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1 CATÁLISE HETEROGÉNEA
anos setenta surgiram as primeiras tentativas de utilizar os catalisadores usados pelos seres
vivos, os enzimas. Este tipo de catalisadores consiste normalmente em enzimas ou células
imobilizadas num substrato suporte à base de carbono com uma grande superfície de
contacto.
A grande maioria destes catalisadores foram descobertos empiricamente, ou seja,
experimentando um a um a sua capacidade de acelerarem ou não dadas reacções. Durante
muitas décadas os investigadores não sabiam como é que os catalisadores funcionavam ao
nível molecular, isto é, não se sabia qual o centro activo do catalisador, a sua estrutura, o
modo como as reacções de superfície se processavam e o papel do catalisador nessas
reacções. Até ao final da década de setenta, sabia-se muito pouco sobre as reacções de
superfície, em comparação com o conhecimento das reacções de catálise homogénea. No
início dos anos 80, com o aparecimento de inúmeras técnicas onde se fazem incidir feixes
de electrões sobre a amostra (tabela 1.1), os conhecimentos das reacções à superfície foram
significativamente alargados. O melhoramento de outras técnicas já existentes, tais como a
espectroscopia fotoelectrónica de raios X (XPS) e a espectroscopia de infra-vermelhos (IR,
FTIR), tabela 1.1, também contribuiu para o aprofundamento dos conhecimentos nesta área.
O grande salto nas técnicas de estudo de superfícies foi dado com o aparecimento da
espectroscopia electrónica de varrimento de túnel (STM) cuja resolução permite
“visualizar” átomos da superfície. Além de todos estes avanços nas técnicas experimentais,
o grande desenvolvimento da informática permitiu a aplicação de métodos teóricos no
estudo dos fenómenos de superfície. Tal foi apenas possível muito recentemente, pois os
catalisadores heterogéneos, sendo constituídos na sua maioria por metais de transição,
tornavam muito difícil o estudo teórico de sistemas químicos com um número tão elevado
de electrões. Os primeiros sistemas estudados envolviam poucos átomos sendo muitas vezes
o catalisador metálico representado apenas por um átomo. Com o desenvolvimento, paralelo
ao da informática, de novos métodos teóricos, os sistemas estudados foram aumentando.
Muitos modelos teóricos têm sido empregues desde então; os métodos de estrutura
electrónica onde se tenta resolver aproximadamente a equação de Schrödinger (métodos de
Hartree-Fock, post Hartree-Fock e semi-empíricos), a teoria dos funcionais de densidade e
técnicas de simulação (Monte Carlo e dinâmica molecular). No capítulo 2, encontra-se uma
descrição mais detalhada de alguns destes métodos teóricos.
6 PROCESSOS QUÍMICOS EM INTERFACES Capítulo 1
Tabela 1. 2. Exemplos de catalisadores heterogéneos e suas funções catalíticas. Ver figura 1.2.
reacções de oxidação devido à sua fraca interacção com o oxigénio, mas a facilidade com
que adsorvem água leva a que sejam usados em reacções de desidratação. Os ácidos são
óptimos catalisadores para reacções de cracking devido à facilidade com que quebram
ligações C-C e C-H. Usa-se outro tipo de catalisadores que se baseiam no uso de enzimas e
células imobilizadas em substractos de carbono por exemplo para a isomerização da glucose
a frutose.
(a) (b)
(c) (d)
Sulfu
reto d
e hidro
Actividade do catalisador
génio
Dis
6 sul
fur
eto
de
En car
Ti
xof bon
of
re o
en
Ci
o
ste
í na
2
0 2 4 6 8 10 12
Quantidade de “veneno”, átomos de enxofre × 107
Figura 1. 4. Perda da actividade catalítica devido à adição de
um “ veneno quími o” [5]
1.4.1 Adsorção
1.4.2 Mecanismo
A catálise heterogénea lida com reacções que tomam lugar na interface entre um gás
e um sólido ou entre um líquido e um sólido.
As reacções de catálise heterogénea para a transformação das espécies gasosas A e B
em C podem ocorrer segundo dois mecanismos. A reacção pode ocorrer com os reagentes A
e B adsorvidos na superfície ou então entre um dos reagentes na fase gasosa que colide com
a outra espécie que se encontra adsorvida na superfície. É esta a distinção entre o
mecanismo de Langmuir-Hinshelwood (A (ads) + B (ads)) e o mecanismo de Eley-Rideal
(A (ads) + B (g) ou A (g) + B (ads)).
Na figura 1.12 encontram-se representados esquematicamente os mecanismos de
Langmuir-Hinshelwood (fig. 1.12a) e de Eley-Rideal (fig. 1.12b) para a reacção de oxidação
do monóxido de carbono em Pt (111).
Os dois esquemas de reacção alternativos podem ser descritos por:
Langmuir-Hinshelwood Eley-Rideal
dessorção
adsorção
superfície
migração à reacção à
superfície superfície
(a) (b)
Figura 1. 12. Mecanismos possíveis para as reacções de catálise heterogénea numa superfície.
(a)- mecanismo de Langmuir-Hinshelwood; (b)- mecanismo de Eley-Rideal. Adaptado de [2].
16 PROCESSOS QUÍMICOS EM INTERFACES Capítulo 1
CH4 + O2
gás natural
solventes polímeros
O hidrogénio atómico produzido nas reacções 1.11, 1.12 e 1.13 é depois dessorvido da
superfície segundo o esquema reaccional mostrado pela equação 1.9.
Capítulo 1 CATÁLISE HETEROGÉNEA 21
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22 PROCESSOS QUÍMICOS EM INTERFACES Capítulo 1