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RO B E RT L.

ST E V E N SO N

O MÉDICO E O MONSTRO: HÁ 120


ANOS, UMA HISTÓRIA INSPIRADORA
Em 2006, O médico e o monstro dicotomia que opõe civilização à
(The strange case of dr. Jekyll and mr. instinto ou segurança à liberdade.
Hyde), do escritor escocês Ro b e rt O tema do duplo estará pre s e n t e ,
Louis St e venson, completa 120 também, em outros escritos de Ste-
anos, sendo seguramente um dos venson, como o excelente conto
l i v ros mais adaptados para o teatro , “Markhein”. Vale a pena notar que,
cinema e televisão em todo o no pequeno prédio do Wr i t e r’s
mundo. Segundo o próprio St e ve n- Museum, em Edimburgo, o acervo
son, em entrevista publicada no s o b re St e venson também sugere célebres versões da novela de Steven-
The New Yo rk He ra l d d e algo da dualidade (ou multiplici- son estão a de John S. Robertson, de
8/09/1887, teria vindo-lhe em dade) do próprio escritor. Nele são 1920, com John Ba r rymore; a pri-
sonho o argumento para a história retratados o St e venson da fria e meira versão sonora, de Rouben
do médico que descobre, por meio escura capital escocesa, a “cidade dos Mamoulian, de 1931, com Fredric
da química, uma maneira de divi- mortos”, o das viagens pela França, o March (ganhador do Oscar por sua
dir suas porções boa e má, ou civili- da vida em família e o do convívio atuação como Jekyll/Hyde), e a de
zada e selvagem. com a cultura samoana do pacífico Victor Fleming, de 1941, com
O médico e o monstro é um precursor sul. Enfim, fragmentos da vida de Spencer Tracy, Lana Turner e Ingrid
– senão fundador, ao lado de Fran- um artista do mundo. Bergman – todas norte-americanas.
kenstein ou O Prometeu moderno Em 1963, Jerry Lewis lança uma
(1818), de Mary Shelley – do gênero NO CINEMA Ac redita-se que a pri- comédia hilariante inspirada na
da ficção científica. Toda a linhagem meira versão cinematográfica de O novela de Stevenson: The nutty pro-
dos “cientistas loucos” tem uma médico e o monstro seja americana, de fessor (O professor aloprado). Ao
dívida com os doutores Fr a n k e n s- 1908, dirigida por Otis Turner e longo dos anos 1970, 1980 e 1990,
tein e Jekyll. A novela de Stevenson produzida por William Selig. Nesse o plot de O médico e o monstro servirá
retoma o velho mito do duplo, re s- filme já são introduzidas as persona- de base para filmes diversos, os quais
gatado pelo romantismo alemão na gens da noiva e do sogro do dr. discutem da problemática racial ao
figura do Doppelgänger, tema já tra- Jekyll, inexistentes na novela de Ste- tema da mudança de sexo. No Bra-
tado em The private memoirs and venson, mas absorvidas da adapta- sil, até mesmo Os Trapalhões usa-
confessions of a justified sinner ção teatral da história, em 1897, por ram a história de Stevenson, com O
(1824), do escocês James Hogg, ou Luella Forepaugh e George Fish. i n c r í vel monstro tra p a l h ã o (1980),
A história maravilhosa de Peter Schle- Desde então, sucederam-se diversas de Adriano Stuart, um dos melhores
mihl (1813), de Adelbert von Cha- adaptações de O médico e o monstro filmes do grupo. Mary Reilly (1996),
misso, entre outros. À luz do pensa- para o cinema, nos EUA, Dina- de Stephen Frears, é um dos mais
mento freudiano, especialmente de marca, Inglaterra, Alemanha e recentes filmes baseados na obra.
O mal-estar na civilização (1930), o u t ros países. De 1914 em diante Outras obras do autor também serv i-
não é difícil associar o dualismo que surgem as primeiras paródias ou ram de inspiração no cinema. É o
afeta o personagem He n ry Jekyll à adaptações livres. De n t re as mais caso do romance A ilha do tesouro,

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que deu origem a outros inúmero s
filmes ou séries de TV, como A ilha
do futuro (L’isola del tesoro) prod uç ã o
ítalo-alemã de 1987, sob a direção de
Antonio Margheritti, e a animação
n o rte-americana Pl aneta do tesouro
(Tre as u re planet) de 2002, de Ron
Clements e John Musker, exemplos
apenas do gênero da ficção científica.
Um re t rospecto da influência de
Jekyll e Hyde no cinema ilustra bem
o poder de sedução de alguns perso-
nagens literários, cuja existência
parece preceder e ir além da própria
obra que lhes deu origem. Com base
em sua experiência clínica, o médico
Theodore Dalrymple comenta, em
seu artigo “Mr. Hyde and the epide-
miology of evil” (em The New Art Cena do filme de estréia de Elza Ca taldo na dire ç ã o
Cr i t e r i o n, v. 23, nº 1, setembro de
2004, p. 24-8), que “mesmo pessoas figura entre as primeiras tentativas
iletradas, que nunca leram um livro CINEMA de tornar o Brasil uma república
em suas vidas, fazem uso de Jekyll e independente de Portugal.
Hyde enquanto metáfora.” Quando se trata das mulheres que
St e venson já foi considerado autor OBRA RESGATA v i veram no mesmo período, po-
de literatura juvenil e acusado de ser rém, a história se apresenta cheia de
um escritor afetado. Contudo, a HISTÓRIA DAS lacunas. Por isso, a cineasta teve que
força de seus personagens e a atuali- MULHERES NA recorrer também à ficção para “pre-
dade de suas histórias tem contra- encher essas lacunas de forma plau-
riado opiniões negativas e garantido
a sobrevivência de sua obra no decor-
INCONFIDÊNCIA síve l”. Na história oficial, elas são
relegadas ao papel de coadjuva n t e s
rer dos séculos. Graham Gre e n e , sem voz. No cinema, tornaram-se
Ítalo Calvino e Jorge Luiz Borges L i b e rdade, ainda que tardia, e no protagonistas. O padre, o sacristão,
estão entre os que consideraram St e- gênero feminino. O filme Vinho de o advogado e outros personagens
venson um mestre. No início deste rosas, o primeiro da cineasta mineira masculinos compõem a narrativa ,
ano, foi lançada uma nova biografia Elza Cataldo, em parte resgata em mas não conduzem o enredo, não
do autor escocês, escrita por Claire parte recria a história de Joaquina, são eles que contam a história.
Harman (Ro b e rtLouis St e venson – a filha de Joaquim José da Silva “Acho que o olhar feminino traz um
biogra p h y, Harper Collins, 528 Xavier, o Tiradentes. Condenado à n ovo enfoque à história do Br a s i l ,
págs), marcando, talvez, o início de morte e enforcado no Rio de Janeiro ao revelar a forma como as persona-
uma revisão crítica desse que foi um em 21 de abril de 1792, o pai de Joa- gens femininas se re l a c i o n a r a m
dos mais influentes contadores de quina é personagem conhecida – e com os inconfidentes”.
histórias da literatura universal. controversa – dos livros de história. A cidade de Ou ro Preto – antiga
O movimento de libertação que Vila Rica – constituiu o principal
Alfredo Luiz Suppia l i d e rou, a Inconfidência Mi n e i r a , cenário do filme, da mesma forma

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