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TEXTOS SAGRADOS V: EVANGELHOS I e II

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO _____________________________________________________________________ 03

Cap. 1 — A Natureza dos Evangelhos ___________________________________________________ 03

Cap. 2 — Os Evangelhos Sinópticos ____________________________________________________ 05

Cap. 3 — O Evangelho Segundo Mateus ________________________________________________ 09

Cap. 4 — O Evangelho Segundo Marcos ________________________________________________ 11

Cap. 5 — O Evangelho Segundo Lucas _________________________________________________ 15

Cap. 6 — O Evangelho Segundo João __________________________________________________ 22

Cap. 7 — Panorama Histórico do Novo Testamento ______________________________________ 31

Cap. 8 — Ensinos Selecionados do Salvador ____________________________________________ 41

CONCLUSÃO ____________________________________________________________________ 46

BIBLIOGRAFIA __________________________________________________________________ 47

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INTRODUÇÃO

Os evangelhos são os ―arquivos de Cristo‖. Eles são narrativas cuidadosamente escritas sobre o
nascimento, a vida, o ministério, a morte e a ressurreição de Jesus de Nazaré. A palavra "evangelho" quer
dizer simplesmente ―boas novas‖. Os evangelhos são as narrativas guardadas na memória popular sobre o
que Deus fez por intermédio de Jesus Cristo. Eles foram escritos pelas pessoas menos prováveis na sociedade
da época, que não tinham nenhum treinamento formal de seminário. Alguns estiveram com Jesus durante o
começo do seu ministério e todos os evangelistas escreveram sobre o que eles viram e ouviram e sobre as
suas experiências. Eles escreveram para cada geração, somente compartilhando o que eles sabiam sobre a
história de Jesus. Os Evangelhos são chamados ―Mateus‖, ―Marcos‖, ―Lucas‖ e ―João‖. Cada um deles tem
perspectivas e personalidades únicas das pessoas que amavam Jesus. Eles estão localizados na parte da Bíblia
conhecida como ―O Novo Testamento‖, mas algumas pessoas se referiam a eles como as ―Escrituras
Gregas‖.
Cada Evangelho é numerado por capítulos e versículos. Os números dos capítulos seguem
imediatamente o nome do Evangelho. Este é seguido por dois pontos ( : ) com o número do versículo(s).
Mateus é abreviado como ―Mt‖, Marcos como ―Mc, Lucas como ―Lc‖ e João como Jo. Um exemplo é Mt
9:9-13, o que quer dizer que este se trata do capítulo 9 do Evangelho de Mateus, versículos 9-13.
Antes da vinda de Cristo os homens entendiam Deus como o Criador Todo Poderoso e implacável Juiz
na Sua morada em inatingível glória. Jesus Cristo nos abriu um novo entendimento sobre Deus, o Deus
próximo a nós, misericordioso e Pai que nos ama. Jesus Cristo disse a seus contemporâneos: "quem me vê,
vê também o Pai" De fato, a imagem de Jesus Cristo, cada aspecto particular, cada palavra e gesto estavam
impregnados de infinita compaixão. Ele era o Médico para os doentes. Purificava as almas dos pecadores,
curava os doentes e cegos, confortava os desesperados e libertava os possuídos pelos demônios. E, ao mesmo
tempo, à sua ordem todos se subjugavam, a natureza e até a própria morte.
Através deste módulo mostraremos ao leitor em que circunstâncias os evangelhos foram escritos e
apresentaremos ensinamentos selecionados do nosso Redentor. É de nosso desejo que o leitor venha a se
aprofundar na vida e nos ensinamentos do Salvador, pois, quanto maior é nossa experiência espiritual à
medida que passamos a ler mais os evangelhos mais forte se torna nossa fé e mais claramente passamos a
entender o sentido da nossa vida terrena. Também, quanto maior é nossa experiência espiritual, mais evidente
se torna a nossa proximidade com o Salvador. Ele verdadeiramente passa a ser o nosso Bom Pastor que nos
orienta para o caminho da salvação.

Capítulo I
A NATUREZA DOS EVANGELHOS

História dos Textos do Evangelho


Todos os livros Sagrados do Novo Testamento foram escritos na língua grega, mais especificamente,
no popular dialeto alexandrino chamado koinê, que era a língua mais falada ou pelo menos compreendida
pelos homens cultos de todas as localidades do Oriente e do Ocidente do Império Romano. Esse era o idioma
de todos os homens instruídos daquela época. Por essa razão os Evangelistas usaram o grego e não o hebreu
para escrever os Evangelhos, a fim de torná-lo acessível a um maior número de pessoas.
Naquele tempo a escrita usava somente as letras maiúsculas do alfabeto grego, não usava nenhuma
pontuação e não separava as palavras. As minúsculas e o espaçamento entre palavras passaram a ser usadas
somente no século IX. A pontuação veio somente com o aparecimento da imprensa no século XV. A

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separação dos capítulos foi introduzida no ocidente pelo Cardeal Hugo no século XIII e a separação em
versículos foi feita pelo tipógrafo parisiense Roberto Stephen no século XVI.
Através de seus sábios bispos e presbíteros a Igreja sempre zelava pela preservação dos textos sagrados
na sua pureza original, principalmente antes do aparecimento da imprensa, tempo em que os textos eram
copiados manualmente, onde erros poderiam se infiltrar em novas cópias. É sabido que alguns estudiosos
cristãos do século II e III, como Orígenes, Esequias — bispo do Egito e Luciano, presbítero de Antioquia
trabalharam com muito empenho nos aditamentos aos textos bíblicos. Com a invenção da imprensa foi dada
uma especial atenção à reprodução dos Livros Sagrados do Novo Testamento, para assegurar que fossem
copiados dos manuscritos mais antigos e confiáveis. Durante o primeiro quarto do século XVI apareceram
duas publicações do Novo Testamento em grego: "O Livro Completo das Escrituras," publicado na Espanha
e a edição de Erasmo de Rotterdam na Basiléia. É importante mencionar a edição de Tischendorf, no fim do
século passado, resultado de um trabalho de comparação de novecentos manuscritos do Novo Testamento.
Tanto estes trabalhos críticos como principalmente os incansáveis esforços da Igreja habitada e guiada
pelo Espirito Santo, nos asseguram que nos dias de hoje possuímos o texto grego puro e não adulterado dos
Livros Sagrados. Podemos afirmar que estes livros são os mais genuínos porque são a melhor edição de todos
os livros antigos.

O Tempo Em Que os Evangelhos Foram Escritos


Não podemos precisar com exatidão quando cada um dos livros do Novo Testamento foi escrito.
Entretanto não há dúvida de que todos foram escritos na segunda metade do primeiro século. Isto é evidente
pelo fato de que uma série de escritas no segundo século - como as Apologias do Santo Mártir Justino o
filósofo, escritas no ano 150, as obras poéticas do autor pagão Celso, escritas no segundo século e
especialmente as epístolas do bispo-mártir Inácio Teóforo de Antióquia, escritas aproximadamente em 107
d.C. — todos fazem inúmeras referências aos livros do Novo Testamento.
Os primeiros livros do Novo Testamento foram as epístolas dos apóstolos, escritas por causa da
necessidade de fortalecer a fé das recém-fundadas comunidades cristãs. Em pouco tempo também surgiu a
necessidade de uma documentação sistemática da vida e dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Não importa o quão exaustivamente os chamados "críticos contraditórios" se esforçaram em minar a
confiança na autenticidade histórica dos evangelhos e outros livros sagrados, afirmando que apareceram
muito mais tarde (Bauer e sua escola), os novos achados na literatura patrística da igreja (especialmente os
antigos trabalhos dos Santos Pais da Igreja), nos atestam que todos os quatro evangelhos foram de fato
escritos no primeiro século.
Pelas inúmeras deduções podemos concluir que o evangelho de São Mateus foi escrito primeiro e no
máximo 50-60 anos depois do nascimento de Cristo. O evangelho de São Marcos e São Lucas foram escritos
mais tarde, mas certamente antes da destruição de Jerusalém, ou seja, antes de 70 A.D. São João o Teólogo
escreveu o seu evangelho depois dos outros e muito provavelmente no final do primeiro século, quando
estava com mais de 90 anos. Algum tempo antes ele escreveu o Apocalipse ou o Livro da Revelação. Os
Atos dos Apóstolos foram escritos logo após o evangelho de São Lucas e como indicado no prefácio, servem
como continuação do evangelho de São Lucas.

O Significado dos Quatro Evangelhos


Os quatro evangelhos harmoniosamente relatam a vida e os ensinamentos de Cristo Redentor, Seus
milagres, os Seus sofrimentos na Cruz, Sua morte e sepultamento, Sua gloriosa ressurreição e ascensão ao
céu. Mutuamente complementando-se e esclarecendo, os evangelhos representam um único livro, sem
contradições ou variações no que é mais importante e fundamental.
A misteriosa carruagem vista pelo profeta Ezequiel no rio Chebar (Ezequiel 1:1-28), com cinco
criaturas, que tinham semelhança com um homem, um leão, um touro e uma águia, serve como símbolo dos
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quatro evangelhos. Ao início do século V, a arte cristã representa Mateus como um homem ou anjo, Marcos
como um leão, Lucas um boi e João como uma águia.
Além dos quatro Evangelhos havia mais 50 outras escritas similares durante os primeiros séculos que
se apresentavam como "evangelhos" e declaravam origem apostólica. A Igreja chamou estas escritas de
Apócrifos - o que significa não-credenciados ou livros repudiados. Estes livros contém narrativas distorcidas
e de significado duvidoso. Estes incluem "o primeiro evangelho de Jó," "a história de José o carpinteiro," "o
evangelho de Tomás," "o evangelho de Nicondemos"e outros. Nestes evangelhos" podemos encontrar as
mais antigas lendas relatando a infância e a juventude de Jesus Cristo.

Capítulo II
OS EVANGELHOS SINÓPTICOS

O Evangelho e os evangelhos. Antes de mais nada, o Evangelho é, de acordo com o sentido grego da
palavra, a Boa Nova da Salvação (cf. Mc 1,1), a pregação desta Boa Nova. Assim o entende o apóstolo Paulo
ao falar do seu evangelho: trata--se do anúncio da salvação na pessoa de Jesus Cristo. De sorte que, na
origem, o Evangelho não foi um livro, obra literária ou histórica; e se o título evangelho foi dado aos quatro
livros atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João, é porque cada um desses autores proclama esta Boa Nova
no relato que faz das palavras e obras de Jesus, bem como na narrativa que traz de sua morte e Ressurreição.
O leitor moderno, cioso de exatidão e sempre à cata de fatos estabelecidos e verificados, fica
desconcertado à vista dessa literatura, que lhe parece desconexa, cujo plano carece de continuidade, cujas
contradições parecem insuperáveis e que não logra responder a todas as perguntas que se lhe fazem. Tal
reação será vantajosa para o leitor, se o levar a suscitar os verdadeiros problemas, primeiramente o do gênero
literário dos evangelhos. Os seus redatores não são literatos que, instalados numa escrivaninha, a manusear
documentos devidamente classificados, se teriam abalançado a escrever uma vida de Jesus de Nazaré desde o
nascimento até a morte. Totalmente diversa é a maneira como se deve encarar a composição dos evangelhos.
Jesus falou, anunciou a Boa Nova do Reino, convocou discípulos, curou doentes, realizou atos significativos.
Após sua morte e à luz da fé pascal, os discípulos e, depois deles, os pregadores anunciaram a sua
Ressurreição, repetiram suas palavras e referiram seus atos de acordo com as necessidades da vida das
Igrejas. Durante cerca de quarenta anos, formaram-se tradições orais, que conservaram e transmitiram, por
meio da pregação, da liturgia e da catequese, todos os materiais com que deparamos nos evangelhos. Aliás, é
verossímil que, no decorrer da história, alguns desses materiais já tivessem recebido uma forma escrita: por
exemplo, certas formulações litúrgicas como as profissões de fé, coletâneas de palavras de Jesus ou o relato
da Paixão de Jesus que, sem dúvida, bem cedo constituiu um ciclo de narrações claramente estruturado.
Os evangelistas trabalharam a partir desses dados tradicionais que, na vida movediça das primeiras
comunidades, já tinham adquirido formas diversas, à medida que a Boa Nova, antes de passar a texto
estabelecido, era uma palavra viva, que, simultaneamente, nutria a fé dos cristãos, ensinava os fiéis,
adaptava-se aos diversos ambientes, respondia às necessidades das Igrejas, animava sua liturgia, exprimia
uma reflexão sobre a Escritura, corrigia os erros e, ocasionalmente, replicava aos argumentos dos
adversários.
Destarte, os evangelistas recolheram e puseram por escrito, cada um segundo sua perspectiva, o que
lhes era fornecido pelas tradições orais. Mas não se contentaram com isto. Tinham também consciência de
estarem anunciando a Boa Nova para os homens de seu tempo, com a preocupação de ensinar e responder
aos problemas das comunidades para as quais escreviam. Mais adiante se verá qual foi a perspectiva peculiar
de cada evangelista. Ressaltemos, por enquanto, um fato capital, que agora quase não é mais contestado,
depois das pesquisas das últimas gerações sobre a história da tradição e da formação dos evangelhos: os
evangelhos nos remetem, por numerosos pormenores característicos, à fé e à vida das primeiras comunidades
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cristãs. Dentre muitas ilustrações possíveis, os textos que nos contam a última ceia de Jesus são um exemplo
disso. Deles, possuímos quatro versões (Mt, Mc, Lc, 1Cor), que na realidade se reduzem a dois tipos: por um
lado, um testemunhado por Mateus e Marcos, por outro, o que nos é fornecido por Lucas e Paulo. Ora, esses
dois tipos, que diferem em vários pontos, apresentam-se ambos como textos que reproduzem fórmulas
tradicionais já fixadas pelo uso litúrgico. Paulo transmite o que recebeu. Ao invés de narrar a última ceia de
Jesus em todos os seus pormenores, os evangelistas centram sua narrativa nos gestos e palavras do Mestre,
que se repetem na celebração eucarística. Assim, a fórmula tendo abençoado, que é a de Mateus e Marcos,
denota provavelmente um uso palestino (conforme à bênção judaica), ao passo que o uso por Lucas e Paulo
do termo dar graças (em grego eukharisté×) evoca de preferência um ambiente helênico. Outros exemplos
de duas versões diferentes de uma mesma tradição, como o pai-nosso (Mt 6,9-15; Lc 11,2-4), ou as bem-
aventuranças (Mt 5,3-12; Lc 6,20-26), nos permitem acercar-nos tanto da natureza das tradições recolhidas
como do pensamento particular de cada evangelista.
A passagem pela tradição oral também explica por que numerosas perícopes se apresentam como
pequenas unidades literárias centradas numa palavra ou num ato de Jesus, sem enquadramento cronológico
ou geográfico preciso; indicam-no as fórmulas introdutórias, vagas por si sós: naqueles dias (Mt 3,1; Mc
8,1), naquele tempo (Mt 11,25), depois disso (Lc 10,1), ora (Lc 8,22; 9,18.27.51; 11,27). Cada uma dessas
narrativas teve de início uma existência independente das outras, e sua acomodação é muitas vezes obra dos
evangelistas. No emprego que as primeiras gerações fizeram dessas traduções, as recordações narradas foram
vazadas em certas formas literárias de relativa fixidez; é o que sucede em relatos, episódios que enquadram e
situam um dito de Jesus , cenas de controvérsia, de cura ou de milagre . Uma estrutura peculiar a cada um
destes gêneros é muitas vezes fácil de descobrir.
Então, como se devem considerar essas tradições, se estão a tal ponto marcadas pelo uso que se fez
delas antes de serem fixadas nos evangelhos? Qual o crédito que se lhes pode conceder? Qual a sua relação
com a realidade da história de Jesus? A essas perguntas pode-se responder que, sendo os nossos documentos
testemunhos da fé em Jesus, o Cristo, é este Cristo reconhecido pela fé que eles nos querem fazer encontrar.
Contudo, afirmar que os evangelhos são uma pregação, que seus autores — mesmo Lucas , cioso da história
— pretenderam antes de mais nada ser testemunhas da Boa Nova, não significa serem eles indiferentes à
realidade (histórica) dos fatos que referem; mas o seu interesse maior é fazer sobressair o seu sentido, mais
do que reproduzir exatamente o teor literal das palavras de Jesus (cf. as diferentes formas das bem-
aventuranças, do pai-nosso, da fórmula eucarística) ou as circunstâncias e pormenores dos seus atos.
Apresentam uma tradição que já é uma interpretação. É pelo estudo minucioso dos textos que tais palavras ou
tais relatos hão de surgir como sólidos pontos de referência para a história do ministério de Jesus não poucos
métodos acham-se ao alcance dos historiadores para tentar estabelecê-los.
Aqui, dois pontos há que devem ser especificados:
— É certo que, através da tradição, e apesar de não se poder verificar historicamente todo o conteúdo
do evangelho, numerosos indícios — que, aliás, esclarecem os demais textos — nos permitem saber que a fé
em Cristo ressuscitado se enraíza na vida e nas ações de Jesus.
— Só temos acesso às palavras e ações de Jesus através das "traduções" que delas nos fornecem as
tradições antigas e as redações dos evangelistas. A transcrição em grego daquilo que primordialmente foi
vivenciado em aramaico é apenas o aspecto mais aparente desse fenômeno de transmissão. Pode-se tentar
reconstituir o que Jesus falou em sua língua materna, bem como se pode tentar reconstituir as circunstâncias
exatas em que pronunciou tal parábola ou operou tal cura. Todavia, essas tentativas ficam afetadas em seus
pormenores por uma probabilidade maior ou menor. Essas limitações da verificação histórica decorrem da
própria natureza dos evangelhos. A fé em Cristo vivo iluminava as recordações referentes a Jesus e se
exprimia por um testemunho vivo, com tudo o que este comporta de relatos fragmentários, repetições,
ajustes, intervenções da testemunha ou do narrador. A função e a virtude própria desses textos são, todavia,
atrair o leitor à fé.

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O estudo crítico dos evangelhos permite assim ultrapassar uma leitura ingênua e inserir-se na
perspectiva própria do Novo Testamento. Por mais longe que se possa remontar na pesquisa, a pergunta fica
de pé: quem é Jesus? Ao invés de se sentir desprovido e incerto, o leitor que se dispuser a ler os evangelhos
nesta perspectiva, notadamente, fazendo um estudo comparado dos textos, sempre encontrará mais do que de
início suspeitava. Pois, com seus múltiplos elementos de resposta e seu modo de compreender os dados da
tradição, cada um dos evangelhos fornecer-lhe-á o meio de verificar e enriquecer seu conhecimento de Jesus,
fazendo-o participar do movimento que, sem cessar, vai do passado de Jesus à fé atual da comunidade cristã
e da convicção das testemunhas, àquele que é sua fonte.

Os evangelhos e suas relações mútuas. O evangelho chegou até nós sob a forma de quatro livretes. À
primeira leitura, percebe-se que o quarto evangelho possui características que o situam à parte, embora não
deixe de ter ligações com os três primeiros. Estes três são testemunhos cuja redação é anterior à do evangelho
de João. O evangelho segundo Marcos, cuja origem é, com toda a verossimilhança, romana, pode ser datado
dos anos 65-70. Os evangelhos segundo Mateus e Lucas, redigidos quinze a vinte anos mais tarde, não
refletem os mesmos ambientes e têm destinatários bem diferentes. Contudo, suas características são tão
semelhantes que puderam ser denominados "sinópticos", nome proveniente de uma obra publicada no fim do
século XVIII com o título de Sinopsis (ou seja: visão simultânea ou mesma visão), que trazia os textos de
Mateus, Marcos, Lucas em três colunas paralelas, de forma a facilitar a comparação entre eles. Esse fato cria
um problema particular.
a) O fato sinóptico. As semelhanças e diferenças entre os sinópticos referem-se: ao material
empregado, à disposição em que se apresenta e à sua formulação.
— Quanto ao material, eis um levantamento aproximativo do número de versículos comuns a dois ou
três evangelhos:
Mt ;Mc ;Lc
comuns aos três ;330 ;330 ;330
comuns a Mt-Mc ;178 ;178
comuns a Mc-Lc100 ;100
comuns a Mt-Lc ;230230
peculiares a cada um ;330 ;53 ;500
Ao lado das partes comuns, existem fontes próprias para cada evangelho.
— Quanto à disposição, as perícopes agrupam--se em quatro grandes partes:
A. A preparação do ministério de Jesus.
B. O ministério da Galiléia.
C. A subida para Jerusalém.
D. Ministério em Jerusalém . Paixão e Ressurreição.
Dentro dessas quatro partes, Mateus distribui as suas perícopes numa ordem que lhe é peculiar até o
cap. 14; a partir daí, apresenta perícopes comuns a ele e a Marcos , na mesma ordem que este. Lucas intercala
as perícopes que lhe são próprias no meio de um quadro geral que é idêntico ao de Marcos (assim, Lc 6,20–
8,3 ou 9,51–18,14). Deve--se, contudo, notar que, no interior desta concordância de conjunto, há
discrepâncias, por vezes, no próprio seio de passagens comuns (assim, em Lucas, o chamamento dos
discípulos ou a visita a Nazaré).
— Quanto à formulação, verifica-se igualmente um estreito parentesco entre os textos: assim, um
mesmo termo raro (afientai) encontra-se em Mt 9,6 = Mc 2,10 = Lc 5,24; ou ainda, somente duas palavras
diferem, entre 63, em Mt 3,7b-10 = Lc 3,7b-9. Por outro lado, uma discordância surge bruscamente em
passagens que no conjunto são parecidas: numa estrutura fixa, as palavras são diferentes, ou então com
palavras idênticas, a estrutura é diferente.
b) Interpretação do fato sinótico. O problema criado pelo fato sinótico estará resolvido quando se
tiverem explicado juntamente as semelhanças e as divergências.
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Reina um acordo entre os críticos a respeito de certos pontos. Primeiro, quanto à origem dos
evangelhos. Dois fatores determinaram o estado atual dos textos: a função da comunidade que criou a
tradição, quer oral quer escrita, e a função do escritor que manejou as diversas tradições. As variações nas
hipóteses dependem essencialmente da importância relativa atribuída pelos críticos a estes dois fatores:
poderiam as discordâncias explicarem-se todas pela atividade redatorial do escritor ou exigiriam o recurso a
contatos havidos em nível pré-sinóptico?
Quanto ao método a seguir, reina certo acordo. As omissões ou acréscimos de matérias e as
modificações na formulação podem ser explicadas mais ou menos adequadamente pelas "intenções" dos
diversos redatores; mas por causa da arbitrariedade que ameaça as interpretações que se podem dar das
mesmas, a solução do problema não pode ser fornecida no nível dos materiais ou da formulação. Só o exame
da disposição autoriza uma resposta firme. Para explicar as concordâncias entre longas seqüências de textos,
impõe-se a hipótese de uma dependência literária (e não somente oral), quer imediata (interdependência),
quer mediata (dependência de uma fonte comum). Para explicar as discordâncias, uns acentuam a influência
da comunidade durante a fase pré-sinóptica, outros, a dos redatores. Mais exatamente, os críticos concordam
geralmente em afirmar dois princípios: Marcos depende de Mateus e de Lucas, Mateus e Lucas são entre si
independentes; com efeito, estes últimos entram em desacordo quando um deles deixa de concordar com a
ordem de Marcos, e ambos têm passagens comuns com Marcos que o outro não repetiu (Mt: 178 vv.; Lc: 100
vv.).
O desacordo entre os críticos subsiste quanto à interpretação da relação de Marcos com os outros dois
sinópticos. Teria havido contatos, entre Mateus e Marcos e entre Lucas e Marcos, sob a forma de
dependência imediata do evangelho de Marcos ou sob a forma de dependência relativamente a um texto pré-
sinóptico comum? Eis, em resumo, as duas modalidades de hipóteses que hoje são sustentadas:
1. Certos críticos, mais sensíveis às diferenças do que às concordâncias, preferem renunciar à
interdependência imediata dos sinópticos.
a) Uns evocam uma documentação múltipla: os evangelistas teriam utilizado coleções mais ou menos
extensas, agrupando desde o início (provavelmente com vistas à pregação missionária da Igreja) pequenas
compilações de fatos e sentenças (agrupamentos de milagres, reunião de sentenças…); assim se explicariam
as concordâncias menores entre Mateus e Lucas contra Marcos , que contradizem a sua dependência deste;
assim se justificariam também as variantes que dificilmente podem ser atribuídas ao trabalho redatorial ou a
perspectivas teológicas diferentes.
b) Outros críticos, embora se mantenham fiéis à flexibilidade da hipótese precedente, estimam
descobrir na origem da tradição sinótica dois documentos principais, além das tradições singulares. Impõe-se
uma constatação: a disposição difere, conforme se trate da parte central (pregação na Galiléia: Mt 4,13–13,58
par.) ou das duas seções que a enquadram (Mt 3,1–4,12 par.; Mt 14,1–24,51 par.). A estreita concordância
que domina essas duas seções envolventes sugere a existência de um documento de base idêntico para os três
evangelhos; pelo contrário, a discordância que caracteriza a parte central (ministério na Galiléia) revela um
estado menos adiantado da organização das tradições. Destarte, na origem dos três sinópticos, haveria, além
das tradições singulares, dois documentos principais: um, já fortemente estruturado, outro em estado ainda
fluido, no momento em que foram empregados pelos evangelistas, embora seu estado de fusão estivesse
então mais ou menos adiantado.
2. Todavia, a maioria dos críticos aderem à hipótese das Duas Fontes. Conforme esta, Mateus e Lucas
dependem imediatamente de Marcos, bem como de uma fonte comum independente deste (muitas vezes
chamada Q, do alemão Quelle). Marcos e esta documentação seriam as duas fontes principais de Mateus e
Lucas. O esquema seguinte resume esta hipótese.
Hoje em dia esta hipótese é apresentada com muito mais nuanças do que inicialmente. Ela tem a grande
vantagem de facilitar o estudo do trabalho redacional de Mateus e Lucas. Assim explicar-se-iam pelo
trabalho de redação literária as adições, omissões e transposições verificadas no fato sinóptico. Convém
observar que, em nossos dias, não se ousa mais resolver categoricamente a questão de saber se o documento
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comum a Mateus e Lucas é um documento escrito ou uma fonte oral, nem de saber se o texto de Marcos
usado por Mateus e Lucas é o que nós possuímos ou algum outro.
No entanto, seja qual for a hipótese crítica adotada para abordar o problema sinóptico, só um trabalho
minucioso permite determinar a natureza das perspectivas de cada evangelista. Acrescente-se que o exame
das fontes literárias não é nem o único, nem talvez o mais importante para compreender melhor os
evangelhos sinópticos. Fontes documentais, tradição oral, influência do ambiente de origem e utilização de
material diverso pelos redatores finais são elementos que se devem levar simultaneamente em consideração,
ao se querer dar conta do fenômeno original que é a literatura evangélica.
Este rápido apanhado da questão sinóptica talvez ajude o leitor a melhor penetrar as perspectivas de
cada um dos evangelistas que serão indicadas nas introduções particulares a Mateus, Marcos e Lucas.

Capítulo III
O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS

O evangelista Mateus, que também tinha o nome de Levi, era um dos doze apóstolos de Cristo. Antes de
ser chamado por Cristo ele era um publicano ou coletor de impostos romanos, e, como tal, não era benquisto
aos seus compatriotas, os judeus. Os judeus desprezavam e odiavam os publicanos porque eles serviam os
governantes pagãos de seu povo e criavam privações ao arrecadar impostos e muitas vezes praticavam
extorsão neste processo.
São Mateus relata o seu chamado no capitulo 9 no seu evangelho, referindo à sua pessoa como "Mateus,"
enquanto que Marcos e Lucas o chamam "Levi." Os judeus tinham o costume de possuir vários nomes.
Profundamente comovido pela misericórdia do Senhor em não desprezá-lo, não obstante o desprezo dos
judeus e especialmente dos seus líderes, os escribas e fariseus, Mateus de todo o coração acolheu os
ensinamentos de Cristo. Ele compreendeu profundamente a superioridade das mensagens de Cristo sobre as
opiniões mesquinhas e as tradições dos fariseus. Eles apenas aparentavam retidão porém eram egoístas,
cruéis e desprezavam pessoas simples. É por isso que somente Mateus apresenta com tantos detalhes o
discurso acusatório do Senhor contra os escribas, fariseus e outros hipócritas (veja o capítulo 23 deste
evangelho). Supomos que por essa mesma razão ele tão fervorosamente acolheu a idéia da salvação de seu
povo, tão impregnado de falsos conceitos e opiniões de fariseus e é por isso que escreveu o evangelho para os
judeus. Supõe-se que inicialmente ele escreveu em hebreu e algum tempo mais tarde ele mesmo teria
traduzido para o grego.
O objetivo principal de Mateus foi provar aos judeus que Jesus Cristo foi realmente o Messias que os
profetas previram no Antigo Testamento e que as Escrituras Sagradas do Antigo Testamento tornam-se claras
e assumem sua totalidade ou integridade somente à luz dos ensinamentos de Cristo. Por esse motivo ele
inicia seu evangelho com a árvore genealógica de Cristo, demonstrando aos judeus a sua descendência de
Davi e Abraão. Ele faz inúmeras referências ao Antigo Testamento (mais de 100) para provar que Cristo
corresponde às profecias do Antigo Testamento. Ao dizer que o seu primeiro evangelho "é para os judeus "
pode ser interpretado assim também pelo fato de que São Mateus, ao contrário dos outros evangelistas,
menciona costumes judeus sem explicar suas razões ou significado. Da mesma forma ele inclui alguns
termos aramaicos usados na Palestina, sem explicar o seu significado.
Em seu Evangelho Mateus deu especial ênfase às Suas relações e atividades como Rei. O seu termo
favorito para designar ......... foi a frase Reino dos Céus. Mateus mostrou que o Messias inaugurou seu
Reinado com toda a autoridade no céu e na terra (cap. 28:18). O Reino deve ser entendido como a leal
submissão de Seu povo para Ele e obediência à Sua lei. O Seu Reino é espiritual. Além do mais, Mateus
assegurou que o Rei retornará na(regeneração) e sentará no trono de Sua glória enquanto que "vós
(Apóstolos) que me acompanharam também sentarão em 12 tronos, e julgarão as 12 tribos de Israel" (cap.
19:28).

Evangelhos I e II 9
Ele também avisou os leitores de que os benefícios do Reino se estenderão além dos limites do povo
judeu. Far-se-ão discípulos no tempo presente de todas as nações (cap. 28:19), enquanto que o Reino cresce
como a árvore da mostarda de sua pequenina semente (cap. 13:31). No tempo que há de vir todas as nações
se juntarão diante do Rei e os que crêem serão convidados a herdar o Reino (ch. 25:32-34), Neste reino o
povo virá do oriente e do ocidente e do norte e do sul e se sentará com os patriarcas enquanto que os filhos
dos incrédulos (os judeus descrentes) serão banidos (cap. 8:11-12). Certamente Mateus teve em mente a
intenção de impressionar os seus irmãos judeus que a missão do Rei era salvar o povo de seus pecados - por
isso o nome do Rei era Jesus que significa "salvador " (cap. 1:21). A fim de salvar Seu povo o Rei deu sua
vida como resgate. Seu sangue foi derramado para a remissão dos pecados (cap. 26:28). O seu poder para
resgatar os homens de seu inimigo (o Demônio) foi demonstrado primeiro ao vence-lo em todas as tentações
(cap.4:1-11) e segundo ressuscitar vitoriosamente da morte. (cap. 28).
Depois de pregar na Palestina por muito tempo, São Mateus viajou para outras nações para
divulgar o evangelho e terminou sua vida como mártir na Etiópia.

Esboço Do Livro De Mateus

Autor: Mateus
Data: 60-70 A.D.

1. Autoria Mateus, que tinha por sobrenome Levi (Mc. 2:14), era um coletor de impostos (publicano) judeu,
trabalhando para o governo romano (Mt.9:9). Por colaborar com os romanos, que eram odiados pelos judeus
como dominadores estrangeiros, Mateus (como todos os publicanos) era desprezado por seus compatriotas.
Apesar disso, Mateus positivamente à chamada singela que Cristo lhe fizera para segui-Lo. Depois do relato
do banquete que ofereceu a seus colegas para que eles também pudessem conhecer a Jesus, ele não volta ser
mencionado, exceto na lista dos Doze Apóstolos (MT. 10:3; veja ainda At. 1:13). A tradição afirma que ele
pregou na Palestina por doze anos depois da ressurreição de Cristo, e que depois foi pregar em outras terras,
mas quanto a isso não há certeza.

2. A abordagem Peculiar de Mateus Mateus foi escrito para judeus, visando a responder as suas
indagações sobre Jesus de Nazaré, que alegava ser o Messias de Israel. Seria Ele de fato o Messias predito no
Antigo Testamento? Se era, porque não estabeleceu o reino prometido? Esse reino será estabelecido algum
dia? Qual o propósito de Deus para esse ínterim? Assim, neste Evangelho, Jesus é freqüentemente chamado
de Filho de Davi e é apresentado como Aquele que cumpre as profecias messiânicas do Antigo Testamento; o
reino do Céu é o assunto central de boa parte de Seu ensino aqui registrado.
Mateus também é caracterizado por sua inclusão de pessoas estranhas ao judaísmo. Os versículos finais
registram a comissão de ir e pregar as todas as nações, e, nos quatro Evangelhos, somente em Mateus surge a
palavra ―igreja‖. (16:18; 18:17). Jesus também é chamado de Filho de Abraão (1:1), pois em Abraão ―serão
benditas todas as nações da terra‖ (Gn. 12:3).

3. Data - Embora este Evangelho receba ocasionalmente data entre as décadas de 80 e 90 do primeiro
século, o fato de a destruição de Jerusalém ser ainda considerada um acontecimento futuro (24:2) parece
exigir uma data mais recuada. Alguns pensam que Mateus foi o primeiro Evangelho a ser escrito (por volta
do ano 50), ao passo que outros discordam alegando que só foi escrito na década de 60.
4. Conteúdo - Divisões importantes de Mateus são o Sermão do Monte (capítulo 5-7), que inclui as Bem-
aventuranças (5:3-12) e a Oração do Senhor (6:9-13); as parábolas do reino (capítulo 13); e o Sermão
Profético, que trata de eventos futuros (capítulo 24-25). O tema do livro é Cristo, o Rei dos Reis.

Evangelhos I e II 10
Capítulo IV
O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS

Ordem e temas principais. O segundo evangelho apresenta-se sob a forma de uma seqüência de
narrativas geralmente breves e sem conexões muito precisas. Seu quadro mais característico é constituído por
indicações geográficas. A atividade de Jesus decorre na Galiléia (1,14) e arredores desta região, estendendo-
se até as terras pagãs (7,24.31; 8,27). A seguir, passando pela Peréia e Jericó (cap. 10), Jesus sobe a
Jerusalém (11,1).
Este quadro não revela a disposição interna do livro, dominada antes pelo desenvolvimento de alguns
temas fundamentais.

A. O Evangelho. Logo às primeiras palavras, o livro declara o interesse atribuído ao "Evangelho de


Jesus Cristo, Filho de Deus" (1,1), denominado também, pouco adiante, "Evangelho de Deus" (1,14), ou
"Evangelho" sem mais (1,15). Para Marcos, bem como para Paulo, esta palavra designa a Boa Nova,
destinada a todos os homens e cuja aceitação define a fé cristã: por meio de Jesus, Deus realizou suas
promessas em favor deles (cf. 1,1, nota). Por isso, o Evangelho deve ser proclamado a todas as nações
(13,10; 14,9). Este empreendimento define a atualidade à qual Marcos não receia adaptar certas palavras de
Jesus: desaparecido este, renunciar a si mesmo e tudo abandonar por ele é fazê-lo em prol do Evangelho
(8,35 nota 10,29). Porque a ação de Deus que se manifestou pela vida, morte e ressurreição de Jesus,
prolonga-se neste mundo por meio da palavra confiada aos discípulos. Mais do que uma mensagem provinda
de Deus e referente a Jesus Cristo, o Evangelho é esta ação divina em meio aos homens. Eis o presente, a
partir do qual Marcos se volta para o passado, a fim de falar do seu "começo" (1,1) e para caraterizar, a esta
luz, a existência cristã.

B. Jesus Cristo, Filho de Deus. As promessas divinas começaram a cumprir-se com a pregação de
João Batista, que abriu o caminho para Jesus de Nazaré (1,2-8). Este, designado por Deus como seu Filho e
vitorioso sobre Satanás no deserto, inaugura a pregação do Evangelho na Galiléia (1,14-15). Daí por diante,
começa um verdadeiro drama, o da manifestação de Cristo, Filho de Deus, em duas fases distintas.
1. O poder do ensinamento e dos atos de Jesus contra as forças do mal é reconhecido por um vasto
público (1,21-45; 3,7-10…). Mas o ser Jesus Filho de Deus é um fato que deve manter-se secreto (1,25;
3,12). A oposição dos observantes da lei mosaica, orgulhosos e impertinentes, manifesta-se (2–3,6) e chega a
ponto de apresentar Jesus como instrumento do príncipe dos demônios (3,22-30). Entretanto, os discípulos
distinguem-se nitidamente da multidão (4,10.33-34). E, entre eles, a pergunta dos primeiros que aparecem:
"Que é isto?" (1,27), reveza-se com esta outra: "Quem é este?" (4,41). As respostas divergem (6,14-16; 8,27-
28). E, não obstante a sua profunda incompreensão da missão de Jesus (6,52; 8,14-21), os discípulos chegam
a reconhecer, pela boca de Pedro, que ele é o Cristo (8,29). Mas recebem ordem de se calar (8,30).
2. A partir de então, começa um ensinamento novo: o Filho do homem deve passar pelo sofrimento, a
morte e a ressurreição. Este ensinamento, repetido três vezes (8,31-33; 9,30-32; 10,32-34), conduz o leitor ao
confronto de Jesus com seus adversários em Jerusalém (caps. 11–13). Aí, o drama culmina: o segredo de
Jesus é desvendado no decurso da Paixão (caps. 14 e 15). Sua declaração perante o Sinédrio, que o condena à
morte (14,61-62), e a palavra do centurião na hora de sua morte (15,39) coadunam-se com as revelações de
Deus por ocasião do batismo e da Transfiguração (1,11; 9,7) e justificam o título do livro: Jesus é o Cristo, o
Filho de Deus (1,1 notas). Entrementes, as indiscrições malévolas dos demônios (1,24.34; 3,11) e a fé
messiânica dos discípulos (8,29) foram reduzidas ao silêncio: de fato, o sentido das mesmas não se poderia
manifestar antes da paixão e morte de Jesus.
O relato da paixão constitui o ápice do livro. Ele é preparado não só pelos conflitos em Jerusalém, pelo
tríplice anúncio que segue a profissão de fé de Pedro, e por uma observação já feita em 3,6; ele responde à
pergunta feita desde o primeiro ato público de Jesus, segundo Marcos (1,27), e permite compreender a
Evangelhos I e II 11
insistência do livro sobre o que se denominou segredo messiânico (cf. 1,34 nota 1,44 notas 8,30 nota). Esta
insistência corresponde, sem dúvida, ao fato de Jesus não ter sido reconhecido, ao tempo de sua vida terrena,
como o foi depois da Páscoa. Mas, já que o segredo incide exatamente nos títulos sob os quais se exprime a
fé cristã (1,1; 3,11; 8,29), Marcos parece querer indicar que eles eram prematuros, e permaneceram
equívocos para os judeus e para os pagãos, enquanto sua verdade não fosse reconhecida na humilhação do
Crucificado.

C. Jesus e seus discípulos. No "começo" do Evangelho de Marcos, Jesus não aparece só, mas
acompanhado dos discípulos que deveriam dar prosseguimento à obra começada. Desde o início da atividade
na Galiléia, Marcos narra, sem a menor preocupação de verossimilhança cronológica e psicológica, o
chamamento de quatro pescadores para seguirem a Jesus (1,16-29). A seguir, o Mestre anda sempre
acompanhado pelos discípulos, exceto quando os manda pregar (6, 7-30). Só no momento da Paixão, depois
da fuga deles, é que fica só. Mas o livro não termina sem ter anunciado por duas vezes o seu reagrupamento
na Galiléia em volta do Cristo ressuscitado (14,28; 16,7). A posição que lhes é assinalada no decurso da
narrativa permite aliás distinguir várias seções.
1. Na primeira fase da manifestação de Jesus, três cenas ilustram uma associação cada vez mais íntima
entre ele e seus discípulos: o chamamento dos quatro em vista da pescaria de homens (1,16-20), a escolha
dos Doze para viverem com ele e em vista da missão (3,13-19), finalmente a própria missão (6,7-13). Essas
três narrativas vêm acompanhadas de visões de conjunto sobre a sua atividade ou as reações que ele
provocava (1,14-15; 3,7-12; 6,14-16), como se o narrador sentisse a necessidade de se dar conta da situação,
antes de prosseguir.
Na primeira seção (1,16–3,6), os discípulos se mantêm inativos junto a Jesus; mas este se mostra
solidário com eles, em face das críticas despertadas por sua atitude referente às observâncias judaicas (2,13-
28). A segunda seção (3,7–6,6) os contrapõe aos adversários de Jesus, bem como à sua parentela carnal
(3,20-35), e os distingue da multidão como beneficiários de um ensinamento particular (4,10-25.33-34) e
testemunhas privilegiadas de milagres maravilhosos (4,35–5,43). A ruptura com Nazaré prepara a terceira
seção (6,7–8,30), na qual os Doze, enviados em missão, aparecem na qualidade de "apóstolos" (6,30),
encarregados de alimentar a multidão (6,34-44; 8,6). Entretanto, os discípulos recebem revelações que os
desconcertam (6,45-52; 7,17-23). Sua incompreensão, já manifestada por ocasião das parábolas (4,13),
agrava-se ainda mais (6,52; 8,14-21). A cura de um cego no final desta seção (8,22-26) tem para eles valor
exemplar (cf. 8,22 nota).
2. Depois da confissão messiânica de Pedro, cada um dos três anúncios da Paixão e da Ressurreição
esbarra na incompreensão dos discípulos e provoca declarações de rude franqueza acerca da condição pessoal
(8,34-38) e comunitária (9,33-50; 10,35-45) dos que devem seguir Jesus, tomando a sua cruz. Caso suceda
entrarem em cena a multidão ou pessoas outras que os discípulos, é a estes últimos que Jesus se dirige
principalmente ou explica em particular suas exigências (9,28-29; 10,10-16; 10,23-31). Continuamente se
passa do Mestre ao discípulo e, em relação a ambos, do rebaixamento voluntário à glória prometida. Neste
caso, porém, enquanto Jesus quer associá-los ao seu destino, eles permanecem obtusos. Esta seção conclui-se
novamente com a cura de um cego, que se põe a seguir Jesus (10,46-52).
As duas seções seguintes (caps. 11–13 e 14–16) mostram Jesus com as multidões, com seus
adversários, com seus juízes. Os colóquios com os discípulos são freqüentes e importantes. Jesus os inicia no
poder da fé e da oração (11,20-25), previne-os do comportamento a adotar em vista da chegada do Filho do
homem (13,1-37), os instrui sobre o sentido da sua morte na expectativa do Reino de Deus (14,22-25),
previne-os da defecção deles (14,26-31), previne-os contra a tentação (14,37-40). Mas a fuga deles no
Getsêmani e as negações de Pedro atestam o seu fracasso no seguimento de Jesus. Entretanto, nem tudo está
acabado: depois da Ressurreição, Jesus os precederá na Galiléia (14,28; 16,7).
A insistência na lentidão dos apóstolos em crer, sua contínua falta de compreensão, sua deficiência no
momento em que se cumpre na verdade a revelação do Cristo, Filho de Deus, responde certamente a um
Evangelhos I e II 12
plano premeditado. A função de continuadores do Evangelho que lhes é atribuída impede que pensemos
numa polêmica dirigida diretamente contra os primeiros discípulos de Jesus. Como a fé em Jesus só se
desenvolveu depois da Páscoa, a sua vida terrestre podia parecer a Marcos um tempo de manifestação real,
mas contida pela necessidade do segredo e limitada pela incompreensão dos discípulos. Esta,
paradoxalmente, valoriza o mistério de Jesus, indecifrável fora da fé pascal.
Ela assume, outrossim, o sentido de protótipo para a fé dos cristãos, sempre sujeita, como a deles, a
ficar em descompasso com relação à revelação divina. A cruz sempre há de ser um escândalo. Para ser
proclamado e acolhido em sua verdade, o Evangelho não só exige fidelidade aos termos da confissão da fé,
mas, sobretudo a autenticidade de uma vida em seguimento de Jesus. A compreensão do seu mistério é
inseparável de uma lenta e difícil iniciação à condição de discípulo.

O modo de escrever de Marcos. Aprouve a alguns louvar em Marcos sua arte de narrador. Se o seu
vocabulário é pobre (exceto quando fala de coisas concretas e das reações provocadas por Jesus), as suas
frases mal-concatenadas, seus verbos conjugados sem preocupação com a concordância de tempo, suas
próprias deficiências contribuem para dar vida a uma narrativa muito próxima do estilo oral. Contudo, por
sob o pormenor "colhido ao vivo", vislumbra-se muitas vezes a trama de um esquematismo que trai
elementos já tradicionais ou modelados para o uso das comunidades. Quando o narrador faz reviver a cena,
não apresenta o relato singelo de uma testemunha ocular. Aliás, a ausência de qualquer seqüência
cronológica, por elementar que seja, a indiferença pela psicologia dos personagens, a imagem estereotipada
da multidão impedem que se leia este evangelho como uma simples vida de Jesus. Mas, sem visos de
literatura, Marcos prima por sugerir o retrato vivo de um homem que, com suas reações imprevisíveis, sua
compaixão ou rudeza, com a surpresa que causa e com a determinação de sua palavra, contradiz as imagens
pré-fabricadas. Toda a alma se lhe traduz num olhar, que pode vir prenhe de cólera ou pleno de bondade
(3,5.34), de interrogação ou diligente atenção (5,32; 11,11), de afeição (10,21), de gravidade contristada ou
serena (10,23.27). Perante esse homem todas as atitudes são possíveis, da estupefação ao maravilhamento, da
desconfiança à decisão de matar e, para os discípulos, da adesão irrefletida à incompreensão e ao abandono.

Origem do livro. Por volta do ano 150, Papias, bispo de Hierápolis, atesta a atribuição do segundo
evangelho a Marcos, "intérprete" de Pedro em Roma. O livro teria sido composto em Roma, depois da morte
de Pedro (prólogo antimarcionita de século II, Irineu) ou ainda durante sua vida (segundo Clemente de
Alexandria). Quanto a Marcos, foi identificado com João Marcos, originário de Jerusalém (At 12,12),
companheiro de Paulo e Barnabé (At 12,25; 13,5.13; 15,37-39; Cl 4,10) e, a seguir, de Pedro em "Babilônia"
(isto é, provavelmente, em Roma), segundo 1Pd 5,13.
Admite-se comumente a origem romana do livro, depois da perseguição de Nero em 64. Disto podem
servir de indício certas palavras latinas grecizadas, várias construções de frases tipicamente latinas. Quando
menos, o cuidado de explicar os costumes judaicos (7,3-4; 14,12; 15,42) de traduzir as palavras aramaicas, de
frisar o alcance do Evangelho para os pagãos (7,27; 10,12; 11,17; 13,10) supõem que o livro se destina a não-
judeus, fora da Palestina. Quanto à insistência na necessidade de seguir Jesus carregando a própria cruz,
poderia ser de particular atualidade numa comunidade abalada pela perseguição de Nero. Por outro lado,
visto ser a ruína do Templo anunciada em Marcos sem nenhuma alusão clara ao modo como se efetuaram
esses acontecimentos em 70 (ao contrário de Mt 22,7 e Lc 21,20), nada impede que se date a composição do
segundo evangelho entre 65 e 70.
A relação do livro com o ensinamento de Pedro é mais difícil de determinar. A expressão de Papias,
"intérprete de Pedro", não é clara. Contudo, mais do que os pormenores descritivos e a feição de testemunho
ocular, o lugar nele ocupado por Pedro testemunha em favor de uma tradição petrina. Dentre o grupo dos
Doze, só se destacam Tiago e João, como fiadores, ao que parece, do testemunho de Pedro. Este nem por isso
é lisonjeado. Mas, se nem sempre desempenha um papel agradável, não há nisto sinal de oposição contra ele.

Evangelhos I e II 13
Fica, portanto, intacto o problema das fontes de Marcos. Os estudiosos as imaginam diversamente,
conforme a comparação com Mateus e Lucas os leve a ressaltar a importância de Marcos na origem destes ou
a supor a existência, anterior a Marcos, de uma síntese de tradições referentes a Jesus. Seja qual for a
hipótese, a composição do Evangelho de Marcos leva a pensar em uma etapa anterior da tradição, na qual os
gestos e palavras de Jesus eram transmitidos independentemente de qualquer visão de conjunto da sua vida
ou pregação. A narrativa da Paixão deve ter-se apresentado na origem sob a forma de uma seqüência com
vários episódios. Conjuntos elementares, como "o dia de Cafarnaum" (1,21-38) ou as controvérsias de 2–3,6
puderam constituir-se bastante cedo e já existir nas fontes de Marcos.
Outra questão que não recebeu resposta: como terminava o livro? Geralmente se admite que a
conclusão atual (16,9-20) foi acrescentada para corrigir o final abrupto do livro no v. 8 (cf. 16,9 nota). Mas
nunca saberemos se a conclusão original do livro foi perdida ou se Marcos julgou que a referência à tradição
das aparições na Galiléia no v. 7 bastava para encerrar sua narrativa.

Importância do livro. Marcos é para nós o primeiro exemplo conhecido do gênero literário chamado
evangelho. No uso da Igreja, foi muitas vezes preterido em favor das sínteses posteriores e mais amplas de
Mateus e Lucas. Ele tornou a ser valorizado pelos estudos literários e históricos dos séculos XIX e XX. Hoje,
renuncia-se a elaborar uma biografia de Jesus baseada unicamente nas seqüências de Marcos. Todavia, a sua
rudeza, a ausência de afetação, a abundância de semitismos, o caráter elementar da reflexão teológica
revelam um estágio antigo dos materiais utilizados. Os personagens e os lugares nomeados provêm de
tradições arcaicas. Os ensinamentos de Jesus, a insistência na proximidade do Reino de Deus, as parábolas,
as controvérsias, os exorcismos só encontram sua posição histórica de origem na vida de Jesus na Palestina.
As recordações não provêm diretamente de uma memória individual. Formuladas primeiro em vista das
necessidades da pregação, da catequese, da polêmica ou da liturgia das Igrejas, elas têm suas raízes no
testemunho dos primeiros discípulos.
O mérito de Marcos consiste em tê-las fixado no momento em que a vida das Igrejas disseminadas fora
da Palestina e a reflexão teológica atiçada pelo choque com as culturas estrangeiras estavam sujeitas a perder
o contato com as origens do Evangelho. Ele conseguiu manter viva, inapagável, a visão de uma existência
movimentada, difícil de compreender. Afinal, quem é este homem? A tal pergunta, Marcos traz a resposta
dos primeiros crentes, que foram as testemunhas primeiras. Mas, para quem se contentasse com repetir esta
resposta, ele reaviva a questão e lembra que a fé se comprova pelo engajamento incondicional no seguimento
de Jesus, sempre em ação, pelo Evangelho, no meio dos homens.

Esboço Do Livro De Marcos

Autor: João Marcos


Data: 50-60 A.D.

1- Autoria João Marcos era filho de Maria, uma mulher de riqueza e posição em Jerusalém (At. 12:12).
Barnabé era seu primo (Cl. 4:10). Marcos foi amigo íntimo (e talvez um convertido) do apóstolo Pedro (I Pe.
5:13). Teve o raro privilégio de acompanhar Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária, mas
falhou em não permanecer com eles até o fim. Por isso, Paulo recusou-se a levá-lo na Segunda viagem, de
modo que Marcos acompanhou Barnabé a Chipre (At. 15:38-40). Cerca de doze anos depois, está novamente
com Paulo (Cl. 4:10; Fm. 24), que, pouco antes de ser executado, manda chamar João Marcos (II Tm. 4:11).
Sua biografia prova que um fracasso na vida não representa o fim da utilidade.
2- A abordagem Peculiar de Marcos (1) Marcos escreveu para leitores gentios em geral e leitores
romanos em particular. Por esta razão a genealogia de Cristo não é incluída (quase não teria significado para
gentios), o Sermão do Monte não é mencionado e a condenação dos partidos judaicos recebe pouca atenção.
Como indicação adicional de que visava leitores gentios, Marcos achou necessário interpretar palavras
Evangelhos I e II 14
aramaicas (5:41; 7:34; 15:22) e usou palavras latinas não encontradas nos demais Evangelhos (―executor‖,
6:27; ―quadrante‖, 12:42). (2) Há apenas 63 citações e/ou alusões ao Antigo Testamento, em Marcos,
comparadas com cerca de 128 em Mateus e entre 90 a 100 em Lucas. (3) Este Evangelho enfatiza o que Jesus
fez, em lugar do que Ele disse. É um livro de ação (a palavra ―imediatamente‖ ocorre mais de 40 vezes).
3- Marcos e Pedro É de aceitação geral que Marcos recebeu do apóstolo Pedro boa parte das
informações contidas no Evangelho. Com a autoridade apostólica de Pedro subjazendo este Evangelho, ele
jamais sofreu qualquer contestação à sua inclusão no cânon das Escrituras.
4- Data Se alguém nega o fenômeno da profecia predita, terá de datar o livro depois de 70 A.D., por
causa de 13;2. Contudo, uma vez que o Senhor podia prever o futuro, uma data assim tardia é inútil. De fato,
se o livro de Atos precisa ser datado por volta de 61, e se Lucas, que é o primeiro volume de Atos, o
precedeu, o Evangelho de Marcos deve ser ainda anterior, já que Lucas aparentemente utilizou o livro de
Marcos para escrever o seu Evangelho. Isto aponta para uma data na década de 50. Muitos eruditos,
entretanto, acreditam que Marcos só foi escrito depois da morte de Pedro, depois de 67 mas antes de 70.
5- Conteúdo O tema do livro é ―Cristo, o Servo‖. O versículo-chave é 10:45, que divide o evangelho
em duas partes principais: o serviço do Servo (1:1-10:52) e o sacrifício do Servo (11:1 – 16:20).

Capítulo V
O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS

Informações Básicas
O Evangelho Segundo Lucas é o terceiro dos evangelhos do Novo Testamento, escrito em grego e
atribuído, por tradição, a são Lucas. Segue o mesmo esquema narrativo do evangelho de são Marcos e supõe-
se ter sido redigido em Roma ou na Grécia, entre os anos 58 e 60, usando diversas fontes hebraicas, orais e
escritas.

Autoria
O antigo historiador, Eusébio de Cesaréia, afirma que São Lucas veio de Antioquia e isto leva a pensar
que São Lucas era um pagão ou proselita — um pagão convertido ao judaísmo. Ele era médico, como visto
nas epístolas de São Paulo aos Colossenses. A antiga tradição acrescenta também que São Lucas era um
artista. O texto do seu evangelho explica em detalhe as instruções do Senhor aos setenta discípulos o que nos
leva a concluir que ele era um dos setenta. Sua extraordinária narrativa sobre a aparição de Nosso Senhor a
dois discípulos no caminho para Emaús onde ele se refere apenas a Cleopas pelo nome, atesta que ele tinha
sido aquele que está junto, agraciado pela aparição do Senhor (Lucas 24:13-33).
O terceiro evangelho e o livro dos Atos dos Apóstolos foram, segundo a tradição cristã, escritos por são
Lucas. Seus textos são os de maior expressão literária do Novo Testamento.
São Lucas viveu no século I da era cristã. Por seu estilo literário, acredita-se que pertencia a uma família
culta e abastada. De acordo com a tradição, exercia a profissão de médico e tinha talento para a pintura. As
primeiras referências a são Lucas constam das epístolas de são Paulo, nas quais é chamado de "colaborador"
e "o médico amado" (Cl 4:14). O próprio são Lucas se exclui do grupo de testemunhas diretas da vida de
Cristo. Diz um antigo texto: "Lucas, sírio de Antioquia, médico de profissão, discípulo dos apóstolos, depois
seguiu Paulo."
A participação de são Lucas na missão de são Paulo é indicada quando o autor emprega o plural "nós"
ao falar dos que pregavam, nos Atos dos Apóstolos. Nesse livro, conta que acompanhou são Paulo, por volta
do ano 51, em sua segunda viagem missionária de Trôade a Filipos. Depois da partida do apóstolo,
permaneceu em Filipos por cerca de seis anos. Novamente acompanhou são Paulo numa viagem a Jerusalém,

Evangelhos I e II 15
e também quando o apóstolo foi conduzido prisioneiro a Roma. Na véspera de seu martírio, são Paulo
lembrou: "Somente Lucas está comigo" (2Tm 4:11).
Comprometido com a verdade histórica, são Lucas registrou em seu evangelho o que ouvira diretamente
dos apóstolos e discípulos de Jesus: "...conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio, foram
testemunhas oculares e ministros da Palavra —, a mim também pareceu conveniente, após acurada
investigação de tudo desde o princípio, escrever-te de modo ordenado..." (Lc 1:2-3).
O símbolo de são Lucas como evangelista é o touro. São diversas as versões sobre sua morte: de acordo
com algumas, foi martirizado em Patras e, segundo outras, em Roma, ou ainda em Tebas.
Também, através dos Atos dos Apóstolos é evidente que na Segunda jornada do apóstolo Paulo, São
Lucas se tornou seu constante ajudante e quase um companheiro inseparável das viagens. Ele esteve com o
apóstolo Paulo quando este foi aprisionado pela primeira vez quando escreve as epístolas aos colossenses e
filipenses. Também estava com ele quando Paulo foi aprisionado pela Segunda vez e escreveu as epístolas
para Timóteo. Morreu como mártir em Acaia (Grécia). Durante a metade do século IV suas relíquias junto
com as do apóstolo André foram transferidas para Constantinopla.

Destinatário
Como está evidente no prefácio do terceiro evangelho, São Lucas escreveu o evangelho a pedido de um
homem ilustre, o Excelentíssimo Teófilo, que viveu na Antioquia e para quem ele escreveu os Atos dos
Apóstolos, que seria uma continuação dos relatos do Evangelho (Lucas 1:3 e Atos 1:1-2). Ele não somente
foi testemunha ocular das pregações de Jesus Cristo, mas também testemunha de outros escritos relatando a
vida e os ensinamentos de Cristo. Conforme suas próprias palavras ele examinou reiteradamente e comparou-
as. Portanto seu evangelho se distingue por aprimorada exatidão ao precisar tempo e lugar de determinado
evento em seqüência cronológica rigorosa.
O Excelentíssimo Teófilo, para quem foi escrito o terceiro evangelho, não viveu na Judéia nem esteve
em Jerusalém; pois não seria necessário a São Lucas dar explicações geográficas, por exemplo, que o Monte
das Oliveiras fica perto de Jerusalém, à distância da jornada de um sábado (mais ou menos 1.000 m). Por
outro lado parece que ele era familiarizado com as cidades de Siracusa, Frigia, Puteóli na Itália, a praça de
Ápia e as três estalagens em Roma, todos mencionados no Livro dos Atos e sobre os quais São Lucas não dá
explicações. De acordo com as afirmações de Clemente de Alexandria (início do III século) Teófilo teria sido
um rico e conhecido habitante de Antioquia (Síria) que praticava a fé em Cristo e cuja casa servia de igreja
para os cristãos de Antioquia.

O Texto. O evangelho de São Lucas claramente mostra a influência de São Paulo com quem colaborou
e fez viagens. Como Apóstolo aos gentios, São Paulo procurou desvendar a grande verdade, que Jesus Cristo,
o messias, veio à terra não apenas aos judeus mas também para os gentios e é o Salvador de todo o mundo e
toda a humanidade.
Junto com essa idéia fundamental, que é claramente transmitida ao longo de todo o terceiro evangelho, a
genealogia de Jesus Cristo é traçada até o primeiro ancestral na humanidade, Adão, e o Próprio Deus, a fim
de enfatizar o Seu significado para a toda a raça humana (Lucas 3:23-38).
Apresentada com um elegante prólogo, conforme o modelo da historiografia grega, e introduzida pelo
chamado "Evangelho da infância" (capítulos 1-2), o Evangelho de Lucas divide-se em três partes: (1)
atividade de Jesus na Galiléia (3-9:50); (2) o caminho para Jerusalém (10-18); (3) Jesus em Jerusalém;
paixão e morte; ressurreição. Lucas, portanto, segue o esquema simplificado de Mateus e Marcos. No
"caminho para Jerusalém", ele insere artificialmente um grande conjunto de textos, principalmente palavras
de Jesus, que não se encontram nos demais Evangelhos.
Lucas destaca propositadamente os aspectos mais atraentes da personalidade de Jesus: seu amor, sua
delicadeza e compaixão pelos pobres, as crianças, as mulheres, os pecadores, como nas parábolas do bom

Evangelhos I e II 16
samaritano, do amigo importuno, da ovelha perdida, do filho pródigo. Ressalta a piedade, a oração, a alegria
nascida da fé, a ação do Espírito Santo.
Algumas passagens, como a da missão de Elias para a viúva da região de Sidon, a cura de Naamã o
Sírio (Lucas 4:26-27) da lepra pelo profeta Elias, a parábola do filho pródigo e do publicano e fariseu são
encontrados em estreita coerência com os ensinamentos do apóstolo Paulo com relação a salvação não
somente dos judeus mas também dos gentios e a absolvição do homem perante Deus não por meio de leis
mas pela graça de Deus, dada exclusivamente através da Sua infinita misericórdia e amor para a humanidade.
Ninguém como São Lucas retratou tão vivamente o amor de Deus para os pecadores arrependidos, colocando
no seu evangelho uma coleção de parábolas e acontecimentos sobre esse tema. Além das parábolas
mencionadas, podemos também lembrar as parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida, do bom
samaritano, o arrependimento do chefe dos publicanos, Zaqueu, e outras seções, bem como as palavras
profundas "a felicidade existe..." (Lucas 15:7).
O tempo e lugar dos evangelhos de São Lucas podem ser tirados por dedução que teriam sido escritos
antes dos Atos dos Apóstolos, que aparentemente teriam fornecido a fonte para a continuação dos
evangelhos. O Livro dos Atos termina com uma narrativa dos dois anos de pregação de São Paulo (Lucas
28:30). Isto ocorreu aproximadamente 63 anos depois do nascimento de Cristo. Conseqüentemente o
evangelho de São Lucas não poderia Ter sido escrito depois disso e presumidamente teria sido escrito em
Roma.

O Texto
O prólogo do primeiro livro de Lucas. Dos quatro evangelhos, o de Lucas é o único a se iniciar, como
numerosos escritos gregos da época, com um prólogo. Este é dirigido a um certo Teófilo, que parece ser um
personagem importante. O livro dos Atos começa também com um prólogo que se dirige ao mesmo
personagem e que remete ao livro anterior, em que o autor falou de "tudo o que Jesus fez e ensinou" (At 1,1-
2). Desde a Igreja antiga, o evangelho de Lucas e os Atos têm sido atribuídos a um mesmo autor. A crítica
moderna confirmou este juízo, fundando-o na homogeneidade da linguagem e do pensamento dos dois livros,
bem como na simetria do seu objetivo; o evangelho sublinha a subida de Jesus rumo a Jerusalém, onde se
realiza o evento pascal: a paixão e ressurreição do Cristo os Atos relatam a pregação deste evento a partir de
Jerusalém até as extremidades da terra (At 1,8).
No prólogo do evangelho, Lucas anuncia o assunto, o método e a finalidade da sua obra. Ele vai
apresentar "os acontecimentos" que se situam no ponto de partida da pregação da Igreja. Informou-se com
cuidado da tradição das primeiras testemunhas e vai expô-la "em ordem". Assim, Teófilo achará aí uma
narração sólida dos fatos de que lhe falaram.
Lucas se apresenta, assim, à maneira de um historiador. Ele segue os métodos dos historiógrafos do seu
tempo (cf. a cronologia de 3,1-2). Mas a história que ele quer apresentar é uma história sagrada. O seu
propósito essencial é mostrar a significação dos acontecimentos para a fé: uma fé iluminada pelo evento da
Páscoa e pela vida da Igreja. Este livro é um evangelho.

A história da salvação na construção do Evangelho. O terceiro evangelho apresenta o mesmo


esquema geral que os evangelhos de Mateus e de Marcos : uma introdução, a pregação de Jesus na Galiléia, a
sua subida a Jerusalém, o cumprimento final, nesta cidade, da sua missão, pela Paixão e Ressurreição. Mas a
construção de Lucas é elaborada com esmero; ela visa fazer sobressair nessa história os tempos e lugares da
história da salvação.
1. A introdução (1,5–4,13) comporta duas seções bem diferentes.
As narrações da infância (1,5–2,52) são próprias a Lucas. De maneira sistemática, elas põem em
paralelo as vidas de João Batista e de Jesus, enfatizando a subordinação do primeiro ao segundo. Elas
apresentam sobretudo o mistério de Jesus em uma seqüência de mensagens sobrenaturais que o proclamam
concebido do Espírito Santo, Filho de Deus (1,35), Salvador e Cristo Senhor (2,11), salvação de Deus e luz
Evangelhos I e II 17
dos pagãos (2,30.32) e, no entanto, votado à rejeição da massa de seu povo (2,34). No limiar do evangelho,
antes da lenta manifestação do mistério que a continuação do livro vai relatar, essas revelações constituem
um prólogo cristológico comparável ao do evangelho de João (Jo 1,1-18).
O prelúdio da missão (3,1–4,13) comporta, como em Mateus e em Marcos, a missão de João Batista, o
batismo de Jesus e sua vitória inicial sobre o tentador. Mas, neste conjunto, Lucas distingue nitidamente o
tempo de João, que pertence ainda ao Antigo Testamento, e o de Jesus (3,20 nota); ele insiste na investidura
messiânica que o Pai confere a seu Filho após o batismo (3,22 nota); insere aqui a genealogia de Jesus,
fazendo-a remontar a Adão, para ressaltar o seu vínculo com a humanidade inteira (3,23-38); enfim, as
últimas palavras da narrativa da tentação anunciam já o combate decisivo da Paixão (4,13).
2. A primeira parte da missão de Jesus (4,14–9,50) é toda situada na Galiléia (cf. 23,5; At 10,37),
diversamente de Mt 15,21; 16,13 e Mc 7,24.31; 8,27. Lucas abre-a com a cena da pregação do Mestre na
sinagoga de Nazaré (4,16-30), que prefigura toda a seqüência do evangelho: o anúncio da salvação fundado
na Escritura e inspirado pelo Espírito, a alusão à salvação dos pagãos, a rejeição de Jesus por seus
compatriotas e a tentativa assassina por eles empreendida. A narração da missão relata, em seguida os atos
(sobretudo milagres) e as palavras de Jesus. Ele conduz os discípulos a um primeiro conhecimento
aproximativo da sua pessoa.
Uma primeira seção (4,31–6,11), que segue bastante de perto a ordem de Marcos (1,16–3,6), apresenta
Jesus em face da multidão, dos primeiros discípulos, dos adversários, nos milagres e nas controvérsias.
A segunda seção (6,12–7,52), que não existe em Marcos, mas para a qual Mateus oferece paralelos
dispersos, começa com o chamamento dos Doze e comporta, antes de tudo, o ensinamento de Jesus aos seus
discípulos no discurso das Bem-aventuranças.
A terceira seção (8,1–9,50), onde Lucas torna a emparelhar com a narrativa de Mc 4,1–9,40 (mas sem
apresentar paralelo com Mc 6,45–8,26), associa estreitamente os Doze à missão de Jesus. Ela os menciona
desde 8,1. O discurso em parábolas distingue, em seguida, entre os ouvintes de Jesus, aqueles que só
merecem parábolas e aqueles aos quais "é dado conhecer os mistérios do Reino de Deus" (8,10). Novos
milagres, reservados aos discípulos, levam-nos a fazer a pergunta: "Quem é este?" (8,25). É então que os
Doze são enviados a proclamar o Reino de Deus (9,1-6) e participam ativamente da multiplicação dos pães
(9,12). Enfim, Jesus pode intimá-los a se pronunciarem a seu respeito, e Pedro reconhece nele "o Cristo de
Deus" (9,20). Esta primeira expressão do mistério de Jesus é imediatamente completada: pelo Mestre, que se
define como o Messias votado à morte (9,22), e pelo próprio Pai, que proclama, na glória da Transfiguração ,
a filiação misteriosa de Jesus (9,35).
3. A subida a Jerusalém (9,51–19,28) é a parte mais original da construção de Lucas. Boa parte do seu
material se encontra, aqui e ali, em Mateushá algo também em Marcos, mas Lucas é o único a apresentá-lo
na moldura de uma viagem.
Esta é introduzida por uma frase solene, que orienta a marcha de Jesus rumo ao acontecimento pascal,
cujo cumprimento está próximo (9,51). O Mestre toma a estrada de Jerusalém, a cidade santa, onde se deve
realizar a salvação. Duas outras menções à cidade por Lucas, em 13,22 e 17,11, podem delimitar três seções
nesta parte; mas este seccionamento é apenas formal, pois as três seções não oferecem, entre si, nem
continuidade geográfica, nem progressão doutrinal. A viagem não obedece à topografia (10,13-15 e 13,31-33
parecem ainda situados na Galiléia13,34-35 supõe que Jesus já pregou em Jerusalém); não passa de um
quadro literário artificial, que permite a Lucas reunir o seu material, colocando-o sob a luz da consumação
pascal.
Ao longo dessa parte, a palavra de Jesus prevalece sobre os milagres e a exortação sobre a apresentação
do mistério de Cristo (salvo, todavia, em 10,21-24; 12,49-50; 18,31-33 e 19,12-15). O Mestre se dirige
sempre a Israel: o seu afrontamento com os fariseus e os doutores é severo (11,37-52); ele chama o seu povo
a se converter (12,51–13,9) e arrosta a sua recusa (13,23-35; 14,16-24). Volta-se sobretudo para os seus
discípulos, a fim de lhes definir a missão (9,52–10,20), para convidá-los à oração (11,1-3) e à renúncia
(12,22-34.51.53; 14,26-33; 16,1-13; 18,28-30). Uma grande parte desses ensinamentos aos discípulos refere-
Evangelhos I e II 18
se a uma situação em que Jesus não estará mais presente no meio deles, e isso corresponde à perspectiva da
viagem, ordenada pelo "arrebatamento" de Jesus (9,51): aproxima-se o tempo em que os discípulos terão de
pedir o Espírito Santo (11,13), confessar o seu Mestre diante dos homens (12,1-12), esperar a sua volta
(12,35-40; 17,22–18,8; 19,11-27), cuidar dos seus irmãos nas comunidades (12,41-48).
Em 18,15, a narração de Lucas torna a encontrar o fio da de Mateus (19,15) e da de Marcos (10,13).
Mas Lucas ajunta-lhe, no final, a narração da salvação de Zaqueu e sobretudo a parábola das minas (19,1-
10.11-27). Na redação de Lucas, esta parábola prepara o trágico afrontamento entre Jerusalém e o rei que ela
vai recusar-se a reconhecer (cf. 19,11 nota).
4. A terceira parte da missão de Jesus (19, 29–24,53) narra a realização da salvação em Jerusalém e faz
da cidade a representante de Israel perante Jesus no drama da cruz. Lucas salienta isto fortemente na cena
inicial da entrada de Jesus (19,29-48): o Mestre se apresenta como rei (vv. 35-38); chora sobre a cidade que
vai recusar a sua vinda régia (vv. 41-44); manifesta a sua autoridade no Templo, do qual expulsa os
negociantes e onde ensina todos os dias (vv. 45-48).
A revelação de Jesus a Jerusalém comporta as mesmas três seções que há em Mateus e Marcos, mas
Lucas introduz matizes que lhe são próprios.
O ensinamento no Templo (20–21) se conclui com o anúncio do julgamento de Jerusalém e da vinda do
Filho do homem. Lucas dirige esses anúncios a todo o povo de Israel (cf. 2,15 nota. 20 nota).
A narrativa da Paixão (22–23) segue o mesmo esquema que os outros evangelhos; mas o relato da Ceia
se prolonga com ensinamentos aos Doze a respeito do seu papel de servos, sobre a sua grandeza no Reino
futuro e sobre a nova situação que passarão a viver, quando o Mestre se for (22,24-38). Os sofrimentos
suportados por Jesus fazem sobressair a sua justiça e o valor exemplar do seu martírio. Na humilhação do
Messias, afirma–se a sua Realeza já presente (cf. 22,69 nota; 23,37 nota).
As narrativas da Páscoa (24) são todas localizadas em Jerusalém. Elas não mencionam a antiga tradição
das aparições na Galiléia (Mt 26,32; 28,7.10.16-20; Mc 14,28; 16,7; Jo 21), sem dúvida para guardar melhor
a simetria com o livro dos Atos. Essas narrativas interpretam a Paixão como caminho querido por Deus, para
conduzir o Cristo à sua glória (v. 26), e mostram esta vontade divina anunciada por Jesus (v. 7) e inscrita nas
Escrituras (vv. 25-27.44-46). Jesus, finalmente, aparece aos Onze para triunfar sobre as dúvidas deles (vv.
36-43) e investi-los da missão de testemunhas (vv. 47-49). O livro termina com uma primeira narração da
Ascensão (v. 51), que manifesta o Senhorio do Ressuscitado (cf. At 2,36).
Assim, todo o evangelho mostra a revelação progressiva do mistério do Senhor Jesus , e o gradual
conhecimento desse mistério por parte daqueles que terão de pregar a mensagem do Evangelho.

O tempo de Jesus e o tempo da Igreja. 1. Como Lucas pretende consagrar um segundo livro à
pregação dos apóstolos, ele pode patentear, mais nitidamente que Mateus e Marcos, as diferenças entre o
tempo de Jesus e o tempo da Igreja.
O seu evangelho mostra a ação de Jesus, consagrada somente a Israel. Ele indica, por certo, a
perspectiva universalista da mensagem da salvação, mas sempre em anúncios sobre o futuro (2,32; 3,6;
13,29; 14,16-24) ou em prefigurações tipológicas (3,23-38; 4,25-27; 7,9; 8,39; 10,1; 17,11-19). É somente o
Ressuscitado que ordena a missão aos pagãos (24,47-48).
Esta missão, os portadores da mensagem a realizarão graças ao dom do Espírito (24,49; cf. 12,12). Mas
no evangelho, Jesus, que é concebido do Espírito (1,35), é o único a agir com a potência desse Espírito (3,22;
4,1.14.18; 10,21).
Nas narrações da infância, Simeão anuncia a rejeição de Jesus por "muitos em Israel" (2,34-35). Esta
rejeição se opera, pouco a pouco, no decurso do evangelho, mas não é inteiramente consumada pela cruz (cf.
23,34), visto que, após Pentecostes, os apóstolos chamarão ainda os judeus de Jerusalém à conversão e à
salvação.
2. Mostrando tão claramente a distinção entre o tempo de Jesus e o tempo da Igreja, Lucas quer pôr em
plena luz as etapas da obra de Deus na história. Mas tal apresentação dos acontecimentos nunca o faz
Evangelhos I e II 19
esquecer que a salvação é dada de uma vez por todas em Jesus Cristo. Desde o começo do evangelho, ele
insiste no hoje da salvação (2,11; 3,22; 4,21; cf. 5,26; 19,9; 23,43). Pois, desde o primeiro instante de sua
existência, Jesus é o Filho de Deus (1,35), o Salvador (2,11; cf. 1,69.71.77; 2,30; 3,6), o Senhor (2,11, cf.
7,13 nota sobre a insistência de Lucas em dar este título a Jesus ); e a sua pregação se inicia com a mensagem
da salvação dirigida aos pobres e aos pequenos, que são os seus destinatários privilegiados (4,18; cf. 7,22;
10,21).
Ao descrever o tempo de Jesus, Lucas já pensa na Igreja. Mais freqüentemente do que Mateus e Marcos,
ele dá aos Doze o título de apóstolos (cf. 6,13 nota). Pensa em suas responsabilidades nas comunidades
(9,12; 12,41-46; 22,14-38) e nos auxiliares da sua missão (10,1; cf. 8,2-3.39).
Mais ainda, ele se preocupa em mostrar, no ensinamento de Jesus, a regra de vida dos discípulos para
"cada dia" (9,23; 11,3; 17,4). Insiste sobre a conversão inicial (5,32; 13,1-5; 15,4-32, e sobretudo as cenas de
7,36-50; 19,1-10; 23, 39-43), sobre a fé (1,20.45; 7,50; 8,12-13; 17, 5-6; 18,8; 22,32; 24,25), que deverá se
exprimir pela confissão do Senhor (12,2-12; 21,12-19), sobre a oração (11,1-13; 18,1-8; 21,36; 22,40.46),
segundo o exemplo reiterado de Jesus (cf. 3,21 nota), sobre a caridade, que apresenta como o ensinamento
essencial do discurso aos discípulos (6,27-42; cf. 10,25-37; 17,3-4); propõe freqüentemente que esta caridade
se manifeste pela esmola (cf. 11,41 nota), que realiza, ao mesmo tempo, o seu ideal de renúncia ao dinheiro
(cf. 5,11 nota, 14,33 nota). Essas exigências são rigorosas, e, no entanto, a alegria explode neste evangelho
mais do que em todos os outros: perante os anúncios da salvação (1,14.28.41.44; 6,23; 8,13), as suas
manifestações no advento de Jesus (1,47; 2,10), os milagres (10,17; 13,17; 19,37), o acolhimento da
mensagem (10,21) e a conversão dos pecadores (15; 19,6), a Ressurreição (24,52): a salvação de Deus é
chamamento à alegria.
3. Jesus anunciava a sua vinda no fim dos tempos, e Lucas mantém essa perspectiva no término do
tempo da Igreja (12,35-48; 17,22-37; 18,8; 19,11-27; 21,5-36); mas a sua insistência na salvação presente, no
Senhorio pascal de Jesus, na ação do Espírito sobre a Igreja atenua nele a tensão orientada para a parusia
iminente (cf. 17,23 nota). A sua esperança é toda banhada na alegria do hoje da salvação. A ruína de
Jerusalém, que ele anuncia repetidas vezes em seu evangelho (cf. 19,27 nota), perde em Lucas o seu caráter
escatológico; ela nada mais é do que um acontecimento histórico, o castigo dos responsáveis pela morte de
Jesus.

A obra literária de Lucas. Lucas utiliza em seu evangelho boa quantidade de material que lhe é
comum com Mateus e Marcos, mas também muitos elementos que lhe são próprios (cf. Introd. aos
Sinóticos). Estes elementos são muito variados. São narrações como as da infância (1–2), alguns milagres
(7,1-17; 13,10-17; 14,1-6; 17,12-19), cenas de conversão (7,36-50; 19,1-10; 23,40-43), intervenções de
Herodes (13,31-33; 23,8-12; cf. 8,3 nota), as aparições pascais (24,13-35.36-53)…, ensinamentos e,
sobretudo, uma série de parábolas: o bom samaritano (10,30-37), o amigo que é preciso acordar (11,5-8), o
rico insensato (12,16-21), a figueira estéril (13,6-9), o construtor, e o rei que parte para a guerra (14,28-33), a
moeda e o filho reencontrados (15,8-10.11-32), o gerente astuto (16,1-8), o rico e Lázaro (16,19-31), o servo
que não faz mais que o seu dever (17,7-10), o juiz que se faz de rogado (18,1-8), o fariseu e o coletor de
impostos (18,9-14).
Têm-se notado, muitas vezes, as semelhanças entre os evangelhos de Lucas e de João. Trata-se aqui
menos de textos seguidos do que de todo um conjunto de traços comuns (eles são apontados nas notas de
Lucas): o perfil do apóstolo Judas, de Marta e Maria, do Sumo Sacerdote Anás, a aproximação entre a pesca
milagrosa e a investidura de Pedro, a traição de Judas atribuída a Satanás, o colóquio de Jesus com os Doze
na última Ceia, a declaração messiânica de Jesus às autoridades judaicas, o reconhecimento da inocência de
Jesus por Pilatos, a aparição de Jesus ressuscitado a seus discípulos em Jerusalém, a Ressurreição concebida
como exaltação e fonte do dom do Espírito… Essas semelhanças explicam-se melhor por contatos no nível
da tradição pré-evangélica do que por dependência literária.

Evangelhos I e II 20
O trabalho redacional de Lucas é considerável, em relação a todo o material da tradição. Isto já se
percebeu na "ordem" que Lucas lhe impôs, ao construir o seu livro. Pode-se ainda percebê-lo, comparando as
suas composições com os paralelos em Mateus e Marcos: o vocabulário de Lucas aparece muito mais
variado, o mais rico de todos os livros do Novo Testamento : a sua linguagem se adapta com plasticidade aos
diversos assuntos: o seu grego é geralmente mais correto do que o de Marcos nas narrações em que Lucas
coincide com ele, como em muitas outras passagens particularmente esmeradas (1,1-4; 24,13-35); no entanto,
ele tem muitos semitismos em vários textos que lhe são próprios, sobretudo nas palavras de Jesus escolhe
com predileção as expressões do Antigo Testamento grego, muito especialmente nas narrações da infância,
que vários consideram um pastiche literário.
O seu gosto da clareza aparece na preocupação em situar as suas perícopes por meio de introduções
(3,15; 4,1; 5,1.12.17.36…) ou em marcar o fim das mesmas por meio de uma conclusão (3, 18.20; 5,15-16;
9,36.43…). Ele agrupa muitas vezes as parábolas aos pares (13,18-21; 14,28-32; 15,4-10); também as
sentenças (4,25-27; 11,31-32; 13,1-5; 17,26-30.34-35); mas esses grupamentos podem, em muitos casos,
remontar às suas fontes.
A arte de Lucas se manifesta sobretudo na sobriedade de suas observações, que indicam com uma só
palavra o patético de uma situação (2,7; 7,12; 8,42; 9,38…), na tensão dramática das narrações como as de
Naim (7,11-17), da pecadora (7,36-50), do "bom ladrão" (23,40-43), ou do encontro de Emaús (24,13-35), de
parábolas como as do bom Samaritano (10,30-37) ou do filho reencontrado (15,11-32: "o filho pródigo"). A
sua delicadeza é constante, sobretudo quando se aproxima da pessoa de Jesus : ele evita as expressões por
vezes rudes de Marcos (Lc 4,1; 8,24.28.45…) e reserva aos discípulos uma fórmula particular para se
dirigirem ao Mestre (cf. 5,5 nota).
A elaboração de Lucas sobre os dados da tradição põe muitas vezes ao seu leitor o problema do valor
histórico da sua narração. A questão é complexa e só pode ser tratada completamente estudando-se também o
método de Lucas no livro dos Atos (cf. Introd. Atos). Restringindo-se ao exame do evangelho, pode-se
constatar primeiramente que Lucas declara a sua intenção de apresentar os acontecimentos com esmero, a
partir de informações sólidas (1,1-4); podem-se também reconhecer as qualidades de um grande número dos
seus dados. Mas, de uma parte, Lucas considera o fato de Jesus com toda a sua fé, na qual um historiador vê
uma interpretação pessoal, um além da história. Por outro lado, quando apresenta as palavras e os atos de
Jesus, Lucas se interessa, antes de tudo, pelo sentido; ele manifesta, por vezes, uma indiferença profunda pela
cronologia (4,16-30; 5,1-11; 24,51) ou pela localização topográfica (10,13-15; 13,34-35; 24,36-49); ele não
teme compor livremente cenas significantes (1–2; 4,16-30; 5,1-11…). A sua preocupação primordial não é
descrever os fatos em sua exatidão material, mas proclamar a história de Jesus enquanto história da salvação.
Ele se sente com a liberdade e mesmo com o dever de decifrar os acontecimentos. E o faz à luz da tradição da
Igreja.

Dados sobre a origem do terceiro Evangelho. Não é possível pronunciar-se acerca da origem deste
evangelho sem examinar os dados do livro dos Atos, que lhe está estreitamente ligado. Aqui, contudo,
limitamo-nos a recolher os elementos fornecidos pelo primeiro livro de Lucas.
Para fixar a data da composição deste, os críticos fazem muitas vezes alusão à ruína de Jerusalém (cf.
19,27 nota) e sobretudo à maneira com que esse acontecimento está desvinculado da perspectiva escatológica
em que o situam Mateus e Marcos . Parece que Lucas conheceu o cerco e a ruína da cidade, tais como os
efetuaram as legiões de Tito no ano 70 (cf. 19,43-44; 21,20.24). O evangelho seria, portanto, posterior a essa
data. Os críticos atuais situam muitas vezes a sua redação por volta dos anos 80 ou 90, mas vários lhe
atribuem uma data mais remota.
Embora o livro seja dedicado a Teófilo, parece dirigir-se sobretudo, além desse personagem, a cristãos
de cultura grega. Disto se podem relevar vários indícios; a sua linguagem, as suas explicações sobre a
geografia da Palestina (1,26; 2,4; 4,31; 23,51; 24,13) e sobre os costumes judaicos (1,9; 2,23-24.41-42;
22,1.7), o pouco interesse pelas discussões a respeito da lei (ele não oferece nenhum equivalente aos dados
Evangelhos I e II 21
de Mt 5,20-38; 15,1-20; 23,15-22), a preocupação com os pagãos, a insistência na realidade corporal do
Ressuscitado (24,39-43), tão difícil de admitir para os gregos (At 17,32; 1Cor 15).
O próprio autor parece pertencer ao mundo helenístico, tanto por sua linguagem, como por vários traços
que acabamos de mostrar. Tem sido muitas vezes notada a sua falta de familiaridade com a geografia da
Palestina (cf. 4,29 nota), e também com diversos costumes desta terra (cf. 1,59 nota; 5,19 nota; 6,48 nota;
9,12 nota; 14,5 nota).
Uma tradição cuja mais antiga testemunha é Irineu (Adv. Haer. III, 1,1 e 14,1), no fim do século II, o
identificou com o médico Lucas, mencionado por Paulo em Cl 4,14; Fm 24; 2Tm 4,11. Muitos encontraram a
confirmação do fato de Lucas ser médico na precisão das suas descrições das doenças; mas esse traço não é
decisivo, pois o vocabulário que ele emprega é o de todo homem culto de seu tempo. Quanto às suas relações
com Paulo, o evangelho não oferece para as discernir senão alguns termos (cf. 8,12 nota; 8,15 nota; 18,1
nota; 18,14 nota; 21,28 nota; 22,19-20 e as notas…). Para se pronunciar a respeito deste ponto é
indispensável examinar os dados do livro dos Atos.

Atualidade de Lucas. Lucas apresenta-se como o intérprete do Evangelho talvez mais acessível que
qualquer outro para o homem ocidental hoje. Com efeito, ele lhe está mais próximo, por sua mentalidade e
cultura gregas, por seu gosto pela clareza e sua preocupação de explicar, por sua sensibilidade e arte.
Sobretudo, Lucas pode ajudar o leitor moderno a ter acesso ao mistério de Jesus: ele mostra o Filho de Deus
como Salvador de todos os homens, particularmente atento aos pequenos, aos pecadores e aos pagãos; como
Mestre de vida, com todas as suas exigências, mas também com o seu acolhimento e a sua graça.

Capítulo VI
O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO

Informações Básicas
O Evangelho Segundo João é o quarto dos evangelhos do Novo Testamento, atribuído ao
apóstolo João. De caráter mais acentuadamente teológico do que os outros três, denominados
sinóticos, está voltado para mostrar que Jesus é o Messias, o filho de Deus.

Os Dois Joões da Bíblia


João Evangelista. Também chamado São João, João Evangelista foi Apóstolo e evangelista (m. c. 100)
Pescador da Galiléia, foi um dos 1º os Apóstolos, aquele a quem Jesus amava e a quem confiou Sua Mãe ao
morrer. Segundo a tradição, Éfeso foi o centro do seu apostolado até avançada idade. Escreveu o 4.o
Evangelho, o Apocalipse e 3 epístolas que fazem parte do Novo Testamento. Segundo a Igreja Católica, sua
festa celebra-se a 27 de Dezembro.
João Batista. Não confundi-lo com João Batista, precursor de Jesus Cristo (c. 5 a C.-c. 30). Este nasceu
de pais (Isabel e Zacarias) em idade avançada, sendo sua mãe prima da Mãe de Jesus. Desde novo levou vida
austera no deserto da Judéia. C. 27, apareceu nas margens do Jordão exortando as multidões à penitência pois
se aproximava a chegada do Messias. Os primeiros discípulos de Jesus eram discípulos de João Baptista. Por
ter denunciado a união incestuosa de Herodes com sua cunhada Herodias, foi decapitado.
O evangelista São João o Teólogo foi o discípulo amado de Cristo. Ele era filho de um pescador da
Galiléia, Zebedeu, e de Salomé. Parece que Zebedeu tinha sido um homem próspero, pois tinha empregados
e também era um eminente membro da comunidade judaica pois seu filho João conhecia o sumo sacerdote.
Salome, a mãe de João é mencionada como uma das mulheres que serviram o Senhor com recursos materiais.

Evangelhos I e II 22
Ela acompanhava o Senhor para a Galiléia, e foi a Jerusalém para a última páscoa. E participou com outras
mulheres piedosas para comprar os santos óleos para ungir o corpo de Cristo.
São João inicialmente tinha sido discípulo de São João Batista. Depois de ter ouvido o seu testemunho
sobre Cristo como o Cordeiro de Deus que tomou sobre Si os pecados do mundo," ele e André
imediatamente seguiram Cristo (João 1:37-40). São João passa a ser o discípulo permanente do Senhor
quando depois de uma pesca milagrosa no Mar da Galiléia quando o Senhor o chamou, junto com seu irmão
Jacó. Junto com seu irmão Tiago e Pedro, João foi agraciado com uma especial proximidade de Cristo. João
se encontrava com o Senhor nos momentos mais importantes e de maior jubilo de Sua vida terrena. Assim,
ele foi honrado estar presente na ressurreição da filha de Jairo, na Transfiguração do Senhor no Monte Tabor,
ao escutar a discussão sobre os sinais da segunda vinda do Senhor e testemunhando a oração do Senhor em
Getsêmani. Na Última Ceia ele estava tão próximo que se reclinou sobre o peito do Senhor (João 13:23-25),
a partir de onde ele passou a ser chamado de amigo do peito, o que deu origem a designação de alguém muito
próximo. Em seu evangelho, por humildade, nunca se referiu a si pelo nome mas como "discípulo que Jesus
amou." O amor de Cristo por ele mostrou-se aparente quando, na cruz, encomendou sua Puríssima Mãe aos
cuidados de João dizendo: "Esta é tua mãe."

Autoria
Único apóstolo que acompanhou Cristo até a morte na cruz, ocasião em que lhe foi confiada a tarefa de
cuidar de Maria, mãe de Jesus, João foi "o discípulo que Jesus amava".
João — filho do pescador Zebedeu e um dos 12 apóstolos de Cristo — nasceu provavelmente na
Galiléia. A mãe, Salomé, era uma das mulheres que auxiliavam os discípulos de Jesus. Juntamente com o
irmão mais velho, Tiago, foi convidado a seguir Jesus, logo depois de Pedro e André.
Jesus chamava João e Tiago de "Boanerges", palavra de etimologia não esclarecida, derivada talvez do
aramaico, que significa "filhos da inquietude", ou "da tempestade". Em duas passagens do Evangelho de
Lucas (9:49 e 54) há referências ao caráter impetuoso dos dois: numa, impedem alguém de expulsar
demônios em nome de Jesus, porque não fazia parte do grupo dos apóstolos; em outra, querem ordenar fogo
do céu contra os samaritanos, que haviam se recusado a recebê-los.
João e seu irmão, juntamente com Pedro, foram os discípulos privilegiados de Jesus. Presenciaram a
ressurreição da filha de Jairo, a transfiguração de Jesus na montanha e sua angústia no Getsêmani. Os dois
foram os únicos apóstolos que ousaram pedir a Cristo que lhes fosse dado sentar um à direita, outro à
esquerda. Da resposta de Jesus, "do cálice que eu beber, vós bebereis", deriva a suposição de que os dois se
distinguiriam dos demais pelo martírio.
A tradição, de forma quase unânime, reconhece em João o autor do quarto evangelho. João viveu e
morreu em Éfeso, onde governou a igreja e escreveu o Evangelho e as Epístolas. O Apocalipse teria sido
escrito na ilha de Patmos, no mar Egeu. João focaliza a vida e a obra de Jesus com base no mistério da
encarnação -- o verbo feito carne, que veio dar a vida aos homens. De acordo com os Atos dos Apóstolos,
João acompanhou Pedro na catequese e com ele foi convencido por Paulo a desistir da imposição de práticas
judaicas aos neófitos cristãos.
João amava Cristo com fervor e estava cheio de indignação contra aqueles que hostilizavam-No ou
distanciavam-se Dele. João pediu permissão ao Senhor de incendiar uma aldeia da Samaria que tinha
hostilizado o Senhor, quando Ele passava lá a caminho de Jerusalém (Lucas 9:54), pelo que ele, João e seu
irmão Jacó receberam do Senhor o apelido de Boanerges o que significa "filhos do trovão." Sentindo o amor
de Cristo mas ainda sem ter sido iluminado pela graça do Espírito Santo ele pede ao Senhor para si e para seu
irmão um lugar próximo ao Senhor no Seu futuro Reino. Em resposta ele recebe a profecia sobre o cálice de
sofrimento que os espera (Mateus 20:20).
Depois da Ascensão do Senhor freqüentemente vemos São João com São Pedro. São João juntamente
com São Pedro são considerados os pilares da Igreja (Gal. 2:9). Depois da destruição de Jerusalém São João
Evangelhos I e II 23
se estabelece e prega em Éfeso, Asia Menor. Durante o reinado do imperador Domiciano, ele foi exilado na
Ilha de Patmos onde escreveu o Apocalipse ou a Revelação (Rev. 1:9-19). Ao voltar do exílio para Éfeso São
João escreveu seu evangelho e morreu aos 105 anos aprox., o único dos apóstolos, de morte natural,durante o
reinado do imperador Trajano.
De acordo com a Tradição, São João escreveu o seu evangelho ao pedido de cristãos efésios. Eles
trouxeram os três anteriores e pediram que fizesse uma revisão e complementasse as pregações que tinha
ouvido de Cristo pessoalmente. São João verificou a veracidade do que estava escrito nos três evangelhos
mas achou necessário complementar as narrativas, uma explicação mais clara dos ensinamentos sobre a
Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, de forma que o povo com o tempo não passasse a ter Cristo como
somente Filho do Homem. Isto era em especial necessário pois nesta época apareceram hereges que negavam
a Divindade de Cristo - os evonitas hereges de Corinto e gnósticos. A respeito deste episódio temos registros
de São Irineu no século III. Está evidente que o objetivo do quarto evangelho era complementar as narrativas
dos três primeiros evangelhos. Pelo seu caráter espiritual, o que torna este diferente dos três primeiros, ele se
chamou "o Evangelho espiritual." O evangelho de São João começa com a exposição da Divindade de Jesus
Cristo e adiante contém uma série dos mais elevados sermões do Senhor nos quais é revelada a Sua
Divindade e os mais profundos mistérios da fé. Por exemplo a conversa com Nicodemos sobre o nascimento
superior com água e Espírito, sobre o mistério da salvação; a conversa com a mulher samaritana sobre a água
da vida e sobre a veneração a Deus em espírito e verdade; o sermão sobre o pão que baixou do céu e sobre o
mistério da Eucaristia; sobre o Bom Pastor e particularmente extraordinário por seu conteúdo, o sermão da
Última Ceia, como a despedida do Senhor de seus discípulos que conclui com a magnífica "oração do Sumo
Sacerdote." Aqui encontramos uma série de testemunhos pessoais do Senhor sobre Si mesmo, como Filho de
Deus. Por revelar estas mais profundas verdades e mistérios da fé cristã, São João foi honrado com a
designação de Teólogo.
Com toda a sua alma se entregou ao Senhor e foi amado por Ele, por esse motivo, de um amor especial,
São João penetrou profundamente no mistério do amor cristão. Ninguém como ele revelou tão plenamente e
com tanta profundidade e convicção em seu evangelho e suas três epístolas o dogma cristão sobre os dois
principais mandamentos da lei divina - o amor a Deus e o amor ao próximo. Por isso também ele é chamado
de Apóstolo do amor.
Uma outra característica que diferencia o evangelho de São João é que, enquanto os três evangelistas
narram as pregações de Cristo na Galiléia, São João descreve os eventos e sermões na Judéia. Através disso
podemos determinar a duração das pregações do Senhor e também a extensão da Sua vida terrena. Pregando
principalmente na Galiléia o Senhor viajava para Jerusalém para as festividades da Páscoa. Como
evidenciado no evangelho de São João, foram três as viagens para a celebração da Páscoa. Na quarta viagem
Nosso Senhor aceitou a morte na cruz. Assim, a pregação pública de Nosso Senhor teve a duração de três
anos e meio e Ele viveu na terra trinta e três anos e meio (iniciou a pregação com trinta anos como atesta
Lucas 3:23).

O Texto
Um Evangelho. Em geral o Evangelho de João omite ou resume o que os outros evangelistas já haviam
relatado (por exemplo, o processo de Jesus diante do sinédrio). Por isso difere bastante dos outros três. De
outro lado, acrescenta muitos pormenores que não se encontram nos demais Evangelhos, como o episódio de
Jesus diante de Anás (18:19-24). Assim, João enriquece bastante os dados históricos e completa muitos
dados topográficos e cronológicos, entre eles a duração da vida pública de Jesus, que nos outros Evangelhos
parece incluir apenas uma páscoa, ao passo que João relata três.
Além de mais histórico, o Evangelho de João é também o mais "teológico". Alguns trechos parecem ser
antes inspiradas meditações posteriores do evangelista, sobre a mensagem e a pessoa de Jesus, do que
citações de suas palavras. A revelação da missão, origem e natureza profunda de Jesus começa no encontro
com João Batista, e chega ao auge no fim de sua vida.
Evangelhos I e II 24
No centro da perspectiva está a tríade morte-ressurreição-ascensão. O que precede é o "dia" de Jesus:
toda a sua atividade pública, que mostra ser ele o Messias, o enviado do Pai. Depois do "dia" segue a "hora"
da morte e glorificação, seu "ir ao Pai", revelando quem Ele é e salvando os que crêem nele. Os milagres ou
"obras" de Jesus são chamados "sinais". Ao mesmo tempo que significam a vinda do Reino de Deus, já são o
início de sua realização. Neles, o Reino já está presente. A salvação, a "vida eterna" já começou a se realizar,
pela fé, na pessoa de Jesus e na sua missão.
Fiel a uma grande tradição das origens, o quarto evangelho relata o que aconteceu desde os dias de João
Batista até o dia em que o Senhor Jesus passou para a glória do Pai (At 1,21-22). A obra se apresenta como
um testemunho, e é certo que João quis compor um verdadeiro evangelho. Após o solene prólogo teológico
(1,1-18), ele se aplica, numa primeira parte, a narrar diversos acontecimentos e ensinamentos ligados a estes
(1,19–12,50); a segunda parte refere longamente os acontecimentos da Paixão e as manifestações do Cristo
ressuscitado (13,1–21,25). Como afirma explicitamente em uma breve conclusão (20,30-31), João escolheu
certos sinais, dos quais ele traz à luz o significado e o alcance, a fim de levar os cristãos a quem se dirige a
melhor aprofundarem a sua fé em Jesus Messias e Filho de Deus. Para consegui-lo, ele é levado a tomar
posição contra diversos desvios doutrinais que ameaçavam o cristianismo do seu tempo.

A estrutura do evangelho . Não é fácil esmiuçar o plano adotado pelo autor. Por certo, os episódios
são, na maioria, nitidamente circunscritos, mas não se percebem claramente os critérios em função dos quais
estes episódios foram organizados. A questão é mais delicada ainda porque a hipótese do deslocamento de
certas seções, por ocasião da edição, permanece aberta. É-se tentado, por exemplo, a inserir o cap. 5 entre
7,15 e 7,16; a disposição geográfica dos elementos seria assim unificada, e uma longa atividade em
Jerusalém daria seguimento a uma estada na Galiléia (4,43-54 e 6,1–7,13). Estendendo ainda mais a hipótese,
alguns estudiosos acreditaram poder detectar numerosos deslocamentos de textos e propuseram
reconstituições ousadas de algum plano que possivelmente tenha existido.
É preciso reconhecer, no entanto, que essas teorias não têm nenhum ponto de apoio na transmissão do
texto; além disso, elas não levam em conta as leis muito flexíveis da tradição oral e da composição hebraica,
que nem sempre se conformam às regras da nossa lógica.
Para os que aceitam a seqüência do texto tal como ele se apresenta, as soluções são numerosas. Todos,
ou quase todos, reconhecem que o evangelho se divide em duas partes, precedidas por um prólogo. Alem
disso, é fácil distinguir um certo número de seções, em função das indicações geográficas ou cronológicas e
do recurso a certos esquemas literários (narrativa–discurso). Mas como se articulam essas seções umas com
as outras? Certos autores optam por um plano lógico e frisam as etapas do desenvolvimento metódico de
grandes noções teológicas (luz, vida, glória). Outros acreditam discernir as etapas de um afrontamento
progressivo de Cristo com o "mundo" e lêem o Evangelho de João como um drama ou um processo que
termina no grande julgamento que se opera no decurso dos acontecimentos da Páscoa. Dois planos temáticos
foram propostos: os seus partidários renunciam aos rigores de uma síntese racional e encaram um tipo de
composição que lembra as variações de um tema musical. Enfatizou-se o emprego de certos procedimentos
literários semíticos, como, por exemplo, a inclusão. Muitos estudiosos sublinharam a importância da mística
dos números. Eles julgaram perceber planos fundados sobre os números três e sete. Enfim, pretendeu-se
reconhecer um desenrolar dos fatos correspondentes ao enredo do Êxodo e alguns sugeriram a hipótese de
uma transposição das leituras litúrgicas da antiga sinagoga.
Tudo isso é sugestivo e, por vezes, muito sutil, mas é raro que uma teoria de conjunto seja plenamente
satisfatória: não é certo que João tenha obedecido sempre às mesmas regras de composição, nem mesmo que
tenha concluído definitivamente a composição da sua obra. Pelo que nos concerne, contentamo-nos em ver
no quarto evangelho uma sucessão de episódios compostos sem rigor, mas, no entanto, organizados em
função de certa evolução do afrontamento de Jesus com o "mundo" de uma parte, e, da outra, do custoso
progresso dos crentes no conhecimento, primeiro na Galiléia , depois sobretudo em Jerusalém .

Evangelhos I e II 25
Relações com os evangelhos sinóticos . Se João é fiel à concepção de conjunto de um evangelho, ele se
distingue dos evangelhos sinóticos sob muitos pontos de vista. O leitor fica logo impressionado pelas
diferenças de ordem geográfica e cronológica: enquanto os sinóticos evocavam uma longa estada na Galiléia
, seguida de uma caminhada mais ou menos prolongada rumo à Judéia , concluída por uma breve presença
em Jerusalém , João , ao contrário, narra freqüentes deslocamentos de uma região à outra e encara uma
presença de longa duração na Judéia, e sobretudo em Jerusalém (1,19-51; 2,13–3,36; 5,1-47; 7,14–20,31).
Ele menciona várias celebrações pascais (2,13; 5,1; 6,4; 11,55) e sugere assim um ministério de mais de dois
anos.
As diferenças manifestam-se igualmente no plano do estilo e dos processos de composição: enquanto os
sinóticos oferecem, o mais das vezes, seções breves, coletâneas de sentenças ou de narrações de milagres,
contendo breves declarações, João propõe uma seleção limitada de acontecimentos ou sinais que são, em sua
maioria, longamente elucidados em colóquios ou discursos. Desta sorte, ele atinge em certos momentos
grande intensidade dramática.
João se singulariza outrossim pela escolha e originalidade do material empregado. Ele evoca, sem
dúvida, muitos acontecimentos mencionados pelas tradições sinóticas: a atividade do Batista, o batismo de
Jesus no Jordão e a vocação dos primeiros discípulos (1,19-51); o episódio dos vendedores expulsos do
Templo (2,13-21); a cura do filho de um oficial régio (4,43-54); a cura de um paralítico (5,1-15) e de um
cego (9,1-41); a multiplicação dos pães à beira do lago e o caminhar sobre as águas (6,1-21), controvérsias
em Jerusalém (7–8 e 10); a unção de Betânia e o desenrolar dos acontecimentos da Páscoa (12–21). Mas
outros elementos da tradição sinótica parecem ausentes, tais como a tentação no deserto, a transfiguração, a
narração da instituição da Eucaristia, a agonia no Getsêmani, numerosas narrações de milagres e muitos
ensinamentos (desde o sermão da montanha e a maioria das parábolas até o discurso escatológico).
Igualmente a linguagem é muito diferente: "Reino de Deus" só aparece em uma passagem (3,3-5); João
prefere falar de vida e de vida eterna. Ele gosta dos temas: mundo, luz–trevas, verdade–mentira, glória de
Deus–glória que vem dos homens.
Se faltam no quarto evangelho elementos da tradição sinótica, encontram-se, em compensação, dados
novos: o sinal de Caná (2,1-11), a conversa com Nicodemos (3,1-11), o diálogo com a Samaritana (4,5-42), a
ressurreição de Lázaro e suas conseqüências (11,1-57), o lava-pés (13,1-19) e diversas indicações na
narrativa da Paixão e da Ressurreição. Devemos notar ainda a extensão dos discursos e dos colóquios que
esclarecem os acontecimentos narrados; assim as derradeiras palestras após a última ceia (13,31–17,26)
preparam o tempo da Igreja.
Até que ponto terá João conhecido os evangelhos sinóticos? Vários comentadores pensaram que ele os
ignorava; ele só teria conhecido tradições que concerniam ao Senhor, às quais os sinóticos, por sua vez, se
teriam referido. Existem, no entanto, alguns contatos literários tão evidentes que é preciso considerar como
altamente provável o conhecimento de Mc e sobretudo de Lc; a evidência é menor em se tratando de Mt. Em
todo caso, pode-se afirmar que João supõe, em seus destinatários, o conhecimento das grandes tradições
sinóticas.
João se aplica a reelaborar essas tradições, fazendo-o com muito mais segurança e liberdade do que os
seus antecessores. Para ele, a fidelidade consiste em captar e exprimir em profundidade o alcance dos
acontecimentos da salvação que se opera em Jesus: uma fidelidade, por assim dizer, criadora.

Os problemas de composição. Será que essa independência em relação às tradições sinóticas resulta da
utilização de outras fontes? Será que apresenta uma real unidade literária, ou deixa transparecer o recurso a
documentos diversos?
E, antes do mais, qual foi a língua da primeira redação? Os freqüentes aramaísmos levaram não poucos
pesquisadores a sustentar a hipótese de um original aramaico que teria sido traduzido para o grego; outros
supõem que o autor grego valeu-se de certos trechos redigidos em aramaico. Exames mais minuciosos
levaram, ao que parece, a abandonar essas hipóteses. O evangelho, do ponto de vista literário, tem uma
Evangelhos I e II 26
feitura única; ele foi redigido diretamente no grego pobre, mas correto — intensamente evocador, no entanto
—, que o caracteriza. Contém notadamente vocábulos e jogos de palavras que não têm equivalente em
aramaico e possui um estilo e traços literários que permitem concluir pela unidade de composição. Muitas
coisas se explicam, sem dúvida, pela origem semítica deste autor que escreve em grego, ou pela influência
que teria exercido sobre ele a versão grega do AT (Septuaginta). É provável que tenha lançado mão de fontes
particulares, notadamente, de uma coletânea de narrativas de milagres, a qual, aliás, tratou com a mesma
liberdade com que tratou o material dos sinóticos. Convém lembrar que o autor depende sobretudo do meio
cristão e recorre ocasionalmente a fórmulas litúrgicas ou fragmentos de homilias: assim, a camada mais
arcaica do prólogo parece ser formada de um hino que lembra os hinos das epístolas do cativeiro de Paulo, ou
das pastorais; e o discurso sobre o pão da vida é construído segundo as regras da homilia rabínica.

O ambiente cultural. Todo pensamento exprime-se por meio de uma linguagem e relaciona-se com um
ambiente cultural; emprega vocábulos e categorias que refletem as preocupações e concepções deste. Se o
pensamento é original, opera novas conexões e diz coisas novas por meio de material tomado de empréstimo.
A Bíblia não foge a essas regras: importa, portanto, procurar as raízes da linguagem joanina nas diferentes
culturas que coexistiam nas regiões orientais do Império romano, onde o evangelho foi composto.
A diversidade dos pontos de contato coligidos pelos estudiosos é muito grande. Reconheceram primeiro
a influência do helenismo, depois sublinharam cada vez mais as relações com o AT e diversos meios
judaicos, detectaram mesmo certos vínculos com as correntes gnósticas.
a) O helenismo. É certo que João, mais do que os sinóticos, apresenta afinidades com o pensamento
helenístico. O interesse marcante por tudo o que concerne ao conhecimento e à verdade, o uso do título
Logos, em particular o emprego da alegoria, orientavam as pesquisas neste sentido. Pensava-se mais
especialmente em Fílon de Alexandria que, no começo do século I, tentara uma vasta obra de helenização da
herança religiosa do judaísmo: o lugar de destaque que ocupa nesta obra a noção — bastante confusa — de
Logos contribuía para corroborar o fato da influência helenística. É verossímil que o pensamento filoniano se
haja espalhado por diversos meios judaicos fora da Palestina — a Diáspora —, suscitando um estilo de
pesquisas e de vida. João certamente conheceu um ou outro desses círculos. Mas a visão de conjunto é
nitidamente diferente: em João não se trata de uma ascensão do conhecimento, partindo das ciências e das
reflexões filosóficas em direção à contemplação do Ser; o essencial, para ele, é o conhecimento na fé do
Filho encarnado. Mesmo quando se utilizam os mesmos vocábulos, as significações variam: assim, o Logos
joanino não aparece como uma criatura intermediária entre Deus e o universo, mas como o Filho
preexistente, perfeitamente associado à ação do Pai.
No começo deste século, o conhecimento das formas populares e bastante sincretistas da vida filosófica
e religiosa do século I permitiu que outras semelhanças na expressão fossem percebidas. Alguns concluíram
que o quarto evangelho não passava de uma vasta adaptação do cristianismo, expurgado de suas concepções
apocalípticas e judaicas e transformado numa mística individualista.
b) Influências judaicas. Mas as raízes veterotestamentárias e judaicas do quarto evangelho não
tardariam a ser postas em evidência. Notou-se-lhe no estilo a presença de numerosas expressões semíticas, o
que deu origem à hipótese de um original aramaico. Sublinhou-se, por outro lado, a importância das
reminiscências do AT. Se João cita raramente o AT de maneira explícita e tem suas preocupações voltadas a
separar nitidamente a antiga economia da nova, ele não deixa de usar numerosas fórmulas do AT e, em
particular, temas da literatura sapiencial: a água , o alimento celeste e o maná , o pastor, a vinha, o Templo.
Tudo se passa como se João tivesse um conhecimento dos temas e de suas diversas variações, mas quisesse
empregá-los de modo pessoal e original.
Reconheceram-se, por outro lado, numerosos pontos de contato entre o judaísmo contemporâneo e o
evangelista (tipos de raciocínio, processos de composição e elementos de vocabulário em uso nos meios
rabínicos). Houve mesmo quem chegasse a detectar alusões ou influências concretas da liturgia judaica. O
certo é que João conhece perfeitamente os usos e costumes do judaísmo palestinense do século I. Mas ele
Evangelhos I e II 27
também sabe das profundas diferenças que separam este último do cristianismo. A ruptura está consumada
(cf. 9,22; 12,42), e João, muito afastado do legalismo e do ritualismo judaicos, põe em evidência a novidade
e transcendência do mundo da Encarnação.
Os documentos de Qumran, descobertos faz alguns decênios, permitiram conhecer um outro meio
judaico que, da mesma sorte, apresentava afinidades com o quarto evangelho . De uma parte e de outra,
notou-se um dualismo muito acentuado nos domínios religioso e moral, tais como o exprimem as oposições
luz-trevas e verdade-mentira. De ambos os lados, os adeptos consideram que a sua comunidade inaugura os
últimos tempos e se empenham em decifrar o sentido oculto das indicações do AT. Cá e lá, atribui-se grande
importância a um Mestre de Doutrina e se sublinha o papel do Espírito de verdade ou do Paráclito.
Mas, ao lado desses traços comuns, há, entre as duas comunidades, numerosas diferenças: o clima é
outro. João acha-se tão distante da mentalidade apocaplítica de certos textos de Qumran quanto do legalismo
exacerbado que neles se observa. O papel de Jesus difere muito do papel do Mestre de Justiça ou dos dois
Messias da seita. Por certo, podem-se apontar correspondências de fórmulas e preocupações, mas a tendência
de conjunto é radicalmente diferente.
c) O gnosticismo. Finalmente, há dois séculos que se procura situar o evangelho com relação às
correntes gnósticas. Sabe-se que a gnose se apresentava geralmente como um ensinamento esotérico, que
conduzia os seus iniciados, após certas purificações, a se abrirem à salvação pelo conhecimento das grandes
verdades religiosas ou pelo êxtase. Essas doutrinas inspiravam uma verdadeira aversão às realidades
materiais ou carnais, identificadas com o Mal. Nós conhecemos as tendências gnósticas por textos posteriores
ao século I, escritos tanto num contexto helenístico, mais ou menos marcado por influências orientais, como
no contexto cristão. Pode-se pensar que certas tradições gnósticas remontem a épocas um pouco anteriores,
não se podendo, por conseguinte, excluir uma interferência no quarto evangelho.
É difícil estabelecer dependências literárias entre João e esses tratados (e, no caso de dependência, qual
seria a fonte?), mas devemos reconhecer preocupações e certas formulações comuns. Formado num meio
complexo, em que se encontravam e se enfrentavam muitas tendências, João pode ter sido estimulado e
impelido a pôr mais em evidência a relação entre o conhecimento e a vida divina com a qual os homens
podem ser gratificados; mas ele reagiu de modo original, pois a sua fé na criação de todas as coisas por Deus
excluía o pessimismo metafísico, e o fato da Encarnação do Filho eterno dava à carne e à condição humana
um sentido muito diferente das especulações gnósticas.
d) Originalidade de João. Tantos cotejos minuciosos e delicados não permitiram designar, portanto,
uma corrente de pensamento cujas opções fundamentais João teria adotado. Ele parece ter vivido na
confluência das grandes tendências filosófico-religiosas do seu tempo, sem dúvida em uma das metrópoles
onde coexistiam o pensamento grego e o misticismo oriental e onde o próprio judaísmo se alterava e se abria
às influências externas. Mas nem por isso se deve minimizar a profunda originalidade do seu pensamento.
Este deriva sobretudo da vida e das palavras das comunidades cristãs às quais ele pertence. Ele se refere antes
de tudo aos acontecimentos primordiais e vale-se das numerosas buscas da expressão das primeiras
elaborações teológicas cristãs: podemos encontrar vários pontos de contato com Paulo, em particular com as
Epístolas do Cativeiro e os documentos que a tradição relaciona com Éfeso. João conhece também vários
textos litúrgicos.
Entretanto, esse enraizamento no meio cristão da época não impediu o evangelista de fazer uma obra
profundamente original, longamente amadurecida, soberanamente livre com relação às diversas correntes que
ele encontrou e avaliou. Tudo é refundido, assimilado, em função de uma visão complexa e, todavia, simples,
da realidade e do papel de Jesus, o Cristo, o Filho de Deus (20,30).

O quarto evangelho e a história. A questão da historicidade do quarto evangelho foi aventada a partir
do começo do século XIX. Impressionados pelas numerosas particularidades que, segundo já vimos,
distinguem a obra de João dos sinóticos , numerosos comentadores se perguntaram se o seu caráter teológico
não correspondia a outras preocupações, alheias à história. Será que o emprego do simbolismo não visa
Evangelhos I e II 28
orientar o leitor para um além dos fatos concretos, dos atos e das palavras tais como são percebidos à
primeira vista? É assim que muitos críticos resolveram a questão, recusando reconhecer o valor documentário
do quarto evangelho. Eles apenas viam no quarto evangelho uma meditação, ou mesmo, um "teorema
teológico" (A. Loisy).
Mas o exame mais minucioso dos processos de composição e das intenções dos sinóticos , a renovação
das reflexões sobre o método histórico e um estudo mais sereno dos dados joaninos conduzem os leitores de
hoje a abandonar a alternativa antiga. A solução é mais complexa.
Convém primeiramente observar que João relata muitos fatos que os sinóticos também referem: a
atividade de João Batista e o batismo no Jordão, a purificação do Templo e vários milagres, em particular, a
multiplicação dos pães (1,19-51; 2,13-21; 6,1-21); há também o conjunto de narrativas da Paixão e da
Ressurreição (12–21). Uma comparação dessas passagens permite concluir que João pretende relatar fatos
conhecidos da Tradição e que ele o fez com fidelidade. Sobre vários pontos, ele fornece mesmo elementos
originais, cuja historicidade pode ser levada em consideração; os dados geográficos e cronológicos, bem
como as indicações relativas às instituições judaicas e romanas, tudo demonstra um conhecimento das
condições de vida da Palestina no começo do século I, condições que deviam desaparecer após a guerra de
66-72 e das quais João estava, aliás, mui distanciado. Ele teve, portanto, o cuidado de se ater às condições
reais da história de Jesus. Nós não estamos em presença de um conto teológico. O evangelho fala de alguém
que viveu, morreu e ressuscitou, e isso tudo em um tempo bem determinado (cf. 2,20) e cuja tradição João
conhece. O autor se considera, aliás, ou ao menos era considerado como uma testemunha (19,35; 21,24), o
que implica a atestação de fatos ou de verdades de que se possui um conhecimento pessoal e a propósito dos
quais se toma partido. Se é verdade que a mensagem comporta essencialmente o fato de que "o Verbo se fez
carne e habitou entre nós", de tal sorte que "nós vimos a sua glória", compreende-se a importância ímpar da
realidade histórica dos fatos relatados. João elucida a significação do que aconteceu a Jesus Cristo e é por
isso que o seu livro se apresenta primeiramente como a relação de uma série de sinais escolhidos entre
muitos outros (20,30-31; 21,25). Fazendo isso, aliás, o evangelista se inscreve na grande tradição bíblica que
se aplica a descrever, etapa por etapa, a relação de Deus com o seu povo como a narração dos atos de Deus
em meio à história dos homens. Israel sempre admitiu a prioridade do acontecimento sobre o "logos". "O
pensamento hebraico é um pensamento que se exprime em termos de tradições históricas, ele se move
principalmente na combinação prática da interpretação teológica do que foi transmitido, de tal sorte que a
conexão histórica tem sempre a prioridade sobre a reflexão teológica" (von Rad).
Pois não basta que o evangelista relate fatos brutos, é preciso que ele ponha em destaque o seu
significado (cf. 9,1-41) e perceba o seu alcance e profundidade, a fim de que os discípulos possam progredir
no conhecimento e se abrir à vida eterna. Os sinais são relatados "para que creiais que Jesus é o Cristo, o
Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome" (20,31). João tem plena consciência de que
essa compreensão progressiva só pôde ser obtida em função do mistério pascal. Era necessária a passagem do
Cristo, pela cruz, para a glória plena, a fim de que se desvendasse o sentido profundo da vida de Jesus e da
menor de suas ações. A par dela, fazia-se necessário o dom do Espírito de verdade, que é fruto da Páscoa
(7,39; 16,7; 20,22): o Espírito conduz os crentes ao conhecimento da verdade total, isto é, à compreensão de
tudo o que constitui a realidade e a ação de Jesus, o Filho encarnado de Deus (16,5-15). Esta é a
reminiscência joanina: a recuperação compreensiva da história de Jesus (2,21-22; 12,16; 14,26; 15,26-27).
Essa compreensão, em conformidade com uma grande tradição cristã, é obtida através do
relacionamento entre os acontecimentos vividos por Jesus e os acontecimentos e palavras proféticas do AT,
que adquirem assim o seu verdadeiro sentido (2,17; 5,37-47; 7,17; 12,16.37-41; 19,24.28. 36-37). João
compreendeu, mais do que nenhum outro, a imensa novidade das realidades que se manifestam em Jesus, e
as exprime em função de esquemas tipicamente cristãos.
Estamos, portanto, em presença de uma atitude resolutamente histórica, mas que difere muito das
atitudes ou exigências dos historiadores positivistas, preocupados em relatar exatamente os fatos e não em
evidenciar o seu significado, situando-os no conjunto da economia da salvação. Autores modernos falariam
Evangelhos I e II 29
de história "querigmática" ou de "história qualitativa". Os antigos já falavam de "evangelho espiritual"
(Clemente de Alexandria). Esta compreensão em profundidade do Cristo e da sua ação opera-se quase
sempre com a ajuda de uma simbolização da sua história. O olhar do discípulo descobre gradualmente que o
sentido dos fatos ou das palavras tem diversos níveis e que estes o remetem sempre para além de si mesmos.
Daí a importância da noção de "sinal", com um pendor para a evocação dos sentidos múltiplos de um fato ou
de uma palavra (3,14-15; 8,28; 12,32), e finalmente certa ironia fina perante as palavras dos adversários,
suscetíveis de significar o contrário do que eles queriam dizer (7,52; 9,24-27; 11,49; 12,19; 16,30; 19,18-22).
Só a experiência do Espírito permite perceber o alcance do texto.

O autor. Todas essas observações levam a concluir que o Evangelho de João não é um simples
testemunho ocular, exarado de uma assentada logo depois dos acontecimentos. Tudo sugere, ao contrário,
uma longa maturação.
Deve-se chamar a atenção para o fato de que a obra parece inacabada: certas suturas são canhestras,
certos trechos parecem desprovidos de ligação com o contexto (3,13-21.31-36; 1,15). Tudo leva a imaginar
que o autor jamais teve a sensação de ter chegado ao término. Poder-se-ia explicar assim a relativa desordem
das perícopes. É provável que o evangelho, tal como o possuímos, tenha sido publicado por discípulos do
autor, que lhe acrescentaram o capítulo 21 e, sem dúvida, algumas anotações (assim 4,2 e talvez 4,1; 4,44;
7,39b; 11,2; 19,35). Quanto à narrativa da mulher adúltera (7,53–8,11), todos reconhecem que se trata de um
trecho de origem desconhecida, inserido posteriormente (mas que pertence, no entanto, à Escritura canônica).
Quanto ao autor e à data de composição do quarto evangelho, não se encontra, na própria obra, nenhuma
indicação precisa. Talvez isso seja deliberado. A atenção não se deve deter na testemunha, mas reportar-se à
pessoa daquele que é anunciado e contemplado (3,29; 1,8; 4,41). Contudo, a adição de 21,24 não hesita em
identificar o autor com "o discípulo que Jesus amava", aquele que aparece muitas vezes no decurso dos
acontecimentos da Páscoa (13,23; 19,26; 20,2). Trata-se, sem dúvida, desse "outro discípulo" que vários
textos mencionam sem lhe dar um nome (1,35-39; 18,15).
A partir do século II, as tradições eclesiásticas o chamam de João e começam a identificá-lo com um dos
filhos de Zebedeu, um dos Doze. Um fragmento de uma obra de Pápias, bispo de Hierápolis da Frígia, datado
de cerca de 140, dá lugar a uma hesitação: "Eu não hesitarei em fazer figurar entre as interpretações as coisas
que, algum dia, eu aprendi muito bem dos antigos, e conservei muito bem na memória, tendo-me certificado
da sua verdade… mesmo que chegasse alguém que tivesse seguido os antigos, eu me informava dos ditos dos
antigos: o que tinham dito André , ou Pedro , ou Filipe, ou Tomé , ou Tiago , ou João , ou Mateus , ou
qualquer outro dos discípulos do Senhor ou o que dizem Aristião e João , o Antigo, discípulos do Senhor"
(Eusébio, Hist. Eccl., III, 39,3-4). Ele distinguia, portanto, um João apóstolo, um dos Doze e um outro João,
o Antigo, discípulo do Senhor; mas não se trata de escritos, já que Pápias se interessa sobretudo "pela palavra
viva e durável". No fim do século II, Irineu é explícito: "Em seguida, João, o discípulo do Senhor, o mesmo
que repousou sobre o seu peito, publicou também um evangelho, durante a sua estada em Éfeso" (Adv. Haer.
III, 1,1). Para Irineu, que se diz discípulo de Policarpo, "que falava de suas relações com João e os outros
discípulos do Senhor…" (Eusébio, Hist. eccl. V, 20,6-8), trata-se do filho de Zebedeu, um dos Doze. Nessa
época, não obstante certas hesitações, há uma tendência muito forte de atribuir a um dos Doze os escritos
considerados canônicos. No que concerne ao quarto evangelho, constatamos um acordo quase unânime.
Todos os autores (cânon de Muratori, Clemente de Alexandria, Orígenes, Tertuliano) falam do papel de João,
um dos Doze, como de um fato certo; somente um reduzido círculo romano, agrupado em volta do sacerdote
Caius, exprime hesitações, sem para isso recorrer à tradição. A opinião tradicional foi posta em dúvida, no
princípio do século XIX, pela crítica que apontou as diferenças com relação aos sinóticos e a importância da
elaboração teológica. Recusando ao autor a qualidade de testemunha ocular, quase sempre negavam também
à sua obra qualquer valor histórico; queriam ver nele o teólogo que compusera, em meados do século II, uma
espécie de síntese das correntes petrinas e paulinas. Inicialmente surgiu viva reação nos meios eclesiásticos
pois se associava estreitamente a questão da origem joanina à da autoridade do testemunho. Não estavam
Evangelhos I e II 30
longe de fazer da atribuição do texto ao apóstolo João em pessoa uma questão atinente à fé. Hoje aprendemos
a distinguir melhor as questões, e os progressos da reflexão sobre a história e seus métodos permitiram furtar-
nos aos antigos dilemas.
É de se notar, logo de início, que a publicação de um fragmento do quarto evangelho (18,31.33.37-38),
descoberto no Egito e que os melhores conhecedores datam dos anos de 110-130, impôs aos estudiosos o
retorno a um dado tradicional: a publicação do evangelho pelo fim do século I. A localização numa igreja da
Ásia helenística (Éfeso) permanece também muito verossímil. Não é possível excluir absolutamente a
hipótese de uma redação pelo apóstolo João em pessoa, mas a maioria dos estudiosos não retêm a validez
desta eventualidade. Alguns se recusam a dar nome ao autor, que descrevem como sendo um cristão que
escreve em grego pelo fim do século I, em uma igreja da Ásia onde as diversas correntes de pensamento do
mundo judaico e do Oriente helenizado se defrontavam; alguns lembram João, o Antigo, de que falava
Papias. Outros acreditam poder acrescentar que o autor estava ligado a uma tradição que se prendia ao
apóstolo João : assim se explicaria o lugar proeminente atribuído ao "discípulo que Jesus amava" que parece
ter sido identificado com João , filho de Zebedeu; curiosamente, este é o único dos principais apóstolos cujo
nome jamais é mencionado.

A teologia. Não se trata aqui de fornecer uma visão sintética do pensamento teológico de João. Fiel à
grande tradição bíblica, este não pretende apresentar um sistema, mas uma elucidação dos acontecimentos da
salvação. Ele não cogita em estabelecer um princípio fundamental em função do qual os outros dados
poderiam organizar-se. Toda a atenção se concentra em Cristo: sob a condição de o conhecerem e entrarem
em comunhão com ele, os crentes terão acesso à vida eterna, descobrindo o Pai . Nós nos limitaremos a
indicar aqui algumas orientações.
O esquema preexistência-encarnação não é por certo próprio do quarto evangelho. Ele se encontra em
outros lugares, notadamente no hino de Fl 2,6-11 e em Cl 1,15, em geral, porém, opondo a Paixão à
Ressurreição. João tem uma visão mais ampla e, tudo bem pensado, mais tradicional: ele considera o
conjunto da vida de Jesus (sinais e palavras) e dá uma grande importância ao seu desenrolar no tempo (o
tema da "hora"). É através dos acontecimentos da vida de Jesus, que culminam com a Páscoa, que se opera a
manifestação de Deus no meio do mundo (a "glória"); mas esta revelação não se torna por isso um dado do
mundo : ela põe o mundo em questão. Os que crerem nascerão para uma vida nova; mas o mundo, enquanto
tal, recusará o que não se lhe comensurar, e o evangelho evoca o conflito cujo desfecho será a Paixão e a
Ressurreição de Jesus. O mundo será julgado e condenado na "hora" em que pensava triunfar sobre aquele
que menosprezara radicalmente.
João não descreve a preexistência do Cristo e não relata, por exemplo, um diálogo celeste em que o
Filho teria recebido a sua missão; estamos longe do mito. É na existência de Jesus que o Pai se manifesta
para os que progridem no conhecimento, pela fé e pelo dom do Espírito.

Capítulo VII
PANORAMA HISTÓRICO
DO NOVO TESTAMENTO

O povo que se encontrava ao redor de Cristo se orgulhava ser o povo de Abraão, o povo de Israel. As
riquezas dos patriarcas, o crescimento da família de José no Egito e sua transformação em nação de Israel, a
libertação do povo das fronteiras do Egito, o zelo divino ao longo dos 40 anos na imensidão selvagem, a
instituição das leis para adoração, o código de leis morais e civis, o estabelecimento na terra prometida, estes
eventos juntamente com todos os milagres dos primórdios, tudo isto tinha sido do conhecimento geral do
povo. Este também estava ciente das façanhas dos juizes, a ascensão do reino e a era de Davi, a construção
do primeiro templo sob comando de Salomão, a divisão do reino - permitida por causa dos pecados de
Evangelhos I e II 31
Salomão, o contínuo estado de pecado do povo e as pregações dos profetas para advertir, a servidão do reino
do norte subjugado pela Assíria e mais tarde a Judéia, o reino do sul subjugado à Babilônia, a restauração da
Judéia, quando Ciro rei da Pérsia conquistou a Babilônia e permitiu os judeus durante o tempo de Zorobabel
a retornar à sua terra de origem para restaurar Jerusalém e a construir o segundo templo. Além do mais,
muitas das reformas do tempo de Neemias, o último líder político do Antigo Testamento, permaneceram em
forma de costumes sociais até os tempos do Novo Testamento.
Ao longo do Antigo Testamento a nação de Israel é vista como o povo eleito por Deus, distinto do resto
do mundo. Pelo seu adiantado código civil e moral; pelo sistema de sacrifícios lhes dado no Sinai -
especialmente os sacrifícios expiatórios (pelos seus pecados) maior foi a cobrança divina por sua
desobediência aos altos padrões éticos que havia aprendido, pelo cativeiro permitido por Deus por causa de
desvios à idolatria, e pelo modo como o povo judeu era preservado, - tudo isso como é apresentado no Antigo
Testamento - faz um panorama importante da história para um estudo da vida e obra de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Entretanto, o Novo Testamento não é apenas uma continuação do Antigo Testamento. Podemos
observar uma grande diferença na situação política daquela descrita no Antigo Testamento e uma ordem
social bastante diferente no início do Novo Testamento. Um intervalo de mais de 400 anos separa o tempo de
Neemias o último editor das Escrituras do Antigo Testamento do tempo de João Batista. No aspecto dos
governantes essa era abrange quatro épocas, a dos persas, dos gregos, a dos macabeus e a dos romanos.

A Época dos Persas:


No tempo de Neemias, os Persas dominavam os judeus, que haviam novamente se estabelecido na
Palestina; o governo teve continuidade até a queda do império persa e a posse de Alexandre o Grande ou pelo
menos até a entrada de Alexandre em Jerusalém em 333 A.C. Durante essa época o Sumo Sacerdote passou a
exercer poder civil e religioso e ai também apareceu a inveja e a segmentação entre os judeus e samaritanos.
Também, os escribas, que se tornaram intérpretes de influência e professores da lei de Moisés se fizeram
presentes como uma classe distinta durante essa época.

A Época dos Gregos:


A era dos gregos se iniciou com a conquista das terras por Alexandre o Grande até a heróica façanha da
família dos Macabeus, que alcançou independência política para a comunidade judaica na Palestina. Sob o
domínio de Alexandre os judeus viviam em relativa paz e prosperidade. Depois da morte do conquistador em
323 A.C. a Judéia passou a fazer parte do reino grego no Egito cuja capital foi Alexandria, e cujos reis são
conhecidos na História como Ptolomeus. O governo destes variava entre tolerante e beneficente ou cruel e
tirânico. O segundo Ptolomeu estava interessado na tradução dos livros sagrados do Antigo Testamento dos
judeus para o grego, cuja tradução é conhecida como Septuaginta. Depois de 125 anos sob o Egito, o povo
judeu e a sua terra foram apossados pelos reis gregos da Síria cuja capital era Antioquia. Esse período foi
finalizado com uma série de violentas opressões e perseguições sangrentas infligidas por Antíoco Epífano
conhecido como um dos tiranos mais cruéis em toda a História e o protótipo do Anticristo. Muitos milhares
de judeus foram mortos e outros milhares vendidos como escravos. O templo de Jerusalém foi profanado e
fechado e o povo judeu foi proibido de venerar Javé ou fazer uso de seus costumes religiosos, e obrigados a
oferecer sacrifícios para os deuses gregos.

A Época dos Macabeus:


A opressão e perseguição infligidas aos judeus por Antíoco só fez despertar ressentimento por parte dos
fieis e inspirar resistência na primeira oportunidade. Na pequena cidade de Modim, Matatias, um velho
sacerdote ousou em recusar a oferecer um sacrifício pagão a mando dos oficiais dos reis e em desafio aos
Evangelhos I e II 32
governantes tiranos matou um jovem sacerdote apostata, que se ofereceu a cumprir o sacrifício. Matatias e os
cinco filhos, ajudados pelos amigos, se levantaram contra os oficiais gregos e os mataram todos.
Imediatamente aqueles, leais pelas tradições e adoração por Javé levaram o desafio adiante e foram se reunir
nas colinas com o velho sacerdote e milhares se juntaram. Mas Matatias logo sucumbiu aos sofrimentos do
acampamento e as fraquezas da idade; e assim a liderança passou para Judas, o terceiro filho, conhecido na
História como Judas Macabeus. Sem dúvida Judas foi a figura mais ilustre do período entre Davi e Jesus
Cristo. Apesar da disparidade ele foi brilhante na batalha e teve cinco das mais brilhantes vitórias registradas
na História. Depois de uma dessas vitórias ele conduziu um exército do povo em júbilo até Jerusalém e abriu
as portas do templo, que estavam fechadas por três anos e purificou-o o e mandou fazer novo mobiliário
sagrado substituindo o que foi profanado por Antíoco e dedicá-lo novamente para serviço do verdadeiro
Deus. Finalmente Judas tombou numa batalha contra uma horda Sirio-grega, mas o vôo para a liberdade
continuou e foi conduzido pelos seus irmãos. Jônatas o mais novo dos cinco, um diplomata astuto, tendo
assumido a liderança, assegurou importantes concessões para o seu povo de um pretendente em Antioquia
que mais tarde assumiu o poder.
Quando Jônatas foi assassinado traiçoeiramente, Simão, o filho mais velho de Matatias, assumiu a
liderança nesta causa. Em 144 AC ele conseguiu a completa liberdade para o seu povo oprimido pelos
gregos, tanto pela bravura na batalha como também pela sábia diplomacia. Como este heróis pertenciam a
famílias de sacerdotes, eles agiam com duplo poder, como governantes políticos e como sumo sacerdotes no
templo purificado e restaurado. Simão, da mesma forma como seu irmão Jônatas, foi traido e morto
juntamente com seus dois filhos; entretanto um terceiro filho, João Hircano, assumiu rapidamente o governo.
Após lutas bem-sucedidas para estabelecer seu poder diante dos simpatizantes dos gregos, este governante
liderou uma série de expedições contra hostis tribos vizinhas, particularmente os idumeus ao sul e os
samaritanos ao norte. Mais tarde suprimiu as atividades hostis das tribos que viviam a leste do Jordão. Por
essas operações ele estendeu os limites de sua nação até que abrangessem todas as terras das doze tribos do
Antigo Testamento.
Os homens das gerações que se sucederam nem sempre eram desinteressados em espírito ou tão
genuinamente patriotas quanto Matatias e os filhos dele. Um filho de Hircano assumiu o título de Rei dos
Judeus com pompa real, e ao mesmo tempo assumindo a função de sacerdote. Havia ciúmes familiares e
assassinatos para tomar o trono e a posição de sumo sacerdote e havia tempo que o povo estava muito
oprimido.
Era nessa época que as seitas dos saduceus e dos fariseus apareceram. Fundamentalmente, a diferença
entre esses grupos era religiosa. Mas durante a época dos Macabeus eles tomaram caráter mais político, os
fariseus sendo pessoas do povo e apoiadores da revolução e os saduceus, partido dos aristocratas ricos e
simpatizantes dos gregos.

A Época Romana:
O poder dos romanos no oeste foi aumentando no decorrer dos séculos. Os exércitos vitoriosos iam
subjugando reinos ao longo da costa do Mediterrâneo e em direção ao interior subjugando - os às leis
romanas. O mesmo ocorreu com o pequeno reino dos judeus. Uma disputa entre dois irmãos para o posto de
sumo sacerdote e trono judeu era a ocasião para os romanos tomarem o reino. Quando Pompeu, o general
romano, invadiu o reino cada um dos irmãos veio a ele apelar por ajuda para defender o seu lado da disputa.
Antes que Pompeu tomasse uma decisão, o mais moço dos irmãos, o que era mais agressivo e mais forte em
diversos aspectos, tomou a cidade de Jerusalém e fortificou-a contra os romanos. Depois de um longo e
sangrento cerco os romanos entraram na cidade e tomaram o ambicioso irmão mais novo e seus dois filhos
como prisioneiros e fazendo de Judéia uma província romana nomearam o irmão mais velho e o mais
pacífico, como o sumo sacerdote e etnarca. Este título era mero rótulo pois o verdadeiro governante do pais
era Antipater, um astuto comandante idumeu que aproveitou todas as oportunidades para aumentar seu

Evangelhos I e II 33
próprio poder ou fazer prevalecer os interesses da família. Em breve ele ganhou o título de procurador ou
seja, guardião do país para os romanos.
Com o assassinato de Antipater em 43 AC seu filho Herodes (conhecido na História como Herodes o
Grande) tornou-se governante. Depois de seis anos de guerras sangrentas contra o último pretendente do
trono macabeu e contra os Partas, Herodes foi nomeado pelos romanos Rei da Judéia. Seu reinado foi
marcado por ciúme insano e matança cruel. Ele não hesitava em matar qualquer um que se opusesse ou
obstruísse o seu governo ou seus propósitos. Dentre os assassinados estavam três de seus próprios filhos, sua
mulher favorita Mariana e o irmão dela que pouco antes Herodes tinha nomeado sumo sacerdote. Era sob o
seu reinado que nasceu Jesus Cristo. É bem conhecida a matança dos recém-nascidos em Belém que Herodes
ordenou para matar o Rei dos Judeus. Herodes foi um construtor: ele reconstruiu muitas cidades destruídas
pelas guerras. O mais conhecido projeto de reconstrução foi para substituir o templo de Zorobabel,
construído cinco séculos antes, com a magnifica estrutura que estava sendo usada na época de Cristo.
Segundo a vontade de Herodes o reino seria dividido entre seus três filhos: Arquelau seria o rei na Judeia e
Samaria, Antipas (que mandou decapitar João Bastista) seria o tetrarca na Galiléia e Paraea e Felipe tetrarca
na Etrúria e Traconitis, uma região a leste do Mar da Galiléia. Quando morreu em 4 A.C. o senado romano
confirmou o acordo, exceto que Arquelau foi nomeado etnarca ao invés de rei da Judéia.
Arquelau era um fraco, tão cruel quanto seu pai, mas não eficiente como governante. Depois de dez
anos de mau governo os romanos decidiram destroná-lo e a pedido de muitos judeus Judéia passou a ser
governada por um procurador - ou governador, enviado diretamente de Roma. Poncio Pilatos, que ordenou a
sentença de morte para Cristo, foi o quinto governador enviado a Judéia.
Situação política durante a pregação de Jesus Cristo: Em Lucas 3:1 há um relato, mesmo que não muito
completo, sobre a situação política durante a vida ativa de Jesus Cristo. O território governado por Pilatos
abrangia a Judéia e Samária, terras localizadas entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão, o território
governado por Herodes Antipas incluía a Galiléia oeste do vale do Jordão e Peréia a leste deste vale
(chamado nos Evangelhos como a região além do Jordão). A tetraquia de Felipe estava a leste do Mar da
Galiléia e o alto Jordão. No território de Antipas e Felipe havia um grupo de cidades habitadas na maior parte
por gregos que estavam isentos das leis dos tetrarcas. Originalmente eram dez delas, unidas com o nome de
Decápolis. Todas se encontravam a leste do Jordão.

Panorama Religioso:
O povo judeu era intensamente religioso. Sua história, como se apresenta no Antigo Testamento tinha
sido escrita sob o ponto de vista religioso. Seus mais brilhantes heróis do período intertestamental tinham
sido sacerdotes, que conduziram a revolta contra tiranos estrangeiros por razões religiosas, e cujos leais
seguidores eram entusiastas religiosos. Nos anos de opressão e matança durante a administração de Antipater
como governante e o reinado de Herodes muitos judeus devotos perderam as esperanças de que sua nação
ganhasse liberdade política e então passaram a se dedicar a estudos das profecias na Bíblia e se apoiaram na
esperança da vinda de um Messias-Rei. Sua vida religiosa se expressava num sistema hoje conhecido como
judaísmo que se desenvolveu durante o período intertestamental, desde a Lei de Moisés e os profetas e dos
comentários interpretativos dos escribas.

Lugares de Adoração: O povo judeu mantinha duas instituições de veneração - o templo e a sinagoga.
Existia um templo localizado em Jerusalém onde os sacerdotes executavam sacrifícios e oferecimentos. Mas
também havia a sinagoga onde eram lidas e interpretadas as Escrituras em todas as cidades, vilarejos e
cidades estrangeiras.

O templo: No Antigo Testamento, adoração significava oferecimento de sacrifícios e ritos cerimoniais.


Havia pouca veneração de congregação ou seja canto ou leitura coletiva de orações ou leitura publica das
Escrituras; e a pregação formal era desconhecida. O primeiro lugar de adoração tinha sido o tabernáculo
Evangelhos I e II 34
móvel, construído no ermo, sob a supervisão de Moisés em aprox. 1497 AC. Seguiu-se o templo de Salomão
(1012-586 AC) e em seguida o templo de Zorobabel edificado em 516 AC que sobreviveu até que Herodes o
desmantelou em 23 AC para erguer um novo. Na estrutura nova o templo foi completado em um ano e meio
(22 AC) e os átrios oito anos depois. A estrutura completa foi finalizada só em 64 AD, seis anos depois seria
totalmente destruída pelos romanos. A planta exata da construção não é conhecida entretanto muitas
reconstituições foram tiradas de informação achada em Flávio Josefo e no Talmude. A área que incluía um
átrio externo era aproximadamente vinte e seis acres. Ela incluía um átrio dos gentios, um átrio das mulheres,
um átrio dos judeus, um átrio dos sacerdotes e o templo propriamente dito. Esta edificação tinha sido o
coração de toda a instituição, que continha o santo e o santo dos santos como no tabernáculo e nos dois
templos que antecederam.
Ao entrar no templo de qualquer direção que se vinha a pessoa entrava no átrio dos gentios através de
um pórtico sustentado por colunatas de mármore que circundavam a estrutura toda. O pórtico no lado sul
chamado Pórtico Real era formado por quatro fileiras de colunas sólidas, enquanto que as dos outros três
lados tinham apenas duas. A colunata do lado leste, encostada nos muros do lado leste da cidade era
conhecida como Pórtico de Salomão (João 10:23, Atos 3:11; 5:12). A área que abrangida por esses pórticos
era chamada tribunal dos gentios porque não-judeus podiam entrar nessa área e não mais além. Sem dúvida
foi no átrio dos gentios que o mercado de animais para sacrifício funcionava onde também haviam os
banqueiros que Jesus Cristo expulsou em duas ocasiões. Havia quatro portões para este recinto, do lado oeste,
lado norte, lado leste e, segundo os estudiosos, do lado sul.
Dentro do tribunal dos gentios estava o recinto sagrado, acessado por nove portões - um do lado leste,
quatro no lado norte e quatro no lado sul. O portão do lado leste levava ao tribunal das mulheres era a Porta
Coríntia mencionada nos Atos 3:2-10. Na entrada havia pilares com tábuas com a inscrição talhada que
advertia os gentios proibindo a entrada sob pena de morte. No lado leste do complexo sagrado havia o átrio
das mulheres num nível de dezenove degraus acima do átrio dos gentios. Neste recinto estimado em um a três
quartos de acre havia a tesouraria e a câmara onde se armazenavam vasos sagrados e paramentos do templo.
Nesta área judeus homens e mulheres podiam entrar, entretanto o altar ou a Casa de Deus era o ponto mais
avançado para o acesso das mulheres. A oeste do átrio das mulheres e em nível mais alto era o átrio dos
israelitas. Diante do Portão entre os dois átrios, dentro do átrio das mulheres havia quinze degraus
semicirculares. O átrio dos Israelitas, ou átrio dos homens era um pouco mais que um corredor contornando o
átrio dos sacerdotes, do qual era separado por um muro baixo de pedra. No átrio dos sacerdotes havia um
grande altar dos holocaustos e a grande bacia destinada às ablações dos sacerdotes.
Dentro do átrio dos sacerdotes no pico do monte Moriá doze degraus acima estava a Casa de Deus o
tempo propriamente dito. Consistia de três partes: o pórtico e as câmaras, que em conjunto rodeavam as
outras duas partes, o santo acessado pelo pórtico e o santo dos santos, atrás do santo. As paredes incluindo as
do pórtico, dizia-se, tinham 150 pés de altura. O santo continha mesas para os pães de proposição,
candelabros de ouro e o altar dourado para incenso, igual ao do tabernáculo de Moisés. Mas não havia a arca
da aliança no santo, pois esta provavelmente foi destruída no incêndio do Templo de Salomão em 586 AC.
No santo dos santos do templo de Herodes ou o templo de Zorobabel, havia apenas uma placa de pedra na
qual o sumo sacerdote colocava o turíbulo e aspergia o sangue do pecado no dia do perdão uma vez por ano,
única ocasião quando entrava neste recinto, que era separado do santo com uma cortina. Era esta cortina que
se rasgou em dois quando Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz.
Sendo um lugar de adoração o templo era designado a cerimônias de sacrifício. Apenas em épocas de
festividades as pessoas se reuniam nos átrios em número considerável sendo que nenhuma provisão de
reserva se fazia para a adoração coletiva. Pessoas vinham para oração individual quando sentiam necessidade
(Lucas 18:10) e grupos combinavam se reunir para oração (Atos 3:1). Os ensinamentos aconteciam no
templo normalmente quando grupos se juntavam ao redor de um professor para fazer perguntas ou ouvir os
ensinamentos (Lucas 20:1).

Evangelhos I e II 35
A sinagoga: Nem tudo relativo a veneração acontecia no templo. Durante o período intertestamental a
sinagoga se formou como uma instituição local onde judeus de cada comunidade vinham para orar, não com
sacrifícios mas com orações, leitura e interpretação das leis e dos profetas. Nenhuma menção da sinagoga é
feita no Antigo Testamento, mas no tempo de Cristo havia uma em cada cidade da Palestina e em cidades
estrangeiras - eram tantas quantas casa judias. Os diretores do templo eram os sacerdotes mas haviam
também outras pessoas da sinagoga que era o administrador, os anciãos e o atendente. O administrador
organizava os serviços, ele designava o chefe para cada serviço e escolhia quem iria fazer a leitura das leis e
aquele que iria ler os Profetas e aqueles que iriam recitar as interpretações das Escrituras. Os anciãos
formavam o quadro de consultores que assistiam o administrador. O atendente combinava o trabalho de
sacristão e professor e normalmente executava as decisões dos diretores. A ordem dos serviços parece ter
sido: elogios, bênçãos, leitura e interpretação da lei, leitura e interpretação dos Profetas, sermão e benção. As
interpretações eram traduções estereotipadas das Escrituras hebraicas para o aramaico da época.
Habitualmente eram dadas por um escriba se algum estivesse presente. Qualquer homem poderia ser
chamado para ler as diversas partes das Escrituras ou um sermão ou exortação ou um homem podia pedir o
privilégio de pregar. A benção normalmente era proferida por um sacerdote se algum estivesse presente.
senão, por qualquer um. Nós sabemos disso através de Lucas 4:16 que Jesus Cristo estava acostumado a
freqüência regular na sinagoga de Nazaré e poderia ser solicitado a tomar parte na veneração.

Tempos de Adoração:
Os tempos importantes de adoração para os judeus do Antigo Testamento eram o sábado semanal e as
festas anuais.
O sábado: Nos tempos de Jesus Cristo e através do período intertestamental os judeus tinham profunda
reverência pelo sábado como dia de adoração, especialmente na sinagoga. Moisés entregou ao povo de Israel
leis bastante severas com relação ao dia de sábado (Êxo. 20:6-11; 31:14-17; 35:2-3; Lev.23:3; Num 15:32-
36), mas a ênfase destas leis tinha sido no descanso ao invés de adoração. Na vida real parece que desde o
estabelecimento nas terras de Canaã até o exílio de Babilônia o povo estava relaxado, ou até negligente na
observância do sábado. Mas é bastante provável que durante o Exílio grupos se reuniam no dia de sábado
para o estudo das Escrituras, canto dos salmos e oração. Após a volta do povo aos seus lares na Palestina as
reformas de Neemias reenfatizaram o sábado como o dia de descanso (Neh.13:15-22) e com a instituição da
sinagoga veio a ser um dia de adoração também.
Antes da vinda de Jesus Cristo muitos escribas ao enfatizar a lei do sábado chegaram a extremos como
a proibição de carregar objetos e fazer qualquer esforço físico nos dias de sábado e que eles próprios não as
cumpriam, usando expedientes ridículos. Um importante motivo de conflito entre Jesus Cristo e as
autoridades da sinagoga foi que Jesus Cristo tinha omitido estas determinações de sábado, estabelecidas pelos
escribas que, entretanto, não constavam das leis de Moisés.

As Festas:
Os judeus do Novo Testamento cumpriam muitas festas religiosas e períodos de jejum. Discutiremos
aqui seis festas e um jejum. Quatro destas festas e o jejum tinham sua origem nas leis de Moisés. As outras
festas tinham origem posterior.

A Festa da Páscoa Judaica: (Exo. 12:1-20; Lev. 23:5-8; Num 28:12-25). Esta era a mais antiga das
festas judaicas tendo seu início no Egito no tempo do êxodo. Celebrava a libertação da escravidão egípcia. As
pessoas eram ordenadas a se encontrar cada ano na cidade do local central da adoração (tabernáculo ou
templo) e repetir os procedimentos da última noite no Egito. Depois de se conferir que não havia nenhuma
levedura na casa eles imolariam um cordeiro no décimo quarto dia do primeiro mês (Abib ou Nisan),
assariam e o serviriam às pessoas acompanhado de pão ázimo e ervas amargas. Na época do Novo
Testamento os judeus fizaram algumas mudanças nos detalhes na observância das festas. As pessoas comiam
Evangelhos I e II 36
relaxadamente ao invés de apressadamente o que significava que não se encontravam mais em escravidão,
eles passariam um copo de vinho à mesa em intervalos e cada um tomaria um gole, a tradição de aspergir-se
com sangue os umbrais e o travessão da porta parece que deixou de ser usado, e eles cantariam trechos dos
Salmos 113-118 durante e depois da refeição.
Como o dia para os judeus se iniciava no por do sol a refeição se fazia nas primeiras horas do décimo
quinto dia do mês. A Festa do Pão Ázimo se seguia à Páscoa propriamente dita e durava oito dias durante os
quais havia refeições sacras especiais e sacrifícios. O primeiro e o último dia eram convocações santas,
independendo em que dia da semana iam cair. Às vezes o evento todo era considerado a Páscoa. A época
desse evento era Março-Abril. Como Jesus Cristo foi crucificado no tempo da Páscoa e ressuscitou no
terceiro dia após, a Páscoa judaica e a Páscoa cristã que celebra a ressurreição, vem na mesma época do ano.

A Festa de Pentecostes:(Lev.23:15-20 Num.28:26-31). Esta foi uma festa dos primeiros grãos, que
chegam cinqüenta dias depois da Páscoa judaica. Tinha sido uma ação de graças pelas colheitas prontas para
ceifar e a apresentação dos primeiros frutos para Nosso Senhor e para os sacerdotes. Às vezes é assim
chamada a Festa das Semanas, porque chegou sete semanas depois da Páscoa judaica. A celebração era feita
no tabernáculo ou templo e durava apenas um dia. Este dia também era o aniversário da entrega dos
mandamentos de Deus no Monte Sinai. Para os cristãos é familiar pois neste dia o Espírito Santo mostrou seu
poder sobre os discípulos que formaram o núcleo da primeira igreja de Jerusalém (Atos 2:1).
Festa dos Trombetas: (Lev. 23:23-25); Num.. 29:1-6). Toda vez que esta ocasião é mencionada na
Bíblia, diz-se que era o primeiro dia do sétimo mês, mas desde longa data os judeus tinham observado como
o Ano Novo (Rosh Hashanah). Provavelmente até mesmo antes do êxodo do Egito tinha sido celebrado como
o início da primeira colheita do ano porque tinha chegado da colheita do ano anterior e antes da ceifa da
colheita do vindouro. De acordo com o calendário civil era o início do ano mas de acordo com o calendário
religiosos era o inicio da segunda metade do semestre. Era observado um dia de jejum em casa.

Dia do Perdão (Yom Kippur): (Lev. 16:1-34; 23:26-32; Num 29:7-11). Este dia, provavelmente o
mais sagrado do ano para um judeu devoto, era observado no décimo dia do sétimo mês. As pessoas
permaneciam em casa, fazendo abstinência de alimento por um dia inteiro (ocupados com confissão,
arrependimento e oração) enquanto que o sumo sacerdote oferecia sacrifícios pelos pecados cometidos pelas
pessoas durante o ano. Era o único dia do ano quando o sumo sacerdote entrava no santo dos santos levando
o sangue oferecido pelos pecados.

A Festa dos Tabernáculos: (Exo. 23:16; Lev. 23:34-44; Num. 29:12-40; Deut. 16:13-15 cf.Neh.8:13-
18). Esta era uma festa de oito dias começando no décimo quinto dia do sétimo mês pelo calendário
religioso. Assim as pessoas geralmente tinham o tempo suficiente para saírem de suas casas ao tabernáculo
ou templo depois do Dia do Arrependimento. O propósito era duplo. Era um dia de ação de graças pela
colheita já feita. Portanto as vezes era chamada de Festa da Colheita (Êxo. 23:16; 34:22) Para essa festa eles
levariam os dízimos da da colheita do ano anterior e o aumento do gado. Também celebrava a providência
divina pelos israelitas durante os quarenta anos que vagaram no deserto. Havia três práticas durante a semana
que comemoravam o zelo divino para com seus pais. Durante a semana as pessoas habitavam em barracas
para imitar os seus pais que habitavam em suas tendas no ermo. (Lev. 23:40-43; Neh. 8:14-15) Grandes
candelabros com muitas luzes eram colocados no átrio das mulheres na comemoração da coluna do fogo que
guiou as pessoas no ermo da noite. No último dia um lança-águas tinha sido trazido do poço de Siloan pela
multidão e despejadas as águas com grande cerimônia ao pé do altar no tribunal dos sacerdotes em
comemoração à água que os israelitas receberam de Nosso Senhor que brotou da rocha (Êxo. 17:5-6; Num.
20;11) O evangelista João relatou a Festa dos Tabernáculos que Jesus Cristo tinha presenciado (ch.7).

Evangelhos I e II 37
As Escrituras
Os judeus do Novo Testamento, a determinação do próprio Cristo, viam o Antigo Testamento como a
palavra de Deus (João 10:35). Neste tempo eles consideravam as suas Escrituras como compostas de três
grupos de livros: a Lei, os cinco livros de Moisés, os Profetas, incluindo muitos livros de história bem como
a maior parte dos livros de profecias; e as Escritas incluindo os Salmos e muitos outros do nosso Antigo
Testamento (Lucas 24:44). Em suas mentes os livros vieram de Deus através de Moisés (João 7:19, 9:28-29).
Moisés insistia que os Mandamentos e outras escritas deveriam ser recebidas e guardadas como vindas de
Deus (Deut. 6:6, 31:9-13, 24-26) e pelo tempo do estabelecimento na terra de Canaã estes livros de Moisés
eram vistos como as leis de Deus (Jsh.1:8, 8:32-36). Entretanto haviam grandes períodos de negligência da
lei. No tempo da escravidão os judeus tinham permissão de levarem à Babilônia cópias das leis e outros
livros preciosos - história e profecias e os Salmos e livros da sabedoria. Um novo interesse despertou para os
estudos da lei durante o exílio na Babilônia. Neste tempo os judeus cativos, estando em terras estrangeiros e
privados de seu templo e o sistema de sacrifícios se juntavam em grupos para estudo da lei, o canto dos
salmos e orações (Eze. 8:1; Ps.137).
Esdras que viveu primeiro na Babilônia e depois em Jerusalém pouco antes de encerrar o Antigo
Testamento, possivelmente ele teria juntado os livros do Antigo Testamento. Ele era de família de sacerdotes
e designou-se como o sacerdote-escriba (Esdras 7:1-6, 12). Quando ele migrou para Jerusalém ele despertou
um vivo interesse para os estudos dos livros sacros, assim a partir daí as Escrituras passaram a ter principal
influência entre os judeus.
Originalmente o Antigo Testamento tinha sido escrito em hebreu exceto em pequenos trechos de
Jeremias, Daniel e Esdras que eram escritos em aramaico - uma língua muito semelhante ao hebreu. Em
torno de 250 AC uma tradução para o grego foi feita em Alexandria (Egito) conhecida como Septuaginta
porque o trabalho tendo sido escrito por 70 estudiosos. Essa tradução foi feita do texto hebreu que diferia
ligeiramente em muitos pontos do texto aceito pelos escribas (texto massorético) mas a Septuaginta era de
muita influência no Novo Testamento. Ao citar textos do Antigo Testamento Jesus Cristo e os apóstolos se
referiam algumas vezes ao texto hebreu e outras vezes a Septuaginta isto por conta de algumas diferenças
entre as citações do Novo Testamento e do Antigo Testamento e a forma que essas passagens são lidas no
nosso Antigo Testamento.
Muitos judeus nos tempos de Cristo tinham dado à interpretação tradicional das leis pelos escribas tanta
importância quanto a própria lei. Estas são referidas em Mat. 15:2 e Marcos 7:5 como a tradição dos anciãos.
Esta tradição foi formada no terceiro século da era cristã num texto chamado Mishnah. No fim do quarto
século ganhou tamanho com mais outro material que formou a volumosa obra chamada Talmud que tem sido
de autoridade para rabinos judeus até a presente data.
Os quatorze livros conhecidos como apócrifos ou deuterocanônicos eram livros existentes na época de
Cristo. O primeiro Macabeus provavelmente expõe história autentica e descreve exemplos que inspiram
lealdade corajosa à verdadeira religião; mas os outros livros desta coleção são de pouco valor histórico ou
religioso. É possível que eles influenciaram até certo ponto o pensamento do povo da época do Novo
Testamento. Os primeiros cristãos, apesar de permitirem a leitura desses livros pelo seu sentido de edificação
considerava-os sem importância no sentido canônico.

Seitas Religiosas e Classes do Povo


Alguns dos grupos influentes ou partidos do povo mencionados nos evangelhos eram: os sacerdotes, os
escribas, os fariseus, os saduceus, os herodianos, os publicanos e os samaritanos. Além desses havia os
essênios e outros grupos similares, que não são mencionados na Bíblia, mas que são considerados pelos
estudiosos da Bíblia como de influência para o povo durante o tempo do Novo Testamento.

Os Sacerdotes: No início da história de Israel como nação Arão, irmão de Moisés, da tribo de Levi, foi
nomeado sumo sacerdote, e seus filhos nomeados sacerdotes junto com ele. Depois disso os sumo sacerdotes
Evangelhos I e II 38
e sacerdotes passaram a ter caráter hereditário na família de Arão. Com o tempo se tornaram tão numerosos
que nos tempos de Davi eles eram agrupados em vinte e quatro cursos (I Crôn. 23:1-10). Sem favor especial
o sacerdote poderia servir somente algumas vezes na vida dele, e muitos que eram de famílias de sacerdotes
nunca tinham oportunidade de servir. Fora suas funções no templo, sem dúvida a linhagem dos sacerdotes era
contemplada com honra e dignidade. Nos tempos do Antigo Testamento a consagração para sumo sacerdote
normalmente era designada a ser vitalícia porém no período intertestamental quando sujeitos ao poder de
estrangeiros, a designação dos sumo sacerdotes passou a ser feita pelos estrangeiros. Durante a época dos
Macabeus os sumo-sacerdotes tinham poder político significativo e depois que os romanos tomaram o poder
eles retiveram considerável poder como o ex-officio, presidente do Sinédrio. Consequentemente os
governantes romanos se apropriaram da autoridade para designar ou destronar os sumo sacerdotes. Um sumo
sacerdote muitas vezes perdia favores do governante romano e era substituído por outro depois de servir por
um curto período. Nos Evangelhos é freqüentemente mencionado o chefe dos sacerdotes que eram membros
do Sinédrio. O Sinédrio era formado pelo sumo sacerdote da época ou qualquer que tivesse ocupado o lugar
de sumo sacerdote e também os chefes dos vinte e quatro cursos de sacerdotes.

Os Escribas: Provavelmente era a classe que surgiu primeiro durante o exílio na Babilônia (Esdras
7:6). No início eles eram os copiadores profissionais que transcreviam a lei para aqueles que a desejavam.
Considerando que assim eles teriam em pouco tempo muito maior conhecimento da lei do que qualquer outra
pessoa, em breve eles se tornaram professores e seus intérpretes. Dentre eles vieram os advogados e rabinos
profissionais. Os mais letrados dentre eles eram doutores da lei. A tradição dos anciãos, tão bem conceituada
pelos fariseus, era composta na maior parte por interpretações da lei feita pelos escribas letrados.

Os Fariseus: Sem dúvida era o grupo de maior influência das seitas religiosas dos tempos de Cristo.
As raízes de algumas de suas práticas podem ser vistas nas reformas e orações de Neemias (Neh.13:14)
porém tiveram seu início como um grupo em luta contra os pagãos gregos nos tempos de Matatias e Judas
Macabeu. No início eram chamados Chasidim (Separatistas) por causa de sua determinação em resguardar-se
(e resguardar a nação) o quanto possível, da contaminação pelas influências estrangeiras. Durante os tempos
de Cristo a característica que os distinguia tinha sido a importância que davam no cumprimento da lei.
Queriam o mérito para si pelo cumprimento das leis e desejavam submeter até o próprio Deus às suas leis e a
si próprios (fariseus).
Eles consideravam as interpretações dos escribas (a tradição dos anciãos) tão importantes quanto a
própria Lei escrita. Eles se consideravam justos (e por isso os outros também os consideravam assim) e
julgavam os outros com muita crítica. Aqueles que desrespeitavam seus preceitos e padrões eram chamados
de pecadores. Eles acreditavam na existência de anjos, na vida pós morte e na futura ressurreição dos injustos
e dos justos. Em geral, eles eram a parte conservadora do judaísmo.

Os Saduceus: Os saduceus tinham seus preceitos opostos aos dos fariseus. Na maior parte eram
sacerdotes desejosos de ceder os princípios judeus em troca de favores de governantes estrangeiros.
Provavelmente começaram a serem vistos como uma classe separada durante o final do período grego. O
nome vem de Zadok, o sacerdote que era leal a Davi e Salomão quando Abiatar, o outro sacerdote, se
debandou para Adonias (I Rei 1:32-34). Sua doutrina e características eram: não aceitavam a existência dos
anjos, a imortalidade da alma, e qualquer idéia de ressurreição. Rejeitavam a tradição dos anciãos e a tradição
oral e aceitavam tão somente a escrita do Antigo Testamento. Eram rígidos no julgamento e não tinham
popularidade entre o povo.

Os Publicanos: Quando os romanos conquistaram a Judéia e anexaram-na como parte do Império, eles
impuseram o povo o pagamento de impostos. Os publicanos eram judeus que recolhiam estes impostos para
os romanos. Normalmente e cobrança de impostos era um emprego lucrativo, porque os coletores pagavam
Evangelhos I e II 39
um valor estipulado aos romanos e arrecadavam do povo o que bem desejavam ou podiam. Eram odiados
pelo povo, geralmente porque recolhiam impostos para conquistadores estrangeiros e freqüentemente
extorquiam do povo mais do que era devido e consequentemente enriqueciam. É claro que os publicanos não
intencionavam obedecer à lei judaica e costumavam ser classificados como pecadores. Jesus Cristo foi
chamado de amigo dos publicanos porque desejava receber aqueles que vinham a Ele e aceitar a
hospitalidade daqueles que convidavam-No a entrar em suas casas mas é claro não os redimia de culpa pela
sua extorsão.

Os Samaritanos: Eram de uma raça miscigenada. Eram descendentes dos israelitas do reino ao norte
que foram deixados no pais quando o norte de Israel foi tomado pelos assírios e também de estrangeiros que
migraram nos arredores da Samaria. Eles adoravam Javé mas na sua adoração eles introduziam muitas
influências pagãs. Durante a época persa eles construíram um templo no monte Gerizim, no qual seus
sacerdotes serviram por aproximadamente 275 anos. Esse templo foi destruído por João Hircano (121 AC) e
nunca foi reconstruído, mas os samaritanos continuaram a adoração no monte Gerizim e arredores. Os judeus
os desprezavam por causa da impureza de sua raça e também pela facilidade que eles faziam acordos
religiosos com os gregos e outros estrangeiros Eles existem até hoje mas o seu número se restringe a algumas
centenas. Eles tem posse de um manuscrito muito antigo dos livros de Moisés que tem muito valor nos
estudos do Antigo Testamento.
Os Essênios: Flávio Josefo o historiador, e Filo, o filósofo, registram a respeito de uma seita conhecida
como essênios que viveram durante o primeiro século. Esse povo não é mencionado na Bíblia. Alguns deles
viviam em grupos ou quartéis em muitas das cidades e aldeias sobre os quais diziam que viviam como
monges, isolados na costa oeste do Mar Morto, supostamente perto da cidade de Engedi. Em alguns aspectos
os ensinamentos desse povo se assemelhava aqueles dos fariseus, porém eles renunciavam a riqueza
mundana e seguiam um padrão rígido de uma vida santa. Não praticavam sacrifício animal, mas ofertavam
outros bens ao templo em Jerusalém. Na sua maioria renunciavam ao matrimonio e quaisquer atividades
relativas ao prazer. Novos membros que ingressassem eram postos à prova de rigores por três anos durante os
quais, a certos intervalos, conhecimentos secretos eram impostos. Na realidade, em alguns aspectos, se
assemelhavam a uma ordem secreta.
O interesse por esse povo foi reavivado com a descoberta dos pergaminhos do Mar Morto em 1947 e
mais tarde, que desvendou a existência de mais um grupo similar que viveu em Qumran, à distância
considerável de Engedi mas ainda próximo ao Mar Morto. Alguns estudiosos afirmam que estes é que eram
os essênios e que Qumran era o lugar de sua moradia e não Engedi. Mas os costumes e ensinamentos deste
grupo diferem consideravelmente daqueles relatados por Flávio Josefo e Filo. Alguns estudiosos sustentam
que João Batista era da influência destes grupos. Mas esse ponto de vista não é muito convincente, para o
autor algumas conclusões sugeridas parecem ser arbitrárias e não relacionadas a essa evidência.

O Sinédrio: Uma menção repetida no original grego do Novo Testamento, fala de um grande conselho
ou corte composta de sumo sacerdotes, anciãos e escribas. Este conselho não é comentado no Antigo
Testamento; provavelmente teve início durante o período intertestamental, possivelmente na época dos
Macabeus. Incluía setenta e um membros escolhidos dos três grupos mais influenciáveis entre o povo. O
sumo sacerdote sempre era um dos seus dois presidentes. O lugar de reunião não é conhecido; o Talmude
indica que era o Corredor de Pedra Cortada no templo mas Josefo menciona o local de encontro como fora do
templo. O grupo incluía saduceus e fariseus.
Durante o Novo Testamento o grupo tinha autoridade em assuntos religiosos e a maior parte dos
assuntos civis e uma pequena autoridade em assuntos criminais. Em casos de pena de morte, aprovação de
um procurador romano ou governador o grupo era solicitado antes da execução da sentença. Normalmente
não havia seções à noite ou no dia de sábado. Uma sentença de morte não poderia ser executada no mesmo
dia do julgamento. A decisão dos juizes tinha que ser examinada no dia seguinte.
Evangelhos I e II 40
A Esperança Messiânica
Muitas profecias sobre a vinda do Messias ou Cristo são encontradas no antigo Testamento. Às vezes
as profecias são obscuras mas compreensíveis para nós quando as analisamos com o enfoque do Novo
Testamento como por exemplo em Gen. 3:15, onde se diz que "sua descendência te esmagará a cabeça e tu
lhe ferrarás o calcanhar," mas em muitas outras a promessa está clara e certa. Um grande numero de
profecias promete um reino glorioso presidido pelo Rei enviado de Deus que libertaria Seu povo dos
inimigos e reinaria em retidão; e repetidamente foi predito que este rei seria da linhagem de Davi (Ps. 89:3-4;
Isa. 11:1-10; Jer. 23:5-6). Os judeus do período intertestamental sofrendo por causa dos maus governantes e
opressão dos gregos e romanos, encontram conforto e inspiração na antecipação do prometido Rei e Seu
Reino, e muitos dos escribas se dedicaram a um estudo aprofundado dessas profecias. Como resultado desse
estudo alguns dos escribas delinearam um mapa da idade messiânica. De Mateus 16:14 e João 1:21, é
evidente que os seus estudos incluiam o aparecimento de um profeta do Antigo Testamento, o
reaparecimento do profeta Elias e o aparecimento do Messias.
Antes do tempo de Jesus Cristo muitos falsos messias surgiram (Atos 5:36-37), que enquanto atraindo
multidões de seguidores chegavam a um fim desastroso. Os escribas podiam prontamente informar a Herodes
que Cristo iria nascer em Belém (Mat. 2:5-6) e sem hesitar responderam a Jesus que o Cristo seria um
descendente de Davi (Mat. 22:42). No tempo da pregação de João Batista o povo se encontrava na
expectativa (Lucas 3:25) compartilhada até pelos samaritanos. Havia muitos piedosos que esperavam pela
redenção do povo de Deus e notadamente Zacarias, pai de João Batista, Simão e Ana (Lucas 2:25-38) e José
de Arimatéia (Lucas 23:52).
Além dessas profecias que prometeram um Messias Real (da palavra Rei) há outras (Ps. 22:1-21;
Isa.53, e outros) que retrataram um sofredor que carregaria os pecados do mundo. Os cristãos reconheceram
com convicção este sofredor como o Cristo, prometido para ser Rei e Salvador. Também vale a pena notar
que Sal. 22:22-31, Sal. 110:2-3 e Isa 53:10 sugere um Reino espiritual em contraste com o glorioso Reino
retratado em outras profecias. Mas os fariseus que se designavam como os justos e os saduceus voltados à
política não reconheceram Jesus como o cumprimento de suas tão acalentadas esperanças das profecias
messiânicas. De comum acordo eles O condenaram à morte e sem saber, fizeram concretizar-se as profecias
sobre o Messias. Mas os cristãos reconheceram Jesus de Nazaré como o cumprimento de todas as profecias
messiânicas — eles confiaram Nele como o Salvador, eles reconheceram-No como o Senhor espiritual e Rei
de suas vidas.

Capítulo VIII
ENSINAMENTOS
SELECIONADOS DO SALVADOR

Amor:
Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento
e de toda a tua força.... amarás o teu próximo como a ti mesmo (Marcos 12:28-34). Misericórdia quero, e não
holocaustos; pois não vim chamar justos, e, sim, pecadores (ao arrependimento; Mateus 9:13). Aquele que
tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai,
e eu também o amarei e me manifestarei a ele. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes
amor uns aos outros (João 13:35). Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em
favor dos seus amigos (João 15:13, veja também Mateus 5:42-48, João 13:34-35).

Arrependimento:
Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus! (Mateus 3:2). Ide porém, e aprendei o que
significa: Misericórdia quero, e não holocaustos, pois não vim chamar justos e sim pecadores (ao
Evangelhos I e II 41
arrependimento) (Mateus 9:13). Todo o que comete pecado é escravo do pecado.(João 8:34-37). Se porém
não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis (Lucas 13:3-5 também Mateus 4:17, João 5:14, Lucas
7:47, Lucas 13:1-5, Mateus 18:11-14, a parábola da ovelha perdida, Lucas 15:11-32, a parábola do filho
pródigo, Lucas 18:9-14, a parábola do publicano e fariseu).

Boas ações:
Tudo quanto, pois quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a
lei e os profetas (Mateus 7:12). Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus (Mateus 5:16); E quem der a beber ainda que
seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de
modo algum perderá o seu galardão" (Mateus 10:42). Também veja Lucas 19:11-27, Mateus 25:31-46, Lucas
10:25-37, parábola do bom samaritano, também a parábola da figueira sem frutos, Lucas 13:6-9.

Caminho-estreito:
Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz para a perdição e são muitos
os que entram por ela), porque estreita é a porta e apertado o caminho que o conduz para a vida, e são poucos
os que acertam com ela (Mateus 7:13-14). Desde os dias de João Batista até agora o reino dos céus é tomado
por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele (Mateus 11:12). E quem não toma a sua cruz e vem após
mim, não é digno de mim (Mateus 10:38, também Lucas 13:22-30, Marcos 8:34-38, Lucas 14:25-27, João
12:25-26).

Caridade:
Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! entrai na posse do reino
que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me deste de comer tive sede e me
deste de beber, era forasteiro e me hospedastes, estava nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; preso e
fostes ver-me (Mat. 25:34-36; e também Lucas 21:1-4).

Castidade e fidelidade conjugal:


(Mat. 5:27-32; 19:3-12) Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: Qualquer que
olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela.
Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus
membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno. E se tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-
a de ti, pois te convém que se perca um dos teus membros e não vá todo o teu corpo para o inferno. Também
foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio; Eu, porém vos digo: Qualquer que
repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que
casar com a repudiada, comete adultério.
Vieram a Ele alguns fariseus, e O experimentavam, perguntando: É lícito ao marido repudiar a sua
mulher por qualquer motivo? Então respondeu Ele: Não tendes lido que o Criador desde o princípio os fez
homem e mulher, e que disse: por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se
os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou
não o separa o homem. Replicara-lhe: Por que mandou então Moisés dar carta de divórcio e repudiar?
Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossas
mulheres; entretanto, não foi assim desde o princípio. Eu, porém vos digo: Quem repudiar sua mulher, não
sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra, comete adultério (e o que casar com a
repudiada comete adultério) Disseram-lhe os discípulos: se essa é a condição do homem relativamente à sua
mulher não convém casar. Jesus, porém lhes respondeu: Nem todos são aptos para receber este conceito, mas
apenas aqueles a quem é dado. Porque há eunucos de nascença, há outros a quem os homens fizeram tais, e

Evangelhos I e II 42
há outros que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir,
admita.

Santa Comunhão:
Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, permanece em mim e eu nele. Quem comer a minha
carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia (João 6:27-58; Lucas 22:15-
20).

Coragem:
Estai de sobreaviso, vigiai (e orai) porque não sabeis quando será o tempo. É como se um homem que,
ausentando-se do país, deixa a sua casa, dá autoridade aos seus servos, a cada um a sua obrigação, e ao
porteiro ordena que vigie. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-
noite, se ao cantar do galo, se pela manhã.; para que, vindo ele inesperadamente, não vos ache dormindo
(Marcos 13:33-37; veja também Lucas 11:24-26 e 21:34-36 e Mateus 8:28-33).

Fé:
Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele
crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes tudo é possível ao
que crê (Marcos 9:23) Disse-lhes Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e
creram (João 20:29, também veja Mateus 16:17, Lucas 17:5-10 Marcos 16:16).

Fé em Deus:
Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto nenhum deles está em esquecimento diante de
Deus. Até os cabelos da vossa cabeça todos estão contados. Não temais! Bem mais valeis do que muitos
pardais. (Lucas 12:6-7). Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim. (João 14:1)
Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus (Lucas 18:27). Porque o Filho do homem veio buscar e
salvar o perdido (Lucas 19:10).

A Graça do Espírito Santo:


O que é nascido da carne, é carne; o que nascido do Espírito, é espírito (João 3:6). Afirmou-lhe Jesus:
quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá
sede para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.
(João 4:13-14). Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai
celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem? (Lucas 11-13). Quando vier, porém, o Espírito da
verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e
vos anunciará as coisas que hão de vir (João 16:13, veja também 7:37-39 e 14:15-21 e 16:13, também
Marcos 4:26-29 a parábola da semente; Mateus 13:31-32, a parábola do grão de mostarda; Mateus 25:1-13, a
parábola das dez virgens.

Gratidão:
Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve porventura quem voltasse para
dar glória a Deus, senão este estrangeiro? Levanta-te e vai, a tua fé te salvou. (a história dos dez leprosos,
Lucas, 17:11-19).

Humildade:
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus (Mateus 5:3). Pois todo o
que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado (Lucas 14:11). Pois todo o que se exalta será
humilhado e o que se humilha ser exaltado (Lucas 14:11). Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim,
Evangelhos I e II 43
porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas (Mateus 11:29). Quem
quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva (Mateus 20:26, veja também Lucas 10:21, Lucas
18:9-14, Marcos 10:42-45, João 13:4-17, Mateus 20:1-16, a parábola dos trabalhadores na vinha).

Jejum:
Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum (Mateus 17:21; também veja Marcos
2:19-22, Mateus 6:16-18, Marcos 9:29).

Não-julgamento:
Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e
com a medida com que tiverdes medido vos medirão também (Mateus 7:1-2).

Oração:
Pedi, e dar-se-vos-á, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á, pois todo o que pede recebe, o que busca,
encontra e a quem bate, abri-se-lhe-á (Mateus 7:7-11). E tudo que quanto pedirdes em oração, crendo,
recebereis (Mateus 21:22). Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai
em espírito e em verdade, porque são estes que o Pai procura para seus adoradores, Deus é espírito, e importa
que os seus adoradores o adorem em espírito em verdade (João 4:23-24). Veja também Mateus 6:5-15,
Mateus 18:19-20, Marcos 11:23, João 16:23-27, Marcos 14:38, Lucas 11:9-10, Lucas 18:1-8, a parábola do
juiz injusto.

Paciência:
É na vossa perseverança que ganhareis as vossas almas (Lucas 21:19). Sereis odiados de todos por
causa do meu nome, aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo (Mateus 10:22), A que caiu na
boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retém a palavra, estes frutificam com perseverança
(Lucas 8:15); ...disse, porém Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro
igualmente os males, agora porém, aquele, ele está consolado, tu, em tormentos (Lucas 16:19-31, a parábola
do rico e Lázaro.).

Palavra:
Como podeis falar coisas boas, sendo maus? porque a boca fala do que está cheio o coração. O homem
bom tira do tesouro bom coisas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira coisas más, digo-vos que de
toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia de juízo; porque pelas tuas palavras
serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado (Mateus, 12:34-37, Mateus 5:22).

Preocupações terrenas:
Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
(Mateus 6:19-34) Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? ou que dará
o homem em troca da sua alma? (Mateus 16:26). Filhos, quão difícil é (para os que confiam nas riquezas)
entrar no reino de Deus! (Marcos 10:24, veja também Lucas 10:41-42, Marcos 10:17-27, Lucas 12:13-21
parábola reprovando o rico avarento).

Prudência:
Vede que ninguém vos engane (Mateus 24:4), veja também Lucas 14:28-33, Lucas 16:1-13 a parábola
do administrador infiel.

Pureza de coração:

Evangelhos I e II 44
Bem-aventurados os limpos de coração porque verão a Deus (Mateus 5:8). Porque do coração
procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São
estas as coisas que contaminam o homem, mas o comer sem lavar as mãos não o contamina (Mateus 15:19-
20). São os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra, estes frutificam com perseverança
(Lucas 8:15). Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado(João 15:3, Marcos 7:15-23).

Reconciliação e Perdão:
Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará (Mateus
6:14). Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. (Mateus 18:22, veja
também Mateus 5:23-26, Lucas 23:34, Mateus 18:23-35; a parábola do credor incompassivo.

Regozijo em Deus ou Exaltação em Deus:


Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus, pois assim perseguiram aos
profetas que viveram antes de vós (Mateus 5:12). Vinde a mim todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e
humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é
leve (Mateus 11:28-30). Eu lhes dou a vida eterna, jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da
minha mão (João 10:28). Assim também agora vós tendes tristeza, mas outra vez vos verei, o vosso coração
se alegrará e a vossa alegria ninguém poderá tirar (João 16:22).

Retidão:
Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça porque serão fartos (Mateus 5:6). Então os justos
resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos (para ouvir) ouça. Portanto sede vós
perfeitos como perfeito é o vosso Pai celestial (Mateus 5:48).

Tentações:
E se tua mão te faz tropeçar corta-a pois é melhor entrares maneta na vida do que tendo as duas mãos
ires para o inferno, para o fogo inextinguível (Marcos 9:43-49). Aí do mundo, por causa dos escândalos,
porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo (Mateus 18:7,
Lucas 17:1-2).

Unidade:
Então haverá um rebanho e um pastor (João 10:16). A fim de que todos sejam um e como és tu, o Pai,
em mim e eu em ti, também sejam eles em nós para que o mundo creia que tu me enviaste (João 17:21).
Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles (Mateus 18:20).

Verdade:
Então lhe disse Pilatos Logo tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para
isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.
(João 18:37 também veja Mateus 13:44-46, a parábola do tesouro).

Virtudes:
O desenvolvimento de boas qualidades foi o ensinamento constante de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por
exemplo Seu Sermão da Montanha (Mateus cap. 5-7) e as Bem-aventuranças nas quais é traçado o caminho
para o total cumprimento (ou realização?). A parábola do semeador (Mateus 13:3-23) e especialmente na
parábola dos talentos (Mateus 25:14-30) mostra-se a importância do desenvolvimento das habilidades que
nos são dadas por Deus. A combinação dos dons agraciados com o desenvolvimento das habilidades
(talentos) compõe a riqueza básica do homem. É por isso que se diz que "o reino de Deus está dentro em vós"
Evangelhos I e II 45
(Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de
Deus com visível aparência. Nem dirão: ei-lo aqui! ou: Lá está! porque o reino de Deus está dentro em vós
(Lucas 17:21).

Vontade de Deus:
Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu (Mateus 6:10). Nem todo o que me diz: Senhor,
Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus (Mateus 7:21).

CONCLUSÃO

As mais belas histórias que o mundo conheceu ficaram de pouca importância, diante da mais linda
história de amor que conhecemos a vida de Jesus, ―o Cristo‖. Os homens que Jesus convidou para serem
Seus discípulos foram testemunhas oculares de toda a obra do Filho de Deus aqui na terra, além de muitos
outros espectadores. Aqueles discípulos que vivenciaram intensamente a Faculdade de Teologia mais
ortodoxa e eficaz de todo o Universo, testemunharam até a morte o que viram e ouviram do Mestre dos
mestres. Homens de várias classes sociais como; pescadores, cobradores de impostos e até um doutor, no
momento oportuno, escreveram a história do Rei, Mestre, Senhor, Filho de Deus, cada qual na sua ótica,
entretanto inspirados pelo Espírito Santo. Os ângulos vistos pelos discípulos eram diferentes, ainda que dos
mesmos fatos observados, porém não há contradição temática. Nos Evangelhos, todos podem presenciar que
cada autor, se demora mais em um determinado aspecto da vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo.
Deus estava em carne e sangue entre os homens, como o anjo anunciara; Seu nome será Emanuel. Seu
primeiro advento foi o principal assunto de todo o povo de Deus durante 04 (quatro) milênios, e após a Sua
ascensão, a nota tônica da igreja ainda é, o Seu segundo advento. Mat. 24, 25. Jesus deixou à Sua igreja
todas as coordenadas quanto ao procedimento que Seus filhos fiéis deveriam ter, e ainda os acontecimentos
proféticos que assinalariam o Seu retorno a terra para receber os que sob perseguição, fome, nudez, não
abandonou a fé, ficando com eles até o fim por meio do Santo Espírito. Portanto o Cerne, Âmago,
Personagem Central, Protagonista desta Maravilhosa História de amor, é Cristo Jesus, como diz Paulo,―
Autor e consumador de nossa fé‖.

Evangelhos I e II 46
BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia Sagrada. A Bíblia Anotada, Versão Revista e Atualizada. Editora
Mundo Cristão.
AURÉLIO, Dicionário Eletrônico. Editora Nova Fronteira.
BARBAGLIO, Giuseppe; FRABRIS, Rinaldo & MAGGIONI, Bruno. Os Evangelhos I. São Paulo: Loyola,
1990.
DAVIDSON, F. O Novo Comentário da Bíblia. 3 vols. São Paulo: Edições Vida Nova.
DELORME, J. Leitura do Evangelho Segundo Marcos. São Paulo: Paulus, 1982.
FABRIS, Rinaldo & Maggioni, Bruno. Os Evangelhos. 2 Vols. São Paulo: Edições Loyola.
GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1978.
MARWELL, A Grahn. Você Pode Confiar Na Bíblia? São Paulo: CPB, 1993.
MORACHO, Félix. Como Ler os Evangelhos. São Paulo: Paulus, 1994.
WATSON, S.L & ALLEN, W.E. Harmonia dos Evangelhos. 5.ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1979.

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