Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Informativo 626-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
DESAPROPRIAÇÃO
Não cabimento de restituição pelo expropriado dos honorários periciais.
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
Legitimidade do Município para defesa dos consumidores.
DIREITO CIVIL
INVENTÁRIO
Citação dos herdeiros por correio com aviso de recebimento.
DIREITO DO CONSUMIDOR
INAPLICABILIDADE DO CDC PARA O TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL
Limitação do direito à indenização em viagens internacionais.
DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Crédito derivado de fato ocorrido antes da recuperação judicial.
PROCESSO COLETIVO
Legitimidade do Município para defesa dos consumidores.
DIREITO PENAL
ROUBO
Abolitio criminis promovida pela Lei 13.654/2018 no roubo.
DIREITO TRIBUTÁRIO
SANÇÕES POLÍTICAS
Impossibilidade de sanções políticas.
IMPOSTO DE RENDA
Valor recebido pelo jogador a título de “direito de arena” sujeita-se ao IRPF.
DIREITO INTERNACIONAL
HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA
Para que a sentença estrangeira seja homologada no Brasil é necessário que ela esteja eficaz no país de origem.
DIREITO ADMINISTRATIVO
DESAPROPRIAÇÃO
Não cabimento de restituição pelo expropriado dos honorários periciais
Nas ações de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária descabe a
restituição, pelo expropriado sucumbente, de honorários periciais aos assistentes técnicos do
INCRA e do MPF.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.306.051-MA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 08/05/2018
(Info 626).
Procedimento da LC 76/93
O procedimento judicial da desapropriação de imóvel rural, por interesse social, para fins de reforma
agrária, deverá obedecer ao contraditório especial, de rito sumário, previsto na LC 76/93.
Ação de desapropriação
Em seguida, o órgão federal executor da reforma agrária (atualmente, o INCRA) deverá propor ação de
desapropriação, que será processada e julgada na Justiça Federal.
Contestação
A contestação apresentada pelo proprietário deve ser oferecida no prazo de 15 dias e versar matéria de
interesse da defesa, excluída a apreciação quanto ao interesse social declarado.
Perícia
Recebida a contestação, o juiz, se for o caso, determinará a realização de prova pericial.
As partes (INCRA e expropriado), assim como também o MPF, podem indicar assistentes técnicos para
acompanharam o trabalho do perito.
Sentença
O juiz proferirá sentença na audiência de instrução e julgamento ou nos 30 dias subsequentes, indicando
os fatos que motivaram o seu convencimento.
Ao fixar o valor da indenização, o juiz considerará, além dos laudos periciais, outros meios objetivos de
convencimento, inclusive a pesquisa de mercado.
O valor da indenização corresponderá ao valor apurado na data da perícia, ou ao consignado pelo juiz,
corrigido monetariamente até a data de seu efetivo pagamento.
Na sentença, o juiz individualizará o valor do imóvel, de suas benfeitorias e dos demais componentes do
valor da indenização.
Suponhamos que o expropriado foi sucumbente, ou seja, a indenização foi fixada pelo juiz em valor
inferior ao oferecido pelo INCRA. Neste caso, ele terá que pagar honorários periciais aos assistentes
técnicos do INCRA e do MPF?
NÃO.
Nas ações de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária descabe a restituição,
pelo expropriado sucumbente de honorários periciais aos assistentes técnicos do INCRA e do MPF.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.306.051-MA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 08/05/2018 (Info 626).
Os assistentes técnicos do INCRA e do MPF são servidores de carreira das instituições. Não foram,
portanto, contratados de maneira particular para a realização do acompanhamento deste trabalho
pericial. Logo, o expropriado não deverá pagar qualquer valor a este título.
Assim, sendo os assistentes técnicos servidores de carreira da Administração Pública ou do MP, não é
devido o pagamento de honorários periciais pelo expropriado sucumbente, considerando que tais
profissionais recebem remuneração por esse serviço em razão do cargo que ocupam.
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
Legitimidade do Município para defesa dos consumidores
Importante!!!
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos
consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias.
Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm como finalidades institucionais
a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos consumidores, não se exige
pertinência temática e representatividade adequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).
DIREITO CIVIL
INVENTÁRIO
Citação dos herdeiros por correio com aviso de recebimento
Tendo sido declinados na petição inicial todos os dados pessoais indispensáveis à correta
identificação dos herdeiros, inclusive os seus respectivos endereços, devem ser eles citados
pessoalmente por carta com aviso de recebimento, vedada a citação por oficial de justiça
(porque comprometeria a duração razoável do processo).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.088-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).
Em suma:
Tendo sido declinados na petição inicial todos os dados pessoais indispensáveis à correta identificação
dos herdeiros, inclusive os seus respectivos endereços, devem ser eles citados pessoalmente por carta
com aviso de recebimento, vedada a citação por oficial de justiça (porque comprometeria a duração
razoável do processo).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.088-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).
CPC/2015
Vale ressaltar que o presente julgado foi proferido com base no CPC/1973. No entanto, penso que a
solução seria a mesma com o CPC/2015.
O art. 626, § 1º do CPC/2015 prevê expressamente a citação dos herdeiros por correio, com aviso de
recebimento. Além disso, o legislador determinou também a publicação de edital para avisar outros
eventuais interessados (credores, cessionários etc.). Desse modo, o sistema atual é o seguinte:
Citação pelo correio do cônjuge/companheiro, herdeiros e legatários mais a publicação de edital.
Veja a redação do dispositivo:
Art. 626. Feitas as primeiras declarações, o juiz mandará citar, para os termos do inventário e da
partilha, o cônjuge, o companheiro, os herdeiros e os legatários e intimar a Fazenda Pública, o
Ministério Público, se houver herdeiro incapaz ou ausente, e o testamenteiro, se houver
testamento.
§ 1º O cônjuge ou o companheiro, os herdeiros e os legatários serão citados pelo correio, observado
o disposto no art. 247, sendo, ainda, publicado edital, nos termos do inciso III do art. 259.
DIREITO DO CONSUMIDOR
Importante!!!
É possível a limitação, por legislação internacional especial, do direito do passageiro à
indenização por danos materiais decorrentes de extravio de bagagem.
STJ. 3ª Turma. REsp 673.048-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 08/05/2018 (Info 626).
Assim, a antinomia ocorre entre o art. 14 do CDC, que impõe ao fornecedor do serviço o dever de reparar
os danos causados, e o art. 22 da Convenção de Varsóvia, que fixa limite máximo para o valor devido pelo
transportador, a título de reparação.
Qual dos dois diplomas irá prevalecer? Em caso de extravio de bagagem ocorrido em transporte
internacional envolvendo consumidor, aplica-se o CDC ou a indenização tarifada prevista nas
Convenções de Varsóvia e de Montreal?
As Convenções internacionais.
Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores
da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia
e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor.
STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgados em 25/05/2017 (repercussão geral) (Info 866).
Assim, em virtude dessa previsão expressa quanto ao transporte internacional, deve-se afastar o Código
de Defesa do Consumidor e aplicar o regramento do tratado internacional.
Importante!!!
O atraso na entrega do imóvel enseja pagamento de indenização por lucros cessantes durante
o período de mora do promitente vendedor, sendo presumido o prejuízo do promitente
comprador.
Os lucros cessantes serão devidos ainda que não fique demonstrado que o promitente
comprador tinha finalidade negocial na transação.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.341.138-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 09/05/2018 (Info 626).
Isso porque o dano moral, na hipótese de atraso na entrega de unidade imobiliária, não se presume pelo
simples descumprimento do prazo contratual.
Em situações excepcionais é possível haver a condenação em danos morais, desde que devidamente
comprovada a ocorrência de uma significativa e anormal violação a direito da personalidade do adquirente
(STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1693221/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/03/2018).
Assim, pode ser cabível a condenação em danos morais, de acordo com as peculiaridades do caso
concreto. Em outras palavras, deve ter o atraso e uma consequência fática que gere dor, angústia, revolta.
Embora o atraso na entrega do imóvel possa gerar dano moral compensável, estes devem estar demonstrados
e configurados, não podendo ser fundamentado somente no mero inadimplemento contratual.
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1126144/MA, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
13/03/2018.
O simples inadimplemento contratual, consubstanciado no atraso na entrega do imóvel, não é capaz por
si só de gerar dano moral indenizável, devendo haver, no caso concreto, consequências fáticas que
repercutam na esfera de dignidade da vítima.
STJ. 3ª Turma. REsp 1654843/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/02/2018.
O simples descumprimento contratual, por si, não é capaz de gerar danos morais, sendo necessária a
existência de uma consequência fática capaz de acarretar dor e sofrimento indenizável pela sua gravidade.
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1408540/MA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/02/2015.
A jurisprudência considera que, havendo atraso, os lucros cessantes devem ser calculados como sendo o
valor do aluguel do imóvel atrasado. Isso porque:
• o adquirente está morando em um imóvel alugado, enquanto aguarda o seu. Neste caso, ele está
perdendo “dinheiro” pagando aluguel em virtude do atraso; ou
• o adquirente não está morando de aluguel e comprou o novo imóvel apenas como investimento. Neste
caso, ele também está perdendo “dinheiro” porque, se o imóvel tivesse sido entregue no prazo, ele estaria
alugando para alguém e aferindo renda com isso.
Em suma, em um ou no outro caso, o adquirente deixa de ganhar dinheiro (“deixa ter um lucro”) porque
houve atraso na entrega do imóvel. Para o STJ, essa “perda de dinheiro” (lucros cessantes) é óbvia e,
portanto, deve ser presumida, salvo se a construtora/incorporadora provar algo em sentido contrário (o
que é muito difícil de acontecer).
Nesse sentido:
O atraso na entrega do imóvel enseja pagamento de indenização por lucros cessantes durante o período
de mora do promitente vendedor, sendo presumido o prejuízo do promitente comprador.
Os lucros cessantes serão devidos ainda que não fique demonstrado que o promitente comprador tinha
finalidade negocial na transação.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.341.138-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 09/05/2018 (Info 626).
A ausência de entrega do imóvel na data acordada em contrato gera a presunção relativa da existência de
danos materiais na modalidade lucros cessantes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1662322/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/10/2017.
Descumprido o prazo para entrega do imóvel objeto do compromisso de compra e venda, é cabível a
condenação por lucros cessantes. Nesse caso, há presunção de prejuízo do promitente-comprador,
cabendo ao vendedor, para se eximir do dever de indenizar, fazer prova de que a mora contratual não lhe
é imputável.
STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 229.165/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/10/2015.
Resumindo:
O ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL GERA DIREITO À INDENIZAÇÃO?
Vale ressaltar que somente se considera o atraso quando a construtora não entrega o apartamento no
prazo previsto no contrato, sendo válida a previsão que estipula a chamada cláusula de tolerância:
No contrato de promessa de compra e venda de imóvel em construção (“imóvel na planta”), além do
período previsto para o término do empreendimento, há, comumente, uma cláusula prevendo a
possibilidade de prorrogação excepcional do prazo de entrega da unidade ou de conclusão da obra por
um prazo que varia entre 90 e 180 dias. Isso é chamado de “cláusula de tolerância”.
Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em
construção, desde que o prazo máximo de prorrogação seja de até 180 dias.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).
Importante!!!
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos
consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias.
Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm como finalidades institucionais
a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos consumidores, não se exige
pertinência temática e representatividade adequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).
DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Crédito derivado de fato ocorrido antes da recuperação judicial
Recuperação judicial
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a
superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e,
com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores.
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado
um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.
Fases da recuperação
De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases:
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;
b) Processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva;
c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial.
Juízo falimentar
A Lei nº 11.101/2005, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo
do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.
A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual.
Plano de recuperação
Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar
em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de
recuperação em falência.
Em suma:
O crédito derivado de fato ocorrido em momento anterior àquele em que requerida a recuperação
judicial deve sujeitar-se ao plano de soerguimento da sociedade devedora.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.727.771-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).
ECA
RECURSOS
(In)aplicabilidade do art. 942 do CPC/2015
Importante!!!
A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no caso de apelação não unânime em processo no
qual se apura a prática de ato infracional por adolescente?
5ª Turma do STJ: SIM
Admite-se a incidência do art. 942 do CPC/2015 para complementar o julgamento da apelação
julgada por maioria nos procedimentos relativos ao estatuto do menor.
STJ. 5ª turma. AgRg no REsp 1.673.215-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
17/05/2018 (Info 627).
Técnica de julgamento do art. 942 do CPC/2015 (técnica de complementação de julgamento não unânime)
O resultado do julgamento da apelação pode ser unânime (quando todos os Desembargadores
concordam) ou por maioria (quando no mínimo um Desembargador discorda dos demais).
Se o resultado se der por maioria, o CPC prevê uma nova “chance” de a parte que “perdeu” a apelação
reverter o resultado. Como assim?
Se o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em uma nova sessão, que
será marcada e que contará com a presença de novos Desembargadores que serão convocados, em
número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial.
Ex: o resultado da apelação foi 2x1; 2 Desembargadores votaram pelo provimento da apelação (em favor
de João) e um Desembargador votou pela manutenção da sentença (em favor de Pedro); significa dizer
que deverá ser designada uma nova sessão e para essa nova sessão serão convocados dois novos
Informativo 626-STJ (15/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12
Informativo
comentado
Desembargadores que também irão emitir votos; neste nosso exemplo, foram convocados 2 porque a
convocação dos novos julgadores deverá ser em número suficiente para garantir a possibilidade de
inversão do resultado inicial (se os dois novos Desembargadores votarem com a minoria, o placar se
inverte para 3x2).
Veja a previsão legal:
Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em
sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos termos
previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a possibilidade
de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar
oralmente suas razões perante os novos julgadores.
Juízo de retratação
Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião do prosseguimento do
julgamento (§ 2º do art. 942). Mesmo que isso ocorra, ou seja, que alguém mude de opinião, ainda assim
deverão ser colhidos os votos dos Desembargadores convocados. Nesse sentido:
Enunciado 599-FFPC: A revisão do voto, após a ampliação do colegiado, não afasta a aplicação da técnica
de julgamento do art. 942.
Embargos infringentes
Os embargos infringentes eram uma espécie de recurso previsto no CPC/1973.
Os embargos infringentes só cabiam para questionar acórdão. Não bastava, contudo, que fosse acórdão.
Era necessário que ele fosse NÃO UNÂNIME, ou seja, acórdão em que houve voto vencido.
A finalidade dos embargos infringentes era a de renovar a discussão para fazer prevalecer as razões do
voto vencido.
Segundo o art. 530 do CPC/1973, cabiam embargos infringentes em duas hipóteses:
1) contra acórdão não unânime (por maioria) que reformasse, em grau de apelação, a sentença de mérito.
2) contra acórdão não unânime (por maioria) que julgasse procedente a ação rescisória.
O CPC/2015 acabou com a existência dos embargos infringentes, mas criou essa “técnica de julgamento” do
art. 942, que possui algumas semelhanças com os embargos infringentes, mas que não se trata de recurso.
“(...) Esse mecanismo, conquanto não tenha natureza recursal, faz lembrar os embargos
infringentes. Por não ser recurso, no entanto, não depende de interposição, constituindo apenas
uma fase do julgamento da apelação, do agravo de instrumento contra decisão de mérito e da
ação rescisória, não unânime.”
(GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 885).
IMPORTANTE. Situações nas quais não se aplicará a técnica de julgamento do art. 942
Não se aplica a técnica de julgamento do art. 942 do CPC ao julgamento:
I - do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;
II - da remessa necessária;
III - não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.
A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no caso de rescisão apenas parcial do julgado rescindendo?
SIM. Enunciado 63 – Jornada CJF: A técnica de que trata o art. 942, § 3º, I, do CPC aplica-se à hipótese de
rescisão parcial do julgado.
A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no caso de apelação não unânime em processo no qual
se apura a prática de ato infracional por adolescente?
5ª Turma do STJ: SIM
Admite-se a incidência do art. 942 do CPC/2015 para complementar o julgamento da apelação julgada
por maioria nos procedimentos relativos ao estatuto do menor.
STJ. 5ª turma. AgRg no REsp 1.673.215-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 17/05/2018
(Info 627).
Por quê?
O art. 198 do ECA diz que, nos procedimentos de competência da Justiça da Infância e da Juventude,
inclusive os relativos à execução das medidas socioeducativas, deve-se adotar o sistema recursal previsto
no CPC.
Como o sistema recursal do CPC prevê a técnica de complementação do julgamento (art. 942), isso deverá
ser também aplicado para os recursos do ECA.
É inaplicável a técnica de julgamento prevista no artigo 942 do CPC/2015 nos procedimentos afetos à
Justiça da Infância e da Juventude quando a decisão não unânime for favorável ao adolescente.
STJ. 6ª Turma. 6ª Turma. REsp 1.694.248-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
03/05/2018 (Info 626).
Por quê?
Realmente o sistema recursal do CPC deve ser aplicado para os procedimentos da Justiça da Infância e da
Juventude. Isso está expressamente previsto no art. 198 do ECA.
Ocorre que ao menor infrator devem ser assegurados os mesmos direitos de que gozam os maiores de 18
anos que forem réus em processo criminal.
Por mais que a medida socioeducativa não seja considerada “pena”, ela possui, indiscutivelmente, uma
natureza sancionatória.
Se for aplicado o art. 942 do CPC em uma apelação não unânime que tenha sido favorável ao adolescente
infrator (ex: o Tribunal rejeitou a medida socioeducativa), isso significa que esse adolescente terá um
tratamento mais gravoso do que os réus maiores de 18 anos possuem no processo penal. No processo
penal, se a apelação for favorável ao réu, não se aplica o art. 942 do CPC nem caberão os embargos
infringentes do art. 609 do CPP. Isso porque os embargos infringentes somente são cabíveis na hipótese
de o julgamento por maioria ter sido contrário ao réu. Em outras palavras, os embargos infringentes são
um recurso exclusivo da defesa.
Ora, se não cabem embargos infringentes do art. 609 do CPP quando o acórdão não unânime foi favorável
ao réu, com maior razão também não se pode admitir a técnica do art. 942 do CPC se o acórdão não
unânime foi favorável ao adolescente infrator.
EMBARGOS INFRINGENTES
Divergência manifestada nos embargos de declaração opostos
ao acórdão unânime da apelação que reformou a sentença
(julgado atualmente sem importância para concursos públicos
considerando que os embargos infringentes foram extintos com o CPC/2015)
Exemplo da hipótese 1:
“A” ajuíza ação de indenização por danos materiais contra “B”. O juiz julga o pedido de “A” procedente,
resolvendo o mérito. “B” interpõe apelação ao TJ. O TJ, por meio de uma Câmara Cível, composta por 3
Desembargadores, reforma a sentença do juiz, afirmando que “A” não tem direito à indenização. Dos 3
Desembargadores, 2 votaram pela reforma e 1 votou pela manutenção da sentença, ou seja, o acórdão
foi não unânime. Nesse caso, “A”, se não se conformar com o acórdão, terá que opor embargos
infringentes.
Exemplo da hipótese 2:
“A” ajuíza ação de indenização por danos materiais contra “B”. O juiz julga o pedido de “A” procedente,
resolvendo o mérito. “B” interpõe apelação ao TJ que, no entanto, mantém a sentença. Ocorre o trânsito
em julgado. “B” ajuíza ação rescisória e o Tribunal, por maioria, julga procedente a rescisória. Nesse caso,
“A”, se não se conformar com o acórdão, terá que opor embargos infringentes.
Isso porque o voto proferido nos embargos de declaração passa a integrar o voto da decisão embargada.
Assim, o voto vencido proferido no julgamento dos embargos de declaração passava a integrar o acórdão
da apelação, e, estando preenchidos os demais pressupostos recursais, devia-se reconhecer a
possibilidade de oposição dos embargos infringentes.
PROCESSO COLETIVO
Legitimidade do Município para defesa dos consumidores
Importante!!!
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos
consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias.
Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm como finalidades institucionais
a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos consumidores, não se exige
pertinência temática e representatividade adequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos
consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).
Aliás, no que se refere especificamente à defesa de interesses individuais homogêneos dos consumidores, o
Município é o ente político que terá maior contato com as eventuais lesões cometidas contra esses interesses,
pois, “por certo, será no Município que esses fatos ensejadores da ação civil pública se farão sentir com maior
intensidade [...] em face da proximidade, da imediatidade entre ele e seus munícipes” (LEONEL, Ricardo de
Barros. Manual do Processo Coletivo. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 165).
DIREITO PENAL
ROUBO
Abolitio criminis promovida pela Lei 13.654/2018 no roubo
Importante!!!
O emprego de arma branca deixou de ser majorante do crime de roubo com a modificação
operada pela Lei nº 13.654/2018, que revogou o inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal.
Diante disso, constata-se que houve abolitio criminis, devendo a Lei nº 13.654/2018 ser
aplicada retroativamente para excluir a referida causa de aumento da pena imposta aos réus
condenados por roubo majorado pelo emprego de arma branca.
Trata-se da aplicação da novatio legis in mellius, prevista no art. 5º, XL, da Constituição Federal.
STJ. 5ª Turma. REsp 1519860/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 17/05/2018 (Info 626).
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1.249.427/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
19/06/2018.
Lei nº 13.654/2018
A Lei nº 13.654/2018, publicada no dia 24/04/2018, alterou os crimes de furto e roubo previstos no Código
Penal.
Uma das mudanças promovidas foi no roubo circunstanciado por emprego de arma.
O art. 157 do Código Penal tipifica o crime de roubo nos seguintes termos:
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência
a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
O § 2º do art. 157, por sua vez, prevê causas de aumento de pena para o roubo.
Desse modo, se ocorre alguma dessas hipóteses, tem-se o chamado “roubo circunstanciado” (também
conhecido como “roubo agravado” ou “roubo majorado”).
O aumento se justificava por “haver maior risco à integridade física e à vida do ofendido e de outras
pessoas e pela facilitação na execução do crime” (MASSON, Cleber. Código Penal comentado. São Paulo:
Método, 2014, p. 644).
O que podia ser considerado “arma” para os fins do art. 157, § 2º, I, do CP?
A jurisprudência possuía uma interpretação ampla sobre o tema.
Assim, poderiam ser incluídos no conceito de arma:
• a arma de fogo;
• a arma branca (considerada arma imprópria), como faca, facão, canivete;
• e quaisquer outros “artefatos” capazes de causar dano à integridade física do ser humano ou de coisas,
como por exemplo uma garrafa de vidro quebrada, um garfo, um espeto de churrasco, uma chave de
fenda etc.
Isso significa que houve abolitio criminis para o emprego de arma de fogo?
NÃO. A Lei nº 13.654/2018 acrescentou um novo parágrafo ao art. 157 prevendo duas novas hipóteses de
roubo circunstanciado, com pena maior. Veja:
Art. 157 (...)
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum.
Desse modo, quanto à arma de fogo não houve abolitio criminis, mas sim continuidade normativo-típica.
O princípio da continuidade normativa ocorre “quando uma norma penal é revogada, mas a mesma
conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada em
outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário.” (Min. Gilson
Dipp, em voto proferido no HC 204.416/SP).
Logo, para as pessoas que foram condenadas por roubo com emprego de arma de fogo antes da Lei nº
13.654/2018, nada muda.
E quanto ao roubo com emprego de arma branca?
Como vimos, o roubo “com emprego de arma” deixou de ser uma hipótese de roubo circunstanciado no
art. 157, § 2º.
O roubo com emprego de arma de fogo continua sendo punido como roubo circunstanciado no art. 157,
§ 2º-A, inciso I:
Art. 157 (...)
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
Ocorre que o roubo com o emprego de arma “branca” não é mais punido como roubo circunstanciado.
Trata-se, em princípio, de roubo em seu tipo fundamental (art. 157, caput).
Assim, a Lei nº 13.654/2018 deixou de punir com mais rigor o agente que pratica o roubo com arma
branca. Pode-se, portanto, dizer que a Lei nº 13.654/2018, neste ponto, é mais benéfica. Isso significa que
ela, neste tema, irá retroagir para atingir todos os roubos praticados mediante arma branca.
Exemplo: em 2017, João, usando um canivete, ameaçou a vítima, subtraindo dela o telefone celular. O
juiz, na 1ª fase da dosimetria, fixou a pena-base em 4 anos. Não havia agravantes ou atenuantes (2ª fase).
Na 3ª fase (causas de aumento ou de diminuição), o magistrado aumentou a pena em 1/3 pelo fato de o
crime ter sido cometido com emprego de arma branca (canivete), nos termos do art. 157, § 2º, I, do CP.
1/3 de 4 anos é igual a 1 ano e 4 meses. Logo, João foi condenado a uma pena final de 5 anos e 4 meses
(pena-base mais 1/3). O processo transitou em julgado e João está cumprindo pena. A defesa de João
pode pedir ao juízo das execuções penais (Súmula 611-STF) que aplique a Lei nº 13.654/2018 e que a sua
pena seja diminuída em 1 ano e 4 meses em virtude do fato de o emprego de arma branca na prática do
roubo ter deixado de ser causa de aumento de pena.
Tabelas comparativas
ROUBO MEDIANTE EMPREGO DE ARMA
Antes da Lei 13.654/2018 Depois da Lei 13.654/2018 (atualmente)
Tanto a arma de fogo como a arma branca eram Apenas o emprego de arma de fogo é causa de
causas de aumento de pena. aumento de pena.
O emprego de arma branca não é causa de
aumento de pena.
O emprego de arma (seja de fogo, seja branca) era O emprego de arma de fogo é punido com um
punido com um aumento de 1/3 a 1/2 da pena. aumento de 2/3 da pena.
Inconstitucionalidade formal
O inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal foi revogado pelo art. 4º da Lei nº 13.654/2018:
Art. 4º Revoga-se o inciso I do § 2º do art. 157 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 dezembro de 1940
(Código Penal).
Os Ministérios Públicos de vários Estados estão alegando que este art. 4º da Lei nº 13.654/2018 seria
formalmente inconstitucional.
O Parquet argumenta que o referido art. 4º teria sido retirado pelos Senadores na Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania e posteriormente teria sido reinserido no projeto pela Coordenação de
Redação Legislativa (CORELE), formada por servidores que prestam apoio ao processo legislativo, mas sem
que esta reinserção tenha sido previamente aprovada pelos parlamentares.
Assim, teria havido um descumprimento do processo legislativo com a aprovação de um artigo inserido
indevidamente no projeto.
Existem, inclusive, alguns Ministérios Públicos que têm recomendado aos Promotores de Justiça que, ao
oferecerem denúncia, suscitem a declaração incidental da inconstitucionalidade do art. 4º da Lei nº
13.654/2018 com o objetivo de que o emprego de arma branca continue sendo considerado como
majorante do crime de roubo.
Nesse sentido é a manifestação do MP/SP, MP/PE, MP/MS, MP/GO, entre outros.
Em posição contrária, alguns Defensores Públicos têm defendido que o processo legislativo correu sem
qualquer vício e que o referido art. 4º foi inserido pelos próprios parlamentares, tendo sido regularmente
votado e aprovado. Sobre o tema, confira: https://www.conjur.com.br/2018-mai-08/constitucionalidade-
formal-lei-136542018
Decisão do STJ
Ainda não temos qualquer decisão do STF a respeito do assunto.
O STJ, por sua vez, sem enfrentar essa discussão sobre eventual inconstitucionalidade formal, já vem
aplicando a revogação promovida pela Lei nº 13.654/2018 e declarando que houve abolitio criminis no
que tange à majorante pelo emprego de arma branca.
Nesse sentido:
(...) 5. Extrai-se dos autos, ainda, que o delito foi praticado com emprego de arma branca, situação
não mais abrangida pela majorante do roubo, cujo dispositivo de regência foi recentemente
modificado pela Lei n. 13.654/2018, que revogou o inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal.
6 . Diante da abolitio criminis promovida pela lei mencionada e tendo em vista o disposto no art.
5º, XL, da Constituição Federal, de rigor a aplicação da novatio legis in mellius, excluindo-se a causa
de aumento do cálculo dosimétrico.
7. Recurso provido para reconhecer a forma consumada do delito de roubo, com a concessão de
ordem de habeas corpus de ofício para readequação da pena.
STJ. 5ª Turma. REsp 1519860/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 17/05/2018.
Portanto, não se está diante de continuidade normativa, mas de abolitio criminis, na hipótese de o delito
ser praticado com emprego de artefato diverso de arma de fogo.
Conforme se extrai dos autos, o réu realizou a subtração fazendo uso de arma branca - faca. Diante desse
fato, forçosa a concessão, de ofício, de ordem de habeas corpus , aplicando-se a lei nova, mais benéfica
ao acusado, em consonância com o art. 5, XL, da Constituição Federal, afastando-se o aumento de 1/3
aplicado na terceira fase do cálculo da pena.”
Em suma:
O emprego de arma branca deixou de ser majorante do crime de roubo com a modificação operada pela
Lei nº 13.654/2018, que revogou o inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal.
Diante disso, constata-se que houve abolitio criminis, devendo a Lei nº 13.654/2018 ser aplicada
retroativamente para excluir a referida causa de aumento da pena imposta aos réus condenados por
roubo majorado pelo emprego de arma branca.
Trata-se da aplicação da novatio legis in mellius prevista no art. 5º, XL, da CF/88.
STJ. 5ª Turma. REsp 1519860/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 17/05/2018 (Info 626).
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1.249.427/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
19/06/2018.
COMPETÊNCIA
Compete à Justiça Estadual a execução de medida de segurança imposta a militar licenciado
DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR
COMPETÊNCIA
Compete à Justiça Estadual a execução de medida de segurança imposta a militar licenciado
Diante disso, tanto a defesa quanto a acusação requereram a absolvição do réu, pedido que foi acolhido,
determinando-se a extinção do feito sem o julgamento do réu, com aplicação de medida de segurança
consistente em tratamento ambulatorial mensal pelo prazo mínimo de 1 ano.
Logo em seguida, o réu foi licenciado do serviço ativo da Marinha.
Em razão disso, o Promotor Militar requereu a declinação de competência para a execução da medida de
segurança para a Justiça Estadual.
Acatando o parecer ministerial, o Juiz Auditor declinou da competência em favor da Justiça Estadual.
O Juiz de Direito não concordou com a declinação e entendeu que a competência seria da Justiça Federal
comum, remetendo para lá o processo.
O Juiz Federal, por sua vez, também entendeu que não era competente para a causa e, em virtude disso,
suscitou o conflito de competência a ser dirimido pelo STJ (art. 105, I, “d”, da CF/88).
Afinal de contas, de quem é a competência para acompanhar a execução dessa medida de segurança?
Justiça ESTADUAL.
Compete à Justiça Estadual a execução de medida de segurança imposta a militar licenciado.
STJ. 3ª Seção. CC 149.442-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 09/05/2018 (Info 626).
Por quê?
João já foi licenciado da Marinha, não fazendo mais parte do serviço ativo daquela corporação. Em outras
palavras, ele é atualmente um civil.
Veja o que diz o art. 62 do Código Penal Militar:
Art. 62. O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça Militar, em estabelecimento prisional civil,
ficando ele sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e
concessões, também, poderá gozar.
Assim, constatado que não há mais vínculo com a Justiça Militar, como no presente caso, a sanção
estabelecida pela Justiça Militar deve ser executada pela Justiça Estadual. No mesmo sentido:
Compete à Justiça Comum a execução da pena imposta pela Justiça Castrense, quando o condenado foi
excluído da Corporação Militar.
STJ. 3ª Seção. CC 109.355/RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 27/04/2011.
Mas a argumentação acima fala em “pena” e João recebeu, na verdade, uma “medida de segurança”...
Não tem problema. O raciocínio é o mesmo.
A execução da medida de segurança será realizada em estabelecimento estadual, considerando que não
existem estabelecimentos penais federais próprios para essa finalidade.
Logo, aplica-se a Súmula 192 do STJ:
Súmula 192-STJ: Compete ao juízo das execuções penais do Estado a execução das penas impostas a
sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à
administração estadual.
DIREITO TRIBUTÁRIO
SANÇÕES POLÍTICAS
Impossibilidade de sanções políticas
O Estado não pode adotar sanções políticas para constranger o contribuinte ao pagamento de
tributos em atraso.
STJ. 1ª Turma. RMS 53.989-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 17/04/2018 (Info 626).
Desse modo, a orientação jurisprudencial do STF e do STJ é a de que o Estado não pode adotar sanções
políticas, que se caracterizam pela utilização de meios de coerção indireta que impeçam ou dificultem o
exercício da atividade econômica, para constranger o contribuinte ao pagamento de tributos em atraso,
estando o ente público vinculado ao procedimento de execução fiscal para a cobrança de seus créditos,
no qual é assegurado ao devedor o devido processo legal.
No caso concreto, ficou evidente que a inscrição da empresa no rol de contribuintes considerados inaptos
pelo fisco do Estado de Sergipe configura um meio de coerção indireta para cobrança dos débitos inscritos
na dívida ativa, pois implica tratamento tributário diferenciado que dificulta o exercício da atividade
econômica, sendo assim clara a sanção política, não admitida pela Constituição Federal.
Em suma:
O Estado não pode adotar sanções políticas para constranger o contribuinte ao pagamento de tributos
em atraso.
STJ. 1ª Turma. RMS 53.989-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 17/04/2018 (Info 626).
IMPOSTO DE RENDA
Valor recebido pelo jogador a título de “direito de arena” sujeita-se ao IRPF
Importante!!!
A remuneração percebida pelos atletas profissionais a título de direito de arena sujeita-se à
incidência do Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.679.649-SP, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 17/05/2018 (Info 626).
Direito de arena
A Lei nº 9.615/98 prevê normas gerais sobre desporto.
Essa norma é conhecida como “Lei Pelé”, em virtude de o anteprojeto dela ter sido elaborado na época
em que o ex-jogador Pelé era Ministro do Esporte.
O art. 42 desta Lei estabelece o seguinte:
Art. 42. Pertence às entidades de prática desportiva o direito de arena, consistente na prerrogativa
exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a
retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, de espetáculo
desportivo de que participem. (Redação dada pela Lei nº 12.395/2011).
Arena
O direito de arena é como se fosse o “pagamento” pelo fato de as emissoras de comunicação estarem
mostrando a imagem do “time” (entidade desportiva) e dos jogadores na “arena” disputando a
competição.
Assim, por exemplo, para a TV Globo poder transmitir os jogos do Campeonato Brasileiro, ela tem que
pagar o direito de arena aos clubes de futebol.
Vimos no caput do art. 42 que o direito de arena pertence às entidades de prática desportiva. Mas e os
jogadores?
As entidades desportivas têm que repassar 5% da receita do direito de arena para os sindicatos de atletas
profissionais, e estes distribuirão, em partes iguais, aos atletas profissionais participantes do espetáculo,
como parcela de natureza civil (art. 42, § 1º).
Obs: esse percentual poderá ser alterado por meio de convenção coletiva.
Os atletas profissionais devem pagar imposto de renda com relação ao valor que recebem a título de
direito de arena?
SIM.
A remuneração percebida pelos atletas profissionais a título de direito de arena sujeita-se à incidência
do Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.679.649-SP, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 17/05/2018 (Info 626).
Acréscimo patrimonial
O direito de arena é um rendimento extra que o esportista participante do espetáculo desportivo recebe,
possuindo, portanto, nítido conteúdo de acréscimo patrimonial.
Vale ressaltar que somente fará jus à parcela relativa ao direito de arena o esportista profissional que
mantiver relação laboral com a entidade de prática desportiva, formalizada em contrato de trabalho.
Desse modo, conclui-se que a verba em questão retribui e decorre da própria existência do contrato de
trabalho, remunerando e acrescendo os ganhos do atleta em contrapartida pela autorização dada para o
uso da sua imagem.
DIREITO INTERNACIONAL
Mudança de entendimento!
Com a entrada em vigor do CPC/2015, tornou-se necessário que a sentença estrangeira esteja
eficaz no país de origem para sua homologação no Brasil.
O art. 963, III, do CPC/2015, não mais exige que a decisão judicial que se pretende homologar
tenha transitado em julgado, mas apenas que ela seja eficaz em seu país de origem, tendo sido
tacitamente revogado o art. 216-D, III, do RISTJ.
STJ. Corte Especial. SEC 14.812-EX, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/05/2018 (Info 626).
A decisão proferida pelo Poder Judiciário de um país produz efeitos em outro Estado soberano?
A princípio não, porque uma das manifestações da soberania é o fato do Poder Judiciário do próprio país
ser o responsável pela resolução dos seus conflitos de interesses.
Assim, a princípio, uma decisão proferida pela Justiça dos EUA ou de Portugal, por exemplo, não tem força
obrigatória no Brasil, considerando que, por sermos um país soberano, a função de dizer o direito é
atribuída ao Poder Judiciário brasileiro.
Pode ser necessário, no entanto, que uma decisão no exterior tenha que ter eficácia no Brasil. Como
proceder para que isso ocorra?
Em regra, para que uma decisão proferida pelo Poder Judiciário de outro país possa ser executada no
Brasil, é necessário que passe por um processo de “reconhecimento” ou “ratificação” feito pela Justiça
brasileira. A isso chamamos de homologação de sentença estrangeira.
Veja o que diz o CPC/2015 sobre o tema:
Art. 961. A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a homologação de sentença
estrangeira ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo disposição em sentido
contrário de lei ou tratado.
Assim, a lei ou tratado internacional poderá facilitar ou dispensar a homologação de sentença estrangeira
ou a concessão do exequatur. Ex: a sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil,
independentemente de homologação pelo STJ (§ 5º do art. 961 do CPC/2015).
Segundo a doutrina:
“O processo de homologação de sentença estrangeira visa aferir a possibilidade de decisões
estrangeiras produzirem efeitos dentro da ordem jurídica nacional” (MARINONI, Luiz Guilherme;
MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. São Paulo: RT, 2008, p. 489).
“Uma vez homologada, a sentença poderá produzir os mesmos efeitos de uma sentença nacional”
(PORTELA, Paulo. Direito internacional público e privado. Salvador: Juspodivm, 2010, p. 562).
CPC/2015
Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será requerida por ação de homologação de
decisão estrangeira, salvo disposição especial em sentido contrário prevista em tratado.
Vale ressaltar que o RISTJ somente se aplica em caráter supletivo e naquilo que for compatível com a
legislação federal.
1º do art. 961 do CPC 2015: "É passível de homologação (...) a decisão não judicial que, pela lei
brasileira, teria natureza jurisdicional.";
A decisão estrangeira poderá ser homologada parcialmente (§ 2º do art. 961);
A autoridade judiciária brasileira poderá deferir pedidos de urgência e realizar atos de execução
provisória no processo de homologação de decisão estrangeira (§ 3º do art. 961).
Haverá homologação de decisão estrangeira para fins de execução fiscal quando prevista em tratado
ou em promessa de reciprocidade apresentada à autoridade brasileira (§ 4º do art. 961).
A sentença estrangeira de divórcio consensual, para produzir efeitos no Brasil, precisa de homologação
pelo STJ?
NÃO. A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de
homologação pelo STJ (§ 5º do art. 961 do CPC 2015).
No caso de sentença estrangeira de divórcio consensual, o próprio juiz possui competência para examinar
a validade da decisão, em caráter principal ou incidental, quando essa questão for suscitada em processo
de sua competência (§ 6º do art. 961).
Para que a sentença estrangeira seja homologada no Brasil, é necessário que ela tenha transitado em
julgado no exterior? O trânsito em julgado é um requisito para a homologação da sentença estrangeira?
NÃO mais.
Segundo o art. 216-D, III, do RISTJ, para que a sentença estrangeira possa ser homologada no Brasil exige-
se que ela tenha transitado em julgado. Veja:
Art. 216-D. A decisão estrangeira deverá:
(...)
III - ter transitado em julgado.
(Incluído pela Emenda Regimental 18/ 2014)
Ocorre que o STJ decidiu que esse inciso III do art. 216-D do RISTJ foi tacitamente revogado pelo CPC/2015.
Isso porque o novo CPC previu os requisitos para a homologação da sentença estrangeira e, em vez de
exigir o trânsito em julgado, afirmou que basta que a sentença estrangeira seja eficaz no país de origem.
Confira:
Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão:
(...)
III - ser eficaz no país em que foi proferida;
Desse modo, conforme entendeu o STJ, o CPC/2015, ao exigir que a sentença estrangeira seja apenas
“eficaz” no país em que foi proferida, teria deixado de exigir o trânsito em julgado.
Se este entendimento prevalecer realmente no STJ, fica superada a Súmula 420 do STF:
Súmula 420-STF: Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em
julgado.
Em suma:
Com a entrada em vigor do CPC/2015, tornou-se necessário que a sentença estrangeira esteja eficaz no
país de origem para sua homologação no Brasil.
O art. 963, III, do CPC/2015, não mais exige que a decisão judicial que se pretende homologar tenha
transitado em julgado, mas apenas que ela seja eficaz em seu país de origem, tendo sido tacitamente
revogado o art. 216-D, III, do RISTJ.
STJ. Corte Especial. SEC 14.812-EX, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/05/2018 (Info 626).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) Nas ações de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária cabe a restituição, pelo
expropriado sucumbente de honorários periciais aos assistentes técnicos do INCRA e do MPF. ( )
2) Tendo sido declinados na petição inicial todos os dados pessoais indispensáveis à correta identificação
dos herdeiros, inclusive os seus respectivos endereços, devem ser eles citados pessoalmente por carta
com aviso de recebimento, vedada a citação por oficial de justiça. ( )
3) O atraso na entrega do imóvel enseja pagamento de indenização por lucros cessantes durante o período
de mora do promitente vendedor, desde que comprovado o prejuízo do promitente comprador. ( )
4) O crédito derivado de fato ocorrido em momento anterior àquele em que requerida a recuperação
judicial deve sujeitar-se ao plano de soerguimento da sociedade devedora. ( )
5) Município não tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos
consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias. ( )
6) O emprego de arma branca deixou de ser majorante do crime de roubo, com a modificação operada pela
Lei nº 13.654/2018, que revogou o inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal. Diante disso, constata-se
que houve abolitio criminis devendo a Lei nº 13.654/2018 ser aplicada retroativamente para excluir a
referida causa de aumento da pena imposto aos réus condenados por roubo majorado pelo emprego de
arma branca. ( )
7) Compete à Justiça Estadual a execução de medida de segurança imposta a militar licenciado. ( )
8) O Estado não pode adotar sanções políticas para constranger o contribuinte ao pagamento de tributos
em atraso. ( )
9) A remuneração percebida pelos atletas profissionais a título de direito de arena não se sujeita à
incidência do Imposto sobre a Renda de Pessoa Física – IRPF em razão de seu caráter indenizatório. ( )
10) Com a entrada em vigor do CPC/2015, tornou-se necessário que a sentença estrangeira tenha transitado
em julgado para que seja homologada no Brasil. ( )
Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. C 5. E 6. C 7. C 8. C 9. E 10. E