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Geotecnia Ambiental

Bairros Cota na Serra do


Mar em Cubatão – riscos em
ebulição e planos de ação
em andamento
Os bairros localizados nas encostas da Serra do Mar, na cidade de Cubatão,
passam por um processo de remoção e recolocação das pessoas que habitam
na área sujeita a escorregamentos.

Clóvis Deangelo

Clóvis Deangelo
trução das rodovias Anchieta e Imi-
grantes, os trabalhadores e suas fa-
mílias foram alocados na região, que
passou a ser conhecida como Bairros
Cota, nome derivado de acordo com
a cota topográfica, a altura da mon-
tanha em relação ao nível do mar. Os
bairros existentes são o Cota 95/100,
A região da Serra do Mar apresenta fizeram com que a região coberta Cota 200, que é o mais povoado, Cota
características específicas, tanto to- por vegetação desse espaço a es- 400 e Cota 500.
pográficas quanto climáticas, que tradas, fazendo com que a Grande “A ocupação aconteceu por conta
propiciam a incidência de desas- São Paulo e o Município de Cubatão da logística da obra da Anchieta.
tres naturais, principalmente pela fossem os mais afetados por essas Os trabalhadores, pela necessidade,
ocupação desordenada ao longo obras viárias e, por consequência, eram obrigados a criar esses acam-
dos anos. pela ocupação urbana. pamentos em determinados níveis
A Serra do Mar é uma barreira natu- da região, tanto no planalto, no meio
ral que separa o planalto e a região da encosta e na base da encosta”,
Processo de explica o geólogo e pesquisador do
litorânea, estendendo por cerca de
mil quilômetros, do Rio de Janeiro
ocupação irregular Instituto de Pesquisas Tecnológicas
até o estado de Santa Catarina. Em O processo de ocupação do local si- (IPT), especialista na área de gestão
São Paulo, o crescimento e o desen- tuado na cidade de Cubatão teve iní- de riscos e desastres naturais, Agos-
volvimento urbano e econômico cio na década de 1940. Com a cons- tinho Ogura.
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Com o passar dos anos, as famílias

Clóvis Deangelo
cresceram e, atualmente, cerca de
sete mil moram em nove núcleos de
ocupação irregular nas encostas da
Serra do Mar.

Condições
climáticas e
geotécnicas
peculiares
Segundo Ogura, a região, por conta
das suas características geológico-
geotécnicas, associadas às condições
de ocupação do lugar, além da rea-
lização de grandes obras de enge-
nharia e as condições climáticas par-
ticulares, já que é considerada uma
das regiões do País que mais chove,
fazem com que o local se torne um

Clóvis Deangelo
desafio para a engenharia nacional e
para o desenvolvimento do Brasil.
“Essas condições de chuvas em um
terreno de alta declividade, vales en- Programa de
caixados, condições de fraturamento Recuperação
e alterações das rochas e dos mate- Socioambiental
riais dos solos propiciam que ocorram Apesar de estarem dentro dessa área
processos de desestabilização de en- de conservação, apenas em 2007 o
costas, conhecidos como escorrega- governo paulista determinou que a
mentos, desde deslizamentos rasos Secretaria da Habitação e do Meio
até processos violentos de corrida de Ambiente (SMA), por intermédio da
massa”, explica o pesquisador Ogura. Companhia de Desenvolvimento Ha-
Os bairros Cota estão localizados den- bitacional e Urbano (CDHU), desse
tro dos limites do Parque Estadual da início ao Programa de Recuperação
Serra do Mar, criado em 1977, sen- Socioambiental da Serra do Mar. De
do uma unidade de conservação de acordo com Agostinho Ogura, este é
proteção integral da Mata Atlântica, o primeiro grande projeto de nature-
abrangendo 23 municípios no litoral za ambiental e social que envolve a
e no planalto, e que engloba 315 mil remoção de um grande número de Geólogo e pesquisador do IPT, especialista
hectares no Estado. pessoas e a recolocação delas em lu- na área de gestão de riscos e desastres na-
turais, Agostinho Ogura
gares mais seguros, além de realizar
“Os escorregamentos são parte inte-
a recomposição dessas áreas com ve-
grante e natural da Serra do Mar. A
getação florestal e a manutenção de
ação do homem mexendo com essas
setores de menos risco.
áreas tão instáveis, desmatando, cor-
tando, fazendo aterros, lixões e fossas Os profissionais envolvidos no pro-
de infiltração, potencializa toda essa grama são de diferentes especialida-
instabilidade e, pela presença huma- des, como engenheiros geotécnicos,
na torna essa instabilidade trágica, geólogos, tecnólogos civis, especia-
porque os escorregamentos têm a listas na área de cartografia geotéc-
propriedade de soterrar pessoas”, nica, profissionais de processamento
conta o geólogo e consultor em geo- de informações e da engenharia civil
logia e geotecnia, Álvaro Rodrigues ligados ao setor habitacional e de Geólogo e consultor em geologia e geotec-
dos Santos. construção. nia, Álvaro Rodrigues dos Santos

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“Esse é o principal projeto socioambiental com cunho geo-
avaliação de risco
técnico sendo realizado na Serra do Mar no Estado de São

IPT
Paulo, a fim de obter uma melhoria de qualidade habitacio-
nal com projetos de reurbanização e regularização fundiá-
ria, acerto geológico-geotécnico e de infraestrutura dessa
área”, diz.
Os objetivos principais do programa envolvem um remane-
jamento das pessoas situadas nas áreas de riscos geológicos
ou de preservação ambiental. Os locais que apresentam me-
nores riscos serão urbanizados com infraestrutura especifica
e serviços públicos. As estimativas são de que cerca de cinco
mil famílias deixem o local e outras 2.500 consolidem a ocu-
pação nas áreas onde é possível a urbanização. Os locais de
maiores riscos estão localizados nos trechos das Cotas 100 e
200 e os menores são nos setores 400 e 500.

IPT

Nos bairros Cotas há locais onde existe uma grande chance de um


escorregamento acontecer
IPT

Mapeamento de risco – Exemplos


IPT

Setor com grau de risco baixo Setor com grau de risco médio Setor com grau de risco alto Setor com grau de risco muito alto
(R1) (R2) (R3) (R4)

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Mapeamento de risco Para a realização do mapeamento foi levado em considera-
O IPT atuou nesse projeto realizando um mapeamento de ção à fragilidade das encostas e a vulnerabilidade das mo-
risco, com recursos do Banco Mundial e patrocinado pelo radias. Em relação à fragilidade, foram feitas análises que
Ministério das Cidades, levando em consideração dois ele- permitem estimar a chance de ocorrer deslizamentos, como
mentos essenciais para se avaliar a análise de risco, como a a inclinação e altura das encostas naturais e dos taludes es-
suscetibilidade das encostas e a vulnerabilidade das edifi- cavados, a concentração de água das chuvas, os sinais de
cações para definir quais setores são de baixo, médio, alto movimentação do terreno, tais como trincas, rachaduras e
e muito alto risco. degraus de abatimento nas casas e no terreno e presença
A experiência do IPT nos bairros Cota mostra que todo ano de aterro, lixo e entulho. A análise da condição de ocupa-
há ocorrência de algum acidente de escorregamento ori- ção permite também estimar o grau de vulnerabilidade das
ginado por chuvas nas encostas ocupadas por edificações casas, como a posição nas encostas – topo, meia encosta e
de baixo padrão em relação à construção, sendo os bairros base, a distância das moradias em relação aos taludes instá-
Cota considerados as principais áreas de risco de escorre- veis, o padrão construtivo das residências e a estimativa de
gamentos da região litorânea de São Paulo. danos para as habitações e seus moradores.

análise de risco

IPT

por que os acidentes acontecem


IPT

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IPT
Cuidados após a Segundo o pesquisador Ogura, o evento que aconteceu é típi-
demolição das moradias co da região da Serra do Mar, resultando em escorregamentos
com uma avalanche de material, destruindo casas que esta-
Outro aspecto importante na remoção das estruturas do
vam ao longo da linha de drenagem. “Esse é um fenômeno
local é o cuidado que se deve ter, pois, ao demolir as mo-
geológico-geotécnico que acontece, dependendo da seve-
radias, haverá uma mudança, do ponto de vista geotécnico
ridade da chuva. Quanto mais intensa for, maior volume de
das estruturas do solo, comprometendo também as condi-
água, o que possibilita uma tragédia gigantesca”, explica.
ções de estabilidade local, pois muitas estruturas das casas
funcionam como arrimo. “É necessário um trabalho que Desde esse fato, o IPT, juntamente com o Instituto Geológi-
evite a desestabilidade das habitações que irão permane- co (IG), Instituto Florestal e Instituto de Botânica, realizaram
cer no local”, afirma Ogura. estudos que levaram ao mapeamento dos problemas rela-
cionados e propostas de soluções, como o Plano Preventivo
Segundo o dr. Agostinho Ogura, é necessário realizar um de Defesa Civil.
estudo de correlação entre chuvas e escorregamentos.
O PPDC tem como objetivo dotar as equipes técnicas mu-
Para ele, os profissionais que atuam em gestão de desastres
nicipais de instrumentos preventivos, capazes de, em situa-
deveriam fazer uma associação com as informações técni-
ções de risco iminente, evitar que ocorra um grande núme-
cas de outras áreas de conhecimento, como, por exemplo,
ro de vítimas decorrentes dos escorregamentos. O Plano
a meteorologia para compreender e criar um sistema de
Preventivo pode ser considerado pioneiro no País e uma
alerta eficiente.
medida de gerenciamento de riscos geológicos associados
“Quando um meteorologista envia um alerta de chuva, a escorregamentos de encostas.
para ele o nível pluviométrico crítico é de 40 ml. Mas, para
“A Serra do Mar é a principal região do País em incidência
os geólogos e engenheiros geotécnicos, os níveis que po-
de chuva e condição de uso do solo de forma perigosa.
dem ocasionar escorregamentos são superiores a 150 ml.
Hoje, temos muitos profissionais com conhecimento geo-
As informações devem estar coesas de acordo com o grau
lógico-geotécnico, mas que precisam ser melhor estrutura-
de risco”, diz.
dos para fins de gestão, realização de obras, uso do solo e
planos de emergências”, explica.
Plano Preventivo Os principais meios de acompanhamento realizados pelo
de Defesa Civil (PPDC) PPDC envolvem os seguintes parâmetros: precipitação plu-
Em 1988, a região da Serra do Mar presenciou um evento viométrica, previsão meteorológica e observações a partir
que propiciou diversos escorregamentos de terra, sen- de vistorias de campo. As Defesas Civis dos municípios são
do considerado, até os mais recentes acidentes que di- responsáveis pelo acompanhamento das chuvas, vistorias
zimaram cerca de mil pessoas na região Serrana do Rio das áreas de riscos e remoção dos moradores.
de Janeiro, em janeiro desse ano, o mais grave, atingindo “Infelizmente esse plano não foi aplicado em outros lugares,
naquele momento Petrópolis, com 171 mortes, a cidade ficando apenas no estado de São Paulo. Temos a parceria com
do Rio de Janeiro, com 53 vítimas e o litoral de São Pau- a Defesa Civil desde 1988 e passamos a incentivar as regiões
lo, com 17 vítimas fatais, nas cidades de Cubatão (Cota com áreas com possibilidade de deslizamentos a desenvol-
95/100), Santos e Ubatuba. verem planos de gestão de riscos”, complementa Ogura.

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