mas aberto pela interpelação interrogante do caso-problema para o qual deve
oferecer resposta. A afirmação supra torna a questão do problema jurídico e da
sua identificação extremamente problemática.

53
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 157.
54
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 157.
55
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 157.

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Em última análise, para que possamos efetivamente afirmar estarmos em


face de um caso-problema jurídico, devemos, para além da análise interrogante
da normatividade estabilizada, voltar os nossos olhos e sentidos para os princípios
jurídicos e a axiológica validade do sistema.
Identificado o caso concreto como caso jurídico, a sua resposta deve ser
prático-normativamente adequada à problematicidade ou intencionalidade pro-
blemática concreta desse caso, só assim poder-se-á dizer que a resposta do caso
goza de pragmática justeza decisória56.

4.1.3 A relação dialética entre sistema e problema


Castanheira Neves considera que

Se pode aceitar-se que o sistema jurídico começa sempre por delimitar


e pré-determinar o campo e o tipo dos problemas no começo de uma
experiência problemática (...) os problemas possíveis começam, de um
lado, por ser aqueles que a intencionalidade pressuposta no sistema (com
as possibilidades interrogativas dos seus princípios) admita, e os modos
de os pôr serão, de outro lado, aqueles que sejam correlativos das soluções
(respostas) que o sistema também ofereça –, já não é lícita a unilateral
sobrevalorização do sistema que se traduza no axioma de que os problemas
a emergir dessa experiência serão unicamente os que o sistema suscite e no
16 modo apenas por que os aceite. Isto porque a experiência problemática,
enquanto também experiência histórica, vem sempre a alargar-se e a
aprofundar-se, em termos de exigir novas perguntas (problemas) e outro
sentido para as respostas (implicadas em novas intenções que entretanto,
e através dos novos problemas, se vão assumindo)57.

Quando falamos, pois, em sistema de normatividade jurídica, não estamos


falando em um sistema fechado de normatividade, mas em um sistema aberto
cuja normatividade se vai constituindo sobremaneira mediante a interpelação
do caso.
Certamente que o sistema começa delimitando e predeterminando o campo
e o tipo dos problemas. Não obstante, essa afirmação não nos conduz necessa-
riamente à conclusão de que são problemas jurídicos apenas os problemas previa-
mente perspectivados pelo sistema e da forma como previamente os perspectivou

56
“O problema, por seu lado, traduz a intencionalidade problemática dos casos decidendos (...)
para cuja solução se exigem os concretos juízos decisórios que mobilizarão, como seu funda-
mento e o seu critério racionalmente materiais, a normatividade do sistema (...) mas solução que
também só será concludentemente correcta, bem sabemos, se for normativamente adequada à
concreta problematicidade dos mesmos casos – se lograr relativamente a estes uma pragmática
justeza decisória” (CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 155.)
57
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 157.

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A interpretação jurídica como um momento metodológico...

– conclusão fruto da unilateral valorização do sistema. A intencionalidade pro-


blemática dos casos não se esgota nessa intencionalidade pressuposta do sistema,
uma vez que

a experiência problemática, enquanto também experiência histórica, vem


sempre a alargar-se e a aprofundar-se, em termos de exigir novas perguntas
(problemas) e outro sentido para as respostas (implicadas em novas inten-
ções que, entretanto, e através dos problemas, se vão assumindo)58.

Daí que “a normatividade sistematicamente prévia traduz apenas a assimilação


intencional (em termos de respostas constituídas) de uma certa experiência feita
e é correlativamente limitada por essa experiência”59.
A normatividade do sistema não está constituída previamente, em face da
qual só nos resta um exercício exegético de apreensão deste algo, mas encontra-se
imediatamente relacionada a uma outra dimensão, ou seja, a do problema colocado
pelo caso concreto.
Há entre sistema e problema uma relação dialética. Pode-se dizer que a nor-
matividade está estabilizada em função das perguntas ou interrogações dirigidas do
problema para o sistema, no entanto, novos problemas colocam novas perguntas
ou revelam a inadequação de velhas respostas. Os novos problemas fazem emergir
novas intenções (valorações, princípios), que relativizam as intenções anterior-
mente estabelecidas, trazendo consigo a exigência de ordená-las de tal forma que 17
constituam um todo congruente60.
O sistema exige congruência, mas essa exigência não se traduz

(...) em linear coerência lógica ou mera coerência dedutiva, mas antes


convivência correlativa numa totalização integrante. O que só pode
verificar-se já nos modos de delimitação de campos intencionais, de com-
plementaridade e de convergência, já nos modos de recíproca limitação
ou “compromisso” (no caso, p. ex., de princípios contrários), de tensão
dialética inclusive (no caso de princípios imediatamente contraditórios)
– modos que só na realização prático-normativa, na razoabilidade de um
diálogo de fundamentações, poderá justificar, seleccionando-os e mos-
trando em concreto os termos em que deverão ser admitidos61.

58
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 157.
59
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 158.
60
“As intenções (valorações, princípios e critérios normativos) anteriores subsistem, mas agora
relativizados às novas intenções (com as suas também outras valorações, princípios e critérios
normativos), entretanto constituídas, de modo que se põe a exigência de ‘ordenar’ as novas com
as antigas – ainda que abstratamente antinómicas –: o mesmo é dizer, a exigência de as integrar
num todo congruente” (CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 158).
61
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 158.

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É por isso que se pode dizer que o problema e sua intencionalidade proble-
mática, por meio da interpelação interrogante que dirige ao sistema, em busca
da adequada resposta prático-normativa, vai constitutivamente promovendo a
superação desse sistema previamente constituído e do seu sentido62. Essa inter-
rogação, porém, nem sempre vai resultar no encontro de um critério normativo
adequado para as especificidades problemáticas do caso-problema. Quando o
problema interroga o sistema sem resposta,

(...) o problema deixa então de ser a expressão interrogante da resposta-


solução já disponível, ou a pergunta que antecipa e nos remete a essa
resposta-solução, para ser uma pergunta que ainda não encontrou res-
posta, uma experiência aporética que não foi ainda absorvida por uma
intencionalidade dogmática acabadamente fundamentante63.

Essa interrogação nos é apresentada como experiência aporética somente por-


que ainda não foi absorvida pela intencionalidade dogmática acabadamente funda-
mentante. A interpelação pelo problema e a necessidade de resposta para este vão
culminar na superação da previamente estabilizada intencionalidade dogmática.
O sistema jurídico é aqui perspectivado como uma tarefa, um objetivo que
se vai realizando pela mediação interrogante do caso. Certamente, como vimos,
podemos e devemos mesmo ter em mente que o sistema possui uma normati-
18 vidade estabilizada, que se pode dizer previamente constituída, mas, para além,
não se pode esquecer e relegar perigosamente a segundo plano a importância de
se compreender que a juridicidade é necessariamente finita. Ela é finita porque
são finitos os casos a que foi, até agora, chamada a oferecer resposta. Não se pode
desconsiderar a premente importância do caso jurídico, nem confundir norma-
tividade com juridicidade.
O caso jurídico problemático pode colocar ao sistema problemas até então
desconhecidos – a compreensão da “insuficiência” da lei geral e abstrata para
responder satisfatoriamente a todos os casos problemáticos não é, certamente,
novidade. Puxemos pela memória, por exemplo, os sábios e sempre atuais en-
sinamentos de Aristóteles e a possibilidade de se corrigir as injustiças da pura
aplicação subsuntiva da lei por meio da eqüidade64 – e essa “lacuna” nos mostra

62
“O surgir de novos problemas é correlativo do enriquecimento do contexto intencional, ainda
que indecisa e indeterminadamente assumido ou apenas pré-compreendido – no modo justa-
mente problemático (o ‘saber de não saber’) –, e que, por outro lado, há-de culminar na consti-
tuição de novas intenções-soluções integradas, i. é, na superação do problema pelo sistema (por
um novo sentido do sistema)” (CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 158).
63
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 158.
64
“A natureza da eqüidade é, então, ser rectificadora do defeito da lei, defeito que resulta da sua
característica universal” (ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Antônio C. Caeiro. Lis-
boa: Quetzal Editores, 2004. p. 130).

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A interpretação jurídica como um momento metodológico...

que o sistema de normatividade é, também ele, um problema. É somente na


perspectiva do caso e para o caso-problema que podemos efetivamente falar em
significação concreta da norma.
Vejamos conclusivamente algumas palavras de síntese de Castanheira Neves,
que primam pela objetividade e clareza que certamente nos faltam:

Do sistema que se parte chega-se a um novo sistema como resultado,


pela mediação do problema – ou mais exactamente, pela mediação da
experiência problemática que entretanto superou o primeiro sentido do
sistema e exige a reconstrução-elaboração de um outro sentido sistemático
que assimile regressiva e reconstrutivamente essa experiência. Tudo o que
fará com que o sistema jurídico seja aberto (problematicamente aberto),
não pleno (não intencionalmente auto-suficiente) e auto-poiético (de
racionalidade prático-normativa autônoma)65.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao iniciarmos o estudo da interpretação, esse tema vastíssimo que encerra
em si toda a complexidade de um devir histórico e que nesse nosso percurso eleito
culminou em uma interpretação de orientação jurisprudencialista, inequívoca
era a certeza de que alguma coisa acabaria por ser alterada, um conceito, uma
perspectiva... 19
Mas, mais do que isso, reconheço ao finalizar essas breves páginas que toda
uma concepção do direito resultou alterada. Um direito que antes se revelava
desnudo, pouco provocante, um sistema de significação constituída e fechada e
que agora se revela irremediável e necessariamente conectado a uma dimensão
problemática da praxis que o constitui e o concretiza.
O caso é o prius metodológico, autônomo, singular e irrepetível, que impõe
à experiência da realização normativa uma dimensão única, para o qual não se
pretende oferecer uma resposta dogmaticamente pronta e acabada, mas a partir dele
interrogar o sistema em busca de um critério prático-normativo de resolução para
o caso concreto. Finalmente, a resolução do caso-problema, para além da óbvia e
imediata necessidade de se colocar justo fim a uma situação fática problemática,
pode ser, em última análise, o catalisador, o agens transformador e reconstituinte
do sistema de normatividade pressuposto.
Certamente, antecipo, com conhecimento de causa, àqueles que insistiram
na leitura até o fim restarão muitas dúvidas. Foi dessa mesma forma que tal pers-
pectiva me atingiu provocativamente; sua riqueza e complexidade demandarão,
inequivocamente, outros excursos comprometidos. Nada mais natural, pois é

65
CASTANHEIRA NEVES, A. Metodologia jurídica, p. 159.

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também o conhecimento um resultado dialeticamente constituendo, é um “(re)ver


que é sempre uma tarefa difícil porque implica um certo abandono de princípios,
implica também um (re)construir”66, mas “sem provocação e reação não existe
nenhuma perspectiva de que os intelectuais e os saberes que produzem sirvam
para qualquer coisa, além de acariciar seus próprios egos”67.

REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Antônio C. Caeiro. Lisboa: Quetzal Edi-
tores, 2004.
AROSO LINHARES, J. M. Jurisprudencialismo. Sumário das Aulas. Ed. do Autor, [s/d].
BRONZE, F. J. Lições de introdução ao direito. 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2002.
CANARIS, C. W. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito. Tradução
de A. Menezes Cordeiro. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.
CASTANHEIRA NEVES, A. Interpretação jurídica. In: Digesta: escritos acerca do direito,
do pensamento jurídico, da sua metodologia e outros. Coimbra: Coimbra Editora, 1995.
v. 2.
______. Metodologia jurídica. Problemas fundamentais. Stvdia Ivridica, 1. Coimbra: Coim-
bra Editora, Universidade de Coimbra, Boletim da Faculdade de Direito, 1993.
______. O actual problema metodológico da interpretação jurídica. Revista de Legislação e
de jurisprudência. Coimbra: Coimbra Editora, n. 3919-3920 .
20
CURI, I. G. Virada de Copérnico: reflexões em torno do pensamento de A. Castanheira
Neves. Boletim da Faculdade de Direito. Coimbra: Universidade de Coimbra, v. LXXXI,
2005 (separata).
LARENZ, K. Metodologia da ciência do direito. Tradução de José Lamego. 4. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2005.
MARQUES, M. R. Codificação e paradigmas da modernidade. Coimbra: Almedina, 2003.
RENÉ, D. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução de Hermínio A. Carvalho.
São Paulo: Martins Fontes, 1998.
SARAMAGO, J. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 310 p.
SAVIGNY, F. C. von. Metodologia jurídica. Tradução de Hebe A. M. Caletti Marenco.
Campinas: Edicamp, 2001.

66
CURI, I. G. Virada de Copérnico: reflexões em torno do pensamento de A. Castanheira Neves.
Boletim da Faculdade de Direito. Coimbra: Universidade de Coimbra, v. LXXXI, 2005. p. 849.
67
CURI, I. G. Virada de Copérnico, p. 849.

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