Desde os tempos mais remotos até a atualidade a família tem passado
por profundas modificações, tanto em sua essência quanto em sua estrutura. Por isso, objetiva descrever a evolução histórica da família no Brasil, e os reflexos da família contemporânea no ordenamento jurídico vigente.
1.1 EVOLUÇÃO DA FAMILIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA
A concepção do que temos de família na atualidade é bem diferente da
concepção de tempos atrás, é notório saber que o conceito de família vem sendo ampliado, uma vez que estamos em um momento de desenvolvimento jurídico e social. A família na sociedade brasileira por muito tempo trouxe em sua essência uma ideia patriarcal, e hierarquizada, com uma imagem de um pai autoritário detentor do poder e a falta de direitos aos componentes familiares o que diz respeitos às mulheres e filhos. Dias elenca que a família “era como entidade patrimonializada, seus membros representavam força de trabalho. O crescimento da família ensejava melhores condições de sobrevivência a todos” (DIAS 2013, p. 28).
Com a revolução industrial esse quadro começa a sofrer profundas
mudanças, com a inserção da mulher no mercado de trabalho, a estrutura familiar se alterou deixando seu caráter produtivo. Para Dias (DIAS 2013, p. 28) isso fez com que as famílias migrassem do campo para a cidade, proporcionado uma aproximação dos membros familiares, prestigiando os vínculos afetivos. Surgindo, portanto, as famílias formadas por laços afetivos de carinho e amor.
Diante de tal panorama, o formato hierarquizado da família cedeu, dando
lugar as relações de igualdade e mútuo respeito. Essa evolução por qual passou a família acabou forçando sucessivas alterações legislativas, como apresenta o tópico a seguir.
1.2 EVOLUÇÃO DO DIREITO DE FAMÍIA NO BRASIL
Analisar a família, usa-se como base a própria sociedade, uma vez que suas transformações ao logo da história motivam a formação dos arranjos sociais em vigor, que consequentemente reflete na legislação que sempre procura acompanhar esse processo transformativo.
Far-se-á o presente estudo, uma análise aos acontecimentos histórico,
sociais e culturais na sociedade brasileira, convém destacar que será realizada uma abordagem a partir da idade contemporânea.
Como hora demostrado, a sociedade brasileira seguia um modelo de
família patriarcal hierarquizado, com uma imagem de um pai, detentor do poder, onde os demais componentes familiares, como esposas e filhos não possuíam direitos. O código civil brasileiro de 1916 reconheceu a família como aquelas constituídas pelo casamento civil. Em uma vã tentativa de preservar esse modelo de família, Dias elenca que (Dias, 2013, p. 30) as Referência feitas aos vínculos extramatrimoniais e aos filhos ilegítimos eram punitivas e serviam exclusivamente para excluir direitos.
Apesar das crescentes transformações sociais nas famílias brasileiras,
até metade do séculos XX , seguiam-se o modelo patriarcal, onde a mulher casada era considerada relativamente incapaz, precisando de assistência do marido para exercer atos da vida civil. Essa incapacidade retirava da mulher o direito de
Para Dias (DIAS 2013 p. 29) a família é cantada e decantada como a
base da sociedade, e por isso merece atenção especial do estado. No artigo 16 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948) “a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do estado”. Trás uma ideia que a missão maior do estado e a proteção do organismo familiar. Porém a evolução da concepção de família na sociedade brasileira impõe constantes alterações do comportamento e ordenamento jurídico, no entanto para Dias (DIAS 2013 p.29) a mais árdua tarefa é mudar as regras do direito das famílias, isso porque ele é o ramo do direito que rege a vida das pessoas, o que vai muito além de uma regulação patrimonial, pois interfere também nos sentimentos do ser humano. Dias (DIAS 2013 p.29) ainda conclui que o legislador não consegue acompanhar a realidade social nem contemplar a inquietação das famílias contemporânea.
Para compreendemos o direito das famílias, não se pode resumi-lo em
simples relações patrimoniais, reguladas pelo estado, deve-se levar em consideração, portanto, a manutenção do afeto, como sua preocupação primaria.
Como demostra-se, por muito tempo a família no Brasil, seguia uma
modelo hierarquizado, modelo esse que cedeu, dando lugar à democratização das famílias, onde todos os componentes familiares começam a desfrutar de direitos, a exemplo temos a instituição do divórcio com o advento da lei 6.515 (BRASIL, 1977) que acabou com a indissolubilidade do casamento e trouce uma crescente emancipação das mulheres na sociedade brasileira. Como também a Constituição Feral de 1988 que instaurou igualdade entre homem e mulher, passou também a proteger de forma igualitária todos os membros da família, reconhecendo também a união estável entre homem e a mulher, consagrou também a igualdade dos filhos, havidos ou não do casamento, ou por adoção garantindo-lhes os mesmos direitos.
Com isso trouxe uma significativa evolução no direito de família.
Percebesse, portanto, que o direito no âmbito familiar tende a valorizar cada vez mais o afeto e o amor, relegando direitos patrimoniais, econômicos e religiosos como preocupações segundarias.
Pode-se dizer que as famílias contemporâneas, é um resultado das
transformações sociais.
Para Maria Berenice Dias:
Houve uma personalização das relações familiares na busca do
atendimento aos interesses mais valiosos das pessoas humanas: afeto, solidariedade, lealdade, confiança, respeito e amor. Ao estado, inclusive nas suas funções legislativas e jurisdicionais, foi imposto o dever jurídico constitucional de implementar medidas necessárias e indispensáveis para a constituição e desenvolvimento das famílias (DIAS, 2013, p. 33-34).
Portanto, cabe ao estado o dever de apresentar para as famílias
soluções, na busca de soluções a seus interesses.
1.3 CONFLITOS DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS CONEMPORÂNEA
Com as profundas modificações que tem passado as famílias ao logo
dos tempos, houve um grande reflexo nos conflitos familiares. Em uma relações
Por envolver vínculos afetivos, é comum nos conflitos familiares que as
pessoas envolvidas quase sempre se encontram em estado de confusão de sentimentos, onde amor e ódio se confundem, trazendo à tona sentimentos como vingança, ódio e medo. Dificultando o diálogo entre as partes.
Para Maria Berenice Dias:
A sentença raramente produz um efeito apaziguador desejado pela
justiça. Principalmente nos processos que envolvem vínculos afetivos – em que as partes estão repletas de temores, queixas e mágoas -, sentimentos de amor e ódio se confundem. A resposta judicial jamais corresponde aos anseios de quem busca muito mais resgatar prejuízos emocionais pelo sofrimento de sonhos acabado do que reparações patrimoniais ou compensação de ordem econômica. Independente do termino judicial, subsiste o sentido de impotência dos componentes do litigio familiar. (DIAS, 2013, p. 85).
O judiciário, portanto, se mostra ineficiente em resolver conflitos na
seara familiar, pois a excessiva valorização da norma jurídica, só leva em conta os anseios patrimoniais, impedindo, portanto, colocar sob proteção a família e seus conflitos.
Não tendo possiblidade do poder judiciário regulamentar a singularidade
dos conflitos familiares, a medição vem ganhado força, propondo um mecanismo eficiente em face dos conflitos no âmbito familiar.