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RESUMO: Um dos momentos mais críticos no ciclo vital familiar é a chegada dos filhos, quando
novos papéis e dinâmicas familiares necessitam ser estabelecidos. A mulher torna-se mãe e a vivência
desse processo sob o contexto da prematuridade e dos cuidados intensivos sofre importantes interferên-
cias. O presente estudo teve como objetivo apontar aspectos a serem considerados no contexto relacional
entre enfermeiros e mães de prematuros na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), segundo a
literatura de enfermagem. Adotou-se a revisão sistemática como método, quando 21 pesquisas primárias
tiveram análise de seus resultados, com enfoque para as ações dos enfermeiros junto a essas mães. Os
resultados apontaram a presença do enfermeiro como aspecto que fundamenta todo o contexto
interacional, e é expresso no cuidar. Em adição, o informar e o facilitar o acesso a recursos de apoio
constituem importantes ações. A convergência entre as necessidades maternas e as ações do enfermei-
ro na UTIN é primordial e dependente da intenção do profissional no cuidado.
Palavras-chave: Enfermagem; prematuro; família; intervenção.
ABSTRACT
ABSTRACT:: The arrival of children in a family, when new functions and dynamics have to be structured,
proves to be one of the most critical moments in the family’s vital cycle. Becoming a mother in the
context of prematurity and of the intensive care unit brings a remarkable impact onto the woman . The
present paper aims at describing aspects of the relation nurse-mother in the Neonatal Intensive Care Unit
(NICU), according to the nursing literature. The research method was comprised by the systematic review
of 21 primary studies focusing on nursing interventions. The findings pointed out that the nursing attitude
expressed during the caring act promotes the expression of the mother’s needs. Giving information and
facilitating the access to support resources were identified as effective intervention. The way nurses
meet the mothers’ needs in the NICU depends on their intentions during care.
Keywords: Nursing; pre-term; family; intervention.
INTRODUÇÃO
A família, apesar de inserida no contexto de A assistência à família requer uma avaliação da
cuidado das Unidades de Terapia Intensiva Neonatal unidade familiar com dados sobre seu ciclo vital, sua
(UTIN), é pouco reconhecida como sujeito de cui- composição, uso dos recursos sociais e pessoais, aten-
dado conforme as preconizações da abordagem ção às crenças, aos processos de comunicação e todos
centrada na família. Essa filosofia de cuidado reco- os esforços para o manejo das situações vividas. As
nhece o impacto do processo saúde-doença sobre a intervenções à família, segundo Robinson e Wright3,
família, e, conseqüentemente, a concebe como sujei- estruturam-se no conhecimento detido pelo enfermei-
to de cuidado do enfermeiro. ro sobre cada família em sua particularidade, com es-
A assistência de enfermagem adotada nessa pers- pecial atenção à especificidade do enfrentamento
pectiva valoriza a interação profissional-família, e tem, desenvolvido em cada situação que lhe é imposta.
no estabelecimento da confiança, da adequada co- Uma das fases mais críticas no ciclo vital da
municação e da cooperação, contexto para o alcan- família é a fase na qual ela vive a chegada dos filhos,
ce de um cuidado efetivo1, ou seja, aquele capaz de momento quando novos papéis familiares são pro-
curar ou aliviar o sofrimento da unidade familiar2. cessados e as dinâmicas relacionais são restabelecidas.
No que tange à mulher, ela está adquirindo o papel de Os critérios de inclusão foram: ser estudo de
mãe. Para Mercer4, o processo de tornar-se mãe tem campo, com exploração qualitativa, publicado nos
quatro estágios que se sobrepõem: ocorre durante a últimos 15 anos; estar publicado em revistas
gestação e acomoda o assumir o compromisso, o vin- indexadas na língua portuguesa ou inglesa; ter como
cular-se e preparar-se para a vinda do filho; nas pri- um dos sujeitos de pesquisa a mãe; ser foco de explo-
meiras quatro semanas, há a aquisição de conhecimen- ração do estudo a experiência materna/familiar na
tos a partir da interação mãe-filho, com influência UTIN; e abordar ações/atitudes/habilidades do en-
direta na vinculação e no aprendizado do cuidado do fermeiro de UTIN que influenciam o enfrentamento
filho; ao longo dos primeiros quatro meses, a mulher familiar na UTIN.
move-se em direção a uma nova dinâmica de vida; e, Na base dados MEDLINE, foram encontra-
no último estágio, alcança a sua identidade materna. dos 177 referências, das quais 31 foram selecionadas;
Flacking, Ewald, Nyqvist e Starrin5 apontam ser no LILACS, 46 referências foram listadas e seis fo-
a separação entre mãe e neonato, vivenciada com a ram selecionadas; já no BDENF, encontrou-se 22
prematuridade e ida do filho para a UTIN, um fator referências, das quais quatro integraram nossa amos-
gerador de insegurança no self e papel materno, re- tra inicial.
percutindo em sensação de insignificância, de sen- O material foi lido em sua íntegra, avaliado em
tir-se quase como uma mera visita do filho. Esses relação à pertinência ao foco do estudo e aos aspec-
mesmos autores destacam ainda não serem as neces- tos que permitem aferir rigor à seleção de pesquisas
sidades emocionais da mãe de intimidade e proximi- qualitativas propostos por Paterson Thorme, Canam
dade do filho alcançado em sua plenitude na UTIN. e Jillings9: veracidade (fidelidade na apresentação dos
As interações entre enfermeiros e famílias têm dados, análise e interpretação dos mesmos);
influência na forma como as famílias e recém mães aplicabilidade (articulação entre as partes do estudo
manejam esta fase do ciclo vital. A experiência de e o domínio proposto); consistência (possibilidade
ser/tornar-se mãe em uma UTIN pode atribuir ao de trilhar o processo da pesquisa); e neutralidade/
enfermeiro a capacidade profissional de promover na imparcialidade do pesquisador na pesquisa).
cliente o enfrentamento da difícil situação de ter um Considerando-se as repetições de artigos nas
prematuro internado6,7. diferentes bases de dados e todos os critérios de in-
A partir do questionamento como apoiar as mães clusão e os processos de avaliação dos textos menci-
com prematuros na UTIN de forma a promover o onados no parágrafo anterior, 21 pesquisas integra-
enfrentamento dessa situação, o presente estudo teve ram a amostra do presente estudo.
como objetivo apontar aspectos a serem considera- Os artigos foram lidos em sua íntegra e, dos re-
dos no contexto relacional entre enfermeiros e mães sultados descritos, extraiu-se as descrições e afirmati-
de prematuros na UTIN, segundo a análise sistemá- vas relacionadas a ações apontadas pelas mães como
tica da literatura de enfermagem. facilitadoras de sua experiência na UTIN. Frente ao
Buscou contribuir para uma maternagem mais conjunto de dados obtidos, eles foram agrupados de
plena e precoce, bem como fomentar a reflexão crí- acordo com os focos abordados, e organizados em três
tica do enfermeiro acerca de sua atitude junto às grandes temas: a presença; as informações e o acesso a
mães, considerando os achados como os de Belli e recursos de apoio.
Silva8, em que o relacionamento com os profissio-
nais da UTIN foi apontado como um estressor a mais RESULTADOS E DISCUSSÃO
na experiência de ter um filho prematuro em função
da divergência entre as expectativas familiares e as A experiência de ser/tornar-se mãe em uma
ações profissionais. UTIN pode ter no enfermeiro um dos profissionais
promotores do enfrentamento, dependendo dos as-
pectos interacionais estabelecidos7-10 entre ele e a fa-
REFERENCIAL TEÓRICO- mília. Elementos, presentes ou não, nos relaciona-
METODOLÓGICO mentos entre enfermeiros e mães determinam o grau
de abertura, honestidade e confiança, os quais influ-
Trata-se de uma revisão sistemática da literatu- em diretamente na congruência das ações profissio-
ra1-30, pautada na busca bibliográfica junto às bases de nais para com as necessidades maternas e, assim, no
dados BDENF, LILACS e MEDLINE, com os termos cuidado direcionado a essas mulheres, com repercus-
prematuro e família por meio da lógica boleana AND. sões diretas no enfrentamento familiar.
As pesquisas que compõem o corpo de análise do favorecer a integração do novo membro prematuro
presente estudo, Figura 1, permitem agrupar seus resul- na família16, principalmente por promover espaço
tados em relação a esta questão nas seguintes temáticas: para a ocorrência de (re)significações8. Quanto mai-
a presença; as informações e o acesso a recursos de apoio. or o grau de satisfação na interação com o profissio-
nal, maior a percepção de bem-estar referida17.
A Presença Essa atitude do enfermeiro de compartilhar de-
A presença disponibilizada pelo enfermeiro é o cisões reconhece a diferença de interpretações por
aspecto que fundamenta todo o contexto parte das mães e profissionais18, mas não se restringe
interacional. Ela influi de forma direta nos vínculos a julgamentos. O foco está no processo de conhecer
estabelecidos, e é expressa nos comportamentos de e entender como as mães percebem a situação vivi-
cuidado 11. Requer sensibilidade, intencionalidade, da19, retratar interesse, ter paciência14, onde o escu-
contínua abertura para a situação e conhecimentos tar é primordial6,13. As mães querem ser escutadas com
caracterizadores da trajetória da mulher no ser/tor- todos os sentidos14.
nar-se mãe de um prematuro. Este último favorece a Este jeito de estar faz com que as mães não se
compreensão das necessidades, reflexões para a ex- sintam sozinhas e tenham segurança, elementos que
ploração e validação das percepções derivadas de sustentam o processo de manter ações de
múltiplas evidências observadas. enfrentamento20.
A disponibilidade do enfermeiro para com a Sentir o carinho dos profissionais proporciona sen-
mulher contém o ser solidário, manifestado no jeito sações de bem-estar e facilita as adaptações necessári-
de viver a interação e reconhecido por elementos as20, enquanto que posturas de mando/ordem inibem a
que só ganham significados na vivência. abertura para a relação6. Estas últimas instigam na mãe
Nas descrições caracterizadoras dessa presença, atitudes de proteção, quando emoções são contidas,
destaca-se o reconhecimento da necessidade de reflexões acerca das conseqüências de suas ações pas-
atenção por parte dos pais e familiares8,11,12 e a valori- sam a ser continuamente ponderadas, repreendendo-
zação de tomadas de decisões partilhadas12,13. Reflete se e, por vezes, retirando-se fisicamente do espaço, como
o credo no outro, e isso fomenta os vínculos e man- estratégias para garantir ao filho o cuidado6.
tém a abertura franca entre enfermeiro e mãe na A mãe percebe-se partilhando com o filho a
interação14. Receber essa presença oferece segurança atenção e as ações do mesmo profissional e, por isso,
para a mulher tornar-se mãe na UTIN6,15 e para ela sente-se competindo com o ele pelo cuidado15, 21, o
que resulta em cautela na expressão de suas necessi- O responder às perguntas de forma compreen-
dades14,15, chegando, por vezes, a não manifestá-las21. sível12 e atentar para a linguagem utilizada10 promo-
A sensibilidade e disponibilidade do enfermeiro vem a dinâmica dos pais de conhecer e enfrentar o
para estar com os pais e familiares são percebidas por que está diante deles.
meio de ações do enfermeiro que reflitam o reconheci- A atenção das mães volta-se tanto para o que
mento dos pais e familiares como pessoas importantes e está sendo dito quanto para o como está sendo dito7,8,10.
como sujeitos de atos relevantes para a criança14,20. Essa O processo de comunicação traduz o eixo da interação,
atitude inibe a sensação dos pais e familiares sentirem- com afirmação das mães de ser nesse momento que há
se visitas do filho7,11. São exemplos de atos com este fim: a manifestação de ações derivadas da crença de mui-
permitir e encorajar o toque dos pais no bebê7,8,12; per- tos profissionais de que só eles possuem conhecimen-
mitir e encorajar o falar de sentimentos12,14; perceber e tos6,7,13. Atitudes e posturas hierárquicas são então ex-
respeitar o tempo de reflexão/interiorização dos pais12; pressas, seja pela forma verbal ou não verbal6,7,8.
permitir e respeitar a escolha dos pais do momento de A conversa informal, o prosear, foi reconheci-
iniciarem ações junto ao filho8,12,22; e explicitar compe- do como importante momento para a partilha de
tências maternas na interação com o filho7,22. informações entre mães e enfermeiros por oferecer
Há ações desenvolvidas pelo enfermeiro uma igualdade de responsabilidade. O seu uso pro-
direcionadas para a criança que desencadeiam e rea- move cuidados mais autênticos e individualizados,
firmam essa presença sensível, como chamar o bebê selando fortes laços interacionais10.
pelo nome e o confortar o bebê prontamente12. É importante lembrar que, em função do mo-
O uso da presença silenciosa12 e do respeito aos mento em que se encontra em sua trajetória de ter
momentos de privacidade e amor dos pais com o fi- um prematuro na UTIN, a demanda de informação
lho15 também resultam em conforto e cuidado14, e é diferente. É comum os pais necessitarem de infor-
auxiliam a mãe no desenvolvimento de sentimentos mações, primeiramente acerca do ambiente da
maternais em relação à criança, nutrindo os laços UTIN7,15,24 e dos elementos assistenciais utilizados no
construídos ao longo da gravidez8, 20, 23. cuidado ao filho15,24, uma vez que estão focados na
Outro aspecto que influi na relação são as con- sobrevivência8,14,23. Posteriormente, querem obter
dições emocionais da mãe, quando, para o profissio- dados relacionados às peculiaridades do bebê23 e a
nal, é fundamental lembrar da alteração dos focos de aspectos que favoreçam a construção de suas com-
ansiedade materna: primeiro ela centra-se na sobre- petências para cuidar do filho na UTIN, já projetan-
vivência do bebê e no medo de perdê-lo8,14,19,24; de- do o cuidado em casa. A congruência entre infor-
pois na saúde da criança, o que direciona a atenção mações profissionais e necessidades maternas promo-
para sua competência no cuidar da mesma25. A ve interações positivas8,17.
congruência do enfermeiro para com as ansiedades A obtenção de informações processa-se por
maternas auxilia o mesmo nas mudanças do foco e meio de observações7,11,15 , escuta e perguntas, quan-
das informações ao longo do processo interativo7,8 . do processos mentais comparativos18 entre situações
vividas pelo filho e outras crianças, bem como entre
Informações comentários e atitudes dos diversos profissionais com
O informar está contido na presença descrita seu próprio filho são ponderados18. Atentam para as
anteriormente, e todas as considerações feitas sus- contradições18, são vigilantes7,15, almejando evidên-
tentam essa ação. O que determinou sua exploração cias de que o melhor está sendo feito. Focam-se na
a parte é a ênfase com que o informar é retratado proteção do filho e querem sentir-se seguros em rela-
pelas mães, com destaque para a sensação de descui- ção a isso15.
dado que apontam em relação a este fato. A identificação da continuidade das ações
Informações acerca da situação, envolvendo o cuidativas é outro elemento de relevância para as
ambiente da UTIN, a criança, os processos vividos e mães. É obtida através das informações veiculadas
os cuidados direcionados ao filho são necessidades nas interações com o ambiente da UTIN, seja com
maternas e devem ser acolhidas pelo enfermei- os profissionais, seja por meio das observações, seja
ro8,13,14,20,24,26. Elas favorecem o processo de familiari- nas associações com outros pais18. Os dados obtidos,
zar-se com o ter um filho prematuro8,15,18, possibili- pelas inúmeras maneiras são comparados, para a con-
tam maior participação13,18 e derivam no controle da firmação ou não da continuidade no cuidado18. São
situação18,26. São fontes de dados para a construção as informações obtidas que garantem a sensação de
de significados da experiência vivida8,25. terem a situação sob controle11.
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Notas
*
Enfermeira. Docente do Centro Universitário São Camilo. Doutoranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.
Correspondência: Praça Miguel Ortega, 50 apto.91, bloco1 – Parque Assunção – Taboão da Serra – SP – CEP: 06754-160. E-mail: mwernet@ig.com.br
**
Enfermeira. Professora Titular da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. angelm@usp.br