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Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Instituto de Ciências Humanas e Filosofias – Departamento de História

HH714 A - “Arte brasileira”

Prof°: Marcos Pedro

Nátaly Stéfany Pereira 156835

Esse trabalho pretende abordar a vida da pintora negra Maria Auxiliadora da Silva.
A primeira parte será apresentada sua biografia. A segunda será as principais
características de sua pintura e os temas abordados pela artista. A terceira parte uma
análise de críticas à pintora de Mario Scheberg, do Pietro Maria Bardi – dois importantes
críticos – e do Jornal Dia e Noite aproximando seus comentários, observando os pontos
em comum em relação à artista, principalmente relacionados ao demérito que recebia por
ser uma pintora negra.

 Biografia/ trajetória

Maria Auxiliadora da Silva nasceu dia 24 de maio de 1935, em Campo Belo, Minas
Gerais. Filha de Dona Maria e parte de uma grande família com 18 irmãos. Em 1938, sua
família mudou para São Paulo. Frequentou a escola até os 12 anos, quando começou a
trabalhar como doméstica, e posteriormente, foi bordadeira em fábricas têxteis.
Autodidata aos 11 anos (1946) desenhava figuras com carvão, aos 22 (1957) esculpia
madeira. No fim dos anos 1960, com outros membros pintores sua família – os Silvas –,
juntou-se ao grupo do artista negro Solano Trindade, onde começou a estudar sobre arte,
principalmente à arte negra, relacionada aos movimentos sociais da sua comunidade.

Aos 32 anos passou a se dedicar integralmente à pintura, trabalhava na casa dos


pais e, depois, na própria casa. Pintou apenas entre os anos 1967 -1974. Expunha suas
obras na Praça da República, em São Paulo, onde a pintora conheceu o físico e crítico de
arte Mário Schenberg (1914-1990), que se interessou pelas cores e técnica de Maria
Auxiliadora. Ele a apresentou ao cônsul americano Alan Fisher, que organizou a primeira
exposição individual da pintora. Foi o início da sequência de participação em exposições,
tanto no Brasil como no exterior e o prestígio de Maria Auxiliadora cresceu. Em 1973,
ela participou da Exposição afro-brasileira de artes plásticas, no Museu de Arte de São
Paulo (MASP).
Em 1972, com 38 anos, Maria Auxiliadora começa a batalha contra o câncer. E
morre, rapidamente, em 1974, de câncer generalizado.

 Sua pintura

Utilizava tinta acrílica de cores fortes, como: vermelho, amarelo, verde, azul. Possuía
um trabalho de contorno com a cor branca que foi muito valorizado, principalmente no
uso da cor nas rendas e tecidos. O uso do plano bidimensional também é visível na artista.
O trabalho com a perspectiva na tela como bidimensional. Como podemos ver, no quadro:

Festa Junina-1969- 2º Salão de Arte Contemporânea de Santo André Crédito: Júlio


Bastos/PSA.
Temas como: festas típicas brasileiras, festa junina, festa de Tiradentes, festa em
casa, maracatu coroado, festa de Candomblé, sempre estavam presentes na pintura de
Maria Auxiliadora.

Camdomblé, 1974, 60x72com1

1
BARDI, P. M. Maria Auxiliadora da Silva. Pg 101
Tiradentes, 1973, 90x90 cm 2

Além de assuntos recorrentes das artes plásticas como banhistas, natureza morta,
trabalhadores. Temas como esses podem demonstrar que a pintora tinha conhecimento de
temas recorrentes em pinturas.

2
Idem ao anterior pg. 37
Natureza Morta, 972, 45x60 cm 3

Banhistas, 1973, 38x60cm 4

3
Idem ao anterior pg.69
4
Idem ao anterior pg. 89
No fim de sua carreira retratou muito sobre velório, ambulâncias, hospitais, enterros
devido ao câncer que a levará a morte.

Inovou em relação à técnica, utilizava cabelo de verdade para trabalhar volume; e


também o uso de Massa Poliéster Wanda, de espessura variável, comum em residências.
Um meio de levar a materialidade à tela.5

Seu papel como pintora é importante não apenas por sua técnica, mas por ser um
registro material da comunidade negra. As negras e negros sempre retratados no papel de
subserviência, de trabalhadores, hipersexualização, principalmente das mulheres; e
majoritariamente retratados por brancos. Maria Auxiliadora representou a vivência dela
mesma e de sua comunidade, um lugar raro na historiografia. Vivências como Festinha
em Casa, 1973, mostra o cotidiano de uma casa provável em uma comunidade popular,
como a própria artista morava6. Esse vínculo com seu coletivo é uma característica
recorrente em intelectuais negras/os (OLIVEIRA).

Festinha em Casa, 1973, 38x46cm 7

5
BARDI, P. M. Maria Auxiliadora da Silva. Torino: Giulio Bolaffi, Itália 1977 Pg 4
6
Idem ao anterior pg. 30
7
Idem ao anterior pg.95
 Critica Mario Schenberg e Pietro Maria Bardi

No comentário de Schenberg sobre Maria Auxiliadora:

“Os quadros de Maria Auxiliadora se caracterizam pela sua grande


vitalidade e vibração cromática. Possui o senso mágico afro-brasileiro e uma
riqueza de criação rítmica e colorística das mais fascinantes. A sua obra combina
vivências autênticas e profundas da vida popular com a sua imaginação
construtora de arquiteturas cromáticas e lineares, fundindo uma beça
capacidade decorativa com um sentimento popular convincente e verdadeiro.
Consegue unir realidade e sonho. Há mais de dois anos que Maria Auxiliadora
enriqueceu sua pintura a óleo com elementos de colagem. Posteriormente
desistiu da colagem e passou a utilizar apenas o relevo obtido com massa
plástica. Conseguiu assim intensificar consideravelmente o dinamismo de suas
composições e lhes atribuir um caráter saboroso de obras de artesanato popular,
tornando-se uma das figuras de expressão marcante do nosso primistivismo’8

Pode ser visto a continuidade da importância dada às cores e ao ritmo para o crítico:
‘grande vitalidade e vibração cromática’, ‘uma riqueza de criação rítmica e colorística
das mais fascinantes’, ‘construtora de arquiteturas cromáticas e lineares’. Essas
características, que foram estudadas pelas pintoras e pintores, no início do movimento
modernista na década de 20, continuavam como expressão, na década de 70.

Da mesma forma que Schenberg fala positivamente desses aspectos no trabalho


de Auxiliadora, Pietro M. Bardi, diz: ‘Apreciam-se suas cenas de vida popular que ela
exalta numa felicidade descritiva, vibrações de cores vistosas onde predomina o roxo
claro e o azul. 9. A mesma exaltação das vibrações das cores e o ritmo que é ditado por
elas nos quadros de Auxiliadora é ressaltado como pelo autor.

A crítica positiva não isentava a pintora de ser enquadrada em uma categoria


secundária de pintura: artesanato. Pode-se observar questões que a diminuí como pintura
nos dois críticos. Ao enquadrar a obra de Auxiliadora como popular, como Schenberg
faz: ‘saboroso de obras de artesanato popular’ e ‘fundindo uma beça capacidade
decorativa com um sentimento popular convincente e verdadeiro’. Há uma separação de
da arte que é acadêmica, ou refinada, – a maior parte dos artistas pertencentes nesse

8
BÜLL, Márcia Regina. Artistas Primitivos Ingênos, (naïfs), populares, contemporâneos, afro-abrasileiros.
Família Silva: um estudo de resistência cultural . Pg. 275 (grifo meu)
9
BARDI, P. M. Maria Auxiliadora da Silva. Torino: Giulio Bolaffi, Itália 1977 Pg 35
universo faz parte de camadas mais alta da sociedade –, e outra que é a arte popular, de
pessoas fora desse ciclo elitizado.

A autora Lélia Coelho Frota, em Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro,


demostra que o popular compreendia em vários ‘tipos’ de pessoas na sociedade, mas que
em geral, dizia respeito a uma inferiorização, pessoas historicamente desconhecidas e
vistas distante da sociedade:

‘Nessa abertura cabe ainda explicitar que a designação polissêmica de ‘popular’


abrange desde a classe trabalhadora que mantém uma rede de relações viva e
compartilhada em seu território, bem como um universo heterogêneo de
camadas. [...]

Há, portanto, um clima de maior abertura para que as obras da norma culta
logrem o alvo de seu atingimento pelo receptor, por mais que o valor formal de
sua concepção tenha autonomia para isso. Já as culturas do povo são
historicamente desconhecidas. Muitas de suas criações são até denominadas por
nós de “primitivas”, como se fossem de grupos tribais distantes no espaço e no
tempo das sociedades complexas, urbanas.’’10

A importância de estudar esses artistas de pintura popular, artesanato pode ser um modo
de ser aproximar das pessoas que foram, e são, excluídas.

Do mesmo modo que as pinturas são vistas como artesanato popular, Schenberg
classifica a artista como ‘figuras de expressão marcante do nosso primitivismo’. Ele não
apresenta Maria Auxiliadora como pintora, mas sim de um modo passivo, uma expressão
do primitivismo brasileiro.

Do mesmo modo, Bardi escreve desvalorizando a pintura de Maria Auxiliadora

‘Dividido em modestos aposentos, pois várias são as famílias, dos filhos


e filhas: acolhe uma comunidade de artistas plásticos, à sua própria maneira.
Trabalham a semana inteira, e aos domingos vão vender o que produzem na
Praça da República, onde eles e os outros encontraram uma freguesia sem a
mínima informação a respeito dos ‘estilos’ das vanguardas, o consumidor que
pendura nas paredes os quadros aptos a contarem coisas de fácil
reconhecimento.’ 11

10
FROTA, Lelia Coelho. Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro - Século XX . Pg 23-24
11
BARDI, P. M. Maria Auxiliadora da Silva. Pg. 30
Apesar do reconhecimento da pintora, há mais uma vez essa separação de tipo de artistas
e uma diferenciação entre a freguesia ‘uma freguesia sem a mínima informação a respeito
dos ‘estilos’ das vanguardas [...] quadros aptos a contarem coisas de fácil
reconhecimento’. Bardi expõe uma distância entre os quadros que eram expostos na Praça
da República, o que incluía os de Maria Auxiliadora, com as vanguardas, os apresentam
com mais simples e de fácil entendimento. Mesmo a pintora inovando em técnicas, como
a aplicação de cabelo em tela para alcançar o volume desejado.

A autora Maria Regina Bull, em sua tese de mestrado, defende que os artistas que
expunham na Praça eram incompreendidos e desconhecidos por muitos ‘[...] é
marginalizada dos circuitos das culturas dominantes ou eruditas, sobre as quais
discorremos oportunamente [...]’12, por essa razão sempre tiveram seu local como artistas
subjugados. Mas uma vez o local de existência da artista é utilizado como forma de
diminuir seu reconhecimento.

Outro comentário realizado por Bardi que desqualifica o lugar de pintora de Maria
Auxiliadora é

‘Quintais, bailes, festas caipiras, campo: constituem uma temática


simples, concebida por Maria Auxiliadora com a mesma preocupação de uma
dona de casa, que recebendo visita quer que tudo esteja em ordem, aparecendo
tudo bonito e distinto.’13

Nesse trecho o autor compara Maria Auxiliadora a uma dona de casa, assim como
apresenta seus temas simples e corriqueiros, retomando novamente a ideia de artesanato
na obra da artista. A identidade de Maria Auxiliadora ligada ao doméstico, desta vez como
empregada doméstica, pode ver vista também, na crítica que recebeu em 1970, do Jornal
Dia e Noite :

12
Idem anterior Pg 28
13
Idem ao anterior Pg 35
14

É referenciada como empregada doméstica, mesmo a pintora se dedicar exclusivamente


à pintura desde 1967.

Lugares de tensão que a artista esteve por ser uma pintora negra, ter seu papel
questionado e negado diversas vezes. Não era comum uma mulher negra estar nos espaços
de produção artística. Assim como, representar negras e negros em seus cotidianos: em
festas, ocupando a cidade; diferente do eram sempre representados: escravos,
trabalhadores braçais, nus e hipersexualizados. Uma mulher negra refletindo sobre si
mesma, e retratando sobre cultura, causava incomodo e sempre estava em um lugar de
indagação, A obra de Maria Auxiliadora é uma materialização da expressão dessa mulher,
um lugar que encontra sua voz, sua história e os desafios enfrentados pela artista.

14
BARDI, P. M. Maria Auxiliadora da Silva. Pg.19
Referências Biográficas

BARDI, P. M. Maria Auxiliadora da Silva. Torino: Giulio Bolaffi, Itália 1977

BÜLL, Marcia Regina. Artistas Primitivos, Ingênuos, (naïfs), populares,


contemporâneos, afro-brasileiros. Família Silva: um estudo de resistência cultural.
(Dissertação de Mestrado) Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2007.
Disponível em <http://tede.mackenzie.br/jspui/handle/tede/2696> acessado em abril 26
de 2018.

CARVALHAES, Renata. Pintores negros e mulatos no século XIX e início do século


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FERREIRA, Thaís dos Reis. A NEGRA Diálogos entre a obra de Tarsila do Amaral
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FROTA, Lélia Coelho ARTE DO POVO. Artigo escrito para apresentar as coleções de
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consideração do processo de constitui-se negro-intelectual. (Doutorado) Universidade
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PEDROSA, Adriano OLIVA, Fernando. Maria Auxiliadora: vida cotidiana, pintura e
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maria-auxiliadora> acessado em 15 de março de 2018

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