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Capítulo 1

Introdução

Por que contar uma história usando modelos, em vez de contar


uma história usando palavras? Segundo o professor Fábio Kanc-
zuk da Universide de São Paulo:

“Para os velhos de qualquer idade, Macroeconomia é


contar histórias, acreditar que elas são derivadas de
uma igualdade contábil, sem perceber que são somente
identidades. Confundir o que é endógeno com exó-
geno, equilíbrio com desequilíbrio ... Para os jovens
de qualquer idade, é importante pensar em termos de
equilíbrio, e identificar os choques exógenos, para daí
poder contar a história. Senão, fica tão desonesto que
até alguns consultores ficam com vergonha. Nesse caso,
mesmo com as brutais limitações, o DSGE ajuda a pen-
sar. Tem gente que é inteligente o suficiente para dis-
pensar modelos, e consegue fazer a identificação de ca-
beça. Quando eu tento fazer isso, noto que me con-
fundo várias vezes. Noto também que outras pessoas
se confundem, mas não percebem”. (Blog AC3L, 2013)

1
Indrodução 2

Resumidamente, um modelo é formado por expressões mate-


máticas as quais possuem definições únicas e precisas. O mesmo
não ocorre quando se usa somente palavras. Portanto, uma vez de-
finida uma expressão matemática, essa é representada por regras
rígidas sobre as relações que podem ser feitas, não existindo es-
paço para entrelinhas ou metáforas. Por isso, mesmo para contar
uma história, é preciso ter uma estrutura bem definida.

Durante os anos que sucederam o artigo seminal de Kydland


e Prescott (1982), a teoria RBC forneceu a principal estrutura de
referência para as análises de flutuações econômicas e tornou-se
o centro da teoria macroeconômica. O impacto da revolução RBC
foi de aspecto metodológico, o qual estabeleceu o uso dos modelos
DSGE como a ferramenta central para análise macroeconômica.
Equações comportamentais descrevendo variáveis agregadas fo-
ram substituídas por condições de primeira ordem de problemas
intertemporais enfrentados por famílias e firmas. Suposições ad
hoc na formação de expectativas deram lugar as expectativas raci-
onais.

Contudo, inicialmente, essa metodologia foi criticada por se


deter na análise de apenas um tipo de choque (choque de produti-
vidade) e em apenas um tipo de estrutura econômica (concorrên-
cia perfeita), e por não reconhecer qualquer papel para a política
monetária. Portanto, da perspectiva de um banco central, era di-
fícil ver como esses modelos poderiam contribuir para a discussão
da política monetária. Vinte anos mais tarde, essa controvérsia foi
completamente dissipada. A principal razão foi que a inovação
tecnológica sobrejacente aos modelos RBC trouxe a introdução de
fricções que permitiram a incorporação de princípios keynesianos
e novos choques. O sucesso desses novos modelos possibilitou que
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as principais instituições econômicas desenvolvessem o seu pró-


prio modelo DSGE como fez o Branco Central do Brasil (SAMBA),
o Banco Central Europeu (NAWM), o Banco do Canadá (ToTEM), o
Banco da Inglaterra (BEQM), o Banco do Japão (JEM), o Banco do
Chile (MAS), o Fundo Monetário Internacional (GEM), entre ou-
tros.

A aprovação dessa metodologia deve-se a sua estrutura coe-


rente de análise. Essa coerência é dada pelo comportamento acei-
tável que os agentes maximizam ao tomarem suas decisões e as
expectativas racionais. O mecanismo dinâmico é outra atração, já
que esses modelos são capazes de representar o movimento inter-
temporal das variáveis econômicas de forma transparente e clara.
E por fim, esses modelos não estariam sujeitos a crítica de Lucas
(1976). Por isso, os bancos centrais estão se esforçando para torna-
rem o DSGE cada vez mais útil na análise de políticas econômicas,
para tanto, estão incluindo um setor financeiro cada vez mais so-
fisticado (com vulnerabilidade financeira e restrições de colateral),
e também aperfeiçoando cada vez mais o entendimento de previ-
sões.

De acordo com Chari et al (2009) para que um modelo possa


contribuir na realização de análises de política econômica, é pre-
ciso possuir duas características essenciais. A primeira é que os
parâmetros estimados sejam parâmetros estruturais da economia,
de modo que não sejam afetados por mudanças de política e a se-
gunda é que os choques exógenos usados na modelagem tenham
interpretação coerente e relevante. Também afirmam que há duas
abordagens principais para modelos que respeitem estes dois re-
quisitos. A primeira procuraria manter o modelo o mais simples
possível, no que diz respeito ao número de parâmetros, variáveis e
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dinâmicas. A outra segue a linha de Christiano et al (2005) e Smets


e Wouters (2003), segundo a qual buscariam o chamado “princípio
de ajustamento”. Nesse sentido, essa segunda abordagem defende
a inclusão de vários mecanismos na estimação com o objetivo de
melhorar essa aderência aos dados observados, como diversos ti-
pos de rigidez e choques. Portanto, os modelos preocupados em
aproximar a teoria da realidade seguem esta segunda tradição. En-
tão, propõem fricções e choques na quantidade suficiente e neces-
sária para um melhor ajustamento com os dados observados.

Definição 1.0.1 (Princípio de Ajustamento). De acordo


com Kocherlakota (2007), por esse princípio um modelo é
tão mais preferível para análise de política quanto melhor
for a aderência de seus dados projetados aos dados obser-
vados.

1.1 A ideia do Agente Representativo e Tempo


de Vida
É fato que cada consumidor é diferente em relação a suas pre-
ferências por bens e serviços, o mesmo vale para as firmas com res-
peito às tecnologias usadas no processo produtivo. Em outras pa-
lavras, os agentes são heterogêneos na economia. Contudo, se essa
característica é considerada, surge um potencial problema teórico
de tratabilidade, tornando impossível modelar teoricamente as es-
colhas de cada agente econômico individualmente. Além disso,
seria impossível conhecer as escolhas exatas de cada agente indi-
vidual. O fato é que qualquer modelo econômico é uma descrição
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simplificada de algum fenômeno complicado.

A solução encontrada foi agrupar os agentes econômicos em


grupos maiores, por exemplo: se o estudo é sobre consumido-
res, seria indicado formar grupos com características de consumo
semelhantes (consumidores de alta renda, de renda média e de
renda baixa). Esse procedimento, nos modelos DSGE, é chamado
Agente Representativo. Nessa abordagem, é suposto que existe
uma grande quantidade de agentes econômicos idênticos. Obvia-
mente, essa é uma forte simplificação da realidade. Contudo, ado-
tando tal procedimento, o modelo macroeconômico se torna muito
mais simples, pelo menos o suficiente para atender o propósito dos
estudos macroeconômicos, como por exemplo o modo como reage
o consumo das famílias diante do aumento da taxa básica de juros.

Portanto, o objetivo dos modelos DSGE é construir modelos


teóricos relativamente pequenos (usando agentes representativos)
incluindo famílias, firmas, governo, setor financeiro e setor ex-
terno. Reunindo esses tipos de agentes, é possível ver como in-
teragem, o que propicia uma análise rica em detalhes dos efeitos
de uma dada política macroeconômica.

Uma vez descrito como os agentes econômicos são definidos


nos modelos DSGE, resta falar sobre o tempo de vida de cada um,
o que, para essa modelagem, significa a referência temporal que
os agentes estão usando para tomar suas decisões. Assume-se que
esses possuem um horizonte infinito. Obviamente, firmas e go-
vernos não existem para sempre. Contudo, um governo ao decidir
o seu orçamento, não espera que irá deixar de existir. As firmas
também são assim, pois ao determinar o seu orçamento não con-
sideram que irão a falência no futuro. A suposição em relação aos
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consumidores é mais simples. Embora assuma que cada consumi-


dor possua vida finita, ao considerar a estrutura familiar em que a
cada período membros desse grupo estão nascendo e morrendo, o
agente representativo família se torna infinito.

1.2 O ensino dos modelos DSGE na Graduação


e na Pós-graduação
A macroeconomia é complexa, e sistemas complexos são difí-
ceis de analisar, todo mundo sabe disso. Contudo, o ensino da ma-
croeconomia nos cursos de graduação estaria de acordo com a rea-
lidade? Modelos tais como IS-LM, Mundell-Fleming, entre outros
seriam capazes de representar, realmente, como a macroeconomia
funciona? Os alunos de graduação recebem as ferramentas neces-
sárias e suficientes para uma análise macroeconômica? Existe di-
ferença na macroeconomia ensinada na graduação da ensinada na
pós-graduação?

A macroeconomia foi abalada desde o início da década de 1970.


O modelo da síntese neoclássica, que quase foi universalmente
aceito como o paradigma básico até o final da década de 1960, hoje
é considerado por muitos como não respeitável cientificamente. O
início de perda de popularidade desse modelo foi causado pela di-
ficuldade em explicar alguns eventos econômicos, especialmente
a falha em tratar satisfatoriamente de fatores como a inflação e os
choques de oferta. A redução do entusiasmo com esses modelos
também é refletida pelo progresso teórico e empírico de uma abor-
dagem alternativa do comportamento das famílias e firmas apoi-
ada nos conceitos de otimização no comportamento dos agentes e
em ajustes de mercados.
Indrodução 7

Embora os modelos apoiados na síntese neoclássica tenham


perdido a crença dos economistas nos últimos 25 anos, continuam
sendo a principal ferramenta dos livros-texto usados na gradua-
ção. É verdade que alguns manuais já incluem algum material so-
bre macroeconomia com microfundamentos (Romer, 2012, Blan-
chard e Fischer,1989 e Bénassy, 2011 para a pós-graduação; e Barro,
1997, Williamson, 2008 e Barron et al, 2006 para graduação, entre
outros). Mas ainda é pouco, mesmo na pós-graduação. Em sín-
tese, a macroeconomia moderna não está sendo ensinada de forma
ordenada devido à carência de bibliografia que direcione o estudo
dessa metodologia de forma sistemática.

De forma geral, não se pode atribuir à matemática o motivo da


macroeconomia moderna ser pouco ensinada nos cursos de econo-
mia, pois as ferramentas básicas desses modelos (derivadas, maxi-
mização etc) são ensinadas na maioria dos cursos, mesmo na gra-
duação. Livros-texto como “Matemática para Economistas” dos
autores Chiang e Wainwright (2006) ou “Matemática para Econo-
mistas” dos autores Simon e Blume (2004) – muito populares nas
disciplinas de matemática dos cursos de economia – preenchem os
pontos necessários e suficientes para um bom aprendizado dessa
modelagem macroeconômica.

1.3 O Dynare
Dynare é uma plataforma de software para lidar com uma am-
pla classe de modelos econômicos, em particular com modelos de
DSGE e de gerações sobrepostas (OLG). Os modelos resolvidos
pelo Dynare incluem aqueles cuja hipótese embasada em expecta-
Indrodução 8

tivas racionais, os agentes formam suas expectativas sobre o futuro


de uma forma consistente com o modelo. Mas também é capaz de
lidar com modelos em que as expectativas são formadas de alguma
maneira diferente: em um extremo, os modelos onde os agentes
perfeitamente antecipam o futuro; e no outro extremo, modelos
em que os agentes têm racionalidade ou conhecimento imperfeito
e, portanto, limitados, criando assim suas expectativas através de
um processo de aprendizagem.

Essa plataforma oferece uma maneira fácil de descrever esses


modelos, sendo capaz de realizar simulações devido à calibração
dos parâmetros, ou estimá-los usando um conjunto de dados. Na
prática, o usuário escreve um arquivo de texto que contém a lista
de variáveis, de equações dinâmicas, de tarefas e de saídas gráficas
ou numéricas desejadas.

Dynare é um software livre, o que significa que pode ser bai-


xado gratuitamente, que o seu código-fonte está plenamente dis-
ponível, e que pode ser usado tanto para fins lucrativos ou não.
Está adaptado para as plataformas Windows, Mac e Linux e total-
mente documentado através de um guia do usuário e um manual
de referência. Parte do Dynare é programado em C ++, enquanto
o resto é escrito usando a linguagem de programação Matlab. Isto
implica que o software Matlab comercialmente disponível é neces-
sário a fim de executar Dynare. No entanto, como uma alternativa
ao Matlab, Dynare também é capaz de rodar no software Octave
(basicamente um clone livre do Matlab). O desenvolvimento de
Dynare é feito principalmente por uma equipe do núcleo de pes-
quisadores do CEPREMAP que dedicam parte do seu tempo ao
desenvolvimento do software.
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Resumidamente, o Dynare é um pré-processador e uma cole-


ção de rotinas que operam no Matlab, que possui vantagens na
leitura e escrita de modelos DSGE quase como se estivesse escre-
vendo um artigo acadêmico. Isto não só facilita a colocação de
um modelo, mas também permite, facilmente, compartilhar códi-
gos. A Figura 1.1 fornece uma visão geral da forma que o Dynare
trabalha. Basicamente, o modelo e os seus atributos relacionados,
como a estrutura de choques por exemplo, são escritos equação
por equação em um editor de texto. O resultado será um arquivo
chamado de arquivo.mod1 . Este arquivo é chamado pelo Matlab
que inicia o pré-processador do Dynare que traduz o arquivo.mod
para ser usado pelas rotinas do Matlab para resolver ou estimar
o modelo. Então, finalmente, os resultados são apresentados pelo
Matlab.

1.4 A estrutura deste livro


Como já mencionado no prefácio e neste texto introdutório,
este livro é para ser uma proposta de um curso de DSGE buscando
um formato aplicado. A metodologia de apresentação escolhida
envolve uma breve apresentação teórica sobre as suposições do ca-
pítulo em questão e a apresentação e desenvolvimento do modelo
subjacente. Posto isso, são apresentados os problemas de otimi-
zação dos agentes juntamente com as equações de política, em se-
guida determina-se o estado estacionário e encontra-se as equa-
ções log-linearizadas. Para finalizar o modelo, são discutidos os
choques do problema proposto.

A ideia é tentar evitar tudo o que seria desnecessário, e essa é


1 Um guia importante de como escrever um arquivo.mod é Griffoli (2011).
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Figura 1.1: O arquivo .mod é lido pelo pré-processador do Dynare,


que chama as rotinas do Matlab necessárias para realizar as ope-
rações desejadas e apresentar os resultados.
Fonte: Modificado de Griffoli (2011).

uma tarefa árdua, já que tudo parece essencial. Muitas vezes exis-
tem várias maneiras de apresentar ou resolver um problema, como
exemplo: este livro usa o Método de Lagrange para resolver os pro-
blemas de otimização; contudo, alguns economistas preferem usar
programação dinâmica – o importante é que os resultados serão
iguais. Aspectos desse tipo serão deixados de lado, indicando-se
uma leitura complementar para um leitor em busca de alguma téc-
nica alternativa.

Para facilitar o entendimento didático, este livro usa caracte-


rísticas para reforçar a teoria básica. Essas características são:

• Definição: é a parte do texto que introduz um novo vocá-


bulo, fixando o seu significado. Toda vez que um elemento
teórico for importante para o entendimento da metodologia
do capítulo proposto, será posto como uma definição.
Indrodução 11

• Resultado Teórico: é o resultado de um problema que deve


ser fixado pelo leitor. Para um melhor entendimento da evo-
lução dinâmica dos modelos DSGE, é necessário ter um co-
nhecimento das principais equações que formam o modelo.
Para tanto, essa característica busca reforçar a importância
de algumas expressões.

• Suposição: é a atribuição de uma característica ao modelo


proposto.

• Preposição: é um enunciado matemático justificado (demons-


trado).

• Arquivo.mod: é o modelo do capítulo escrito no formato


para simulação no Dynare. Para facilitar o estudo de cada
modelo, ao final de cada capítulo, é apresentado o modelo
no formato .mod.

• Apresentação da resolução dos problemas: neste livro, a es-


colha foi apresentar a resolução dos problemas passo a passo.
Esta opção está relacionada à carência de maiores detalhes
nos livros-texto que tratam desta metodologia.

Além das características apresentadas, o leitor encontrará al-


gumas diferenças importantes em relação a outros livros-texto no
que se refere à abordagem e à organização dos tópicos. Esta obra
está organizada em sete capítulos incluindo esta introdução. Do
capítulo 2 ao 7 a estrutura do modelo é desenvolvida progressiva-
mente, incluindo novas fricções e outros agentes econômicos.

A primeira parte deste livro apresenta três modelos básicos:


modelo RBC; modelo NK com fricção de preços; e modelo NK com
fricções de preços e salários. A proposta é iniciar com um modelo
Indrodução 12

mais simples e, então, capítulo a capítulo, introduzir novas fric-


ções. Neste bloco, o foco está no desenvolvimento de ferramentas
e ideias básicas aqui utilizada.

O principal objetivo da parte II é introduzir fricções nas famí-


lias e nas firmas e o setor governo para que o modelo fique o mais
próximo da realidade, ou seja, para que atenda ao princípio de
ajustamento. Para tal fim, serão incluídas fricções na escolha in-
tertemporal do consumo, no acesso ao “mercado financeiro”, nos
investimentos e na capacidade instalada. Para a primeira fricção,
será usada o conceito de formação de hábito. Já para a restrição ao
mercado financeiro, serão incorporadas as chamadas famílias não
Ricardianas. Outras duas fricções estão relacionadas com custos
de ajuste no investimento e com a não utilização da capacidade
instalada máxima.

A princípio, este livro foi escrito para ser trabalhado mantendo


a sequência original. Contudo, aqueles pesquisadores que já pos-
suem algum conhecimento sobre os modelos DSGE podem ir di-
reto ao capítulo de interesse, tendo em vista que toda suposição
ou ideia aproveitada de algum capítulo anterior terá a sua origem
devidamente indicada.
Parte I

Princípios básicos

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Capítulo 2

Modelo de Ciclos Reais de


Negócios básico (RBC)

Este capítulo apresenta um modelo simples de Ciclos Reais de


Negócios (RBC)1 , assumindo concorrência perfeita e completa fle-
xibilidade de preços em todos os mercados.

A teoria dos Ciclos Reais de Negócios atribui aos choques de


oferta (choques tecnológicos) as fontes geradoras das flutuações
econômicas, admitindo um modelo de crescimento neoclássico como
referencial para o comportamento da economia a longo prazo. A
estrutura básica deste modelo é relativamente simples. Consta
com a descrição do comportamento de dois tipos de agentes: fa-
mílias e firmas. Na realidade existe um número muito grande de
famílias que são tratadas como idênticas. Assim, pode-se falar em
família representativa ou apenas famílias. Para as firmas, parte-se
do mesmo raciocínio: existe um grande número de firmas, con-
tudo essas possuem a mesma tecnologia, podendo ser caracteriza-
das por uma firma representativa. É conveniente mencionar que
1 RBC - Real Business Cycle.

14
Modelo RBC básico 15

esse tipo de modelo não está limitado a esses dois agentes econô-
micos (famílias e firmas), em um modelo “completo”, essa abor-
dagem é formada por cinco agentes: famílias; firmas; autoridades
monetária e fiscal; setor externo; e instituições financeiras.

2.1 Breve revisão teórica: Ciclos Reais de Negó-


cios
Para apresentar as ideias básicas envolvidas neste tipo de mo-
delo, esta seção demonstra como a família resolve dois proble-
mas de escolha: consumo-lazer intratemporalmente e consumo-
poupança intertemporalmente. Trata também de como a firma es-
colhe os insumos usados no processo produtivo. Basicamente, em
todos os casos é comparada a taxa marginal de substituição com
o preço relativo. Para o primeiro problema, será trabalhado um
modelo com dois bens (consumo e lazer) e como ocorre a esco-
lha ótima considerando este tradeoff. Já o segundo problema é de-
monstrado por meio de um modelo intertemporal simples de dois
períodos. Por fim, é apresentado o problema de uma firma maxi-
mizadora de lucro. As ideias apresentadas nesta seção são simples,
mas suficiente para demonstrar como essas escolhas são realizadas
no modelo deste capítulo e no restante do livro.

2.1.1 Modelo com dois “bens”: consumo e lazer


Neste estudo inicial sobre a teoria do consumidor, será suposto
que existem duas grandes categorias de bens de consumo, “bem
1” e “bem 2”. Devido ao interesse de estudar como os consumi-
dores escolhem seu consumo, deve-se definir como esses agentes
Modelo RBC básico 16

ganham a sua renda. A forma mais óbvia é pensar que os consu-


midores obtém renda do seu trabalho. Então, esse indivíduo pode
escolher trabalhar um número de horas recebendo um salário W
por hora. Presumidamente, trabalhar é um “mal” para o consumi-
dor, isto é, esse agente não gosta de trabalhar porque quanto mais
trabalha, menos tempo tem para o lazer. Então, com objetivo de
ajustar o modelo para a teoria do consumidor padrão, em vez de
pensar em um “mal” (trabalho), deve-se pensar em um “bem” (la-
zer), definido como o número que resta descontando o tempo gasto
com trabalho do total de horas disponíveis durante certo período2 .

Curvas de indiferença (consumo-lazer)

As duas razões que levam um indivíduo a obter utilidade são


consumo (C) e lazer (H), u(C, H). Aqui, tanto consumo quanto la-
zer serão tratados como bens, mesmo sabendo que lazer não é algo
tangível3 . Inicialmente, é útil pensar nas propriedades gerais de
uma função utilidade u(C, H) como aquelas propriedades padrão
da teoria do consumidor. Então, assume-se as seguintes proprie-
dades para a função utilidade:
∂u ∂u
1. Estritamente crescente, ∂C
>0e ∂H
> 0; e
∂2 u ∂2 u
2. Retornos marginais decrescentes, ∂C 2
<0e ∂H 2
< 0.
2 Lazer + Trabalho = h, onde h é o tempo disponível total.
3 O lazer pode ser analisado como um ativo, sendo função do custo de oportu-
nidade, da disponibilidade e das preferências. Então, surge a pergunta: “Qual é
o custo de oportunidade do lazer?” O custo de passar horas assistindo televisão
é basicamente a quantidade de dinheiro que a pessoa receberia se estivesse tra-
balhando. Portanto, o custo de oportunidade de uma hora de lazer deve ser igual
ao salário de uma hora de trabalho. A disponibilidade está diretamente relacio-
nada com a quantidade de renda familiar. E a preferência está relacionada com
a sensibilidade da família na demanda por lazer, dado alterações na renda ou no
salário (Ehrenberg and Smith, 2000).
Modelo RBC básico 17

Definição 2.1.1 (Curva de indiferença). Uma curva de in-


diferença mostra um conjunto de cestas de consumo entre
os quais o indivíduo é indiferente. Isto é, todas as cestas
fornecem a mesma utilidade.

Com essas suposições é possível construir um mapa de curvas


de indiferença sobre consumo e lazer, como ilustrado na figura 2.1.
Cada curva de indiferença possui as propriedades padrão da teoria
do consumidor. Especialmente, cada curva é negativamente incli-
nada, convexa (curvada em direção à origem) e não pode cruzar
outra curva de indiferença.

Figura 2.1: Mapa de curvas de indiferença sobre consumo e lazer.

Embora esses dois bens (consumo e lazer) não estejam am-


bos no mercados de bens (não se pode, realmente, comprar lazer),
ainda existe uma noção bem definida de “taxa marginal de subs-
Modelo RBC básico 18

tituição”(TMS) entre esses bens. A TMS mede quantas unidades


de um bem se deve abrir mão para adquirir uma unidade do outro
bem. Graficamente, a TMS é a inclinação da curva de indiferença.

Definição 2.1.2 (Taxa Marginal de Substituição). A incli-


nação negativa de uma curva de indiferença de uma cesta
formada por dois bens X e Y é denominada Taxa Marginal
de Substituição (TMS) naquele ponto. Isto é,

∂Y U MX
T MSX,Y =− =−
∂X U =U1 U MY U =Ui

onde U MX e U MY representam as utilidades marginais em


relação aos bens X e Y, respectivamente, e a notação |U =Ui
indica que a inclinação é calculada ao longo da curva de
indiferença Ui .

Resumidamente, no modelo consumo-lazer, a taxa marginal de


substituição de lazer por consumo, denotado por T MSLazer,C , é a
taxa em que o consumidor está disposto a substituir lazer por bens
de consumo.

Restrição orçamentária

O mapa de curvas de indiferença não é suficiente para estudar


a escolha ótima do consumidor. Para esta finalidade, precisa-se
da restrição orçamentária do indivíduo. Aqui, a quantidade de
renda que um indivíduo possui para gastar em consumo depende
de quanto escolhe trabalhar. Para este estudo de restrição orça-
mentária, suponha-se que um indivíduo possua 60 horas disponí-
Modelo RBC básico 19

veis por semana para trabalho e lazer4 .

Assumindo que um indivíduo possa trabalhar a quantidade de


horas que deseja (L), recebendo um salário por hora, W . Assim, a
sua renda total semanal é:

Y = LW

Como mencionado, o número de horas de trabalho (L) mais o


número de horas de lazer (H) por semana deve ser igual a 60 ho-
ras, L = 60 − H. Com isso, pode-se escrever a renda em função do
lazer;

Y = (60 − H)W

Outra suposição simplificadora é que os indivíduos gastam toda


a sua renda em consumo e não poupam nada. Cada bem de con-
sumo, c, pode ser comprado no mercado ao preço P. Então, o con-
sumo do indivíduo em cada período é:

Pc =Y

Combinando as duas expressões anteriores, resulta a seguinte


restrição orçamentária:

P c = (60 − H)W

Nesta expressão, o indivíduo toma como dado os preços dos


bens de consumo (P) e o salário por hora (W), escolhendo o nível
de consumo e a quantidade de lazer. Com um rearranjo da restri-
4 Das 168 horas (24x7) de uma semana, está sendo descontado os finais
de semana e as horas destinadas a sobrevivência do indivíduo (tomar banho,
alimentar-se etc). Então, as quantidades de horas diária e semanal disponíveis
para trabalho-lazer são 12 horas e 60 horas (12x5), respectivamente.
Modelo RBC básico 20

ção anterior,

destino da renda
z }| {
Pc + WH = 60W
|{z} |{z} |{z}
bens de consumo lazer renda total disponível

percebe-se que a renda total disponível do período (60W ) serve


para adquirir bens de consumo (P c) e lazer (W H). Como mencio-
nado, lazer não é diretamente comprado ou vendido em um mer-
cado. Mas o salário é o custo de oportunidade do lazer – toda hora
gasta com lazer é uma hora que poderia ser usada para trabalhar.
Então, do ponto de vista econômico, onde explicitamente se consi-
dera o custo de oportunidade, o salário é o preço do lazer.

A restrição orçamentária descreve o conjunto de escolhas que


está disponível ao consumidor mas não revela nada sobre qual é a
escolha dentro desse conjunto. Para desenhar este orçamento em
um diagrama como a figura 2.1, deve-se rearranjar a restrição or-
çamentária da forma:

60W W
  

c= − H
P P
Esta restrição orçamentária é uma linha com intercepto verti-
   
cal 60W
P e inclinação − W
P . Quando c = 0 o intercepto horizontal
é H = 60, definindo que se o indivíduo não quiser consumir ne-
nhum bem, pode usar todo o seu tempo com lazer.

Decisão do indivíduo sobre consumo e trabalho

Para obter a escolha ótima, deve-se considerar a interação das


preferências dos indivíduos (mapa das curvas de indiferença) com
a sua restrição orçamentária. Formalmente, o problema de um in-
Modelo RBC básico 21

Figura 2.2: Linha de restrição orçamentária no modelo consumo-


lazer.

divíduo é:

max u(c, L)
c,L

sujeita a,
Pc = WL

Muitos problemas de otimização podem ser resolvidos pelo


método Lagrangiano, assim,

L = u(c, L) − λ(P c − W L)

Com condições de primeira ordem:

∂L ∂u
= − λP = 0
∂c ∂c
∂L ∂u
= + λW = 0
∂L ∂L
Modelo RBC básico 22

Combinando as duas expressões anteriores:

Resultado Teórico 2.1.1 (Oferta de Trabalho).

∂u/∂L W
= −
∂u/∂c P
| {z } |{z}
TMS L-c Preço relativo L-c

Graficamente, no ponto E (figura 2.3) a taxa marginal de subs-


tituição (TMS) lazer-consumo iguala o preço relativo lazer-consumo5 .
Por outro lado, no ponto D o preço relativo lazer-consumo ( W
P )
excede a taxa marginal de substituição lazer-consumo, e se isso
ocorre, o indivíduo estará melhor se trabalhar mais (menos lazer)
e usar essa renda adicional para expandir o seu consumo. Por-
tanto, com o aumento da aquisição de bens de consumo, a TMS
lazer-consumo cresce. Quando essa diferença inicial deixa de exis-
tir – ponto E – já não há incentivo para o indivíduo aumentar o seu
nível de trabalho. Em outras palavras, a cesta lazer-consumo loca-
lizada no ponto D pertence à curva de indiferença U1 , caminhando
sobre a restrição orçamentária em direção ao ponto E, nota-se que
dos pontos pertencentes à restrição orçamentária, esse tangencia
uma curva de indiferença mais alta (U2 ). Então, dada sua restrição
orçamentária, o indivíduo estará em melhor situação no ponto E
do que no ponto D.

5 Lembrando o leitor que para a análise gráfica é melhor usar o lócus consumo-
lazer, ao invés de consumo-trabalho, pois o primeiro par, representa dois “bens”,
enquanto o segundo par representa um “bem” e um “mal”.
Modelo RBC básico 23

Definição 2.1.3 (Problema da família). Para maximizar a


utilidade, dada uma quantidade fixa de renda, um indiví-
duo comprará a quantidade de bens que exaure sua renda
total e para que a taxa física do tradeoff entre qualquer dois
bens (TMS) iguale a taxa em que um bem possa ser trocado
por outro no mercado (preço relativo).

Definição 2.1.4 (Resultado ótimo do problema da família).


A cesta de consumo ótima é o ponto que representa o par
de bens que está na maior curva de indiferença e que esteja
na restrição orçamentária do indivíduo.

Resumindo, cada indivíduo escolhe uma combinação entre con-


sumo e lazer que maximiza a sua utilidade. Portanto, o indivíduo
escolhe o par (C ∗ , Lazer ∗ ) (figura 2.3) em que a restrição orçamen-
tária é a tangente de uma curva de indiferença.

Função de oferta de trabalho

Quando um indivíduo escolhe, de forma ótima, gastar H ho-


ras do seu tempo com lazer, então, ao mesmo tempo, está esco-
lhendo L = 60−H horas do seu tempo com trabalho. Portanto, está
ofertando L horas de trabalho neste mercado. Evidentemente, a
escolha de trabalho na figura 2.3 depende do nível do salário W .
W
Assim, a restrição orçamentária fica c = 60w − wH, onde w = P éo
salário real.
Modelo RBC básico 24

Figura 2.3: Escolha ótima de consumo e lazer.

Inicialmente, será suposto que o salário real está em um ní-


vel muito baixo (w1 ). Neste ponto inicial, a escolha ótima está no
ponto A (figura 2.4). Esta escolha está associada com a quantidade
de trabalho L1 . Agora, suponha que com os preços constantes, o
salário nominal aumente, w2 > w1 . A nova escolha ótima passa a
ser o ponto B. Neste ponto, o indivíduo desfruta de menos lazer
em relação ao ponto A (L2 > L1 ).

Agora, suponha que o salário real aumente para w3 . A escolha


ótima neste novo nível de salário real está no ponto C (figura 2.5).
Comparando o ponto C com o ponto B, nota-se que o indivíduo
não está ajustando o seu número de horas de trabalho quando o
salário real aumenta de w2 para w3 . Então, neste nível de salário,
o indivíduo está trabalhando L3 horas, com L3 = L2 > L1 .

Considere ainda um outro aumento no salário real (w4 > w3 ).


Modelo RBC básico 25

Figura 2.4: Com um aumento no salário real de w1 para w2 , o in-


divíduo escolhe adquirir mais consumo e menos lazer.

Figura 2.5: Com um aumento no salário real de w2 para w3 , o in-


divíduo escolhe adquirir mais consumo e manter o nível de lazer.
Modelo RBC básico 26

Neste ponto, o salário real está alto o suficiente para que o indiví-
duo não aumente o seu nível de trabalho para manter o seu nível
de consumo inalterado. Neste patamar de salário, é razoável es-
perar que o indivíduo escolha gastar menos tempo trabalhando e
mais tempo em lazer (L4 < L3 ). Na figura 2.6, um aumento no sa-
lário induz a escolha ótima se mover do ponto C para o ponto D.
Neste ponto, o indivíduo está trabalhando menos horas do que no
ponto C.

Figura 2.6: Com um aumento no salário real de w3 para w4 , o in-


divíduo escolhe adquirir mais consumo e mais lazer.

Efeitos substituição e renda

Pode-se decompor o efeito de alteração do salário real na es-


colha ótima de lazer separadamente: um efeito substituição e um
efeito renda. Ambos os efeitos possuem um significado geral em
Modelo RBC básico 27

economia e de fato podem ser aplicados em qualquer problema de


escolha ótima.

Colocado no contexto desse modelo consumo-lazer, o efeito


substituição de um salário real maior leva o indivíduo a adqui-
rir menos lazer (trabalhar mais). Isto é, devido ao salário maior,
o custo de oportunidade do lazer aumentou. Dessa forma, o indi-
víduo tenderia a demandar menos lazer. Reciprocamente, o efeito
renda de um salário real maior leva o indivíduo a adquirir mais
lazer (menos trabalho). Isto é, devido à renda maior que um sa-
lário real maior proporciona, o indivíduo desejaria consumir mais
de todos os bens normais. Assumindo que o lazer é um bem nor-
mal, um aumento na renda levaria um indivíduo a querer adquirir
mais lazer, e então passar menos tempo trabalhando.

Ambos os efeitos estão sempre presentes: ou o efeito substitui-


ção domina o efeito renda (porque é mais forte) e o aumento no
salário real leva o indivíduo a escolher mais trabalho (menos la-
zer); ou o efeito renda é dominante e um aumento no salário real
leva o indivíduo a escolher menos trabalho (mais lazer); ou se can-
celam.

Com essa noção de efeitos renda e substituição, deve-se recon-


siderar os efeitos apresentados nas figuras 2.4-2.6. Um aumento
no salário real de w1 para w2 leva o indivíduo a trabalhar mais,
como ilustrado no movimento dos pontos ótimos A para B. Este é
o trecho onde ocorre a predominância do efeito substituição sobre
o efeito renda. Quando o salário real aumentou de w2 para w3 , o
indivíduo decidiu não ajustar a quantidade de trabalho, mantendo
o mesmo nível de lazer. O trecho localizado entre os pontos B e C
representa a região em que os efeitos exatamente se cancelam. Por
Modelo RBC básico 28

fim, quando o salário aumenta de w3 para w4 , o indivíduo decide


trabalhar menos, como demonstra o movimento do ponto C para
o ponto D. Então, este é o trecho em que o efeito renda domina o
efeito substituição (figura 2.7).

Figura 2.7: Trechos de predominância dos efeitos renda e substi-


tuição.

2.1.2 Estrutura dinâmica de consumo-poupança


Quando um indivíduo faz sua escolha entre consumo e lazer
no período corrente, geralmente, reconhece que irá fazer escolha
semelhante no futuro. Isto é formalizado por uma função utili-
dade u(c1 , c2 , c3 , . . .). Os economistas quase sempre simplificam os
problemas intertemporais assumindo que as preferências são adi-
tivamente separáveis, u(c1 , c2 , c3 , . . .) = u(c1 ) + βu(c2 ) + β 2 u(c3 ) + . . ..
O parâmetro β é chamado de fator de desconto intertemporal. Seu
valor é menor do que um (β < 1), pois representa que as famílias se
preocupam mais com o consumo presente do que com o consumo
Modelo RBC básico 29

futuro6 .

Nesta seção, o objetivo é estudar a escolha intertemporal dos


indivíduos, e por questões de clareza, dados relativos ao lazer se-
rão ignoradas. Será suposto que os indivíduos vivem em dois pe-
ríodos, presente (período 1) e futuro (período 2). Esta divisão
em dois períodos é suficiente para ilustrar os princípios básicos
de eventos macroeconômicos que ocorrem intertemporalmente em
uma estrutura com horizonte infinito.

No contexto intertemporal, os dois argumentos que fazem parte


da função utilidade são os consumos no período 1 e no período 2,
os quais serão denotados por c1 e c2 , respectivamente. Assume-
se todas as propriedades usuais da função utilidade: utilidade é
sempre estritamente crescente em ambos os argumentos; e a uti-
lidade marginal é sempre decrescente para ambos os argumentos.
A função utilidade será denotada como u(c1 , c2 ), e poderá ser re-
presentada por um mapa de curvas de indiferença.

Neste modelo os indivíduos recebem renda duas vezes em suas


vidas – uma vez no período 1 e outra no período 2. Ainda, iniciam
o período 1 com alguma riqueza denotada por A0 . Escolhem con-
sumo no período 1 (c1 ) pagando um preço P1 , e também decidem
quanto de riqueza7 carregarão para o período 2, denotada por A1 .
Assim, pode-se escrever a restrição orçamentária do indivíduo no
período 1 como:
6 β = 1 , onde θ > 0 é a taxa de preferência intertemporal subjetiva. Este
1+θ
parâmetro indica quanto é o valor da utilidade futura em relação à utilidade
corrente. Quanto maior o β, mais paciente é a família em relação ao consumo.
7 Note que A e A podem assumir valores negativos, indicando que um indi-
0 1
víduo seria um tomador de empréstimo nesses períodos.
Modelo RBC básico 30

P1 c1 + A1 = RA0 + Y1

onde R denota a taxa de juros nominal bruta8 que representa o


retorno de cada unidade monetária mantida como ativo financeiro
de um período para outro.

Pode-se repetir o raciocínio para a restrição orçamentária do


indivíduo no período 2:

P2 c2 + A2 = RA1 + Y2

em que, devido ao indivíduo viver apenas dois períodos, a riqueza


ao final do período 2 deve ser nula (A2 = 0). A representação inter-
temporal desses eventos é apresentada como uma linha de tempo
na figura 2.8.

Figura 2.8: Representação intertemporal dos eventos de uma es-


trutura de consumo de dois períodos.

Para seguir com o modelo, é necessário definir que poupança


de um período é a diferença da renda total do gasto total no pe-
ríodo:
8 Uma taxa bruta é definida como: R = 1 + r, onde r é a remuneração líquida
do período.
Modelo RBC básico 31

S1 = (R − 1)A0 + Y1 − P1 c1

Rearranjando a restrição orçamentária do período 1:

A1 − A0 = (R − 1)A0 + Y1 − P1 c1

Comparando as duas últimas expressões, nota-se que S1 = A1 −


A0 . Então, a poupança do indivíduo no período 1 é igual à varia-
ção na sua riqueza neste período. Analogamente, para a poupança
do indivíduo no período 2 é S2 = (R−1)A1 +Y2 −P2 c2 ou S2 = A2 −A1 .

Uma aproximação para o comportamento econômico geral é


supor que os indivíduos são racionais durante o seu tempo de vida,
no sentido de que poupam e/ou tomam emprestado apropriada-
mente durante toda sua vida. Com a estrutura montada e consi-
derando a suposição de racionalidade, pode-se iniciar a análise do
modelo. Então, combinando as restrições orçamentárias dos pe-
ríodos 1 e 2, encontra-se a restrição orçamentária intertemporal
do indivíduo. Resolvendo a restrição orçamentária do período 1
para A1 :

A1 = RA0 + Y1 − P1 c1

substituindo esse resultado na restrição orçamentária 2,

P2 c2 = R [RA0 + Y1 − P1 c1 ] + Y2

dividindo ambos os lados da expressão anterior por R:

P2 c2 Y
P1 c1 + = Y1 + 2 + RA0
R R

O lado direito desta última expressão representa o recurso in-


Modelo RBC básico 32

tertemporal descontado, que considera a riqueza inicial e a renda


de toda a vida do indivíduo (dois períodos para esse modelo). Já,
o lado esquerdo representa o consumo intertemporal descontado,
que considera o consumo de todos os períodos. A restrição or-
çamentária intertemporal que o indivíduo racionalmente utiliza
para realizar suas escolhas no tempo será desenhada num locus
c1 − c2 . Para simplificar, será suposto que a riqueza inicial é nula
(A0 = 0).

Resolvendo a expressão anterior para c2 :


" ! # " #
R Y2 P1 R
c2 = Y + − c
P2 1 P2 P2 1

Então, o intercepto vertical é PR Y1 + YP 2 e a inclinação é PP1 R .


h  i h i
2 2 2
O gráfico da restrição orçamentária intertemporal do indivíduo
está na figura 2.9.

Figura 2.9: Restrição Orçamentária Intertemporal do indivíduo.


Modelo RBC básico 33

Escolha intertemporal ótima

A escolha ótima intertemporal do indivíduo é uma interação


entre o seu mapa de curvas de indiferença e a sua restrição orça-
mentária intertemporal. Neste modelo o indivíduo vive dois perío-
dos. Neste caso, a preferência desse indivíduo pode ser reduzida
para:
u(c1 , c2 ) = u(c1 ) + βu(c2 )

Dado que o indivíduo não irá desfrutar do consumo no período


3, sabe-se que não seria ótimo manter ativos de poupança no pe-
ríodo 2 (A2 = 0). Assim, as restrições orçamentárias do indivíduo
nos dois períodos são:

P1 c1 + A1 = RA0 + Y1

P2 c2 = RA1 + Y2

O problema do indivíduo é escolher os consumos dos dois pe-


ríodos, c1 e c2 , e do nível de riqueza A1 para maximizar a sua fun-
ção utilidade sujeita às restrições orçamentária dos dois períodos.
Os valores de P e R são dados. Dessa forma, pode-se escrever o
problema do indivíduo como:

max u(c1 ) + βu(c2 )


c1 ,c2 ,A1

sujeita a,
P1 c1 + A1 = RA0 + Y1

P2 c2 = RA1 + Y2
Modelo RBC básico 34

O lagrangiano deste problema é:

L = u(c1 ) + βu(c2 ) − λ1 [P1 c1 + A1 − RA0 − Y1 ] − λ2 [P2 c2 − RA1 − Y2 ]

As condições de primeira ordem desse problema são:

∂L ∂u
= − λ1 P1 = 0
∂c1 ∂c1

∂L ∂u
=β − λ2 P2 = 0
∂c2 ∂c2
∂L
= −λ1 + λ2 R = 0
∂A1
Reescrevendo as duas primeiras condições de primeira ordem,
∂u/∂c1
λ1 = P1 e λ2 = β ∂u/∂c
P
2
, substituindo esses valores na terceira
2
P2
condição de primeira ordem e definindo π2 = P1 :

Resultado Teórico 2.1.2 (Equação de Euler).

∂u/∂c1 R
− = −
β∂u/∂c2 π2
| {z } |{z}
TMS c1 -c2 Preço relativo c1 -c2

Esta equação é chamada de Equação de Euler. Ela relaciona a


utilidade marginal do consumo nos dois períodos (TMS c1 -c2 ) com
o preço relativo do consumo intertemporal (as inclinações das cur-
vas de indiferença e da restrição orçamentária são iguais). Recor-
dando que a inclinação da curva de indiferença mede o bônus no
consumo do próximo período necessário para compensar a perda
Modelo RBC básico 35

de uma unidade de consumo no período corrente. Em contraste,


a inclinação da restrição orçamentária determina o prêmio, R, por
poupar mais (Barro, 1997). Nota-se que altos valores para β (indi-
víduos pacientes) levam a uma inclinação baixa para as curvas de
indiferenças.

Um aumento em R diminui o custo do consumo do próximo


período relativo ao consumo corrente devido às famílias possuí-
rem a possibilidade de obter mais unidade de consumo no futuro
por cada unidade de consumo corrente precedente. É esta altera-
ção no preço relativo que motiva as famílias a aumentar o consumo
futuro em relação ao consumo presente. Os economistas chamam
este mecanismo de efeito substituição intertemporal (Barro, 1997).

A figura 2.10 apresenta um exemplo gráfico, em que a escolha


ótima do indivíduo é c1∗ no período 1 e c2∗ no período 2 (ponto E).
E também exibe a renda do indivíduo nos dois períodos. Na re-
alidade, o que aparece é a renda real nos dois períodos ( YP 1 e Y2
P2 )
1
em que os consumos igualam as rendas nos dois períodos (ponto
D). Analisando a figura 2.10, o consumo ótimo no período 1 (c1∗ ) é
maior do que a renda real neste período ( YP 1 ), representando que o
1
indivíduo é menos paciente em relação ao consumo corrente. Este
indivíduo está gastando mais do que ganha, significando que de-
verá usar parte da sua riqueza para cobrir este excesso de consumo
neste período. Matematicamente, rearranjando a restrição orça-
mentária do período 1,

Y1 A
c1 − =− 1
P1 P1

Y1
nota-se que se c1 > P1 a riqueza real do período 1 será negativa,
− AP 1 , representando que este indivíduo é tomador de empréstimos.
1
Modelo RBC básico 36

Para ver a consequência disso, a restrição orçamentária do período


2 será alterada para a seguinte forma:

Y2 RA1
c2 − =
P2 P2

como A1 é negativo (o indivíduo é tomador de empréstimos), o


lado esquerdo da expressão anterior deve ser negativo também,
Y2
c2 < P2 , indicando que o consumo no período 2 deve ser menor
do que a renda real neste período. A razão para isto ocorrer está
no fato de o indivíduo ter que pagar o empréstimo contraído no
período 1. Então, o consumo maior que a renda real no período 1
deve ser equilibrado com uma renda real maior do que o consumo
no período 2.

Figura 2.10: Interação entre a restrição orçamentária intertempo-


ral e a preferência do indivíduo para determinação do consumo
ótimo intertemporal.
Modelo RBC básico 37

2.1.3 Os mercados de insumos


As firmas representam os agentes que adquirem insumos, en-
quanto as famílias são aqueles que fornecem. Os ajustes nos mer-
cados de insumos determinam a quantidade de insumos e o pro-
duto agregado da economia. Nesta seção será explorada a deter-
minação do nível de preços de cada insumo.

Definição dos Mercados de Insumos

Suponha-se, em linhas gerais, que os insumos são fisicamente


iguais. As famílias vendem o serviço de trabalho no mercado de
trabalho, e alugam capital no mercado de capital. Estes mercados
estabelecem um único nível de preços, salário (W ) e um único ní-
vel de retorno sobre o capital (R), para os mercados de trabalho e
de capital, respectivamente. Dessa forma, as firmas contratam tra-
balho e capital pagando W e R unidades monetárias por cada hora
contratada, respectivamente. Ao mesmo tempo, os fornecedores
de insumos recebem W e R unidades monetárias por cada hora de
serviço fornecida. Considera-se que firmas e famílias possuem o
nível de preços dos insumos como dado.

Assim, Ls e Ld denotam o número de horas de trabalho que as


famílias ofertam e o que as firmas demandam em cada período no
mercado de trabalho. E K s e K d como o número de horas de alu-
guel de capital que as famílias ofertam e as firmas demandam em
cada período no mercado de capital, respectivamente. Cada firma
utiliza insumos para produzir bens usando uma função de produ-
ção,

Y = f (K d , Ld )
Modelo RBC básico 38

Essa função de produção pode ser representada graficamente


por uma curva de isoquanta em que o lócus geométrico entre ca-
pital e trabalho revelam as combinações entre esses insumos que
geram o mesmo nível de produção. A exposição gráfica das iso-
quantas é chamada de mapa de isoquantas (figura 2.11).

Figura 2.11: Mapa de Curvas de Isoquantas.

Desde que esses bens sejam vendidos ao preço P , o lucro da


firma pode ser definido por:

Lucro = P Y − W Ld − RK d

A Demanda por Insumos

As firmas definem a sua demanda por insumos para maximi-


zar o seu lucro a cada período.

max P Y − W Ld − RK d
K d ,Ld
Modelo RBC básico 39

sujeita a seguinte tecnologia:

Y = f (K d , Ld )

Apresentando as condições de primeira ordem:

∂Y
P −W = 0
∂Ld
∂Y
P −R = 0
∂K d

Definição 2.1.5 (Problema da Firma). Uma firma maximi-


zadora de lucro escolhe a quantidade de insumos e a produ-
ção com o objetivo único de maximizar o seu lucro econô-
mico. Isto é, a firma deseja obter a maior diferença possível
entre a sua receita total e seu custo total.

As condições de primeira ordem do problema da firma podem


ser escritas da seguinte forma:
Modelo RBC básico 40

Resultado Teórico 2.1.3 (Demanda por Insumos).

∂Y
∂Ld
|{z}
Produtividade Marginal do Trabalho (PMgL)

W
=
P
|{z}
Custo Marginal Real do Trabalho (CMgL real)

∂Y
∂K d
|{z}
Produtividade Marginal do Capital (PMgK)

R
=
P
|{z}
Custo Marginal Real do Capital (CMgK real)

O resultado teórico 2.1.3 diz que a firma escolhe a quantidade


de insumo tal que o produto marginal desse insumo iguale o custo
marginal real. Neste ponto, a última unidade de insumo contribui
o suficiente para o produto cobrir o custo extra deste insumo em
unidades de bens.

Combinando as duas últimas expressões:


Modelo RBC básico 41

Resultado Teórico 2.1.4 (Demanda Relativa de Insumos).

∂Y
d
− ∂L
∂Y
∂K d
|{z}
Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST)

W
= −
R
|{z}
Taxa Econômica de Substituição (TES)

Definição 2.1.6 (Taxa Marginal de Substituição Técnica).


A inclinação negativa de uma curva de isoquanta formada
por dois insumos Capital (K) e Trabalho (L) é denominada
Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST) naquele
ponto. Isto é,

∂K P MgL
T MST = − =−
∂L f (K,L)=f (K,L)1 P MgK f (K,L)=f (K,L)i

onde a notação |f (K,L)=f (K,L)i indica que a inclinação é cal-


culada ao longo da isoquanta f (K, L)i .

Intuitivamente, a taxa marginal de substituição técnica indica


quantas unidades adicionais do fator capital devem ser emprega-
das para compensar o emprego de uma unidade a menos do fator
trabalho.

Resumindo os resultados obtidos nessa seção, os resultados teó-


Modelo RBC básico 42

ricos 2.1.1, 2.1.2 e 2.1.4 apresentam a mesma característica. O


agente em questão, ao decidir a sua escolha, usa uma taxa margi-
nal de substituição entre bens e o preço relativo desses. Primeiro,
a família deve escolher entre o tradeoff consumo-lazer analisando
o preço relativo entre esses bens (salário real). Quando a escolha
é intertemporal, o tradeoff passa a ser entre o consumo de hoje em
relação ao consumo futuro, e o preço relativo é a taxa de juros no-
minal. A firma possui o mesmo tipo de decisão, ao decidir qual
será a combinação entre os insumos trabalho e capital, analisando
o preço relativo desses insumos (W /R).

2.2 O modelo
Nesta seção é apresentado e resolvido, passo a passo, o modelo
estrutural da economia proposta neste capítulo. Inicia-se com a
apresentação dos agentes (famílias e firmas), em seguida é exibido
o equilíbrio. Então, é encontrado o estado estacionário e a log-
linearização das equações que compõem o equilíbrio do modelo.

Suposição 2.2.1. Trata-se de uma economia fechada, sem governo


e sem setor financeiro.

Suposição 2.2.2. Não existe moeda nesta economia. Isto é, esta é


uma economia de trocas.

Suposição 2.2.3. Não existe qualquer custo de ajustamento.

2.2.1 Famílias
Suposição 2.2.4. A economia deste modelo é formada por um con-
junto unitário de famílias indexadas por j ∈ [0, 1] cujo problema é
Modelo RBC básico 43

maximizar uma determinada função de bem-estar intertemporal.


Para isso é usada uma função utilidade aditivamente separável em
consumo (C) e trabalho (L).

Espera-se que aumentos no consumo traga utilidade (felici-


dade) para as famílias, enquanto que aumentos nas horas traba-
lhadas elevam a desutilidade. A essa altura do livro isso não é
algo surpreendente, tendo em vista que na seção teória foi comen-
tado que lazer traz felicidade para o indivíduo, assim quanto mais
tempo estiver trabalhando, menos tempo terá para o lazer.

Suposição 2.2.5. O consumo é aditivamente separável intertem-


poralmente (não há formação de hábito).

Suposição 2.2.6. O crescimento populacional é ignorado.

Suposição 2.2.7. A estrutura do mercado de trabalho é de compe-


tição perfeita (não há rigidez de salários).

A família representativa otimiza a seguinte função de bem es-


tar:



1−σ 1+ϕ 
X  Cj,t Lj,t 

max Et β t  − (2.1)
 
 1 − σ 1 + ϕ 

Cj,t ,Lj,t ,Kj,t+1
t=0

onde Et é o operador de expectativas, β é o fator de desconto in-


tertemporal, C é o consumo de bens, L é a quantidade de horas
trabalhadas, σ é o coeficiente de aversão ao risco relativo e ϕ é a
desutilidade marginal com respeito à oferta de trabalho.

Como comentado na seção teórica, a função utilidade9 deve


possuir algumas características: UC > 0 e UL < 0, isto significa
9 A função utilidade mais comum para representar as escolhas das Famílias
é a função utilidade com aversão ao risco relativo constante (Constant Rela-
Modelo RBC básico 44

que o consumo e o trabalho possuem efeitos positivo e negativo,


respectivamente, sobre a utilidade das famílias. Por outro lado,
UCC < 0 e ULL < 0 indicam que a função utilidade é côncava10 . Re-
presentando, que na medida em que o consumo aumenta o nível
de utilidade também aumenta, entretanto numa proporção cada
vez menor.

As famílias maximizam a sua função bem estar sujeita a sua


restrição orçamentária intertemporal que indica quais são os re-
cursos disponíveis e como são destinados. Assim, é suposto que
as famílias sejam as proprietárias dos fatores de produção da eco-
nomia (capital e trabalho). Essas, ao fornecer trabalho e capital
às firmas, recebem salário e retorno do capital, respectivamente.
Ainda são as proprietárias das firmas, então recebem dividendos
por esse motivo. Dessa forma, a restrição orçamentária intertem-
poral das famílias recebe a seguinte forma:

Pt (Cj,t + Ij,t ) = Wt Lj,t + Rt Kj,t + Πt (2.2)

onde P é o nível geral de preços, I é o nível de investimentos, W é


nível dos salários, K é o estoque de capital, R é o retorno do capital
e Π é o lucro das firmas (dividendos).

Ainda há a necessidade de uma equação adicional que caracte-


tive Risk Aversion – CRRA) (Gali, 2008; Lim e McNelis, 2008; Clarida et al,
2002; Gali e Monacelli, 2005; Christoffel e Kuester, 2008; Christoffel et al, 2009;
Ravenna e Walsh, 2006, entre outros). Na literatura, existem outras parame-
trizações para representar a utilidade, exemplos: função utilidade logarítmica,
L
U (Ct , Lt ) = ln Ct + L t A ln(1 − L0 ) (Hansen, 1985); função utilidade que seria uma
0
υ L 1+χ
combinação da logarítmica e da CRRA, U (Ct , Lt ) = ln(Ct ) − 1+χ t (Gertler e
Karadi, 2011, entre outros).
10 U e U são as derivadas de primeira ordem da função utilidade em rela-
C L
ção ao consumo e ao trabalho, respectivamente. Enquanto, UCC e ULL são as
derivadas de segunda ordem.
Modelo RBC básico 45

rize o processo de acumulação de capital ao longo do tempo.

Kj,t+1 = (1 − δ)Kj,t + Ij,t (2.3)

onde δ é a taxa de depreciação física do capital.

O problema da família é resolvido usando o seguinte lagrangi-


ano formado pelas equações (2.1), (2.2) e (2.3):

1+ϕ 

∞ 1−σ
X 
  C
 j,t L j,t 

L = Et βt 
 


1 − σ 1 + ϕ
 
 
  
t=0 

h io
−λj,t Pt Cj,t + Pt Kj,t+1 − Pt (1 − δ)Kj,t − Wt Lj,t − Rt Kj,t − Πt (2.4)

onde λ é o multiplicador de Lagrange.

Resolvendo o problema anterior, chega-se as seguintes condi-


ções de primeira ordem:

∂L −σ
= Cj,t − λj,t Pt = 0 (2.5)
∂Cj,t

∂L ϕ
= −Lj,t + λj,t Wt = 0 (2.6)
∂Lj,t

∂L
= −λj,t Pt + βEt λj,t+1 [(1 − δ)Et Pt+1 + Et Rt+1 ] = 0 (2.7)
∂Kj,t+1

Resolvendo para λt as equações (2.5) e (2.6), encontra-se a equa-


ção de oferta de trabalho das famílias:

σ ϕ Wt
Cj,t Lj,t = (2.8)
Pt
Modelo RBC básico 46

ou,

ϕ W
σ
−Cj,t Lj,t = − t
| {z } Pt
|{z}
TMS consumo-lazer Preço relativo consumo-lazer

O equação da oferta de trabalho diz que o preço relativo lazer-


consumo (salário real) deve igualar a taxa marginal de substituição
lazer-consumo (Resultado Teórico 2.1.1). Assim, um aumento na
quantidade de consumo, ceteris paribus, somente é possível com
um aumento na quantidade de horas trabalhadas (menos lazer).
Em outras palavras, existe um tradeoff entre trabalhar menos (ter
mais lazer) e consumir mais. Por outro lado, um salário real maior
possibilita que o consumo aumente sem ser necessário abrir mão
de lazer11 .

−σ −σ
Cj,t Cj,t+1
Sabendo que da equação (2.5) λj,t = Pt e λj,t+1 = Pt+1 , e usando
esses resultados na equação (2.7), encontra-se a equação de Euler:
 −σ  
 Cj,t+1  
−σ
 
−Cj,t + βEt   [(1 − δ)Pt+1 + Rt+1 ] =0


 Pt+1 
 



Et Cj,t+1
" !#
Rt+1
= β (1 − δ) + Et (2.9)
Cj,t Pt+1
A equação anterior determina a decisão de poupança das Famí-
lias (neste modelo, poupança é aquisição de bens de investimento).
Assim, quando as Famílias decidem seu nível de poupança, com-
param a utilidade que proporcionaria consumir uma quantidade
adicional hoje em comparação à utilidade futura, caso deixassem
11 Com um salário real maior, com certeza, o consumo de bens será maior, por
outro lado, o mesmo não pode ser dito do lazer. Se o efeito renda superar o
efeito substituição, o lazer aumentará, contudo, se o contrário ocorrer, o lazer
diminuirá.
Modelo RBC básico 47

de consumir no presente para consumir mais no futuro. Dessa


forma, se a expectativa da taxa de juros aumentar, consumir “hoje”
(em t) fica mais caro, e, ceteris paribus, o consumo futuro (t+1) au-
mentará.

Ainda é válido um último comentário sobre a equação de Eu-


ler. Para simplificá-lo, assume-se β = 1 e δ = 1,
!σ #
Cj,t+1
" !
1 rt+1
−Et = −Et
πt+1 Cj,t πt+1
| {z } | {z }
TMS Ct -Ct+1 Preço relativo Ct -Ct+1
R 
t+1
onde Et rt+1 = Et Pt+1 é a taxa real de retorno do capital.

Assim, esta última expressão (Resultado Teórico 2.1.2) diz que


a taxa marginal de substituição de consumo corrente por consumo
futuro é igual ao preço relativo de consumo corrente em termos de
consumo futuro.

Resumidamente, o problema da família está resumido em duas


escolhas. A primeira é uma escolha intratemporal entre a aquisi-
ção de bens de consumo ou lazer. E a outra é uma escolha inter-
temporal, o qual a família deve escolher entre consumo presente e
consumo futuro.

2.2.2 Firmas
A Firma representativa é o agente que se dedica a produzir os
bens e serviços que serão consumidos ou poupados (e depois trans-
formados em capital) pelas Famílias.
Modelo RBC básico 48

Suposição 2.2.8. Existe um contínuo de firmas indexadas por j que


maximizam lucro seguindo uma estrutura de concorrência per-
feita, isto significa que o seu lucro será zero (Πt = 0, para todo
t).

Para tanto, utiliza uma função produção do tipo Cobb-Douglas12

α 1−α
Yj,t = At Kj,t Lj,t (2.10)

onde At representa a produtividade, variável que pode ser inter-


pretada como o nível de conhecimento geral sobre as “artes” pro-
dutivas de que dispõe a economia, Yt é o produto e α é a elastici-
dade do nível de produção em relação ao capital. Também se pode
pensar α como a participação do capital no processo produtivo,
enquanto (1−α) seria a participação do trabalho. Da mesma forma
que no caso da função utilidade das Famílias, a função produção
deve ter algumas propriedades: estritamente crescente (FK > 0 e
FL > 0), estritamente côncava (FKK < 0 e FLL < 0) e duas vezes dife-
renciável. Também é suposto que a função produção apresente
rendimento constante de escala, F(zKt , zLt ) = zYt . Esta função
ainda deve cumprir as chamadas condições de Inada: limK→0 FK =
∞; limK→∞ FK = 0; limL→0 FL = ∞; e limL→∞ FL = 0.

O problema da firma é resolvido maximizando a função Lucro


(Π), escolhendo as quantidades de cada insumo (Lt , Kt ):
12 Embora muitos modelos DSGE usem uma tecnologia Cobb-Douglas, exis-
tem especificações alternativas. Outra função muito popular nesta literatura é a
função CES (Constant Elasticity of Substitution), que possui a seguinte forma:
h ρ ρi 1
F(Kt , Lt ) = αKt + (1 − α)Lt ρ

onde ρ ∈ (−∞, 1) é um parâmetro que determina a elasticidade de substituição


entre os dois insumos.
Modelo RBC básico 49

α 1−α
max Πj,t = At Kj,t Lj,t Pj,t − Wt Lj,t − Rt Kj,t (2.11)
Lj,t ,Kj,t

Resolvendo o problema anterior, chega-se às seguintes condi-


ções de primeira ordem:

∂Πj,t α−1 1−α


= αAt Kj,t Lj,t Pj,t − Rt = 0 (2.12)
∂Kj,t

∂Πj,t α −α
= (1 − α)At Kj,t Lj,t Pj,t − Wt = 0 (2.13)
∂Lj,t
Das equações (2.12) e (2.13), encontra-se:

Rt Yj,t
=α (2.14)
Pj,t Kj,t
|{z} |{z}
CMgK real PMgK

Wt Yj,t
= (1 − α) (2.15)
Pj,t Lj,t
|{z} | {z }
CMgL real PMgL

As equações (2.14) e (2.15) representam as equações de de-


manda dos insumos capital e trabalho, respectivamente (Resul-
tado Teórico 2.1.3). Em que, os custos marginais igualam os pro-
dutos marginais13 .

Nota-se na equação (2.15) que uma queda no salário real signi-


fica uma quantidade maior de trabalho demandada. Pois, quando
o custo real de contratar trabalhadores diminui, as Firmas expan-
dem a demanda por trabalho até que o produto marginal do tra-
13 CMgK real é o custo marginal real do capital; CMgL é o custo marginal
real do trabalho; P MgK é o produto marginal do capital; e P MgL é o produto
marginal do trabalho.
Modelo RBC básico 50

balho diminua ao mesmo nível da queda no salário real14 (Barro,


1997).

Supõe-se que o choque na produtividade segue um processo


autoregressivo de primeira ordem, tal que:

log At = (1 − ρA ) log Ass + ρA log At−1 + t (2.16)

onde Ass é o valor da produtividade no estado estacionário, ρA é o


parâmetro autoregressivo da produtividade que o seu valor abso-

luto deve ser menor do que um ( ρA < 1) para assegurar a estacio-
nariedade do processo, e t ∼ N (0, σA ).

Suposição 2.2.9. O crescimento da produtividade é ignorado neste


modelo.

Como o modelo segue a abordagem RBC, o nível de preço deve


igualar o custo marginal. Assim, para obter o custo marginal,
deve-se, inicialmente, combinar as equações de demanda por in-
sumos (equações (2.14) e (2.15)):

Wt (1 − α)Kj,t
− =−
Rt αLj,t
|{z} | {z }
TES TMST

Lembrando ao leitor que essa expressão representa o Resultado


Teórico 2.1.4. O seu lado direito é a taxa marginal de substituição
técnica, que mede a taxa à qual o trabalho pode ser substituído
por capital com nível de produção constante. Enquanto, o lado
esquerdo é a taxa econômica de substituição, que mede a taxa à
qual o trabalho pode ser substituído por capital com nível de custo
14 O mesmo raciocínio vale para o capital (equação 2.14)
Modelo RBC básico 51

constante.

Rearranjando a expressão anterior,

1 − α Rt
 
Lj,t = K (2.17)
α Wt j,t
e substituindo a equação (2.17) na função de produção (equação
(2.10)),

" #1−α
1 − α Rt

α
Yj,t = At Kj,t K
α Wt j,t

Yj,t  α  Wt 1−α
" #
Kj,t = (2.18)
At 1 − α Rt
Substituindo a equação (2.18) na equação (2.17),

Yj,t  1 − α  Rt  α  Wt 1−α
" #
Lj,t =
At α Wt 1 − α R t
" #−1
1 − α Rt α Wt
  
=
α Wt 1 − α Rt
" #−α
A α Wt

Lj,t = t (2.19)
Yj,t 1 − α Rt
o custo total (CT) é representado por:

CTj,t = Wt Lj,t + Rt Kj,t

substituindo as equações (2.18) e (2.19) na função de custo total é


obtida:
Modelo RBC básico 52

Yj,t  α  Wt −α Yj,t  α  Wt 1−α


" # " #
CTt = Wt + Rt
At 1 − α R t At 1 − α Rt
com um pouco de manipulação algébrica, chega-se:

Yj,t  Wt 1−α  Rt α
CTj,t =
At 1 − α α
e o custo marginal é obtido do custo total15 :

1 Wt 1−α Rt α
   
CMj,t = (2.20)
At 1 − α α
Como o custo marginal depende apenas da produtividade e
dos preços dos fatores de produção, esse será o mesmo para todas
as firmas (CMj,t = CMt ). E sabendo que Pt = CMt , chega-se ao ní-
vel geral de preços,

1 Wt 1−α Rt α
   
Pt = (2.21)
At 1 − α α

2.2.3 Condição de equilíbrio do modelo


Uma vez descrito o comportamento de cada agente, deve-se
estudar a interação entre esses para determinar o equilíbrio ma-
croeconômico. As famílias decidem quanto consumir (Ct ), quanto
investir (It ) e quanto ofertar de trabalho (Lt ), com o objetivo de ma-
ximizar sua utilidade, tomando os preços dados. Por outro lado, as
firmas decidem quanto produzir (Yt ) usando a tecnologia disponí-
vel e as escolhas dos fatores produtivos (capital e trabalho), tendo
os preços desses insumos dados.

15 CM ∂CTj,t
j,t = ∂Y .
j,t
Modelo RBC básico 53

Portanto, o equilíbrio do modelo é composto pelos seguintes


blocos:

1. um sistema de preços, Wt , Rt e Pt ;

2. uma dotação de valores para bens e insumos Yt , Ct , It , Lt e


Kt ; e

3. uma restrição de possibilidade de produção descrita pela se-


guinte condição de equilíbrio do mercado de bens (oferta
agregada = demanda agregada).

Yt = Ct + It (2.22)

O equilíbrio competitivo consiste em encontrar a sequência de


variáveis endógenas do modelo tal que as condições que definem
o equilíbrio estejam satisfeitas. Em resumo, o modelo desta econo-
mia é composto pelas seguintes equações da Tabela 2.116 .

2.2.4 Estado estacionário


Após obter o equilíbrio da economia, é necessário definir os
valores do estado estacionário. De fato, o modelo apresentado é
estacionário, no sentido de que existe um valor para as variáveis
que se mantém no tempo. De modo que uma variável endógena xt
está no estado estacionário, em todo t, se Et xt+1 = xt = xt−1 = xss .

Algumas variáveis endógenas possuem seus valores no estado


estacionário determinados previamente (de forma exógena). É o
16 Por simetria das preferências das famílias e das tecnologias das firmas, esses
dois tipos de agentes serão representados por agentes representativos (derruba-
se o subscrito j).
Modelo RBC básico 54

Tabela 2.1: Estrutura do Modelo.


Equação
Definição

ϕ
Ctσ Lt = WPt
t

(Oferta de trabalho)

Et Cj,t+1 σ
 
= β (1 − δ) + Et RP t+1
h  i
Cj,t t+1

(Equação de Euler)

Kt+1 = (1 − δ)Kt + It
(Lei de movimento do capital)

Yt = At Ktα L1−α
t
(Função produção)

Kt = α YRtt
Pt
(Demanda por capital)

Lt = (1 − α) WYtt
Pt
(Demanda por trabalho)
 W 1−α  R α
Pt = A1 1−α t
α
t
t
(Nível de Preços)

Yt = Ct + It
(Condição de equilíbrio)

log At = (1 − ρA ) log Ass + ρA log At−1 + t


(Choque de produtividade)
Modelo RBC básico 55

caso da produtividade que é a fonte de perturbações para os mo-


delos RBC padrão – no estado estacionário E(t ) = 0. Assim, pela
equação (2.16) não é possível conhecer o valor da produtividade
no estado estacionário, e geralmente, a literatura atribui Ass = 1.
O passo seguinte é retirar os indicadores de tempo das variáveis.
Portanto, o modelo estrutural torna-se:

Grupo Famílias

σ ϕ Wss
Css Lss = (2.23)
Pss
!
R
1 = β 1 − δ + ss (2.24)
Pss

Iss = δKss (2.25)

Grupo Firmas

Y
Kss = α Rss (2.26)
ss
Pss

Y
Lss = (1 − α) Wss (2.27)
ss
Pss

α 1−α
Yss = Kss Lss (2.28)

1−α  α
Wss Rss

Pss = (2.29)
1−α α
Grupo Condição de Equilíbrio

Yss = Css + Iss (2.30)

O sistema de equações formado pelas equações (2.23)-(2.30)


Modelo RBC básico 56

será usado para determinar o valor de oito variáveis endógenas no


estado estacionário (Yss , Css , Iss , Kss , Lss , Wss , Rss e Pss ).

Os primeiros valores que devem ser determinados são os pre-


ços (Wss , Rss e Pss ). Para tanto, deve-se considerar a lei de Walras.

Proposição 2.2.1 (Lei de Walras). Para qualquer vetor de preços p,


tem-se pz(p) ≡ 0; isto é, o valor do excesso de demanda é identica-
mente zero.

Demonstração. Simplesmente, escreve-se a definição de excesso de


demanda e multiplica-se por p:
 n n
 n
X X  X
pz(p) = p 
 xi (p, p wi ) − wi  =

 [p xi (p, p wi ) − p wi ] = 0
i=1 i=1 i=1

desde que xi (p, p wi ) satisfaça a restrição orçamentária p xi =


p wi para cada agente i=1,. . . ,n.

Em outras palavras, a lei de Walras diz que se cada indivíduo


satisfaz sua restrição orçamentária, o valor do seu excesso de de-
manda é zero, então o valor da soma do excesso de demanda tam-
bém deve ser zero. É importante perceber que a lei de Walras
afirma que o valor do excesso de demanda é identicamente zero
– o valor do excesso de demanda é zero para todos os preços (Va-
rian, 1992).

A lei de Walras implica na existência de k-1 equações indepen-


dentes no equilíbrio com k bens, assim se a demanda se igualar à
oferta em k-1 mercados, também haverá igualdade entre oferta e
demanda no k-ésimo mercado. Consequentemente, se há k merca-
dos, são necessários apenas k-1 preços relativos para determinar o
Modelo RBC básico 57

equilíbrio.

Desde que a função de excesso de demanda agregada seja ho-


mogênea de grau zero, pode-se normalizar os preços e expressar
p
as demandas em termos de preço relativo: pi = Pk i . Isto tem
b
pj
j=1 b
como consequência os preços normalizados pi deverem sempre ter
a soma igual a 1. Então, pode-se restringir a atenção para o ve-
tor de preços pertencentes ao simplex unitário de dimensão k-1:
n o
S k−1 = p ∈ Rk+ : ki=1 pi = 1 . Resumidamente, considerando a lei
P

de Walras, pode-se normalizar o nível geral de preços dessa eco-


nomia, Pss = 1.

Para encontrar Rss usa-se a equação (2.24),


" ! #
1
Rss = Pss − (1 − δ) (2.31)
β
Nota-se que a equação (2.31) apresenta Rss sendo função de
apenas parâmetros do nível geral de preços normalizado17 , por-
tanto seu valor está determinado. Resta encontrar o estado estaci-
onário do nível de salários (Wss ). Assim, da equação (2.29),

α
Wss1−α = Pss (1 − α) 1−α
Rss
α
! 1−α
1
1−α
α
Wss = (1 − α)Pss (2.32)
Rss
O próximo passo é atender a condição de equilíbrio. Para isso,
deve-se determinar as variáveis que compõem a demanda agre-
gada (Css e Iss ). A ideia subjacente à condição de equilíbrio é for-
mada pela seguinte proposição.
17 Na simulação no Dynare, não há necessidade de substituir R nas outras
ss
equações. Apenas deve-se apresentá-lo antes dos outros estados estacionários.
Modelo RBC básico 58

Proposição 2.2.2 (Ajuste de mercado). Dados k mercados, se a de-


manda se igualar à oferta em k-1 mercados e pk > 0, então a de-
manda deverá se igualar-se à oferta no k-ésimo mercado.

Demonstração. Se não, a lei de Walras é violada.

Portanto, para atender a condição de equilíbrio, deve-se aten-


der as condições dos mercados de insumos. Para essa finalidade,
é necessário obter o encontro entre as ofertas (fornecidas pelas fa-
mílias) e as demandas (fornecidas pelas firmas) dos insumos de
produção (trabalho e capital) (Figura 2.12).

Figura 2.12: Estrutura do ajuste de mercado do estado estacioná-


rio. As linhas tracejadas representam os mercados de trabalho, de
bens de capital e de bens.

Primeiro, deve-se substituir a equação (2.27) na equação (2.23),


resolvendo para Css ,
Modelo RBC básico 59

 ϕ
Y W
(1 − α) ss  = ss
 
σ
Css Wss 
 Pss
Pss

  Wss ϕ  σ1
1  W  P  

Css = ϕ  ss  ss   (2.33)
 Pss 1 − α 
Yssσ
Conhecendo Css , falta encontrar Iss . Por consequência, é neces-
sário substituir a equação (2.26) na equação (2.25),
!
δα
Iss = Y (2.34)
Rss ss
Para finalizar, deve-se encontrar Yss . Substituindo as equações
(2.33) e (2.34) na equação (2.30),

  Wss ϕ  σ1 !
1  Wss  Pss  

 δα
Yss = ϕ   1 − α   + Rss Yss
 
σ  Pss
Yss
!   Wss ϕ  σ1
δα 1  Wss  Pss  
1− Y = ϕ 
Rss ss
 
σ  Pss
 1 − α  
Yss
 ss ϕ  σ +ϕ 1
 W  W
σ
! σ +ϕ 
Rss P
 ss  ss    
Yss = (2.35)

Rss − δα  Pss  1 − α  
 

Os procedimentos anteriores estão resumidos na apresentação


do estado estacionário abaixo:

Ass = 1

Pss = 1
Modelo RBC básico 60

" ! #
1
Rss = Pss − (1 − δ)
β
α
! 1−α
1
1−α
α
Wss = (1 − α)Pss
Rss

 ss ϕ  σ +ϕ1
 W  W
σ
! σ +ϕ 
Rss  ss  Pss   

Yss =

Rss − δα  Pss  1 − α  
 

!
δα
Iss = Y
Rss ss

 !1+ϕ  σ1
1  W ss
Css = ϕ (1 − α)−ϕ


σ Pss 
Yss
Y
Kss = α Rss
ss
Pss

Y
Lss = (1 − α) Wss
ss
Pss

Usando a sequência anterior e os dados calibrados apresenta-


dos na Tabela 2.2, chega-se aos valores das variáveis em estado
estacionário (Tabela 2.3).

2.2.5 Log-linearização (Método de Uhlig)


O manejo e resolução de modelos não-lineares é geralmente
muito árduo. Quando o modelo é muito simples, é possível en-
contrar uma aproximação para a função de política resolvendo
recursivamente a função valor. Por outro lado, modelos lineares
são, frequentemente, mais fáceis de ser resolvidos. O problema é
Modelo RBC básico 61

Tabela 2.2: Valores dos parâmetros do modelo estrutural.


Parâmetro Significado do parâmetro Valor calibrado
σ Coeficiente de aversão 2
ao risco relativo
ϕ Desutilidade marginal 1,5
com respeito à oferta de trabalho
α Elasticidade do nível de 0,35
produção em relação ao capital
β Fator de desconto 0,985
δ Taxa de depreciação 0,025
ρA Parâmetro autoregressivo 0,95
da produtividade
σA Desvio padrão da produtividade 0,01

Tabela 2.3: Valores das variáveis no estado estacionário.


Variável Estado estacionário
A 1
R 0,040
W 2,084
Y 2,338
I 0,508
C 1,829
L 0,729
K 20,338
Modelo RBC básico 62

converter um modelo não-linear em uma aproximação linear su-


ficientemente adequada tal que a solução da aproximação linear
ajude a entender o comportamento do sistema não-linear subja-
cente. Dessa forma, um procedimento padrão é log-linearizar o
modelo em torno do seu estado estacionário (existem alguns mé-
todos que usam essa abordagem nos seus procedimentos de reso-
lução: Blanchard e Kahn, 1980; Uhlig, 1999; Sims, 2001; e Klein,
2000)18 .

Uhlig (1999) recomenda um método simples de log-linearização


de funções que não requer diferenciação. Basta substituir uma va-
riável Xt por Xss eXt onde X
et = log X − log Xss representa o log do
e

desvio da variável em relação ao seu estado estacionário. Uhlig


ainda propõe as seguintes ferramentas de resolução:

e(Xt +aYt ) ≈ 1 + X
et + aY (2.36)
e e et

X et ≈ 0
et Y (2.37)

  h i
Et aeXt+1 ≈ a + aEt X (2.38)
e et+1

Oferta de trabalho

Iniciando com a equação da oferta de trabalho,

ϕ Wt
Ctσ Lt =
Pt

substitua Xt = Xss eXt em cada variável da equação anterior.


e

18 Para maiores informações consultar DeJong e Dave (2007) e Canova (2007).


Modelo RBC básico 63

ϕ Wss (W
σ
Css Lss e(σ Ct +ϕ Lt ) = e t −Pt )
e e f e
Pss
A seguir, usa-se a regra de Uhlig da equação (2.36),

σ ϕ W
Css Lss (1 + σ C Lt ) = ss (1 + W
et + ϕe ft − Pet )
Pss
σL = ϕ Wss
dado que no estado estacionário, Css ss Pss , chega-se a:

et + ϕe
σC Lt = W
ft − Pet (2.39)

Equação de Euler para o consumo

O mesmo procedimento será usado para a Equação de Euler.


!σ !
1 C R
Et t+1 = (1 − δ) + Et t+1
β Ct Pt+1

Substitua Xt = Xss eXt em cada variável da equação anterior.


e

σ
!
1 Css R
(σ Et C
= (1 − δ) + ss e[Et (Rt+1 −Pt+1 )]
et )
et+1 −σ C
σ e
e e
β Css Pss
Então, usando a regra de Uhlig da equação (2.36),

1h et ) = (1 − δ) + Rss 1 + Et (R
i h i
1 + σ (Et C
et+1 − C et+1 − Pet+1 )
β Pss
1 Rss
sabendo que no estado estacionário, β = Pss + (1 − δ), tem-se:

σ et ) = Rss Et (R
(E C
e −C et+1 − Pet+1 ) (2.40)
β t t+1 Pss
Modelo RBC básico 64

Retorno do capital
Reescrevendo a demanda por capital,

Yt
Rt = α
Kt

substituindo Xt = Xss eXt em cada variável da equação anterior.


e

Rss (Ret −Pet ) Y


e = α ss e(Yt −Kt )
e e
Pss Kss
Agora, usa-se a regra de Uhlig da equação (2.36),

Rss et − Pet ) = α Yss (1 + Y


(1 + R et )
et − K
Pss Kss
Rss
sabendo que no estado estacionário, Pss = α KYss , encontra-se:
ss

et − Pet = Y
R et − K
et (2.41)

Nível dos salários

A demanda por trabalho é:

Wt Y
= (1 − α) t
Pt Lt

Substituindo Xt = Xss eXt em cada variável da equação anterior,


e

temos:

Wss (W Y
e t −Pt ) = (1 − α) ss e(Yt −Lt )
f e e e
Pss Lss
Agora, usa-se a regra de Uhlig da equação (2.36),

Wss ft − Pet ) = (1 − α) Yss (1 + Y


(1 + W Lt )
et − e
Pss Lss
Wss
sabendo que no estado estacionário, Pss = (1 − α) YLss , obtém-se:
ss
Modelo RBC básico 65

ft − Pet = Y
W Lt
et − e (2.42)

Função produção
Usando o mesmo procedimento anterior na função produção:

Yt = At Ktα L1−α
t

α 1−α (At +α Kt +(1−α)Lt )


Yss eYt = Ass Kss Lss e
e e e e

α 1−α
Yss (1 + Y
et ) = Ass Kss Lss (1 + A
et + α K
et + (1 − α)e
Lt )
α L1−α :
Sabendo que no estado estacionário, Yss = Ass Kss ss

et = A
Y et + α K
et + (1 − α)e
Lt (2.43)

Lei de movimento dos capitais

A lei de movimento de capitais é:

Kt+1 = (1 − δ)Kt + It

Kss eKt+1 = (1 − δ)Kss eKt + Iss eIt


e e e

Kss (1 + K
et+1 ) = (1 − δ)Kss (1 + K
et ) + Iss (1 + e
It )

Dividindo ambos os lados da equação anterior por Kss ,

(1 + K et + Iss + Iss e
et+1 ) = (1 − δ) + (1 − δ)K I
Kss Kss t
Modelo RBC básico 66

Sabendo que no estado estacionário, Iss = δKss :

et+1 = (1 − δ)K
K et + δe
It (2.44)

Condição de equilíbrio

Resta encontrar a equação log-linear para a condição de equi-


líbrio.

Yt = Ct + It

Yss eYt = Css eCt + Iss eIt


e e e

Yss (1 + Y
et ) = Css (1 + C
et ) + Iss (1 + e
It )

Sabendo que no estado estacionário, Yss = Css + Iss :

et = Css C
Yss Y et + Isse
It (2.45)

Choque tecnológico

O processo de movimento da produtividade é:

log At = (1 − ρA ) log Ass + ρA log At−1 + t

Com um pouco de álgebra, chega-se a:

et = ρA A
A et−1 + t (2.46)

A tabela 2.4 resume o modelo log-linear.

Aqui, têm-se que w


et = W
ft − Pet e e
rt = R
et − Pet , que representam o
salário e a taxa de juros reais, respectivamente.
Modelo RBC básico 67

Tabela 2.4: Estrutura do modelo log-linear.


Equação
Definição
et + ϕe
σC Lt = w
et
(Oferta de trabalho)

σ Rss
β (Et Ct+1 − Ct ) = Pss Et (Rt+1 − Pt+1 )
e e e e
(Equação de Euler)

Ket+1 = (1 − δ)K
et + δe
It
(Lei de movimento do capital)

et = A
Y et + α K
et + (1 − α)e
Lt
(Função produção)

Ket = Y rt
et − e
(Demanda por capital)

Lt = Y
e et − w
et
(Demanda por trabalho)

Yss Y et + Isse
et = Css C It
(Condição de equilíbrio)

et = ρA A
A et−1 + t
(Choque de produtividade)
Modelo RBC básico 68

2.3 Choque de produtividade


Nesta seção, serão analisados os resultados do choque de pro-
dutividade na economia RBC deste capítulo. Primeiro, verifica-se
o resultado do choque de produtividade nas variáveis e, em se-
guida, busca-se reconhecer na simulação os padrões teóricos apre-
sentados no início do capítulo.

A figura 2.13 apresenta os efeitos de uma perturbação positiva


na produtividade total dos fatores. A primeira evidência desse
choque está no aumento nas produtividades marginais do traba-
lho e do capital (equações (2.41) e (2.42)). Com isso as firmas au-
mentam a demanda por esses insumos. Então, ocorre uma reação
nos preços dos fatores produtivos – salário (W) e retorno sobre o
capital (R) – aumentando a renda das famílias. Com uma renda
maior, esse agente responde aumentando a aquisição de bens de
consumo e de investimento (equação (2.45)). Em relação aos insu-
mos, inicialmente tanto trabalho quanto capital aumentam, mas
como o salário decresce com o tempo, as famílias buscam mais la-
zer (diminui a oferta de trabalho). Por outro lado, com o aumento
nos investimentos, o estoque de capital apresenta uma tendência
crescente até o período 20 (equação (2.44)) formando uma “figura
de sino”. Resumidamente, o choque de produtividade positivo au-
menta as variáveis de consumo (C e I), as demandas por insumos
(L e K) e os preços desses fatores produtivos (W e R).

O objetivo do grupo de figuras 2.14 a 2.17 é entender como as


famílias fazem a “gestão” do seu bem estar dado um choque posi-
tivo de produtividade. A figura 2.14 exibe o resultado desse cho-
Modelo RBC básico 69

Figura 2.13: Efeitos de uma perturbação na produtividade. Resul-


tado da simulação no Dynare (Funções impulso-resposta).
Modelo RBC básico 70

que no lócus lazer-salário. Nota-se que o ponto de inflexão para


o nível salarial está 57% superior ao seu nível de estado estaci-
onário, assim aumentos inferiores a este valor levam as famílias a
buscar mais lazer (efeito renda). Por outro lado, aumentos salariais
superiores ao ponto de inflexão fazem com que ocorra uma predo-
minância do efeito substituição – o lazer está ficando mais caro. A
figura 2.15 busca apresentar uma relação com a figura 2.7 que é a
sua abordagem teórica. Percebe-se que quando o lazer está em ní-
veis relativamente baixos (canto esquerdo da figura 2.15) a prefe-
rência das famílias é por aumentos no lazer, isso ocorre até que essa
variável alcance 23% superior ao estado estacionário (ponto de in-
flexão I). A partir desse ponto, ocorre um predomínio do efeito
substituição.

Figura 2.14: Lócus lazer-salário. A unidade dos eixos x e y são os


desvios percentuais em relação ao estado estacionário da variável.
O ponto I é o ponto de inflexão entre os trechos de predominância
dos efeitos substituição e renda.

Quando a preocupação é o tradeoff intertemporal, usa-se as fi-


Modelo RBC básico 71

Figura 2.15: Lócus lazer-consumo. A unidade dos eixos x e y são os


desvios percentuais em relação ao estado estacionário da variável.
O ponto I é o ponto de inflexão entre os trechos de predominância
dos efeitos substituição e renda.

guras 2.16 e 2.17. Nesta primeira figura (consumo presente ver-


sus consumo futuro), o ponto de inflexão está praticamente no
nível de estado estacionário do retorno sobre o capital. Quando
o choque eleva o valor dessa variável, consumir hoje fica mais
caro em relação a consumir no futuro, dessa forma as famílias
diminuem a aquisição de bens de consumo no período corrente
(efeito substituição). Doutra parte, se o retorno do capital dimi-
nui em relação ao seu estado estacionário, as Famílias ficam re-
lativamente mais pobres, levando a diminuir o consumo presente
(efeito renda). Quando o tradeoff é o lazer intertemporal (figura
2.17), nota-se apenas a presença do efeito substituição. Quando
R aumenta, o lazer no período futuro fica mais barato em relação
ao período corrente. Portanto, um aumento no retorno do capital
motiva as famílias a trabalhar mais hoje e menos no futuro.
Modelo RBC básico 72

Figura 2.16: Lócus consumo-renda. A unidade dos eixos x e y são


os desvios percentuais em relação ao estado estacionário da variá-
vel. O ponto I é o ponto de inflexão entre os trechos de predomi-
nância dos efeitos substituição e renda.

Figura 2.17: Lócus lazer-renda. A unidade dos eixos x e y são os


desvios percentuais em relação ao estado estacionário da variável.
O ponto I é o ponto de inflexão entre os trechos de predominância
dos efeitos substituição e renda.
Modelo RBC básico 73

BOX 2.1 - Modelo RBC básico log-linear no Dynare.

//Modelo RBC - Capítulo 2 (ENTENDENDO OS MODELOS DSGE)


//obs: W e R são reais na simulação

var Y I C R K W L A ;
varexo e;
parameters sigma phi alpha beta delta rhoa;

sigma = 2;
phi = 1.5;
alpha = 0.35;
beta = 0.985;
delta = 0.025;
rhoa = 0.95;

model(linear);
#Pss = 1;
#Rss = Pss*((1/beta)-(1-delta));
#Wss = (1-alpha)*(Pss^(1/(1-alpha)))*((alpha/Rss)^(alpha/(1-alpha)));
#Yss = ((Rss/(Rss-delta*alpha))^(sigma/(sigma+phi)))
*(((1-alpha)^(-phi))*((Wss/Pss)^(1+phi)))^(1/(sigma+phi));
#Kss = alpha*(Yss/Rss/Pss);
#Iss = delta*Kss;
#Css = Yss - Iss;
#Lss = (1-alpha)*(Yss/Wss/Pss);
//1-Oferta de trabalho
sigma*C + phi*L = W;
//2-Equação de Euler
(sigma/beta)*(C(+1)-C)=Rss*R(+1);
//3-Lei de movimento do capital
K = (1-delta)*K(-1)+delta*I;
//4-Função de produção
Y = A + alpha*K(-1) + (1-alpha)*L;
//5-Demanda por capital
R = Y - K(-1);
//6-Demanda por trabalho
W = Y - L;
//7-Condição de equilíbrio
Yss*Y = Css*C + Iss*I;
//8-Choque de produtividade
A = rhoa*A(-1) + e;
Modelo RBC básico 74

end;

steady;
check;
model_diagnostics;
model_info;

shocks;
var e;
stderr 0.01;
end;

stoch_simul;

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