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Socialismo libertário, educação e autodidatismo:

entrevista-depoimento de Jaime Cubero

Antonio José Romera Valverde


Professor do Departamento de Filosofia da PUC-SP e do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos da Administração
da FGV, São Paulo. E-mail|: valverde@pucsp.br ou antonio.valverde@fgv.br

Resumo

A entrevista-depoimento de Jaime Cubero (1927-1998), figura ímpar dos meios anarquistas


paulistanos, é precedida de considerações sobre socialismo libertário, educação e autodidatismo,
demarcadas pela contraposição de aspectos da luta social no Brasil desde meados do século XIX
e em parte do século XX. As considerações iniciais cumprem o papel de apresentação dos
entornos da entrevista-depoimento, cedida no Centro de Cultura Social, no bairro do Brás, na
cidade de São Paulo, entre os dias 5 e 9 de maio de 1989.

Poucos movimentos sociais e doutrinas ta-se em um sistema definido de filosofia.


político-filosóficas são tão desconhecidos como [...] Como socialismo, e em geral todos os
o socialista libertário1 ou anarquista. Mesmo in- movimentos de caráter social, o anarquismo
telectuais e o público medianamente informado originou-se do povo e só conservará a vita-
se utilizam de lugares-comuns para identificá-los. lidade e a força criadora que lhe são ine-
Tratam-no, fragmentariamente, como individualis- rentes enquanto se mantiver com a sua pe-
mo radical, negação do Estado, da sociedade culiaridade de movimento popular. [...]
burguesa, dos sistemas religiosos ou, ainda, por Embora o anarquismo, como todos os mo-
liberalismo carbonário, violência, desordem, uto- vimentos revolucionários, surgisse dentre o
pia... Poucos concebem o que pode vir a ser povo, do tumulto das lutas em prol das rei-
mutualismo, federalismo, anarco-sindicalismo, vindicações sociais, e não de um estudo
comunismo libertário e uma sociedade pensada científico ou do tranqüilo gabinete do sá-
desde as necessidades verdadeiras e não da pro- bio, é importante, todavia, determinar o lu-
dução caótica. Uma sociedade em que a noção de gar que ocupa, entre as diversas correntes
progresso fosse outra que não a existente. Pou- do pensamento científico e filosófico mo-
cos também conhecem a concepção libertária de derno. (p. 1-17)
homem fundada na razão, no trabalho e na so-
lidariedade. Menor, porém, deve ser o número Kropotkin sustenta ainda que os socialis-
daqueles que reconhecem o papel da educação tas libertários
"científica e racional", integral e libertadora, para
as classes trabalhadoras de todo mundo. [...] concebem a sociedade como uma vasta
Dentre outras tantas possibilidades de rede de associações de toda a espécie em
caracterização do socialismo libertário, os excertos que as relações mútuas dos membros que
retirados de obra de Kropotkin (s/d) favorecem a
1. A expressão "socialismo libertário” foi inventada por Sébastian Faure
elucidação do movimento em pauta: no ato da fundação de La Revue Blanche, órgão anarquista, na França.
Segundo este, naquele Estado, encontrava-se proibida a propaganda anar-
quista (sic). No desenvolvimento do texto em pauta, o termo “anarquismo”
[...] o anarquismo não procede de uma de- e a expressão “socialismo libertário” são tomados pela sinonímia e pela
terminada descoberta científica nem assen- equivalência semântica.

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as compõem são reguladas, não por leis, meio do degredo tanto para fora do país como
herança de um passado de opressão e internamente. O caso mais chocante e extremo
barbárie; não por autoridades, quer estas é o da criação da cidade de Clevelândia 3, no
sejam levadas ao poder por eleição, quer interior do estado do Amazonas, pelo presiden-
por herança de seus antepassados, mas or- te em exercício, Arthur Bernardes4. A finalidade
ganizadas mediante convênios ou acordos daquela cidade — meio-fantasma, meio-ficção —
entre as partes componentes, livremente era abrigar os “desordeiros sociais" e forçá-los a
aceitas e a todo o tempo revogáveis, ga- contrair malária, à época, sem cura.
rantidos por hábitos e costumes sociais que A par disso, o desconhecimento da teo-
longe de se petrificarem pela lei, pela rotina ria e da prática socialistas libertárias explica-se
ou pela superstição, incessantemente evo- pela dificuldade de acesso às obras essenciais
luem e continuamente se ajustam às novas de pensadores desse movimento, mesmo com
necessidades de uma vida livre, pelo pro- tentativas esporádicas de atualização bibliográ-
gresso das ciências, das invenções e do fica. Também não é possível pelas fontes pri-
constante engrandecimento dos mais ele- márias, tais como periódicos e folhetos, que
vados ideais humanos. [...] Liberdade de raras vezes são conservados em bibliotecas e
ação ao indivíduo para o integral desenvol- arquivos oficiais. Acrescente-se, a estes obstá-
vimento de todas as suas capacidades na- culos, o fato de quase inexistirem memórias
turais de modo a assegurar de fato a sua escritas de militantes anarquistas. Nem mesmo
plena individualização, isto é, do que nele o jornalista e ativista Edgard Leuenroth, cujo
possa haver de pessoal, de original. Por nome é legenda dentro do movimento anar-
outros termos: nada de coação, nada de quista brasileiro, deixou registrada sua autobi-
que resulte uma imposição ao indivíduo sob
a ameaça do temor ou do castigo, qualquer 2. Conferir "A formação do PCB". In: PEREIRA, A. Ensaios históricos e
que seja a forma adotada, ou de punição políticos . São Paulo: Alfa-Omega, 1979, p. 41/161.
3. "O depoimento de um antigo ministro da Agricultura, Miguel du Pin e
sobrenatural ou mística; a sociedade nada Almeida, sobre a repressão durante o governo Artur Bernardes (1992-
solicitará do indivíduo que este não haja 26), permite reconstituir essa continuidade velada: ‘Desde o começo da
República que sempre se entendeu que as deportações, em caso de estado
livremente consentido; portanto, igualdade de sítio, deviam ser feitas do Sul para as zonas de fronteira nos estados do
absoluta de direitos de todos. (p. 89-90) Pará e Amazonas, talvez em virtude do princípio constitucional que atribui
à União jurisdição sobre aqueles trechos do território nacional.’ [...] Este
arbítrio do Estado pode ser constatado de forma viva e alargada durante o
No Brasil, o (quase) desconhecimento do governo Artur Bernardes, quando se tornou tão notório como naquele perí-
socialismo libertário pode ser explicado, em odo de desterro de cidadãos envolvidos nas revoltas tenentistas, militan-
tes, trabalhadores e desempregados. O envio para Clevelândia, apesar das
parte, pela perda da hegemonia dos militantes alegações do antigo ministro que examinamos, representava alguma coisa
anarquistas do comando das lutas sociais, em equivalente a uma sentença de morte. Um relatório encaminhado na época
meados dos anos 1920, com a criação do Par- ao ministro da Agricultura, ‘Viagem ao Núcleo Colonial Cleveland’, mostra
que, em 1926, dos 946 prisioneiros desterrados para Clevelândia, depois
tido Comunista2. Contudo, o novo aglutinante da revolta de 1924, 444 haviam morrido. [...] Alguns [militantes operári-
das lutas sociais herdou um ativo de greves, os] foram expulsos do Brasil, outros enviados ao presídio na ilha Rasa e
maioria foi mandada para o campo de internamento em Clevelândia, como
centros culturais, escolas racionalistas, publica- os redatores de A Plebe de São Paulo". PINHEIRO, P. S. Estratégias da
ções jornalísticas e livrescas, bibliotecas, mon- ilusão: a Revolução Mundial e o Brasil, 1922-1935. 2. ed. São Paulo: Cia.
tagens teatrais, meetings, conjugados com o das Letras, 1991, p. 87-88-109.
4. À guisa de ilustração da justiça poética, eis o poema O Iluminado, em
forte espírito de combate e de esperança dos homenagem a Artur Bernardes:
militantes anarquistas, nada desprezível. “Os inimigos diziam: / - Ninguém até hoje viu, / Ninguém não viu esse
homem. / Além disto ele é malvado, / É rancoroso, tirano / Joga gente pela
Deve-se acrescentar que a perda da janela; / No palácio do governo / Tem 'squemas de suplícios, / Tem alça-
hegemonia político-social é tributária, também, pões complicados. / Mata homem que nem formiga. / Mandou para a
Clevelândia / Seiscentos bons cidadãos / Num navio envenenado. / Este
do desfalque nos quadros da militância libertária homem não é homem, / É um punhal de pince-nez". MENDES, M. História
mais ativa, promovido pela repressão policial por do Brasil (1932). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991, p. 77.

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ografia de lutas, a despeito do que fez Anselmo escravo, de matriz hegeliana, pois o processo de
Lorenzo, catalão e autodidata, em El proletari- trabalho cria autoconsciência não somente no
ado militante5, documento histórico seminal. trabalhador — cujo ser é o trabalho —, mas tam-
No campo da Educação Libertária, o bém no senhor, de modo a suplantar a reificação
fenômeno agrava-se. Somente em meados da das relações entre os homens, sob o capitalismo,
década de 1970, começou-se a estudar e a como relações entre coisas que, em verdade, são
discutir, sistematicamente, a estratégia do des- relações entre homens e forças históricas.
terro 6 dos imigrantes europeus, que aqui Compreender o corpus pedagógico pro-
aportaram ao final do século XIX e início do posto pelos socialistas libertários, em suas re-
século passado, trazendo na bagagem a expe- alizações práticas e formulações teóricas no
riência de lutas sociais em ambientes urbanos Brasil, implica situá-la não só no interior do
e fabris. A estratégia incluía um projeto educa- movimento operário, mas, sobretudo, situá-la
cional como forma não só de ampliar os hori- em relação à estrutura social capitalista em
zontes intelectuais e políticos, mas assegurar os desenvolvimento tardio no Brasil, o que signi-
rumos da militância proletária de modo autôno- fica localizá-la no processo de formação e re-
mo, e propor, também, como fim último, qui- produção da classe proletária que pudesse efe-
çá inalcançável, a possibilidade da construção tivar esse desenvolvimento.
de uma “autêntica" cultura popular. A constituição e a generalização do
Foram aqueles imigrantes que inauguraram, modo de produção capitalista, ao menos “clas-
como demiurgos e “novos bárbaros", sistematica- sicamente", é sinônimo da constituição e gene-
mente, a luta social no Brasil. Eles trouxeram o ralização das classes sociais que compõem a
anarquismo e, por meio dessa concepção política relação fundamental desse modo de produção:
da ordem social, encaminharam o processo da capitalista e proletária. E “o capital não é di-
incipiente emancipação do proletariado brasileiro. nheiro, nem ações, nem quaisquer outros títu-
Oficialmente, o anarquismo já tinha los de propriedade, nem instalações ou máqui-
aportado no país por um decreto de Dom Pedro nas. Nada disso é capital; quando muito, são
II. Mecenas das artes, cioso de novidades, ten- símbolos ou expressões do capital"8. O capital
tado a modernizar o Brasil pelo alto e mostrar é uma relação social, uma relação histórica de
um perfil civilizado da nação brasileira no ex- produção social.
terior, tomou conhecimento, em uma de suas Como escreveu Marx num manuscrito
estadas na Itália, de um libreto intitulado La conexo a Trabalho assalariado e capital, data-
tèrra lìbera. Admirado com a utopia positiva de do de 1849, intitulado “O salário”, “o verdadei-
recriação da ordem social em outras bases, ro significado da educação, para os economis-
concedeu um pedaço de terra, ao sul do tas filantropos, é a formação de cada operário
Paraná, para que os idealizadores daquelas no maior número possível de atividades indus-
idéias realizassem seus sonhos. E a história da
Colônia Cecília7 é medianamente conhecida... 5. LORENZO, A. El proletariado militante. Madrid: Alianza, 1974.
6. A expressão "estratégia do desterro" significa a forma cultural de
A exposição do ideário socialista libertário adaptação do imigrante europeu às condições reinantes no Brasil ao final
de educação permite a compreensão de aspec- do século XIX e princípio do século XX. Estratégia entendida no sentido
amplo de criação e de defesa da cultura operária. Sobre esse tema conferir
tos da prática proletária nele contido e expres- "A estratégia do desterro". In: HARDMAN, F. F. Nem pátria, nem patrão!
so. Prática de ruptura/prática de integração na (Vida operária e cultura anarquista no Brasil). 2 ed. São Paulo: Brasiliense,
sociedade capitalista: essa oscilação pendular dá 1984, p. 59-110.
7. A propósito, conferir: SCHMIDT, A. Colônia Cecília: uma aventura anar-
a medida do espectro das propostas operárias quista na América - 1889 a 1893. São Paulo: Anchieta, 1942; SOUZA, N.
historicamente dadas. E o parentesco mais pró- S. de. O anarquismo da Colônia Cecília . Rio de Janeiro: 1970; e MELLO
NETO, C. de. O anarquismo experimental de Giovanni Rossi: de Poggio al
ximo dessa forma de reflexão encontra, certa- Maré à Colônia Cecília. Ponta Grossa: UEPG, 1998.
mente, parâmetro na dialética do senhor e do 8. BERNARDO, J. Capital, sindicatos, gestores. São Paulo: Vértice, 1987, p. 52.

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triais possíveis, de tal forma que, se é afastado ção de separar a ciência e a ideologia, mas
de um ramo pelo emprego de uma nova má- concreta e materialmente, ela pode ser apreen-
quina ou por uma mudança na divisão do tra- dida no exame das instituições criadas pela
balho, possa instalar-se noutro lado o mais classe (uniões, ligas, sindicatos, jornais, partidos
facilmente possível"9. Porquanto, “a miséria não etc.) e nas relações mantidas por essas diferen-
ensina apenas o homem a orar, mas ainda muito tes instituições com as classes dominantes, os
mais: a pensar e a agir"10, frente às vicissitudes setores sociais intermediários e o Estado. Isto
do capital em relação ao trabalho. é, a formação e o desenvolvimento das formas
O autodidatismo tem sido um tema caro assumidas pelo coletivo da classe operária re-
aos filósofos das Luzes e filho dileto da teoria alizam-se no interior do processo de luta de
educacional libertária, em parte, porque a mai- classes"12. Tais considerações encontram sus-
oria dos militantes anarquistas foram autodida- tentação no conceito de classe social elabora-
tas, num tempo em que o militante carecia de do por E. P. Thompson 13, pensado como cate-
compreender as contradições da ordem capita- goria histórica, inseparável da luta de classes.
lista e, para além delas, encaminhar ações po- Sob essa concepção, a classe não teria existên-
líticas reivindicatórias. O mais destacado auto- cia anterior aos conflitos sociais. E se tomada
didata com altura intelectual inconteste foi fora do contexto histórico dos embates socio-
Joseph Proudhon (1809-1865), cuja obra e políticos reivindicatórios, as classes sociais não
ação política inspiraram movimentos sociais têm realidade própria. O conceito de classe
relevantes, como o sindicalismo, o mutualismo social estará referenciado às experiências coti-
e o pacifismo. Experiências pedagógicas do dianas de seus componentes, à vida, às relações
autodidatismo, obra do professor francês Joseph sociais, políticas, culturais e econômicas.
Jacotot, foram estudadas por Rancière em Le Para o caso brasileiro, verificou-se o
maître ignorant: cinq leçons sur l'émancipacion surgimento de uma classe operária, “sem víncu-
intellectuelle11. Jacotot ensinara francês a alunos los diretos com uma ‘cultura nacional’, mas ao
belgas, sendo que ele mesmo desconhecia o contrário, sendo uma combinação internacional
flamengo. O fenômeno do autodidatismo de de tradições culturais européias diversas, trazidas
quadros de militantes anarquistas brasileiros, por com os imigrantes, com a experiência... advinda
meio sobretudo da prática do ensino mútuo, é do trabalho camponês, do passado escravista e
fato atrelado aos Centros de Cultura, as verda- do pequeno setor artesanal das cidades"14, o que
deiras universidades, como lócus de encontros tem dado a especificidade histórico-social ao caso
políticos, leituras, discussões teóricas e práticas. pátrio. E o movimento operário sob inspiração
Para o autodidata libertário não interessa socialista libertária constituiu a expressão mais
somente a aquisição dos “mecanismos" de leitu- radical da luta social no começo do século pas-
ra, mas, para além do domínio das conexões das sado. Vigoroso em seu início, minoritário nas
letras, palavras, números, juízos, são as reflexões décadas de 1930 e 1940, o que parece ser a
e as análises críticas da realidade imediata e expressão das remodelações e racionalizações na
mediata que são almejadas. Porque o autodidata
anarquista opera o auto-aprendizado em vista de 9. Citação extraída de DANGEVILLE, R. Crítica da educação e do ensino:
Karl Marx e Friedrich Engels. Trad. Ana Maria Rabaça. Lisboa: Moraes,
um horizonte político e ético de negação da 1978, p. 74.
ordem dada, construído desde a reflexão cotidi- 10. Idem, p. 69.
ana acerca do trabalho, das lutas sociais, e de 11. RANCIÉRE, J. Le maître ignorant : cinq leçons sur l'émancipacion
intellectuelle. Paris: Fayard, 1987.
bem com o progresso geral da humanidade. 12. HARDMAN, F. F. Op. cit., p. 29.
Contudo, como escreveu Hardman: “a 13. Ver ARRUDA, J. J. de A. “Experiência de Classe e Experimento
Historiográfico em E. P. Thompson”. In: Projeto História. N. 12. Revista do
consciência de classe do proletariado não deve Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de
ser buscada numa abstrata e ideológica opera- História da PUC-SP. São Paulo: Educ, 1995, p. 97-101.

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organização da produção, introduzidas a partir de janeiro de 1933, num momento de refluxo do
1930, com seus conseqüentes efeitos sobre o movimento operário, ao menos na vertente
movimento operário. libertária e fechado, pela primeira vez, logo após
Se no momento histórico atual constata- o golpe getulista do Estado Novo, em 1937.
se a diluição dos valores autenticamente prole- Reaberto a 02 de junho de 1945, só voltou a
tários, assimilados pelos departamentos de re- cerrar suas portas em maio de 1969, em conse-
cursos humanos das organizações, de par com qüência do Ato Institucional número 5. De novo,
o sumiço dos horizontes de negação da ordem reabriu aos 14 de abril de 1985 e segue funci-
capitalista em curso, a causa é o sujeito histó- onando plenamente, com palestras e difusão de
rico tradicional, o proletariado, a antítese e a obras específicas do movimento libertário. Além
negação explícita do modo de produção capi- de agenciar discussões sobre a universidade li-
talista. Com o emperramento da luta de classes vre, guerra e armamentos sofisticados, feminis-
desde o final da Segunda Guerra Mundial, o mo, autodidatismo, filosofia geral, ecologia.
sujeito encontra-se praticamente alijado do Manteve o mesmo estatuto desde sua fundação
processo político-social. até maio de 2007, alterando-o por imposição da
Mesmo com todas as vicissitudes e a vi- recente legislação em curso.
olência da história brasileira, neste e noutros Na entrevista-depoimento de Jaime Cubero,
séculos, os anarquistas, sempre extremamente subjazem reflexões acerca da teoria do socialismo
associativos, jamais deixaram de lado sua libertário, da proposta educacional e do autodi-
militância, divulgando e espalhando as suas idéi- datismo, engendradas desde o final do século
as por meio de jornais, campanhas públicas, XVIII, a principiar com William Godwin (1756-
palestras ou peças teatrais – às vezes com a 1836), considerado o precursor do anarquismo de
própria vida. Exemplo vivo disso é o Centro de matiz filosófico, até a síntese do autodidata catalão
Cultura Social, no Brás, no município de São Francisco Ferrer y Guardia (1849-1909)15, a par de
Paulo, que resiste incólume até os dias atuais, considerações pontuais sobre o Centro de Cultura
como sucedâneo de outros tantos existentes Social da cidade de São Paulo.
anteriormente. O registro da existência do pri-
meiro deles, chamado de Circolo Educativo
Libertário Germinal, está assentado no jornal 15. Conferir TRAGTENBERG, Maurício. “Francisco Ferrer e a Pedagogia
Libertária”. In Educação & Sociedade. Revista Quadrimestral de Ciências
libertário O Amigo do Povo, datado de 1902. Já da Educação. FE-Unicamp. N. 1. São Paulo: Cortez & Moraes, setembro
o Centro de Cultura Social foi fundado a 14 de 1978, p. 17/49.

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