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Resumo
O setor moveleiro tem a característica de gerar resíduos de diversas naturezas, que podem
passar por algum tipo de tratamento ou reaproveitamento. Esse estudo buscou saber quais os
principais resíduos gerados pelas indústrias moveleiras de Cascavel/PR, quais as políticas para
tratamento desses resíduos e se as empresas tem alguma forma de divulgação contábil dos
impactos gerados. O trabalho constitui-se em uma pesquisa descritiva, usando procedimentos
de pesquisa bibliográfica e análise documental, com abordagem qualitativa. Por meio de um
levantamento através de questionários enviados para as indústrias moveleiras foi realizada a
coleta de dados. Os dados foram coletados no ano de 2011 e os resultados apontam que os
principais resíduos gerados são: aparas, pó, sobras de tiras de PVC (polyvinyl chloride, ou em
português policloreto de polivilina) , vapor de cola, serragem, borra de tinta, solventes
orgânicos contaminados. Uma grande parte dos resíduos gerados é reaproveitada, ou seja, não
causam impacto ambiental. Porém, parte do que é descartado não tem a destinação correta,
sendo descartado no lixo comum. As empresas do setor moveleiro não contabilizam as ações
de caráter social e ambiental, no entanto, algumas empresas apresentam interesse na
contabilização e utilização das informações.
1 Introdução
2 Referencial Teórico
Segundo Neves e Tostes (1992, p.08), “Meio Ambiente é tudo o que tem a ver com a
vida de um ser (plantas, animais, pessoas) ou de um grupo de seres vivos. (...) os elementos
físicos, vivos, culturais e a maneira como esses elementos são tratados pela sociedade”.
Independentemente da autoria, pode-se perceber que em geral a definição seria como sendo a
vida e o planeta como um todo.
O homem predomina sobre o mundo animal e vegetal desde os primórdios de sua
existência, e foram os recursos naturais que sustentaram toda a evolução até os dias de hoje.
Com a busca desenfreada pelo enriquecimento e descobrimento de novas tecnologias sem
preocupação com os impactos causados pela exploração, o meio ambiente acabou sendo
degradado a níveis preocupantes.
A Conferência sobre Meio Ambiente, ocorrida em Estocolmo, em 05 de junho de 1972,
na Suécia foi o primeiro passo que a Organização das Nações Unidas – ONU - e os governos
de diversos países deram em busca da conscientização e do cuidado com o espaço ambiental.
Desde então, nessa data é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. O próximo grande
acontecimento no avanço da humanidade com relação ao meio ambiente foi a conferência
conhecida como ECO 92 ou Cúpula da Terra ou ainda RIO 92, a qual foi sediada no Rio de
Janeiro, contando com uma grande quantidade de chefes de estado. Do relatório da conferência
foram gerados os 27 princípios da sustentabilidade e também a Agenda 21, que é o acordo
firmado entre os 179 países participantes para promover o desenvolvimento sustentável. A
Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a construção de
sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que conciliam métodos de proteção
ambiental, justiça social e eficiência econômica. Em 1997 em Kyoto no Japão, onde foi redigido
o documento “O Protocolo de Kyoto”, cujo principal objetivo é a redução, pelos países
desenvolvidos, das emissões de gases que provocam o efeito estufa. Até 2012, os chamados no
documento de países do Anexo I devem reduzir em 5,2% suas emissões em relação ao emitido
em 1990. Os países em desenvolvimento não têm índices de redução fixados, mas podem
colaborar de formas alternativas. (OTERO, 2013)
Alguns fóruns paralelos foram ocorrendo após a RIO 92, como por exemplo Rio+10 ou
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, que foi um fórum de discussão das
Nações Unidas, em Johanesburgo, África do Sul. Teve como objetivo principal discutir
soluções já propostas na Agenda 21 primordial (Rio 92), para que pudesse ser aplicada de forma
coerente não só pelo governo, mas também pelos cidadãos, realizando uma agenda 21 local e
implementando o que fora discutido em 1992. (CRUZ, 2013)
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2.1 Gestão Ambiental
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O IBRACON, com a NPA 11, define passivo ambiental como sendo toda agressão que
se praticou/pratica contra o Meio Ambiente, consistindo no valor dos investimentos necessários
para reabilitá-lo e também possíveis multas e indenizações consequentes.
Nessa mesma linha, Ribeiro (1998) o conceitua como as expectativas de gastos futuros
impostos pelas legislações e regulamentações ambientais em vigor, como taxas, contribuições,
multas e penalidades por infrações legais e, ainda, em decorrência de ressarcimento a terceiros
por danos provocados, estimativa de gastos para reparos e restaurações de áreas degradadas,
por iniciativa própria, exigido por lei ou terceiros. O autor ainda afirma que os passivos
ambientais se originam de qualquer evento ou transação da empresa que envolva a variável
ambiental que ocasione num sacrifício de recursos no futuro. Exemplos:
a) Aquisição de ativos para contenção dos impactos ambientais;
b) Gastos com insumos que serão inseridos no processo operacional para que este não
produza resíduos tóxicos;
c) Despesas de manutenção e operação do departamento de gerenciamento ambiental,
inclusive com pessoal;
d) Expensas para recuperação e tratamento de áreas contaminadas (máquinas,
equipamentos, mão de obra, insumos em geral, etc.);
e) Pagamento de multas por infrações ambientais;
f) Dispêndios para compensar danos irreversíveis, inclusive os relacionados à tentativa
de reduzir o desgaste da imagem da empresa perante a opinião pública etc.
Apesar dos novos conceitos que surgiram com a contabilidade ambiental, há um
consenso entre os autores de que seus cálculos devem ser feitos de acordo com os princípios
fundamentais da ciência contábil e, ainda, se deve levar em consideração a teoria da
contabilidade.
Segundo Martins e Ribeiro (1993), os princípios contábeis não ajudam no
desenvolvimento da contabilidade ambiental sob o aspecto de responsabilidade, pois, há
dificuldade de mensuração dos custos e despesas no período de competência. Deve-se levar em
conta que nem sempre os eventos ocorrem no mesmo momento do desembolso e não existem
formas concretas de estimar os gastos no futuro devido às especificidades da questão ambiental.
Para se respeitar o princípio da competência, Martins, Iudícibus e Gelbcke (1995) definem que
as despesas diretamente delineáveis com as receitas reconhecidas devem ser confrontadas no
mesmo período; os consumos ou sacrifícios de ativo (atuais ou futuros) realizados em
determinado período e que não puderem ser associados à receita do período nem às dos períodos
futuros, deverão ser contabilizados como despesa do período em que ocorrerem.
Outro princípio conflitante com a contabilidade ambiental é o Princípio da Prudência,
que determina que se deve adotar maior valor para o Passivo e menor para o Ativo quando há
dúvida quanto ao valor a ser registrado, pois os fatores ambientais são mais complexos de se
pode quantificar monetariamente. Ferreira (2003, p.65), comenta que, no que se refere àquela
modalidade contábil, este princípio diz que se devem reconhecer os riscos relativos ao meio
ambiente que colocam em risco o patrimônio da entidade.
O Conselho Federal de Contabilidade - CFC, por meio da NBC T 15, estabeleceu os
procedimentos para a evidenciação de pormenores de natureza sócio-ambiental, para
demonstrar aos usuários a participação e a comprometimento das empresas com a sociedade.
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Segundo as instruções do parágrafo 15.1.2 da norma, as informações devem abranger a geração
e distribuição de riqueza, os recursos humanos e a interação da firma com a comunidade e o
meio ambiente. A NBC T 15 deixa claro que os registros sociais e ambientais podem ser de
natureza física, monetária ou qualitativa e, não necessariamente, provenientes da contabilidade.
Eles dizem ainda que os dados devem aparecer como informações complementares às
demonstrações contábeis e não como notas explicativas. Além disso, devem ser apresentados
precedidos das informações do ano anterior e auditados. Os procedimentos estabelecidos na
referida norma nada mais são do que a formulação de um balanço ambiental, que já é uma
ferramenta muito difundida e usada na Europa e nos Estados Unidos para evidenciação das
informações ambientais. (CFC, 2004)
No Brasil existem diversos trabalhos de conhecidos autores sobre o tema, porém, o
balanço social ainda não é obrigatório por lei. Mesmo assim, diversas grandes empresas, como,
por exemplo, a Petrobrás, a elaboram e disponibilizam.
3 Metodologia
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Gráfico 01– Licença ambiental
31%
Possui
Não possui
69%
Conforme descrito no gráfico 02, apenas 7% das indústrias afirmam ter feito estudo de
impacto ambiental antes da sua instalação. Como o IAP não exige essa análise para todo tipo
de empreendimento, 93% delas não se interessaram em fazê-lo
7%
Sim
Não
93%
Fonte: o autor (2011)
8
.
Gráfico 03 – Resíduos gerados
100%
81% 83% Reutilizados
80% Estocagem
Lixo comum
60%
Filtro, queima, etc.
40% 29%
17%
20%
0%
% de empresas
Apenas 17% das empresas dão um destino correto aos resíduos, conforme apresentado
no gráfico 19. A grande maioria (83%) ainda descarta todos os resíduos em lixo comum. Este
é um dado alarmante, pois as borras de solvente são prejudiciais ao meio ambiente.
Constata-se ainda a grande reutilização de materiais, sendo que 81% das instituições
afirmam reaproveitar alguma sobra da produção, que em sua maior parte são pedaços de chapas
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e fitas de PVC. O restante é imediatamente jogado no lixo ou estocado para outros tipos de
utilização.
100%
100%
Outras etapas da
80% produção
Outros fins
60%
36% Venda
40%
19%
Não reutilizados
20%
0%
0%
% de empresas
17%
Sim
7% É pretendido
Não é pretendido
76%
10
O gráfico 06 demonstra se as indústrias estão treinando devidamente seus funcionários
para descarte e reutilização dos subprodutos e resíduos. Tratando-se de treinamento em atitudes
ambientalmente sustentáveis, somente 17% das empresas afirmam estar disponibilizando isso
aos seus empregados. Apenas 7% dos empresários dizem se interessar por esse tipo de
qualificação.
17%
Sim
7% É pretendido
Não é pretendido
76%
0%
24%
Sim
Não
Não sabe
76%
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As instituições não estão organizando o seu Balanço Ambiental (gráfico 08). Com a
predominância de organizações que contratam serviços de escritórios contábeis, 76% declaram
não saber se ele é elaborado ou não, enquanto os 24% restantes dizem que não o fazem.
5%
Sim
Têm interesse
Não tem interesse
0%
95%
Fonte: o autor (2011)
5 Conclusão
Conclui-se através deste estudo que somente 7% das empresas fizeram estudo de
impacto ambiental, demonstrando que a maioria das empresas não está preocupada com a
questão ambiental. Contudo, percebe-se que 17% das empresas está treinando seus funcionários
e investindo em novas tecnologias para o descarte correto de resíduos, enquanto 7% das
empresas pretendem fazer. Isso mostra que pode haver melhorias nesse aspecto, sendo que uma
barreira pode ser a falta de informação ou de recursos financeiros.
Os principais resíduos gerados pelo setor moveleiro do município de Cascavel são:
aparas, pó, sobras de tiras de pvc, vapor de cola, serragem, borra de tinta, solventes orgânicos
contaminados. Mesmo sem se preocupar muito com o meio ambiente, os empreendimentos
adotam alguns métodos de sustentabilidade, como a reutilização de sobras e restos do processo
de produção. No entanto, somente uma pequena fração (17%) deles já emprega metodologias
mais avançadas de tratamento e diminuição dos detritos.
Investir em processos de produção sustentáveis é um diferencial de mercado que a
maioria das empresas não está explorando e, por esta causa, inevitavelmente estão perdendo
clientes para seus concorrentes que já desenvolvem projetos neste sentido. Afinal, o consumidor
atualmente está mais crítico e consciente quanto à necessidade de preservação do meio
ambiente.
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Percebe-se que nenhuma das empresas estudadas tira proveito das informações
contábeis em relação ao meio ambiente, já que 24% não elabora o balanço ambiental e 76%
nem sabe se o mesmo é feito. Como boa parcela dessas empresas utiliza serviços de escritório,
elas acabam simplesmente deixando o aspecto contábil de lado e não percebem sua importância
na gestão, chegando a um ponto em que os empresários simplesmente não sabem o que está
sendo feito em sua contabilidade.
Poucas empresas, apenas 5%, tem interesse em utilização das informações do balanço
ambiental. Se adotassem esses procedimentos, elas poderiam colher benefícios como a
diminuição de impostos e ter uma visão mais realista sobre os próprios processos.
Referências
GIL, Antônio C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1998.
GIL, Antônio C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
PAIVA, Paulo R. de. Contabilidade ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com
transparências e focada na prevenção. São Paulo: Atlas, 2003.
RIBEIRO, Maísa de S. Custeio das atividades da natureza ambiental. 1998. 165 f. Tese
(Contabilidade)-Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1998.
RICHARDSON, Roberto J.. Pesquisa social: métodos e técnicas. 2 ed. São Paulo: Atlas,
1989.
TINOCO, João E. P.; KRAEMER, Maria E. P.. Contabilidade e gestão ambiental. São
Paulo: Atlas, 2004.
TRENTIN, Marcelo G.; ADAMCZUK, Gilson; LIMA, José D. Análise de custos no setor
moveleiro: um estudo de caso em uma empresa produtora de componentes para móveis. In:
XXIX Encontro nacional de engenharia de produção. 2009, Salvador. Anais
eletrônicos...Salvador: ENEGEP 2009. Disponível em <
http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2009_TN_STO_091_615_13385.pdf>. Acesso
em: 04 jul. 2017.
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