1. Leia atentamente o fragmento de um caso clínico publicado em Angerami-
Camon (1998):
Júlia era um bebê nascido pré-termo, com 1600 kg, necessitando de
cuidados, inicialmente intensivos e mais tarde semi-intensivos para que alcançasse um equilíbrio de suas funções vitais e atingisse um peso ideal, e recebesse alta hospitalar.
Primeira filha de um jovem casal, sua mãe (Alzira) a visitava diariamente,
passando muito tempo com a filha nos braços a acariciar-lhe, enquanto chorava muito.
Nosso primeiro contato (Psicologia) foi na sala de amamentação, onde
Alzira chorava muito, enquanto retirava leite do peito. Começamos a conversar, logo após nossa aproximação e apresentação. Ela falou de sua imensa tristeza e preocupação em acompanhar a filha naquele processo e, do quanto se sentia responsável por tudo que estava acontecendo e incapaz de dar a ela o alimento que esta necessitava - dizia que seu leite era fraco e que estava diminuindo a cada dia já que Júlia não ganhava peso e sua situação estava estacionada há vários dias.
Nossa conversa foi se desenrolando, com poucas palavras de nossa parte,
com Alzira falando o quanto não suportava mais aquela situação de vir todos os dias amamentar - com uma série de dificuldades, inclusive de locomoção sem que a criança respondesse da forma como ela esperava.
Outras questões foram surgindo tão naturalmente que a impressão que
tínhamos era a de que, mais do que sentir-se à vontade conosco, Alzira sentia-se aliviada por estar falando sobre si para alguém que estava ali só para ouvi-la, e falar a ela sem críticas ou conselhos.
Tivemos outros dois encontros, solicitados por ela, através da enfermagem.
Falávamos dela, de suas necessidades pessoais, dos problemas familiares, de como havia vivido toda a gravidez, do marido, do casamento em crise...
Nossa compreensão era a de que toda aquela problemática acabava por
interferir na relação dessa mãe com sua filha, o que favorecia o surgimento de dificuldades que cada uma expressava a seu modo: Júlia, não ganhando peso e parecendo "não colaborar" com o tratamento, o que retardava sua alta; e a mãe sentindo-se culpada por não poder dar a filha o suporte que esta necessitava, pois ela própria sentia-se naquele momento, bastante só e desamparada. Oferecemos à Alzira nossa "leitura" da situação, pedindo a ela sua concordância ou não com a mesma. Parecendo surpresa, com a nova dimensão de sua problemática, disse que até então se considerava como única responsável por todo aquele sofrimento, sem se dar conta do quanto as situações sociais difíceis que vinha enfrentando impediam que ela se alegrasse com o nascimento da filha tão esperada e desejada.
Alzira parecia tranqüilizar-se mais a cada encontro. Quando estava com a
filha nos braços já não chorava mais e não parecia tão desesperada. Ao contrário, passou a conversar com Júlia e estimulá-la a mamar no peito. Demonstrava grande atenção às necessidades do bebê em mudar de posição, fazer pequenas pausas para descansar durante as mamadas e retribuía aos olhares da filha com um sorriso de alegria, quando esta abria os olhos e parecia procurar os olhos da mãe.
Júlia passou a mamar no peito, ganhando peso e fazendo progressos
notáveis, verbalizados por uma enfermeira que um dia exclamou "nossa o que aconteceu com a Júlia? Parece que acordou".
Decorridos 10 dias de nosso primeiro encontro e 33 dias de internação, Júlia
recebeu alta hospitalar, indo para casa com sua mãe, que não escondia sua expressão de felicidade e alívio.
Após leitura e análise do caso:
1. Identifique como se apresentava Alzira antes das intervenções psicológicas.
Quais os possíveis motivos que a faziam se sentir assim?
2. Apresente as mudanças na díade após as sessões com a Psicologia e como
a teoria do apego pode ilustrar e justificar a alta hospitalar de Júlia?
3. Quais estratégias um(a) psicólogo(a) poderia seguir para ajudar essa díade mãe-filha? Elabore um breve planejamento de atuação junto a elas.
Ex.: 1. Ouvir a mãe e identificar a queixa. 2. (...)