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Anos 1950 – Casa de Canoas, Arquiteto Oscar Niemeyer (7)

A casa foi construída na Floresta da Tijuca, remanescente vegetação tropical em um


terreno pedregoso de grande declive. Na concepção da casa ficam claras duas atitudes ou
gestos formais. A primeira diz respeito ao pavilhão aflorado e envidraçado: uma laje
plana e sinuosa apoiada sobre delgados pilares metálicos, onde se encontram o estar e
serviços. A outra atitude é conferida ao pavimento inferior incrustado no perfil natural
do terreno, quase imperceptível, no qual se alojam dormitórios e sala íntima. Duas
maneiras inventivas do fazer arquitetônico: uma plena de invenções e expressividades,
outra ancorada na silenciosa pertinência das circunstâncias.
Esta obra é um marco na arquitetura de Niemeyer e brasileira: nela certos esquemas do
racionalismo moderno são alterados em favor de uma maior expressividade plástica e de um
caráter mais local. Se alguns princípios decorrem de Le Corbusier como pilotis, planta
livre; outros lembram Mies van der Rohe como transparências, integração
interior/exterior, pilares metálicos e essencialidades principalmente no corpo aflorado.
As operações de projeto e as escolhas contidas nesta revelam uma insubordinação ao
purismo de alguns conceitos modernos sobretudo ao mesclá-los de uma maneira mais
intuitiva e liberta através das curvas da cobertura e da piscina, embora sejam
construídas com muita geometria. No entanto, é na relação sensível do objeto com sítio
que a brasilidade e a singularidade desta obra se manifestam mais plenamente, comovendo
corações e mentes. Todas as decisões de projeto desejam de algum modo fundir casa e
paisagem, através das formas curvas e sinuosas, das transparências, da fachada que
acompanha o perfil natural do terreno no pavimento dos dormitórios e da enorme pedra de
granito trazida para dentro do espaço interior.

CASA DAS CANOAS

O arquiteto Oscar Niemeyer ganhou o seu lugar na história da arquitetura do século 20


com um número grande de obras públicas e os seus projetos para a nova Capital Brasília.
Dentro dessa obra volumosa, as habitações individuais são uma exceção. O inventário
somente relata algumas: Casa Kubitschek em Pampulha (1943), casa Mendes (1949) e Casa
Canavelas (1954). Além dessas, o Niemeyer tomou a iniciativa de construir uma casa para
ele mesmo duas vezes: Casa da Lagoa em 1942 e Casa das Canoas em 1953, ambas no Rio de
Janeiro. À primeira vista, as residências parecem uma parcela trivial na produção dele,
mas não é uma avaliação correta. Pode-se dizer que a Casa das Canoas é uma das
habitações individuais mais fascinantes já realizadas nesse século.
Na sua publicação sobre a Casa das Canoas na Architectural Review (1954), Ernesto Rogers
chama a atenção para o valor excepcional dessa casa: "A casa que um arquiteto projeta
para ele mesmo em geral pode ser considerada uma manifestação das suas aspirações, uma
espécie de testemunha, um confissão dos seus pecados, uma halografia em que não se pode
apenas examinar o texto visível, mas graficamente delinear os motivos secretos do texto
e as raízes profundas da inspiração do poeta." Quais as ambições e aspirações que
levaram Niemeyer aos projetos das duas residências e quais os motivos ocultos em sua
obra?
Em 1942, o Niemeyer constrói na Lagoa, no Rio de Janeiro, a sua primeira residência. A
casa corresponde minuciosamente aos 5 pontos da nova arquitetura definidos por Le
Corbusier. A utilização de pilotis, o uso de uma rampa para a circulação interna e a
escolha da planta livre tem origem nesses princípios. Somente a inclinação do teto (da
cobertura) desvia-se da caixa purista que os modernistas propagaram.
Dez anos depois, Niemeyer resolveu construir mais uma casa para si. O resultado final
fica longe das duas casas modernistas referenciais daquela época: a Farnswourth House,
de Mies van der Rohe (1946-1950), e a Glass House, de Philip Johnson (1949). Niemeyer
optou por uma forma orgânica e não pela caixa retangular com transparência máxima. Outro
ponto fundamental é que Niemeyer elaborou uma outra relação entre a casa e o seu
entorno, permitindo a entrada da natureza no interior da residência. Uma solução que
também existe na residência de Lina Bo Bardi, a Casa de Vidro em São Paulo (1951).
A força da Casa das Canoas está, em primeiro lugar, na relação com a situação
privilegiada. A vista ao mar, a presença do horizonte e o gabarito quase horizontal da
Pedra de Gávea, definiram a forma da cobertura. Hoje em dia, essa experiência quase
sumiu, uma vez que a vegetação ao redor da casa cresceu muito. Fotografias da década de
50 revelam essa dimensão quase mágica do entorno.
A promenade architecturale que o visitante tem no percurso até a casa também tem uma
relação forte com o local. De carro, chega-se pelas curvas da estrada das Canoas num
ponto em cima da casa. Em seguida uma trilha leva até a casa, mais em baixo; o carro foi
eliminado rigorosamente do lugar. Na caminhada, a cobertura da casa se revela como uma
lâmina colocada sobre colunas finas. O caráter monolítico é reforçado pela ausência de
platibanda. A cobertura horizontal é uma linha continua e flutuante. Talvez Niemeyer
faça uma relação inconsciente com o entorno da Lagoa de Pampulha, a localização onde
projetou uma série de obras na década de 40. A plasticidade da marquise da Casa do Baile
na Pampulha (1942) é muito semelhante à cobertura da Casa das Canoas.
A piscina ao lado da Casa das Canoas ganha mais que um significado funcional, por causa
da rocha que se estende até o interior da casa. O volume da rocha une solidamente a casa
ao chão, solução parecida àquela de Luis Barragan na Casa Prieto Lopez em México (1948),
mas Niemeyer também consegue ligar o exterior e o interior da casa através da rocha. Ao
redor da piscina foram colocadas esculturas do seu amigo Alfredo Ceschiatti. As
ondulações elegantes dos corpos femininos se incorporam perfeitamente na arquitetura
ondulante. A justaposição da lâmina de concreto, a rocha e as estátuas cria uma relação
sutil entre natureza e cultura.
Uma estimativa surpreendente é que a casa não tem frente nem fundo: o movimento contínuo
criou uma fachada de vidro com um ritmo fluente. Ao contrário de Mies van der Rohe e
Philip Johnson, Niemeyer buscou para a casa um caráter ao mesmo tempo transparente e
fechado. Isto se manifesta na parede fechada e ondulada de madeira, que dá intimidade e
privacidade na sala de estar. Nessa parede encontra-se no lado sul uma pequena janela,
colocada numa altura bem baixa. Parece um quadro com a paisagem, uma abertura que dá
vista ao mar para quem está sentado. Talvez não seja por acaso que ao lado da janela foi
colocado um desenho de Le Corbusier, com um dedicatória para Niemeyer!
O que chama a atenção nas publicações sobre a casa é que em geral mostra apenas a planta
do andar principal da casa. O piso com os dormitórios, que foi colocado no subsolo, está
quase sempre ausente, mesmo possuindo uma configuração completamente diferente em
relação ao andar superior. Os dois andares são ligados por uma escada larga. Em baixo da
escada localiza-se a biblioteca e uma lareira com uma abertura circular. O modo como
Niemeyer formaliza a chaminé, quase invisível na vista externa, é um detalhe
interessante em si e prova que ele considerou o volume da chaminé um elemento
perturbador na sua composição pura.
Nas áreas coletivas, Niemeyer introduziu algumas soluções que fortalecem a fluidez dos
espaços. Colocou por exemplo uma parede curva no espaço das refeições, exigindo a
presença de uma mesa redonda. Essa combinação é uma referência clara à solução que foi
introduzida por Mies van der Rohe na Tugendhat House em Brno (1930). O limite entre
dentro e fora é superado de várias maneiras: o piso do interior continua nos dois
terraços exteriores; espaços intermediários fascinantes foram realizados com a
penetração das floreiras dentro da casa e até mesmo a colocação de uma coluna dentro de
uma delas...
Niemeyer projetou os sofás para o interior, mas para as cadeiras da mesa optou pelo
modelo clássico de Thonet. Não tentou criar uma unidade no mobiliário. Imagens
históricas da casa mostram um interior em que móveis velhos e esculturas clássicas
ganharam um lugar. Niemeyer sempre resistiu aos interiores com objetos contemporâneos
apenas. O lugar do homem precisa ser marcado por uma confiança no passado e no futuro.
A poesia e a sensualidade que Niemeyer uniu na Casa das Canoas foram subestimadas
durante muito tempo, foram mesmo rejeitadas. Mas a casa foi a resposta mais forte dada
até hoje à Glass House de Johnson. Os críticos sempre apontaram que a linha curva na
obra de Niemeyer não é o resultado da referência à paisagem, mas da sua fascinação pelo
corpo feminino. Assim o erotismo é considerado uma parte essencial de sua arquitetura.
Será que a rocha é uma imagem do Monte de Vênus? Pode se ver a piscina como um útero,
com as águas amnióticas em que todo mundo encontrou-se uma vez? Será que a parede preta
com a lareira, com a sua abertura circular, é como uma vagina, com uma tentação fogosa?
Fogo e água ganham um significado mais profundo que apenas o funcional. Trata se de
captar a essência da vida e da morte em arquitetura.
Essa casa é a construção mais sensual, talvez a casa mais erótica que um arquiteto
famoso jamais imaginou. É um lugar deslumbrante, onde é muito agradável estar e amar.
Aqui Niemeyer mostra o que arquitetura orgânica quer dizer para ele: uma configuração
muito elegante, na qual o interior e o exterior se unem em harmonia. A Casa das Canoas é
a síntese de uma busca que começou com o pavilhão brasileiro em Nova York (1939) e os
prédios da Pampulha. O essencial é unir a feminidade com uma experiência dinâmica da
natureza brasileira. A integração vital da casa na natureza foi influenciada pela obra
do amigo pessoal de Niemeyer, o paisagista Burle Marx, uma pessoa muito importante para
entender e situá-lo corretamente. Sem a visão de Burle Marx sobre a paisagem, Niemeyer
talvez jamais conseguisse chegar nessa residência sublime. Os historiadores precisam
destacar essas nuanças para captar e enfatizar as qualidades intrínsecas da obra.

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