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Adeus ao grande MESTRE

Ray Hunt se despede do universo


terrestre para entrar na história
como o cowboy que ajudou a revolucionar
a relação dos homens com os cavalos.

Despediu-se do mundo terrestre, no dia 12 de março de 2009, um dos maiores mestres da


relação homem-cavalo: Ray Hunt, o cowboy norte-americano que disseminou mundo afora
uma nova forma de lidar com os animais. Discípulo de Tom Dorrance, Hunt foi o responsável
pela popularização da filosofia do velho mestre, levando aos seus alunos os procedimentos
que tinham como base fundamental a sensibilidade no trato com os cavalos. “Cada cavalo tem
uma personalidade e temos de saber respeitá-las”, dizia, com a calma de um monge tibetano.
Sabedoria, aliás, talvez seja a melhor forma de resumir a contribuição de Ray Hunt no que se
convencionou chamar de horsemanship. Foi um homem generoso na irradiação do seu
conhecimento, porque sabia que, o mais importante era que as pessoas aprendessem a ver o
cavalo como um Todo; Mente, Físico e Espírito, essa era uma contribuição real que estaria
dando para melhorar a vida do maior número de cavalos no planeta. Um ser humano único,
um mestre para todos que amam o cavalo.
Nascido em 1929, Hunt completaria 80 anos em 31 de agosto. Seu falecimento foi em
decorrência de complicações pulmonares. Um problema com o qual conviveu corajosamente
há anos, depois de sofrer um acidente e respirar ácido de bateria automotiva.
Homem humilde e rigoroso no estilo cowboy do velho oeste, Hunt contou sempre com o apoio
irrestrito de sua esposa, Carolyn, uma companheira de todas as horas, inclusive nos cursos que
ministrava nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Europa.
Em 2005, foi eleito pela revista norte americana Western Horseman como o Horseman do ano.
A essa altura, sua fama e conhecimento já tinham transcendido o universo dos cavalos. Tanto
que, em 1998, a revista Shambhala Sun, uma publicação dirigida aos estudiosos de yoga, fez
reportagem de capa, com o título “A sabedoria do Cowboy”. Foram nove páginas, nas quais a
repórter Gretel Ehrlich faz uma profunda imersão no universo western de Hunt, destacando
como sua forma de trabalho substituía a batalha pela dominação e submissão por uma dança
onde prevalece a responsabilidade mutua, a comunicação e a compreensão. “Ray Hunt ensina
equitação e horsemanship como um caminho para que ambos cavalo e cavaleiro possam
realizar sua verdadeira natureza”, resumiu a revista.
Veja, a seguir, trecho da extensa reportagem publicada pela Shambhala Sun, em 1998. Onde
anos depois, seus princípios e pensamentos continuam atuais, afinal, a sabedoria vale para a
eternidade.

Por: Marcelo Mastrobuono

“A sabedoria do cowboy”

Era uma manha fria, numa fazenda em algum lugar do Colorado ou Wyoming. A grama estava
manchada de pequenas placas de gelo. Soprava uma brisa gelada e forte o suficiente para que
o sol pudesse aparecer por cima do cume das montanhas de pico gelado. Num redondel de
cercas altas estavam os potros que fariam parte da clínica que começaria nessa manha. Eram
todos potros de dois e três anos, xucros, cheios de energia, mas com toda a inocência
característica dos potros xucros. Tinha um tordilho, um castanho, dois alazões e um palomino,
todos quarto de milha. Andavam de um lado para o outro, se cheirando e se empurrando,
características de animais bem criados e saudáveis tanto mentalmente quanto fisicamente.
Parecia que estavam querendo compreender o que estava para acontecer com eles todos
naquela situação.

“Dá para perceber nos seus corpos que existe confusão e agitação e quando existe confusão
em suas mentes ela aparece no corpo deles” Ray Hunt fala para os alunos enquanto entra a
cavalo no Redondel. “Um cavalo vai lhe dizer o que ele compreende e o que ele pensa a
respeito daquilo que está acontecendo. O fato é que ele está o tempo todo falando a respeito
de tudo isso, mas nós não conseguimos traduzir. Na verdade, não temos a predisposição para
ir tão longe na direção do que eles estão sentindo e nos dizendo. Não existe nada de errado
nisso tudo, mas não podemos querer que ele nos dê muito de volta. Para conseguirmos que o
cavalo queira colaborar, tenha vontade de se comunicar conosco, temos que perceber que
primeiro precisamos desenvolver a consciência de si, auto disciplina, para que mais tarde
possamos oferece-la ao nosso cavalo.

Alto forte e rústico, Ray foi criado numa fazenda no estado de Idaho. Seu pai tinha cavalos de
tração, que eram usados para arar a terra, recolher o feno. Jovem na época da depressão, foi
criado no estilo antigo, trabalhando duro, colhendo frutas, capinando pomar, guiando
equipamento pesado, enfim, fazendo qualquer coisa para ganhar dinheiro numa época tão
difícil. Mas sua verdadeira vocação era ser cowboy: nas fazendas de pecuária enormes do
norte de Nevada, que na época era comum os vaqueiros fazerem voltas de 80 km por dia, ele
montou de tudo um pouco. Cavalos de serviço, velhacos, mexeu com mustangs selvagens,
mulas e tudo que aparecia. Agora, aos 68 anos de idade, ele se dedica a ensinar as pessoas
como Iniciar os Potros o que no seu tempo era chamado de “Quebrar os Potros”

Durante o ano, podemos encontrá-lo em algum lugar. Pode ser em Montana, Califórnia,
Alberta no Canadá, no Texas, na Florida ou numa fazenda de pecuária na Austrália. Sua clinica
é de cinco dias. As manhãs são usadas para as classes de Iniciação de Potros, para animais
xucros que nunca receberam sela nem cavaleiro; e as tardes para as classes de Horsemanship,
para animais que tenham pelo menos já tido de 10 a 20 montadas.
Dentro de um pequeno período de tempo, os potros xucros vão aceitar serem encabrestados e
estarão cabresteando. Estarão aceitando serem encilhados e montados apenas de bridão e vão
aprender os rudimentos de um recuo macio e devagar, fazer transições para uma parada
completa, transferir o peso do quarto dianteiro para o traseiro e vice-versa, fazer mudanças de
mão e pé simples, dentro de uma atmosfera calma quieta sem nenhuma pressa. É difícil de
acreditar que tudo isso possa acontecer sem que se veja nada de diferente acontecer. Quando
perguntei a Ray como ele fez para que tudo isso pudesse acontecer, ele sorriu e disse: “Eu
apenas trabalho os cavalos através da mente deles”.
O que Ray ensina não tem nada a ver com “quebrar os potros”, “estilos de equitação”,
“competição” ou mesmo nada a ver com “conversando com a natureza”. Ele é tão humilde,
que dificilmente consegue admitir que o livro “O Encantador de Cavalos” e o filme com o
mesmo nome, escrito por Nicholas Evans, baseou-se no seu trabalho, assim como no do seu
aluno Buck Brannaman e Tom Dorrance, que é a nossa maior autoridade nesse assunto.
Basta olharmos para Ray Hunt para percebemos que ele não sofre dessas vaidades bobas
típicas das pessoas que estão no hall das celebridades. “Tudo isso não é apenas mais uma
forma de ganhar dinheiro”, diz ele. “Eu não o faria, se fosse só isso. Para mim, isso tudo é a
vida. É a realidade. Não existe nenhum livrinho de regras. É uma fundição de cuca, porque
tudo isso tem que vir do fundo do nosso ser. Venho tentando por toda minha vida e ainda
percebo que tenho muito o que trabalhar. Mas quando a gente pega o sentido do Todo, é
incrível como tudo começa a voltar para nos diretamente de lá do cavalo e a partir dali é uma
coisa de continuidade. Não existe fim para esse tipo de aprendizado”, define o mestre.
De cima de seu cavalo, ele inclina-se na direção da cara de um dos potros e, com aquela mão
imensa, acaricia sua testa. Faz o mesmo com outro potro. Todos os seus gestos são macios e
carinhosos, mas secos, sem nenhum sentimentalismo. Ele se movimenta por entre os potros,
nem devagar, nem depressa, mas com uma propriedade que diz tudo a respeito dele e de
como ele pensa a relação homem-cavalo. Um palito rola de um canto da sua boca para o outro
o tempo todo. “Para compreender, o cavalo temos que perceber que o trabalho é com a gente
mesmo”, diz ele, sem a menor ênfase, usando a mesmo tom de voz que usaria para pedir que
alguém lhe pegasse um fardo de feno.
No cerne dos ensinamentos de Ray Hunt existem lições a respeito de dar, auto-disciplina,
consciência de si, compaixão, prontidão, concentração e inteligência. Na verdade, é o Budismo
falado no dialeto Western. O mais intrigante de tudo isso é tentar responder como um cowboy
áspero e duro aprendeu todas essas coisas. Ele mesmo responde: “Tudo isso não veio fácil.
Não foi só uma questão de raspar aquela superfície e lá estar o prêmio. Tive que cavoucar
muito, arrancar meus cabelos. Agradeço ao cavalo ter podido trabalhar tão duro e fundo em
mim. Porque eu costumava ser áspero no meu trabalho. Não que não tivesse significado.
Acredito que era pura ignorância. Acho que vi muitos quadros do Charlie Russell. Na verdade,
eu não sabia que existia outra maneira de se fazer isso”, diz.

A maneira convencional de se ver tudo isso é o seguinte: um potro era laçado e tirado fora na
tropa, arrastado a um redondel, amarrado num palanque, no qual se debatia muito para se ver
livre. O próximo passo era substituir o laço pelo cabresto. Amarrado agora pelo cabresto, o
cowboy passava a maneia nas suas mãos e depois chegava nele abanando dois sacos de ração
vazios, aumentando o terror e a briga para se livrar daquela situação. A próxima etapa era
jogar a manta e a sela no lombo do potro, apertar a barrigueira com muita força, montar
rápido, afirmar e desatar o potro do palanque, puxando forte o cabo do cabresto, o que na
verdade fazia o potro corcovear ainda mais. A palavra “quebrar” não era usada
inocentemente. Quebrar a selvageria, a arrogância, a extravagância e aquele espalhafato, a
sensibilidade e o espírito do cavalo era a idéia central de toda a operação. Dominação e
submissão pura e simples era a meta principal do domador.

Um cavalo chamado Hondo foi o grande responsável por toda a mudança que ocorreu na vida
do Ray Hunt. Hondo deixou muito claro: ele podia quebrar o seu cavaleiro e o seu cavaleiro
não poderia quebrá-lo.
“Tudo que sei hoje, começou com aquele cavalo”, diz Ray Hunt. “Hondo era intratável,
mordedor, coiceiro e corcoveava duro. Realmente poderia ter me matado. Ele dizia para mim:
Venha e veja se você consegue me quebrar. Na verdade, sou eu que vou te quebrar, pode vir,
que estou pronto. Ele realmente teria me matado. Mas naquele ano eu tinha todo o inverno
para trabalhar com ele. Ele era o meu único cavalo. Sem ele estava a pé. O que acontecia era
que estávamos ali, eu e ele. Tentei me colocar no seu lugar. O que será que fez com que ele
ficasse com tanto medo? O que será que eu poderia fazer para que ele pudesse confiar em
mim? Uma vez que o cavalo tenha passado por más experiências com o ser humano, ele não
consegue acreditar que o ser humano não vai machucá-lo outra vez. Eu realmente sentia
muito por aquele cavalo ter que se armar daquela forma e sua defesa. Não posso condená-lo
por isso. Trabalhei com ele de forma tal que conseguíamos ficar perto um do outro sem
maiores problemas, para depois disso poder também montá-lo sem que me oferecesse perigo.
Não estou dizendo que tudo era um mar de rosas. É melhor que todo mundo acredite nisso.
Houve muitos momentos difíceis e ásperos, “Pretty Western”. À noite, quando me deitava,
pensava naquele cavalo, sonhava com ele e no dia seguinte voltava para continuar aquele
trabalho”.

No meio do inverno de 1960, Ray levou Hondo para Tom Dorrance vê-lo. “Ele é um cowboy
baixinho de pernas arqueadas e é o cérebro de tudo isso que está acontecendo com o
horsemanship atual. Ele consegue resolver problemas em cavalos de uma maneira tão rápida e
sutil que ninguém consegue ver o que ele fez. E quem ensinou Tom? Ele diz que foi o cavalo.
Assim que ele aparecia por perto, Hondo começava a agir como um carneirinho. Assim que ele
ia embora, lá estava eu montando um tigre outra vez. Eu não conseguia compreender nada do
que estava acontecendo, mas eu sabia que estava acontecendo algo, mas eu não consiga ver”,
conta Ray.

“O fato é que eu forçava muito. Meu timing era bom, mas a minha percepção, a minha
sensibilidade ainda não estavam lá. Eu não conseguia visualizar as tentativas, as mudanças e o
meu alívio não estava lá. Na verdade, ele tinha muito medo de mim. Eu pensava que precisava
judiar dele para que ele se submetesse e se tornasse um cavalo confiável para ser montado.
Ele, pára e corre a sua mão enorme pelo pescoço do cavalo que está montado e diz: “Eu sabia
que eu não estava certo e não foi difícil para que eu aprendesse que para ter respeito eu
precisava dar respeito.

Muitas vezes é difícil perceber o que precisa ser feito, porque o cavalo é um animal grande e
muito forte. Mas existe uma diferença entre ser firme e ser grosseiro. Agora também sei que
existe uma pequena área aberta lá dentro do cavalo, onde não existe nem medo nem
resistência e foi justamente essa área que eu comecei a procurar. Quando estávamos
chegando no fim do ano, Hondo estava manso, macio, atlético e as crianças podiam estar com
ele tanto no chão quanto montadas.

“Veja só”, explica Ray, enquanto apartava os potros, deixando apenas um no redondel. “Não
estamos trabalhando com uma máquina. Na verdade, estamos trabalhando com uma mente.
O cavalo é um animal que pensa, sente e decide coisas. Cada um deles tem sua própria
personalidade. O que ocorre é que o ser humano atua sempre como se fosse superior.
Acredita ser o mais esperto; sempre quer que as coisas aconteçam do jeito que ele quer e
imediatamente. O ser humano sempre quer ser o patrão. Assim que aparece um pequeno
problema ele já faz aquilo virar uma grande competição entre ele e o cavalo. O fato é que
quando a gente toma esse tipo de atitude é melhor ficar bem atento, pois a gente pode perder
aquela briga, pelo simples fato de o cavalo ser mais forte que nós”; completa ele,
movimentando-se a cavalo através do redondel com a aparência de quem está flutuando.
“O que estou querendo dizer é a respeito do desenvolvimento do cavalo. Não tem nada a ver
com dominação através do medo, da imposição e da coerção. É uma coisa assim mais parecida
com parceiros de uma dança, onde tudo se resume em ritmo, equilíbrio e timing. Aquele tipo
de dança onde o seu corpo e o corpo dela se transformam em um”.

Texto adaptado da revista Shambhala Sun julho/1998

Eduardo Borba
Revista Horse
Abril 2009 – nº 9

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