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Educação sexual é dever também

das escolas
Rute Lidiani Pires
Pindamonhangaba/SP

Leciono desde quando conclui o Curso


de Bacharelado em Ciências Biológicas,
em 1992, pela Universidade de Taubaté
(UNITAU).

M
inha “práxis” em aula era (e ainda é)
deixar os alunos escolherem
livremente um tema de interesse
deles. Assumi essa postura em razão de minha vivência
quando cursava a 7ª série do então ginásio. Naquela série,
meus colegas e eu folheávamos o livro didático, e o assunto
que nos despertava maior interesse estava nas últimas
páginas: sexualidade. Contávamos os meses esperando o
professor explicar aquele assunto, mas esse dia nunca
chegou. O ano letivo terminava e o professor não concluía o
livro didático, não demonstrando interesse algum em fazê-
lo. Não havia amparo legal para assegurar aos alunos a
aquisição dessa classe de conhecimento, deixando de
garantir assim o acesso à saúde e ao autocuidado. Meus
alunos também sempre escolhiam o tema sexualidade.
Certo dia, como era costume em aula, deixei que os alunos
escolhessem o tema para ser desenvolvido a cada 15 dias.
A diretora da escola ficou sabendo disso pelos comentários.
Logo que cheguei à escola fui chamada por ela para uma
séria conversa com a presença da vice-diretora, tendo
marcado em mim a frase daquela diretora, que dizia estar
temerosa pela minha aula: “Espero que dê essa aula
cientificamente”, demonstrando o constrangimento dela.
Constrangimento que imperava à época ao abordar o tema
com os alunos de forma aberta, pois até então não era
costume e também não havia embasamento legal para
tanto. Ou, pelo menos, se desconhecia legislação recente
que estabelecia (e estabelece) à criança e ao adolescente o
direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de
sua pessoa (art. 53 do ECA, com grifo meu), e o direito à
informação que respeite sua condição peculiar de pessoa
em desenvolvimento (art. 71, também do ECA). Era
recente a criação do Estatuto da Criança naquele momento
(1990). Após a conversa, fui à sala de aula. O tema seria
abordado em determinada série na segunda aula daquele
dia. Ao finalizar a primeira aula em outra série distinta, fui
avisada da alteração de minha aula – na qual abordaria o
tema sexualidade – transferida para a última do dia.
Quando chegou a última aula, todos os alunos aguardavam
sentados e ansiosos. Logo ao entrar na sala, o inspetor
avisou que toda a escola tinha sido dispensada, sem
informar o motivo, apesar de minha insistência em saber o
porquê. Os alunos, inconformados, permaneceram em sala
e não queriam sair da escola. Tive de convencê-los, pois o
inspetor já começava a apagar as luzes (era período
noturno). Grande foi a minha surpresa quando, ao sair da
escola pela porta da frente, descendo a escadaria,
vislumbrei todos os alunos me esperando para que
lecionasse ali mesmo, à luz da iluminação pública e longe
do poder conservador daquela Direção Escolar. Sentei à
beira da calçada com eles. Pela falta de meios para expor
totalmente o assunto, solicitei que explanassem suas
dúvidas, às quais fui respondendo, enquanto novas iam
surgindo. Assim, numa conversa, esclareci as dúvidas de
todos. Em 1998, em decorrência dos direitos estabelecidos
pelo ECA, foi elaborada a nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, a partir da qual foram criados os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) e os Temas Transversais,
onde o assunto sexualidade – agora considerado Tema
Transversal – foi formalmente integrado ao currículo oficial.
A orientação proposta pelos PCN reconhece a importância,
tanto da participação construtiva do aluno como da
intervenção do professor, para a aprendizagem de
conteúdo. Nós, professores de Ciências e Biologia, tivemos,
via ECA, LDB e PNC, apoio legal necessário para bem
orientar nossos adolescentes.
Hoje, sou professora coordenadora da Oficina Pedagógica,
responsável pelo projeto Prevenção Também se Ensina –
que visa afastar os adolescentes das drogas e da incidência
das DST/AIDS e propicia condições para o desenvolvimento
da autoestima e da responsabilidade sobre a saúde
individual e coletiva dos alunos, abordando vários temas
como diversidade sexual, gravidez na adolescência,
doenças sexualmente transmissíveis, homofobia, etc. Foi
desenvolvida uma metodologia pela qual trabalho com
alunos representantes do Grêmio Estudantil, os quais
recebem capacitação para tornarem-se multiplicadores,
protagonistas em suas escolas nos temas relacionados ao
projeto.
Recordo-me daquela professora, outrora lecionando
sentada à beira da calçada, praticamente expulsa da escola
com seus alunos, e hoje desenvolvo um grande projeto em
todas as escolas da Diretoria de sua cidade, oferecendo
oportunidade de conhecimento a tantos jovens, garantindo-
lhes acesso à saúde, à educação, ao autocuidado, livrando-
os de várias situações de risco pelo conhecimento
adquirido.
O ECA garantiu o exercício pleno de meu ofício –
inicialmente como professora de Ciências e Biologia, e
agora, como coordenadora de Oficina Pedagógica, apoiando
legalmente minha práxis docente e efetivando a formação
integral dos alunos como cidadãos conscientes de seus
direitos sexuais e reprodutivos.

Rute Lidiani Pires é bacharel em Ciências Biológicas pela Unitau (SP), especialista em
Psicopedagogia e pós-graduada em Gestão Escolar. Coordena o projeto “Prevenção”,
desenvolvido pela Diretoria de Ensino de Pindamonhagaba (SP).

Extraído do site:

http://www.pro-menino.org/causos6/votacao/textos/?causo=257

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