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Lição Primeira
o dom de escrever
L
Uma ocasião, ouvi um camponês comparar o ruído
A ARTE DE ESCREVER u
do trovão com o ruído que fazia «um bocado de pano
que se rasgava».
As nossas antigas canções populares. de que G. Don-
cieux nos prepara uma sábia reconstituição e uma edição
definitiva. são obra anónima de poetas obscuros.
Portanto. se toda a gente pode escrever. com muita
mais razão o podem fazer as pessoas medianamente
cultas. as pessoas que têm leitura e que amam o estilo.
a gente moça que faz versos elegantes ou regista os
seus pensamentos num diário íntimo.
Há certa classe de gente. que. dirigida e ensinada,
poderia determinar e aumentar as suas aptidões. e ter
talento. até.
Muitos ignoram as suas forças. porque nunca as
experimentaram. e estão mesmo longe de imaginar que
poderiam escrever.
Outros. mal ajudados ou dissuadidos da sua voca-
ção. desanimam por se reconhecerem medíocres, sem
um guia que 'os aperfeiçoe.
Conheci três mulheres. que nunca tinham escrito uma
linha e que sorriam de incredulidade. quando as acon-
selhei a escrever. Supunham-se incapazes de ter talento.
Decidiram-se a começar o seu diário. segundo pre-
ceitos e fórmulas técnicas. e hoje fazem descrições vivas.
em relevo. muito notáveis. que sõmente a sua modéstia
se obstina em conservar inéditas.
Quase todas as pessoas escrevem mal. porque não
se lhes demonstrou o mecanismo do estilo. a anatomia
da escrita. nem como se encontra uma imagem e se
constrói uma frase.
Impressionei-me sempre com a quantidade de pessoas
que poderiam escrever e que não escrevem. ou escrevem
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12 A ARTE DE ESCREVER
Lição Segunda
Os Manuais de Literatura