No centésimo-octogésimo-terceiro dia do ano de 2018 eu estava acessando um sítio de
relacionamento. Por um momento esqueci que era o meu aniversário. Pois bem nesse intervalo recebi uma mensagem da minha tia Conceição. É, tia Conceição ganhou, chegou na frente dessa vez. Tão distante e com tanto carinho que fiz uma pausa para suspirar. Pois bem durante essa pausa ela veio para o meu lado. Estava até então em seu canto brincando, e quieta; ideou, planejou, projetou e executou. Veio para o meu lado com um saco, um saquinho para especificar, sem cor definida, preso com um fio, cabia na minha mão. Veio sem cerimônia, coisa de filha para pai: — Pai, aqui o seu presente! — Muito obrigado filha! Tomei de sua mão, beijei-a e agradeci. Voltei para a mensagem da tia. Agradeci. — Abre logo! Ah gente! Aí eu desmorono. Uma beleza infantil, feminina e filial. Foi o momento mais emocionante do dia. Agora ela passou na frente da tia. Era algo novo que ela queria viver, uma festa de aniversário particular, um tempo a sós. — Abre pai! Abre logo, seu presente! Abracei, beijei, tomei-a no colo, beijei de novo, respirei, dei beijo e cheiro ao mesmo tempo. Aconteceu. Um clarão na mente, uma retrospectiva da vida, uma dose de sei lá o quê na corrente sanguínea. Passam algumas letras na mente, letras que siglam palavras, que comportam ideias, que lembram experiências, que estão na memória de um homem de trinta anos. Mais tarde a Clea escreveu: Trintou! Mas só mais tarde. A filha chegou primeiro, excedeu por sua atitude, uma mensageira do Altíssimo. Minha vida! Eu estou com trinta anos de vida. O que eu fiz? O que eu disse que faria e não fiz? O que eu deveria ter feito? O que poderia ter feito melhor ou mais vezes? Quanto tempo perdido? Exagerei na ansiedade? Na hesitação? Medo de mudar? De encarar os desafios? O que pai disse para eu fazer? E mãe? E tia? É o giro que se passa quando uma filha usa de um gesto espontâneo, infantil, sem pressão, sem objetivo certo para um homem de trinta anos em um momento de reflexão. Tu já imaginaste uma reflexão sobre outra reflexão. Como seria isso? Um pensamento sobre outros pensamentos, algo para resumir uma vida. Foram poucos segundos acontecendo, mas com efeito suficiente para manter o sorriso durante todo o dia, rir de verdade, rir com pele, músculos e ossos. Rir com os olhos, orelhas; nariz ri? Não, nariz não ri, ele já participa do suspiro, manter o sorriso e produzir uma crônica. Maturidade. Paternidade. Família. Retrospectiva. Sou adulto, homem, pai. Esposo, líder, filho e sobrinho, adorador, estudante, trabalhador. Espírito, alma e corpo. Ai, preciso abrir! A Bárbara já pediu. Estavam no saquinho uns cinco objetos, peças de brinquedo. Lembro bem de um bloco de montagem verde, um par de botas vermelhas e um sapatinho de boneca. Algo sobre futuro e passado. Não lembro os demais. Durante o dia refleti muito sobre a vida. Pensei nos sonhos de criança, planos da adolescência e meditações da juventude. Quanta coisa para trás, tanto pelo tempo quanto pelo abandono mesmo. Sou um homem maduro agora, com vantagens e desvantagens. Resolvi que eu queria viver mais momentos como aquele e ainda escrever para amigos a qualquer hora dessas. Medo. Tu o vences com o tempo! Ele te livra de um perigo real, mas também pode bloquear seu potencial quando começa a te dominar. O medo não é para ser excluído, mas controlado. Ansiedade. Pode matar! Já afetou meu estômago, pele, olhos e dentes. Preocupar e planejar são outras coisas. Um passo de cada vez. E se faltar ânimo olha para o alvo, para onde queres chegar e de qual grande coisa estás participando. Fique nessa até estabilizar, entre esquerda e direita, que são visão geral, visão no horizonte e visão no próximo passo. Família. Não tentes substituir! É uma célula da sociedade, primeira instituição criada, escola para administradores. São as pessoas que mais precisam de nós e que mais sentem a nossa falta. Não tires tempo da família para o trabalho! Mudanças. Acontecem. Algumas para melhorar as coisas e outras para piorar. As mudanças acontecem. Tenha os seus valores bem explicados em seus pensamentos. As coisas nas quais você acredita, as coisas que são sustentáveis. Não abra mão da verdade e honestidade, ou uma hora alguém se machucará. A mentira e corrupção têm frutos amargos. Viva com os “filtros” chamados verdade, bondade e necessidade. Examina tudo! Retém o bem! Felicidade. “Compreendi que não há felicidade para o homem, a não ser alegrar-se e fazer o bem enquanto vive”. “Teme a Deus e obedece aos seus mandamentos; porque este é o propósito do homem”. Palavras inspiradas do Pregador. Minha filha me parabenizou na quarta-feira antes do dia dos pais. Desde a quarta-feira até o domingo e depois do domingo até, pelos meus cálculos, as primeiras campanhas para o dia das crianças. Essa é a minha filha. Um amor de menina. Uma mensageira do Altíssimo. O que ela fez valeu os trinta anos. Como o fruto pelo qual o lavrador trabalha e aguarda ansiosamente. Um abraço amigos e beijo no coração. Parabéns aos trintanários! Agora há pouco ela quis ouvir o Hino Nacional. É cada coisa! Deveria ter nascido no dia da independência, nem deixa eu escrever com uma boa concentração, mas já avisei que estou escrevendo um texto que ela possa ler e entender aos 8 anos. Há mais de um mês completei trinta anos e esta história é algo que eu quis registrar e enviar para alguns amigos.