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In: Obras
completas, vol. XI. Op. cit., p. 231-232.
I. OBSERVAÇÕES INTRODUTÓRIAS
Senhores. Todos vós ouvistes com muita satisfação o arrazoado feito por um educador que não
admitirá que uma acusação injusta se levante contra a instituição que lhe é tão cara. Mas eu sei que, de
todo modo, não estais inclinados a dar fácil crédito à acusação de que as escolas impelem seus alunos ao
suicídio. Não nos deixemos levar demasiado longe, no entanto, por nossa simpatia pela parte que foi
injustamente tratada nesse caso. Nem todos os argumentos apresentados pelo iniciador da discussão me
parecem sustentáveis. Se é o caso que o suicídio de jovens ocorre não só entre os aluno de escolas
secundárias, mas também entre aprendizes e outros, este fato não absolve as escolas secundárias; isto
deve talvez ser interpretado como significando que no, concernente a seus alunos, a escola secundária
toma o lugar dos traumas com que outros adolescentes se defrontam em outras condições de vida. Mas
uma escola secundária deve conseguir mais do que não impelir seus alunos ao suicídio. Ela deve lhes dar
o desejo de viver e devia oferecer-lhes apoio e amparo numa época da vida em que as condições de seu
desenvolvimento os compelem a afrouxar seus vínculos com a casa dos pais e com a família. Parece-me
indiscutível que as escolas falham nisso, e a muitos respeitos deixam de cumprir seu dever de
proporcionar um substituto para a família e de despertar o interesse pela vida do mundo exterior. Esta
não é a ocasião oportuna para uma crítica às escolas secundárias em sua forma presente; mas talvez eu
possa acentuar um simples ponto. A escola nunca deve esquecer que ela tem de lidar com indivíduos
imaturos a quem não pode ser negado o direito de se demorarem em certos estágios do desenvolvimento
e mesmo em alguns um pouco desagradáveis. A escola não pode ajudicar-se o caráter de vida: ela não
deve pretender ser mais do que uma maneira de vida.
Senhores. Tenho a impressão de que, a despeito de todo o valioso material que nos foi exposto,
nesta discussão, não chegamos a uma decisão sobre o problema que nos interessa. Estávamos ansiosos
sobretudo em saber como seria possível subjugar-se ao extraordinariamente poderoso instinto da vida:
isto pode apenas acontecer com o auxílio de uma libido desiludida, ou se o ego pode renunciar à sua
autopreservação, por seus próprios motivos egoístas. Pode ser que tenhamos deixado de responder a
esta indagação psicológica porque não temos meios adequado para abordá-la. Podemos, eu acredito,
apenas tomar como nosso ponto de partida a condição de melancolia, que nos é tão familiar clinicamente,
e uma comparação entre ela e o afeto do luto. Os processos afetivos na melancolia, entretanto, e as
vicissitudes experimentadas pela libido nessa condição nos são totalmente desconhecidos. Nem
chegamos a uma compreensão psicanalítica do afeto crônico do luto. Deixemos em suspenso nosso
julgamento até que a experiência tenha solucionado este problema.