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APOSTILA

ACONSELHADOR EM
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Título: Aconselhador em Dependência Química
Itego – Instituto Tecnológico de Anápolis - Go

Organizadores:

Lilian Raissa Batista de Carvalho

Muriel Romeiro da Costa e Silva

Moisés Augusto Ferreira Rodrigues

Gessika de Sousa Santos

Joyce Cristina Germano da Costa

Carla Massabki S. Araújo

Revisores:

Thiago Lima

Muriel Romeiro

Agradecimento: Aos autores responsáveis pelas obras que foram utilizadas neste material
didático, citadas nas referências.

Coordenadora Pedagógica
Eunice Maria Santiago

Direção:

Marla Correia da Silva


Sumário

1. DESENVOLVIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL E SAÚDE


COLETIVA ..................................................................................................................... 5
1.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 5
1.2. AUTOESTIMA ........................................................................................................................... 5
1.3. MOTIVAÇÃO ............................................................................................................................ 8
1.4. RELACIONAMENTO INTERPESSOAL ........................................................................................ 8
1.5. COMUNICAÇÃO NOS GRUPOS ................................................................................................. 9
1.6. TRABALHO EM EQUIPE ......................................................................................................... 12
1.7. ÉTICA PROFISSIONAL............................................................................................................ 16
1.8. SAÚDE COLETIVA .................................................................................................................. 18
1.8.1. REFORMA PSIQUIÁTRICA.................................................................................................. 19
1.8.2. HISTÓRICO DA REFORMA: (I) CRÍTICA DO MODELO HOSPITALOCÊNTRICO
(1978-1991) ....................................................................................................................................... 19
1.8.3. HISTÓRICO DA REFORMA: (II) COMEÇA A IMPLANTAÇÃO DA REDE EXTRA-
HOSPITALAR (1992-2000) ................................................................................................................. 20
1.8.4. A REFORMA PSIQUIÁTRICA DEPOIS DA LEI NACIONAL (2001 -2005) ............................. 20
1.8.5. PROCESSO DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO/REDUÇÃO DE LEITOS.................................... 21
2. TOXICOLOGIA, DEPENDÊNCIA QUÍMICA E COMORBIDADES ......................... 21
TIPOS DE DROGAS.............................................................................................................................. 22
2.1. ABORDAGEM HISTÓRICA DAS DROGAS NA HUMANIDADE .................................................... 24
2.2. CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS .............................................................................................. 27
2.3. AS PRINCIPAIS DROGAS, SUA CLASSIFICAÇÃO E SEUS EFEITOS NO ORGANISMO. ................ 28
2.3.1. DROGAS DEPRESSORAS DA ATIVIDADE MENTAL ............................................................ 28
2.3.2. DROGAS ESTIMULANTES DA ATIVIDADE MENTAL .......................................................... 31
2.3.3. DROGAS PERTURBADORAS DA ATIVIDADE MENTAL ....................................................... 35
2.4. CO-DEPENDÊNCIA ................................................................................................................. 43
3. POLÍTICA E NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO SOBRE DROGAS .................................... 48
3.1. POLÍTICA NACIONAL SOBRE DROGAS .................................................................................. 48
3.2. PRESSUPOSTOS DA POLÍTICA NACIONAL SOBRE DROGAS................................................... 49
3.3. OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL SOBRE DROGAS ......................................................... 50
3.4. PREVENÇÃO........................................................................................................................... 52
3.5. TRATAMENTO, RECUPERAÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL ...................................................... 53
DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL SOBRE O ÁLCOOL ................................................................ 62
4. TRATAMETO E PREVENÇÃO AO USO E ABUSO DE DROGAS ............................. 63
4.1. PREVENÇÃO........................................................................................................................... 68
4.2. GRUPO DE APOIO .................................................................................................................. 71
4.3. TRATAMENTO........................................................................................................................ 72
5. COMUNIDADES TERAPÊUTICAS ................................................................................ 75
5.1.1. CÓDIGO DE ÉTICA DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE COMUNIDADES
TERAPÊUTICAS. ................................................................................................................................. 77
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 81
1. DESENVOLVIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL E SAÚDE COLETIVA

1.1. Introdução
Atualmente o mercado de trabalho exige do profissional, competências, habilidades e
atitude. De tal modo, o desempenho assegura a empregabilidade por meio da aprendizagem.
• Conhecimento: um conceito, quando internalizado, o acúmulo de sabedoria por meio
de estudo formal, informal e bagagem de vida;
• Habilidade: é a capacidade de colocar em prática os conhecimentos acumulados;
• Atitude: é a vontade de fazer, ou, a iniciativa de transformar a capacidade em ação.
O CHA (conhecimento+ habilidade+ atitude) é o processo de construir novos
conceitos, resinificar outros, a fim de desenvolver uma competência.
Diante o problema da dependência química, a demanda de tratamento para esse
público tem aumentado significativamente. Essa necessidade de cuidados ao dependente
químico exige do profissional, qualificação, ética e que este consiga conciliar suas
competências técnicas ás suas características pessoais.
Entende-se que o aconselhador de dependente químico, estabelece um contato direto
com o paciente, constituindo o vínculo mais próximo entre paciente e instituição, assim
tornam-se necessários recursos formativos para a atuação desse profissional. O aconselhador
auxilia o paciente na integração ao grupo, readaptação à comunidade e orienta para que as
regras e normas sejam absorvidas e colocadas em prática.
Portanto, é de extrema importância incentivar e estimular esses profissionais a se
qualificarem, para que os mesmos possam desenvolver competências, compreender, respeitar,
e cuidar do usuário em tratamento.
Se você quiser obter melhores resultados em qualquer área de sua vida, você deve
dedicar-se ao aprendizado e crescimento. O Desenvolvimento Pessoal e Profissional está ao
seu alcance. Lembre-se: quanto mais você aprende, mais você ganha.

1.2. Autoestima
Autoestima é a percepção que o sujeito tem de si mesmo, o sentimento prazeroso de
afeto, ou desagradável de repulsa, que acompanha a valorização que fazemos de nós próprios.
É o modo como nos sentimos em relação a nós mesmos, o quanto aprendemos a nos amar,
apreciar e nos valorizar. A capacidade de a pessoa confiar em si mesmo. De sentir-se capaz, de
enfrentar os desafios. É um sentimento desenvolvido durante a vida. A autoestima é o que
sentimos sobre o que somos ou imaginamos que somos. É a visão íntima que cada um tem de
si mesmo, é o julgamento que cada um faz sobre sua capacidade de lidar com os desafios da
vida (entender e dominar os problemas) e sobre o direito de ser feliz (respeitar e defender seus
interesses e necessidades). Traduz-se, portanto, no sentimento de competência pessoal e de
valor pessoal, como produto da autoconfiança e do autor respeito.
Para melhorar a autoestima é preciso desenvolver as seguintes questões:
• Autoconhecimento: é conhecer as partes que compõem o eu, quais são suas
manifestações, necessidades e habilidades. É conhecer o porquê e como atua e sente a pessoa.
Ao conhecer todos os seus elementos, que logicamente não funcionam separadamente, mas
que se entrelaçam para se apoiarem um no outro.
• Autoconceito: é uma série de crenças sobre si mesmo, que se manifesta na conduta,
ou seja, o individuo atuará como acredita ser.
• Auto avaliação: reflete a capacidade interna de avaliar as coisas como sendo boas, se
lhe fazem sentir bem e lhe permitem crescer e aprender; e considerá-las como más se lhe
trazem dano e não lhe permitem crescer.
• Auto aceitação: é admitir e reconhecer todas as partes de si mesmo como um fato,
como a forma de ser e sentir, já que somente através da aceitação se pode transformar o que é
suscetível de ser transformado.
• Auto- respeito: é se respeitar, é buscar e valorizar tudo aquilo que o faça sentir-se
orgulhoso de si próprio, é atender e satisfazer as próprias necessidades e valores. É expressar e
manejar de forma conveniente sentimentos e emoções, sem provocar danos, nem culpar-se.
Se uma pessoa se conhece e está consciente de suas mudanças, cria sua própria escala
de valores e desenvolve suas capacidades, e se aceita e respeita, terá uma autoestima sadia. Do
contrário se uma pessoa não se conhece, tem um conceito pobre de si mesma, não se aceita
nem respeita, então terá uma baixa autoestima.
A autoestima, juntamente com o amor-próprio, é a base para o ser humano. É a cura
para todas as dificuldades e sofrimentos. E mais, é a cura para todas as doenças de origem
emocional e relações destrutivas. Por outro lado, a autoestima baixa gera ansiedade, medo,
depressão, fobias, enfim, uma série de outros problemas. Ela influencia tudo que fazemos, pois
é o resultado de tudo que acreditamos ser.
A autoestima está no âmago de todos os relacionamentos humanos e da produtividade
nas organizações. Por exemplo, as dificuldades no trabalho em equipe surgem da rigidez e
atitudes defensivas derivadas não das diferenças entre as pessoas, mas da baixa autoestima e
do medo da exposição; a resolução de conflitos também está relacionado à disposição para o
confronto direto e aberto das pessoas; a resolução de problemas fica comprometida e
bloqueada quando as pessoas sentem-se vulneráveis por se exporem; a liderança baseia-se na
autoconsciência que, por sua vez, exige uma autoestima forte o bastante para reconhecer os
seus pontos fracos e se sentir à vontade para se deixar conhecer pelos outros; a avaliação do
desempenho tem sucesso na medida em que cada pessoa se sente reconhecida por seus pontos
fortes e fracos e por quem é e está disposto a deixar de culpar os outros pelos problemas; a
diversidade pode ser comemorada quando se eliminam as ameaças e as competições entre os
grupos ―diferentes‖. Quanto maior a nossa autoestima, maior a possibilidade de sermos
criativos no trabalho, e maior a expectativa de se obter sucesso.
Nesse sentido, quando temos uma autoestima elevada, trabalhamos melhor em equipe,
resolvemos de forma mais assertiva os problemas e os conflitos, lideramos melhor nossas
equipes, avaliamos melhor nosso desempenho, participamos de forma mais efetiva nas ações
em que apostamos e acreditamos e lidamos melhor com as demais pessoas.
A autoestima será baixa (negativa) quando não gostamos do que vemos em nós.
Portanto, a pessoa sente-se:

• Errada; • Triste; • Inadequada à vida; • Insegura; • Não gosta de si.


Quando o indivíduo tem uma autoestima baixa, ele pode procurar esconder-se sendo
tímido, reservado, pessimista ou poderá desenvolver uma atitude de altivez, orgulho e até de
soberba buscando disfarçar de si e dos outros o sentimento de inferioridade.
Muitos utilizam disfarces de autoestima negativa (baixa), tentando parecer fortes,
independentes, individualistas, com dificuldade de expressar sentimentos; tentam mostrar que
são capazes de superar quaisquer obstáculos; são críticos e grosseiros com os outros usando a
tática popular "a melhor defesa é o ataque".

Para elevar a autoestima é preciso:


• Manter-se em boa forma física (gostar da imagem refletida no espelho);
• Identificar as qualidades pessoais e não só os defeitos;
• Aprender com a experiência passada;
• Tratar-se com amor e carinho;
• Ouvir a intuição (o que aumenta a autoconfiança);
• Manter diálogo interno positivo;
• Acreditar que merece ser amado (a) e é especial;
• Fazer todo dia algo que o deixe feliz. Pode ser coisas simples como dançar, ler,
descansar, ouvir música, caminhar.

Resultados da autoestima elevada:


• Mais liberdade para oferecer e receber elogios, expressões de afeto;
• Sentimentos de ansiedade e insegurança diminuem;
• Harmonia entre o que sente e o que diz;
• Menor necessidade de aprovação;
• Maior flexibilidade aos fatos;
• Autoconfiança elevada;
• Mais amor-próprio;
• Satisfação pessoal;
• Melhor desempenho profissional;
• Relações saudáveis;
• Paz interior.

1.3. Motivação
A palavra motivação é utilizada com diferentes significados. Pode-se falar em
motivação para estudar, ganhar dinheiro, viajar entre outros. A motivação indica as causas ou
motivos que produzem determinado comportamento, seja ele qual for. É um conjunto de
fatores circunstanciais e dinâmicos que determina a conduta do individuo, sendo de
importância decisiva no desenvolvimento do ser humano. É o resultado da interação do sujeito
com a situação. A motivação refere-se ao desejo de adquirir ou alcançar algum objetivo, ou
seja, resulta dos desejos das necessidades ou das vontades. Portanto constitui o motivo para
ação, ou seja, o que leva um indivíduo a agir nos campos do comportamento humano. Pode-se
afirmar que é um elo entre o objetivo e a ação. Motivação geralmente é descrita como um
estado interior que induz uma pessoa a assumir determinados tipos de comportamento.
A motivação é o processo responsável pela intensidade, direção e persistência dos
esforços de uma pessoa para o alcance de uma determinada meta. A direção refere-se á
escolha de comportamentos específicos dentro de uma série de comportamentos possíveis; por
exemplo, um funcionário pode decidir ir ao trabalho em um determinado dia, em vez de ligar
para a empresa e dizer que está doente e fazer alguma outra coisa como compras ou visitar um
amigo. A intensidade se refere ao esforço que o indivíduo empenha na realização de uma
tarefa. Se a um funcionário é dada a tarefa de varrer o chão, ele pode empenhar um grande
esforço varrendo com força e rapidamente ou não querer se esforçar, varrendo vagorosamente.
A persistência diz respeito ao contínuo engajamento em um determinado tipo de
comportamento ao longo tempo. Os funcionários podem fazer horas extras para concluir
tarefas que eles estejam motivados a completar. Há diversas teorias que explicam a motivação,
dentre elas a mais conhecida é a das necessidades, do psicólogo Abraham Maslow.

Teoria da hierarquia das necessidades


Segundo o autor, dentro de cada ser humano existe uma hierarquia de necessidades
que são elas:
1- Fisiológicas: São necessidades básicas que constituem a sobrevivência do indivíduo e
preservação da espécie, como: fome, sede, abrigo, sexo, sono, etc.
2- Segurança: Constituem a busca de proteção contra a ameaça ou privação, a fuga e o
perigo. Exemplos: emprego, salário, saúde, propriedade, família, etc.
3- Sociais: incluem afeição, aceitação, amizade, e sensação de pertencer a um grupo.
4- Estima: Envolve a auto apreciação, a autoconfiança, respeito, status, consideração,
confiança, inclui-se também as necessidades de autoestima, etc.
5- Auto realização: São as mais elevadas, de cada pessoa realizar o seu próprio potencial e
de autodesenvolver-se continuamente, ou seja, quando uma necessidade for satisfeita, o ser
humano terá necessidade da próxima.
Essa teoria é apenas uma das várias que são reconhecidas teoricamente e que podem
esclarecer como a motivação pode desenvolver-se em cada indivíduo.

1.4. Relacionamento Interpessoal


―O bem-estar de cada pessoa é o resultado da soma de esforços pelo bem comum‘‘.
(MUSSAK,2006)
O homem encontra-se em constante interação com o seu meio e para isso se utiliza da
comunicação. O meio para qualquer indivíduo crescer e aprender, é o relacionamento consigo
mesmo (intrapessoal) e com as pessoas ao redor (interpessoal).
Relacionamento Interpessoal é forma que você se relaciona com os outros indivíduos,
ou seja, frequência social entre as pessoas. Relacionar-se é o meio para você compreender as
necessidades e os desejos dos outros; é sintonia, empatia e oportunidade de trocar experiências
com o outro.
No mundo do trabalho, o sucesso depende em grande medida, da capacidade dos
indivíduos em cooperar uns com os outros. Geralmente as pessoas passam em média entre 8 e
10 horas trabalhando, o ambiente de trabalho reflete na grande maioria das relações
interpessoais de um profissional. Se for refletir de maneira positiva ou negativa, vai depender
de como esta pessoa se relaciona no trabalho.
O Ser Humano vem a milhares de anos tentando compreender a si próprio e quando
encontra alguém que o compreenda se abre para um relacionamento com o foco no
aprendizado e no desenvolvimento contínuo.
Segundo Dom Elder Câmara ―passamos a maior parte de nosso tempo procurando
consertar situações conflituosas criadas por inabilidade de relacionamento‘‘

Dicas para Estimular um Bom Relacionamento Interpessoal


• Desenvolver espírito de cooperação e trabalho em equipe.
• Manter um canal de comunicação aberto com a equipe como forma de minimizar
tensões e fantasias acerca dos relacionamentos.
• Facilitar o feedback.
• Ter bom relacionamento intrapessoal.
• Capacidade de Auto Avaliação.

1.5. Comunicação nos Grupos


―Se sua boca permanece em silêncio, falarão as pontas de seus dedos...‖
S. Freud (caso Dora).
O homem é um ser privilegiado. Através da palavra escrita ou verbal, pode expressar
os seus sentimentos, mudar a sua realidade e o mundo ao seu redor.
O processo de comunicação consiste em transmitir uma mensagem e esta deve ser
compreendida. Nesse sentido, a competência em comunicação interpessoal pode ser
desenvolvida e constitui ferramenta importante em nossa vida.

O Processo de Comunicação
Este processo possui algumas etapas, de um lado existe o emissor, que envia uma
mensagem (usando um meio e um código), e do outro, o receptor, quem recebe e da sentido a
esse conteúdo.
Emissor: quem emite uma mensagem.
Receptor: quem recebe a mensagem.
Mensagem: é o conteúdo propriamente dito.
Código: é a forma escolhida para representar a mensagem.
Meio: é o veículo utilizado para transmitir a mensagem
Feedback: é o retorno do receptor mediante compreensão da mensagem.

Ruídos de Comunicação
Como você pode perceber, o processo de comunicação possui algumas etapas, e estas
podem sofrer algumas interferências ao serem emitidas. Esses entraves são chamamos de
ruídos, ou seja, qualquer fator que possa impedir ou dificultar a comunicação. Tanto o emissor
quanto o receptor podem contribuir para esses ruídos.
Essa confusão se da muitas vezes por motivos simples, uma vírgula por exemplo, pode
fazer a diferença.
Dizem que Napoleão Bonaparte, no campo de batalha, recebeu um comandante de
infantaria, para saber como proceder com um soldado insubordinado: Fuzila ou não? Napoleão
rapidamente a sentença e despachou ao comandante. Ao ler o papel se deparou com a seguinte
mensagem:
O que aconteceu com o soldado? Foi fuzilado ou não? Este exemplo mostra com um
processo de comunicação pode ser complexo.
Para ter comunicação eficaz é necessário superar os ruídos. Já que cada pessoa pode
ter uma percepção da mensagem recebida. Para evitar essas barreiras, é fundamental saber
escolher o meio mais adequado para enviar a mensagem, algumas perguntas facilitam nesse
momento.
• Que mensagem eu quero passar?
• Que código e veículo utilizar?
• Quem é meu público?
Uma mensagem alinhada ao seu público é uma forma iniciar bem um processo de
comunicação.

Princípios da Boa Comunicação


O ser humano também se comunica através da linguagem e da expressão corporal. Por
isso deve se preocupar com sua postura, gestos, olhares, linguagem.
A boa comunicação consiste em mensagens claras, que concorrem para que as pessoas
trabalhem produtivamente e de forma harmoniosa, sem incompreensões e "interpretações
equivocadas". Sua comunicação deve ser clara, "limpa". Evite dizer uma coisa e demonstrar
outra. A mensagem que você transmite com palavras (verbal) deve ser a mesma que você
transmite com gestos e com o seu modo de falar (não verbal).
A sua comunicação é boa e traz efeito quando: O que você vê e o que está ali, é o que
você escuta, é o que se quis dizer. Os recursos auxiliares da linguagem são tão importantes na
transmissão de mensagens, que podem modificar completamente o sentido das palavras.
Requisitos indispensáveis à comunicação:
• Perspicácia: medir suas opiniões e não falar demais.
• Prudência: não fazer confidências para conseguir intimidades com pessoas
desconhecidas.
• Tato: não discutir. Trocar ideias, com moderação, evitando chegar a extremos. Não
impor suas ideias e querer que os outros pensem como você.
•Atenção: não esquecer os nomes, títulos e fisionomias das pessoas que nos são
apresentadas.

As Formas de Comunicação
Linguagem verbal: consiste na combinação de palavras que tem significado. Esta
combinação de palavras pode ser feita através da:
• Linguagem falada ou oral: quando a combinação de palavras é expressa pela voz.
• Linguagem escrita: quando a combinação de palavras é expressa por símbolos
gráficos.
Para a linguagem verbal ser eficiente na transmissão de mensagens é necessário que o
emissor (aquele que transmite a mensagem) utilize palavras cujo significado seja entendido
por ele e pelo receptor (aquele que recebe a mensagem).
Linguagem não verbal: Gestos e expressões corporais. Outra forma de linguagem é a
pintura. Podem-se transmitir muitas coisas através das cores, formas, do movimento, enfim, da
linguagem pictórica. A dança e a escultura são, também, (formas de se transmitir ideias, de
comunicar-se).
Da mesma forma, o corpo também tem sua própria linguagem e fala através da
expressão facial e dos gestos, muito importantes na comunicação. Quando estamos com sono
bocejamos. Quando estamos com pressa, consultamos insistentemente o relógio. E assim por
diante.
Civilidade e sinceridade devem estar patentes sempre que você se dirigir a outra pessoa.
Enquanto conversa, não cruze os braços para não passar uma impressão de que está na
defensiva. Não permita que seus nervos o traiam com pequenos gestos. Não contorça as
pernas, não fique balançando o pé, não passe a mão insistentemente no rosto ou nos cabelos,
nem fique conferindo objetos que esteja usando. A linguagem não-verbal pode valer mais que
mil palavras e garantir a você o respeito e a simpatia de chefes, colegas e subordinados.
Não saber ouvir, é um defeito gravíssimo.
Saber ouvir é tão importante quanto saber falar. Na realidade, basta ouvirmos
atentamente quem nos fala, para nos tornarmos pessoas interessantes, simpáticas, bem vistas,
bem relacionadas. Em etiqueta, a linguagem social deve ser: respeitosa; correta; clara;
objetiva; nunca vulgar. É preciso que nos façamos entender quando falamos com exatidão e
presteza.

Observar:
• A fisionomia: O que pensaria você sobre uma pessoa que estivesse constantemente
carrancuda, sobrancelhas erguidas, a apertar os olhos ou a entortar a boca, ou ainda a fazer
"muchochos"? Essas mímicas são expressões negativas que devem ser eliminadas, pois podem
dificultar ou até mesmo eliminar seu encanto pessoal. Uma pessoa com essas características é
geralmente invadida por sentimentos pessimistas e produz mal-estar com a sua presença.
•Voz: Uma boa voz ajuda a construir uma boa imagem. A voz revela muito sobre a
personalidade. Uma voz equilibrada é sinal de uma personalidade ajustada. O tom da voz não
deve ser baixo que mal se ouça, nem alto a ponto de incomodar os ouvidos.
• Vocabulário: Pior do que uma voz ruim é a pobreza do vocabulário, o vazio intelectual
e os vícios de linguagem. Assim como o uso exagerado de gírias, frases feitas ou de
expressões acadêmicas deixam a personalidade vulnerável.

Linguagem Corporal
Analisemos agora como a linguagem corporal interfere e ajuda nesse relacionamento.
Reflita sobre as seguintes questões:
1. Você acha que pernas ou braços cruzados podem expressar o estado de espírito de
alguém?
2. Você acha que podemos dar uma pista de nossos sentimentos pelo modo como
mantemos nossas pernas ao sentar?
Como acontece com todos os sinais corporais, não existe uma resposta ―sim‖ ou ―não‖.
Segundo Julius Fast, em seu livro ―Body Language‖: ―Pernas cruzadas ou paralelas podem ser
uma pista do que a pessoa está sentindo, de seu estado emocional no momento, mas eles
podem também não ter significado algum‖.
Portanto, antes de julgar, um bom observador analisa os indícios dentro de um contexto
maior e não só em gestos isolados.

1.6. Trabalho em Equipe


Não há dúvidas de que a habilidade no trato com as pessoas é determinante para a
qualidade de vida. Saber relacionar-se com o outro ajuda a resolver boa parte dos problemas
de ordem pessoal e, na verdade, facilita muito a vida em sociedade.
No que se refere às relações de trabalho, hoje em dia também é imprescindível que o
profissional saiba manter qualidade nas relações interpessoais com os colegas de todos os
setores da empresa, com os superiores hierárquicos e, claro, com os clientes externos.
Tanto é assim, que muitas empresas já estão procurando formar seus quadros com
profissionais competentes, mas cooperativos, isto é, profissionais tecnicamente qualificados,
mas que estejam acima de tudo dispostos a colaborar com a equipe de trabalho. Hoje o
mercado valoriza os profissionais que se mostram capazes de resolver problemas através do
diálogo.
Saber se comunicar, negociar no grupo, apresentar as próprias ideias, dialogar, ser
curioso, saber ouvir, valorizar a opinião dos membros do grupo e perceber como a diversidade
de visões sobre um mesmo problema enriquece uma discussão são atributos indispensáveis
para o processo do trabalho em equipe.
Grupo x Equipe
Grupos e equipes não são as mesmas coisas. Podemos conceituar como grupo um
ajuntamento de pessoas que interage basicamente para compartilhar informações e tomar
decisões, a fim de ajudar cada membro com seu desempenho em sua área de responsabilidade.
Assim seu desempenho é exatamente a somatória das contribuições individuais de seus
membros.
Equipe, por definição, é um grupo de pessoas com objetivos comuns onde os esforços
individuais resultam em um nível de desempenho maior do que a soma das entradas
individuais. A equipe gera uma sinergia positiva por meio do esforço coordenado e constitui-
se somente quando todos trabalham a favor de um mesmo objetivo.
Assim, é diferente trabalhar com um grupo e trabalhar com uma equipe. Uma equipe
sempre é mais produtiva e gera mais qualidade de vida na empresa, notadamente de seus
componentes.
Compondo Equipes de Sucesso
Para funcionar de forma eficaz, uma equipe precisa de três tipos de diferentes
capacidades:
• Conhecimento Técnico;
• Habilidades de Resolução de Problemas, Solução de Conflitos e Tomada de Decisão;
• Habilidades para Ouvir e Dar Feedback.
Nenhuma equipe chega ao melhor do seu potencial se não desenvolver essas três
habilidades em conjunto.
A Composição da Equipe
Quanto à composição, há alguns fatores que se levados em conta implicarão um maior
rendimento da equipe. São eles:
• Flexibilidade dos membros: As equipes formadas por indivíduos flexíveis possuem
membros que podem completar as tarefas uns dos outros. Esse é um diferencial obviamente
positivo, pois, a seleção de membros que valorizem a flexibilidade e que são capazes de
realizar as tarefas uns dos outros podem certamente levar a equipe a um melhor desempenho.
• Preferências dos membros: Nem todo o funcionário é um membro potencial de equipe.
Se for dada a opção, muitos funcionários preferirão ficar fora das equipes. Por isso, ao
selecionar membros para uma equipe é altamente recomendado que as preferências individuais
sejam respeitadas.
• Tamanho das equipes: Segundo pesquisas, equipes eficazes são formadas por não
menos que quatro pessoas e não mais que 12. Se a equipe é muito pequena a diversidade de
pontos de vista fica limitada, no entanto se o número de membros ultrapassa o número de dez
pessoas, a interação e o acordo tornam-se inviáveis. Um número elevado de indivíduos não
consegue alcançar a coesão, o comprometimento e a responsabilidade mútua necessária para a
obtenção de um alto desempenho.

O contexto
Os fatores contextuais estão significativamente relacionados com o desempenho da
equipe, uma boa liderança e a disponibilidade de recursos adequados são alguns dos itens que
podem contribuir positivamente no desempenho da equipe.
• Recursos adequados: Toda equipe é parte de um sistema organizacional maior, dessa
forma todas as equipes de trabalho dependem de recursos externos para sua sustentação. A
escassez de recursos implica diretamente na redução de sua eficácia.
• Liderança e estrutura: Os membros precisam chegar a um acordo quanto à divisão de
tarefas e assegurar que todos contribuam igualmente nesse arranjo, além disso, um
cronograma precisa ser estabelecido e um líder formal deve ser nomeado em conjunto por
todos os membros da equipe.

Vantagens do Trabalho em Equipe


• Melhor aproveitamento das informações. A livre discussão em equipe e a comparação
das percepções permitem redução de subjetividades, aumenta o nível de franqueza e respeito
mútuo.
• Redução de ansiedade nas situações de incerteza através do apoio mútuo e a certeza de
que outros no grupo também têm a mesma ansiedade.
• Maior geração de ideias. Maior variedade de soluções, soluções mais elaboradas são
encontradas em equipes.
• Interpretação mais flexível de fatos e situações. Diversas pessoas com pensamentos nem
sempre totalmente iguais poderão alcançar uma composição melhor de entendimento de fatos
e situações.
• Maior probabilidade de evitar erros de julgamento. A participação de diferentes
formas de enxergar situações dará mais flexibilidade no julgamento.
• Simplificação de supervisão. Com objetivos e metas bem definidos, equipes tornam
mais fáceis à supervisão.
• Simplificação das comunicações interpessoais. Embora possam estar em unidades
organizacionais distintas, até mesmo fisicamente separadas, as comunicações entre as pessoas
se tornam mais fáceis, menos presas a regras da burocracia da comunicação formal.
• Fidelidade às decisões tomadas. As decisões tomadas em equipe são mais respeitadas
que as tomadas individualmente.
• Melhor aproveitamento das potencialidades individuais. A partir da integração e
conhecimento mútuo dos elementos da equipe será possível a melhor utilização das
capacidades/potencialidades e neutralização dos pontos fracos.
• Mais chance de sucesso para ações complexas. As ações conduzidas por grupos mais
harmônicos têm mais chances de sucesso.

Dez Ótimas Dicas para o Trabalho em Equipe


1. Seja paciente. Nem sempre é fácil conciliar opiniões diversas, afinal "cada cabeça
uma sentença". Por isso é importante que seja paciente. Procure expor os seus pontos de vista
com moderação e procure ouvir o que os outros têm a dizer. Respeite sempre os outros,
mesmo que não esteja de acordo com as suas opiniões.
2. Aceite as ideias dos outros. Às vezes é difícil aceitar ideias novas ou admitir que não
tenha razão; mas é importante saber reconhecer que a ideia de um colega pode ser melhor do
que a nossa. Afinal de contas, mais importante do que o nosso orgulho, é o objetivo comum
que o grupo pretende alcançar.
3. Não critique destrutivamente os colegas. Às vezes podem surgir conflitos entre os
colegas de grupo; é muito importante não deixar que isso interfira no trabalho em equipe.
Avalie as ideias do colega, independentemente daquilo que achar dele. Critique as ideias,
nunca a pessoa.
4. Saiba dividir. Ao trabalhar em equipe, é importante dividir tarefas. Não parta do
princípio que é o único que pode e sabe realizar uma determinada tarefa. Compartilhar
responsabilidades e informação é fundamental.
5. Trabalhe. Não é por trabalhar em equipe que deve esquecer suas obrigações. Dividir
tarefas é uma coisa, deixar de trabalhar é outra completamente diferente.
6. Seja participativo e solidário. Procure dar o seu melhor e procure ajudar os seus
colegas, sempre que seja necessário. Da mesma forma, não deverá sentir-se constrangido
quando necessitar pedir ajuda.
7. Dialogue. Ao sentir-se desconfortável com alguma situação ou função que lhe tenha sido
atribuída, é importante que explique o problema, para que seja possível alcançar uma solução
de compromisso, que agrade a todos.
8. Planeje. Quando várias pessoas trabalham em conjunto, é natural que surja uma
tendência para se dispersarem; o planejamento e a organização são ferramentas importantes
para que o trabalho em equipe seja eficiente e eficaz. É importante fazer o balanço entre as
metas a que o grupo se propôs e o que conseguiu alcançar no tempo previsto.
9. Evite cair no "pensamento de grupo". Quando todas as barreiras já foram
ultrapassadas, e um grupo é muito coeso e homogêneo, existe a possibilidade de se tornar
resistente a mudanças e a opiniões discordantes. É importante que o grupo ouça opiniões
externas e que aceite a ideia de que pode errar.
10. Aproveite o trabalho em equipe. Afinal o trabalho de equipe, acaba por ser uma
oportunidade de conviver mais perto de seus colegas, e também de aprender com eles.

1.7. Ética Profissional


A ética é um conjunto de regras, princípios ou maneira de pensar e expressar.
A palavra ética é originada do grego ethos (modo de ser, caráter) através do latim mos
ou no plural mores (costumes, de onde se derivou a palavra moral). Em Filosofia, ética
significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade, e seu estudo contribui para
estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo-sociedade.
Ser ético nada mais é do que agir direito, proceder bem sem prejudicar os outros. É ser
altruísta, estar tranquilo com a consciência pessoal. É cumprir com os valores da sociedade em
que vive, onde mora, trabalha, estuda etc.
Ética é tudo que envolve integridade, é ser honesto em qualquer situação, é ter coragem
para assumir seus erros e decisões, ser tolerante e flexível, ser humilde.
Todo ser ético reflete sobre suas ações, pensa se fez o bem ou mal para o seu próximo.
É ter a consciência limpa.
Muitos autores definem a ética profissional como sendo um conjunto de normas de
conduta que deverão ser postas em prática no exercício de qualquer profissão. Seria a ação
"reguladora" da ética agindo no desempenho das profissões, fazendo com que o profissional
respeite seu semelhante quando no exercício da sua profissão. A ética profissional estudaria e
regularia o relacionamento do profissional com sua clientela, visando à dignidade humana e a
construção do bem-estar no contexto sociocultural onde exerce sua profissão. Ela atinge todas
as profissões e quando falamos de ética profissional estamos nos referindo ao caráter
normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão a partir de estatutos e códigos
específicos. Assim temos a ética médica, do advogado, do biólogo, do psicólogo, etc.
Acontece que, em geral, as profissões apresentam a ética firmada em questões muito
relevantes que ultrapassam o campo profissional em si. Questões como o aborto, pena de
morte, sequestros, eutanásia, AIDS, por exemplo, são questões morais que se apresentam
como problemas éticos - porque pedem uma reflexão profunda - e, um profissional, ao se
debruçar sobre elas, não o faz apenas como tal, mas como um pensador, um "filósofo da
ciência", ou seja, da profissão que exerce. Desta forma, a reflexão ética entra na moralidade de
qualquer atividade profissional humana. Sendo a ética inerente à vida humana, sua
importância é bastante evidenciada na vida profissional, porque cada profissional tem
responsabilidades individuais e responsabilidades sociais, pois envolvem pessoas que dela se
beneficiam. A ética é ainda indispensável ao profissional, porque na ação humana "o fazer" e
"o agir" estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo
profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do
profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão.

Como é Ser um Profissional Ético


Ser um profissional ético nada mais é do que ser profissional mesmo nos momentos
mais inoportunos. Para ser uma pessoa ética, devemos seguir um conjunto de valores. Ser
ético é proceder sem prejudicar os outros, algumas das características básicas de como ser um
profissional ético é ser bom, correto, justo e adequado. Além de ser individual, qualquer
decisão ética tem por trás valores fundamentais:
• Ser honesto em qualquer situação – é a virtude dos negócios.
• Ter coragem para assumir as decisões – mesmo que seja contra a opinião alheia.
• Ser tolerante e flexível – primeiro conhecer para depois analisar as pessoas.
• Ser íntegro – agir de acordo com seus princípios.
• Ser humilde – só assim conseguimos reconhecer o sucesso individual.
―Vigie seus pensamentos, porque eles se tornarão palavras; vigie suas palavras, porque elas se
tornarão atos; vigie seus atos porque eles se tornarão seus hábitos; vigie seus hábitos porque
eles se tornarão seu caráter; vigie seu caráter, porque ele decidirá seu destino.‖ (Poeta anônimo
americano).

Código de Ética Profissional


Cabe sempre, quando se fala em virtudes profissionais, mencionarmos a existência dos
códigos de ética profissional. As relações de valor que existem entre o ideal moral traçado e os
diversos campos da conduta humana podem ser reunidos em um instrumento regulador. É uma
espécie de contrato de classe e os órgãos de fiscalização do exercício da profissão passam a
controlar a execução de tal peça magna. Tudo deriva, pois, de critérios de condutas de um
indivíduo perante seu grupo e o todo social. Tem como base as virtudes que devem ser
exigíveis e respeitadas no exercício da profissão, abrangendo o relacionamento com usuários,
colegas de profissão, classe e sociedade.
O interesse no cumprimento do aludido código passa, entretanto a ser de todos. O
exercício de uma virtude obrigatória torna-se exigível de cada profissional, como se uma lei
fosse, mas com proveito geral. Cria-se a necessidade de uma mentalidade ética e de uma
educação pertinente que conduza à vontade de agir, de acordo com o estabelecido. Essa
disciplina da atividade é antiga, já encontrada nas provas históricas mais remotas, e é uma
tendência natural na vida das comunidades. É inequívoco que o ser tenha sua
individualidade, sua forma de realizar seu trabalho, mas também é o que uma norma
comportamental deve reger a prática profissional no que concerne a sua conduta, em relação a
seus semelhantes.
Toda comunidade possui elementos qualificados e alguns que transgridem a prática das
virtudes; seria utópico admitir uniformidade de conduta. A disciplina, entretanto, através de
um contrato de atitudes, de deveres, de estados de consciência, e que deve formar um código
de ética, tem sido a solução, notadamente nas classes profissionais que são egressas de cursos
universitários (contadores, médicos, advogados, etc.) Uma ordem deve existir para que se
consiga eliminar conflitos e especialmente evitar que se macule o bom nome e o conceito
social de uma categoria. Se muitos exercem a mesma profissão, é preciso que uma disciplina
de conduta ocorra.

1.8. Saúde Coletiva


Saúde coletiva são as técnicas e os conhecimentos usados para intervir nos problemas e
situações relacionados à saúde da população em geral ou de determinado grupo, com o
objetivo de promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Enquanto campo de saber a
saúde coletiva contribui com o estudo do fenômeno saúde/doença em populações, enquanto
processo social; investiga a produção e distribuição das doenças na sociedade, como processos
de produção e reprodução social; analisa as práticas sociais; enfim procura compreender as
formas em que a sociedade identifica suas necessidades e problemas de saúde, busca sua
explicação e se organiza para enfrentá-los.
O modelo teórico-conceitual da Saúde Coletiva surge no Brasil na década de 1970. A
Saúde Coletiva abrange nos dias atuais, um conjunto articulado de práticas e técnicas,
científicas, culturais, ideológicas, politicas e econômicas que se desenvolvem no âmbito da
academia, das instituições de saúde. É um campo científico e um âmbito de práticas,
contribuindo com a Reforma Sanitária Brasileira mediante produção de conhecimentos e sua
socialização junto aos movimentos sociais.
A Saúde Coletiva, nos seus primórdios afirma a historicidade do social na determinação
da saúde da população compreendendo que a saúde e doença são elementos polares de um
processo que resulta da interação do homem consigo mesmo e com os outros homens na
sociedade.
A Constituição de 1988 e a Lei Orgânica 8.080/90, afirma que a saúde é um direito
fundamental do ser humano devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu
pleno exercício através de políticas sociais e econômicas. Estas políticas devem garantir entre
outros: a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o transporte, o
trabalho e o lazer a todos os brasileiros.
Dessa forma, a saúde coletiva insere o debate a respeito do campo da saúde no plano
das políticas sociais, aproximando-o as ideias de cidadania e democracia ao consolidar seus
compromissos com a universalidade e equidade.
Na década de 1980 a Saúde Coletiva priorizou três tipos de práticas sociais: a) a teórica,
com a finalidade de construir um saber; b) a ideológica, em que procurou criar uma
consciência sanitária como parte da consciência social; e c) a prática política, que teve como
propósito a transformação das relações sociais. Nesta época reorganizar o Estado e reformar o
sistema de saúde redefinindo os seus mecanismos de gestão constituíram as principais linhas
estratégicas da Saúde Coletiva. Além de procurar garantir o provimento de serviços
assistenciais, este projeto prioriza intervenções sobre a esfera da macropolítica tendo por
objetivo intervir nas condições sociais que produzem doença. Na Saúde Coletiva, o objeto não
é mais o corpo biológico, mas os corpos sociais. O conceito saúde-doença da saúde coletiva
tem base na determinação social do processo saúde-doença, diferente da saúde pública que se
baseia na causalidade.
Para facilitar a aprendizagem e possibilitar uma visão ampla do universo de trabalho,
apresentamos, concisamente, a organização das ações de várias áreas técnicas direcionadas à
saúde coletiva: os programas de atenção básica ampliada; a vigilância epidemiológica e de
doenças transmissíveis; a atenção às doenças crônico-degenerativas; o programa de
imunização; a atenção à Aids e às doenças sexualmente transmissíveis; os programas de
atenção à saúde de mulheres, crianças, adolescentes e idosos, e à saúde bucal.

1.8.1. Reforma Psiquiátrica


A Reforma Psiquiátrica é processo político e social complexo, composto de atores,
instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos
federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos
conselhos profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus
familiares, nos movimentos sociais, e nos territórios do imaginário social e da opinião pública.
Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e
sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o
processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios.
É um movimento histórico influenciado pela ideologia de grupos dominantes. A práxis da
reforma psiquiátrica faz parte do cotidiano de um bom número de profissionais de saúde
mental.

1.8.2. Histórico da Reforma: (I) crítica do modelo hospitalocêntrico (1978-


1991)
O início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil é contemporâneo da eclosão do
―movimento sanitário‖, nos anos 70, em favor da mudança dos modelos de atenção e gestão
nas práticas de saúde, defesa da saúde coletiva, equidade na oferta dos serviços, e
protagonismo dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos de gestão e
produção de tecnologias de cuidado.
O ano de 1978 costuma ser identificado como o de início efetivo do movimento social
pelos direitos dos pacientes psiquiátricos em nosso país. O Movimento dos Trabalhadores em
Saúde Mental (MTSM), movimento plural formado por trabalhadores integrantes do
movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas, membros de associações de
profissionais e pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas, surge neste ano. É,
sobretudo este Movimento, através de variados campos de luta, que passa a protagonizar e a
construir a partir deste período a denúncia da violência dos manicômios, da mercantilização da
loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e a construir coletivamente uma
crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas
com transtornos mentais.
A experiência italiana de desinstitucionalização em psiquiatria e sua crítica radical ao
manicômio é inspiradora, e revela a possibilidade de ruptura com os antigos paradigmas,
como, por exemplo, na Colônia Juliano Moreira, enorme asilo com mais de 2.000 internos no
início dos anos 80, no Rio de Janeiro. Passam a surgir às primeiras propostas e ações para a
reorientação da assistência. O II Congresso Nacional do MTSM (Bauru, SP), em 1987, adota o
lema ―Por uma sociedade sem manicômios‖. Neste mesmo ano, é realizada a I Conferência
Nacional de Saúde Mental (Rio de Janeiro).
Neste mesmo período, é de especial importância o surgimento do primeiro CAPS no
Brasil, na cidade de São Paulo, em 1987, e o início de um processo de intervenção em 1989,
da Secretaria Municipal de Saúde de Santos (SP) em um hospital psiquiátrico, a Casa de Saúde
Anchieta, local de maus-tratos e mortes de pacientes. É esta intervenção, com repercussão
nacional, que demonstrou de forma inequívoca a possibilidade de construção de uma rede de
cuidados efetivamente substitutiva ao hospital psiquiátrico. Neste período, são implantados no
município de Santos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) que funcionam 24 horas, são
criadas cooperativas, residências para os egressos do hospital e associações. A experiência do
município de Santos passa a ser um marco no processo de Reforma Psiquiátrica Brasileira.
Trata-se da primeira demonstração, com grande repercussão, de que a Reforma Psiquiátrica,
não sendo apenas uma retórica, era possível.
Também no ano de 1989, dá entrada no Congresso Nacional, o Projeto de Lei do
deputado Paulo Delgado (PT/MG), que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com
transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. É o início das lutas do
movimento da Reforma Psiquiátrica nos campos legislativo e normativo.
Com a Constituição de 1988, é criado o SUS – Sistema Único de Saúde, formado pela
articulação entre as gestões federal, estadual e municipal, sob o poder de controle social,
exercido através dos ―Conselhos Comunitários de Saúde‖.

1.8.3. Histórico da Reforma: (II) começa a implantação da rede extra-


hospitalar (1992-2000)
A partir do ano de 1992, os movimentos sociais, inspirados pelo Projeto de Lei Paulo
Delgado, conseguem aprovar em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a
substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde
mental.
É na década de 90, marcada pelo compromisso firmado pelo Brasil na assinatura da
Declaração de Caracas e pela realização da II Conferência Nacional de Saúde Mental, que
passam a entrar em vigor no país as primeiras normas federais regulamentando a implantação
de serviços de atenção diária, fundadas nas experiências dos primeiros CAPS, NAPS e
Hospitais-dia, e as primeiras normas para fiscalização e classificação dos hospitais
psiquiátricos.

1.8.4. A Reforma Psiquiátrica depois da lei Nacional (2001 -2005)


É somente no ano de 2001, após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, que a
Lei Paulo Delgado é sancionada no país. A aprovação, no entanto, é de um substitutivo do
Projeto de Lei original, que traz modificações importantes no texto normativo.
O processo de desinstitucionalização de pessoas longamente internadas é impulsionado,
com a criação do Programa ―De Volta para Casa‖. Uma política de recursos humanos para a
Reforma Psiquiátrica é construída, e é traçada a política para a questão do álcool e de outras
drogas, incorporando a estratégia de redução de danos. Realiza-se, em 2004, o primeiro
Congresso Brasileiro de Centros de Atenção Psicossocial, em São Paulo, reunindo dois mil
trabalhadores e usuários de CAPS.
Este processo caracteriza-se por ações dos governos federal, estadual, municipal e dos
movimentos sociais, para efetivar a construção da transição de um modelo de assistência
centrado no hospital psiquiátrico, para um modelo de atenção comunitário.
Para avaliar o ritmo da redução de leitos em todo o Brasil, no entanto, é preciso
considerar o processo histórico de implantação dos hospitais psiquiátricos nos estados, assim
como a penetração das diretrizes da Reforma Psiquiátrica em cada região brasileira, uma vez
que o processo de desinstitucionalização pressupõe transformações culturais e subjetivas na
sociedade e depende sempre da pactuação das três esferas de governo (federal, estadual e
municipal).

1.8.5. Processo de desinstitucionalização/Redução de leitos


Com o longo histórico de internação, o processo de redução de leitos em hospitais
psiquiátricos e de desinstitucionalização de pessoas passa a torna-se política pública no Brasil
a partir dos anos 90.
O gráfico a seguir ilustra o processo de redução de leitos da segunda metade do ano de
1996 a 2005.
O processo de desinstitucionalização de pessoas com o longo histórico de internação
psiquiátrica avançou significativamente. A instituição do programa de volta para casa e a
expansão de serviços como os centros de Atenção Psicossocial e as Residências Terapêuticas,
vem permitindo a redução de milhares de leitos psiquiátricos no país, sendo este processo
desencadeador do processo de Reforma Psiquiátrica.
O Programa De Volta para Casa vem se consolidando como ferramenta imprescindível
para a concretização da desinstitucionalização e a reafirmação dos idéais da Reforma
Psiquiátrica Brasileira, além de representar um importante avanço no campo dos direitos
humanos. O objetivo deste programa é contribuir efetivamente para o processo de inserção
social, incentivando a organização de uma rede ampla e diversificada de recursos assistenciais
e de cuidados, facilitadora do convívio social, capaz de assegurar o bem-estar global e
estimular o exercício pleno de seus direitos civis, políticos e de cidadania.

2. TOXICOLOGIA, DEPENDÊNCIA QUÍMICA E COMORBIDADES

Introdução à Toxicologia
Droga
Droga e derivado do frances drogue, 'ingrediente de tintura ou de substância
química e farmacêutica', de origem controversa; provavelmente derivado do nerrlandês
droge vate, tonéis secos, de onde, por substantivação, droge passou a designar o
conteúdo, o 'produto seco'; ou do árabe dúrawá, 'bala de trigo'), em seu sentido original,
é um termo que abrange uma grande quantidade de substancias desde o carvão vegetal
à aspirina.
Em medicina, refere-se a qualquer substância com o potencial de prevenir ou
curar doenças ou aumentar o bem-estar físico ou mental; em farmacologia, refere-se a
qualquer agente químico que altera os processos bioquímicos e fisiológicos de tecidos
ou organismos. Portanto, droga é uma substância que é, ou pode ser, incluída numa
farmacopeia.
Contudo, em um contexto legal e no sentido corrente (fixado depois de quase
um século de repressão ao consumo de certas drogas), o termo "droga" refere-se,
geralmente, a substancia e, em particular, às drogas ilícitas ou àquelas cujo uso é
regulado por lei, por provocarem alterações do estado de consciência do indivíduo,
levando-o eventualmente à dependência química (haxixe, acido lisérgico, mescalina,
álcool etc). Certos fármacos de uso médico controlado, tais como os opiáceos, também
podem ser tratados como drogas ilícitas, quando produzidos e comercializados sem
controle dos órgãos sanitários ou se consumidos sem prescrição médica.
Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que, uma vez
introduzida no organismo, modifica suas funções.
As drogas naturais são obtidas através de determinadas plantas, de animais e de
alguns minerais – a cafeína (do café), a nicotina (presente no tabaco), o ópio (na
papoula) e o THC ou tetrahidrocanabinol (da cannabis).
As drogas sintéticas são fabricadas em laboratório, exigindo para isso técnicas
especiais. O termo droga, presta-se a várias interpretações, mas ao senso comum é uma
substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, mundificando-lhe as funções,
as sensações, o humor e o comportamento.
No Brasil, a legislação define como droga "as substâncias ou produtos capazes
de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas
periodicamente pelo ―Poder Executivo da União" segundo o parágrafo único do art. 1.º
da Lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006 (Lei de Drogas). Institui o Sistema Nacional
de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso
indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece
normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define
crimes e dá outras providências. Isto significa dizer que as normas penais que tratam do
usuário, do dependente e do traficante são consideradas normas penais em branco.
Atualmente, no país, são consideradas drogas todos os produtos e substâncias listados
na Portaria n.º SVS/MS 344/98 do Ministério da Saúde.

Tipos de drogas
O termo "droga" envolve os analgésicos, estimulantes, alucinógenos,
tranquilizantes e barbitúricos, além do álcool e substâncias voláteis. As psicotrópicas
são as drogas que tem tropismo e afetam o Sistema Nervoso Central, modificando as
atividades psíquicas e o comportamento.

Constantemente a palavra droga é utilizada em diversos contextos sendo destaque em


noticiários. De tal modo é de suma importância conhecer sobre a temática.
O termo droga tem origem na palavra drogg, proveniente do holandês antigo e cujo
significado é folha seca. Esta denominação é devido ao fato de, antigamente, quase todos os
medicamentos utilizarem vegetais em sua composição. Atualmente, porém, o termo droga,
segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é qualquer substância não produzida pelo
organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo
alterações em seu funcionamento.
As drogas produzem mudanças nas sensações, no grau de consciência e no estado
emocional das pessoas. As alterações causadas por essas substâncias variam de acordo com as
características da pessoa que as usa, da droga escolhida, da quantidade, frequência, expectativas
e circunstâncias em que é consumida.
Essa definição inclui os produtos ilegais (cocaína, maconha, ecstasy, heroína...). Vale
advertir que nem todas as substâncias psicoativas têm a capacidade de provocar a dependência.
Contudo, há substâncias aparentemente inofensivas e presentes em diversos produtos de uso
doméstico, os produtos como bebidas alcoólicas, cigarros e vários remédios, que são legais,
apesar de haver restrições em sua comercialização. Por exemplo: é proibida a venda de bebidas
alcoólicas para menores de idade.
As drogas utilizadas para alterar o funcionamento cerebral, causando modificações no
estado mental são chamadas drogas psicotrópicas. As drogas psicotrópicas dividem-se em
três grupos: depressoras, estimulantes e perturbadoras. Tais temas serão abordados
detalhadamente no decorrer do módulo.
Uma droga não é por si só boa ou má. Existem substâncias que são utilizadas com a
finalidade de produzir efeitos benéficos, como no tratamento de doenças e estas são
consideradas medicamentos. Porém existem substâncias que produzem efeitos maléficos à
saúde, os venenos ou tóxicos. È importante ressaltar que a mesma substância pode funcionar
como medicamento em algumas situações e como tóxico em outras.
Essa relação do indivíduo com cada substância psicoativa pode, dependendo do
contexto, ser inofensiva ou apresentar poucos riscos, mas também pode assumir padrões de
utilização altamente disfuncionais, com prejuízos biológicos, psicológicos e sociais.
Toxicologia é a ciência que estuda as intoxicações, os venenos que as produzem, seus
sintomas, seus efeitos, seus antídotos e seus métodos de análise. A palavra "Toxikon" tem
origem grega e significa veneno das flechas (usado na caça desde a antiguidade). As pontas das
flechas eram preparadas com material contaminado (bactérias), por exemplo, pedaços de
cadáveres ou venenos vegetais, no intuito de acelerar a morte dos animais, levando a paralisia
do músculo cardíaco e da musculatura esquelética. As flechas envenenadas foram possivelmente
uma das primeiras aplicações intencionais de substância ao homem.
O estudo da toxicologia tem por objetivo estudar os efeitos adversos de substâncias
químicas sobre o organismo. Para isso é importante conhecer as diferentes classificações das
drogas e as consequências de seu uso.
A abordagem moderna analisa o fenômeno da toxicomania, a partir de três fatores: a
personalidade do usuário, o meio sociocultural e os efeitos que as drogas causam em seu corpo e
em sua subjetividade.
Conhecer os efeitos nocivos das drogas é sem dúvida, muito importante para quem
deseja compreender a dependência química.
Para prevenir o uso indevido de drogas, é necessário conhecer as diferentes
classificações, os efeitos e consequências que elas causam. Assim, é fundamental compreender
sobre as drogas, que deseja conhecer a dinâmica da dependência química. Diante disso
aproveite ao máximo esse módulo para admitir um pouco mais sobre o tema, história das drogas
na humanidade e diversos aspectos imprescindíveis.

2.1. Abordagem histórica das drogas na humanidade


Atualmente a palavra droga popularmente ganhou significado de algo ruim ou
indesejado, por exemplo: que droga!
Mas nem sempre foi assim, a relatividade cultural da presença das drogas na história da
humanidade é notável e em várias épocas esta teve seu sentido específico.
O consumo das drogas só pode ser compreendido a partir do modo que uma
determinada sociedade se organiza e se representa. O cultivo, a divulgação e o consumo
representam um fenômeno cultural, em contextos sociais esse fenômeno pode variar em três
funções gerais atribuídas á ingestão de drogas: superar a angústia da própria existência, entrar
em contato com forças sobrenaturais e obter prazer, sendo esta última a mais utilizada nos
tempos atuais.
Falar em consumo de drogas em uma sociedade é também compreender sua significação
no sentido mais amplo, considerando o contexto sociocultural e as motivações que levam as
pessoas a consumirem certas substâncias.
Ao percorrer a história da civilização é possível encontrar a presença das drogas desde
os tempos mais remotos da humanidade, o consumo dessas substâncias pode ser observado em
diferentes contextos: social, econômico, medicinal, religioso, psicológico, estético. A
humanidade possui inúmeros registros históricos evidenciando o uso de drogas no cotidiano.
Documentos da civilização egípcia registram o uso do vinho e da cerveja, além do uso
de essências alcoólicas para uma série de moléstias. Contam as lendas e as canções de amor que
as bebidas eram afrodisíacas, o uso social e festivo era bem tolerado, embora alguns moralistas
do Egito criticassem o abuso que em consequência prejudicava e desviava os jovens dos
estudos. O consumo de álcool é conhecido também nas civilizações gregas e romanas, tendo seu
valor alimentício e festivo. Obtidas pela fermentação de diversos vegetais as bebidas alcoólicas
tiveram seu procedimento de fabricação aprimorado ao longo dos anos, até a forma a qual
conhecemos hoje.
Assim como o álcool o ópio também teve seu lugar em civilizações mais antigas.
Derivado da papoula, conhecida também como ―dormideira‖ o ópio tinha significado divino e
símbologismo mitológico, seus efeitos eram considerados um presente dos deuses destinados á
acalmarem os doentes. Na china, a papoula, que fornece o ópio, era símbolo nacional (assim
como os ramos de café no Brasil).
Quando o ópio era utilizado por prazer, ele era ingerido ou bebido como chá. O hábito
de fumar ópio é recente, isto é, conta umas poucas centenas de anos. O abuso do ópio e de seus
derivados (morfina e heroína) deu origem aos primeiros esforços internacionais de controle do
uso de narcóticos. (Nações Unidas, Correio da Unesco,10982).
Nas sociedades orientais tradicionais, utilizavam o ópio contra dores nas enfermidades
somáticas, como tranquilizantes e pelas suas propriedades euforizantes. O ópio era também
considerado instrumento de relaxamento e de sociabilidade, sendo consumido em grupos
populares, como o cigarro e o álcool. Por exemplo, na Malásia os pescadores consumiam o ópio
para suportarem as condições extremas de vida, esse hábito antigo era totalmente integrado.
Enquanto isso na América do Sul, a coca arbusto de folhas que cresce especialmente nas
regiões andinas, teve suas folhas mastigadas por séculos pela população indígena. De acordo
com alguns achados arqueológicos, esse hábito de ―coquear‖ (mastigar a folha da coca) data
cerca de quatro mil anos. A tentativa de suprimir tal hábito colocou em risco a etnia, a
descaracterização poderia gerar um colapso social. O coquear faz parte de uma adaptação
biológica e sociocultural em um contexto desfavorável.
Mastigar a folha da coca alivia o cansaço (devido á altitude), evita a fome e a sede (ou
pelo menos suas sensações), suporta melhor o frio, muitas vezes intenso.
O uso medicinal da coca, se da por meio do chá, dentre os efeitos destacam-se as
propriedades específicas para problemas digestivos, para estancar hemorragias e tratar feridas.
Os curandeiros utilizavam a coca em procedimentos diagnósticos e terapêuticos, invocando o
―espírito da coca‖ em rituais acompanhados pela comunidade. Também de caráter cultural e
mitológico o uso acontece em momentos de nascimento ou de morte. Pode ser aplicada no
umbigo do recém-nascido como forma de cicatrização que em seguida é enterrado junto com as
folhas da coca, representando assim um talismã para o indivíduo ou nas ocasiões de morte,
acredita-se que o espírito da coca assegura tranquilidade a pessoa falecida.
A cannabis sativa conhecida como maconha, pode ter sua denominação conforme a
região e o procedimento de extração, podendo ser chamada de haxixe, marijuana ou cânhamo.
No segundo milênio a.C, a maconha foi utilizada para fins terapêuticos na China e
descrita pelo imperador Shen Nung como analgésico. O uso medicinal é encontrado também na
tradição dos povos africanos e asiáticos. No Brasil a maconha foi introduzida pelos escravos que
já conheciam suas propriedades desde á África, seu uso foi difundido no Nordeste, em particular
na Bahia e Maranhão.
Na Jamaica embora a ganja (derivada da cannabis) tenha seu consumo proibido, é
facilmente cultivada e produzida. Algumas seitas atribuem poderes místicos e divinos,
principalmente o de afastar os espíritos do mal.
Os operários jamaicanos encontram na ganja energia para trabalhar e relaxamento após
o trabalho, acredita-se também que a ganja deixa a pessoa mais inteligente, muitas famílias
chegam a oferecer a droga para os filhos ou até mesmo colocar na mamadeira. Para essa
população fumar a ganja é um rito (assim como coquear nos Andes) e não fator de alienação ou
desintegração social. Porém nas classes mais altas a droga é condenada, e os adolescentes a
consomem expressando assim sua oposição contra os adultos. Nesse sentido a ganja tornou-se
símbolo de curiosidade, prazer ou mesmo revolta, desvinculando-se de uma ritual puramente
social.
Nesse sentido percebe-se que entre as classes sociais de uma mesma sociedade podem
ocorrer mudanças em relação á significação do uso de uma mesma droga.
Grandes civilizações utilizaram substâncias alucinógenas que não fosse a cannabis. O
uso de cogumelos tóxicos em rituais era empregado nas Américas e na Ásia, por feiticeiros e
curandeiros.
A mescalina ou peiote nome de origem asteca e obtido de um cacto, ainda é muito
utilizada e venerada como amuleto ou alucinógeno nas regiões montanhosas do México.
Utilizada em agrupamentos, induz ao transe durante os rituais. Os índios utilizavam a mescalina
com finalidade medicinal ou visões que os permitissem profetizar.
Na América do Sul é recorrente o uso de ervas, cipós ou cascas de árvores para obter
substâncias que provoquem estados místicos ou de transe, no intuito de estabelecer uma
comunicação com os deuses. No Brasil até hoje se encontra o uso de drogas alucinógenas em
tribos indígenas e algumas seitas. A ayahuasca (chá do caule do mariri e folhas da chacrona) foi
difundida pelas seitas amazônicas, a ―União do Vegetal‖ UDV e o ―Santo Daime‖ fazem uso do
chá em seus rituais.
As questões abordadas não se esgotam. Elas têm valor de exemplificação,
demonstrando em particular a relatividade cultural do uso de substâncias. A droga atinge um
caráter bom ou mau a partir da relação que o homem estabelece com ela, isto é se o uso é
integrador ou desregrado e marginalizado.
Percebem-se três funções gerais associadas ao consumo de drogas, que podem variar de
acordo com os contextos sociais e as crenças de determinada sociedade.
a) Escapar à consciência de transitoriedade da existência e à angústia que isso
provoca: é o que chamamos de ―angústia existencial‖, a droga permite esquecer
temporariamente a noção que temos da nossa mortalidade, essa função ansiolítica
(tranquilizadora) é uma das mais antigas, apesar de ser tão presente nos tempos atuais e
devidamente comercializada na forma de medicamentos psicotrópicos.
Apesar do uso indiscriminado esse recurso não é invenção dos tempos modernos,
antigamente essa prática era utilizada, porém de forma mais integrada. O excesso do uso de
ansiolíticos aponta para uma época em que as pessoas estão cada vez mais isoladas, anônimas e
solitárias em uma sociedade tecnológica.
b) Ligada à primeira função, a procura pela transcendência, tem por objetivo entrar
em contato com forças sobrenaturais, ou seja, o sentido religioso dessa função vincula-se á
tentativa de ampliar os limites existenciais, a fim de apaziguar a angústia do homem e assegurar
uma sobrevivência após a morte.
Através do uso de substâncias entorpecentes em rituais místicos, o homem procura
transcender á sua própria existência, suprindo seu desamparo humano.
c) Busca de Prazer: apesar de muito antiga, essa função domina a toxicomania e opera
desconectada das outras funções.
De tal modo, a utilização das drogas em tal época, não representava uma ameaça à
sociedade, porque o seu uso encontrava-se relacionado aos rituais, aos costumes e aos próprios
valores coletivos, e ainda não se sabia dos efeitos negativos que elas poderiam causar, pois não
havia até tal momento estudos científicos.
A questão do uso de drogas não se constitui, assim, apenas como um ―problema‖, mas
faz parte da cultura humana há milhares de anos como um instrumento de estímulo, consolo,
diversão, devoção e intensificação do convívio social.
“Procurou o homem, desde a mais remota antiguidade encontrar um remédio que tivesse a
propriedade de aliviar suas dores, serenar suas paixões, trazer-lhe alegria, livrá-lo de
angústias, do medo ou que lhe desse o privilégio de prever o futuro, que lhe proporcionasse
coragem, ânimo para enfrentar as tristezas e o vazio da vida.” Lauro Sollero.

2.2. Classificação das Drogas


A lista de substâncias na Classificação Internacional de Doenças, 10ª Revisão (CID-10),
em seu capítulo V (Transtornos Mentais e de Comportamento), inclui:
• álcool;
• opioides (morfina, heroína, codeína, diversas substâncias sintéticas);
• canabinoides (maconha);
• sedativos ou hipnóticos (barbitúricos e benzodiazepínicos);
• cocaína;
• outros estimulantes (como anfetaminas e substâncias relacionadas à cafeína);
• alucinógenos;
• tabaco;
• solventes voláteis.

Em relação à classificação das drogas existem algumas formas de classificá-las:

Classificação das Drogas do Ponto de Vista Legal

Drogas Lícitas Drogas Ilícitas

Tanto o comércio quanto o uso, estão dentro da


legalidade. Mesmo de forma legal algumas drogas podem
Proibidas por Lei.
sofrer restrições. Exemplo: a venda proibida de álcool a
menor de 18 anos e de alguns remédios sem prescrição
médica.
Outra classificação das drogas é em relação aos seus efeitos no psiquismo. Drogas
psicotrópicas ou psicoativas são aquelas utilizadas para alterar o funcionamento cerebral,
causando modificações no Sistema Nervoso Central, ou seja, no estado mental do indivíduo.
O termo psicotrópico é formado por duas palavras: pisco e trópico. Pisco está
relacionado ao psiquismo, que envolve as funções do sistema nervoso central; e trópico
significa em direção a. Drogas psicotrópicas, portanto, são aquelas que atuam sobre o cérebro,
alterando de alguma forma o psiquismo. Por essa razão, são também conhecidas como
substâncias psicoativas.

Drogas Psicotrópicas

Depressoras do SNC. Estimulantes do SNC. Perturbadoras SNC.


Álcool Anfetaminas Maconha

Barbitúricos Tabaco Alucinógenos

Benzodiazepínicos Cocaína LSD


Opióides Anticolinérgicos

Solventes ou Inalantes Ecstasy

2.3. As principais drogas, sua classificação e seus efeitos no organismo.

2.3.1. Drogas Depressoras da Atividade Mental


As drogas depressoras do sistema nervoso central: álcool, barbitúricos,
benzodiazepínicos, inalantes e opiáceos, mesmo variando nas propriedades físicas e químicas
seus efeitos apresentam características comuns, causando diminuição da atividade global ou de
certos sistemas específicos do SNC. Fazem com que o cérebro funcione lentamente, reduzindo a
atividade motora, a ansiedade, a atenção, a concentração, a capacidade de memorização e a
capacidade intelectual, reatividade à dor e, no início causa euforia e, posteriormente um
aumento da sonolência.

O Álcool
Seus efeitos podem variar em relação aos níveis da substância no sangue (tipo de bebida
ingerida, forma de metabolizar a droga e velocidade de consumo).

Possíveis efeitos do álcool de acordo com os níveis da substância no sangue

Baixo Médio Alto

• Desinibição do comportamento. •Maior incoordenação motora •Náuseas e vômitos.


(ataxia).
•Diminuição da crítica. •Visão dupla (diplopia).
• Fala pastosa, dificuldades de
•Hilaridade e labilidade afetiva (a •Acentuação da ataxia e
marcha e aumento importante
pessoa ri ou chora por motivos da sonolência (até o
do tempo de resposta
pouco significativos). (reflexos mais lentos). coma).
•Certo grau de incoordenação •Aumento da sonolência, com •Hipotermia e morte por
motora (ausência de prejuízo das capacidades de parada respiratória.
coordenação). raciocínio e concentração.
• Prejuízo das funções sensoriais.

Apesar do desconhecimento por parte da maioria das pessoas, o álcool também é


considerado uma droga psicotrópica, pois atua no sistema nervoso central, provocando
mudança no comportamento de quem o consome, além de ter potencial para desenvolver
dependência.
O álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo admitido e até
incentivado pela sociedade. Esse é um dos motivos pelos quais ele é encarado de forma
diferenciada, quando comparado com as demais drogas.
Apesar de sua ampla aceitação social, o consumo de bebidas alcoólicas, quando
excessivo, passa a ser um problema. Além dos inúmeros acidentes de trânsito e da violência
associada a episódios de embriaguez, o consumo de álcool em longo prazo, dependendo da
dose, frequência e circunstâncias, pode provocar um quadro de dependência conhecido como
alcoolismo. Dessa forma, o consumo inadequado do álcool é um importante problema de saúde
pública, especialmente nas sociedades ocidentais, acarretando altos custos para a sociedade e
envolvendo questões médicas, psicológicas, profissionais e familiares.
O álcool é a droga lícita mais consumida no país, provocando danos sociais e à saúde.
Estudos nacionais e internacionais têm demonstrado a ocorrência significativa de mortes e
doenças associadas ao uso abusivo de álcool, sendo o alcoolismo a terceira causa de mortalidade
e morbidade no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com a OMS, a cada ano cerca de dois bilhões de pessoas consomem bebidas
alcoólicas, o que corresponde a 40% da população mundial acima de 15 anos de idade, e cerca
de dois milhões de pessoas morrem em decorrência das consequências negativas do uso do
álcool (por exemplo: intoxicações agudas, cirrose hepática, violência e acidentes de trânsito).
Barbitúricos (Tiopental, Butalbital e Fenobarbital)
É um grupo de substâncias quimicamente derivadas do ácido barbitúrico, sintetizadas
artificialmente desde o começo do século XX. Capazes de diminuir a atividade cerebral e,
possuem diversas propriedades em comum com o álcool e com outros tranquilizantes
(benzodiazepínicos).
Os efeitos terapêuticos foram devidos aos casos de insônia, sendo utilizados também na
prática clínica para indução anestésica (tiopental) e como anticonvulsivante (fenobartial). Essa
droga mesmo sendo indutora de sono, sua dose terapêutica está muito próxima da dose tóxica
ou letal, o sono provocado por essas substâncias é diferente do sono fisiológico, aquele que
consideramos natural.
São efeitos de sua ação farmacológica: sensação de calma, sonolência, diminuição da
capacidade de concentração e reflexos (movimentos) mais lentos. Em doses pouco maiores, a
pessoa apresenta sintomas semelhantes á embriaguez, fala pastosa, dificuldade de marcha
(andar). Em doses tóxicas os barbitúricos podem levar a pessoa ao coma, parada respiratória e
incoordenação motora.
Benzodiazepínicos (clonazepam, diazepam, lorazepam, lexotan, entre outros)
Seu uso teve início com a medicina na década de 60. Apesar de sua ação farmacológica
semelhante aos barbitúricos, a vantagem estava na margem de segurança do seu uso. Os
benzodiazepínicos atuam potencializando as ações do GABA (ácido gama-amino-butírico),
principal neurotransmissor inibitório do Sistema Nervoso Central- SNC.
Efeitos dessa ação no organismo: indução do sono, redução do estado de alerta,
relaxamento muscular e diminuição da ansiedade. Dificultam ainda, os processos de
aprendizagem e memória e alteram funções motoras, prejudicando atividades como dirigir
automóveis e outras que exigem reflexos rápidos.
A intoxicação por estas substâncias ocorre por doses muito altas ou uso concomitante de
outros depressores da atividade mental, como os barbitúricos e o álcool. Os efeitos dessa super
dosagem são similares à intoxicação por barbitúricos.
Existem centenas de compostos comerciais disponíveis, alguns são mais utilizados
clinicamente como indutores do sono, enquanto outros são empregados para controlar a
ansiedade ou para prevenir a convulsão.

Opióides (morfina, heroína, codeína, metadona e meperidina)


Derivados da papoula do Oriente, essas drogas sintéticas e semissintéticas, são obtidas a
partir de modificações químicas em substâncias naturais(ópio).
Essas drogas têm a capacidade de imitar algumas substâncias produzidas naturalmente
no organismo, por exemplo, a encefalina e a endorfina.
Seus efeitos causam: diminuição da capacidade de mover-se espontaneamente; efeito
sedativo; torpor; sonolência; contração pupilar importante; diminuição da motilidade do trato
gastrointestinal. Os opióides deprimem o centro respiratório, levando desde respiração mais
lenta até parada respiratória, perda da consciência e morte.
A abstinência provoca: náuseas; lacrimejamento; corrimento nasal; vômitos; cólicas
intestinais; piloereção (arrepio), com duração de até 12 dias; cãibra; diarreia.
Solventes ou Inalantes (éter, clorofórmio, cola de sapateiro, acetato de etila, benzina, fluido de
isqueiro, gasolina, querosene, vernizes, esmaltes, tintas, fixador de cabelo).
Os inalantes são, na sua maioria, produtos industriais, combustíveis ou de limpeza, que
são inalados com o propósito de sentir algum ―barato‖. Quase todos os solventes ou os inalantes
se tornaram drogas de uso recreativo, embora não tenham sido fabricados com esse propósito.
No Brasil, alguns inalantes são também fabricados clandestinamente ou contrabandeados, para
fins de abuso, como é o caso do lança-perfume e do ―cheirinho da loló‖.
Todos esses produtos têm em comum alguma substância volátil, ou seja, que se evapora
muito facilmente, sem precisar de aquecimento. Essa substância volátil, aspirada pelo nariz ou
pela boca, é o componente responsável pelos efeitos que os usuários de inalantes buscam.
Os solventes podem ser inalados involuntariamente durante o trabalho ex: cola de
sapateiro ou utilizados como drogas de abuso.
Sua ação sob o organismo é bastante rápido após a inalação, podendo durar alguns
segundos ou minutos, o que implica o usuário repetir a dose muitas vezes. Os efeitos
decorrentes do uso de solvente podem ser divididos em quatro fases. A primeira se caracteriza
pela euforia e diminuição da inibição, a segunda predomina a confusão mental e a desorientação
(depressão do SNC) nessa fase podem ocorrer alucinações visuais e auditivas. Já na terceira fase
a depressão do SNC se agrava, com diminuição do estado de alerta, incoordenação motora, fala
pastosa, reflexos comprometidos e maior incidência de alucinações, a última e quarta fase é
caracterizada como crítica, onde ocorre a inconsciência, convulsões, coma e até a morte.
O uso crônico dessas substâncias pode causar danos irreversíveis ao cérebro, como
destruição dos neurônios além de problemas no fígado, rins e nervos periféricos.

2.3.2. Drogas Estimulantes da Atividade Mental


As estimulantes do sistema nervoso central - anfetaminas, cocaína e tabaco, são drogas
capazes de, acelerar a atividade de determinados sistemas neuronais, trazendo como
consequências um estado de alerta exagerado, insônia e aceleração dos processos psíquicos.

Tabaco

O tabaco é uma planta cujo nome científico é Nicotiana tabacum, da qual é extraída
uma substância chamada nicotina. Começou a ser utilizada aproximadamente no ano
1000 a.C., nas sociedades indígenas da América Central, em rituais mágico-religiosos,
com o objetivo de purificar, contemplar, proteger e fortalecer os ímpetos guerreiros,
além disso, esses povos acreditavam que essa substância tinha o poder de predizer o
futuro.
Seu uso espalhou-se por todo o mundo a partir de meados do século XX, com a ajuda de
técnicas avançadas de publicidade e marketing que se desenvolveram nessa época.
É um dos maiores problemas de saúde pública em diversos países e uma das mais
importantes causas potencialmente evitável de doenças e mortes.
Fumar é um hábito promovido como um exercício de autonomia, liberdade e como um
desafio às normas vigentes.
Por estas razões jovens e adolescentes são mais suscetíveis, à influencia de amigos e
publicidades para experimentar e usar cigarros. Tal comportamento sofre influência também
pelas imagens apresentadas nos programas de televisão e nos filmes, onde heróis, heroínas e
famosos aparecem fumando e evidenciando a possível associação entre o glamour ou o sucesso
e o fato de ser fumante.
O Ministério da Saúde exige que todo verso dos maços de cigarros exiba ilustrações
sobre as consequências negativas do tabagismo, acompanhadas de uma frase de advertência.
È simplista a ideia de que o cigarro nada mais é do que a folha de uma planta (tabaco),
picada e enrolada em papel, pois o processo de produção do cigarro industrial envolve diversos
passos e processos químicos e a adição de várias substâncias, contudo não associados com
cigarro.
Ao ser queimado, o tabaco produz uma fumaça composta de, pelo menos, 4.800
componentes, sendo 68 deles já identificados como carcinogênicos (que provocam câncer).
Alguns desses aditivos são:
Amônia Também usada em produtos para desinfetar banheiros

Acetona Também usada para remover esmaltes e tintas


Arsênico Inseticida, também venenoso para seres humanos.

Cianeto Veneno usado em câmaras de gás durante a 2° G.M.

Tolueno Solvente industrial

Butano Usado como gás de isqueiro

Monóxido de carbono Gás tóxico emitido na fumaça de carros

DDT Inseticida

Naftalina Produto que usamos para matar traças e baratas

Cadmium Usado em baterias de carro

Cartilha sobre tabaco Disponível em: (www.senad.gov.br)


Além desses, existem outros componentes que estão presentes apenas nos cigarros,
como é o caso do alcatrão e da nicotina.
O consumo de tabaco pode causar: doenças cardiovasculares (infarto e morte súbita);
doenças respiratórias (enfisema, asma, bronquite crônica, doença pulmonar obstrutiva crônica);
diversas formas de câncer (pulmão, boca, faringe, laringe, esôfago, estômago, pâncreas, rim,
bexiga e útero). Seus efeitos sobre as funções reprodutivas incluem redução da fertilidade,
prejuízo do desenvolvimento fetal, aumento do risco de gravidez ectópica e abortamento
espontâneo.

Cocaína
É extraída da coca (Eryhroxylon coca) planta típica da América do Sul. Pode ser usada
na forma de pó (cloridrato de cocaína), sendo aspirada, e se misturada na água pode ser injetada
na corrente sanguínea. Sob a forma de pedra (crack) ela é fumada, as pastas menos purificadas
da cocaína (oxi e a merla) também podem ser fumadas. Essa substância atua no SNC sobre os
neurotransmissores, serotonina, noradrenalina e dopamina.
A cocaína já foi usada no passado sobre indicação médica como anestésico local,
atualmente essa finalidade de uso está ultrapassada.
A cocaína é uma substância extraída das folhas da coca. Durante o século XIX e o início
do século XX, foi vendida nas farmácias como anestésico local e como tônico para dar mais
energia. No século XX, tornou-se uma substância ilegal, em grande parte devido aos efeitos
danosos e, frequentemente, fatais causados a seus usuários.
Os efeitos sob o organismos têm início rápido e duração breve, porém a utilização
intravenosa ou o uso da pasta (crack e da merla) proporcionam efeitos mais intensos e fugazes.
O uso da cocaína causa, estado de excitação, insônia, hiperatividade, sensação intensa
de euforia e poder, falta de apetite e perda da sensação de cansaço.
A ação da cocaína no cérebro provoca, em muitos de seus usuários, a sensação de alerta
e faz com que se sintam cheios de energia, sociáveis, confiantes e controlados. Essas sensações
podem ser tão poderosas e prazerosas que muitos usuários querem repetir o uso tão logo o efeito
passe. Para outros, a cocaína não provoca esse prazer. As sensações mais relatadas, nesse caso, é
necessidade de isolamento, ansiedade ou mesmo pânico.

A cocaína pode chegar até o consumidor sob a forma de um sal, o cloridrato de


cocaína, o ―pó‖, ―farinha‖, ―neve‖ ou ―branquinha‖, que é solúvel em água e serve para
ser aspirado (―cafungado‖) ou dissolvido em água para uso intravenoso (―pelos canos‖,
―baque‖), ou sob a forma de base, o crack, que é pouco solúvel em água, mas que se
volatiliza quando aquecida e, portanto, é fumada em ―cachimbos‖.
Também sob a forma base, a merla (mela, mel ou melado), um produto ainda sem
refino e muito contaminado com as substâncias utilizadas na extração, é preparada de forma
diferente do crack, mas também é fumada. Enquanto o crack ganhou popularidade em São
Paulo, Brasília foi à cidade vítima da merla. De fato, pesquisas mostram que mais de 50% dos
usuários de drogas da Capital Federal fazem uso de merla, e apenas 2% de crack.
Em particular o uso do crack, pode causar dependência severa rapidamente, em poucos
meses de uso e até mesmo em poucas semanas. Em doses maiores causa irritabilidade, delírios,
alucinação, agressividade, resultando num quadro psicótico, observa-se também aumento da
temperatura, convulsões, taquicardia, esses sintomas se prolongados podem levar morte.

O Crack
O crack é um derivado de cocaína, mas com uma ação muito mais rápida e intensa. O
crack surgiu nos Estados Unidos na década de 1980 em bairros pobres de Nova Iorque, Los
Angeles e Miami. O baixo preço da droga e a possibilidade de fabricação caseira atraíram
consumidores que não podiam comprar cocaína refinada, mais cara e, por isso, de difícil acesso.
Aos jovens atraídos pelo custo da droga juntaram-se usuários de cocaína injetável, que viram no
crack uma opção com efeitos igualmente intensos, porém sem risco de contaminação pelo vírus
da Aids, que se tornou epidemia na época.
No Brasil, a droga chegou no início da década de 1990 e se disseminou inicialmente em
São Paulo. ―O consumo do crack se alastrou no País por ser uma droga de custo mais baixo que
o cloridrato de coca, a cocaína refinada (em pó). Para produzir o crack, os traficantes utilizam
menos produtos químicos para fabricação, o que a torna mais barata". Seu consumo cresceu,
principalmente, entre crianças, adolescentes e adultos que vivem na rua, motivando pressões
diversas sobre a população pela necessidade de ações que deem aos usuários de crack
oportunidades de viverem de forma digna e com saúde. Seu primeiro grande foco no país foi a
região conhecida como Cracolândia, no centro de São Paulo. Estudos relatam que o primeiro
uso do crack em São Paulo aconteceu em 1989. Dois anos depois, em 1991, houve a primeira
apreensão da droga, que avançou rapidamente: de 204 registros de apreensões em 1993 para
1.906 casos em 1995. Para popularizar o crack e aquecer as vendas, os traficantes esgotavam as
reservas de outras drogas nos pontos de distribuição, disponibilizando apenas as pedras. Logo,
diante da falta de alternativas, os usuários foram obrigados a optar e aderir ao uso.
Hoje, a droga está presente nos principais centros urbanos do País. Os dados mais
recentes sobre o consumo do crack estão sendo coletados e indicarão as principais regiões
afetadas, bem como o perfil do usuário. Segundo, no entanto, pesquisa domiciliar realizada pela
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, em parceria com o Centro Brasileiro
de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) em 2005, 0,1% da população brasileira
consumia a droga.
Os efeitos do crack aparecem quase imediatamente depois de uma única dose. Esses
efeitos incluem aceleração do coração, aumento da pressão arterial, agitação psicomotora,
dilatação das pupilas, aumento da temperatura do corpo, sudorese e tremor muscular. A ação no
cérebro provoca sensação de euforia, aumento da autoestima, indiferença à dor e ao cansaço,
sensação de estar alerta especialmente a estímulos visuais, auditivos e ao toque. Os usuários
também podem apresentar tonteiras e ideias de perseguição (síndrome paranoide). Existem
ainda efeitos do uso do crack que são decorrentes da ação local direta dos vapores em alta
temperatura (como queimaduras e olhos irritados) e dos efeitos farmacológicos estimulantes da
substância. O pulmão é o principal órgão exposto aos produtos da queima do crack. Os sintomas
respiratórios agudos mais comuns são: tosse com produção de escarro enegrecido, dor no peito
com ou sem falta de ar, presença de sangue no escarro e piora de asma. As principais
complicações neurológicas do uso de crack são acidente vascular cerebral (derrame cerebral),
dor de cabeça, tonteiras, inflamações dos vasos cerebrais, atrofia cerebral e convulsões. Muitas
vezes os usuários saem em ―jornadas‖ em que consomem a droga durante dias seguidos. O
consumo de crack e cocaína têm sido associados diretamente à infecção pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV) e a outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como
gonorreia e sífilis. O crack quando consumido durante a gestação chega à corrente sanguínea
aumentando o risco de complicações tanto para a mãe quanto para o bebê. Para a gestante,
aumenta o risco de descolamento prematuro de placenta, aborto espontâneo e redução da
oxigenação uterina. Para o bebê, o crack pode reduzir a velocidade de crescimento fetal, o peso
e o perímetro cefálico (diâmetro da cabeça). Há ainda possibilidade de má-formação congênita,
maior risco de morte súbita da infância, alterações do comportamento e atraso do
desenvolvimento. O crack passa pelo leite materno.

Anfetaminas (fenproporex, metilfenidato, mazidol, metanfetamina e a dietilpropiona).


As anfetaminas são drogas estimulantes da atividade do sistema nervoso central, isto é,
fazem o cérebro trabalhar mais depressa, deixando as pessoas mais ―acesas‖, ―ligadas‖, com
―menos sono‖, ―elétricas‖ etc.
São chamadas de ―rebite‖, principalmente entre os motoristas que precisam dirigir
durante várias horas seguidas sem descanso, a fim de cumprir prazos predeterminados. Também
são conhecidas como ―bola‖ por estudantes que passam noites inteiras estudando, ou por
pessoas que costumam fazer regimes de emagrecimento sem acompanhamento médico.
São substâncias produzidas em laboratórios (sintéticas) que agem no organismo
aumentando, liberando e prolongando o tempo de atuação de neurotransmissores (dopamina e
noradrenalina) utilizados pelo cérebro. As anfetaminas causam dilatação da pupila, rapidez na
fala, taquicardia, diminuição do sono e apetite e sensação de energia mesmo sob excessivos
esforços. Em doses tóxicas esses efeitos se potencializam, o sujeito tende a ficar irritado,
agressivo, pode ter delírios persecutórios, alucinações e convulsões.
O consumo dessas drogas no Brasil chega a ser alarmante, tanto que até a Organização
das Nações Unidas vem alertando o Governo brasileiro a respeito. Dados de um relatório das
Nações Unidas de 2007 indicam que o consumo de estimulantes no Brasil, principalmente para
diminuir o apetite e misturado a outros remédios para perder peso, é um dos mais elevados do
mundo. Uma preocupação se dá pela prescrição médica excessiva destes medicamentos, mas
também pelo fato de que podem ser comprados sem receita médica, mesmo que isso contrarie a
lei, ou ainda com receitas falsificadas.

2.3.3. Drogas Perturbadoras da Atividade Mental


Por fim, as drogas perturbadoras do sistema nervoso central – maconha,
alucinógenos, LSD, êxtase e anticolinérgicos – produzem uma série de distorções qualitativas
no funcionamento do cérebro, como delírios, alucinações e alteração na senso-percepção. Por
essa razão, são também chamadas de alucinógenos. Uma terceira denominação para esse tipo de
droga é psicotomiméticos, devido ao fato de serem conhecidas como psicoses às doenças
mentais nas quais esses fenômenos ocorrem de modo espontâneo.

Considera-se alucinação, qualquer percepção sem objeto, ou seja, ouvir ou ver


algo que não existe. Por sua vez, o delírio, é considerado o falso juízo que o indivíduo
tem da realidade, ele atribui significados incompatíveis com a realidade que o cerca, sua
capacidade de avaliar corretamente a realidade está comprometida.

A Maconha
É o nome dado no Brasil à Cannabis sativa. Suas folhas e inflorescências secas podem
ser fumadas ou ingeridas. Há também o haxixe, pasta semissólida obtida por meio de grande
pressão nas inflorescências, com maiores concentrações de THC (tetraidrocanabinol), que é uma
das diversas substâncias produzidas pela planta, principal responsável por seus efeitos
psíquicos.
A cannabis sativa conhecida como maconha, pode ter sua denominação conforme a
região e o procedimento de extração, podendo ser chamada de haxixe, marijuana ou cânhamo.
Os efeitos podem ser sensação de bem-estar, calma, relaxamento, menos fadiga e
hilaridade, já em outros casos podem ocorrer, angústia, atordoamento, medo de perder o
controle, ansiedade, tremores e sudoreses. Perturbação da capacidade de calcular o tempo e o
espaço, prejuízo da memória e atenção. Dependendo da dose ou da sensibilidade do indivíduo à
maconha, podem acontecer alucinações e delírios, geralmente é quando essas perturbações
ficam mais evidentes.
Em pequenas doses a maconha distorce os sentidos e a percepção. A percepção de
tempo e distância também fica alterada e a consciência corporal aumentada. Todas essas
sensações podem ser prazerosas para algumas pessoas e desagradáveis para outras.
Em altas doses, a possibilidade de experimentar sensações desagradáveis aumenta,
podendo gerar confusão mental, paranoia (sensação de estar sendo perseguido), pânico e
agitação. Podem também ocorrer alucinações.
O uso prolongado dessa substância causa efeitos psíquicos crônicos, como, prejuízos ao
aprendizado e a memorização, além de induzir a total falta de vontade para as coisas da vida,
tudo parece ficar sem graça e sem importância.
Os efeitos físicos são hiperemia conjuntival (olhos avermelhados); diminuição da
produção de saliva taquicardia.
Muitos indivíduos defendem os benefícios da maconha, por se tratar de uma planta, e
justificam o uso, como sendo terapêutico. Essas pessoas na maioria das vezes ignoram os efeitos
físicos crônicos causados pelo uso prolongado. A fumaça contém alto teor de alcatrão (maior
que o cigarro) e é altamente irritante, o benzopireno, substância encontrada na fumaça é
conhecida como fator cancerígeno.
Também ocorre a diminuição na produção de testosterona (de 50% a 60%), podendo
causar infertilidade masculina.
De acordo com pesquisa realizada em 2005, de cada 100 brasileiros, aproximadamente
nove já haviam usado maconha pelo menos uma vez na vida (ou seja, 9%). É claro que esse
dado varia conforme o sexo e a idade: entre homens, 14,3% já usaram e, entre mulheres, 5,1%.
O uso maior é entre jovens adultos de 18 a 24 anos de idade, atingindo a porcentagem de 17%
nessa faixa etária, e menor entre adolescentes de 12 a 17 anos: 4,1%.

Alucinógenos
Denominação dada a diversas drogas que podem provocar distorções do funcionamento
normal do cérebro, trazendo como consequência diversas alterações psíquicas, entre as quais
alucinações e delírios, sem que haja estimulação ou depressão da atividade cerebral. Fazem
parte deste grupo a dietilamida do ácido lisérgico (LSD) e o ecstasy.

A maioria das drogas alucinógenas vem da natureza, principalmente de plantas.


Estas foram ―descobertas‖ pelos antepassados que, ao sentir seus efeitos mentais,
passaram a considerá-las ―plantas divinas‖, isto é, que faziam com que quem as
ingerisse recebesse mensagens divinas, dos deuses. Atualmente em culturas indígenas
de vários países o uso dessas plantas alucinógenas tem esse significado religioso.
Com o progresso da ciência, várias substâncias foram sintetizadas em laboratório
e, dessa maneira, além dos alucinógenos naturais, hoje em dia têm importância
também os alucinógenos sintéticos, dos quais o LSD-25 é o mais representativo.

Dietilamida do Ácido Lisérgico (LSD)


Substância alucinógena sintetizada artificialmente e uma das mais potentes, com ação
psicotrópica. Alguns microgramas (micrograma é um milésimo de um miligrama que, por sua
vez, é um milésimo de um grama) são suficientes para produzir alucinações no ser humano.
Seus efeitos dependem muito da sensibilidade da pessoa às ações da droga, de seu estado de
espírito no momento da utilização e também do ambiente em que se dá a experiência.
O uso de LSD causa os seguintes efeitos: distorções perceptivas (cores, formas e
contornos alterados); fusão de sentidos (por exemplo, a impressão de que os sons adquirem
forma ou cor); perda da discriminação de tempo e espaço (minutos parecem horas ou metros
assemelham-se a quilômetros); alucinações (visuais ou auditivas) podem ser vivenciadas como
sensações agradáveis ou até mesmo de extremo medo; estados de exaltação (coexistem com
muita ansiedade, angústia e pânico e são relatados como boas ou más ―viagens‖).
Causa ainda aceleração do pulso; dilatação das pupilas; episódios de convulsão já foram
relatados, mas são raros.
Como efeito tóxico existe descrições de pessoas que experimentam sensações de
ansiedade muito intensa, depressão e até quadros psicóticos depois de muito tempo do consumo
de LSD. Uma variante desse efeito é o flashback, quando, semanas ou meses após o uso dessa
substância, o indivíduo volta a apresentar repentinamente todos os efeitos psíquicos da
experiência, sem ter voltado a consumir a droga. As consequências são imprevisíveis, uma vez
que tais efeitos não estavam sendo procurados ou esperados e podem surgir em ocasiões
bastante impróprias.
No Brasil, o Ministério da Saúde não reconhece nenhum uso clínico dos alucinógenos, e
sua produção, porte e comércio são proibidos no território nacional.

Ectasy (MDMA)
A MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina) foi sintetizada em 1912 e patenteada em
1914 na Alemanha, pela Merck, empresa farmacêutica, que tinha como proposito desenvolver
um medicamento que pudesse diminuir o apetite, porém devido sua baixa utilidade clínica, os
estudos com essa substancia foram abandonados.
No final da década de 70, voltou a ser discutida a utilidade clinica da MDMA, como
auxiliar do processo terapêutico, onde alguns psiquiatras e psicólogos acreditavam que tal
substância permitia que a pessoa ficasse mais solta, melhorando a comunicação e vínculo entre
paciente e terapeuta.
Paralelamente nos EUA. Iniciou-se o crescimento do uso recreativo da droga, entre
jovens universitários. No inicio dos anos 90 começaram a chegar às primeiras remessas ao
Brasil, vindas da Europa.
No Brasil atualmente existem indícios que tal droga é utilizada para fins recreativos e
parece estar ligada a música eletrônica e ao contexto de festa e dança.
Existem relatos de casos de morte por hipertermia maligna, em que a participação da
droga não é completamente esclarecida. Acredita-se que o ecstasy estimula a hiperatividade e
aumenta a sensação de sede, podendo, talvez, induzir um quadro tóxico específico. Também
existem suspeitas de que a substância seja tóxica para um grupo específico de neurônios
produtores de serotonina.
Causam os seguintes efeitos: agitação, mudança da percepção da realidade, sensação de
melhora nas relações interpessoais, com o desejo de se comunicar, diminuição do apetite,
dilatação das pupilas, aceleração do batimento cardíaco, hipertermia, etc. Dias após o uso de tal
substância pode ocorrer episódios depressivos, fadiga e insônia.

Esteroides Anabolizantes

Apesar de não serem drogas psicotrópicas (pois não são capazes de induzir
dependência, não estando, por este motivo, incluídos nas convenções internacionais da ONU),
os esteroides anabolizantes têm sido usados de forma abusiva.
São drogas lícitas sintetizadas em laboratórios farmacêuticos para substituir o hormônio
masculino testosterona, produzido pelos testículos. São usados como medicamentos para
tratamento de pacientes com deficiência na produção desse hormônio.
A propriedade dessas drogas de aumentar os músculos tem feito com que atletas ou
pessoas que querem melhorar o desempenho e a aparência física utilizem anabolizantes sem
necessidade médica, principalmente aquelas que se julgam pequenas e se sentem infelizes por
essa condição. Esse uso estético não é médico, portanto é ilegal e ainda acarreta problemas à
saúde.

No Brasil, não se tem estimativa desse uso ilícito, mas sabe-se que o consumidor
preferencial está entre 18 e 34 anos de idade e, em geral, é do sexo masculino. Alguns
usuários chegam a utilizar produtos veterinários, à base de esteroides, sobre os quais
não se tem nenhuma ideia dos riscos do uso em humanos.
Essas substâncias podem causar diversas doenças cardiovasculares; alterações no
fígado, inclusive câncer; alterações musculoesqueléticas indesejáveis (ruptura de tendões,
interrupção precoce do crescimento). Quando utilizadas por mulheres, podem, ainda, provocar
masculinização (crescimento de pelos pelo corpo, voz grave, aumento do volume do clitóris).
Em homens podem provocar atrofia dos testículos.
Droga Oxi:
A partir da década de 1980, o estado do Acre convive com a ruína produzida pelo óxi,
uma mistura de pasta-base de cocaína, querosene e cal virgem mais devastadora do que o
temível crack. Há relatos de que o uso do oxi começou em Estados como Acre e Pará há cerca
de 20 anos, mas, ao que tudo indica, começou a se espalhar pelo país nos últimos sete anos. Os
primeiros relatos do consumo da droga se divulgaram na região Norte e, agora, espalha sua
chaga pelas cidades do Centro-Oeste e Sudeste. "Ela já chegou ao Piauí, à Paraíba, ao
Maranhão, a Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro". A droga pode ser misturada ao cigarro
comum e ao cigarro de maconha, mas, geralmente, é fumado em cachimbos de fabricação
caseira, como o crack. Podemos citar duas características da droga, que ajudam a explicar por
que ela se espalha pelo país. A primeira é seu potencial alucinógeno. Assim como o crack, o óxi
pode estimular em um usuário o dobro da euforia provocada pela cocaína. A segunda razão é
seu preço. "O crack não é uma droga cara, mas o óxi é ainda mais barato". Essa é a principal
diferença entre o oxi e o crack no mercado das drogas: o preço. No entanto, especialistas dizem
que o efeito psicológico das duas drogas é muito semelhante, já que ambas têm o mesmo
princípio ativo, que é a pasta de cocaína.Contudo o oxi é mais letal do que o crack, por causa do
alto nível de toxicidade das substâncias de que é composto. A toxicidade do oxi encurta a vida
do usuário em 20% em relação ao crack. ―Os usuários de crack vivem pelo menos 5 a 6 anos,
mas 30% dos usuários de oxi poderão estar mortos depois de um ano". A droga age no sistema
nervoso, proporcionando sensações variadas, que podem ir de prazer e alívio a angústia e
paranoia a depender da pessoa. Uma vez no organismo, a combinação de substâncias do oxi
pode causar lesões sérias da boca até os rins. Devido ao uso prolongado do oxi, a chance de
doenças como cirrose hepática aumenta. Algumas pessoas misturam o oxi com o álcool o que
ainda é pior, por que tal mistura constitui uma substância chamada cocaletileno, sendo esta
altamente tóxica para o fígado.
(Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/oxi-e-mais-prejudicial-que-o-
crack).
(Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI233391-15223,00-
UMA+DROGA+AINDA+PIOR.html)
Cultura Moderna e o Papel das Drogas
O conceito, a percepção humana e o julgamento moral sobre o consumo de drogas
evoluem constantemente e muito se basearam na relação humana com o álcool, por ser ele a
droga de uso mais difundido e antigo. Os aspectos relacionados à saúde só foram mais
estudados e discutidos nos últimos dois séculos, predominando, antes disso, visões
preconceituosas dos usuários, vistos muitas vezes como ‗possuídos por forças do mal‘,
portadores de graves falhas de caráter ou totalmente desprovidos de ‗força de vontade‘ para não
sucumbirem ao ‗vício‘.
Em uma sociedade focada no consumo, na qual o importante é o ―ter‖ e não o ―ser‖, e a
inversão de crenças e valores gera desigualdades sociais, favorece a competitividade e o
individualismo, não há mais ―certezas‖ religiosas, morais, econômicas ou políticas. Esse estado
de insegurança, de insatisfação e de estresse constante incentiva à busca de novos produtos e
prazeres – nesse contexto, as drogas podem ser um deles. Dessa forma, as drogas inserem- se no
movimento social da nossa cultura. Algumas delas, no entanto, são incorporadas em nossa
cultura a ponto de não serem consideradas como drogas. O álcool e o tabaco, por exemplo, são
drogas legalmente comercializadas e aceitas pela sociedade. O álcool faz parte tanto das
festividades sociais, quanto da economia. Essa aceitação é determinada, em geral, por valores
sociais e culturais.
Cultura é definida como um complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das
instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e
característicos de uma sociedade ou de uma civilização (FERREIRA, 1986). Pode ser vista,
também, como um conjunto de atitudes e modos de agir, de costumes, de instituições e valores
espirituais e materiais de um grupo social, de uma sociedade, de um povo.
Com o passar dos tempos à finalidade do consumo de drogas se modificou devido ao
processo de desenvolvimento das civilizações. O homem passou a ter outras necessidades,
outros desejos, que não foram preenchidos pelos modos tradicionais. Essa nova época foi de tal
forma modificada na busca de facilitações para a vida que trouxe, no bojo dos benefícios,
também muitos riscos. Nesse contexto o homem vem perdendo a capacidade de conduzir sua
própria vida, e lidar com suas emoções.
Considerada como sintoma social a dependência química além de ter aumentado
significativamente, também está inscrita no discurso dos tempos atuais e só dessa forma pode
ser compreendida. A época do consumo, marcada pela queda dos referenciais, pela era das
incertezas e fragilidade dos laços sociais, faz com que os indivíduos se sintam desamparados e
adoeçam cada vez mais.
A psicanálise aborda a questão da dependência química de forma a contemplar o
funcionamento psíquico do sujeito dependente.
Com base no mecanismo da compulsão à repetição é possível compreender a violência
psíquica que está envolvida nos quadros de dependência química.
Esse mal-estar causado pela civilização desperta no indivíduo uma insatisfação e
angústia que precisam ser apaziguados, e muitas vezes a solução é a droga.
Na demanda de suprir sua angústia causada pela falta, o dependente é impulsionado a
eleger a droga como substituto de suas inquietações, nessa dinâmica de busca pelo prazer e
evitação do desprazer a pessoa entra num movimento difícil de escapar, pois qualquer desprazer
do mundo real ou subjetivo se torna motivação para o uso. O indivíduo estabelece uma relação
totalitária com a droga, não investindo mais em suas relações sociais e até mesmo profissionais.
2.4. Co-Dependência
A dependência química não se explica apenas pelo contexto social, ser pobre ou ser rico
não determina que alguém use droga. Para compreender a toxicomania faz-se necessário levar
em consideração o significado (lugar) que o indivíduo dá à droga e o papel que este desempenha
dentro da dinâmica familiar, esses dois aspectos são fundamentais para abordar a questão da
dependência química. Nesse sentido o sintoma da dependência não é somente um sintoma
particular, mas um sintoma de um desequilíbrio familiar, onde o sujeito diante os conflitos
familiares encontra uma saída no uso de drogas. A família é tanto parte do problema quanto
parte da solução.
Mas achar um culpado nesse caso não é relevante. Ao contrário, essa busca pode
colocar pais e filhos em posição defensiva, os efeitos negativos podem impedir ambas as partes
compreendam que o problema afeta toda a família.
A dependência química sinaliza uma patologia familiar que, como tal, deve ser tratada.
Codependência é um transtorno emocional definido e conceituado por volta das
décadas de 70 e 80, relacionadas aos familiares dos dependentes químicos, e atualmente
estendidas também aos casos de alcoolismo, de jogo patológico e outros problemas sérios da
personalidade. Codependentes são esses familiares, normalmente cônjuge ou companheira (o),
que vivem em função da pessoa problemática, fazendo desta tutela obsessiva a razão de suas
vidas, sentindo-se úteis e com objetivos apenas quando estão diante do dependente e de seus
problemas. São pessoas que têm baixa autoestima, intenso sentimento de culpa e não
conseguem se desvencilhar da pessoa dependente. É evidente que os codependentes vivem
tentando ajudar a outra pessoa, esquecendo, na maior parte do tempo, de cuidar de sua própria
vida, auto anulando sua própria pessoa em função do outro e dos comportamentos insanos desse
outro. Essa atitude patológica costuma acometer mães (e pais), esposas (e maridos) e namoradas
(os) de alcoolistas, dependentes químicos, jogadores compulsivos, alguns sociopatas, sexuais
compulsivos, etc.
O co-dependente é todo aquele que oferece seus sentimentos e sua vida para proteger o
dependente químico. Geralmente são a família, os amigos e todos que procuram remover as
consequências dolorosas do abuso de drogas na intenção de minimizar os danos causados.
A seguir abordaremos as fases que a família atravessa quando lida com o filho usuário.

Cegueira Familiar
É o período entre o início do uso de drogas pelo jovem até a descoberta pela família.
Muito frequente essa fase mostra o desconhecimento do problema, assim como a dificuldade
dos pais em enfrentar os problemas do filho.
Embora o usuário deixe evidências do uso de drogas, este não fala abertamente à
família. Por exemplo: a irmã ou primos têm conhecimento de alguns cigarros de maconha, a
mãe começa a dar falta de alguns objetos em casa, o pai acha estranho o estado que o filho
chega em casa ultimamente. E apesar dos indícios a família não consegue discutir sobre o que
está acontecendo, nem transmitir suas inquietações ao jovem. Mesmo sinalizado os desajustes
pessoais ou familiares são omitidos pelos pais que se negam a ver o que está acontecendo.
A cegueira familiar pode decorrer de uma desinformação ou de um julgamento
moralista e preconceituoso dos familiares em relação ao uso de drogas.
Uma abordagem que valoriza somente informações sobre o produto (droga) e os
indícios (efeitos) visíveis do seu uso reforça os pais a terem uma postura de identificação do uso
de drogas no filho. Os pais passam a vigiar o filho usuário, a segui-lo e a mexer em seus
pertences, mas não verbalizam suas dúvidas e anseios sobre o uso de drogas, criando desta
forma um clima de desconfiança e angústia dentro da família. Apegar-se á descrição física do
sintoma não é suficiente para compreender toda a complexidade da dependência química.
Para sair desta fase da cegueira familiar é preciso a família se informar de maneira clara
e objetiva sobre os produtos, seus efeitos e suas consequências, sempre levando em
consideração os aspectos pessoais, familiares e sociais do sujeito.

A cegueira familiar faz com que os pais não percebam os problemas que
o jovem apresentava antes da descoberta do uso de drogas. Mesmo depois de
descobrir o uso de drogas a família continua a negar ou desconhecer a
problemática que antecedia a vida do filho, concentrando sua preocupação
exclusivamente ao produto. Os pais acreditam que a solução está na força de
vontade do filho e se deixar de usar droga, o filho voltará a ser o que era antes.
A família nega-se a ver que muitas vezes a única solução encontrada pelo filho
foi o uso de drogas, intoxicando-se conseguiria chamar atenção sobre sua
angústia e que recorrer á droga talvez tenha sido a única forma de pedir socorro
para seus problemas subjetivos e familiares.

A segunda fase atravessada pela família é a revelação do uso de drogas, nesse momento
a família entra em crise.
Essa revelação geralmente é feita por um terceiro (irmão, tio, amigo e até a polícia) ou
decorrente de uma realidade que não se sustenta mais, por exemplo, o comportamento do filho
está muito exacerbado em relação às drogas e o problema não pode mais ser omitido, a família
não consegue mais fechar os olhos diante a cegueira familiar. Admitir essa dura realidade
provoca uma eclosão de conflitos latentes, a família em crise sente-se culpada e sem saber o que
fazer diante a situação do filho usuário de drogas. Nessa fase é comum os familiares, proibir ou
evitar que o usuário saia de casa, que encontre com os amigos, quando é adolescente muitos
apanham dos pais, ora da mais carinho, inclusive se deixando manipular, ora rejeita, ora vigia.
Estes são os comportamentos contraditórios da família nesse momento de crise.
Em geral as famílias procuram especialistas a fim de que o tratamento cure seus filhos
das drogas, que muitas vezes são levados à força às clínicas ou casas de recuperação. Parte
desses usuários não deseja parar de usar drogas nem se comprometem com tratamento o que faz
diminuir as chances de sucesso de uma possível recuperação. Nesse caso, o primeiro contato
com a equipe é uma oportunidade para uma acolhida calorosa, para que posteriormente em um
segundo encontro o sujeito se manifeste espontaneamente com um pedido de ajuda. Diante das
dificuldades da adesão ao tratamento resta aos profissionais apostarem na expectativa de
construção de vínculos com o usuário de drogas. Para melhor compreensão da crise familiar,
vamos usar o exemplo de duas famílias de usuário de drogas.

As famílias de usuários recreativos


Esse tipo de usuário possui um vínculo frágil com a droga e não se apresenta motivado
para um trabalho terapêutico. A família por não desconhecer o nível de comprometimento do
filho com a droga opta pela internação ou a reclusão. Culpabilizando os amigos pelo problema
do filho. Para esses tipos de usuário é recomendado os pais estabelecerem o diálogo, assim a
família poderá avaliar qual o espaço que a droga ocupa na vida do filho, de forma que os pais
compreendam a significação desse comportamento sem negligenciar a importância do
problema.

As famílias de usuários habituais ou dependentes


A utilização frequente ou o abuso de drogas evidenciam a necessidade de orientação e
tratamento especializado. Sem dúvida o usuário de droga merece maior atenção, mas a entrada
em tratamento não deve servir de pretexto para que a família saia de cena, pelo contrário é
importante a família se conscientizar que é parte do problema e que também precisa participar
do tratamento. Um espaço adequado para que a família fale de seu sofrimento, ajuda os pais a
lidarem com a angústia de ter um filho dependente químico e apaziguam os anseios por
soluções imediatistas, como expulsar o filho de casa ou agredi-lo fisicamente e moralmente,
essas situações potencializam o uso de drogas e comprometem o tratamento.
Buscar orientação e participar de grupo de pais ajuda a quebrar o isolamento das
famílias e contribui para a troca de experiências. Nesse sentido a família também se encontra
fragilizada e doente.

A Dinâmica Familiar
Existem alguns aspectos comuns às famílias do usuário de droga que merecem ser
refletidos.
Embora algumas literaturas acreditem que o toxicômano é um sujeito separado de sua
família, percebe-se que mesmo rejeitando os valores familiares, o dependente não consegue
ultrapassar a barreira da dependência dos pais.
Geralmente sai da casa dos pais em uma idade mais avançada, o que denota
imaturidade, dificuldade de assumir atitude de autonomia e independência.
Quando rompe bruscamente com a família, logo recorre aos pais nos momentos de
dificuldade, essa ruptura raramente é definitiva e clara para ambas as partes.

Patologias Encontradas nas Famílias de Dependentes Químicos


No que se refere á família, considera-se tanto os pais e os irmãos (nuclear) como tios,
avós, primos e agregados (mais ampla). Além da toxicomania do jovem encontram-se nessas
formas de famílias, indicadores de patologias, como, o uso abusivo de álcool, geralmente pelo
pai e o uso intenso de medicamentos pela mãe.
Outras condutas patológicas tais como, suicídio, doença mental e estados depressivos
também são encontradas na família mais ampla.

2.5. Dependência química e comorbidades


Dependência química é a consequência de uma relação patológica entre um individuo e
uma substância psicoativa (SPA). É um conjunto de fenômenos que envolvem o
comportamento, a cognição e a fisiologia corporal consequente ao consumo repetido de uma
substância psicoativa, associado ao forte desejo de usar esta substância, juntamente com
dificuldade em controlar sua utilização persistente apesar das suas consequências danosas. Na
dependência geralmente há prioridade ao uso da droga em detrimento de outras atividades e
obrigações sócio ocupacionais. O início do consumo de substância pode se dar por diversos
motivos, que provavelmente persistirão após a instalação da dependência.

Critérios para Dependência de Substância

Um padrão mal adaptado de uso de substância, levando a prejuízo ou


sofrimento clinicamente significativo, manifestado por três (ou mais) dos
seguintes critérios, ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12
meses:
(1) tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos:
(a) necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para
adquirir a intoxicação ou efeito desejado
(b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de
substância
(2) abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos:
(a) síndrome de abstinência característica para a substância
(b) a substância (ou outra estreitamente relacionada a ela) é consumida para
aliviar ou evitar sintomas de abstinência
(3) a substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por
um período mais longo do que o pretendido
(4) existe um desejo persistente ou esforços malsucedidos no sentido de reduzir
ou controlar o uso da substância
(5) muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da
substância (por ex., consultas a múltiplos médicos ou fazer longas viagens de
automóvel), na utilização da substância (por ex., fumar em grupo) ou na
recuperação de seus efeitos
(6) importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são
abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância
(7) o uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema
físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou
exacerbado pela substância (por ex., uso atual de cocaína, embora o indivíduo
reconheça que sua depressão é induzida por ela, ou consumo continuado de
bebidas alcoólicas, embora o indivíduo reconheça que uma úlcera piorou pelo
consumo do álcool)

Disponível em: (http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=223).


Uma das perguntas mais comuns sobre dependência química é saber, afinal, se os
usuários de drogas são mais vulneráveis às doenças mentais ou se algumas doenças mentais é
que levam ao consumo da droga? Excluindo-se o próprio fato da dependência, que já é uma
doença, a pergunta que se faz é saber se a pessoa que continua usando drogas apesar de saber
todo mal que ela causou e causa em sua vida é normal psiquiatricamente.
Conforme afirma o DSM-IV o Transtorno por Uso de Substâncias, que engloba o
abuso e a dependência a substâncias, encontra-se frequentemente associado a outras patologias
psiquiátricas. Assim diante de um paciente com uso problemático de drogas, seja dependência
ou uso abusivo, devemos sempre investigar a existência de outra doença emocional; ou por
baixo da dependência ou como consequência.
A presença de uma patologia em um individuo em concomitância com outra doença, e
que estas duas patologias diagnosticadas se relacionam entre si potencializando os sintomas
uma da outra se denomina: Comorbidade. Exemplo: uma pessoa que já tenha diagnóstico de
transtorno de personalidade e em decorrência deste transtorno acaba por desenvolver outro
(como a dependência química) e assim sua dependência agrava os sintomas do transtorno de
personalidade, como por exemplo, deixando-a mais agressiva – este seria o maior problema
então é que tendo em vista este diagnóstico duplo é necessário que haja cada vez mais
profissionais especializados para oferecer a intervenção adequada, pois as substâncias
psicoativas podem levar o dependente a um quadro de surtos, depressão, psicoses e ansiedade, e
também na abstinência a elas.

Principais Transtornos Associados à Dependência Química:


Transtornos do Humor: Depressão, Transtorno Afetivo Bipolar.
Transtornos Ansiosos: Agorafobia, Transtorno de Pânico, Transtorno de Ansiedade
Generalizada.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Transtornos de Personalidade: Antissocial, Borderline.
Transtornos Alimentares: Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa.
Esquizofrenia, ente outros.
No estudo da dependência química, a manifestação de transtornos mentais e de
comportamentos decorrentes do uso de substancias e de outros transtornos psiquiátricos vem
sendo bastante estudada já desde os anos 80. Estudos realizados em amostras da população geral
evidenciaram que as mulheres abusadoras de álcool apresentaram maiores índices de
comorbidades psiquiátricas quando comparadas ao sexo masculino. As comorbidades mais
encontradas em mulheres foram: transtornos ansiosos (fobia social, fobia simples e transtorno
de estresse pós-traumático), transtornos do humor (depressão e mania) e dependência de drogas,
enquanto que nos homens foi encontrado mais comportamento antissocial. Outro dado notado
foi que as mulheres alcoolistas apresentavam um maior número de comorbidades que os
homens.
Dados encontrados no estudo de ECA (Epidemiological Catchment Area) demostraram
que 76% dos homens e 65 % das mulheres com abuso ou dependência de drogas, incluindo o
álcool, tiveram pelo menos um ou outro diagnóstico psiquiátrico ao longo da vida, ao excluir
abuso e dependência do álcool.
Ainda que tenha havido um crescimento na pesquisa sobre comorbidade psiquiátrica em
dependentes químicos, até o momento, no Brasil são poucos os estudos que investigaram esta
questão, embora haja indícios de que a associação entre transtornos mentais e
abuso/dependência de álcool e/ou drogas seja um problema relevante.

3. POLÍTICA E NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO SOBRE DROGAS

3.1. Política Nacional sobre Drogas


Um assunto que é recorrente em nossa sociedade, e de suma importância para os dias
de hoje, é a temática sobre drogas. Trata-se de um tema que, direta ou indiretamente, diz
respeito a todos nós - governo e sociedade.
Esse tema permite olhares sob várias perspectivas. Podemos apreciá-lo enquanto
cidadãos de uma nação, membros de uma família, participantes de uma comunidade ou como
indivíduos.
Não obstante o Brasil, por meio de processo legislativo aprovou a Resolução nº
03/GSIPR/CH/CONAD, de 27 de Outubro de 2005 que trata sobre a vigência do realinhamento
da Política Nacional sobre Drogas, até porque trata-se de um assunto pertinente ao
investimentos de políticas públicas.
A Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Gabinete de Segurança Institucional da
Presidência da República, consciente de seu papel de articuladora das políticas públicas sobre
drogas, promoveu e facilitou o processo para o realinhamento de nossa Política sobre Drogas.
A política realinhada orienta-se pelo princípio da responsabilidade compartilhada,
adotando como estratégia a cooperação mútua e a articulação de esforços entre governo,
iniciativa privada, terceiro setor e cidadãos, no sentido de ampliar a consciência para a
importância da intersetorialidade e descentralização das ações sobre drogas no país.
A Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), órgão responsável por coordenar e integrar
as ações do governo relativas à redução da demanda de drogas, desenvolveu um amplo processo
democrático com participação governamental e popular, para o realinhamento da política
vigente desde 2001.
Para que essa ação tivesse o resultado esperado, foram considerados os contextos
regional, nacional e internacional. O avanço da ciência, as transformações sociais, políticas,
econômicas e tecnológicas pelas quais o país e o mundo passaram também foram foco da
discussão. Para o realinhamento da política brasileira sobre drogas foi adotada uma metodologia
de interação entre governo e sociedade. Composta por uma série de eventos, esta metodologia
foi desenvolvida visando a facilitar a participação da população e garantir a atualização da
PNAD em caráter democrático e participativo. Houve três momentos distintos de preparação:
um internacional, seis regionais e o último, nacional.
A descentralização e a democratização das discussões tornaram-se metas primárias
desse processo. Muito mais que a participação da comunidade científica e do governo, a
participação da sociedade era o fator determinante para o sucesso desta iniciativa. Por fim, ficou
sistematizado que Política Nacional Antidrogas estaria subdividida nos seguintes capítulos:
(1) Pressupostos Básicos e Objetivos da PNAD;
(2) Prevenção;
(3) Tratamento, Recuperação e Reinserção Social;
(4) Redução de Danos Sociais e a Saúde;
(5) Redução da Oferta – Repressão
(6) Estudos, Pesquisas e Avaliações.

3.2. Pressupostos da Política Nacional sobre Drogas


- Buscar, incessantemente, atingir o ideal de construção de uma sociedade protegida do uso de
drogas ilícitas e do uso indevido de drogas lícitas.
- Reconhecer as diferenças entre o usuário, a pessoa em uso indevido, o dependente e o
traficante de drogas, tratando-os de forma diferenciada.
- Tratar de forma igualitária, sem discriminação, as pessoas usuárias ou dependentes de drogas
lícitas ou ilícitas.
- Buscar a conscientização do usuário e da sociedade em geral de que o uso de drogas ilícitas
alimenta as atividades e organizações criminosas que têm, no narcotráfico, sua principal fonte
de recursos financeiros.
- Garantir o direito de receber tratamento adequado a toda pessoa com problemas decorrentes do
uso indevido de drogas.
- Priorizar a prevenção do uso indevido de drogas, por ser a intervenção mais eficaz e de menor
custo para a sociedade.
- Não confundir as estratégias de redução de danos como incentivo ao uso indevido de drogas,
pois se trata de uma estratégia de prevenção.
- Intensificar, de forma ampla, a cooperação nacional e internacional, participando de fóruns
sobre drogas, bem como estreitando as relações de colaboração multilateral, respeitando a
soberania nacional.
- Reconhecer a corrupção e a lavagem de dinheiro como as principais vulnerabilidades a serem
alvos das ações repressivas, visando ao desmantelamento do crime organizado, em particular do
relacionado com as drogas.
- Elaborar planejamento que permita a realização de ações coordenadas dos diversos órgãos
envolvidos no problema, a fim de impedir a utilização do território nacional para o cultivo, a
produção, a armazenagem, o trânsito e o tráfico de drogas ilícitas.
- Garantir, incentivar e articular, por intermédio do Conselho Nacional Antidrogas - CONAD, o
desenvolvimento de estratégias de planejamento e avaliação nas políticas de educação,
assistência social, saúde e segurança pública, em todos os campos relacionados às drogas.
- Garantir ações para reduzir a oferta de drogas, por intermédio de atuação coordenada e
integrada dos órgãos responsáveis pela persecução criminal, em níveis: federal e estadual.
Visando realizar ações repressivas e processos criminais contra os responsáveis pela produção e
tráfico de substâncias proscritas, de acordo com o previsto na legislação.
- Fundamentar, no princípio da responsabilidade compartilhada, a coordenação de esforços entre
os diversos segmentos do governo e da sociedade, em todos os níveis, buscando efetividade e
sinergia no resultado das ações, no sentido de obter redução da oferta e do consumo de drogas,
do custo social a elas relacionado e das consequências adversas do uso e do tráfico de drogas
ilícitas e do uso indevido de drogas lícitas.
- Garantir a implantação, efetivação e melhoria dos programas, ações e atividades de redução da
demanda (prevenção, tratamento, recuperação e reinserção social) e redução de danos, levando
em consideração os indicadores de qualidade de vida, respeitando potencialidades e princípios
éticos.
- Incentivar, orientar e propor o aperfeiçoamento da legislação para garantir a implementação e
a fiscalização das ações decorrentes desta política.
- Pesquisar, experimentar e implementar novos programas, projetos e ações, de forma
pragmática e sem preconceitos, visando à prevenção, tratamento, reinserção psicossocial,
redução da demanda, oferta e danos com fundamento em resultados científicos comprovados.
- Garantir que o Sistema Nacional Antidrogas - SISNAD seja implementado por meio dos
Conselhos em todos os níveis de governo e que esses possuam caráter deliberativo, articulador,
normativo e consultivo, assegurando a composição paritária entre sociedade civil e governo.
- Reconhecer o uso irracional das drogas lícitas como fator importante na indução de
dependência, devendo, por esse motivo, ser objeto de um adequado controle social,
especialmente nos aspectos relacionados à propaganda, comercialização e acessibilidade de
populações vulneráveis, tais como crianças e adolescentes.
- Garantir dotações orçamentárias permanentes para o Fundo Nacional Antidrogas - FUNAD, a
fim de implementar ações propostas pela Política Nacional sobre Drogas, com ênfase para
aquelas relacionadas aos capítulos da PNAD: prevenção, tratamento e reinserção social, redução
de danos, redução da oferta, estudos e pesquisas e avaliações.

3.3. Objetivos da Política Nacional sobre Drogas


- Conscientizar a sociedade brasileira sobre os prejuízos sociais e as implicações negativas
representadas pelo uso indevido de drogas e suas consequências.
- Educar, informar, capacitar e formar pessoas em todos os segmentos sociais para a ação
efetiva e eficaz de redução da demanda, da oferta e de danos, fundamentada em conhecimentos
científicos validados e experiências bem-sucedidas, adequadas à nossa realidade.
- Conhecer, sistematizar e divulgar as iniciativas, ações e campanhas de prevenção do uso
indevido de drogas em uma rede operativa, com a finalidade de ampliar sua abrangência e
eficácia.
- Implantar e implementar rede de assistência integrada, pública e privada, intersetorial, para
pessoas com transtornos decorrentes do consumo de substâncias psicoativas, fundamentada em
conhecimento validado, de acordo com a normatização funcional mínima, integrando os
esforços desenvolvidos no tratamento.
- Avaliar e acompanhar sistematicamente os diferentes tratamentos e iniciativas terapêuticas,
fundamentados em diversos modelos, com a finalidade de promover aqueles que obtiverem
resultados favoráveis.
- Reduzir as consequências sociais e de saúde decorrentes do uso indevido de drogas para a
pessoa, a comunidade e a sociedade.
- Difundir o conhecimento sobre os crimes, delitos e infrações relacionados às drogas ilícitas e
lícitas, prevenindo-os e coibindo-os por meio da implementação e efetivação de políticas
públicas para a melhoria da qualidade de vida do cidadão.
- Combater o tráfico de drogas e os crimes conexos, em todo território nacional, dando ênfase às
áreas de fronteiras terrestres, aéreas e marítimas, por meio do desenvolvimento e implementação
de programas socioeducativos específicos, multilaterais, que busquem a promoção da saúde e a
reparação dos danos causados à sociedade.
- Assegurar, de forma contínua e permanente, o combate à corrupção e à lavagem de dinheiro,
como forma de estrangular o fluxo lucrativo desse tipo de atividade ilegal, que diz respeito ao
tráfico de drogas.
- Manter e atualizar, de forma contínua, o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas
- OBID, para fundamentar, dentro de outras finalidades, o desenvolvimento de programas e
intervenções dirigidas à redução de demanda (prevenção, tratamento e reinserção psicossocial),
redução de danos e de oferta de drogas, resguardados o sigilo, a confidencialidade e seguidos os
procedimentos éticos de pesquisa e armazenamento de dados.
- Garantir rigor metodológico às atividades de redução da demanda, oferta e danos, por meio da
promoção de levantamentos e pesquisas sistemáticas, avaliados por órgão de referência da
comunidade científica.
- Garantir a realização de estudos e pesquisas visando à inovação dos métodos e programas de
redução da demanda, da oferta e dos danos sociais e à saúde.
- Instituir, em todos os níveis de governo, com rigor metodológico, sistema de planejamento,
acompanhamento e avaliação das ações de redução da demanda, da oferta e dos danos sociais e
à saúde.
- Assegurar, em todos os níveis de governo, dotação orçamentária e efetivo controle social sobre
os gastos e ações preconizadas nesta política, em todas as etapas de sua implementação,
contemplando os preceitos estabelecidos pelo CONAD, incentivando a participação de toda a
sociedade.
3.4. Prevenção
A efetiva prevenção é fruto do comprometimento, da cooperação e da parceria entre os
diferentes segmentos da sociedade brasileira e dos órgãos governamentais, federal, estadual e
municipal, fundamentada na filosofia da ―Responsabilidade Compartilhada‖, com a construção
de redes sociais que visem à melhoria das condições de vida e promoção geral da saúde.
A execução desta política, no campo da prevenção deve ser descentralizada nos
municípios, com o apoio dos Conselhos Estaduais de políticas públicas sobre drogas e da
sociedade civil organizada, adequada às peculiaridades locais e priorizando as comunidades
mais vulneráveis, identificadas por um diagnóstico. Para tanto, os municípios devem ser
incentivados a instituir, fortalecer e divulgar o seu Conselho Municipal sobre Drogas.
No caso da nossa cidade, isso se dá por meio do Conselho Municipal antidrogas
(COMAD) na forma da lei n° 2.819 de 28 de dezembro de 2001. São objetivos do Conselho
Municipal Antidrogas – COMAD segundo o artigo 2º da lei em comento:
I – Formular a política municipal antidrogas, propondo um Programa de prevenção ao uso
indevido e abuso de drogas e entorpecentes, compatibilizando-o com a respectiva política
estadual, proposta pelo Conselho Estadual de Entorpecentes – CONEN/GO, bem como com os
planos nacionais e regionais;
II – Estabelecer prioridades entre as suas atividades, por meio de critérios técnicos, econômicos
e administrativos, inclusive coordenando e desenvolvendo programas e atividades específicas de
prevenção à disseminação de tráfico e do uso indevido e abuso de drogas;
III- Rever procedimentos de administração nas áreas de prevenção, repressão, tratamento,
recuperação e reinserção social, estimulando e cooperando com serviços que visem ao
encaminhamento e tratamento de dependentes de drogas e entorpecentes;
IV – Colaborar, acompanhar e formular sugestões para as ações de fiscalização e repressão, pelo
Estado e pela União, estabelecendo fluxos contínuos e permanentes de informações entre seus
órgãos;
V – Estimular pesquisas e estudos, visando o aperfeiçoamento das atividades nas áreas de sua
competência;
VI – Promover a inclusão de ensinamentos nos cursos de formação de professores em
todos os níveis, referentes às substâncias entorpecentes e drogas que causem dependência física
ou psíquica e apresentar sugestões sobre a matéria, para fins de encaminhamento a autoridades e
órgãos de outros municípios, estaduais e federais;
VII – Propor ao Prefeito Municipal medidas que visem a atender os objetivos previstos nos
incisos anteriores."
As ações preventivas devem ser pautadas em princípios éticos e pluralidade cultural,
orientando-se para a promoção de valores voltados à saúde física e mental, individual e coletiva,
ao bem-estar, à integração socioeconômica e a valorização das relações familiares, considerando
seus diferentes modelos.
As ações preventivas devem ser planejadas e direcionadas ao desenvolvimento
humano, o incentivo à educação para a vida saudável, acesso aos bens culturais, incluindo a
prática de esportes, cultura, lazer, a socialização do conhecimento sobre drogas, com
embasamento científico, o fomento do protagonismo juvenil, da participação da família, da
escola e da sociedade na multiplicação dessas ações.
As mensagens utilizadas em campanhas e programas educacionais e preventivos
devem ser claras, atualizadas e fundamentadas cientificamente, considerando as especificidades
do público-alvo, as diversidades culturais, a vulnerabilidade, respeitando as diferenças de
gênero, raça e etnia.

3.5. Tratamento, Recuperação e Reinserção Social


O Estado deve estimular, garantir e promover ações para que a sociedade (incluindo os
usuários, dependentes, familiares e populações específicas), possa assumir com
responsabilidade ética, o tratamento, a recuperação e a reinserção social, apoiada técnica e
financeiramente, de forma descentralizada, pelos órgãos governamentais, nos níveis municipal,
estadual e federal, pelas organizações não governamentais e entidades privadas.
O acesso às diferentes modalidades de tratamento e recuperação, reinserção social e
ocupacional deve ser identificado, qualificado e garantido como um processo contínuo de
esforços disponibilizados, de forma permanente, para os usuários, dependentes e seus
familiares, com investimento técnico e financeiro de forma descentralizada.
As ações de tratamento, recuperação, reinserção social e ocupacional devem ser
vinculadas a pesquisas científicas, avaliando-as e incentivando-as e multiplicando aquelas que
tenham obtido resultados mais efetivos, com garantia de alocação de recursos técnicos e
financeiros, para a realização dessas práticas e pesquisas, promovendo o aperfeiçoamento das
demais.
Na etapa da recuperação, deve-se destacar e promover ações de reinserção familiar,
social e ocupacional, em razão de sua constituição como instrumento capaz de romper o ciclo
consumo/tratamento, para grande parte dos envolvidos, por meio de parcerias e convênios com
órgãos governamentais e organizações não governamentais, assegurando a distribuição
descentralizada de recursos técnicos e financeiros.

Redução dos danos sociais e a saúde


A promoção de estratégias e ações de redução de danos, voltadas para a saúde pública
e direitos humanos, deve ser realizada de forma articulada inter e intra-setorial, visando à
redução dos riscos, as conseqüências adversas e dos danos associados ao uso de álcool e outras
drogas para a pessoa, a família e a sociedade.

Redução da oferta
A redução substancial dos crimes relacionados ao tráfico de drogas ilícitas e ao uso
abusivo de substâncias nocivas à saúde, responsáveis pelo alto índice de violência no país, deve
proporcionar melhoria nas condições de segurança das pessoas.
Meios adequados devem ser assegurados à promoção da saúde e à preservação das
condições de trabalho e da saúde física e mental dos profissionais de segurança pública,
incluindo assistência jurídica.
As ações contínuas de repressão devem ser promovidas para reduzir a oferta das
drogas ilegais e/ou de abuso, pela erradicação e apreensão permanentes destas produzidas no
país, pelo bloqueio do ingresso das oriundas do exterior, destinadas ao consumo interno ou ao
mercado internacional e pela identificação e desmantelamento das organizações criminosas.
A coordenação, promoção e integração das ações dos setores governamentais,
responsáveis pelas atividades de prevenção e repressão ao tráfico de drogas ilícitas, nos diversos
níveis de governo, devem orientar a todos que possam apoiar, aprimorar e facilitar o trabalho.
A execução da Política Nacional sobre Drogas deve estimular e promover, de forma
harmônica com as diretrizes governamentais, a participação e o engajamento de organizações
não governamentais e de todos os setores organizados da sociedade.

Estudos, Pesquisas e Avaliações


Meios necessários devem ser garantidos para estimular, fomentar, realizar e assegurar,
com a participação das instâncias federal, estaduais, municipais e o Distrito Federal, o
desenvolvimento permanente de estudos, pesquisas e avaliações que permitam aprofundar o
conhecimento sobre drogas, a extensão do consumo e sua evolução, a prevenção do uso
indevido, repressão, tratamento, reabilitação, redução de danos, reinserção social e ocupacional,
observando os preceitos éticos.
Meios necessários devem ser garantidos à realização de estudos, análises e avaliações
sobre as práticas das intervenções públicas e privadas, nas áreas de prevenção, tratamento,
reabilitação, redução de danos, reinserção social e ocupacional, redução da oferta, considerando
que os resultados orientarão a continuidade ou a reformulação dessas práticas.

3.6. Lei nº 11.343/2006 - Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas


A lei n°11.343/06 institui do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas com
a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades de prevenção, tratamento
e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, bem como as de repressão ao tráfico
estando em perfeito alinhamento com a Política Nacional sobre Drogas e com os compromissos
internacionais do país.
Entre os principais pontos a serem destacados está a distinção clara e definitiva entre
usuários /dependentes de drogas e traficantes, colocados em capítulos diferentes. A nova lei não
descriminaliza qualquer tipo de droga. Apesar do porte continuar caracterizado como crime,
usuários e dependentes não estarão mais sujeitos à pena privativa de liberdade mas, sim, a
medidas socioeducativas aplicadas pelos juizados especiais criminais.
O texto prevê o aumento do tempo de prisão para os traficantes que continuam a serem
julgados pelas varas criminais comuns. A pena passará de três a quinze para cinco a quinze anos
de detenção. A tipificação do crime de financiador do tráfico, com pena de 8 a 20 anos de
prisão, é mais um ponto a se destacar.
Outros aspectos inovadores são: o fim do tratamento obrigatório para dependentes de
drogas e a concessão de benefícios fiscais para iniciativas de prevenção, tratamento, reinserção
social e repressão ao tráfico.

Finalidade
O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades
relacionadas com: a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e
dependentes de drogas e a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de
drogas. (artigo 2º)

Princípios
São princípios do Sisnad, como enumera o artigo 3º da referida lei:
I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto à sua
autonomia e à sua liberdade;
II - o respeito à diversidade e às especificidades populacionais existentes;
III - a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania do povo brasileiro,
reconhecendo-os como fatores de proteção para o uso indevido de drogas e outros
comportamentos correlacionados;
IV - a promoção de consensos nacionais, de ampla participação social, para o
estabelecimento dos fundamentos e estratégias do Sisnad;
V - a promoção da responsabilidade compartilhada entre Estado e Sociedade,
reconhecendo a importância da participação social nas atividades do Sisnad;
VI - o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores correlacionados com o uso
indevido de drogas, com a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito;
VII - a integração das estratégias nacionais e internacionais de prevenção do uso
indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua
produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito;
VIII - a articulação com os órgãos do Ministério Público e dos Poderes Legislativo e
Judiciário visando à cooperação mútua nas atividades do Sisnad;
IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que reconheça a interdependência e a
natureza complementar das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social
de usuários e dependentes de drogas, repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de
drogas;
X - a observância do equilíbrio entre as atividades de prevenção do uso indevido,
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção
não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a garantir a estabilidade e o bem-estar social;
XI - a observância às orientações e normas emanadas do Conselho Nacional
Antidrogas - Conad.
Objetivos
O Sisnad tem os seguintes objetivos: contribuir para a inclusão social do cidadão,
visando a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos de risco para o uso indevido de
drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamentos correlacionados; promover a construção e a
socialização do conhecimento sobre drogas no país e promover a integração entre as políticas de
prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de
repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas públicas setoriais dos
órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados e Municípios.

Prevenção, Atividades de atenção ao usuário e Atividades de Reinserção


A lei define prevenção como: atividades direcionadas para a redução dos fatores de
vulnerabilidade e risco e para a promoção e o fortalecimento dos fatores de proteção. Essas, por
sua vez, devem obedecer as seguintes diretrizes (artigo 19, incisos I ao XIII):

 o reconhecimento do uso indevido de drogas como fator de interferência na qualidade


de vida do indivíduo e na sua relação com a comunidade à qual pertence;
 a adoção de conceitos objetivos e de fundamentação científica como forma de orientar
as ações dos serviços públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos e
estigmatização das pessoas e dos serviços que as atendam;
 o fortalecimento da autonomia e da responsabilidade individual em relação ao uso
indevido de drogas;
 o compartilhamento de responsabilidades e a colaboração mútua com as instituições do
setor privado e com os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e dependentes de
drogas e respectivos familiares, por meio do estabelecimento de parcerias;
 a adoção de estratégias preventivas diferenciadas e adequadas às especificidades
socioculturais das diversas populações, bem como das diferentes drogas utilizadas;
 o reconhecimento do ―não-uso‖, do ―retardamento do uso‖ e da redução de riscos como
resultados desejáveis das atividades de natureza preventiva, quando da definição dos
objetivos a serem alcançados;
 o tratamento especial dirigido às parcelas mais vulneráveis da população, levando em
consideração as suas necessidades específicas;
 a articulação entre os serviços e organizações que atuam em atividades de prevenção do
uso indevido de drogas e a rede de atenção a usuários e dependentes de drogas e
respectivos familiares;
 o investimento em alternativas esportivas, culturais, artísticas, profissionais, entre
outras, como forma de inclusão social e de melhoria da qualidade de vida;
 o estabelecimento de políticas de formação continuada na área da prevenção do uso
indevido de drogas para profissionais de educação nos 3 (três) níveis de ensino;
 a implantação de projetos pedagógicos de prevenção do uso indevido de drogas, nas
instituições de ensino público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares Nacionais
e aos conhecimentos relacionados a drogas;
 a observância das orientações e normas emanadas do Conad;
 o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas setoriais
específicas.
Os artigos 20 e 21 da lei em comento conceituam atividades de atenção ao usuário e
atividades de reinserção, que respectivamente são: atividades de atenção que visem à melhoria
da qualidade de vida e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso de drogas. E
atividades que são direcionadas para sua integração ou reintegração em redes sociais. Ambas as
atividades obedecem aos seguintes princípios:
 respeito ao usuário e ao dependente de drogas, independentemente de quaisquer
condições, observados os direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional de Assistência Social;
 a adoção de estratégias diferenciadas de atenção e reinserção social do usuário e do
dependente de drogas e respectivos familiares que considerem as suas peculiaridades
socioculturais;
 definição de projeto terapêutico individualizado, orientado para a inclusão social e para
a redução de riscos e de danos sociais e à saúde;
 atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos respectivos familiares, sempre que
possível, de forma multidisciplinar e por equipes multiprofissionais;
 observância das orientações e normas emanadas do Conad;
 o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas setoriais
específicas.

Dos crimes e penas


A conduta prevista no art.28 da Lei 11.343/06 é de competência dos Juizados
Especiais Criminais, incumbindo ao Ministério Público, quando do oferecimento da proposta de
transação penal, indicar a pena ou penas que deverão ser impostas ao usuário. Diferentemente
do que ocorria na disciplina anterior, sob a dicção da lei 6368/76, na ocorrência de
descumprimento da transação, o ministério público não oferecerá denúncia pelo porte, podendo,
o juiz, realizar nova censura verbal ou aplicar o pagamento de uma multa. É possível, também,
que o usuário obtenha nova proposta de transação penal, ainda que já beneficiado há menos de
05(cinco) anos.
A conduta do usuário vem representada por cinco núcleos, a saber: adquirir, guardar,
ter em depósito, transportar e trazer consigo.
Trata-se de crime de ação múltipla, afastando o instituto do concurso de crimes, caso o
agente incorra em mais de uma das condutas descritas, porque traduzido como delito único.
A aplicação das penas previstas nos incisos I, II e III do art.28 da Lei 11.343/06
alcança os processos em curso, bem como os findos, com trânsito em julgado, em homenagem
ao princípio da retroatividade de lei mais benéfica. São modalidades de sanção não privativa de
liberdade previstas no art.28 da Lei 11.343/06:

 Advertência sobre os efeitos da droga: modelo sem precedentes na legislação


penal que apresenta natureza jurídica de pena, devendo ser aplicada na própria audiência
preliminar, em conformidade com o rito procedimental da Lei 9099/95, gerando reincidência;
 Prestação de serviços à comunidade: na dicção da nova lei, abandona o caráter
substitutivo à pena privativa, assumindo a natureza de pena principal;
 Comparecimento a programa ou curso educativo: tem caráter inovador, nos
moldes da primeira punição e, da mesma forma, com natureza jurídica de pena, gerando
reincidência.
A análise da quantidade de droga encontrada em poder do réu segue a seguinte
orientação legislativa: Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz
atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente.
O tipo penal do art.33 da Lei 11.343/06, apresenta dezoito verbos (importar, exportar,
remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, fornecer, ter em
depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar e entregar), modalidade de
tipo misto alternativo, hipótese em que, a prática de mais de uma conduta, não implica concurso
de crimes, mas um único delito.
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena — reclusão de 5 (cinco) a 15
quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
§ 1° Nas mesmas penas incorre quem:
I — importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece,
fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo
ou produto químico destinado à preparação de drogas;
II — semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a
preparação de drogas;
III — utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para
o tráfico ilícito de drogas.
§ 2° Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:
Pena — detenção, de l (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos)
dias-multa.
§ 3° Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena — detenção, de 6 (seis) meses a l (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a
1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
§ 4a Nos delitos definidos no caput e no § 1° deste artigo, as penas poderão ser
reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde
que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem
integre organização criminosa.

Do procedimento
Em conformidade com o artigo 48 O procedimento relativo aos processos por crimes
definidos nesta lei, aplica-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da
Lei de Execução Penal. Lembrando que, tratando-se da conduta prevista no art. 28 da Lei, não
se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo
competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo
circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários.
Decreto nº 5.912/2006
Esse decreto regulamenta sobre as políticas públicas sobre drogas e a instituição do
Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - SISNAD, e dá outras providências.

O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - SISNAD, instituído


pela Lei no 11.343/2006, tem por finalidade articular, integrar, organizar e coordenar as
atividades relacionadas com: a prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social
de usuários e dependentes de drogas; e a repressão da produção não autorizada e do
tráfico ilícito de drogas.
Tal dispositivo legal dispõe das atribuições que órgãos federais, estaduais e
municipais tem no que tange às políticas públicas antidrogas.
Integram o SISNAD:
 o Conselho Nacional Antidrogas - CONAD, órgão normativo e de deliberação
coletiva do sistema, vinculado ao Ministério da Justiça;
 a Secretaria Nacional Antidrogas - SENAD, na qualidade de secretaria-executiva
do colegiado;
 o conjunto de órgãos e entidades públicos do Poder executivo federal, Estados,
Municípios e Distrito Federal, que exerçam atividades de que tratam os incisos
I e II do art. 1º.
Compete ao CONAD, na qualidade de órgão superior do SISNAD: acompanhar e
atualizar a política nacional sobre drogas, consolidada pela SENAD; exercer orientação
normativa sobre as atividades previstas no art. 1o; acompanhar e avaliar a gestão dos recursos do
Fundo Nacional Antidrogas - FUNAD e o desempenho dos planos e programas da política
nacional sobre drogas; propor alterações em seu Regimento Interno; e promover a integração ao
SISNAD dos órgãos e entidades congêneres dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.

Lei nº 9.099/1995
A Lei n.º 9.099/95 representou grande avanço do discurso despenalizador ao
estabelecer como princípios orientadores do procedimento penal no âmbito dos Juizados
Especiais Criminais a oralidade, informalidade, economia processual e celeridade (Rapidez), e a
mitigação dos princípios da obrigatoriedade e da indisponibilidade da ação penal pública através
de medidas como a transação penal, a composição civil dos danos e a suspensão condicional do
processo.
No que concerne à conduta de posse de drogas para consumo pessoal, durante a
vigência da Lei n.º 6.368/1976, cominava-se pena privativa de liberdade, qual seja, de 6 (seis)
meses a 2 (dois) anos de detenção, e multa.
Com a entrada em vigor da Lei dos Juizados Especiais surge a "primeira perspectiva
despenalizadora em relação à posse de droga para consumo pessoal", representada pelo instituto
da suspensão condicional do processo para os crimes cuja pena mínima cominada for igual ou
inferior a um ano, critério no qual encontrava-se inserida a conduta de posse de drogas para
consumo próprio tipificada pelo artigo 16 da antiga lei de drogas.
Em sua redação original, o artigo 61 da Lei 9.099/95 inseria no conceito de infração
de menor potencial ofensivo as contravenções penais e os crimes a que a lei cominasse pena
máxima não superior a um ano, excetuados os casos submetidos a procedimento especial.
Configurada a conduta típica, o agente deverá ser prontamente encaminhado ao juízo
competente. Caso tal procedimento não seja possível o possuidor de drogas para consumo
pessoal será apresentado à autoridade policial, perante a qual será lavrado termo
circunstanciado, o agente assumirá o compromisso de comparecer em juízo e livrar-se-á solto.
O parágrafo 2º do artigo 48 da lei de drogas refere-se ainda à requisição de exames e
perícias, a qual, ausente a autoridade judicial, será realizada pela autoridade policial, de acordo
com o parágrafo 3º do mesmo artigo.
Apesar de o artigo de lei em questão não referir-se expressamente à realização do
laudo de constatação da potencialidade tóxica do objeto material da infração, respectivo exame
torna-se imprescindível para a comprovação da materialidade do ilícito.

A política de álcool e outras drogas


Antecedentes: a omissão histórica da saúde pública. A saúde pública brasileira não
vinha se ocupando devidamente com o grave problema da prevenção e tratamento de
transtornos associados ao consumo de álcool e outras drogas. Produziu-se historicamente uma
importante lacuna na política pública de saúde, deixando-se a questão das drogas para as
instituições da justiça, segurança pública, pedagogia e associações religiosas. A complexidade
do problema contribuiu para a relativa ausência do Estado, e possibilitou a disseminação em
todo o país de "alternativas de atenção" de caráter total, fechado, baseadas em uma prática
predominantemente psiquiátrica ou médica, ou, ainda, de cunho religioso, tendo como
principal objetivo a ser alcançada a abstinência. Esta rede de instituições – em sua maioria
filantrópicas – cumprem um papel relevante, e apontam a necessidade de assunção pela saúde
pública de uma política mais clara e incisiva para o problema.
As implicações sociais, psicológicas, econômicas e políticas do uso de drogas não são
consideradas na compreensão global do problema e a percepção distorcida da realidade do uso
de álcool e outras drogas acabou por promover a disseminação de uma cultura que associa o
uso de drogas à criminalidade e que combate substâncias que são inertes por natureza, fazendo
que o indivíduo e o seu meio de convívio fiquem aparentemente relegados a um plano menos
importante.
Assim, historicamente, no Brasil o tema do uso do álcool e de outras drogas vem sendo
associado à criminalidade e práticas anti-sociais e à oferta de "tratamentos" inspirados em
modelos de exclusão/separação dos usuários do convívio social. As iniciativas governamentais
restringiam-se a poucos serviços ambulatoriais ou hospitalares, em geral vinculados a
programas universitários. Não havia uma política de alcance nacional, no âmbito da saúde
pública. É somente em 2002, e em concordância com as recomendações da III Conferência
Nacional de Saúde Mental, que o Ministério da Saúde passa a implementar o Programa
Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas,
reconhecendo o problema do uso prejudicial de substâncias como importante problema da
saúde pública e construindo uma política pública específica para a atenção às pessoas que
fazem uso de álcool ou outras drogas, situada no campo da saúde mental, e tendo como
estratégia a ampliação do acesso ao tratamento, a compreensão integral e dinâmica do
problema, a promoção dos direitos e a abordagem de redução de danos.
De fato, a constatação de que o uso de substâncias tomou proporção de grave problema
de saúde pública no país encontra ressonância nos diversos segmentos da sociedade, pela
relação comprovada entre o consumo e os agravos sociais que dele decorrem ou que o
reforçam. O enfrentamento desta problemática constitui uma demanda mundial: de acordo
com a Organização Mundial de Saúde, pelo menos 10% das populações dos centros urbanos
de todo o mundo consomem de modo prejudicial substâncias psicoativas, independentemente
de idade, sexo, nível de instrução e poder aquisitivo. Salvo variações sem repercussão
epidemiológica significativa, esta realidade encontra equivalência em território brasileiro.
Em especial, o uso do álcool impõe ao Brasil e às sociedades de todos os países uma
carga global de agravos indesejáveis e extremamente dispendiosos, que acometem os
indivíduos em todos os domínios de sua vida.

3.7. Política Nacional sobre o Álcool


O CONAD com o objetivo de ampliar o espaço de participação social para a discussão
de tão importante tema e ciente dos graves problemas inerentes ao consumo prejudicial de
álcool instalou Câmara Especial de Políticas Públicas sobre o Álcool – CEPPA.
Esse processo permitiu ao Brasil chegar à uma política realista, sem qualquer viés de
fundamentalismo ou de banalização do consumo, embasada de forma consistente por dados
epidemiológicos, pelos avanços da ciência e pelo respeito ao momento sócio político do País,
refletindo a preocupação da sociedade em relação ao uso cada vez mais precoce dessa
substância, assim como o seu impacto negativo na saúde e na segurança.
Em maio de 2007, o Governo Federal, por meio de um Decreto Presidencial (nº
6.117/07), apresentou à sociedade brasileira a Política Nacional sobre o Álcool, numa clara
demonstração de responsabilidade e vontade política com um assunto difícil, mas de
inquestionável relevância.
A Política Nacional sobre o Álcool, reconhecendo a importância da implantação de
diferentes medidas articuladas entre si e, numa proposta efetiva ao clamor da sociedade por
ações concretas de proteção aos diferentes domínios da vida da população, veio acompanhada
de um elenco de medidas passíveis de implementação pelos órgãos de governo no âmbito de
suas competências e outras de articulação com o poder Legislativo e outros setores da
sociedade.

Decreto nº 6.117/2007
Aprovada a Política Nacional sobre o Álcool, consolidada a partir das conclusões do
Grupo Técnico Interministerial instituído pelo Decreto de 28 de maio de 2003, que formulou
propostas para a política do Governo Federal em relação à atenção a usuários de álcool, e das
medidas aprovadas no âmbito do Conselho Nacional Antidrogas.

Objetivos
A Política Nacional sobre o Álcool contém princípios fundamentais à sustentação de
estratégias para o enfrentamento coletivo dos problemas relacionados ao consumo de álcool,
contemplando a intersetorialidade e a integralidade de ações para a redução dos danos sociais, à
saúde e à vida, causados pelo consumo desta substância, bem como as situações de violência e
criminalidade associadas ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas na população brasileira.
Conceito de Bebida Aalcoólica
Para os efeitos desta Política, é considerada bebida alcoólica aquela que contiver 0,5
grau Gay- Lussac ou mais de concentração, incluindo-se aí bebidas destiladas, fermentadas e
outras preparações, como a mistura de refrigerantes e destilados, além de preparações
farmacêuticas que contenham teor alcoólico igual ou acima de 0,5 grau Gay-Lussac.

Diretrizes da Política Nacional Sobre o Álcool


São diretrizes da Política Nacional sobre o Álcool:

 promover a interação entre Governo e sociedade, em todos os seus segmentos, com


ênfase na saúde pública, educação, segurança, setor produtivo, comércio, serviços e
organizações não-governamentais;
 estabelecer ações descentralizadas e autônomas de gestão e execução nas esferas
federal, estadual, municipal e distrital;
 estimular para que as instâncias de controle social dos âmbitos federal, estadual,
municipal e distrital observem, no limite de suas competências, seu papel de articulador
dos diversos segmentos envolvidos;
 utilizar a lógica ampliada do conceito de redução de danos como referencial para as
ações políticas, educativas, terapêuticas e preventivas relativas ao uso de álcool, em
todos os níveis de governo;
 considerar como conceito de redução de danos, para efeitos desta Política, o conjunto
estratégico de medidas de saúde pública voltadas para minimizar os riscos à saúde e à
vida, decorrentes do consumo de álcool;
 ampliar e fortalecer as redes locais de atenção integral às pessoas que apresentam
problemas decorrentes do consumo de bebidas alcoólicas, no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS);
 estimular que a rede local de cuidados tenha inserção e atuação comunitárias, seja
multicêntrica, comunicável e acessível aos usuários, devendo contemplar, em seu
planejamento e funcionamento, as lógicas de território e de redução de danos;
 promover programas de formação específica para os trabalhadores de saúde que atuam
na rede de atenção integral a usuários de álcool do SUS;
 regulamentar a formação de técnicos para a atuação em unidades de cuidados que não
sejam componentes da rede SUS;
 promover ações de comunicação, educação e informação relativas às consequências do
uso do álcool;
 promover e facilitar o acesso da população à alternativas culturais e de lazer que possam
constituir alternativas de estilo de vida que não considerem o consumo de álcool;
 incentivar a regulamentação, o monitoramento e a fiscalização da propaganda e
publicidade de bebidas alcoólicas, de modo a proteger segmentos populacionais
vulneráveis ao consumo de álcool em face do hiato existente entre as práticas de
comunicação e a realidade epidemiológica evidenciada no País;
 estimular e fomentar medidas que restrinjam espacial e temporalmente, os pontos de
venda e consumo de bebidas alcoólicas, observando os contextos de maior
vulnerabilidade às situações de violência e danos sociais;
 incentivar a exposição para venda de bebidas alcoólicas em locais específicos e isolados
das distribuidoras, supermercados e atacadistas;
 fortalecer sistematicamente a fiscalização das medidas previstas em lei que visam coibir
a associação entre o consumo de álcool e o ato de dirigir;
 fortalecer medidas de fiscalização para o controle da venda de bebidas alcoólicas a
pessoas que apresentem sintomas de embriaguez;
 estimular a inclusão de ações de prevenção ao uso de bebidas alcoólicas nas instituições
de ensino, em especial nos níveis fundamental e médio;
 privilegiar as iniciativas de prevenção ao uso
prejudicial de bebidas alcoólicas nos ambientes de trabalho;
 fomentar o desenvolvimento de tecnologia e pesquisa
científicas relacionadas aos danos sociais e à saúde decorrentes
do consumo de álcool e a interação das instituições de ensino e
pesquisa com serviços sociais, de saúde, e de segurança
pública;
 criar mecanismos que permitam a avaliação do impacto
das ações propostas e implementadas pelos executores desta
Política.
São medidas para reduzir e prevenir os danos à saúde e
à vida, bem como as situações de violência e criminalidade
associadas ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas na
população brasileira.
- Referente ao diagnóstico sobre o consumo de bebidas alcoólicas no Brasil: Apoiar pesquisa
nacional sobre o consumo de álcool, medicamentos e outras drogas e sua associação com
acidentes de trânsito entre motoristas particulares e profissionais de transporte de cargas e de
seres humanos.
- Referente à realização de campanhas de informação, sensibilização e mobilização da opinião
pública quanto às consequências do uso indevido e do abuso de bebidas alcoólicas :Apoiar o
desenvolvimento de campanha de comunicação permanente, utilizando diferentes meios de
comunicação, como, mídia eletrônica, impressa, cinematográfico, radiofônico e televisivo nos
eixos temáticos sobre álcool e trânsito, venda de álcool para menores, álcool e violência
doméstica, álcool e agravos da saúde, álcool e homicídio e álcool e acidentes.
- Referente à associação álcool e trânsito: Difundir a alteração promovida no Código de
Trânsito Brasileiro pela Lei n o 11.275, de 7 de fevereiro de 2006, quanto à comprovação de
estado de embriaguez; recomendar a inclusão no curso de reciclagem previsto no artigo 268 do
Código de Trânsito Brasileiro, de conteúdo referente às técnicas de intervenção breve para
usuários de álcool; recomendar a revisão dos conteúdos sobre uso de álcool e trânsito nos cursos
de formação de condutores e para a renovação da carteira de habilitação; recomendar a inclusão
do tema álcool e trânsito na grade curricular da Escola Pública de Trânsito; elaborar medidas
para a proibição da venda de bebidas alcoólicas nas faixas de domínio das rodovias federais.
- Referente ao estabelecimento de parceria com os municípios para a recomendação de ações
municipais: Apoiar os Municípios na implementação de medidas de proibição da venda de
bebidas alcoólicas em postos de gasolina.

4. TRATAMETO E PREVENÇÃO AO USO E ABUSO DE DROGAS

Introdução
O uso de drogas é, atualmente, uma fonte de preocupação mundial em todos os
seguimentos da sociedade. Pode-se afirmar ser este um dos maiores problemas de saúde pública
da nossa história.
A prevenção na área de drogas visa a adoção de uma atitude responsável com relação
aos psicotrópicos. O objetivo da prevenção, no campo dos problemas relacionados ao consumo
de drogas psicotrópicas, é procurar fazer com que a população não abuse de drogas e,
consequentemente, que o seu uso não cause danos pessoais e sociais, nem prejuízos que daí
possa decorrer.
Partindo desse pressuposto, a noção de prevenção evoluiu para um modelo pedagógico
que privilegia a multicausalidade das doenças, levando em conta a interação do sujeito com seu
meio. Dentro desta perspectiva podemos dividir as ações preventivas em três níveis: primária
que se baseia em ações antecipatórias que visam diminuir a probabilidade do início ou do
desenvolvimento de uma condição; secundária que consiste em intervenções para se evitar que
um estado de dependência se estabeleça e terciária que incide em quaisquer atos destinados a
diminuir a prevalência das incapacidades crônicas, reduzindo às deficiências funcionais
consecutivas a dependência de substâncias psicoativas.
O Componente Curricular Tratamento e Prevenção ao Uso e Abuso de Drogas propõe
oferecer ao aluno uma formação, por entender que estará contribuindo para a elevação na
qualidade do atendimento aos dependentes químicos, contribuindo para uma formação humana,
democrática visando à justiça social.

Efeito das drogas no organismo de acordo com os seus tipos


Quanto ao tipo de efeito no sistema nervoso podem ser classificadas como:

-Depressora(psicodislépticas)- diminuem a atividade do sistema nervoso atuando


em receptores (neurotransmissores) específicos. Exemplos: álcool, barbitúricos,

diluentes, quetamina, cloreto de etila, lança perfume, clorofórmio, ópio, morfina,


heroína e inalantes em geral (cola de sapateiro).

- Psicodistroticas ou psicodislépticas (drogas perturbadoras/modificadoras) –


têm por característica principal a despersonalização ou modificação da percepção (daí o
termo alucinógeno para sua designação) em maior ou menor grau. Exemplos: Algumas
espécies de cogumelos, LSD, maconha e esctasy.

- Psicolépticas ou estimulantes - produzem aumento da atividade pulmonar (ação


adrenérgica), diminuem a fadiga, aumentam a percepção ficando os demais sentidos
ativados. Exemplos: cocaína, crack, cafeína, teobromina, (presentes em chocolates),
metanfetamina, anfetaminas (bolinha, rebite) etc.
Essas drogas podem ser absorvidas de várias formas: por injetáveis, inalaçao, via
oral .
Quanto à forma de produção classificam-se como:
- Naturais - aquelas que são extraídas de plantas. Exemplo: tabaco, cannabis,
ópio.
- Semi Sintéticas - são produzidas através de modificações em drogas naturais.
Exemplo: crack, cocaína, heroína.
- Sintéticas- são produzidos através de componentes ativos não encontrados na
natureza. Exemplo: anfetamina, anabolizante.

Tipos de Usuários de Drogas


É comum distinguir o abuso de drogas (dependência) do seu consumo
experimental, ou já em fase de risco de dependência. Esta classificação refere-se à
quantidade e periodicidade em que ela é usada. Os usuários podem ser classificados,
segundo CID 10 rev., em:
1. experimentador
2. usuário ocasional
3. habitual
4. dependente
Outra classificação se refere ao uso das drogas em desvio de seu uso habitual,
como por exemplo o uso de cola, gasolina, benzina, éter, dentre outras substâncias
químicas, para provocar um estado de euforia ou torpor.

Efeitos
Sob o efeito de determinadas drogas, o indivíduo parece ver além do comum em
objetos, em gestos ou até mesmo no vazio, daí a utilização de termos como
despersonalização, alucinação ou sintomas paranóicos e psicóticos na descrição do seu
comportamento. Sob o efeito de drogas, algumas pessoas tendem a parecer mais
introspectivas ou mais extrovertidas e agressivas, a depender do tipo de substância
consumida, assim como do contexto de utilização e dos próprios traços de personalidade
individual.
A dependência de drogas está relacionada tanto ao prazer produzido, usualmente
designado como euforia, sensação de bem estar, estimulação ou entorpecimento
(analgesia), como à compreensão deformada de seus efeitos nocivos (tóxicos) ao
organismo, além dos mecanismos químicos ou crise de abstinência induzidos pela
ausência da substância após um período de uso continuado. Ademais, ao adquirir drogas
no mercado negro, o indivíduo se expõe a outros riscos - agressão, roubo, consumo
involuntário de outras substâncias nocivas misturadas às drogas, violência policial e
prisão.

Efeito da Cocaína
A cocaína é uma droga psicoativa que estimula e vicia, promovendo alterando
cerebrais muito importantes. É extraída da folha da coca e se consumida por muito
tempo ocasiona muitos problemas de saúde, como por exemplo: a aceleração do
envelhecimento e danos cerebrais. A cocaína é originária da planta Erythroxylon coca,
nativa da Bolívia e do Peru. Pode ser utilizada pelas vias intra nasal, intravenosa e
pulmonar, podendo em casos mais raros ser usada via oral.
Devido os efeitos de euforia e prazer que a cocaína proporciona, as pessoas são
seduzidas a utilizá-la para vivenciar sensações de poder, entretanto esses efeitos duram
pouco tempo, onde a pessoa entra em contato com a realidade e experimenta depressão
e ansiedade por utilizá-la novamente.
Aceleração ou diminuição do ritmo cardíaco, dilatação da pupila, elevação ou
diminuição da pressão sanguínea, calafrios, náuseas e vômitos, perda de peso e apetite
são alguns dos efeitos biológicos da cocaína.

Efeito do Crack
O crack deriva da planta de coca, é resultante da mistura de cocaína, bicarbonato
de sódio ou amônia e água destilada, resultando em grãos que são fumados em
cachimbos. O surgimento do crack se deu no início da década de 80, o que possibilitou
seu fumo foi a criação da base de coca batizada como livre. O consumo do crack é
maior que o da cocaína, pois é mais barato e seus efeitos duram menos. Por ser
estimulante, ocasiona dependência física e, posteriormente, a morte por sua terrível ação
sobre o sistema nervoso central e cardíaco.
Devido à sua ação sobre o sistema nervoso central, o crack gera aceleração dos
batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso,
tremores, excitação, maior aptidão física e mental. Os efeitos psicológicos são euforia,
sensação de poder e aumento da auto estima.
A dependência se constitui em pouco tempo no organismo. Se inalado junto com
o álcool, o crack aumenta o ritmo cardíaco e a pressão arterial o que pode levar a
resultados letais.

Efeito da Heroína
A heroína é derivada do ópio. Seu consumo pode causar dependência física,
envelhecimento acelerado e danos cerebrais, favorecendo dependência química e
psíquica, além de ser muito nociva ao corpo, o que faz dela a droga mais prejudicial que
se conhece.
Depois do contato com a droga, a pessoa fica fora da realidade, apresentando
estado de sonolência, as pupilas ficam contraídas, e logo após apresenta estado de
depressão profunda. A heroína pode ser injetada, inalada ou fumada.
Os efeitos físicos são surdez, cegueira, delírios, inflamação das válvulas
cardíacas, coma e às vezes morte. Devido o excesso de noradrenalina produzida pela
droga, os batimentos cardíacos e a respiração aceleram, a temperatura do corpo fica
desregulada ocasionando calafrios. Podem ser observadas também vômitos, diarréias e
dores abdominais.
A heroína diminui sensações de dor e ansiedade, é utilizada com o intuito de
diminuir o desânimo e aumentar a auto estima, seus efeitos podem durar entre quatro e
seis horas e se misturada com álcool ou outras drogas depressoras aumenta o risco de
overdose.
Efeito do Ecstasy
O ecstasy é uma substância psicoativa designada como 3,4
metilenodioximetanfetamina. Foi sintetizada pela empresa Merck em 1914, e é chamada
droga de recreio ou de desenho, pois possui ação estimulante e alucinógena.É
consumido injetado, inalado, e por via oral. Apresenta-se em forma de pastilhas,
comprimidos, barras, cápsulas ou pó.
O ecstasy, a nível cerebral, age aumentando a produção e a diminuição da
reabsorção da serotonina, dopamina e noradrenalina. Seus efeitos surgem após vinte e
setenta minutos, atingindo estabilidade em duas horas, pode agrupar efeitos da cannabis,
das anfetaminas e do álcool.
Os efeitos físicos são taquicardia, aumento da pressão sanguínea, secura da boca,
diminuição do apetite, dilatação das pupilas, dificuldade em caminhar, reflexos
exaltados, vontade de urinar, tremores, transpiração, câimbras ou dores musculares.
Quanto aos efeitos psíquicos, o ecstasy ocasiona sensação de intimidade e de
proximidade com outras pessoas, aumento da comunicação, da sensualidade, euforia,
despreocupação, autoconfiança e perda da noção de espaço.
Em longo prazo podem ocorrer alguns efeitos tais como lesões celulares
irreversíveis, depressão, paranoia, alucinação, despersonalização, ataques de pânico,
perda do autocontrole, impulsividade, dificuldade de memória e de tomar decisões.

Experimentação
Mudanças biológicas, cognitivas, emocionais e sociais são características da
adolescência. Essa fase da vida é um momento relevante para a adoção de novos hábitos e
práticas saudáveis. Entretanto, a adolescência também é marcada pela indecisão, fator que pode
expor o adolescente a comportamentos de risco à saúde, como tabagismo, consumo de álcool e
outras drogas (Saito 2000).

Dentre os segmentos da sociedade, o uso dessas substâncias entre os


adolescentes se faz de forma preocupante uma vez que o primeiro contato com as
drogas ocorre muitas vezes na adolescência. Nessa fase intermediária entre a infância e
a juventude, conhecida como o período das grandes mudanças intrínsecas, o individuo
passa por mudanças biopsicossociais e afloram conflitos em virtude da maior labilidade
emocional e da sensibilidade aumentada, o que confere ao sujeito que vive tal
desenvolvimento certo desconforto.
Surgem dúvidas e questões de várias ordens, desde como viver a vida, modo de
ser, de estar com os outros, até a construção do futuro relacionado às escolhas. Essas
características e situações fazem com que ele fique exposto a inúmeros riscos, dentre os
quais se podem citar o uso de tabaco, álcool e outras drogas (Roehrs 2008).
É nesse período que o individuo se identifica com o grupo de pertença, passando
a ajustar seu comportamento com os integrantes dessa turma. Se os integrantes desse
grupo forem usuários, seja de álcool, tabaco ou drogas ilícitas, maiores serão as chances
de ocorrer a experimentação dessas substâncias levando ao uso e abuso frequentes.
O adolescente busca a independência individual, ele absorve atitudes, ações e
costumes das pessoas que estão mais próximas, e várias são as informações e conselhos
recebidos. A mídia é uma poderosa fonte de informação com influências positivas e
negativas nos comportamentos e na formação do adolescente. E esse papel pode ser
visto nas propagandas de bebidas alcoólicas, veiculadas nos meios de comunicação que
estimulam o consumo dessa droga, que protegida por lei são toleradas e permitidas.
Nesta perspectiva, a família tem uma grande importância para a formação de um
código de valores próprios do adolescente, pois no seu núcleo são transmitidas as
primeiras regras de valores que vão guiá-los no seu convívio social, formando a base
emocional para o desenvolvimento deste. Assim, famílias que fazem uso de drogas
como o álcool e o cigarro colocam em risco o sentimento de segurança e proteção da
criança e comprometem seus códigos de moral, pois os membros adultos constituem
modelos para os adolescentes (Stryjer 2002).
Geralmente, pais, familiares e amigos servem como um importante referencial
de comportamento. Desse modo, o uso de drogas psicotrópicas por pais, familiares e
amigos pode ser um fator de risco para a experimentação e uso regular de drogas pelos
adolescentes (Schenker & Minayo 2003).
Mundialmente, diversos estudos tem indicado que o início do uso de drogas
psicotrópicas ocorre na passagem da infância para a adolescência. A determinação do perfil do
jovem usuário de droga psicotrópica possibilita um melhor direcionamento das estratégias e
políticas de saúde pública para prevenção e controle dos diversos fatores relacionados à
dependência química, em especial nas populações expostas diariamente ao comércio e ao
consumo de drogas.
Entre os fatores contextuais, podemos mencionar a baixa condição socioeconômica,
disponibilidade da droga, fatores ambientais como altas taxas de criminalidade, aspectos
socioculturais incluindo campanhas publicitárias e políticas sociais, falta de vínculo familiar
(pais que exercem pouco controle e não se preocupam com os hábitos de seus filhos); falta de
vínculo com atividades religiosas, pouca adesão às atividades escolares como atrasos e
reprovações, pressão e influência dos amigos que já são usuários.
Em virtude disso, é importante que as pessoas sejam bem informadas para que
conheçam os danos acarretados pelo uso das drogas. A informação tem papel crucial como
medida preventiva entre adolescentes e jovens; porém, precisa ser veiculada com cautela, de tal
forma que não desperte a curiosidade ao consumo, ao invés de preveni-lo (Iervolino 2001).
Para a informação ser considerada um fator protetor, é necessário que ela seja
transmitida de forma correta e completa. É importante evidenciar os efeitos negativos, mas sem
deixar de citar os prazeres momentâneos alcançados com o consumo das drogas. Com isso, as
pessoas agirão de forma mais consciente diante das pressões externas e internas.

4.1. Prevenção
Poderíamos dizer que, em geral, a prevenção refere-se a toda iniciativa coletiva visando
à sobrevivência da espécie. Na realidade é um conceito recente e poderíamos dizer que as
primeiras instituições na história que estiveram na sua vanguarda foram as religiosas
(CAVALCANTI – 2001).
Podemos ver esse preceito através de práticas religiosas, como a tentativa de pregar o
respeito ao próximo. A humanidade foi se desenvolvendo e conseguindo atualizar algumas
formas de preservação e algumas formas de ataque ao seu desenvolvimento. Sabemos, por
exemplo, dos danos que a poluição nos causa e da nossa dificuldade em cuidar das nossas
florestas.
Assim, junto com a humanidade, o uso de drogas foi se modificando. Nos anos 60,
preservávamos um uso ritualístico, hoje, temos um uso que podemos definir como consumista.
Com estas mudanças, novos pensamentos e novas pesquisas foram se desenvolvendo para que
as ações planejadas pudessem ser efetivas e preservadoras. As mais sérias pesquisas sobre a
questão nos mostram um aumento do uso de drogas, mas, principalmente, mostram-nos a
necessidade de planejarmos ações preventivas adequadas ao grupo que desejamos atingir.
Prevenir não é banir a possibilidade de uso de drogas. Prevenir é considerar uma série
de fatores para favorecer que o indivíduo tenha condições de fazer escolhas. Diante das
necessidades da sociedade, ou seja, dos problemas apresentados, o conceito de prevenção se
ampliou a ponto de poder se colocar dentro do conceito de ―Promoção de Saúde‖.
Portanto, é fundamental que o agente de prevenção conheça os diferentes aspectos
envolvidos no seu trabalho. Os múltiplos fatores que levam às drogas. O uso indevido das
drogas é fruto de uma multiplicidade de fatores. Nenhuma pessoa nasce predestinada a usar
drogas ou se torna dependente apenas por influência de amigos ou pela grande oferta do tráfico.
Nós, seres humanos, por nossa humanidade e incompletude, buscamos elementos para
aliviar dores e acirrar prazeres. Assim, encontramos as drogas. Algumas vezes experimentamos,
outras usamos sem nos comprometermos, e em outras, ainda abusamos. Existem fatores que
convergem para a construção das circunstâncias do uso abusivo, chamados de fatores de risco.
Também existem fatores que colaboram para que o indivíduo, mesmo tendo contato com a
droga, tenha condição de se proteger. Estes são os fatores de proteção.
Podemos dizer que fatores de risco são os que tornam a pessoa mais vulnerável a ter
comportamentos que podem levar ao uso ou abuso de drogas. Já os fatores de proteção são os
que contrabalançam as vulnerabilidades para os comportamentos que levam ao uso ou abuso de
drogas.
Mostra-se evidente a inter-relação e a interdependência existentes entre o usuário e o
contexto que o circunda. Pensar nesta teia de vulnerabilidades e nos determinantes
socioculturais em relação ao uso de drogas, em uma sociedade, certamente, amplia e torna mais
complexa a abordagem desse fenômeno (Sapienga, 2005).
Para que se realize um trabalho sério e cuidadoso de prevenção, com um determinado
grupo de usuários, é necessário:
• Identificar os fatores de risco – para minimizá-los;
• Identificar os fatores de proteção – para fortalecê-los;
• Tratar o grupo como específico – para a identificação dos fatores acima.
Na família também podem estar contidos tanto os fatores de risco como os de proteção
para o uso das substâncias psicoativas. Pais que fazem uso abusivo de drogas, que sofrem de
doenças mentais e que são excessivamente autoritários ou muito exigentes podem fazer com que
a pessoa use da droga como um método de fuga ou escape. Já pais que acompanham as
atividades dos filhos, que estabelecem e esclarecem regras de conduta, mas sempre
demonstrando afeto e respeito com a vida dos filhos, isso faz com que o filho sinta acolhido e
com isso não precisa usar drogas.
A formação de cada um de nós se inicia na família. É função da família proteger seus
filhos e favorecer neles o desenvolvimento de competências, por exemplo, para lidar com
limites e frustrações. Na adolescência, a falta da proteção da família, especialmente, para o
adolescente transgressor que não sabe lidar com frustrações, pode favorecer o uso indevido de
substâncias psicoativas (Sapienga, 2005).
O fato de um indivíduo usar ou até ser um dependente da droga não faz com que esteja
condenado a nunca mais se recuperar. Nos anos 70, no Brasil, antes dos movimentos
antimanicomiais, tratávamos os usuários de drogas, dentro dos hospitais psiquiátricos, como
psicopatas, ou seja, amorais. Nenhuma diferenciação era feita entre eles. Isso acontecia porque
nós, os técnicos, tínhamos uma posição muito moralista diante do problema. Se o usuário não
era julgado pelo sistema prisional, ele era julgado pelo sistema psiquiátrico.
Nos anos 80, tivemos que repensar a posição diante do aumento do consumo das drogas
injetáveis e do aparecimento da AIDS. Foi nesta época que dois conceitos importantes passaram
a ser cuidadosamente estudados e aplicados: ―resiliência‖ e ―redução de danos‖.
De acordo com Junqueira e Deslandes (2003), resiliência é entendida como uma
―reafirmação da capacidade humana de superar adversidades e situações potencialmente
traumáticas‖. Ou seja, o indivíduo resiliente é aquele capaz de superar frustrações e/ou situações
de crise e de adversidades.
Já a redução de riscos, é um conjunto de medidas individuais e coletivas, sanitárias ou
sociais cujo objetivo é diminuir os malefícios ligados ao uso de drogas lícitas ou ilícitas. Estas
definições já fazem refletir sobre nossas ―pretensões‖ quando pensamos em um programa de
prevenção.
Para o ser humano, a vivência sobre o peso dos chamados fatores de risco causa
mudanças em sua vida, não é inofensiva. Mas também não é
determinante na sua impossibilidade de superação. Se este ser
humano contar com seus fatores de proteção, poderá superar
suas dificuldades.
É preciso que as propostas de prevenção estejam mais
sintonizadas com as necessidades da população de usuários. Da
mesma forma, felizmente, os novos conhecimentos trouxeram
novas posturas para quem estudava novas formas de enfrentar o
problema das drogas. Uma delas é a de redução de danos. BASTOS e MESQUITA (1994),
fazendo eco com alguns estudiosos, dizem que: é tempo de substituir
as declarações de fé pelo rigoroso escrutínio científico, partindo de
pressupostos que não sejam pró ou antidrogas, mas que, de fato,
consigam minimizar os danos decorrentes do consumo em um sentido
mais amplo. [...] o então crescente número de usuários de drogas
injetáveis infectados pelo HIV/AIDS nos países desenvolvidos [...] fez
com que estratégias alternativas à pura e simples repressão no âmbito
dos danos secundários ao abuso de drogas, até então restrita a um
punhado de ativistas e especialistas, se revestisse de uma dimensão
coletiva e global e se tornassem legítimas aos olhos de dirigentes
líderes de países e comunidades influentes (Bastos e Mesquita,1994).
Para se fazer prevenção, além da preparação da equipe, da definição de objetivos e do
estabelecimento de apoio, temos de contar com dados da realidade externa que interferem no
nosso trabalho e estar atentos a novos fatores que possam interferir nele. Por exemplo, uma
nova droga introduzida no mercado ou novos hábitos que vêm fazer parte daquela comunidade
devem ser considerados. As ações preventivas na comunidade podem ser orientadas por
diferentes modelos que não são excludentes entre si.
Tanto quanto o planejamento para iniciar a intervenção preventiva, a avaliação dos
resultados obtidos é de suma importância.

4.2. Grupo de Apoio


A Reforma Psiquiátrica teve como visão de mudar a realidade propôs a substituição
gradativa do sistema hospitalocêntrico e manicomial Instalada no Brasil por uma rede integrada
formada por vários serviços assistenciais de atenção sanitária e social, tais como: ambulatórios,
emergências psiquiátricas em hospitais gerais, unidades de observação psiquiátrica em hospitais
gerais, hospitais dia, hospitais noite, centros de convivência, centros comunitários, Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS), centros residenciais de cuidados intensivos, lares
abrigados, pensões públicas e comunitárias, oficinas de atividades construtivas e similares. Nos
CAPS os pacientes recebem atendimento terapêutico individual e/ou grupal, podendo participar
de atividades lúdicas e recreativas promovidas pelos profissionais do serviço articuladas com
um projeto terapêutico individual, voltado para o tratamento e reabilitação psicossocial. Além
disso, devem existir atividades de aproximação e integração com as famílias desses pacientes,
sempre enfocando as questões sociais presentes no cotidiano dos mesmos. O trabalho com
grupo é algo que tem crescido na prática da enfermagem em saúde mental, principalmente se o
mesmo tem por objetivo a ação terapêutica.
É importante abordarmos de forma grupal, pessoas com sofrimento psíquico ou que
apresentem grandes potencialidades para desenvolver uma doença mental, assim como, os
dependentes químicos. Além disso, favorece a interação e a integração de seus participantes,
contribuindo, ainda, para o processo de aprendizagem e de crescimento pessoal. Cuidar de
dependentes químicos numa abordagem grupal demanda, entre várias outras coisas, habilidades
em técnicas interpessoais de comunicação e relacionamento terapêutico e técnicas de manejo
grupal.
O grupo tem importância fundamental para o usuário de drogas em tratamento
auxiliando o na construção de uma nova forma de conviver com os problemas que estão
aprendendo a lidar. Durante o trabalho com o grupo o papel maior do enfermeiro é a escuta,
além de estabelecer o processo de comunicação e relacionamento terapêutico como objetivo
principal do cuidado humano, estimulando o dependente químico no enfrentamento das
dificuldades ou problemas e o desejo de permanecer saudável.
O papel de um aconselhador, nesse contexto, consiste em facilitar que esses benefícios
terapêuticos possam emergir e não simplesmente apresentar aos pacientes a sua solução, uma
vez que é fundamental que cada indivíduo tenha a sua percepção e que possa aprender a
transportar o seu cotidiano.
A possibilidade do indivíduo não só receber suporte do grupo, mas de ser capaz também
se exercitar em colocar se, expondo suas experiências e dar feed back às outras pessoas,
demonstra o quanto essa convivência pode contribuir para o crescimento das pessoas, bem
como pode qualificar o caráter transformador do grupo.
Se pudermos entender o grupo como um espaço para expressão de pensamentos,
sentimentos e de trocas de experiências, seguramente ele poderá servir nos como agente
transformador, que possibilitará mudanças. Quanto mais existir essa atitude acolhedora e
solidária entre os membros do grupo, maiores serão as chances do desenvolvimento de
potencialidades coletivas e individuais. Neste contexto, acredita se que as atividades de grupo
com usuários de drogas apresentam se como uma importante estratégia assistencial.
4.3. Tratamento
A Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a Usuários de Álcool
e Outras Drogas foi criada recentemente, no ano de 2004, uma vez que a questão do uso
de álcool e drogas na população brasileira tomou proporção de grave problema de saúde
pública.
Os principais limites da não-priorização, por parte do Ministério da Saúde, de
uma política específica para o enfrentamento ficaram evidentes:
a partir do impacto econômico e social que tem recaído para o Sistema Único de Saúde,
seja por seus custeios diretos, seja pela impossibilidade de respostas de outras pastas
governamentais voltadas para o efeito positivo sobre a redução do consumo de drogas;
isto também ocorre no que se refere ao resgate do usuário do ponto de vista da saúde (e
senso comum tão-somente moralista legalista), e em estratégias de comunicação que
reforçam o senso comum de que todo o consumidor é marginal e perigoso para a
sociedade. (Ministério da Saúde, 2004)
Para que haja um avanço na forma de enfrentar essa questão, está posto na
Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras
Drogas de 2004 que o tema "álcool e outras drogas" necessita de uma ação não apenas
ampliada, mas também composta por diferentes saberes e aportes teórico-técnicos. Isso
significa a definição de diretrizes, ações e metas de forma integrada e diversificada
quanto às estratégias terapêuticas, preventivas, reabilitadoras, educativas e promotoras
de saúde (Ministério da Saúde, 2004).
Especificamente sobre a questão do tratamento da dependência de álcool e
outras drogas em adolescentes e crianças, são poucos os trechos encontrados em
documentos oficiais. No documento denominado "Marco legal – saúde um direito de
adolescentes", produzido pelo Ministério da Saúde, está colocado que: O uso e o abuso
de álcool e outras drogas têm sido uma das principais causas desencadeadoras de
situações de vulnerabilidade na adolescência e juventude, a exemplo dos acidentes,
suicídios, violência, gravidez não planejada e a transmissão de doenças por via sexual e
endovenosa, nos casos das drogas injetáveis. Não fosse o consumo de drogas um
problema suficientemente grave, temos ainda a problemática do tráfico, o qual
representa, no Brasil e em outros países, uma séria ameaça à estabilidade social.
(Ministério da Saúde, 2005).
Em julho de 2005, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Atenção a
Saúde/Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas/Área de Saúde do
Adolescente e do Jovem, disponibilizou pela internet um documento para consulta
pública referente à criação de uma Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de
Adolescentes e Jovens. No que se refere ao uso de álcool e outras drogas, o documento
aborda a questão como um grande desafio a ser enfrentado pelos gestores e profissionais
de saúde, mas não apresenta estratégias e políticas de enfrentamento.
Em âmbito nacional, alguns pesquisadores têm contribuído com a questão do
tratamento de adolescentes dependentes de álcool e outras drogas. Por meio de um
levantamento dessas produções nos últimos dez anos, foi possível perceber que há uma
concentração de publicações entre os anos de 2002 e 2007, o que demonstra como essa
discussão é recente no país, o que também justifica o fato de que todos os autores
tenham embasado suas discussões por meio da leitura de relatos internacionais sobre o
tema.
Estudo como o de Marques e Cruz (2000) demonstrou que por intermédio dos
estudos de metanálise internacionais sobre a efetividade dos diferentes tipos de
tratamento psicoterápico para adolescentes, foram encontrados em torno de 400 tipos de
terapia para essa população. O estudo demonstrou também que a escolha do tratamento
depende de fatores extrínsecos (disponibilidade de tratamento mais próximo ao local da
residência e compatível com sua condição socioeconômica e familiar) e fatores
intrínsecos (motivação, gravidade do diagnóstico, tipo de droga utilizada e freqüência
do uso). Opinião essa também defendida por Silva et al. (2003) e complementada pelos
seguintes fatores: procedimentos terapêuticos, equipe e setting.
Outros fatores intrínsecos também foram relatados por Castro e Passos (2005),
como o funcionamento global do adolescente antes do uso da droga e a presença de
comorbidade psiquiátrica.
A necessidade do acompanhamento familiar para o resultado satisfatório do
tratamento de adolescentes usuários de álcool e outras drogas foi investigada por
Schenker e Minayo (2004) mediante uma revisão bibliográfica sobre o tema. Segundo
as autoras, os estudos investigados contribuíram para o entendimento de como a família
está implicada no desenvolvimento saudável e não saudável dos adolescentes. Em
conjunto com a escola e os grupos de amigos, a família exerce grande influência na
manifestação do uso de drogas. Portanto, há um consenso sobre a necessidade de se
tratar o sistema familiar.
Silva et al. (2003) e De Micheli et al. (2004) enfatizam a importância de serem
realizadas reflexões sobre os tipos de propostas de intervenção e a efetividade destas
como uma forma de auxiliar no processo de adesão dos adolescentes ao tratamento, uma
vez que ainda são escassas as produções sobre esse tema.
Assim, na tentativa de contribuir com essa questão, pretende-se realizar um
levantamento sobre diferentes propostas de intervenção para o tratamento de
adolescentes dependentes de álcool e outras drogas descritas em artigos científicos
disponibilizados na base de dados Adolec, que contém referências bibliográficas da
literatura internacional na área da saúde de adolescentes e jovens.
A dependência química por muitos anos foi considerada uma doença de natureza
progressiva, incurável e de difícil tratamento. Atualmente, existem diversas
modalidades de tratamento, como por exemplo, comunidades terapêuticas, programas
de desintoxicação, grupos de autoajuda, intervenções religiosas, tratamento em regime
de internação, intervenção farmacológica prescrita por profissional habituado às
características da dependência, entre outros, que paralelamente ajudam na
conscientização e tratamento do problema (LOPES, 1998).
Os dependentes químicos ao ingressarem em qualquer dessas instituições para se tratar,
já tiveram consciência de que precisam de ajuda para vencer a dependência, explicitando a
vontade de se submeterem ao tratamento. O dependente químico quando opta pelo tratamento,
geralmente encontra-se muito fragilizado físico e emocionalmente, e em suas relações sócio
familiares também.
Ao adentrar em qualquer dessas instituições, a primeira reação é de reserva por estar
adentrando em um local novo e desconhecido. O sucesso ou não do tratamento dependerá, em
grande parte, dos novos relacionamentos que irão estabelecer no processo que se inicia e na
forma como será apoiado para enfrentar os desafios que se farão presentes.
O tratamento é a alternativa terapêutica que tem condições de atingir as necessidades do
dependente químico e dos familiares, no qual o usuário de substância ilícita conhece e aceita o
modelo de tratamento proposto, sendo motivado para o mesmo.
Os toxicômanos ao procurar se tratar, não necessariamente estão convictos de que estão
usando substâncias entorpecentes demasiadamente. Os principais motivos para a procura do
tratamento são muitas vezes problemas e prejuízos que se acumulam ao longo da vida de
consumo, ao longo da vida do paciente, podendo citar problemas familiares, profissionais,
médicos, legais, financeiro, entre outros.
Os usuários de substâncias ilícitas, sem o tratamento adequado, propendem-se a piorar
com o tempo, pois são conduzidos a uma destruição gradualmente de si mesmo, atingindo sua
vida pessoal, familiar, profissional e social. Durante o período de tratamento, as instituições
proporcionam ao dependente químico programas socioeducativos e de profissionalização que
lhe ajude a refletir sobre sua realidade, aonde o mesmo encontra inserido, as chances e os
limites presentes para a sua inclusão educacional e produtiva no meio social.
O período de tratamento é determinado de acordo com a imprescindibilidade de cada
paciente, obedecendo as seguintes fases:

 Desintoxicação. Nesta fase o dependente se encontra efêmero, pelo acúmulo de drogas


no organismo, ocorrendo a eliminação das substâncias tóxicas do mesmo, sendo
elaborado um parecer pela equipe médica e psicológica de que forma será realizado o
tratamento no paciente.
 Reabilitação psíquica é a fase de conscientização e abstinência das drogas, ou seja, o
dependente químico precisa mudar suas atitudes e pensamentos para alcançar o sucesso
desejado. A Reintegração social é a fase que o ex-usuário de substância ilícita já
realizou o tratamento adequado para o abandono do vício, reinserindo-se na sociedade.
Nesse momento o mesmo sente as dificuldades do mundo exterior, buscando nos grupos
de ajuda soluções para os obstáculos que lhe são apresentados.
 A Ambulatorial é a fase mais delicada da reintegração, pois há uma cobrança e
compromisso maior do dependente de drogas, da família e do profissional habilitado. É
um conjunto de fatores, ou seja, acompanhamento com um psicólogo, grupos de apoio,
que juntos servem de alicerce tanto para o usuário de drogas, quanto para a família, com
o intuito de proporcionar o êxito no processo de reintegração social.
Ao longo do tempo, as populações utilizaram diversos métodos para reduzir a
incidência das substâncias ilícitas na sociedade. Com o surgimento de novas tecnologias e
ampliação de ideias por pesquisadores e estudiosos na área, desenvolveu-se o conhecimento
cientifico de ocorrer uma intervenção preventiva em usuários de drogas.
Cabe salientar, que no campo das drogas, a busca de soluções efetivas pela prevenção
não só na área da saúde como nas demais, tem sido uma grande preocupação, pois se a melhor
postura frente às drogas é prevenir, se faz importante que a sociedade como um todo repense
seu papel, ou seja, deixe de ser pessimista, e que as autoridades sejam mais flexíveis; nem
liberal demais, nem autoritária ao extremo; oferecendo modelos sadios, que incentive as boas
relações entre as pessoas, valorizando a vida: Prevenção primária.
Para a obtenção de sucesso no tratamento de um dependente químico, primeiramente
cabe a este reconhecer que possui uma doença debilitante, com risco de vida associada. Em
seguida, ter consciência do mal que essas substâncias causam no seu organismo, parando de
usá-las e por fim, reconhecer a necessidade de um programa diário para dar apoio e assistência
em continuar sóbrio, um dia de cada vez, ou seja, sem usar drogas. O dependente químico
sentindo-se firme, saudável, bem com ele próprio, terá chances de enfrentar os problemas que
lhe são apresentados no retorno ao convívio social, diminuindo a sensação de exclusão social o
qual se evidencia cotidianamente.
Por fim, ressocializar é reintegrar o ex-usuário de substâncias ilícitas na sociedade para
que este se sinta pertencente a um grupo, no qual possa ser útil e produtivo, possibilitando a
produção do exercício da cidadania. A população deve conscientizar-se que o ex-dependente
químico não pode ser excluído, discriminado do meio em que vive, pois é um indivíduo que
necessita de ajuda e colaboração, não se podendo ignorar as causas e as consequências que o
levam à exclusão social.
Assim, a reintegração social é um processo gradativo, ou seja, planejado, elaborado e orientado
por todos que fazem parte da sociedade.

5. COMUNIDADES TERAPÊUTICAS

São instituições privadas públicas que trabalham para a reabilitação de


dependentes químicos. Especialistas em assuntos relacionados no combate contra
bebida alcóolica, cigarro, ou outros tipos de drogas lícitas e ilícitas correntes na
sociedade atual. Conheça o que é comunidade terapêutica.
De acordo com Pozas (1996), as CT (comunidade terapêutica) foram criadas
em 1979 com o intuito de dar uma resposta aos problemas provenientes da dependência
de drogas, possuindo assim um ambiente que necessariamente é livre das mesmas e uma
forma de tratamento em que o paciente é tratado como o principal protagonista de sua
cura. Trata-se de um sistema estruturado, com limites precisos e funções bem
delimitadas, regras claras e afetos controlados, através de normas, horários e
responsabilidades. Toda estrutura é para que o paciente se situe totalmente no
tratamento, sendo assim, o trabalho intenso, tanto pela equipe profissional, quanto pelos
pacientes.
A CT (comunidade terapêutica) possui caráter de pequena sociedade na qual
todos os membros compartilham seus dilemas existenciais, encontrado pequenos
espelhos e entendendo que os problemas não têm caráter exclusivo, efeito atenuante
para a autoestima se elevar em busca da sonhada reabilitação.
Normalmente há o líder do grupo. Pode ser selecionado pelos administradores da
entidade que oferece este serviço, ou mesmo eleito democraticamente entre todos
integrantes do grupo. Este deve organizar e administrar grande parte das ordens
existentes para que a convivência seja harmoniosa ao máximo possível.
No Brasil as regras da Constituição Federal rege toda sociedade. A mesma
obediência precisa acontecer dentro destes ambientes. Neste sentido, talvez o pré-
requisito mais solicitado seja força-de-vontade para seguir cordialmente o conjunto de
ordens, além da disposição em ajudar colgas que estejam entrando nas terríveis crises de
abstinências modificadores das ações do corpo e mente.
Neste sentido, a principal incumbência está voltada na recuperação dos internos.
Entretanto, algumas casas de tratamento utilizam práticas nazistas para conter pacientes
descontrolados pela falta das substâncias viciantes. Choques, espancamentos e prisões
solitárias, apenas algumas das atrocidades que podem ocorrer neste âmbito de
discussão. Neste sentido, averiguar a idoneidade e cultura das CT. Muitas vezes o
tratamento acaba piorando o cenário clínico, deixando pacientes ainda mais revoltados.
Os objetivos das CT não são só os resultados do tratamento, mas também as
consequências de uma reabilitação social envolvendo intervenção também em outros
locais fora do espaço da CT.
Hoje, para conseguir lidar com a demanda de pacientes que vão à busca de CT, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a Secretaria Nacional
Antidrogas (SENAD) editaram uma resolução que foi capaz de regulamentar o
funcionamento de todas as CT existentes no país (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, 2001).
De acordo com Serrat (2002), membro do conselho deliberativo da Federação
Brasileira de Comunidades Terapêuticas (FEBRACT ) e responsável pela definição do
papel das CT atualmente no Brasil, "o aumento significativo de CT é uma resposta à
evolução do consumo de drogas ilícitas por parte dos jovens" e, ainda segundo o mesmo
autor, quando os princípios de recuperação, resgate da cidadania, reabilitação física e

psicológica e de reinserção social são corretamente aplicados, os tratamentos


apresentam resultados positivos importantes, sendo o objetivo agir nos fatores
psicossociais do indivíduo, ficando o tratamento medicamentoso por conta de outros
órgãos, como hospitais e clínicas especializadas.
No Brasil, temos mais de 80 CT filiadas à FEBRACT. Entretanto, a preocupação
maior é com as "clandestinas", para as quais a ANVISA, através da resolução RDC.
nº101 de 30 de maio de 2001, exigiu o funcionamento através de regulamentação,
normas e fiscalização a partir de 2003, o que as submete aos conselhos de entorpecentes
estaduais, municipais e do Distrito Federal e à Vigilância Sanitária.

5.1. Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas

Centro de Formação e Treinamentos


A dependência ao álcool e às drogas costuma fragilizar as pessoas. Portanto é preciso
que todos os que se propõem a trabalhar por sua recuperação tenham, além do sentimento de
solidariedade humana, um decidido comportamento ético. Por Isso é altamente importante à
preocupação, de elaborar um Código de Ética para as Comunidades Terapêuticas.
As diferentes profissões, particularmente as que trabalham com problemas relacionados
com o ser humano, estabeleceram Códigos de Ética, com a finalidade primordial de assegurar
aos seus clientes um tratamento eficaz, respeitoso e digno. Mesmo ao tratar de normas que
devem presidir o relacionamento entre os profissionais, ou deles com as organizações às quais
prestam serviços, ainda aqui, ao procurar garantir um ambiente de harmonia e respeito entre as
partes, o Código beneficia também o cliente.
A Federação Mundial de Comunidades Terapêuticas elaborou um documento no qual
aborda os seguintes tópicos: "Código de Ética da Equipe de Assistência" e Declaração de
Direitos para Membros e Clientes. Ao iniciar suas atividades, em 31 de janeiro de 1994, o
Centro de Formação Treinamento elegeu como uma de suas prioridades o debate a respeito
dos princípios éticos que devem presidir o relacionamento entre os participantes de uma
Comunidade Terapêutica. Já com a 13° turma iniciamos uma reflexão sobre o Código da
Federação Mundial, buscando adequá-lo à nossa realidade. Com os subsídios colhidos nos
debates com todas as turmas que por aqui passaram em 1994, elaboramos um Ante-Projeto,
que foi apresentado à Assembleia Geral da FEBRACT, realizada no dia 21 de janeiro de 1995,
que o aprovou por unanimidade. Remetido, para aprovação, à Federação Mundial, recebeu
uma apreciação elogiosa de seu Presidente Mons. William B.O'Brien.
Todas as instituições filiadas recebem o presente Código cuja obediência é condição
imprescindível para que permaneçam vinculadas à FEBRACT. As pessoas que se dedicam à
resolução dos problemas relacionados com a dependência às substâncias psicoativas agem, de
um modo geral, impulsionadas por sentimentos generosos de solidariedade humana. Que esses
sentimentos, mais do que qualquer disposição impositiva, sejam a garantia da fiel observância
de nosso Código de Ética.

5.1.1. Código de Ética da Federação Brasileira de Comunidades


Terapêuticas.

Introdução
O presente Código de Ética subordina-se às leis do país, naquilo que lhe for aplicável,
ao Código de Ética da Federação Mundial de Comunidades Terapêuticas e ao Estatuto da
Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas.

I. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
1. O Trabalho nas Comunidades Terapêuticas deve ser baseado no respeito à dignidade
da pessoa humana.
2. A permanência na Comunidade Terapêutica deve ser voluntária e decidida após o
interno ser informado sobre a orientação seguida e as normas em vigor.
3. Nas Comunidades Terapêuticas deve ser assegurado, a todos que dela participam, um
ambiente livre de drogas, sexo e violência.

II. DA COMUNIDADE TERAPÊUTICA


1. A Comunidade Terapêutica deve apresentar uma proposta de recuperação coerente,
da qual constem: a) adoção de critérios de admissão; b) o programa terapêutico com fases
distintas: c) o estabelecimento de critérios que caracterizem a reinserção social como objetivo
final.
2. A Comunidade Terapêutica deve apresentar um programa de capacitação e
treinamento de seu pessoal, em cursos credenciados pela Secretaria Nacional Antidrogas
(SENAD).
3. Toda entidade filiada deve obedecer ao Código de Ética da FEBRACT.
A Entidade filiada deve seguir as orientações que, dentro do Estatuto da Federação e do
Código de Ética, forem emanadas da FEBRACT.
4. A Comunidade Terapêutica deverá manter com suas coirmãs um relacionamento
baseado na colaboração e no respeito.
5. A Comunidade Terapêutica deverá proporcionar aos seus internos um tratamento
digno e respeitoso, independentemente de raça, credo religioso ou político, nacionalidade,
preferência sexual, antecedentes criminais ou situação financeira.
6. A Comunidade Terapêutica deverá zelar pelo bem estar físico, psíquico e espiritual
do interno, proporcionando a ele alimentação nutritiva, alojamento adequado, tratamento
eficiente e assistência espiritual que não conflite com sua crença.
7. Em caso de infração grave ou de reincidência, relativas às determinações deste
Código, os órgãos diretores da Comunidade deverão afastar o responsável, de acordo com as
normas estatutárias.

II. DO INTERNO
O interno da Comunidade Terapêutica deve:
1. Receber, por escrito, a orientação e os objetivos do Programa de Atendimento, e as
regras existentes na Comunidade Terapêutica, declarando, de modo explicito, sua
concordância com eles. Qualquer modificação nas determinações acima deverá ser
comunicada com a necessária antecedência.
2. Estar protegido em relação a castigos físicos e violências psíquicas ou morais.
3. Ser encaminhado a recursos externos, em caso de doença, quando a Comunidade não
dispuser de meios para atendê-lo. . Ter conhecimento antecipado dos pagamentos que deverá
efetuar e dos procedimentos relacionados com eles.
4. Ter possibilidade de encaminhar a uma pessoa credenciada, queixas e sugestões
relacionadas com a vida na Comunidade.
5. Deixar o programa a qualquer tempo, sem sofrer nenhum tipo de constrangimento.
6. Cumprir as normas da Comunidade Terapêutica, livremente aceitas por ele.
7. Contribuir para que haja um clima de cordialidade e de respeito mútuo dentro da
Comunidade.

III. DA EQUIPE DE ASSISTÈNCIA


A Equipe de Assistência deve:
1. Manter com o interno um relacionamento profissional, respeitando em todas as
circunstâncias sua dignidade e pessoa humana.
2. Não ter com o interno qualquer tipo de envolvimento amoroso.
3. Abster-se da utilização do trabalho do interno, ainda que remunerado, em proveito
pessoal. Atuar apenas dentro dos limites de sua competência, procurando ampliar estes limites
através de treinamento e de cursos de formação.
4. Atuar junto às famílias dos internos procurando fazer com que participem
positivamente dos processos de recuperação e de reinserção social.

IV. DO SIGILO PROFISSIONAL.


1. As informações sobre os problemas do interno, obtidas pela equipe em decorrência de
sua atividade profissional devem ser mantidas em sigilo.
2. No caso de transferência para outra instituição ou de atendimento por profissional,
ambos obrigados à observação do sigilo profissional por Código de Ética, poderão ser
remetidas informações confidenciais sobre o interno, desde que haja concordância deste.
3. A quebra de sigilo somente é admitida quando se tratar de crime previsto em lei que
possa causar graves consequências para o interno ou para terceiros.
A quebra de sigilo dever ser decidida pela equipe.

V. DAS SANÇÕES
1. A entidade filiada que não cumprir nem zelar pelo cumprimento das determinações
deste Código poderão receber, de acordo com a gravidade da infração:
a) Advertência individual;
b) Advertência em boletim da FEBRACT;
c) Desfiliação.
2. O membro da entidade filiada que pertencer aos órgãos diretivos da FEBRACT, em
caso de infração aos princípios éticos poderá ser:
a) Advertido individualmente;
b) Destituído de seu cargo ou função.
3. O membro da Equipe de Assistência que cometer infração grave aos princípios éticos,
além das punições recebidas da Comunidade Terapêutica pode ter cancelado seu Certificado
fornecido pela FEBRACT.
4. As penas de Desfiliação e de Destituição do cargo ou função serão aplicadas pelo
Conselho Deliberativo. As demais, pela Diretoria Executiva.
- Aprovado em Assembleia Geral da FEBRACT, realizada no dia 21 de janeiro de 1995.
- Aprovado pela Federação Mundial de Comunidades Terapêuticas em 24 de abril de 1995.
- Modificações aprovadas em Assembleia Geral da FEBRACT, realizada no dia 16 de Janeiro
de 1999.

Perfil dos profissionais que trabalham com a reabilitação do dependente químico


A Resolução RDC 101 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), datada
de 30/05/2001, aborda – particularmente em seu item 5 – os recursos humanos necessários, do
ponto de vista do poder público, para efetuar o cuidado e a atenção à saúde ao dependente
químico, além do profissional da saúde com formação superior exige a necessidade de ―03
(três) Agentes Comunitários capacitados em dependência química em cursos aprovados pelos
órgãos oficiais de educação e reconhecidos pelos CONEN's ou COMEN's‖. (ANVISA, 2001).
Acredita-se que o cuidador exerce papel terapêutico de orientação, construção e
consolidação dos vínculos, sendo este na maioria dos casos o primeiro a manter contato direto
com o interno. E por vezes sendo a ponte entre o interno e a Instituição. É necessário que o
cuidador esteja habituado á escuta, ao diálogo e capaz de respeitar suficientemente o outro
para ajudá-lo. É um profissional que compõe uma equipe multidisciplinar nos programas ou
serviços de atenção a pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de substâncias
psicoativas, exercendo atividades educativo-preventivas, e de gestão de programas e serviços
de prevenção e de reabilitação da dependência química, dando saída intermediária para a
ocupação de auxiliar em reabilitação de dependentes químicos. É orientado e supervisionado
por profissionais de nível superior da área da Saúde e de Serviço Social. Está em contato
permanente com os pacientes e familiares, facilitando o trabalho de vigilância e promoção da
saúde realizado por toda equipe. Frequentemente são educadores, assistentes sociais,
psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, mas ocorrem em muitos casos
que o cuidador vem de outros horizontes como: padre, pastores, familiares, ex-usuários e
outros.
O monitor é o agente que atua diretamente com os residentes, em muitos casos exerce
um modelo motivacional, porque muitos deles são ex-usuários em sobriedade, atingindo assim
os objetivos terapêuticos e mantendo importante vínculo com a instituição, sendo
corresponsáveis no repasse aos demais internos do conhecimento e experiência adquirida. O
monitor é um profissional previsto pela ANVISA através da Resolução - RDC nº 101, de 30
de maio de 2001, e empregado quase na totalidade das comunidades terapêuticas em
funcionamento.
REFERÊNCIAS

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Brasília, 1991. 1v.

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apalavra: A psicanálise e seus efeitos na época de consumo, N1 ano 1 maio 2008.

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CHIAVENTATO, Idalberto. Recursos Humanos: o capital humano nas


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A sociologia e a Saúde- Caminhos Cruzados. Disponível em:


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Reforma Psiquiátrica e política de Saúde Mental no Brasil. DISPONÍVEL EM:


<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Relatorio15_anos_Caracas.pdf>.

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