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ANÁLISE ECONÔMICO-

FINANCEIRA DE EMPRESAS

Julho de 2013

Realização:

Banco do Brasil
Diretoria Gestão de Pessoas
Diretoria de Crédito

Nenhuma parte deste caderno poderá ser reproduzida, sejam quais forem os mei-
os empregados (mimeografia, xerox, datilografia, gravação, reprodução em disco
ou fita), sem permissão por escrito do Banco do Brasil. Aos infratores aplicam-se
as sanções previstas no Título VII, capítulo II Das Sanções Civis, da Lei nº 9.610,
de 19 de fevereiro de 1998
.
Educando para a sustentabilidade

Papel
Desenvolver a excelência humana e profissional de seus públicos, por meio da criação
de valor em soluções educacionais, contribuindo para a melhoria do desempenho organi-
zacional e para o fortalecimento da imagem institucional do Banco do Brasil.

O profissional
O atual contexto empresarial, altamente dinâmico, exige profissionais igualmente dinâmi-
cos que possam situar-se como protagonistas de sua trajetória pessoal e profissional. Que
sejam capazes de se manter atualizados com os acontecimentos do mundo e, a partir de
seus valores e relacionamentos, refletir sobre a influência desses fatos na organização do
trabalho e na sociedade. Que elaborem, por fim, respostas novas aos novos problemas.
Essa atitude exige do profissional o comprometimento ético, assim como exige do Banco a
oferta de condições de desenvolvimento e de trabalho para que sejam firma- dos compro-
missos nas seguintes dimensões:
C o m p r o m i s s o c o n s i g o m e s m o : a u t o d e s e n v o l v i m e n t o , a u t o n o m i a , autoconheci-
mento, qualidade de vida, construção de projeto de vida (pessoal e profissional) e coerên-
cia entre sua prática e seus valores.
Compromissos com os outros sujeitos: apoio mútuo, aprendizagem coletiva, coopera-
ção, solidariedade, empatia, reciprocidade, transparência, atitude dialógica, tolerância,
aceitação e valorização da diversidade humana.
Compromissos com o trabalho : reflexão sobre a natureza e o sentido do trabalho,
aprimoramento permanente da sua qualificação – por meio do acompanhamento das ciên-
cias e tecnologias – e de sua atuação profissional – por meio da sua participação na cons-
trução e reconstrução da realidade.
Compromissos com a Organização: conhecimento e realização das estratégias e dos
objetivos organizacionais, seja no âmbito mercadológico ou no tocante às suas funções
sociais, gerindo as possíveis tensões entre esses dois papéis.
Compromissos com a sociedade: atuação crítica, democrática e transformadora nas
redes sociais em que se insere, para fortalecer os princípios de solidariedade, justiça soci-
al, cidadania e sustentabilidade ambiental.

Extraído da Proposta Político-Pedagógica para


Atuação em Gestão de Pessoas
Análise Econômico-Financeira de Empresas

APRESENTAÇÃO
O processo de crédito compreende o conjunto de ações que envolvem as operações
de empréstimo, financiamento ou prestação de garantias aos clientes. No nível operacional,
essas ações vão desde a identificação do cliente até ao retorno dos capitais emprestados.
No Banco do Brasil, esse processo foi estruturado levando-se em conta a premissa de
que o risco de crédito compõe-se de acordo com a seguinte equação:

RISCO DO CLIENTE
RISCO DE CRÉDITO = +
RISCO DA OPERAÇÃO

O quadro a seguir sintetiza os procedimentos relacionados aos dois componen-


tes do risco de crédito:

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O conjunto de cursos direcionados à área de crédito foi planejado com base nes-
ses componentes, e tem o objetivo de apresentar o processo de maneira global, nos cur-
sos introdutórios, com opções para desenvolvimento de conhecimento específico.
Os cursos considerados básicos são:
Introdução ao Processo de Crédito: oferece abrangente visão do processo de crédito.
Cadastro. Oferece diretrizes necessárias para a confecção e a manutenção de um ca-
dastro com informações completas, confiáveis e atualizadas.
Risco de Clientes. Aborda as formas adotadas pelo Banco para a atribuição do risco
do cliente e o estabelecimento do limite de crédito.
Risco de Operações. Refere-se especificamente à concretização do negócio de crédi-
to, que se inicia com uma efetiva proposição por parte do cliente – empréstimo ou fi-
nanciamento. Logo, pressupõe que as etapas anteriores, de elaboração ou atualização
da ficha cadastral e de atribuição do risco e estabelecimento do limite de crédito já te-
nham sido superadas.
Além dos cursos citados, existem cursos para aprofundamento de temas especí-
ficos, como este, destinado à análise econômico-financeira de empresas com a finali-
dade de crédito
Assim, este treinamento integra as ações voltadas para a formação profissional
dos funcionários responsáveis pela viabilização do principal negócio de um banco –
emprestar e receber, para novamente emprestar, em um ciclo contínuo.
Está direcionado especificamente àqueles que, direta ou indiretamente, nas
agências ou nas unidades da Direção Geral, se relacionem com empresas clientes ou
potenciais clientes, com vista ao estabelecimento de risco e limite de crédito, condição
necessária para o início do relacionamento em crédito.
Desta forma, além das pessoas que se ocupam da análise do crédito, interessa,
também, àquelas que participam indiretamente da análise de empresas, pela coleta de
informações, ou que dela se utilizem, deferindo e gerenciando operações de crédito.

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O CURSO
Informações básicas
Objetivo geral

Esperamos que, ao final do curso, o participante, tomando por base informações extraídas
dos documentos e demonstrações contábeis, seja capaz de analisar uma empresa 1 sob a
ótica de sua situação econômico-financeira.

Desempenho esperado

Reestruturar e analisar relatórios contábeis, produzindo informações necessárias à decisão


de risco e de limite de crédito.

Informações complementares
Metodologia

Este curso é autoinstrucional. Isso significa que o material deve permitir a aprendizagem indi-
vidual, sem exigir a presença física do Educador.

Mas aprendizagem individual não quer dizer necessariamente estudar sozinho. Pelo contrá-
rio. Formar grupo de estudos traz inúmeras vantagens, consideradas, sempre, as condições
da dependência e as necessidades de treinamento.

Tempo

Uma das grandes vantagens do treinamento autinstrucional é a liberdade que ele dá a cada
participante de desenvolver os estudos dentro de seu próprio ritmo. Entretanto, o grupo que
participou do piloto para validação deste curso considerou o tempo de trinta horas de estu-
do, mais duas para a VA, suficientes para a conclusão do treinamento.

1
Embora o conteúdo seja, na maioria dos casos, aplicável a diversos tipos de pessoa jurídi-
ca, o curso é direcionado à análise de empresas e grupos empresariais.

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Público-alvo

Funcionários dos segmentos gerencial, técnico e operacional que exerçam funções de aná-
lise de clientes ou de operações.

Verificação da aprendizagem

Ao final do treinamento, será aplicada Verificação de Aprendizagem composta de 10 ques-


tões de múltipla escolha.

Será considerado aprovado o candidato que obtiver aproveitamento mínimo de setenta por
cento.

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ÍNDICE
Introdução ....................................................................................... 8

Análise econômica e financeira ......................................................... 9

Providências preliminares à análise ................................................ 11

Principais demonstrações e novo padrão contábil ............................ 15

Preparando a documentação para análise ....................................... 29

Exercícios ..................................................................................... 43

Grupo empresarial ......................................................................... 49

Análise econômica ......................................................................... 53

Análise financeira .......................................................................... 65

Exercícios ..................................................................................... 73

Análise Financeira Avançada .......................................................... 85

Exercícios ..................................................................................... 96

Referenciais para análise ............................................................... 99

Exercícios .................................................................................... 106

Fazendo a análise ......................................................................... 109

Análise Empresarial e Mercadológica ............................................ 123

Apêndice ...................................................................................... 129

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INTRODUÇÃO
Conceder crédito é uma das razões da existência de um banco comercial. Pode
ser um ótimo negócio quando bem administrado, mas, em caso contrário, pode rapi-
damente levar a instituição à falência.
Por esse motivo, é normal que os bancos mantenham estruturas específicas pa-
ra cuidar do crédito, desde a administração da carteira e desenvolvimento de metodo-
logias, até à análise propriamente dita de clientes, que no Banco, para as empresas,
ocorre de forma individualizada a partir de determinados valores.
Diferentemente das pessoas físicas, as empresas não existem fisicamente e,
por isso, são mais complexas. Suas ações são produto das ações e intenções de acio-
nistas, dirigentes e funcionários, que nem sempre são coordenadas. Ao mesmo tempo,
elas também influenciam e são influenciadas pelo ambiente em que estão inseridas, de
maneiras muitas vezes imprevisíveis e nem sempre sob seu controle.
Essa complexidade torna difícil a tarefa de encontrar motivos precisos para os
fatos ocorridos e de prever exatamente qual será o futuro. Mas esse não é o objetivo
principal da análise de crédito.
Na análise de crédito, o essencial é que possamos, por meio da coleta, trata-
mento e análise crítica e integrada dos dados e informações disponíveis, identificar
tendências, pontos fortes e pontos fracos, além de oportunidades e ameaças às quais
a empresa analisada possa estar exposta. O objetivo é que possamos chegar ao final
do curso com uma boa idéia de como se fazer isso.
Esse curso está, portanto, está voltado essencialmente às pessoas que se ocu-
pem da análise de risco de clientes pessoas jurídicas. Interessa, também, àqueles que
participam indiretamente da análise, coletando as informações e negociando direta-
mente com o cliente, bem como deferindo e gerenciando crédito.

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ANÁLISE ECONÔMICA E ANÁLISE


FINANCEIRA
Objetivo:

 Descrever a diferença de foco existente entre a análise econômica e a análise financeira.

Embora seja comum nos referirmos à análise dos demonstrativos contábeis e


das demais informações financeiras como “análise econômico-financeira”, é útil distin-
guir os aspectos considerados “econômicos” dos aspectos estritamente “financeiros”,
uma vez que cada um deles apresenta peculiaridades próprias e podem, em certos
casos, apresentar perfis de risco distintos para uma mesma empresa ou instituição.
A análise econômica preocupa-se com a solidez da empresa e com sua capa-
cidade de gerar valor no longo prazo. Trata-se da análise da composição dos ativos,
fixos e destinados ao giro, responsáveis pela geração dos resultados, bem como de
sua relação com as fontes de financiamento utilizadas, incluindo o nível e perfil de en-
dividamento junto a terceiros, bem como o valor e proporção de capital próprio investi-
do no negócio.
Com relação à performance, preocupa-se com a rentabilidade do negócio e
com a capacidade de produzir resultados (lucros) operacionais e finais para a remune-
ração dos capitais investidos, próprios e de terceiros.
A análise financeira é mais específica e preocupa-se em diagnosticar a capa-
cidade de pagamento das obrigações da empresa no curto e no longo prazos, com ba-
se em parâmetros relacionados ao capital de giro disponível e ao fluxo de caixa atual e
futuro, bem como ao ciclo financeiro (prazos de pagamento, recebimento e estoques) e
na dinâmica dos seus indicadores de giro. Trata-se, portanto, de uma análise voltada à
apuração da liquidez imediata e de suas tendências, por meio do isolamento e obser-
vação de aspectos menos óbvios ao leigo.
Como se pode perceber, as duas abordagens estão fortemente inter-
relacionadas, uma vez que, por exemplo, a geração de fluxo de caixa por meio de re-
sultados positivos tende a alimentar o capital de giro e, da mesma forma, uma situação

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de baixa participação de capital de terceiros tende a estar relacionada com menor ne-
cessidade de liquidez.
No entanto, uma administração deficiente de capital de giro pode levar uma em-
presa lucrativa e com boa situação econômica a não ser capaz de cumprir suas obriga-
ções de curto prazo, por falta de disponibilidades financeiras, ou mesmo, de forma gra-
dual, resultar no crescimento do endividamento e das despesas financeiras, até o pon-
to em que os resultados gerados não sejam mais suficientes para o cumprimento das
obrigações. Veremos esses pontos em capítulos posteriores.
Nosso curso irá considerar tais diferenças e detalhar os principais aspectos de
cada uma das abordagens, ambas efetuadas com base em informações extraídas dos
relatórios contábeis e de informações complementares prestadas pelo cliente. Chegou
a hora, então, de tomarmos contato com esses documentos.

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PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES À ANÁLISE


Objetivos:
 Identificar os documentos e informações necessários à análise.
 Descrever os passos que antecedem a análise.

A qualidade da análise está ligada não somente à competência técnica de quem


a faz, mas, também, à qualidade das informações e dos documentos apresentados.
Informações e documentação incompletas ou pouco confiáveis podem levar a conclu-
sões indevidas, ou, mais comumente, a uma postura de análise mais conservadora.
Preliminarmente ao início da análise propriamente dita, portanto, é importante
verificar a documentação (contábil e não contábil) recebida quanto à sua suficiência e
qualidade. Em seguida, devem ser realizadas as pesquisas internas e externas, algu-
mas gerais e outras específicas para cada cliente.

Suficiência dos documentos


O primeiro passo é verificar se os documentos enviados são suficientes para
que se faça a análise do cliente. A documentação mínima necessária para a análise
está descrita nos normativos, assim como o modelo dos formulários que deverão ser
preenchidos e anexados ao dossiê do cliente para o envio de qualquer proposta pela
unidade solicitante.
Esse conjunto de documentos e informações é periodicamente atualizado. As-
sim, previamente ao encaminhamento da proposta, a agência deve verificar sua atuali-
dade. Em casos pontuais, alguns documentos podem ser dispensados. Outros, entre-
tanto, são essenciais a para análise e não podem ser dispensados. São eles:
Parecer da agência, de acordo com formulário específico. Deve ser assinado
pelo Comitê de Crédito e conter o valor do limite proposto, a distribuição por empresa,
em caso de grupo econômico, e as propostas de portfólio de operações. Deve apresen-
tar a argumentação em defesa da proposta apresentada, bem como informações que a
agência entenda como relevantes para subsidiar o processo, além de justificativas pela
falta eventual de algum documento.

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Documentos contábeis
• balanços patrimoniais (BP) e demonstrações de resultado (DRE) dos últimos
três exercícios (para permitir a análise de tendências), assinados pela empresa
e por contador ou publicados, preferencialmente auditados por empresa espe-
cializada independente, principalmente nos casos em que houver previsão para
isso na legislação. Em caso de cópias, estas devem estar autenticadas pela
agência. Em caso de grupo, demonstrativos individuais para cada empresa do
grupo, bem como demonstrativos consolidados, quando disponíveis;
• balancetes recentes, de acordo com prazos estipulados nos normativos, nos
casos em que os demonstrativos referentes ao encerramento do exercício
estiverem defasados;
• demonstração de fluxo de caixa, demonstração de valor adicionado, relatório de
administração, parecer da auditoria e notas explicativas, para os casos de com-
panhias abertas ou empresas com demonstrativos auditados e publicados;
• autorização para consulta ao SCR do Bacen, para que se possa consultar o
endividamento da empresa no Sistema Financeiro Nacional, com base em in-
formações das próprias instituições financeiras, comparando os dados com
os valores contabilizados e permitindo detalhamentos adicionais nem sempre
fornecidos nos demonstrativos;
• questionário de responsabilidade socioambiental, ou, alternativamente, ba-
lanço social, quando disponível.
Informações Adicionais
• cadastrais: cadastros atualizados da empresa, administradores e sócios,
com destaque para a composição do capital, participação em coligadas ou
subsidiárias e dirigentes. Observar a compatibilidade com o tipo mínimo exi-
gido pelos normativos;
• econômico-financeiras: informações sobre volume de importações e exporta-
ções, abertura do endividamento bancário (prazos, formas de pagamento,
garantias e instituições financeiras), detalhamento de valores relevantes con-
tabilizados em rubricas com nomes genéricos (contas a receber, outras des-
pesas operacionais, etc.) e relação de faturamento mensal (para verificação

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de sazonalidade). Em caso de grupos econômicos, informações sobre tran-


sações financeiras entre coligadas e abertura da equivalência patrimonial
(resultados oriundos da participação societária em subsidiária ou coligada);
• empresariais/mercadológicas: informações sobre principais clientes e parti-
cipação no faturamento, principais fornecedores e respectiva concentração,
principais concorrentes, capacidade instalada e utilizada, impressões do ge-
rente colhidas em visita às instalações da empresa, etc.
Há casos em que, por diversos motivos, alguns dos documentos e informações
acima não estejam disponíveis ou não sejam enviados. Em casos específicos, há crité-
rios definidos nos normativos para a dispensa de documentos. Nos demais casos, cabe
à instância analisadora examinar as justificativas apresentadas e ponderar até que
ponto a ausência dos documentos irá comprometer o resultado da análise, para que se
decida ou não por sua continuidade.

Exame da qualidade dos documentos e informações


De posse da documentação recebida, devemos proceder à leitura atenta e por-
menorizada de todo o material, verificando sua qualidade. Ao fazermos isso, buscamos
verificar se as informações são suficientes e se há a necessidade de maior detalhamento
ou esclarecimento adicional. Na leitura dos demonstrativos, é possível obter visão geral
dos principais números da empresa. Além disso, é possível já identificar as contas para
as quais adotaremos procedimentos de reestruturação e ajuste (objeto do próximo capí-
tulo), para adequá-las aos requisitos das metodologias utilizadas pelo Banco.
Para que possamos adotar esses procedimentos, devemos ter suficiente conhe-
cimento de contabilidade, notadamente no que diz respeito à composição do balanço
patrimonial e demonstração do resultado do exercício, assunto que será visto, mesmo
que de forma resumida, no próximo capítulo. Aprofundamento pode ser buscado no
curso Conta, oferecido na modalidade autoinstrucional.
Antes, porém, de nos lançarmos ao tratamento das peças contábeis, há algo a
fazer, que em muito poderá esclarecer as informações obtidas pela leitura dos docu-
mentos. Vamos visitar os sistemas do Banco.

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Pesquisas nos sistemas internos e externos


Finalizando a preparação para a análise, devemos colher informações comple-
mentares nos sistemas internos do Banco. Nessas pesquisas, será possível verificar o
saldo de operações em ser, prazos de vencimento e garantias, o volume, concentração
e qualidade da carteira de cobrança, a existência de restrições cadastrais (Serasa, Ca-
din e SPC), o endividamento no SCR, bem como a existência de restrições ou anota-
ções cadastrais internas.
Adicionalmente, devemos efetuar consultas externas, buscando informações na
imprensa escrita ou na internet, em sites setoriais ou de notícias gerais ou financeiras,
em busca de informações relevantes para o processo de análise. Muitas vezes, tam-
bém, pode ser possível obter no site da própria empresa notícias atualizadas e infor-
mações sobre produtos comercializados e mercados de atuação. Obviamente, as in-
formações, análises e notícias obtidas de fontes externas devem ser consideradas de
maneira crítica, mantendo-se em mente que informações podem estar enviesadas e
ser produto de interesses não explicitados.

Conclusão
Após esses três passos, chegamos então ao momento de concluir se a docu-
mentação é suficiente e se tem a qualidade necessária para o início da análise.
Caso o exame revele alguma dificuldade, devemos verificar a possibilidade de
resolvê-la por nós mesmos, por meio de pesquisas adicionais, ou em consulta à agên-
cia. Caso contrário, devemos contatar o dirigente ou contador e, quando entendido co-
mo necessário, visitar as instalações da empresa, no intuito de esclarecer eventuais
dúvidas ou mesmo de checar informações prestadas in loco.
Supondo, para seguirmos em frente, que documentação tenha se revelado sufi-
ciente e que as informações apresentem a qualidade necessária para permitir o início
da análise, é hora, então, de conhecermos a composição das principais peças contá-
beis, para podermos dar continuidade ao nosso trabalho.

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PRINCIPAIS DEMONSTRAÇÕES
E NOVO PADRÃO CONTÁBIL
Objetivos
 Listar os relatórios contábeis que compõem o processo de análise.
 Descrever as principais mudanças de padrão a partir da vigência da Lei 11.638/2007 e alte-
rações posteriores.
 Demonstrar a importância de cada relatório na apuração da situação econômica e financei-
ra da empresa.
 Conceituar bens, direitos, obrigações e patrimônio líquido
 Identificar no balanço patrimonial os grupamentos de contas do ativo e do passivo.
 Detalhar a demonstração do resultado do exercício e as receitas e despesas que entram na
apuração do resultado.

As demonstrações financeiras, ou relatórios contábeis, são sínteses dos valores


contidos em registros contábeis da empresa, elaboradas segundo normas específicas.
Cumprem, ao mesmo tempo, a função de auxiliares no processo de gestão da empresa
e as de prestação de contas ao fisco e ao mercado.
Esses demonstrativos serão, como veremos, a principal matéria-prima para a
análise econômico-financeira. Retomando os conceitos já abordados, as informações
de natureza econômica compreendem principalmente o estudo das receitas e despe-
sas, e as variações no patrimônio e na estrutura das fontes e aplicações de recursos.
As informações de natureza financeira são as relativas ao fluxo de caixa e do capital
de giro. É importante, portanto, aprofundar o entendimento e a visão crítica sobre os
principais demonstrativos utilizados, notadamente o balanço patrimonial e a DRE.

Novos critérios contábeis


Atualmente, as demonstrações contábeis são estruturadas de acordo com os
critérios da Lei 6.404/76, alterada pelas leis 11.638/07 e 11.941/09. Estas duas últimas
foram as responsáveis pela introdução do País no processo de convergência entre as

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práticas adotadas no Brasil com as IFRS, sigla em inglês para padrão internacional de
relatório financeiro.
As IFRS são um conjunto de normas internacionais editadas pelo IASB, sigla
para comitê de normas internacionais de contabilidade. Essas normas foram criadas
para facilitar o processo de análise de investimentos e consolidação de demonstrativos
de empresas localizadas em diferentes países, reflexo da globalização da economia e
do desenvolvimento de grupos empresariais multinacionais.
Ao convergir sua legislação às práticas internacionais, o Brasil amplia a possibi-
lidade de parceria entre empresas brasileiras e estrangeiras, unifica os procedimentos
contábeis das empresas multinacionais já instaladas no País e permite melhor avalia-
ção dos investimentos. Vale lembrar, porém, que a aderência não é integral 2 e que
permanecem existindo diferenças nos padrões brasileiros, ainda que pontuais.
De maneira geral, é importante compreender que o alinhamento ao IFRS trouxe
mudança de filosofia nos critérios de contabilização, que antes eram definidos sob uma
ótica predominantemente fiscal e passam, com os novos critérios, a contar com pressu-
postos gerenciais, com valorização da essência e do significado em detrimento da forma.

Obrigatoriedade
Embora a legislação date de 2007, a adoção das novas práticas passou a ser
obrigatória a partir da apresentação das demonstrações do ano 2010, com a necessi-
dade de que fossem ajustados e republicados os demonstrativos de 2009.
Devem seguir as novas diretrizes, de acordo com as leis, as sociedades anôni-
mas, sejam elas de capital aberto ou fechado, e as sociedades de grande porte 3. Mes-
mo quando não enquadradas nas regras citadas, algumas empresas já são orientadas
por seus órgãos reguladores a adotarem os novos padrões, tais como aquelas entida-
des vinculadas à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), à Agência Nacional
de Energia Elétrica (ANEEL) e ao Banco Central do Brasil (BCB).

2 Nem todas as normas estão aderentes às IFRS, como, por exemplo, a possibilidade de reavaliação de ativos
(proibida no Brasil) e a obrigatoriedade de DVA - Demonstração do Valor Adicionado (no Brasil, as companhi-
as abertas estão obrigadas à apresentação do demonstrativo, o que não é exigido nas normas internacionais).
3 Sociedade de grande porte é aquela que, individualmente ou sob controle comum (grupo), possua, no ano ante-
rior, ativo total superior a R$ 240 milhões ou receita bruta anual superior a R$ 300 milhões.

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Também, o Conselho Federal de Contabilidade exige que todos os contadores


adotem o padrão internacional. Portanto, toda a contabilidade das empresas nacionais
deveria, em tese, ser elaborada de acordo com os novos padrões vigentes, já que, di-
reta ou indiretamente, estão obrigadas a isso. Exceção se aplicaria às empresas limi-
tadas e às sociedades anônimas de capital fechado, não classificadas como de grande
porte. Para essas, está facultado o uso de normas simplificadas.
Na prática, enquanto não se estabelecerem punições legais, apenas parte das
empresas não citadas expressamente como abrangidas pela nova legislação vem ado-
tando o padrão internacional.

Conjunto de demonstrativos
O conjunto completo dos demonstrativos contábeis detalhado a seguir não é obri-
gatório a todas as empresas. Cada qual deve elaborar e divulgar aqueles aos quais está
obrigada. Os demonstrativos essenciais para a análise e que todas as empresas de-
vem fornecer são:
• BP e a DRE (balanço patrimonial e demonstração de resultado do exercício).
Tais demonstrativos serão objeto de maior detalhamento nos itens posterio-
res deste capítulo. Além desses, temos também os seguintes demonstrativos
previstos pela legislação em vigor, com obrigatoriedade restrita a empresas
reguladas pela CVM:
• DRA (demonstração do resultado abrangente). Informa transações que ainda
não afetaram o exercício e irão impactar exercícios futuros. Interfere na dis-
tribuição futura de dividendos.
• DMPL (demonstração das mutações do patrimônio líquido). Detalha a com-
posição do patrimônio líquido, informando os acréscimos e reduções de cada
rubrica, chegando ao patrimônio líquido no final do período. É um subsídio à
compreensão da evolução do patrimônio líquido.
• DFC (demonstração do fluxo de caixa). Substitui a antiga DOAR (demonstra-
ção de origem e aplicação de recursos). Apresenta a geração e o uso do
caixa durante determinado período.

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• DVA (demonstração do valor adicionado). Evidencia a geração de riqueza


pela companhia e sua distribuição entre os elementos que contribuíram para
a mesma.
• Notas Explicativas. Acompanham o conjunto de demonstrativos, o parecer da
auditoria e o relatório de administração e representam um resumo das políti-
cas contábeis significativas e outras informações. Quando fornecido, é docu-
mento importante para a análise e pode substituir grande parte das informa-
ções complementares normalmente solicitadas, listadas no capítulo anterior.

Balanço patrimonial
Para compreender o que é e o que revela o balanço patrimonial, é importante
entender o conceito de patrimônio.
Patrimônio é o conjunto de bens, direitos e obrigações de uma empresa. Os
bens e direitos constituem o ativo e as obrigações, o passivo. A diferença entre eles
constitui o patrimônio líquido. Vamos entender melhor o que representa cada um deles.
Bens
O conceito refere-se aos bens econômicos, ou seja, aos bens considerados
úteis, que existem em quantidades limitadas e, portanto, possuem valor. Quanto à
forma física, podem ser tangíveis (um item de estoque), ou intangíveis (o valor atribuí-
do a uma marca). Diferenciam-se também entre bens móveis, que podem ser removi-
dos por si próprios ou por terceiros (máquinas, animais, mercadorias e dinheiro) e bens
imóveis, vinculados ao solo (edifícios, construções).
Direitos
Entende-se por direito o poder de exercer alguma prerrogativa ou exigir alguma
coisa, como, por exemplo, receber um valor acordado por uma venda a prazo, ou sacar
valores depositados em conta bancária. Além desses, outros direitos comumente pre-
sentes nos balanços são aluguéis a receber, dividendos a receber, adiantamento a for-
necedores, etc.
Obrigações
São as obrigações e dívidas da empresa em relação a terceiros. São denomina-
das obrigações exigíveis, pois seus valores podem ser reclamados – exigidos – nas
datas dos vencimentos. Exemplos de obrigações exigíveis presentes nos balanços são

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valores a pagar a fornecedores na compra de mercadorias a prazo ou a bancos nos


empréstimos contraídos e as dívidas decorrentes de impostos e salários a pagar.
Patrimônio líquido
Para entender o conceito do patrimônio líquido, imaginemos uma pessoa que
more em um grande e bem localizado apartamento, tenha carros novos na garagem e
diversas outras propriedades, em valor total considerado elevado para os padrões mé-
dios. Essa pessoa pode ser considerada rica? Aparentemente, a primeira vista, é o que
pode parecer, mas há o risco de estarmos errados.
Não podemos chegar a essa conclusão sem entender qual a parcela desses
bens é efetivamente detida pelo nosso personagem. É possível que o apartamento e os
carros sejam financiados, que a casa na praia seja emprestada e que ele esteja incluí-
do na dívida ativa da União por evasão fiscal. Ou seja, é possível que sua dívida seja
consideravelmente grande, até maior do que o valor de seus bens.
Riqueza, portanto, não se mede somente pelo patrimônio, ou seja, pelos bens e
direitos que essa pessoa ostenta, mas, sim, pelo valor restante quando já subtraídas
as obrigações com terceiros. O mesmo procedimento, quando realizado no balanço de
uma empresa, revela o que chamamos patrimônio líquido, que pode ser ilustrado no
seguinte quadro:

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Se procurarmos por balanços publicados nos jornais, veremos que, na maioria


dos casos, a soma dos bens e direitos será maior que a das obrigações com terceiros,
o que resultará em patrimônio líquido positivo.
Já no caso oposto, pode acontecer de (como no caso da terceira situação) a
soma dos bens e direitos seja menor que a das obrigações. Nesse caso, teremos o
patrimônio líquido negativo, comumente denominado de passivo a descoberto.
Entendido o conceito de patrimônio líquido, podemos agora passar a ver os do-
cumentos que compõem os demonstrativos financeiros da empresa, a começar pelo
balanço patrimonial.

Composição do balanço patrimonial


O balanço patrimonial é um demonstrativo estático padronizado, que discrimina
de forma sintética e ordenada os saldos de todos os valores integrantes do patrimônio
de uma empresa em determinada data.
De um lado, no ativo, são relacionadas as contas que refletem a aplicação de
recursos — seus bens e direitos — e, de outro, no passivo 4 , as que representam as
fontes de recursos – suas obrigações e o patrimônio líquido. Assim, a todo valor conta-
bilizado no ativo (bens e direitos), corresponde uma fonte ou origem de recursos pró-
pria ou de terceiros.

4
Existe controvérsia sobre a abrangência do termo “passivo”. Pela Lei das S.A. (nº 6.404/76), o conceito de
passivo inclui, além das obrigações, o patrimônio líquido. Já pelo Conselho Federal de Contabilidade (Res.
CFC 1.374/11 – NBC TG Estrutura Conceitual), o passivo se refere somente às obrigações da entidade, e não
inclui o patrimônio líquido. Para fins desse curso, “passivo” não incluirá o patrimônio líquido.

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Estrutura do balanço patrimonial


Na estrutura do balanço patrimonial as contas são classificadas por grupos de
acordo sua natureza e ordenados de acordo com o critério de liquidez, no ativo, e de
exigibilidade, no passivo.
Assim, as primeiras contas do ativo são as mais líquidas, as disponibilidades
(caixa e saldos bancários). Depois, seguem-se os direitos de curto prazo (clientes, du-
plicatas a receber) e assim sucessivamente, até o ativo intangível.
Da mesma forma, o passivo circulante contém as obrigações com empréstimos,
fornecedores, salários e impostos de curto prazo, seguidas pelas obrigações de longo
prazo e, finalmente, o patrimônio líquido, que por natureza não possuem prazo de exi-
gibilidade.
Para facilitar o entendimento da estrutura do balanço e os das alterações vigentes
a partir de 01/01/2008, apresentaremos a seguir a estrutura antiga e a nova estrutura.

ATÉ 2007
ATIVO PASSIVO
Circulante Circulante
Realizável a longo prazo Exigível a longo prazo
Permanente Resultado de exercícios futuros
Investimentos Patrimônio líquido
Imobilizado Capital
Diferido Reservas (inclusive de reavaliação)
Lucros/Prejuízos acumulados

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NOVA ESTRUTURA
ATIVO PASSIVO
Circulante Circulante
Caixa/Bancos/Aplicações Empréstimos/Financiamentos
Clientes Fornecedores
Estoques Tributos a pagar
Outros valores circulantes Outros valores circulantes
Não Circulante
Realizável em Longo Prazo Não circulante
Clientes Empréstimos/Financiamentos
Transações entre ligadas Outros (ex.: impostos refinanciados)
Outros (ex.: depósitos judiciais)
Investimento
Participações societárias PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Imobilizado Capital Social
Bens imóveis de uso Reserva de Lucros
Intangível Prejuízo Acumulado
Marcas e patentes Ajuste de Avaliação Patrimonial

Ativo Apesar de o termo ativo permanente ter sido formalmente


A partir da nova estru- extinto com base na nova legislação, para fins didáticos, quan-
tura, o ativo passa a ser divi- do necessário, manteremos tal denominação para nos referir-
dido em dois grandes grupos: mos ao valor resultante da soma dos itens “b”,” c” e “d”.
Ativo Circulante (AC) e Ativo
Não Circulante (ANC). Apesar de não ser obrigatório, o Ativo Não Circulante pode, por
sua vez, ser dividido em quatro subgrupos:
a) Realizável a longo prazo.
b) Investimentos.
c) Imobilizado.
d) Intangível.
No ativo circulante são contabilizados os bens e direitos realizáveis no horizonte
de um exercício fiscal (360 dias). No caso de uma empresa com ciclo operacional mai-
or que o exercício padrão (como, por exemplo, um estaleiro), a classificação dos ativos
no circulante pode ser estendida até o prazo desse ciclo.

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No ativo realizável a longo prazo estão localizados os bens e direitos realizáveis


após o encerramento do exercício seguinte.
Como investimentos são classificadas as participações de natureza permanente
em outras empesas e em outros bens não destinados à manutenção da atividade da
empresa (ações, imóveis para aluguel, etc.).
Já no imobilizado são contabilizados os bens permanentes necessários à manu-
tenção das atividades da empresa (edificações, máquinas e equipamentos, etc.).
Em relação ao padrão anterior, destaca-se a criação do subgrupo Intangível, em
que devem ser registrados os ativos não monetários e sem substância física, como
marcas e patentes, franquias, licenças, concessões, pesquisa e desenvolvimento, etc.
Outra alteração relevante é a exclusão do antigo grupo Diferido, em que eram
contabilizados os gastos pré-operacionais. Agora, dependendo do estágio do investi-
mento, gastos com pesquisa e desenvolvimento ou com investimentos em maturação
podem ser contabilizados no Intangível ou diretamente como despesa, na DRE.
Para as contas do imobilizado e do intangível foi introduzida a necessidade do
teste de impairment, em que o valor contábil dos bens é comparado com o valor recu-
perável (líquido de venda ou valor em uso). Caso o valor recuperável seja menor, por
motivo de dano, deterioração ou desvalorização, esse passa a ser o valor do bem no
ativo e a diferença deve ser contabilizada como perda no resultado.

Passivo
Da mesma forma, o passivo foi subdividido em circulante e não circulante, agru-
pados por prazo de exigibilidade.
No passivo circulante estão as dívidas vencíveis no decorrer do exercício se-
guinte (empréstimos de curto prazo, fornecedores, salários a pagar, etc.); já no passivo
não circulante, figuram as obrigações vencíveis após o encerramento do exercício se-
guinte (financiamentos de longo prazo, impostos renegociados, etc.).
Em relação à estrutura anterior, é importante ressaltar a extinção do grupo
resultados de exercícios futuros. Nessa conta eram registrados valores já recebi-
dos, mas de competência de exercícios futuros, já deduzidas de seus custos e des-
pesas. Agora, esses eventos são classificados como receita diferida, dentro do pas-
sivo não circulante.

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Patrimônio líquido
Nesse grupamento também ocorreram mudanças. A conta lucros ou prejuízos
acumulados deixou de existir e foi substituída por prejuízos acumulados, para a qual
não existe mais a possibilidade de compensação. Portanto, quando a empresa obtém
prejuízo no encerramento de determinado exercício, o resultado negativo permanece
evidenciado nos exercícios seguintes. Quando o resultado for positivo e não distribuí-
do, deve ser contabilizado na conta reserva de lucros.
Os critérios para reavaliação também mudaram. Foi criada a rubrica ajuste de
avaliação patrimonial, com o objetivo de registrar as diferenças de ativos e passivos
para mais ou para menos, obtidas pela diferença entre o valor contábil e o valor justo
(valor de transação em condições usuais de mercado). Os valores consignados nessa
rubrica devem ser baseados em laudo técnico, observando-se ainda as vedações le-
gais. Por exemplo, a reavaliação de imóveis está proibida no Brasil. No entanto, no ano
de adoção dos padrões internacionais de contabilidade, foi permitida a reavaliação,
desde que baseada em laudo técnico e constante nas notas explicativas. Títulos dispo-
níveis para venda (que não se destinam à negociação mas podem ser vendidos em
caso de oportunidade negocial) são outro exemplo de possível origem de valores na
rubrica citada.
Observação: no balanço patrimonial existem algumas contas chamadas retifica-
doras que, por estarem vinculadas diretamente a uma conta específica, são contabili-
zadas com valor negativo, reduzindo o saldo da conta retificada. As principais são:
• no ativo circulante: duplicatas descontadas e provisão para devedores du-
vidosos, que diminuem o valor da conta clientes;
• no ativo não circulante: depreciação, amortização e exaustão acumuladas,
que diminuem o valor de contas do imobilizado ou do intangível;
• no patrimônio líquido: capital a realizar e ações em tesouraria, que diminu-
em o valor do capital social.

Demonstração de resultados do exercício (DRE)


A cada exercício social (normalmente um ano), a empresa deve apurar o resul-
tado dos seus negócios. Para saber se obteve lucro ou prejuízo, a contabilidade con-

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fronta as receitas (vendas) com o total dos custos das mercadorias ou serviços vendi-
dos e demais despesas incorridas no período.
Se as receitas forem maiores que os custos e despesas, a empresa teve lucro;
se os custos e despesas forem maiores, teve prejuízo.

A DRE é o relatório que demonstra o resultado final da empresa no exercício,


discriminando todas as contas de receitas, custos e despesas. Trata-se de um relatório
dinâmico (ao contrário do balanço, que apresenta a situação estática de determinada
data), pois retrata os fatos contábeis ocorridos ao longo do exercício social, acumula-
damente.
Antes de passar ao estudo da estrutura e ordem das contas, vamos relembrar o
que são receitas, custos e despesas.
A receita corresponde, em geral, à venda de mercadorias ou à prestação de
serviços. É refletida pelo ingresso de dinheiro no caixa, ou pelo registro de um direito a
receber no futuro, como no caso da conta duplicatas a receber.
Custos e despesas representam todo sacrifício de valor ocorrido durante o exer-
cício com o objetivo de gerar receitas. É refletida no balanço por uma redução dos re-
cursos em caixa (quando houver pagamento à vista) ou pelo aumento de uma dívida,
quando houver registro de um compromisso a ser cumprido no futuro. A despesa pode,
ainda, originar-se de outras reduções de ativo, como é o caso da depreciação por des-
gaste de máquinas, por exemplo.
É importante também diferenciar custos de despesas. Custos são os gastos di-
retamente relacionados à produção do bem comercializado ou do serviço prestado pela

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empresa, como matéria-prima e mão de obra da fábrica. Já as despesas têm caráter


mais geral e são todos os demais gastos não diretamente atribuíveis ao produto o ser-
viço final, como os gastos administrativos ou com vendas.
Como pudemos notar, os recebimentos e gastos podem estar relacionados a re-
ceitas e despesas imediatas ou futuras. É possível, portanto, que surja a seguinte dú-
vida: se efetuarmos uma venda a prazo em dezembro, com o recebimento previsto pa-
ra janeiro, como deve ser a contabilização da receita?
Para esclarecer esse ponto, e antes de passarmos à estrutura e composição
das principais contas da DRE, vale a pena fazermos uma parada e relembrarmos os
conceitos relacionados aos regimes contábeis.

Regime de caixa
Trata-se de uma forma simplificada de contabilidade, adotada basicamente por
entidades públicas, mas passível de ser encontrada na contabilidade de microempre-
sas, por exemplo.
Por esse regime, toda receita é contabilizada no momento em que ocorrer seu
efetivo recebimento, ou seja, quando o dinheiro entrar no caixa; toda despesa é conta-
bilizada no momento do efetivo pagamento, ou seja, quando os recursos forem desem-
bolsados.

Regime de competência
Este é o regime contábil universalmente adotado, previsto nas normas internaci-
onais e exigido pelas normas contábeis e fiscais. No regime de competência, receitas e
despesas são contabilizadas no período em que foram geradas, independentemente da
data de seu recebimento ou pagamento. Assim, a venda efetuada em dezembro será
contabilizada como receita em dezembro, independentemente do recebimento estar
previsto para o próximo exercício. Da mesma forma, compras a prazo devem ser reco-
nhecidas quando efetuadas, e não na data do pagamento.
Assim, o resultado é apurado pela soma das receitas e despesas geradas no
período, mesmo que não tenham sido efetivamente recebidas ou pagas.

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Estrutura e composição da demonstração do resultado do


exercício
De acordo com a nova legislação, a estrutura da DRE é a seguinte:
(+) Receita operacional líquida
(–) Custo dos produtos, das mercadorias ou dos serviços vendidos
(=) Lucro bruto
Despesas com vendas, gerais, administrativas e outras receitas e despe-
(+/–) sas operacionais.
(+/–) Resultado de equivalência patrimonial
(=) Resultado antes das receitas e despesas financeiras
(+/–) Despesas e receitas financeiras
(=) Resultado antes dos tributos sobre o lucro
(–) Tributos sobre o lucro
(=) Resultado líquido das operações continuadas
(+/–) Resultado das operações descontinuadas
(+/–) Tributos sobre resultado das operações descontinuadas
(=) Resultado líquido das operações descontinuadas

Vamos, agora, passar a um breve detalhamento das principais contas da de-


monstração. Antes disso, vale a pena retornar à estrutura da DRE e notar que, assim
como observado no balanço patrimonial, a ordem das contas não é aleatória; obedece
a um critério geral que, neste caso é a relevância operacional, de mais para menos.
Inicia-se, portanto, pela receita operacional líquida.
A receita operacional líquida (ROL) corresponde aos valores que representam
efetiva receita da empresa com sua atividade principal. Composta pela receita operaci-
onal bruta (ROB) deduzida dos impostos incidentes sobre a venda (ICMS, IPI, ISS,
etc.), devoluções e descontos incondicionais. As informações referentes à ROB e res-
pectivas deduções normalmente serão detalhadas nas notas explicativas, quando dis-
poníveis.

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Os custos das mercadorias, serviços ou produtos vendidos, como vimos, são os


gastos diretamente relacionados ao esforço de tornar o produto pronto para ser comer-
cializado, pela fabricação ou revenda, ou de cumprir com o serviço contratado que,
subtraídos da ROL, formam o lucro bruto.
Do lucro bruto são deduzidas ou somadas:
• as despesas gerais, de vendas e administrativas, não alocáveis diretamente
ao processo produtivo, bem como outras receitas e despesas operacionais.
Neste último grupamento encontram-se contabilizadas as receitas e despe-
sas, originadas de ganho ou perda na alienação de ativos, cujo valor deve
ser identificado pelo analista, já que, para fins de análise, interessa a gera-
ção de resultados operacionais. Se não estiver detalhado no próprio norma-
tivo, deve-se valer das notas explicativas ou informações adicionais;
• as receitas ou despesas de equivalência patrimonial, em que são contabili-
zados os resultados obtidos com a participação em coligadas.
Chega-se, assim, ao resultado antes das receitas e despesas financeiras.
Esse resultado é deduzido das (ou somado às) receitas e despesas financeiras,
que incluem remunerações aos capitais de terceiros, como juros pagos ou incorridos,
comissões e tarifas bancárias, correção monetária sobre empréstimos, descontos con-
cedidos, juros de mora pagos, perdas cambiais e, no lado das receitas, a remuneração
por capitais investidos e ganhos cambiais, entre outros.
Temos, então, o resultado antes dos tributos sobre o lucro, que deduzido das
despesas com imposto de renda e contribuição social do exercício, formam, finalmente,
o lucro ou prejuízo líquido do exercício.
Finalmente, como novidade na nova legislação, e nesse caso bastante útil para
o processo de análise, a estrutura de DRE vigente prevê a segregação dos resultados
relacionados a atividades eventualmente descontinuadas (alienadas ou encerradas), a
serem apresentadas apenas nos exercícios em que ocorrerem.

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PREPARANDO A DOCUMENTAÇÃO PARA


ANÁLISE
Objetivos
 Descrever os procedimentos de reestruturação das demonstrações contábeis, para
ajustá-las à metodologia de análise adotada pelo Banco.
 Demonstrar os procedimentos para reclassificações e ajustes contábeis.

Os padrões e critérios contábeis estudados no capítulo anterior são importantes


para uniformizar a forma de apresentação das informações e para permitir a compara-
bilidade entre diferentes empresas e, também, a evolução dos negócios da mesma
empresa em exercícios diferentes.
No entanto, para o processo de análise propriamente dito, é fundamental que os
números apresentados sejam analisados de forma crítica e que sejam feitos alguns
ajustes.

Reestruturação das demonstrações contábeis


As demonstrações contábeis devem ser reestruturadas para efeito da análise,
visando principalmente possibilitar uma visão mais clara da empresa, no que se refere
à administração de seu capital de giro, como será mais bem detalhado em capítulos
posteriores.
De posse do BP e da DRE encaminhados pela empresa, e antes de iniciarmos a
apuração dos índices, devemos adequar tais demonstrações. De acordo com a estrutu-
ra vigente das demonstrações contábeis, as contas do balanço serão reagrupadas em
grandes grupos: circulante (ou seja, que circulam no curto prazo) e não circulantes
(que têm caráter de maior permanência) e patrimônio líquido. Para fins de análise,
subdividimos as contas de ativo e passivo circulante em financeiro e cíclico.

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Assim, para a reclassificação, devemos adotar os procedimentos a seguir:


No ativo circulante financeiro, lançar as contas que representem dinheiro e apli-
cações financeiras, ou outros ativos semelhantes de alta liquidez.
No passivo circulante financeiro, lançar as contas representativas de obrigações
que não façam parte das atividades diárias da empresa e que, normalmente, estejam
sujeitas a juros (empréstimos bancários, duplicatas descontadas, impostos renegocia-
dos, imposto de renda e contribuição social a recolher, etc.). As contas desse grupa-
mento são consideradas dívidas de curto prazo (fontes onerosas de recursos).
No ativo circulante cíclico, lançar as aplicações de recursos em contas que este-
jam relacionadas com a atividade de compra, transformação e venda. Esse grupamen-
to está relacionado com o ciclo operacional da empresa (clientes/duplicatas a receber,
estoques, adiantamento a fornecedores, etc.), que guarda relação com o dia a dia do
funcionamento da empresa.
Manter no passivo circulante cíclico as contas que identifiquem os financiadores
normais da atividade da empresa e que constituem fontes espontâneas de recursos,
normalmente não sujeitas a juros (fornecedores, salários e encargos a pagar, impostos
sobre vendas a recolher, etc.) e que estão ligadas à atividade operacional da empresa.
Sinteticamente:

BALANÇO APRESENTADO
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Passivo Não Circulante
Ativo Não Circulante PATRIMÔNIO LÍQUIDO

BALANÇO REESTRUTURADO
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Financeiro Passivo Circulante Financeiro
Ativo Circulante Cíclico Passivo Circulante Cíclico
Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante
PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Na reestruturação das contas da DRE, procuramos separar os resultados (lucro


ou prejuízo) em diversas fases, visando a observar o critério de ordem das contas do

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DRE, do mais operacional para o menos operacional, de maneira mais estrita e de for-
ma a facilitar o processo de análise.
Na DRE reestruturada, após chegarmos ao lucro operacional bruto, apuramos o re-
sultado operacional em três momentos: antes das despesas e receitas financeiras (lucro
operacional I), antes da equivalência patrimonial (lucro operacional II) e antes do resultado
das despesas e receitas não operacionais (lucro operacional III). Depois deste, da provisão
de IR e da contribuição social, chegamos finalmente ao lucro líquido do exercício.
Este é o momento em que devem ser identificadas a receita bruta, o montante
dos impostos incidentes sobre as vendas, as despesas de deprecia-
ção/amortização/exaustão, as receitas e despesas não operacionais, e outros necessá-
rios à análise, cujos valores não estejam destacados nos demonstrativos, valendo-se o
analista das notas explicativas ou das informações adicionais fornecidas pelo cliente.
Ao registrar os valores da DRE nos aplicativos utilizados pelo Banco para análi-
se, o próprio sistema apura os lucros nas diversas fases anteriormente citadas. Além
disso, os valores são indexados pelo sistema, que, de acordo com opção do analista
no cadastramento, pode ajustar os valores dos exercícios anteriores ao valor atual,
pelos índices de inflação.
Veja como fica uma DRE reestruturada:

DRE após a reestruturação

RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA MAIS IMPOSTOS


(–) abatimentos e devoluções
(–) impostos
(=) RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA
(–) Custo das mercadorias ou produtos vendidos, ou dos serviços prestados
(=) LUCRO BRUTO
(–) Despesas comerciais
(–) Despesas de provisão para devedores duvidosos
(–) Despesas administrativas
(–) Despesas de depreciação/amortização/exaustão
(±) Outras receitas/despesas operacionais

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(±) Ganhos/perdas itens monetários


(=) LUCRO OPERACIONAL I
(+) Receitas financeiras
(–) Despesas financeiras
(–) Juros sobre capital próprio
(±) Resultado da Correção Monetária
(±) Variações monetárias líquidas a longo prazo
(+) Reversão de crédito tributário
(=) LUCRO OPERACIONAL II
(±) Resultado da equivalência patrimonial
(=) LUCRO OPERACIONAL III
(+) Reversão de juros sobre capital próprio
(±) Receitas/despesas não operacionais
(=) LUCRO ANTES DO IR
(–) Provisão para IR/contribuição social
(–) Dividendos e participações
(=) LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO

Reclassificações e ajustes contábeis


Os documentos contábeis, depois de criticados quanto à suficiência e à qualida-
de dos dados, e depois de reestruturados, devem sofrer ajustes e reclassificações, pa-
ra adequação aos padrões internos do Banco e, principalmente, melhorar a qualidade
da informação apresentada para análise.
Assim, após a análise crítica a cada conta, no momento do registro, juntamente
com as reclassificações para grupamentos que melhor representem o valor contabili-
zado, são feitos alguns ajustes que podem implicar contrapartidas para manter o equi-
líbrio entre o ativo e o passivo.
Antes de trabalharmos os ajustes mais comuns, cabe um esclarecimento. Nos
balanços fornecidos para análise, é comum encontrarmos lançados em contas do ativo
alguns valores considerados não realizáveis, ou de realização duvidosa. Para evitar
distorção na análise, esses valores devem ser excluídos.

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Sabemos que a cada exclusão do ativo deve corresponder igual procedimento


no passivo. Os valores excluídos do ativo são deduzidos do patrimônio líquido. Atual-
mente, na metodologia vigente, existe a possibilidade de registro de valores em uma
conta retificadora no PL, chamada “deduções do ativo”. Como é retificadora, aparece
no balanço com o sinal trocado. Com esse procedimento, restabelecemos o equilíbrio
entre ativo e passivo, e deixamos declarados no balanço os valores que foram objeto
de ajuste.
É importante destacar que os ajustes não são todos obrigatórios. Em alguns ca-
sos, o analista pode entender que o ajuste não seja necessário ou que existam razões
claras para não fazê-lo e, então, optar por manter os dados como apresentados. Como
se pode notar, esse é um dos momentos em que o analista utiliza seu discernimento,
experiência e bom senso para tomar decisões relativas à crítica e classificação das
informações recebidas.
Como regra geral, os ajustem a seguir aplicam-se a todas as empresas, mas
são essenciais nas empresas de menor porte, em que os demonstrativos não costu-
mam apresentar o mesmo grau de abertura de informações e de confiabilidade verifi-
cado, por exemplo, em balanços auditados de grandes empresas de capital aberto.
De qualquer forma, feita essa ressalva, é importante que conheçamos uais são
os principais procedimentos de ajuste e quais os parâmetros gerais adotados para que
se identifique essa necessidade.

Nas contas do ativo


Caixa e aplicações financeiras: verificar sua compatibilidade com o total do
ativo e com o nível de faturamento da empresa e os prazos praticados. Em geral, saldo
superior a 2% do ativo ou a dois dias de faturamento pode significar valores indevidos
contabilizados em caixa. Neste caso, buscar informações adicionais ou solicitar escla-
recimentos do contador ou do empresário. Nos seguintes casos, desde que o valor seja
relevante, recomenda-se adotar o seguinte procedimento:
• cheques pré-datados – correspondem a vendas a prazo. Retirar da conta
caixa e transferir para a conta clientes.
• vales de funcionários – constituem outros valores a receber. Retirar da con-
ta caixa e transferir para outros valores circulantes;

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• retiradas de recursos pelos sócios – correspondem a saques efetuados. Ex-


cluir da conta caixa em contrapartida de deduções do ativo;
• despesas não contabilizadas – são geralmente valores retirados do caixa
para pagamento de despesas no ato da ocorrência. Providências: 1) excluir
da conta caixa; 2) acrescentar a despesa na DRE reduzindo o lucro do
exercício. Outra opção seria simplesmente excluir o valor da conta caixa em
contrapartida de deduções do ativo.
Importante reforçar que o analista deve observar se a conta caixa não inclui as
aplicações financeiras, às vezes apresentadas em conjunto como disponibilidades. De-
ve também ter em mente que a política de caixa da empresa pode variar. Existem em-
presas que optam por manter um valor alto em caixa e em depósitos bancários ou,
principalmente, em aplicações financeiras, para aproveitar oportunidades de aquisição
de matéria-prima à vista, ou para pagar títulos à vista com desconto, ou mesmo como
forma de se prevenir de uma eventual restrição de crédito bancário, que esteja de al-
guma maneira temendo ou antecipando.
É importante também, no que se refere às aplicações financeiras, verificar se não
há parcela bloqueada, vinculada, por exemplo, como garantia de operação de crédito de
longo prazo. Nesse caso, devemos transferir o valor para o ativo não circulante.
Clientes ou duplicatas a receber: comparar o saldo com a política de vendas
da empresa. Saldos elevados ou crescentes podem representar créditos de difícil rece-
bimento. Por outro lado, ausência de saldo pode indicar a adoção de regime de caixa
(contabilização só no recebimento). Nestes casos, verificar as informações adicionais
prestadas pela empresa, no que se refere a prazos praticados e valores vencidos. Du-
plicatas vencidas há mais de 180 dias, por exemplo, devem ser excluídas da conta cli-
entes, em contrapartida com deduções do ativo.
Considere que o crescimento da conta clientes pode ter sido decorrente de polí-
tica agressiva de vendas, o que, se bem conduzida, poderá até, sob algumas condi-
ções, significar medida administrativa correta. Por outro lado, pode constituir fator ne-
gativo, caso as condições oferecidas sejam desfavoráveis para a empresa – como
vendas abaixo do preço de custo, dilação de prazos sem a contrapartida de fornecedo-
res e sem disponibilidade de capital de giro, por exemplo. Embora, neste caso, não
caiba qualquer ajuste contábil, tal informação deve ser ponderada no momento da aná-

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lise, já que causa impacto nos indicadores de giro, como poderemos ver nos capítulos
seguintes.
Duplicatas descontadas: trata-se de títulos de vendas a prazo cujos valores fo-
ram adiantados para a empresa. Refere-se a uma modalidade de empréstimos bancá-
rios e aparece no ativo como conta retificadora. Transferir para o passivo circulante
financeiro porque, na verdade, o desconto de duplicatas é um empréstimo para capital
de giro. Esse procedimento possibilita análise mais adequada das fontes de recursos
que a empresa tem utilizado.
Provisão para devedores duvidosos: representa a estimativa de créditos ven-
cíveis no exercício seguinte que não serão recebidos. A provisão deve incluir toda a
estimativa de perdas da empresa. Deve figurar no balanço como retificadora da conta
clientes. Quando inexistente ou apresentar valor aparentemente subestimado, fazer as
correções de acordo com informações sobre inadimplência (utilizar, por exemplo, os
índices de liquidez da carteira de cobrança). Em todo caso, quando não houver infor-
mação, considerar o mínimo de 3% do saldo total de clientes. Lançar o valor apurado –
ou a diferença – na conta provisões para devedores duvidosos, em contrapartida de
deduções do ativo.
Atentar, porém, para o fato de que, muitas vezes, o valor da conta clientes pode
ter sido apresentado já líquido das provisões e, nesse caso, as informações detalhadas
podem constar das notas explicativas, quando houver.
Estoques: verificar a compatibilidade dos valores classificados nessa conta,
considerando o volume de negócios da empresa, política de estoques, mercado em
que atua, concorrência, sazonalidade, etc. Quando elevado em relação ao ativo e às
vendas, pode indicar mercadorias e produtos vendidos e não baixados, ou a existência
de estoques invendáveis ou, pior, preparação para pedido de concordata (nessa ocasi-
ão, a empresa costuma fazer um volume de compras atípico). Quando for possível apu-
rar a existência de estoques invendáveis, excluir do ativo o valor correspondente, em
contrapartida da conta deduções do ativo.
Débitos de diretores, cotistas e solidários: aparecem no ativo circulante e
podem constituir retiradas feitas pelos sócios, não contabilizadas como despesa. Ex-
cluir do ativo em contrapartida da conta deduções do ativo, quando não houver pers-

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pectiva de recebimento. Quando se tratar de empréstimos a diretores cotistas e solidá-


rios, transferir o valor para o ativo não circulante.
Empréstimos a interligadas: quando aparecerem no ativo circulante, mover
para o não circulante. Esses valores até podem retornar à empresa no curto prazo; no
entanto, como os devedores exercem influência relevante sobre a credora, normalmen-
te não têm data certa para serem liquidados.
Vale notar que, se a interligada figurar como cliente normal da empresa analisa-
da, não se incluem neste item os débitos por fornecimento de mercadorias ou serviços
(atividade normal da empresa).
Se for possível apurar que os recursos repassados pela interligada tenham sido
obtidos no mercado financeiro, vale investigar o motivo pelo qual a empresa recebedo-
ra não os buscou diretamente nos bancos.
Depósitos judiciais: referem-se a valores depositados em juízo enquanto a
empresa discute uma dívida fiscal, trabalhista ou outra. Se não houver valor corres-
pondente aprovisionado no passivo, excluir o valor, em contrapartida da conta dedu-
ções do ativo, haja vista seu retorno duvidoso.
Outros valores a receber: quando contiver valor expressivo (superior a dois por
cento do ativo), pedir composição discriminada. Nessa rubrica é comum constarem
valores referentes a empréstimos a sócios ou diretores, depósitos judiciais, dívidas
incobráveis e despesas pagas antecipadamente (aluguéis, seguros), entre outros. O
tratamento a ser dado irá variar de acordo com o detalhamento apurado.
Imobilizado: analisar a evolução do saldo das contas do ativo permanente nos
três últimos exercícios. Caso constatada expressiva elevação, verificar se houve efeti-
va compra de máquinas, equipamentos ou imóveis, ou, caso negativo, se houve reava-
liação do ativo (não mais autorizada e possível apenas no primeiro ano da implantação
da nova legislação).
Atentar, ainda, para a existência de bens obsoletos que ainda constem na contabi-
lidade da empresa, mas que não possuam valor de venda ou condições de utilização. Se
constatada superavaliação ou existência de bens obsoletos ainda contabilizados, excluir
tais valores do ativo em contrapartida de deduções do ativo. Da mesma forma deve-se agir
no caso de reavaliação efetuada de forma divergente do permitido pela legislação.

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Nas contas do passivo


Empréstimos e financiamentos: comparar as dívidas constantes dos demonstra-
tivos contábeis com os saldos obtidos em consultas aos sistemas do Banco e do Bacen
(SCR), na mesma data-base. Caso sejam inferiores, verificar as informações prestadas
pelo contador e apurar a quais operações se referem, efetuando os ajustes cabíveis:
• operações de leasing financeiro – compõem o saldo informado pelo Banco
Central. Atentar para o fato de que, de acordo com a nova lei, as operações
devem ser classificadas de acordo com sua essência e, portanto, as operações
de leasing com característica de financiamento devem ser contabilizadas como
tal. Caso não estejam, o analista deve proceder ao acerto, com registro dos va-
lores no imobilizado, no ativo, e em financiamentos, no passivo.
• operações de vendor – quando os fornecedores da empresa financiam seus
clientes por meio de operações de vendor, esses valores são computados no
Bacen como dívida da empresa para com instituições financeiras. Neste caso,
devemos apenas verificar se o valor está contemplado na conta fornecedores
e, caso não esteja, incluí-lo em contrapartida de estoques. Tal valor não deve
ser incluído como dívida bancária.
• desconto de duplicatas – muitas vezes, a conta clientes registra o valor líqui-
do (já deduzidas as duplicatas descontadas). O certo, porém, é que essa conta
represente o total dos valores a receber de clientes, e que o valor das duplica-
tas descontadas apareça como conta redutora. Se for este o caso, lançar o va-
lor no passivo circulante financeiro, em contrapartida da conta clientes. Pode
acontecer, contudo, que o saldo da conta clientes esteja correto e que a em-
presa simplesmente não tenha reconhecido a dívida. Neste caso, incluir o valor
no passivo circulante financeiro, na conta duplicatas descontadas, em contra-
partida com deduções do ativo.
• empréstimos – empréstimos para capital de giro, sem vinculação específica.
Caso os valores contabilizados sejam inferiores aos apurados na pesquisa ao
SCR, incluir ou acrescentar a diferença aos empréstimos contabilizados, com
contrapartida com deduções do ativo.

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• ajustes de prazos – outra informação relevante para a análise diz respeito ao


cronograma de vencimento das obrigações. Caso a empresa tenha contabili-
zado valores vencíveis no curto prazo como vencíveis no longo prazo, ou vice-
versa, devemos proceder ao ajuste, reduzindo e aumentando as respectivas
contas de empréstimos e financiamentos no passivo circulante financeiro e no
passivo não circulante.
Fornecedores: comparar o saldo da conta com a política de compras a prazo da
empresa. Na hipótese de saldos expressivos, ou de elevação significativa, em valores in-
compatíveis com as receitas brutas, pedir esclarecimentos sobre os motivos e avaliar re-
flexos. Pode ser decorrente de atrasos nos pagamentos aos fornecedores (conjugar esta
informação com a existência de títulos protestados). Nesse caso, reclassificar os saldos
inadimplidos para o passivo circulante financeiro.
Tributos e contribuições sociais: como regra geral, quando o saldo for superior a
20% do faturamento mensal, pode estar ocorrendo atraso no pagamento, ou parcelamento
da dívida. Saldo de encargos sociais e trabalhistas (exceto salários) superiores a 40% do
valor da folha de pagamento pode significar contribuições em atraso ou parceladas, o que
deve ser investigado. Confirmando-se que há atraso, tais valores devem ser reclassifica-
dos para o passivo circulante financeiro ou para o ativo não circulante, conforme o caso.
Quando houver valores informados como refinanciados pelo REFIS ou outros programas
similares, devemos consultar aplicativo próprio, mediante autorização assinada pelo clien-
te, para verificar se os prazos acordados estão sendo cumpridos, dado que algumas em-
presas têm perdido o benefício por descumprimento do acordo.
Empréstimos de diretores ou interligadas: quando aparecerem no passivo não
circulante, redirecionar para o passivo circulante financeiro. É preferível assumir que tais
valores podem ser exigidos a qualquer momento e, portanto, devemos contar com essa
possibilidade na análise.
Outros valores a pagar: quando superiores a dois por cento do ativo, devem ter
sua composição discriminada, pois podem englobar dívidas da empresa com sócios, ban-
cos, etc. Os ajustes irão variar de acordo com o caso.

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Nas contas do patrimônio líquido


Caso haja divergência relevante entre o valor apurado no resultado e a variação no
PL, é importante compreender a origem da variação, de preferência por meio da demons-
tração das mutações do patrimônio líquido – DMPL ou, quando não disponível, em escla-
recimentos prestados pelo contador. A variação pode ser totalmente regular e justificada,
como um aporte de capital por parte dos sócios, ou um débito em ajustes de avaliação
patrimonial, referente, por exemplo, à avaliação de um ativo de investimento pelo critério
de valor justo. Por outro lado, pode conter valores indevidos, como capital ainda não inte-
gralizado ou adiantamentos para aumento de capital. Em caso de dúvida, deduzir o valor e
ajustar em contrapartida de contas do ativo ou, ainda, lançando a diferença como dívidas
com terceiros.

Nas contas do DRE


Como já comentado, nos balanços apresentados na forma atual, de acordo com a
nova legislação, a conta receitas/despesas não operacionais deixa de existir e eventuais
despesas ou receitas não operacionais (venda de um imobilizado, por exemplo) estarão
contabilizadas em outras receitas/despesas operacionais.
Nesse caso, cabe ao analista identificá-las por meio da abertura da conta outras
receitas/despesas operacionais, a ser consultada nas notas explicativas ou solicitada ao
contador, com o objetivo de apartar eventuais receitas e/ou despesas não operacionais do
resultado estritamente operacional, para fins da análise.
Adicionalmente, da mesma forma que já efetuada para as contas do balanço, de-
vemos proceder à crítica dos valores apresentados durante o registro da DRE. Assim, va-
riações bruscas e não justificadas nas contas de receita, custo de mercadorias vendidas e
despesas em geral, bem como em receitas e despesas financeiras devem ser objeto de
apuração, com consulta à empresa ou ao contador, quando a informação não constar de
notas explicativas ou das informações adicionais enviadas.

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Conclusão
Essas são as principais reclassificações e ajustes normalmente efetuados, bem
como as principais contas que devem ter seus valores criticados pelo analista. Note que,
em muitos casos, a necessidade dos ajustes decorre de inconsistências ou erros concei-
tuais na elaboração do balanço, problema que tende a ser mais comum em empresas de
menor porte, que não publiquem ou passem pelo processo de auditoria externa de seus
demonstrativos. Caso haja indicações para muitos ajustes, inclusive, as peças contábeis
poderão ser desconsideradas para efeito de análise, por não servirem de fato como ins-
trumento para avaliar a situação econômico-financeira da empresa.
Importante lembrar que, conforme comentamos, durante o processo será necessá-
rio que tomemos decisões sobre a classificação das contas ou ajustes a serem efetuados.
Como regra geral, quando permanecer dúvida sobre a classificação de valores (como, por
exemplo, se um empréstimo é de curto ou longo prazo, ou se receitas são operacionais ou
não), devemos adotar a postura mais conservadora (ou seja, classificar o empréstimo para
o curto prazo e considerar as receitas como não operacionais).
Concluídas as observações sobre reclassificações e ajustes, observe, nos quadros
a seguir, exemplo de composição do balanço antes e depois da reestruturação, das re-
classificações e dos ajustes realizados. Para ficar mais fácil o entendimento, destacamos
as contas reclassificadas com os números correspondentes.

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BALANÇO APRESENTADO (PRÉ-AJUSTES)


Circulante Circulante
Caixa/Bancos/Aplicações Empréstimos/Financiamentos
Clientes Fornecedores
(-) Duplicatas Descontadas (1) Salários
(-) Provisões para Dev. Duvidosos (2) Encargos Sociais e Tributos
Estoques Adiantamento de Clientes
Empréstimos a Interligadas (3) Provisão para IR e Contrib. Social
Despesas Antecipadas Dividendos a Pagar
Não Circulante Outras Obrigações a Pagar
Realizável em Longo Prazo Não Circulante
Outros Valores a Receber Empréstimos/Financiamentos LP
Depósitos Judiciais (4) Outros (ex: impostos refinanciados) (5)
Investimentos
Participações societárias PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Imobilizado Capital
Bens imóveis de uso Reservas
Intangível Prejuízos Acumulados
Marcas e patentes Ajustes de Avaliação Patrimonial

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BALANÇO RECLASSIFICADO/AJUSTADO
ATIVO PASSIVO
Circulante Financeiro Circulante Financeiro
Caixa/Bancos/Aplicações Duplicatas Descontadas (1)
Circulante Cíclico Empréstimos/Financiamentos
Clientes (-Prov. Dev. Duvidosos) (2) Empréstimos Diretores/Coligadas
Estoques Provisão para IR e Contrib. Social
Adiantamento a Fornecedores Dividendos a Pagar
Despesas Antecipadas Outros Passivos não Operacionais (5)
Não Circulante Circulante Cíclico
Realizável em Longo Prazo Fornecedores
Clientes Tributos a pagar
Transações entre ligadas (3) Salários a pagar
Investimentos Adiantamento de clientes
Participações societárias Outros valores circulantes
Imobilizado Não circulante
Bens imóveis de uso Empréstimos/Financiamentos LP
Intangível Outros (ex.: impostos refinanciados) (5)
Marcas e patentes PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital Social
Reserva de Lucros
Prejuízos Acumulados
Ajuste de Avaliação Patrimonial
(-) Deduções do Ativo (4)

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EXERCÍCIOS
1. Correlacione as colunas:
1. Bens. ( ) Imóveis.
2. Direitos. ( ) Fornecedores.
3. Obrigações. ( ) Clientes.
( ) Empréstimos bancários.
( ) Caixa
( ) Provisão para IR e contribuição social.
( ) Estoques.
( ) Veículos.
( ) Adiantamento de clientes.

A sequência obtida foi:


a) 1 2 2 2 2 2 1 1 3
b) 2 2 2 3 1 3 2 2 3
c) 1 3 2 3 1 3 1 1 3
d) 2 3 2 3 1 3 2 2 3
e) 1 3 2 3 2 3 1 2 3

2. Relacione os elementos da primeira coluna com a segunda:


A. Ativo. ( ) Bens + direitos – obrigações.
B. Passivo exigível. ( ) Relatório estático.
C. Patrimônio líquido. ( ) Bens + direitos.
D. Balanço patrimonial. ( ) Relatório dinâmico.
E. DRE. ( ) Obrigações junto a terceiros.
( ) Capital próprio.
A sequência obtida foi:
a) C D A E B C
b) E C D A B C
c) C D B E E A

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d) C E A D B C
e) D E C C A B

3) Assinale a alternativa que relaciona corretamente as colunas abaixo:


(A) Aplicação. ( ) Investimento em coligadas.
(O) Origem. ( ) Fornecedores.
( ) Provisão 13º salário.
( ) Despesas antecipadas.
( ) Títulos e valores mobiliários.
( ) ICMS a pagar.
( ) Provisão IR e contribuição social.
A sequência obtida foi:
a) O O O A A O A
b) O O A A A O A
c) A O A A O O A
d) A O O O A O O
e) A O O A A O O

4. Assinale a alternativa correta.


a) Fornecedores, salários a pagar e clientes fazem parte do grupo passivo
circulante.
b) Estoques, despesas antecipadas e duplicatas descontadas são contas do
ativo circulante.
c) Reservas de capital, empréstimos bancários, capital a integralizar e pre-
juízos acumulados fazem parte do grupo patrimônio líquido.
d) o ativo é composto dos grupos ativo circulante e ativo não circulante.
e) os subgrupos investimentos, permanente e diferido compõem o grupo
ativo não circulante.

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5. Assinale a alternativa que reflita a correta ordenação dos subgrupos abaixo,


da esquerda para a direita.
I. Ativo circulante.
II. Patrimônio líquido.
III. Ativo não circulante – intangível.
IV. Ativo não circulante – realizável em longo prazo.
V. Passivo circulante.
VI. Passivo não circulante.

a) I, IV, III, II, III, IV.


b) V, I, IV, II, III, VI.
c) I, VI, IV, III, V, II.
d) I, VI, IV, III, II, V.
e) I, IV, III, V, VI, II

6. Marque “V” (verdadeiro) ou “F” (falso).


( ) Reserva de lucros e prejuízos acumulados são contas pertencentes ao
grupo patrimônio líquido.
( ) As contas do ativo são dispostas em ordem decrescente de liquidez.
( ) As contas do passivo são apresentadas em ordem crescente de exigibili-
dade.
( ) Provisão para devedores duvidosos, Depreciação acumulada e capital a in-
tegralizar são contas retificadoras do balanço.
( ) Depreciação, amortização e capital a realizar são contas do ativo não cir-
culante.
A sequência obtida foi:
a) V F F V F
b) V V F V F
c) V V V V F
d) F V F V F
e) V F V F V

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7. Assinale a afirmativa INCORRETA.


a) A receita operacional bruta representa o total das vendas da empresa em
determinado período.
b) A conta duplicatas descontadas, sob a ótica do Banco, deve ser classifi-
cada no Passivo circulante financeiro.
c) Para o Banco, a conta empréstimos de interligadas deve aparecer no
passivo circulante cíclico.
d) A empresa deve apurar o resultado de seus negócios a cada exercício
social, no mínimo, que normalmente corresponde a períodos de doze
meses.
e) O valor lançado pelo analista do Banco na conta provisão para devedores
duvidosos é registrado, em contrapartida, como dedução do patrimônio
líquido.

8. À prática de contabilizar as receitas no momento de seu efetivo recebimento


e as despesas no momento de seu efetivo pagamento denominamos regime:
a) contábil.
b) de competência.
c) de receitas e despesas.
d) de caixa.
e) misto.

9. O ativo circulante cíclico deve comportar as contas que representam:


a) estoques, clientes, adiantamentos.
b) dinheiro, aplicações financeiras em títulos e em ouro.
c) caixa, bancos e estoques.
d) dinheiro, adiantamentos e aplicações financeiras.
e) aplicações financeiras, clientes e dinheiro.

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10. Dos ajustes abaixo, indique o que NÃO É NECESSÁRIO se fazer no balanço
patrimonial para a análise econômica e financeira.
a) A conta títulos descontados deve ser classificada como pertencente ao
ativo circulante financeiro.
b) A conta empréstimos a interligadas deve ser classificada como perten-
cente ao ativo não circulante.
c) O valor dos bens obsoletos constante da conta Imobilizado deve ser de-
duzido do ativo, bem como do patrimônio líquido.
d) A conta empréstimos de interligadas deve ser classificada como perten-
cente ao passivo circulante financeiro.
e) A conta empréstimos a diretores deve ser classificada como ativo reali-
zável a longo prazo.

Com base nos dados abaixo e após ajustá-los aos padrões do Banco, escolha
as alternativas corretas para as questões 11 e 12.

A Cia Industrial Brasilac apresentou os seguintes dados em 31.12.X0:


Caixa 1.100 Clientes 20.000
Fornecedores 1.750 Salários a pagar 850
Estoques 1.050 Máquinas 3.800
Empréstimos bancários curto prazo 1.400 Duplicatas descontadas 850
ICMS a pagar 300 Despesas antecipadas 200

11. Qual o valor do passivo circulante financeiro?


a) 3.250
b) 2.250
c) 1.400
d) 1.700
e) 1.950

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12.) Qual o valor do ativo circulante cíclico?


a) 21.250
b) 21.050
c) 22.150
d) 22.350
e) 21.850

Gabarito
1C 2A 3E 4D 5D 6B 7C 8D 9A 10A 11B 12A

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GRUPO EMPRESARIAL
Grupo de relacionamento
No Banco do Brasil, grupo de relacionamento é o conjunto de empresas subme-
tidas a controle único ou com interdependência econômica, financeira ou administrati-
va, sendo que a existência de relacionamento empresarial caracteriza-se pela ocorrên-
cia de uma ou mais das seguintes situações:
• controle pelo capital - em que a maior parte do capital de uma empresa per-
tence:
o a uma pessoa física ou grupo delas, detentora da maioria absoluta do
capital de outra empresa;
o a uma pessoa jurídica, isoladamente ou em conjunto com outras pessoas;
• participação relevante no capital – em que uma empresa detém participação
superior a 10% do capital da outra;
• controle pela administração – em que um ou mais dos dirigentes ou princi-
pais componentes de uma empresa exerce funções de ingerência em outra,
com qualquer participação no capital;
• existência de interesses comuns por parentesco, ou outros vínculos, entre
os dirigentes ou principais componentes de uma e outras empresas, ainda
que em caráter informal;
• constituição formal como grupo;
• existência de uma sociedade dominante (líder, holding ou controladora).

Grupo econômico
No BB, constitui grupo econômico o conjunto de empresas consolidadas para
fins de análise, sendo o limite de crédito estabelecido mediante análise conjunta das
empresas.

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É possível a participação de uma empresa em mais de um grupo de relaciona-


mento, sendo vedada, entretanto, a consolidação em mais de um grupo econômico.
A consolidação é obrigatória para as empresas que mantenham relacionamento
empresarial, podendo ser dispensada nos seguintes casos:
• empresa cujo faturamento seja inferior a 5% do faturamento total do grupo
de relacionamento, desde que opere com base em limite estabelecido pelo
ANC-Microempresa ou não detenha endividamento com o Banco;
• empresa cujo relacionamento com o grupo se caracterize exclusivamente por:
o controle pela administração - em que um ou mais dos dirigentes ou
principais componentes de uma empresa exerça funções de ingerência
em outra, com qualquer participação no capital;
o existência de interesses comuns por parentesco, ou outros vínculos, en-
tre os dirigentes ou principais componentes de uma e outras empresas,
ainda que em caráter informal.
A instância responsável pela análise na Dicre pode dispensar da consolidação
outras situações não descritas, desde que seja possível formar convicção sobre a situ-
ação econômico-financeira do grupo ou das empresas analisadas.

Consolidação das demonstrações contábeis


A consolidação das demonstrações contábeis, também conhecida como conso-
lidação de balanços, tem o objetivo apresentar ao público interessado, principalmente
acionistas e credores, os resultados das operações e a posição econômico-financeira
da controladora e de suas controladas, como se o grupo empresarial fosse uma única
empresa que tivesse várias filiais.
A consolidação de balanço é, portanto, uma técnica que consiste em agrupar as
contas dos demonstrativos contábeis das diferentes empresas do grupo, efetuando-se
a eliminação das transações realizadas entre si.
Quando o grupo empresarial não apresentar os demonstrativos consolidados,
cabe ao Banco proceder a análise dos demonstrativos de cada uma das empresas e
efetuar a consolidação para apurar a situação econômico-financeira do grupo.
Vejamos um exemplo de consolidação do patrimônio líquido de um grupo eco-
nômico composto de três empresas que apresentam isoladamente os PL abaixo.

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EMPRESA A EMPRESA B EMPRESA C


PL $ 480,00 350,00 700,00

É sabido que:
• a empresa A participa da empresa B com $ 100.000;
• a empresa B participa da empresa C com $ 200.000 e da A com $ 130.000;
• a empresa C participa da empresa A com $ 300.000.

Para consolidarmos o PL do grupo, devemos:


• apurar os PL das três empresas: 480.000 + 350.000 + 700.000 = 1.530.000
• somar os valores das participações entre si: 100.000 + 200.000 + 130.000 +
300.000 = 730.000
• do total dos PL, subtrair o total das participações entre elas: 1.530.000 -
730.000 = 800.000.

Como pode ser observado, o verdadeiro PL do grupo é $ 800.000, e não $


1.530.000, como se faz crer quando consideradas individualmente cada uma das três
empresas.
Na DRE, devemos ter atenção na consolidação para que sejam deduzidas as
vendas efetuadas entre as integrantes do grupo e para que o valor da rubrica “resulta-
do de equivalência patrimonial” não distorça o resultado do grupo.
A questão da equivalência patrimonial vale um exemplo.
Supondo que a empresa “A” detenha 80% do capital da empresa “B”, e esta
apure lucro no exercício de $ 200.000. A empresa “A”, na condição de controladora,
registrará em sua DRE $ 160.000 ($ 200.000 x 80%) na rubrica “resultado de equiva-
lência patrimonial”, decorrente da participação na empresa “B”. Caso a DRE da em-
presa “A” não contemple outros valores, então teríamos:
• lucro da empresa “A”: $ 160.000 (exclusivamente decorrente da participação
na empresa “B”);
• lucro da empresa “B”: $ 200.000.

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Nota-se que, se não descontarmos os valores relativos ao resultado da partici-


pação da empresa “A” na “B”, o lucro do grupo seria de $ 360.000, o que estaria incor-
reto, pois as atividades efetivas do grupo geraram $ 200.000 de lucratividade, sendo o
valor contabilizado pela empresa “A” como “resultado de equivalência patrimonial” de-
corrente somente do reconhecimento da parte que lhe cabe no lucro apurado pela em-
presa “B”.
É importante, também, que identifiquemos os débitos e créditos que porventura
existam entre as empresas, fazendo a anulação desses valores entre si no balanço
consolidado, de forma a evidenciar com mais exatidão as importâncias a receber e o
endividamento do grupo.
As principais transações que podem gerar débitos e créditos entre as empresas são:
• contas que registram o relacionamento comercial:
o clientes – grupo empresarial;
o fornecedores – grupo empresarial;
• contas que registram o relacionamento financeiro:
• empréstimos – grupo empresarial ou ligadas;
• créditos diversos – grupo empresarial.
Quaisquer dessas transações, se não estiverem discriminadas nas demonstra-
ções contábeis, devem ser informadas separadamente (relatório informações adicio-
nais ou outra fonte possível), sob pena de distorção na análise consolidada.

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ANÁLISE ECONÔMICA
Objetivos
 Aplicar fórmulas para apuração dos índices e indicadores econômicos.
 Descrever o significado dos índices e indicadores econômicos.
 Listar procedimentos de análise econômica.

Vimos, na apresentação deste curso, que a análise econômica cuida da solidez


da empresa. Preocupa-se com seu patrimônio líquido, com a relação existente entre as
fontes de recursos que financiam a atividade, o nível e o perfil de endividamento e com
os investimentos realizados. Cuida, assim, da estrutura patrimonial da empresa e, tam-
bém, de sua rentabilidade.
Devemos ter presente que, ao analisarmos uma empresa, é nossa função ob-
servar vários aspectos ligados aos Cs do crédito, que se inter-relacionam num proces-
so circular de causa e efeito. Entretanto, por questões didáticas, vamos isolar os as-
pectos ligados ao C Capital, focando nosso estudo, neste momento, na análise da situ-
ação econômica das empresas.
Na análise econômica e financeira, como veremos, utilizamos índices e indica-
dores extraídos de dados dos demonstrativos contábeis, preferentemente, de três
exercícios sucessivos, pelo menos.

Índices e indicadores econômicos


Por serem o resultado da comparação entre grandezas, os índices estabelecem
a relação entre contas ou grupo de contas dos demonstrativos contábeis, visando evi-
denciar um aspecto em particular. Servem, portanto, como termômetro na avaliação da
saúde da empresa.
O índice, porém, não deve ser considerado isoladamente, mas dentro de contex-
to amplo, no qual outros indicadores e variáveis são ponderados de forma conjugada.
Elevado grau de endividamento, por exemplo, não significa necessariamente que a

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empresa esteja à beira da insolvência. Há aquelas que convivem com níveis altos de
endividamento sem comprometer sua solvência, já que há outros fatores que podem
atenuar essa condição.
Trataremos dos índices-padrão mais a diante no nosso curso. Por enquanto,
saiba que são valores obtidos a partir da análise de um universo de empresas do
mesmo ramo, tamanho e região, e que são utilizados como referência para compara-
ção com casos particulares.
Vale ressaltar que os índices consideram apenas os dados quantitativos, sendo
necessário, ao fazermos a análise, buscar entender o que está por trás dos números
para não incorrermos em análises inconsistentes.
Vejamos quais índices se prestam à análise econômica, como obtê-los e o que
significam. Vimos que eles podem ser reunidos em dois grandes grupos: os que se
referem à estrutura patrimonial e os que estão ligados à rentabilidade da empresa.

Índices de estrutura patrimonial


Os índices de estrutura patrimonial avaliam a segurança que a empresa oferece
aos capitais alheios e revelam sua política de obtenção e alocação de recursos nos
diversos itens do ativo.
O ativo de uma empresa é financiado pelos capitais próprios (patrimônio líquido)
e por capitais de terceiros (dívidas). Quanto maior for a participação de capitais de ter-
ceiros nos negócios de uma empresa, maior será o risco a que eles (terceiros) estarão
expostos. A seguir são listados os índices de estrutura utilizados pelo Banco para aná-
lise de seus clientes:
RFR Relação entre as Fontes de Recursos (ou PCT – Participação de
Capitais de Terceiros)
EG Endividamento Geral
CE Composição das Exigibilidades
IPL Imobilização do Patrimônio Líquido
POSA Passivo Oneroso Sobre Ativo total
Todos os índices acima são interpretados como: QUANTO MENOR, MELHOR.
Vejamos a seguir cada um deles.

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Relação entre as Fontes de Recursos

PC+PNC
RFR = x 100
PL

Também tratado como Participação de Capitais de Terceiros (PCT), esse índice


estabelece a relação percentual entre os recursos de terceiros (PC + PNC) e os recur-
sos próprios (PL) aplicados na empresa.
Percentual de 100% indica que os capitais de terceiros estão em igual volume
aos capitais próprios. Se superior, indica predominância de capitais de terceiros. Se
inferior, indica, pelo contrário, que os capitais próprios superam as obrigações com
terceiros. Assim, podemos concluir que, quanto menor for a RFR (ou PCT), mais capi-
talizada será a empresa.
Admita, por exemplo, que uma empresa apresentou RFR de 150%. Isso significa
que a proporção de capitais de terceiros investidos na empresa corresponde a uma vez
e meia o montante dos capitais próprios. Em outras palavras, para cada $ 100 de capi-
tal próprio nas aplicações totais de recursos pela empresa, haveria $ 150 de capitais
de terceiros. Essa situação não é necessariamente ruim, mas indica que devemos bus-
car saber um pouco mais sobre a natureza dos recursos de terceiros, em termos de
origem, prazos e condições pactuadas.
A análise desse indicador por diversos exercícios mostra a política de obtenção
de recursos da empresa: se está utilizando predominantemente capitais próprios, ou se
está mantendo maior dependência de capitais de terceiros.

Endividamento Geral

PC+PNC
EG = x 100
ATIVO

Esse índice revela o grau de endividamento total da empresa. Expressa a pro-


porção de recursos de terceiros financiando o ativo e, complementarmente, a fração do
ativo que está sendo financiada pelos recursos próprios.

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A análise desse indicador por diversos exercícios também mostra a política de


obtenção de recursos da empresa: se vem financiando o seu ativo predominantemente
com recursos próprios ou de terceiros, e em que proporção.
Quanto menor for o endividamento, menor será o risco que a empresa estará
oferecendo aos capitais de terceiros.
Esse índice pode revelar as seguintes situações:
EG < 50% → o endividamento é menor que o PL. Há predominância de capi-
tais próprios investidos na empresa;
EG = 50% → o ativo é financiado em igual proporção por recursos de tercei-
ros e próprios. O PL é igual às exigibilidades;
EG > 50% → há predominância de capitais de terceiros investidos na empresa;
EG = 100% → a empresa não tem PL. Todo o ativo é financiado por recursos
de terceiros;
EG > 100% → passivo a descoberto. Insolvente. As obrigações superam o to-
tal do ativo.
Se, por exemplo, apurarmos percentual de 57%, podemos concluir que, dos re-
cursos investidos no ativo, 57% provêm de terceiros (fornecedores, bancos etc.) e o
restante (43%) são recursos próprios.
Devemos considerar que determinadas empresas convivem bem com endivida-
mento relativamente elevado, principalmente quando suas dívidas tiverem perfil de
longo prazo, ou quando o passivo de curto prazo tiver origem não onerosa, como, por
exemplo, decorrente de adequada administração de prazos de fornecedores. Apenas o
fato de ter passivo exigível maior que o patrimônio líquido não é necessariamente ruim.
A análise da adequação depende da comparação com o índice-padrão, da ten-
dência demonstrada nos diversos exercícios, da composição do endividamento (curto
ou longo prazo) e, ainda, do custo financeiro das dívidas.

Composição das Exigibilidades

PC
CE = x 100
PC + PNC

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

Esse índice revela a composição do passivo da empresa em termos de prazos


das exigibilidades. Compara o montante de dívidas no curto prazo com o endividamen-
to total, revelando o perfil da dívida da empresa.
Geralmente, quanto mais curto o prazo de vencimento das parcelas exigíveis,
maior será o risco oferecido pela empresa. De outra forma, empresas com endivida-
mento concentrado no longo prazo, principalmente decorrente de investimentos efetu-
ados, apresentam situação mais tranquila.
Se uma empresa apresentar CE de 36%, temos que, para cada $ 100,00 de en-
dividamento, $ 36,00 estão no curto prazo, ou seja, no passivo circulante. Inversamen-
te, a maior parte das dívidas ($ 64,00) concentra-se no longo prazo, fato positivo na
análise. Entretanto, podemos aprofundar um pouco mais nossa investigação, buscando
saber se a dívida provém de recursos onerosos ou não.

Passivo Oneroso Sobre Ativo

PCF+PNC
POSA = x 100
ATIVO

De forma conceitual, chamamos de onerosos todos passivos que acarretem cus-


tos financeiros à empresa, entre eles, descontos de títulos, empréstimos e financia-
mentos bancários, debêntures, mútuos de sócios e de empresas ligadas, empréstimos
de terceiros, imposto de renda e contribuição social a pagar, tributos em atraso e par-
celados, obrigações com fornecedores em atraso ou parceladas, obrigações com for-
necedores de ativos permanentes, dividendos e juros sobre o capital próprio a pagar.
Caso haja parcela não onerosa no passivo não circulante, a mesma deve ser excluída.
O POSA mostra a participação das fontes onerosas de capital no financiamento
dos investimentos totais da empresa (total do ativo). Quanto maior for o índice, maio-
res serão as despesas financeiras incorridas, o que influencia o resultado do exercício.
Como exemplo, o POSA de 42% indica que esse percentual do ativo está sendo
financiado por recursos onerosos de terceiros. Complementarmente, podemos concluir
que 58% do ativo estão sendo financiados por recursos de terceiros não onerosos e
pelos capitais próprios.

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Quando o POSA apresentar-se elevado, devemos ponderar os custos financei-


ros incidentes sobre os financiamentos. Cabe, ainda, comparar o índice apurado para a
empresa em análise com o índice-padrão de referência.

Imobilização do Patrimônio Líquido

ANC - RLP
IPL = x 100
PL

A nova estrutura das contas patrimoniais, oriunda das alterações na Lei das So-
ciedades Anônimas, suprimiu a nomenclatura “ativo permanente”. Contudo, para fins
didáticos, manteremos essa denominação. O índice exprime, assim, o percentual do
ativo permanente (composto pelos grupamentos investimento, imobilizado e intangível)
da empresa que é financiado pelo patrimônio líquido.
Por exemplo, o IPL de 73% informa que a empresa está imobilizando o corres-
pondente a 73% de seu patrimônio líquido. Sobrando, portanto, 27% de recursos pró-
prios para aplicação no ativo circulante e de longo prazo.
A adequada administração dos recursos de uma empresa pressupõe o casa-
mento dos prazos das aplicações dos recursos com os prazos das fontes. Assim, con-
vencionou-se dizer que as aplicações permanentes devem ser financiadas pelo patri-
mônio líquido (recursos próprios de caráter permanente) ou por financiamentos de lon-
go prazo.
A política de obtenção de fontes de longo prazo para investimentos no ativo
imobilizado ou não circulante revela, normalmente, estratégia administrativa acertada
por parte os dirigentes.
Não são raros os casos em que empresários fazem investimentos em aplicações
permanentes utilizando integralmente o patrimônio líquido da empresa, deixando-a sem
recursos próprios para o giro dos negócios. Ou ainda, de forma mais arriscada, efetu-
am os investimentos com fontes de terceiros vencíveis no curto prazo, tornando a em-
presa dependente de sucessivas renovações de créditos, muitas vezes com encargos
financeiros elevados.

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Concluímos o estudo dos índices que fornecem referenciais para análise da es-
trutura patrimonial da empresa. Passemos, agora, aos que medem sua rentabilidade.

Índices de rentabilidade
Os índices de rentabilidade têm por objetivo avaliar a capacidade da empresa
em gerar lucros. A seguir são listados os índices de rentabilidade utilizados pelo Ban-
co para análise de seus clientes:
RPL Rentabilidade do Patrimônio Líquido
MOL Margem Operacional de Lucro
ML Margem Líquida de Lucro
RA Rotação do Ativo
RI Rentabilidade dos Investimentos
GAF Grau de Alavancagem Financeira
Todos os índices acima são interpretados como: QUANTO MAIOR, MELHOR.

Rentabilidade do Patrimônio Líquido ou Retorno sobre o Patrimônio Liquido

Lucro líquido
RPL = x 100
PL médio

O índice mede a remuneração dos capitais próprios da empresa. Por exemplo, RPL
de 20% significa que a empresa conseguiu, no período, remuneração de 20% sobre seu
patrimônio líquido. Do ponto de vista de quem investe numa empresa, este deve ser o ín-
dice mais importante.
A RPL permite, além de avaliar a remuneração do capital próprio, comparar esse
rendimento com outras opções de investimento. Um investidor, por exemplo, avaliando a
RPL, poderá optar por uma aplicação no mercado financeiro, em vez de aplicar numa em-
presa que está proporcionando baixa rentabilidade e maior risco.
Sempre que houver dados de dois demonstrativos contábeis consecutivos, deve-
mos utilizar a média do PL para comparar com o lucro líquido, de forma a melhor traduzir a
rentabilidade do período. Isso porque o patrimônio líquido pode sofrer alterações durante o
exercício, como aumento de capital, distribuição de dividendos, saída de sócios etc.

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Margem Operacional de Lucro

Lucro operacional líquido


MOL= x 100
Receita operacional líquida

A MOL é uma medida de lucratividade das vendas (lucro sobre as vendas líqui-
das). Avalia o ganho operacional da empresa (resultado antes das receitas e despesas
não operacionais) em relação a seu faturamento (líquido das devoluções, abatimentos
e impostos incidentes sobre as vendas). Representa, assim, a capacidade da empresa
em gerar resultado com suas vendas.
MOL de 17%, por exemplo, indica que a empresa obteve 17% de lucro operaci-
onal sobre seu faturamento líquido.

Margem Líquida ou Rentabilidade das Vendas

Lucro líquido
ML = x 100
Receita operacional líquida

Esse índice reflete o ganho líquido da empresa comparativamente às vendas lí-


quidas. Difere do anterior por considerar todas as despesas e receitas incorridas,
mesmo que não estejam ligadas à atividade operacional.
ML de 9,6% indica que esse é o percentual de margem líquida sobre o fatura-
mento operacional líquido do período.

Rotação do Ativo ou Giro do Ativo

Receita operacional líquida


RA=
Ativo total médio

Embora não seja um índice essencialmente de rentabilidade, o estudo da rota-


ção ou “giro” do ativo constitui aspecto importante para o entendimento da rentabilida-
de do investimento.
Esse índice demonstra quantas vezes girou, durante o período, o ativo total da
empresa. Isto é, durante o exercício, quantas vezes a empresa conseguiu vender o

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correspondente ao valor de seu ativo ou, como comumente se diz, quantas vezes con-
seguiu “girar seu ativo”.
Sempre que houver dados de dois demonstrativos consecutivos, devemos utili-
zar a média do ativo total para comparar com a receita operacional líquida.
Digamos que tenhamos apurado RA de 1,36. Nesse caso, a empresa vendeu,
durante o período, o equivalente a 1,36 vez o valor de seu ativo total.
Como veremos a seguir, o RA, conjugado com outros indicadores, colabora para
o estudo da rentabilidade de empresas.
Rentabilidade dos Investimentos ou Retorno sobre Investimento Total

Lucro operacional líquido


RI= x 100
Ativo total médo

A rentabilidade dos investimentos pode ser estudada de diferentes formas. Op-


tamos por utilizar a fórmula acima, por entendermos ser a que melhor representa o
poder de ganho da empresa ao longo de vários exercícios, já que não inclui as receitas
e despesas não operacionais (que são eventuais).
Também conhecido como taxa de retorno do investimento (TRI) ou poder de ga-
nho da empresa (PGE), esse índice é o que merece maior destaque dentro do grupa-
mento rentabilidade, pois reflete o quanto a empresa está obtendo de resultado em
relação a seus investimentos totais.
Sempre que houver dados de dois demonstrativos consecutivos, devemos utili-
zar o ativo total médio para comparar com o lucro operacional.
O RI de 23%, por exemplo, quer dizer que o lucro operacional do exercício re-
munerou em 23% os investimentos totais efetuados no ativo da empresa.
A RI pode ser obtida, também, pela conjugação da MOL e da RA, contribuindo
para a análise dos aspectos envolvidos na formação do resultado.
A equação é a seguinte:
RI = MOL x RA

Para exemplificar, vamos supor os seguintes dados dos demonstrativos contábeis:

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Ativo total médio: $ 100.000


Receita operacional líquida: $ 170.000
Lucro operacional líquido: $ 18.000
Poderíamos apurar a rentabilidade dos investimentos das seguintes formas:

Opção “a”:
Lucro operacional líquido $ 18.000
RI= x 100 = x 100 = 18,00%
Ativo total médio 100.000

Opção “b” (conjugação da MOL com a RA)


Apurando a MOL:
Lucro operacional líquido $ 18.000
MOL= x 100 = x 100 = 10,59%
Receita operacional líquida 170.000
Apurando a RA:
Receita operacional líquida $ 170.000
RA = = = 1,7
Ativo total médio $ 100.000
Apurando a RI:
RI = MOL x RA = 10,59% x 1,7 = 18,00%

A utilização da fórmula que conjuga a MOL e a RA permite aos administradores


da empresa simular possibilidades visando melhorar a rentabilidade do investimento
total como, por exemplo:
• reduzir o ativo total, que aumentará a RA e, por conseguinte, a RI
• aumentar a MOL, com algum impacto no nível de vendas;
• reduzir a MOL para ganhar mercado e aumentar o volume de vendas.

Grau de Alavancagem Financeira

Lucro líquido + dividendos pagos


Patrimônio líquido médio
GAF=
Lucro líquido + dividendos pagos + despesas financeiras
Ativo médio

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A alavancagem financeira resulta da participação de recursos de terceiros na


estrutura de capital da empresa. Em princípio, podemos admitir que interessa ao em-
presário contrair endividamento quando o custo de captação for menor que o retorno
produzido pela aplicação desses recursos. Nessa situação, em que o retorno do inves-
timento excede o custo de captação, a diferença promove elevação mais que proporci-
onal nos resultados dos capitais próprios da empresa, alavancando a rentabilidade.
Em situação inversa, quando a empresa toma empréstimo a custo financeiro su-
perior à taxa a que pode aplicar os recursos, o retorno dos capitais próprios é reduzido.
Em termos de interpretação do indicador, temos:
GAF = 1,0: a alavancagem financeira é nula.
GAF > 1,0: a alavancagem financeira é favorável (o retorno propiciado pelos
investimentos é maior que a remuneração paga aos capitais de
terceiros).
GAF < 1,0: a alavancagem financeira é desfavorável (o retorno dos investi-
mentos é menor que a remuneração paga aos capitais de tercei-
ros, consumindo parte da rentabilidade do capital próprio).

Análise dos indicadores econômicos


A análise dos indicadores econômicos apresentados possibilita conhecer a situ-
ação econômica da empresa e, ainda, indicar a tendência revelada pelos números.
E como fazer essa análise?
Não existe uma forma única de se fazer a análise. Podemos, entretanto, sugerir
uma forma.
1. Iniciar pelo patrimônio líquido, verificando sua existência e evolução, isto é,
percebendo se os lucros apurados estão sendo reinvestidos na atividade ou
distribuídos.
2. Observar se houve aumento do capital social integralizado nos exercícios
em análise. Se afirmativo, verificar se o acréscimo foi decorrente de transfe-
rência contábil da conta lucros acumulados ou de novos recursos aportados
pelos sócios.

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3. Analisar o comportamento do passivo, verificando se participação de capi-


tais próprios nas fontes de recursos apresentou aumento ou redução nos
exercícios, qual o nível de endividamento oneroso e sua qualidade em ter-
mos de prazos, bem como compará-la ao índice-padrão ou a informações
sobre concorrentes diretos.
4. Verificar qual é o nível de imobilização do patrimônio líquido (IPL) e compa-
rá-lo com o índice-padrão ou de concorrentes, para entender que parcela
dos capitais próprios está disponível para o giro das atividades.
5. Observar o comportamento do POSA nos últimos exercícios e comparar o
indicador com o índice-padrão. Checar se o GAF tem sido favorável e se
haveria ou não espaço para maior endividamento.
Devemos ainda verificar como têm se comportado os indicadores de rentabilida-
de e compará-los com os índices-padrão.
Reduções na rentabilidade das vendas podem indicar, por exemplo, necessida-
de de diminuir a margem de lucro para manter o nível das vendas, em função de mo-
vimentos da concorrência, ou dificuldades em repassar custos, por conta das conjuntu-
ras de mercado.
Note, ainda, que os indicadores estão todos inter-relacionados e o diagnóstico
sobre os valores apurados pode ser relativo e depender de situações específicas. Por
exemplo, uma participação elevada de capital próprio reduz (pelo aumento do denomi-
nador) o indicador de rentabilidade sobre o PL. Nesse caso, se o GAF for favorável, a
empresa seria beneficiada por uma maior participação de capital de terceiros.
Em suma, para firmarmos conceito quanto à situação econômica de uma em-
presa a partir dos índices de estrutura patrimonial e de rentabilidade, interpretamos os
indicadores em conjunto, avaliamos a evolução dos índices ao longo dos exercícios
analisados e os comparamos com os índices-padrão.

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

ANÁLISE FINANCEIRA
Objetivos
 Demonstrar fórmulas e significados dos índices financeiros.
 Descrever a apuração e o significado dos indicadores de prazos médios.

No início deste curso, vimos que a análise financeira cuida da capacidade de


pagamento da empresa no curto e no longo prazos. Trata dos índices de liquidez, da
necessidade de capital de giro, do ciclo financeiro, entre outros. Considera também a
rentabilidade como fonte de recursos, pelos reinvestimentos dos lucros.
Da mesma forma que a econômica, a análise financeira utiliza-se de índices e
indicadores apurados a partir dos demonstrativos contábeis, preferentemente, de três
exercícios sucessivos, pelo menos.

Índices de liquidez
Os índices de liquidez são medidas de avaliação da capacidade financeira da
empresa em satisfazer os compromissos para com terceiros. Fazem relação entre o
que a empresa dispõe de bens e direitos com as suas obrigações. Estão listados abai-
xo os índices de liquidez mais conhecidos. Cada um fornece informações diferentes
sobre a situação da empresa.
LC Liquidez Corrente
LS Liquidez Seca
LG Liquidez Geral
De maneira geral, assumimos que QUANTO MAIORES forem os índices de li-
quidez, MELHOR será a situação financeira da empresa.
No entanto, devemos ter em mente que índices de liquidez favoráveis não re-
presentam, necessariamente, que a empresa disporá de recursos suficientes nas datas
de vencimento das dívidas, pois nem sempre a empresa consegue realizar seus ativos
com a velocidade exigida pelas obrigações.

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Liquidez corrente
AC
LC=
PC
A liquidez corrente é um dos índices mais conhecidos. Indica a relação entre os
ativos realizáveis no curto prazo (disponibilidades, clientes, estoques, etc.) e as dívidas
do passivo circulante (fornecedores, empréstimos e financiamentos de curto prazo,
contas a pagar, etc.).
Índice superior a 1 indica, em princípio, que a empresa tem capacidade para
saldar suas dívidas de curto prazo. Uma liquidez corrente de 2,5, por exemplo, quer
dizer que, para cada $ 1,00 de obrigações de curto prazo, a empresa dispõe de $ 2,50
aplicados em bens e direitos realizáveis no curto prazo.
Índice inferior a 1 indica que, em princípio, a empresa não possui capacidade
para saldar seus compromissos de curto prazo.

Liquidez seca
AC - Estoques
LS =
PC
Esse índice é uma medida mais rigorosa para avaliação da liquidez. Indica a re-
lação entre os ativos circulantes, sem considerar os estoques, e as obrigações de curto
prazo. Se a liquidez seca for igual ou maior que 1, pode-se dizer que a empresa não
depende da venda de estoques para saldar seus compromissos de curto prazo. Por
outro lado, quanto mais abaixo da unidade, maior será a dependência da venda dos
estoques para honrar suas dívidas.
Existem autores que propõem outras fórmulas para o cálculo da liquidez seca.
Uns recomendam comparar somente disponibilidades e clientes com as obrigações de
curto prazo. Outros usam excluir, além dos estoques, todas as contas que não repre-
sentem entrada efetiva de recursos na empresa (despesas antecipadas, impostos a
compensar, adiantamentos a funcionários, entre outras). Qualquer que seja a fórmula
utilizada, o importante é que o analista tenha consciência dos valores envolvidos e da
relação expressa pelo índice.

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Liquidez geral
AC + RLP
LG =
PC + PNC
A liquidez geral é uma medida da capacidade de pagamento de todo o passivo
exigível da empresa. Faz relação entre os valores registrados no ativo circulante e no
realizável a longo prazo com todos os compromissos com terceiros.
Quando o índice for superior a 1, diz-se que, em princípio, a empresa tem capa-
cidade para pagar todas as suas dívidas de curto e longo prazos. Índice de liquidez
geral de 1,2, por exemplo, revela que a empresa dispõe de $ 1,20 de bens e direitos
realizáveis no curto e longo prazo para cada $ 1,00 de dívidas totais.

Índices de rentabilidade
Os índices de rentabilidade adotados para efeito da análise financeira são os mes-
mos já estudados na análise econômica. Contudo, o foco na análise financeira é o de que
a rentabilidade, a longo prazo, ajuda a melhorar a situação financeira da empresa, pela
acumulação de capital próprio nos negócios, com o reinvestimento dos lucros.

Indicadores de prazos médios


Os indicadores de prazos médios, também conhecidos como índices de ativida-
de, mostram a dinâmica de algumas contas patrimoniais da empresa, indicando em
quantos dias tais contas giram durante o exercício (rotação). Os indicadores de prazos
médios comumente utilizados são:
PMC Prazo Médio de Compras
PME Prazo Médio de Estoques
PMR Prazo Médio de Recebimentos
CO Ciclo Operacional
CF Ciclo Financeiro
Todos os indicadores de prazos médios supõem que os valores utilizados como
numerador (estoques, clientes e fornecedores) não sofram grandes alterações durante
o exercício. Assim, por exemplo, se a conta estoques apresentar o valor de $ 300.000

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

no balanço, supõe-se que a empresa mantém estoque médio desse valor durante o
exercício.
A análise dos prazos médios constitui importante instrumento para se conhecer
a política de compra, estocagem e venda adotada pela empresa. A partir dela, pode-se
constatar a eficiência com que os recursos estão sendo administrados (duplicatas a
receber, estoques e fornecedores).
Assim como os demais indicadores, não devem ser analisados individualmente,
mas sempre em conjunto.

Prazo médio de compras

Fornecedores
PMC = x 360
Montante de compras

Esse indicador exprime o prazo que a empresa vem obtendo de seus fornecedo-
res para pagamento das compras de matérias-primas e mercadorias. Assim, podemos
dizer que prazo médio de compras é o número de dias que decorre, em média, entre a
compra e o respectivo pagamento aos fornecedores.
Em linhas gerais, considera-se ideal que o pagamento das compras seja efetua-
do no maior prazo possível. Assim, quanto maior esse prazo, melhor será a situação da
empresa, já que estará financiando seu giro com recursos não onerosos (desde que, é
claro, o valor da compra não varie em função do prazo concedido).
Sempre que houver dados de dois demonstrativos consecutivos, devemos utili-
zar a média da conta fornecedores para comparar com o montante de compras. Calcu-
la-se a média do saldo de fornecedores dos dois últimos anos e divide-se pelo montan-
te das compras do último ano, conforme fórmula:
(Fat + Fan) x 360
PMC =
2 x MC
onde:
Fat = Fornecedores, saldo atual
Fan = Fornecedores, saldo anterior
MC = Montante de compras

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Caso não fornecido o montante de compras, esse valor poderá ser estimado da
seguinte forma: MC = CPV + Estoque final – Estoque inicial.

Prazo médio de estoques


Estoques
PME = x 360
Custo dos produtos vendidos
O prazo médio de permanência dos estoques indica o tempo médio decorrido
entre a aquisição dos produtos ou matéria-prima, até sua efetiva venda. No caso das
indústrias, o tempo de processamento é também levado em conta. A princípio, o índice
é considerado quanto maior, pior, pois a manutenção de estoques consome recursos
que poderiam ser direcionados para outros investimentos.
Sempre que houver dados de dois demonstrativos consecutivos, devemos utili-
zar a média da conta estoques para comparar com o custo dos produtos vendidos, con-
forme fórmula:
(Eat + Ean) x 360
PME =
2 x CPV
onde:
Eat = Estoques, saldo atual
Ean = Estoques, saldo anterior
CPV = Custo dos produtos/mercadorias vendidas ou dos serviços prestados

Prazo médio de recebimento

Clientes
PMR = x 360
Receita operacional bruta

O prazo médio de recebimento indica o tempo médio de recebimento dos produ-


tos vendidos. Mostra qual o tempo esperado de recebimento das vendas realizadas.
Quanto menor, melhor, já que indica maior celeridade no recebimento das vendas.
Sempre que houver dados de dois demonstrativos consecutivos, devemos utili-
zar a média da conta clientes para comparar com as vendas (receita operacional bru-
ta), utilizando a fórmula:
(Clat + Clan) x 360
PMR =
2 x Vendas

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Onde:
Clat = Clientes, saldo atual
Clan = Clientes, saldo anterior
Devemos ter em mente que os créditos de curto e longo prazos devem estar
contidos no valor de clientes. No caso das vendas, devem ser descontados os valores
referentes às devoluções ocorridas no período.

Ciclo operacional
CO = PME + PMR
Compreende o período de tempo decorrido entre a aquisição das matérias-primas e
o efetivo recebimento das vendas. É a fase operacional existente na empresa. Um ciclo
operacional longo significa que a empresa deve direcionar maior volume de recursos para
o financiamento das suas atividades operacionais, por isso, quanto maior, pior.
Utilizando dados numéricos como exemplo, podemos assim representar:

Ciclo financeiro
CF = CO – PMC
ou
CF = PME + PMR – PMC

É a diferença entre o ciclo operacional (PME + PMR) e o prazo médio de com-


pras (PMC). Corresponde ao período de tempo entre o pagamento ao fornecedor e o
momento em que a empresa recebe do cliente o dinheiro das vendas.
É o período em que a empresa necessita de financiamento complementar do
seu ciclo operacional, por meio de fontes próprias ou de terceiros.
Considerando os prazos supra de PME (30 dias) e PMR (60 dias) e 40 dias co-
mo prazo médio de compras, teremos:

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No exemplo, o CF foi de 50 dias. Isso significa que a empresa paga seus forne-
cedores 40 dias após a compra e somente 50 dias após esse pagamento receberá o
valor da venda a seus clientes. Para financiar seus clientes por 50 dias, a empresa
poderá utilizar-se de recursos próprios ou recorrer a desconto de duplicatas ou outros
empréstimos para capital de giro.
A boa gestão empresarial revela-se muito pela competência na administração
dos prazos médios, expressos finalmente através do ciclo financeiro.
O ciclo financeiro (CF) nada mais é do que uma medida aproximada da necessi-
dade de capital de giro da empresa, expressa em dias, ao longo do exercício social e
corresponde ao período de tempo entre o pagamento ao fornecedor e o momento em
que a empresa recebe do cliente o dinheiro das vendas.
Ressaltamos, mais uma vez, a importância de conhecermos o conteúdo das
verbas do balanço, em termos de qualidade. Estoques invendáveis mantidos na conta-
bilidade, créditos duvidosos e descasamento dos prazos de recebimento com os da
compra podem, também, em algum momento, tornar a empresa ilíquida. O resultado da
leitura de números inconsistentes pode ser extremamente enganoso.

Terminamos o estudo dos índices financeiros e podemos, agora, fazer inferên-


cias sobre a situação financeira da empresa, bem como indicar qual a tendência reve-
lada pelos números.
É certo que não temos a necessidade, nem devemos fazê-lo, de apurar todos os
índices e indicadores, econômicos e financeiros, de todos os grupamentos. É o objetivo
da análise que irá definir nossa postura e, dentro dela, orientar a escolha.
Ao proprietário da empresa, por exemplo, importa fundamentalmente detectar
problemas e pontos fortes para, a partir daí, traçar estratégias no sentido de corrigir as

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

falhas ou aproveitar as oportunidades. Já ao analista externo interessa saber da viabi-


lidade ou não da aplicação de recursos na empresa. A ótica do analista, pois, é que
determinará os caminhos a serem trilhados.
Num empréstimo de capital de giro de curto prazo, por exemplo, o gerente de
um banco — interessado no retorno seguro dos capitais emprestados — privilegiará os
aspectos relativos à capacidade de pagamento e segurança. Já em um empréstimo de
longo prazo, o gerente dará, também, ênfase à capacidade de geração de lucro e à
eficiência operacional da empresa, ou seja, irá enfocar também a rentabilidade.

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

EXERCÍCIOS
1. O índice de liquidez corrente mostra quantas UM (unidades monetárias) a
empresa tem:
a) no seu ativo para cada UM de dívida a curto prazo.
b) no ativo circulante para cada UM de dívida total.
c) no ativo permanente para cada UM de Patrimônio Líquido.
d) no ativo circulante para cada UM de dívida a curto prazo.
e) no seu patrimônio líquido para cada UM de dívida a curto prazo

2. Assinale (V) verdadeira ou (F) falsa:


( ) Os índices de liquidez revelam a política de compra e estocagem da
empresa.
( ) O índice, por ser um dado numérico estático, deve ser avaliado isola-
damente.
( ) Os índices de estrutura avaliam a segurança oferecida pela empresa
aos capitais alheios.
( ) O IPL exprime quanto do ativo imobilizado está sendo financiado pelo
patrimônio líquido.
A sequência obtida foi:
a) F V F V
b) V F V F
c) F F V V
d) V V F F
e) V V V F

3. Assinale a alternativa que melhor explica a frase “quanto menor o índice de


RFR, melhor”.
a) Quanto menor o índice, menor será o volume de capitais próprios em re-
lação aos capitais de terceiros.

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b) Quanto menor o índice, maior será o volume de recursos onerosos apli-


cados no imobilizado da empresa.
c) Quanto menor o índice, maior será o volume de capitais próprios em re-
lação aos recursos de terceiros.
d) Quanto menor o índice, maior será o volume de recursos alheios aplica-
dos na empresa.
e) Nada posso afirmar, pois a frase está incorreta.

4. Relacione as colunas:
A. RFR = 1
B. RFR > 1
C. RFR < 1
( ) Há predominância de recursos próprios.
( ) Há predominância de utilização de capitais de terceiros
( ) Os capitais próprios e os recursos de terceiros estão em partes
iguais.
A sequência obtida foi:
a) C B A
b) A B C
c) B A C
d) C A B
e) B C A

5. Índice de endividamento geral de 0,80 significa que:


a) o grau de endividamento é baixo.
b) a participação do capital próprio nos investimentos da empresa é de 20%.
c) a empresa está excessivamente imobilizada.
d) a empresa possui boa rentabilidade.
e) a participação dos recursos próprios nos investimentos é de 80%.

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

6. O índice de composição das exigibilidades informa ao analista:


a) a parcela do ativo comprometida com recursos onerosos.
b) a origem dos recursos utilizados no giro dos negócios.
c) o perfil do endividamento da empresa em relação aos prazos.
d) o percentual de duplicatas a receber vencidas.
e) a relação entre os recursos alheios e os capitais de terceiros.

7) Analisando os índices abaixo,


Ano I Ano II
Liquidez Corrente ............................... 1,8 1,5
Liquidez Seca ...................... .............. 0,8 1,1
Liquidez Geral ...................... .............. 1,3 0,8
Podemos afirmar.
I. A empresa passou a recorrer mais a recursos de terceiros de longo prazo.
II. A liquidez de curto prazo é razoável e a empresa não depende da venda
de estoques no ano I.
III. O grau de dependência da venda de estoques aumentou no ano II.
IV. As origens de recursos de longo prazo aumentaram no ano II.
São corretas as afirmativas:
a) II III IV.
b) I IV.
c) Somente a III.
d) Todas.
e) Nenhuma.

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Com base nos dados abaixo, assinale as alternativas corretas nas questões 8 a 11.

Empresa XY
Balanço Patrimonial de 31/12/X1
ATIVO $ mil PASSIVO $ mil
Caixa 9.000 Duplic. Descontadas 10.000
Bancos 11.000 Fornecedores 30.000
Clientes 50.000 Salários a pagar 8.000
Prov. Dev. Duvidosos -1.500 Empréstimos Curto Prazo 10.000
Estoques 25.000 Empréstimos Longo Prazo 20.000
Máquinas 15.000 Capital social 40.000
Móveis 5.500 Reservas 15.000
Veículos 15.000 Prejuízos Acumulados -4.000
Total 129.000 Total 129.000

8. O índice de LC é de:
a) 1,65
b) 1,18
c) 1,20
d) 1,37
e) 1,61

9. O índice de LG é de:
a) 1,61
b) 1,37
c) 1,20
d) 1,18
e) 1,17

10. O índice de liquidez seca é de:


a) 1,18
b) 1,61
c) 1,20
d) 1,37
e) 1,32

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11. Com base nos dados calculados anteriormente, podemos afirmar.


I. A empresa XY depende da venda dos estoques para saldar suas dívidas
de curto prazo.
II. Os índices de liquidez seca e corrente, em princípio, são favoráveis.
III. O índice de liquidez geral, em princípio, é desfavorável.
IV. O índice de liquidez geral, em princípio, é favorável.
V. O índice de liquidez seca, em princípio, é desfavorável.
Assinale a alternativa correta:
a) Somente V
b) II IV
c) III V
d) I II III
e) IV V

12. É possível que uma empresa tenha índice de liquidez corrente igual a 2,00
e não possa pagar suas obrigações em dia?
a) Não, pois o índice de liquidez corrente é o único que relaciona os venci-
mentos dos direitos e das obrigações.
b) Sim, pois o índice de liquidez corrente reflete o volume de capitais pró-
prios aplicados no caixa.
c) Não, pois o índice de liquidez corrente reflete o volume de recursos dis-
poníveis no caixa.
d) Sim, pois pode haver descasamento entre os vencimentos dos direitos e
das obrigações.
e) Não, pois o índice de liquidez corrente apresenta a capacidade de paga-
mento da empresa no curto prazo.

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13. Com base nos índices abaixo:

Ano 1 Ano 2
Rentabilidade dos Investimentos 10% 15%
Rotação do Ativo 2 3

Qual foi o fator que determinou a melhor rentabilidade da empresa?

a) A diminuição das despesas administrativas.


b) O aumento da margem de lucro.
c) A queda da rotação, com aumento da margem de lucro.
d) A diminuição dos recursos próprios.
e) O aumento da rotação do ativo.

14. O índice de rentabilidade do patrimônio líquido mostra quanto uma empresa:


a) ganhou em relação aos capitais alheios investidos.
b) ganhou em relação aos juros pagos a terceiros.
c) ganhou em relação ao total investido.
d) ganhou em relação ao capital próprio investido.
e) ganhou em relação ao investimento total em giro.

15.) Genericamente, podemos conceituar rentabilidade dos investimentos como:


a) a relação entre o lucro obtido e os capitais aplicados na sua obtenção.
b) o lucro sobre as vendas efetuadas pela empresa em determinado exercício.
c) a relação entre o lucro obtido e os recursos próprios investidos.
d) a relação percentual entre as vendas realizadas e os recursos aplicados
em ativos fixos.
e) a relação entre o lucro total e os investimentos no ativo permanente.

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16. Sabendo-se:

ÍNDICES EMPRESAS
A B C
Margem operacional de lucro 5 10 30
Rentabilidade dos investimentos 30 40 20
Rentabilidade do capital próprio 60 40 30

Com base nos dados acima, assinale a alternativa que melhor responde às per-
guntas abaixo:
( ) Qual empresa apresenta maior capacidade de produzir lucro?
( ) Qual apresenta melhor remuneração aos capitais investidos pelos sócios?
( ) Qual apresenta maior grau de rotação do Ativo?
( ) Qual obtém mais lucro em cada unidade vendida?
a) C A C B
b) C A B C
c) A C B B
d) B A A C
e) C C B B

17. O aumento da margem operacional de lucro de uma empresa pode ser con-
seguido, entre outros fatores, por meio de:
a) diminuição do ativo em maior proporção do que a das vendas.
b) crescente elevação dos custos ou diminuição dos investimentos em ativos.
c) aumento do volume de vendas em proporção maior que o aumento dos
custos.
d) maior diminuição das vendas do que a dos custos.
e) aumento das vendas em proporção maior que o lucro líquido.

18.) Certa empresa apresenta os seguintes indicadores:


Margem operacional de lucro 15 %
Rentabilidade dos investimentos 30 %
Rotação do ativo 2 vezes

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Se a rotação do ativo cair para 1,5 vez, qual deve ser a margem de lucro, a fim
de se manter a mesma rentabilidade dos investimentos?
a) 30,0 %
b) 45,0 %
c) 15,0 %
d) 22,5 %
e) 20,0 %

19. As empresas “T” , “U” e “V” apresentam os seguintes indicadores:

ÍNDICES EMPRESAS
T U V
Relação entre as Fontes de Recursos 0,40 0,50 0,70
Liquidez Corrente 1,50 1,30 1,60
Rentabilidade dos Investimentos -15% 20% 0%

É menos arriscado emprestar a longo prazo para a empresa:


a) T, porque apresenta o mais elevado índice de capitais próprios.
b) V, porque apresenta o mais alto índice de liquidez corrente.
c) U, porque apresenta melhor rentabilidade.
d) T, porque apresenta melhor relação LC/RI.
e) V, porque apresenta maior índice de capitais de terceiros sobre ativo.

20. Considere o balanço e os dados abaixo.

ATIVO $ mil PASSIVO $ mil


Caixa 10.000 Fornecedores 80.000
Duplicatas a receber 60.000 Empréstimos a pagar 15.000
Produtos acabados 60.000 Provisão IR 10.000
Máquinas 70.000 Capital social 95.000
Total 200.000 Total 200.000

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Indicadores Prazos $ mil


A: PME I. 36 dias
B: PMR II. 64 dias Receita bruta 600.000
C: PMC III. 34 dias Compras no período 450.000
D: CF IV. 62 dias C. P. V. 350.000
E: CO V. 98 dias

Relacione a coluna “Indicadores” com a “Prazos” e assinale a alternativa correta:

a) AIV BI CII DIII EV


b) AI BIV CII DIII EV
c) AIV BI CV DIII EII
d) AI BIV CII DV EIII
e) AV BII CIV DI EIII

21. Dados os seguintes índices, pode-se afirmar:

XX XY YY
Empresa
Margem operacional de lucro 20% 25% 30%
Taxa de retorno dos investimentos 40% 35% 20%
Rentabilidade do patrimônio líquido 30% 35% 30%

I. A empresa XX tem a maior rotatividade do ativo.


II. A empresa XY tem a maior capacidade de gerar lucros.
III. A empresa XX tem a pior margem operacional.
IV. A empresa YY obtém mais lucro em cada unidade vendida.
V. A empresa XY apresenta a melhor remuneração aos capitais investidos
pelos sócios.

São INCORRETAS as afirmativas:


a) I e V

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b) II e IV
c) Somente a II
d) Somente a I
e) III e IV

22. A empresa Lucros Ltda. obteve, no ano X1, rentabilidade dos investimentos na
ordem de 10%. Para o ano seguinte, pretende elevá-la para 15%, mantendo a mesma mar-
gem operacional do ano anterior. Qual a alternativa que viabiliza essa pretensão?
a) Aumentar a rotação do ativo.
b) Diminuir as despesas comerciais.
c) Aumentar o lucro em cada unidade vendida.
d) Diminuir a rentabilidade dos capitais próprios.
e) Aumentar os custos dos seus produtos.

23. Assinale a alternativa correta:


a) Os índices de rentabilidade têm por objetivo avaliar o desempenho final
da empresa.
b) Os indicadores de prazos médios revelam a política de compra, estoca-
gem e venda adotada pela empresa.
c) O índice de rentabilidade dos capitais próprios e a taxa de retorno dos in-
vestimentos revelam a mesma informação ao analista.
d) O indicador de prazos médios dos estoques é a principal informação para
o analista.
e) As alternativas “a” e “b” estão corretas.

24. Duas empresas apresentaram os seguintes indicadores:


Empresa XX XY
Prazo médio de compras 46 dias 60 dias
Prazo médio de permanência de estoques. 50 dias 40 dias
Prazo médio de recebimentos 60 dias 70 dias
Poder de ganho da empresa 35% 5%
Margem operacional de lucro 5% 35%

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Pode-se afirmar.
a) Na empresa XX, os estoques giram mais rapidamente do que na XY.
b) A empresa XX consegue menor prazo dos fornecedores do que a XY.
c) A necessidade de financiamento complementar para o giro é maior na
empresa XY.
d) O prazo de retorno dos valores investidos no ativo circulante é idêntico
nas duas empresas.
e) O ciclo financeiro em ambas as empresas é o mesmo.

25. A empresa ZT apresenta os seguintes indicadores:


Prazo médio de permanência dos estoques 120 dias
Prazo médio de recebimentos 90 dias
Prazo médio de compras 150 dias
Assinale a alternativa correta:
a) O ciclo operacional é de 210 dias.
b) O ciclo financeiro é de 60 dias.
c) O ciclo operacional é de 240 dias.
d) O ciclo financeiro é de 120 dias.
e) As letras “a” e “b” estão corretas.

26. São conhecidos os seguintes índices:


Ano I Ano II
Taxa de retorno do investimento 20% 25%
Margem operacional de lucro 4% 5%

Qual fator determinou a melhor rentabilidade?


a) A diminuição das despesas comerciais.
b) O aumento da rotação do ativo.
c) O aumento da margem de lucro.
d) A diminuição do permanente.
e) A queda da margem de lucro, com aumento da rotação.

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27. Observe as afirmações abaixo em relação ao grau de alavancagem financei-


ra (GAF).
I. Se o custo de captação dos recursos for superior ao retorno promovido
pela aplicação desses recursos isso resultará em GAF satisfatória.
II. GAF superior a 1 é favorável, indicando que valeu a pena a utilização de
recursos de terceiros.
III. Empresas sem endividamento normalmente têm GAF favorável, pois as-
sim as despesas financeiras não impactam a lucratividade operacional.
IV. A utilização de recursos de terceiros pode alavancar os resultados dos
capitais próprios. Contudo, quanto maior o endividamento da empresa,
maior o risco de crédito dele oriundo.
V. GAF inferior a 1 é insatisfatório, indicando que a empresa está muito en-
dividada.
São verdadeiras as seguintes afirmações:
a) I, II e V
b) I, II, III e IV
c) II, IV e V
d) II e IV
e) todas

Gabarito
1D 2C 3C 4A 5B 6C 7E 8E 9C 10A 11B 12D 13E 14D 15A 16D 17C
18E 19C 20A 21C 22A 23E 24B 25E 26C 27D

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ANÁLISE FINANCEIRA AVANÇADA


Objetivos
 Identificar ativos e passivos circulantes financeiros e cíclicos.
 Descrever a apuração e o significado de NCG, CDG e ST.
 Conceituar efeito tesoura.
 Listar causas do efeito tesoura.

Para efeito de análise, as contas do ativo circulante e do passivo circulante são


classificadas em dois grupos: financeiro e cíclico.
O ativo circulante financeiro ACF) engloba as contas que representam disponibi-
lidades financeiras de curto prazo. É composto por ativos que não guardam relação
direta com a atividade operacional da empresa, como, por exemplo, saldos em contas-
correntes bancárias, aplicações financeiras, aplicações em ouro, etc.
Já o passivo circulante financeiro (PCF)
O passivo circulante financeiro engloba as contas representativas de dívidas fi-
nanceiras de curto prazo, normalmente sujeitas a juros (empréstimos bancários, dupli-
catas descontadas, impostos renegociados) e aquelas não enquadráveis como opera-
cionais, ou seja, não relacionadas às atividades operacionais da empresa (emprésti-
mos de pessoas ligadas, imposto de renda a recolher, dividendos a pagar, outros pas-
sivos não operacionais, etc.).
Ativos cíclicos, como já vimos, são uma parte relevante do ativo circulante que
possuem natureza de se renovarem de forma continuada. Está relacionado com o ciclo
operacional (duplicatas a receber, estoques, adiantamento a fornecedores, despesas
antecipadas, tributos a recuperar, etc.). Os passivos cíclicos, da mesma forma, são a
parte do passivo circulante cujos valores se renovam periodicamente e são, também,
considerados fonte permanente de recursos.

Um exemplo: se a empresa apresenta volume de vendas a prazo de R$ 1.000 mil/mês e possui


prazo médio de recebimento de 30 dias, isso significa que manterá, continuamente, R$ 1.000
mil em duplicatas a receber. Esse investimento repetitivo (cíclico) em itens da operação da

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empresa é que chamamos de ativo circulante cíclico. Da mesma forma para a conta
fornecedores, com relação às compras efetuadas.

Os valores dos ativos circulantes cíclicos e passivos circulantes cíclicos se mo-


dificam por alterações no volume de atividade e nos prazos operacionais. O ideal é que
os ativos circulantes cíclicos sejam financiados por passivos também cíclicos ou por
fontes de longo prazo (passivos não circulantes e patrimônio líquido), de forma a man-
ter o equilíbrio financeiro.

Indicadores de giro
Neste tópico, iremos abordar três indicadores:
NCG ou IOG: Necessidade de Capital de Giro ou Investimento Operacional em
Giro
CDG: Capital de Giro
ST: Saldo de Tesouraria

NCG ou IOG
NCG é a diferença entre as aplicações cíclicas e as fontes cíclicas, que são du-
as grandezas que se renovam no dia a ia da empresa. No balanço, as aplicações cícli-
cas estão representadas pelo ACC e as fontes cíclicas pelo PCC. Assim, a necessida-
de de capital de giro de uma empresa está representada pela diferença entre esses
dois valores, como na fórmula:
NCG = ACC – PCC
Em outras palavras, e como o próprio nome sugere, a NCG visa apurar quais
são as necessidades que a empresa tem de capital de giro para bancar as aplicações
cíclicas não supridas pelas fontes cíclicas (também chamadas de fontes espontâneas)
de recursos.
Assim, quando os recursos representados pelas fontes cíclicas são insuficien-
tes, a empresa necessita recorrer a fontes não diretamente ligadas à atividade (fontes
onerosas). Analisando a diferença entre as aplicações cíclicas e as origens de recursos
cíclicos, teremos duas situações.

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

Primeira:

Por exemplo, suponha que a empresa apresente:


• ACC de R$ 600.000 (composto por clientes: $ 200.000 e estoques: $ 400.000);
• PCC de $ 800.000 (fornecedores: $ 500.000; tributos sobre vendas: $ 200.000; e
salários e encargos a pagar: $ 100.000).
NCG = ACC – PCC
NCG = $ 600.000 – $ 800.000
NCG = – $ 200.000
A NCG apresenta-se negativa em $ 200.000, indicando que as fontes cíclicas
superam as aplicações cíclicas. Nesse caso, há recursos excedentes ($ 200 mil) que
poderão, por exemplo, ser destinados a aplicações no mercado financeiro.
Vale destacar que o fato de a empresa não apresentar necessidade de capital
de giro não significa ausência de dívidas financeiras, como, por exemplo, as decorren-
tes de operações de investimento. Revela apenas que, para financiar seus clientes e
manter mercadorias estocadas, ela conta com fontes espontâneas suficientes.
Segunda:

Suponha que a empresa apresente:


• ACC de R$ 700.000 (composto por clientes: $ 300.000 e estoques: $ 400.000);
• PCC de $ 600.000 (fornecedores: $ 300.000; tributos sobre vendas: $ 200.000;
e salários e encargos a pagar: $ 100.000).
NCG = ACC – PCC

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NCG = $ 700.000 – $ 600.000


NCG = $ 100.000
Nessa situação, a NCG apresenta-se positiva em $ 100.000. Isto é, como as
fontes cíclicas são inferiores às aplicações cíclicas, a empresa necessita de $ 100 mil
para complementar os recursos necessários para o giro dos negócios. Essa necessi-
dade poderá ser suprida por disponibilidades internas, se existentes, pelo aporte de
recursos pelos proprietários ou por meio de recursos de terceiros.

Tipos de NCG
A necessidade de capital de giro de uma empresa pode apresentar-se de três
maneiras:
• permanente – própria de empresas cujo nível de atividade de produção e
vendas é distribuído com certa homogeneidade ao longo do ano;
• sazonal – característica das empresas com forte concentração de ativida-
des em certas épocas do ano. É o caso das que produzem brinquedos, arti-
gos juninos, natalinos, dos produtores rurais, etc.;
• mista – pode ser observada em empresas que fabricam produtos distintos,
com linhas de montagem segregada (ovos de páscoa + biscoitos), mas com
administração única. Ovos de páscoa têm seu consumo concentrado em de-
terminada época (domingo da páscoa); biscoitos, no entanto, são consumi-
dos quase que uniformemente ao longo do ano.
O conhecimento do tipo de NCG auxilia na identificação do montante e do perí-
odo do ano em que as necessidades financeiras são maiores, ao tempo em que permi-
te considerar quais são as linhas de crédito mais apropriadas para a empresa.
Por parte do credor, esse conhecimento contribui para dimensionar o prazo de
retorno dos valores concedidos e, também, para negociar produtos do ativo e do passi-
vo. No caso de as necessidades serem sazonais, a negociação poderá ser feita no
sentido de alocação de recursos quando a NCG for positiva e na captação de recursos
quando negativa, promovendo a parceria com o cliente no sentido amplo.
A NCG pode ser coberta principalmente pelas seguintes maneiras:
• pelo CDG (assunto que estudaremos a seguir), reforçado pelos lucros rein-
vestidos;

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• pela venda de bens do imobilizado, desde que não haja prejuízo ao proces-
so produtivo;
• por aporte de capital pelos sócios, elevando o CDG;
• por fontes onerosas (capitais de terceiros), normalmente bancos.

Capital de Giro (CDG)


Quando as fontes cíclicas forem insuficientes para cobrir as aplicações cíclicas
(ACC > PCC), a empresa terá necessidade de capital de giro (NCG). Agora estudare-
mos o capital de giro que é uma das principais fontes de cobertura da NCG.
A forma utilizada pelo Banco para apurar o valor do CDG considera as contas
de longo prazo e o patrimônio líquido. O CDG é a diferença entre as fontes de recursos
de longo prazo (PNC + PL) e as aplicações de recursos de longo prazo (ANC), confor-
me se verifica na fórmula:
CDG = (PNC + PL) – (ANC)

A visualização no gráfico contribui para a assimilação do conceito.

No gráfico acima, verificamos que as fontes de longo prazo (PNC + PL) superam
as aplicações de longo prazo (ANC), resultando a diferença no CDG (parte hachurada).
Considerando que ativo e passivo constituem grandezas iguais, o mesmo valor
aritmético do CDG pode ser encontrado pela equação AC – PC. Apenas que, neste
caso, utilizamos o conceito de CAPITAL CIRCULANTE Líquido (CCL).
CCL = AC – PC
Graficamente, ficaria assim:

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Então, temos que o CCL (parte hachurada) representa o excedente do ativo cir-
culante em relação ao passivo circulante.

Saldo de Tesouraria - ST
O saldo de tesouraria representa a diferença entre as contas do ativo circulante
e do passivo circulante que não são cíclicas. É revelado pelas equações:
ST = ACF - PCF
ou
ST = CDG - NCG
Onde:
ACF = Ativo Circulante Financeiro
PCF = Passivo Circulante Financeiro
CDG = Capital de Giro
NCG = Necessidade de Capital de Giro.

Podemos dizer que:


• saldo de tesouraria positivo significa que a empresa tem disponibilidade de
recursos que poderão ser aplicados no mercado financeiro ou utilizados a
qualquer momento no aproveitamento de oportunidades negociais.
• saldo de tesouraria negativo demonstra dependência de fontes onerosas de
recursos de curto prazo.
É importante observar que o fato isolado de o saldo de tesouraria ser negativo
não é preocupante. Grave é a tendência. Saldo de tesouraria que, período após perío-

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

do, revele-se crescentemente negativo pode evidenciar que a empresa encontra-se em


efeito tesoura e caminha para a insolvência ou overtrade (conceitos que veremos a
seguir).

Efeito tesoura
O efeito tesoura é evidência de descontrole no crescimento das fontes onerosas de
recursos de curto prazo. Ocorre quando o saldo de tesouraria apresenta-se cada vez mais
negativo a cada exercício, variando em níveis superiores ao crescimento da NCG.
Portanto, o efeito tesoura é consequência de saldo de tesouraria cada vez mais
negativo, variando em proporção superior à NCG. A tendência é dada pela relação
[ST/NCG]. Resultado decrescente evidencia que a empresa recorre, cada vez mais, a
empréstimos onerosos de curto prazo. Para melhor avaliar o efeito tesoura, devemos
observar o comportamento do indicador em diversos períodos.
Se quisermos melhor visualizar a representatividade dos investimentos operaci-
onais em giro, podemos utilizar a fórmula [(NCG / ROB) X 360], que apura a NCG em
dias de venda. Em outras palavras, indica quantos dias a empresa precisa vender (fa-
turar) para obter os recursos complementares, necessários ao seu capital de giro. Para
melhor compreensão desse assunto, vejamos dois exemplos apresentados a seguir:
Exemplo 1:
A empresa Y apresenta os seguintes números nos últimos 5 exercícios:

ano 1 ano 2 ano 3 ano 4 ano 5


NCG 250 600 1.200 2.400 4.800
CDG 200 300 400 400 500
CDG/NCG 0,80 0,50 0,33 0,17 0,10
ST -50 -300 -800 -2.000 -4.300
ST/NCG -0.20 -0.50 -0.66 -0.83 -0.89

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Analisando o gráfico, podemos afirmar:


• a NCG da empresa está aumentando substancialmente a cada ano;
• o CDG tem se mantido estável (possivelmente a empresa não está tendo lu-
cro ou o lucro está sendo distribuído);
• como a empresa não consegue financiar sua necessidade de capital de giro
com as fontes internas de recursos, vem recorrendo cada vez mais a em-
préstimos bancários, evidenciado pelo ST negativo e decrescente;
• o ST é negativo e está aumentando proporcionalmente em níveis maiores
que a NCG (ST/NCG), confirmando, assim, o efeito tesoura.

Exemplo 2:
Agora analisemos o gráfico da empresa Z. Ela apresenta a mesma NCG da em-
presa Y e também está com o ST cada vez mais negativo.

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

Uma análise superficial poderia induzir a dizer que a empresa está passando
por dificuldade financeira, pois o ST é negativo e a linha da NCG está se distanciando
da linha do CDG a cada ano. Ocorre que a relação percentual entre a NCG e o CDG se
mantém.
Veja no quadro a seguir:

ano 1 ano 2 ano 3 ano 4 ano 5


NCG 250 600 1.200 2.400 4.800
CDG 200 480 960 1.920 3.840
CDG/NCG 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80
ST -50 -120 -240 -480 -960
ST/NCG -0.20 -0.20 -0.20 -0.20 -0.20

Causas do efeito tesoura


Entre diversas causas que podem levar uma empresa ao efeito tesoura, pode-
mos citar:
• crescimento real das vendas a prazo, em percentuais muito elevados, sem a
correspondente obtenção de prazo de fornecedores;
• imobilizações com recursos onerosos de curto prazo;
• prejuízos;
• distribuição excessiva de lucros;
• dependência sistemática de empréstimos de curto prazo, com pagamento
de altas taxas de juros;
• ciclo financeiro crescente.

Desequilíbrio econômico-financeiro (overtrade)


Uma empresa é um sistema aberto e, como tal, está sujeita às forças que atuam
no cenário econômico, financeiro e social. Pode-se dizer que, assim como as pessoas,
as empresas também nascem e morrem. A morte empresarial geralmente se dá pelo
desequilíbrio econômico-financeiro.

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Ao analisarmos uma empresa, devemos detectar quais são os eventos provoca-


dores de desequilíbrio financeiro, ficando atento aos sinais de alerta.

Sinais de alerta
A NCG é um instrumento que nos permite visualizar, com bom grau de confiabi-
lidade, a efetiva necessidade de capital de giro da empresa, mantido seu nível de ativi-
dade. Todavia, tal como nos demais sinalizadores econômico-financeiros, devemos
observar a performance de outros indicadores – inclusive NCG/vendas – , e esses com
o setor, para, assim, verificarmos o desempenho global da empresa.
A NCG positiva, se crescente, período após período, pode indicar anomalia em-
presarial. O crescimento da NCG pode acontecer, também, por força de expansão dos
negócios da empresa. O que não pode – ou não deve – ocorrer é seu crescimento em
proporção superior ao volume das vendas.
Os eventos provocadores de desequilíbrio financeiro são de ordem interna e ex-
terna à empresa. Todavia, devem ser observados não isoladamente, mas, sim, de
acordo com o setor e ambiente econômico em que ela atue. Citamos abaixo várias das
situações que podem levá-la ao overtrade:
a) fatores internos:
• estado crônico de escassez de disponibilidades;
• crescimento da NCG em níveis superiores ao do CDG (efeito tesoura);
• excesso não justificado de ativo imobilizado, causando atrofiamento do
ativo circulante;
• lucro líquido muito baixo em relação ao movimento dos negócios;
• declínio acentuado nas vendas;
• excesso de produção ou de estocagem de produtos não absorvidos pelo
mercado ou invendáveis;
• ciclo financeiro crescente;
• elevado nível de participação das despesas financeiras em relação às
vendas;
• distribuição excessiva de lucros;
• crescimento desordenado da empresa;

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• máquinas e equipamentos obsoletos, com reflexo negativo na competi-


ção junto ao mercado;
• devolução sistemática de vendas.
b) fatores externos:
• empresa operando sob “efeito sanduíche”: adquire produtos de fornece-
dores oligopolizados que ditam os preços e prazos, e, na outra ponta,
vende para poucos clientes, alto poder de barganha. Pode, também,
acontecer de a empresa, por imposição desses fornecedores, adquirir
produtos em quantidades superiores à necessidade: o comprador pode
repentinamente deixar de comprar;
• dificuldades na contratação de mão de obra;
• greve de funcionários de fornecedores ou de clientes, de modo a inter-
romper a fluidez dos negócios;
• recessão/inflação;
• mudança da moda;
• intervenção governamental, via política econômica;
• gastos forçados de adaptação para atender a exigências de entidades
de controle do meio ambiente.
A concessão de créditos pelos bancos deve ocorrer de modo a propiciar o retor-
no dos capitais emprestados, na data aprazada, com reflexos positivos para as empre-
sas e agentes econômicos. Sendo o overtrade um estágio pré-falimentar, é claro que,
se não forem tomadas medidas para reversão, a empresa caminhará para o estágio
seguinte, podendo chegar até ao seu fechamento.
Eventuais soluções para empresas em overtrade dependem dos empresários.
Caso haja confiança no negócio e na capacidade de reversão da situação e, claro, se
dispuserem dos recursos, é possível contornar a crise por meio da injeção de capitais
próprios e da readequação da empresa. Em estágios menos críticos, caso a capacida-
de de captação de recursos de terceiros esteja preservada, é possível ainda melhorar
a situação financeira por meio do reperfilamento da dívida, com a substituição das li-
nhas de curto prazo por linhas de longo prazo.

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EXERCÍCIOS
1. Assinale “V” (verdadeiro) e “F” (falso):
( ) NCG negativa ocorre quando as fontes cíclicas são maiores do que as
aplicações cíclicas.
( ) A conta adiantamento a fornecedores deve ser classificada no ACC.
( ) Duplicatas descontadas é fonte espontânea de recursos.
( ) NCG e CDG possuem o mesmo significado.
( ) As contas provisão para imposto de renda e contribuição social de-
vem ser classificadas no PCF.

A sequência obtida foi:


a) V V F F V
b) V V F F F
c) V V V F F
d) V V V V F
e) V V V V V

Com base no balanço abaixo, responda as questões 2 a 5.

ATIVO $ mil PASSIVO $ mil


Caixa e bancos 10.000 Duplicatas descontadas 7.000
Duplicatas a receber 60.000 Empréstimos a pagar 15.000
Produtos acabados 40.000 Fornecedores 70.000
Despesas antecipadas 1.000 Provisão de 13 º salário 4.000
Veículos 20.000 Capital social 35.000
Total 131.000 Total 131.000

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2. O total das aplicações cíclicas é de:


a) R$ 101.000 mil
b) R$ 96.000 mil
c) R$ 111.000 mil
d) R$ 74.000 mil
e) R$ 85.000 mil

3. O Passivo circulante financeiro é de:


a) R$ 15.000 mil
b) R$ 19.000 mil
c) R$ 89.000 mil
d) R$ 22.000 mil
e) R$ 50.000 mil

4. O total das fontes cíclicas é de:


a) R$ 111.000 mil
b) R$ 96.000 mil
c) R$ 101.000 mil
d) R$ 74.000 mil
e) R$ 88.000 mil

5. A NCG e o CDG são, respectivamente:


a) R$ 5.000 mil e R$ 37.000 mil
b) R$ 27.000 mil e R$ 15.000 mil
c) R$ 15.000 mil e R$ 27.000 mil
d) R$ 37.000 mil e R$ 5.000 mil
e) R$ 15.000 mil e R$ 37.000 mil

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6. Relacione as colunas e assinale a alternativa correta


A. NCG
B. ST
C. CDG
1. Capital de giro líquido.
2. Aplicações e fontes cíclicas.
3. Dependência ou não de fontes onerosas.

a) 1A 2B 3C
b) 1C 2A 3B
c) 1B 2C 3A
d) 1C 2C 3A
e) 1A 2A 3B

7. Assinale a alternativa INCORRETA:


a) A capacidade da empresa em gerar receitas e de resgatar seus compro-
missos nas épocas aprazadas constituem a maior garantia para o em-
prestador.
b) O que caracteriza a fonte onerosa é o custo financeiro dos recursos.
c) Saldo tesouraria negativo indica dependência da empresa a fontes one-
rosas de recursos de curto prazo.
d) NCG é instrumento que permite visualizar a efetiva necessidade de capi-
tal de giro da empresa, mantido seu nível de atividade.
e) Destinar, de forma continuada, recursos onerosos de curto prazo ao imo-
bilizado afasta totalmente a possibilidade do efeito tesoura.

Gabarito
1A 2A 3D 4D 5B 6B 7E

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REFERENCIAIS PARA ANÁLISE


Objetivos:
 Descrever o uso e a composição dos índices-padrão como referenciais para análise.
 Descrever procedimentos de análise horizontal e vertical.

Nosso objetivo, ao fazermos este curso, é que tenhamos condição de analisar


uma empresa sob o enfoque econômico-financeiro, com vista a verificar o risco de se
realizar negócios com ela.
Analisamos uma empresa sob o enfoque econômico-financeiro para emitir con-
ceito a respeito de sua situação – se boa, regular ou ruim. E aí vem a pergunta: a em-
presa é boa, ou não, em relação a quê? Quais parâmetros utilizamos para emitir nosso
juízo?
É justamente aí que entram os assuntos que iremos abordar a partir de agora.
Para formar conceito, utilizamos dois parâmetros.
No primeiro, estudamos a empresa em sua estrutura interna, ou seja, se a rela-
ção existente entre os valores apresentados nos grupamentos dos demonstrativos con-
tábeis é saudável, e qual é seu comportamento histórico, isto é, como têm se compor-
tado tais grupamentos ao longo do tempo. Fazemos isso pelas análises vertical e hori-
zontal.
Pelo segundo parâmetro, comparamos a empresa com suas similares, numa
pergunta do tipo: qual é a posição que a analisada ocupa com relação a outras empre-
sas do mesmo ramo, porte e área geográfica? Para responder a essa pergunta, utili-
zamos os índices-padrão.

Índices-padrão
Para complementar a análise dos índices econômico-financeiros de uma empre-
sa, é necessário que esses sejam comparados com o mercado. Para a comparação,
normalmente são utilizados os índices-padrão, que são valores obtidos a partir da aná-
lise de um universo de empresas do mesmo ramo, tamanho e região.

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Normalmente, os índices-padrão são obtidos por meio de métodos estatísticos,


que tabulam dados de determinado universo de empresas previamente definido e, a
partir daí, chegam a referenciais que sirvam de comparação a casos particulares.
Esse universo leva em consideração o ramo de atividade, o tamanho e a região
geográfica na qual estão situadas as empresas.

Ramo de atividade
O segmento de atuação é um dos fatores mais decisivos na vida da empresa. É
ele que determina:
• a necessidade de maior ou menor investimento em imóveis, máquinas e
equipamentos;
• o volume de estoque necessário;
• os prazos de compra e venda que serão praticados.
Quanto à atividade, as empresas podem ser classificadas nos setores primário,
secundário e terciário. Por sua vez, esses setores podem ser desdobrados em diversos
ramos, para melhor enquadrar a atividade. Os serviços, por exemplo, podem compre-
ender serviços de telecomunicação, de saúde, de transportes, etc. Cada um desses
pode ainda ser subdividido, para caracterização mais específica, como transporte ro-
doviário de cargas, transporte rodoviário de passageiros, transportes aéreos, marítimos
e ferroviários.

Tamanho da empresa
Da mesma forma que o ramo de atividade, o porte é também determinante na
comparação entre empresas. É fácil perceber que não devemos comparar uma grande
rede de supermercados com uma pequena mercearia. Embora comercializem os mes-
mos itens, assumem comportamentos diferentes, por exemplo, nas negociações das
compras e na composição dos estoques.

Região geográfica
Ao analisarmos uma empresa, devemos dimensioná-la numa visão sistêmica,
em que exerce influência e é influenciada pelo meio no qual está inserida. Nessa forma

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100
Análise Econômico-Financeira de Empresas

de ver a empresa, devemos ponderar fatores como os econômicos e os sociais da re-


gião na qual a empresa atua.
Dependendo do ramo de atividade, a influência do fator geográfico será menor
quanto maior for o porte da empresa. Assim, sua clientela não será mais apenas da
localidade onde está sediada, mas de todo o estado, de todo o país ou, até mesmo, de
diversos países.

Outras considerações em relação aos índices-padrão


Há diferentes critérios de classificação das atividades empresariais para efeito
da comparação dos índices. O Banco utiliza a sua própria base de dados para apurar
os índices-padrão que são utilizados em nossas análises.
O índice-padrão não representa o modelo ideal, como alguns erroneamente
pensam, mas o retrato do mercado em que atua a empresa analisada.
Os índices-padrão fornecem importantes informações para análise. Apresentar si-
tuação melhor que o setor, por exemplo, é um indicativo favorável. Cabe atentar para a
existência de empresas ruins em segmentos bons, e empresas boas em segmentos
ruins. Por isso, nossa posição deve ser crítica. O mérito consiste em saber, por exemplo,
se determinada empresa será atingida pelas dificuldades de um segmento em crise.
A grande utilidade dos índices-padrão decorre do fato de que esses propiciam
medidas objetivas de comparação, reduzindo o aspecto subjetivo da análise. Assim, a
análise feita por meio da comparação com padrões é importante auxílio na manutenção
da coerência quando da avaliação do risco de crédito.

Análise vertical e horizontal


Com os números dos documentos contábeis dos últimos exercícios financeiros
da empresa, já podemos retirar alguns indicativos para a análise. Podemos, por exem-
plo, comparar o comportamento de uma conta ao longo dos exercícios, para ver sua
evolução; ou, então, tomar uma conta ou grupamento de contas para ver sua posição
com relação ao todo.

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101
Análise Econômico-Financeira de Empresas

Análise vertical
Na análise vertical, examinamos a participação relativa dos componentes do ba-
lanço patrimonial, em relação a ativos e passivos, e os da demonstração do resultado
do exercício, em relação à receita operacional líquida mais os impostos.
Vejamos um exemplo:

Balanço Patrimonial $ mil % Demonstração do Resultado Exercício $ mil %


ATIVO 9.600 100,00 Receita Operacional Bruta 16.200 100,00
Circulante 5.000 52,08 Imposto sobre faturamento -3.100 -19,14
Caixa e bancos 500 5,21 Receita Operacional Líquida 13.100 80,86
Clientes 3.500 36,46 Custo das mercadorias vendidas -5.700 -35,19
Estoques 1.000 10,42 Lucro Operacional Bruto 7.400 45,68
Ativo Não Circulante 4.600 47,92 Despesas comerciais -2.100 -12,96
Clientes - longo prazo 1.600 16,67 Despesas administrativas -1.100 -6,79
Imobilizado 3.000 31,25 Despesas gerais -600 -3,70
Outras receitas operacionais 250 1,54
PASSIVO 9.600 100,00 Lucro Operacional I 3.850 23,77
Circulante 2.000 20,83 Receitas Financeiras 50 0,31
Empréstimos 500 5,21 Despesas Financeiras -1.670 -10,31
Fornecedores 1.000 10,42 Lucro Operacional Líquido 2.230 13,77
Salários a pagar 300 3,13 Receitas/despesas não operacionais -280 -1,73
Impostos a recolher 200 2,08 Lucro Antes do IR/CS 1.950 12,04
Passivo Não Circulante 3.500 36,46 Provisão IR e contribuição social -690 -4,26
Financiamentos 3.500 36,46 Lucro Líquido do Exercício 1.260 7,78
Patrimônio Líquido 4.100 42,71
Capital social 3.000 31,25
Reservas 1.100 11,46

Com base nos números do balanço e da DRE, podemos verificar, entre outras
constatações, que:
a) “clientes”, com 36,46% no ativo circulante e 16,67% no realizável a longo pra-
zo, e “imobilizado”, com 31,25%, são as contas mais significativas do ativo;
b) “financiamentos – longo prazo”, com 36,46%, e “capital social”, com 31,25%,
são as contas mais significativas do passivo;
c) as despesas financeiras consumiram 10,31% do faturamento;
d) a empresa foi lucrativa no exercício e seu resultado decorreu da atividade
operacional. Seu resultado operacional, inclusive, foi superior à sua dívida
financeira líquida (endividamento oneroso menos disponibilidades).

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102
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Em alguns casos, será impossível de se avaliar se as porcentagens apuradas


são boas ou ruins. Nesses casos, é importante comparar os números com empresas do
mesmo ramo, porte e localização, ou seja, com suas concorrentes diretas, para que se
estabeleçam parâmetros para essa avaliação.
Para a análise horizontal, tomamos por base dois ou mais exercícios financeiros
– preferentemente todos expressos em valores monetários da mesma data – com a
finalidade de observar a evolução ou involução dos seus componentes. É na análise
horizontal que podemos observar o comportamento dos diversos itens do patrimônio e
dos resultados da empresa ao longo do tempo.
A literatura, de maneira geral, calcula a variação percentual entre os exercícios,
tanto na DRE como no balanço patrimonial, tomando como base os números do primei-
ro ano em análise.
Entretanto, para fins didáticos, o cálculo que fazemos é o mesmo da análise ver-
tical, apenas justapondo os diversos exercícios, para análise de tendência. Exemplo:

BALANÇO PATRIMONIAL
ANO 20X1 ANO 20X2 ANO 20X3
$ mil % $ mil % $ mil %
ATIVO 9.600 100,00 10.100 100,00 11.300 100,00
Circulante 5.000 52,08 4.200 41,58 4.500 39,82
Caixa e bancos 500 5,21 700 6,93 400 3,54
Clientes 3.500 36,46 1.500 14,85 2.600 23,01
Estoques 1.000 10,42 2.000 19,80 1.500 13,27
Ativo não Circulante 4.600 47,92 5.900 58,42 6.800 60,18
Clientes - longo prazo 1.600 16,67 800 7,92 400 3,54
Imobilizado 3.000 31,25 5.100 50,50 6.400 56,64

PASSIVO 9.600 100,00 10.100 100,00 11.300 100,00


Circulante 2.000 20,83 1.800 17,82 2.000 17,70
Empréstimos 500 5,21 600 5,94 400 3,54
Fornecedores 1.000 10,42 700 6,93 1.100 9,73
Salários a pagar 300 3,13 300 2,97 400 3,54
Impostos a recolher 200 2,08 200 1,98 100 0,88
Passivo não Circulan-
te 3.500 36,46 2.900 28,71 2.100 18,58
Financiamentos 3.500 36,46 2.900 28,71 2.100 18,58
Patrimônio Líquido 4.100 42,71 5.400 53,47 7.200 63,72
Capital social 3.000 31,25 3.000 29,70 3.000 26,55
Reservas 1.100 11,46 2.400 23,76 4.200 37,17

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103
Análise Econômico-Financeira de Empresas

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO - DRE


ANO 20X1 ANO 20X2 ANO 20X3
$ mil % $ mil % $ mil %
Receita Operacional Bruta 16.200 100,00 18.300 100,00 26.400 100,00
Imposto sobre faturamento -3.100 -19,14 -3.500 -19,13 -5.200 -19,70
Receita Operacional Líquida 13.100 80,86 14.800 80,87 21.200 80,30
Custo das mercadorias vendidas -5.700 -35,19 -6.100 -33,33 -7.800 -29,55
Lucro Operacional Bruto 7.400 45,68 8.700 47,54 13.400 50,76
Despesas comerciais -2.100 -12,96 -2.600 -14,21 -3.960 -15,00
Despesas administrativas -1.100 -6,79 -1.100 -6,01 -1.200 -4,55
Despesas gerais -600 -3,70 -700 -3,83 -800 -3,03
Outras receitas operacionais 250 1,54 50 0,27 200 0,76
Lucro Operacional I 3.850 23,77 4.350 23,77 7.640 28,94
Receitas Financeiras 50 0,31 80 0,44 70 0,27
Despesas Financeiras -1.670 -10,31 -1.290 -7,05 -1.180 -4,47
Lucro Operacional Líquido 2.230 13,77 3.140 17,16 6.530 24,73
Receitas/despesas não operaci-
onais -280 -1,73 100 0,55 -1.200 -4,55
Lucro Antes do IR/CS 1.950 12,04 3.240 17,70 5.330 20,19
Provisão IR e contribuição social -690 -4,26 -1.130 -6,17 -1.860 -7,05
Lucro Líquido do Exercício 1.260 7,78 2.110 11,53 3.470 13,14

Com os demonstrativos contábeis estruturados dessa forma, podemos avaliar as


variações de cada conta, ou grupo de contas, ao longo dos períodos analisados.
Nos demonstrativos supra podemos observar, por exemplo, que:
a) houve crescimento do faturamento nos três exercícios, com aumento nas
margens operacional e líquida;
b) houve melhora na margem bruta das vendas (o lucro operacional bruto em
20X3 foi equivalente a 50,76% da ROB), com menor representatividade das
despesas administrativas e financeiras, comparativamente ao faturamento,
resultando em elevação da margem operacional nos exercícios;
c) o patrimônio líquido apresentou crescimento nos exercícios e passou a ser a
principal fonte de recursos da empresa (PL equivalente a 63,72% do ativo
em 20X3);
d) o passivo oneroso, que em 20X1 correspondia a 41,67% do ativo, foi redu-
zido para o equivalente a 22,12% do ativo em 20X3;

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104
Análise Econômico-Financeira de Empresas

e) houve sensível redução na rubrica “clientes – longo prazo”, diminuindo nos-


sa preocupação em relação à possibilidade de se tratarem de créditos com
baixas perspectivas de recebimento.

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105
Análise Econômico-Financeira de Empresas

EXERCÍCIOS
1. Na análise vertical, o percentual de uma conta mostra:
a) o resultado de uma divisão que, em princípio, nada permite concluir.
b) a variação dela em relação ao ano anterior.
c) sua real importância no conjunto.
d) a insegurança da empresa quanto à administração da conta.
e) a taxa de inflação que houve no período.

2. Os índices-padrão possibilitam comparar os índices das demonstrações fi-


nanceiras em estudo com:
a) índices que reflitam o mercado de atuação da empresa.
b) índices da própria empresa.
c) índices de uma empresa com a situação econômico-financeira ideal.
d) índices de empresas de regiões e setores distintos.
e) é impossível comparar os índices de uma empresa com os de outras.

3. A análise de balanços por meio de índices ganha em consistência quando:


a) extraímos, no mínimo, uma centena de índices.
b) o analista está de bom humor.
c) os índices são comparados com índices-padrão.
d) os índices são comparados com valores hipotéticos.
e) os índices são analisados isoladamente.

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106
Análise Econômico-Financeira de Empresas

Considere as seguintes DRE para responder as questões 4, 5 e 6:

Demonstração do resultado do exercício


ANO 20X1 ANO 20X2
Receita operacional bruta 150.000 200.000
Imposto sobre faturamento -20.000 -15.000
Receita operacional líquida 130.000 185.000
Custo dos serviços prestados -80.000 -120.000
Lucro operacional bruto 50.000 65.000
Despesas comerciais -15.000 -18.000
Despesas administrativas -20.000 -30.000
Despesas financeiras líquidas -2.000 -8.000
Lucro operacional líquido 13.000 9.000
Provisão IR e contribuição social -3.250 -2.250
Lucro líquido do exercício 9.750 6.750

4. A afirmação que “no ano de 20X2, a empresa reduziu custos” é:


a) verdadeira, pois o crescimento da conta “custos dos serviços prestados”
foi inferior à inflação do período.
b) falsa, pois, no ano 20X1, os custos representavam 53% do faturamento,
enquanto que, no ano 20X2, passaram a representar 60%.
c) verdadeira, pois a empresa conseguiu reduzir os impostos sobre as vendas.
d) as letras “a” e “c” estão corretas.
e) sem conhecer a planilha de custos da empresa, nada posso afirmar.

5. Estude as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta.


I. A empresa aumentou suas vendas.
II. Houve incremento real nas margens de lucro.
III. No ano de 20X2, o que mais afetou negativamente o resultado da em-
presa foram os custos dos serviços.
IV. A empresa está reduzindo as despesas com juros.

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107
Análise Econômico-Financeira de Empresas

a) Somente I.
b) Somente III.
c) I e II.
d) I e III.
e) I e IV.

6. Analise as afirmativas e assinale a opção correta.


I. As despesas comerciais cresceram em proporção inferior às vendas.
II. Os custos estão crescendo na mesma proporção das vendas.
III. Devido à queda das vendas, a empresa reduziu todas as despesas
operacionais
IV. No ano 20X2, a empresa gastou 20% das vendas com despesas comer-
ciais.

a) I.
b) II.
c) III.
d) IV.
e) I e II.

Gabarito:

1-C 2-A 3-C 4-B 5-D 6-A.

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108
Análise Econômico-Financeira de Empresas

FAZENDO A ANÁLISE
Objetivos
 Simular os procedimentos de análise econômica e financeira.
 Aplicar os procedimentos na análise de uma empresa fictícia.

Finalmente, chegou a hora de aplicarmos nossos novos conhecimentos. A partir


daqui, vamos demonstrar passo a passo como analisamos uma empresa sob os aspec-
tos econômico e financeiro, e como, finalmente, chegamos a um diagnóstico a respeito
de sua situação. Para tanto, vamos utilizar os documentos de uma empresa fictícia,
dedicada ao ramo de laticínios e sediada na região Centro-Oeste do Brasil, descritos
abaixo.
Nome da empresa: Laticínios Boa Fé Ltda.
Ramo de atuação: industrialização e beneficiamento de derivados do leite. Tradicional
fabricante de queijos que, recentemente, passou a produzir também iogurtes e bebidas
lácteas.
Localização geográfica: região Centro-Oeste.
Balanço patrimonial do ano 2012:

Balanço Patrimonial $ mil % $ mil %


ATIVO 6.604.730 100,00 PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO 6.604.730
Circulante 2.351.300 35,60 Passivo Circulante 3.618.025 100,00
Caixa 672.500 10,18 Empréstimos 552.550 15,27
Bancos -127.600 -1,93 Fornecedores 846.900 23,41
Aplicações Financeiras 6.700 0,10 Salários a pagar 45.600 1,26
Clientes 691.000 10,46 Obrigações Sociais e Trabalhistas 223.400 6,17
Estoques 745.700 11,29 Obrigações Tributárias 1.513.075 41,82
Valores Diversos 363.000 5,50 IR e CSLL 420.500 11,62
Não Circulante 4.253.430 64,40 Contas a Pagar 16.000 0,44
Realizável a Longo Prazo 0 0,00 Passivo Não Circulante 909.400 25,14
Investimentos 235.200 3,56 Financiamentos 909.400 25,14
Imobilizado 4.018.230 60,84 Patrimônio Líquido 2.077.305 57,42
Capital social 140.000 3,87
Reservas 1.937.305 53,55

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109
Análise Econômico-Financeira de Empresas

Demonstração do resultado do exercício encerrado em 31.12.2012:


Demonstração do Resultado Exercício $ mil %
Receita Operacional Bruta 17.197.520 102,58
Impostos e Devoluções -2.246.500 -13,40
Receita Operacional Líquida 14.951.020 89,18
Custo das mercadorias vendidas -9.289.635 -55,41
Lucro Operacional Bruto 5.661.385 33,77
Despesas gerais/administrativas -3.054.566 -18,22
Despesas financeiras -867.113 -5,17
Despesas tributárias -970.406 -5,79
Lucro Antes do IR/CS 769.300 4,59
Provisão IR e contribuição social -420.500 -2,51
Lucro Líquido do Exercício 348.800 2,08

A essa altura, já lemos a proposta da Agência e as súmulas anteriores (se hou-


ver) e, então, já teremos uma ideia do porte, composição societária, negócio, histórico
e, no caso de haver estudo anterior, risco. Essas informações nos permitem formar um
conceito preliminar da empresa, que poderá ser confirmado ou não no processo de
análise.
Em seguida, procedemos à leitura do restante da documentação necessária
(demonstrações contábeis e outros relatórios), com o objetivo de colher o máximo pos-
sível de informações e já identificar as necessidades de reestruturação e de ajustes.
Passamos então a preparar as demonstrações para análise, seguindo os passos
já descritos no capítulo Preparando a Documentação para Análise.

Reestruturação
Utilizando o modelo de balanço reestruturado reproduzido a seguir, vamos então
proceder às reclassificações necessárias. Você pode tentar primeiro, em uma folha ou
planilha à parte.

BALANÇO TRADICIONAL
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Passivo Não Circulante
Ativo Não Circulante PATRIMÔNIO LÍQUIDO

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BALANÇO REESTRUTURADO
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Financeiro Passivo Circulante Financeiro
Ativo Circulante Cíclico Passivo Circulante Cíclico
Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante
PATRIMÔNIO LÍQUIDO

No ativo:
• reclassificar para o circulante financeiro as contas que representam dinheiro
em caixa, em bancos e aplicações financeiras. No caso da empresa Laticí-
nios Boa Fé, as contas caixa R$ 672.500; bancos R$ (127.600) e aplicações
financeiras R$ 6.700.
• reclassificar para o circulante cíclico – grupamento que está relacionado
com o ciclo operacional da empresa – as contas que representem as ativi-
dades de compra, transformação e venda. No caso sob análise: clientes R$
691.000; estoques R$ 745.700 e valores diversos R$ 363.000.
Note que as demais contas não necessitam de reclassificação.
• No passivo
• reclassificar para o circulante financeiro as contas representativas de dívi-
das de curto prazo e que não façam parte das atividades diárias da empresa
(normalmente sujeitas a juros). No caso específico: empréstimos e financi-
amentos bancários R$ 552.550; imposto de renda de PJ R$ 284.600 e con-
tribuição social R$ 135.900.
• reclassificar para o circulante cíclico as contas que identifiquem os financia-
dores normais das atividades da empresa e que constituam fontes espontâ-
neas de recursos, normalmente não sujeitas a juros. No caso: fornecedores
R$ 846.900; salários R$ 45.600; INSS R$ 215.090; FGTS R$ 7.620; contri-
buição sindical R$ 690; ICMS R$ 1.092,900; PIS R$ 67.000; Cofins R$
353.175 e contas a pagar R$ 16.000.
• para o passivo não circulante as contas que representem dívidas a vencer a
partir do exercício seguinte: empréstimos e financiamentos bancários R$
909.400.

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As contas do patrimônio líquido não sofrem alteração.


Vejamos então como ficou o balanço da empresa após a reestruturação. Confira
com suas anotações. Caso detecte alguma diferença, refaça os passos acima para
identificá-la e corrigi-la.

$ mil % $ mil %
ATIVO 6.604.730 100,00 PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO 6.604.730
Circulante Financeiro 2.351.300 35,60 Circulante Financeiro 973.050 26,89
Caixa 672.500 10,18 Empréstimos 552.550 15,27
Bancos -127.600 -1,93 IR e CSLL 420.500 11,62
Aplicações Financeiras 6.700 0,10 Circulante Financeiro 2.644.975
Circulante Cíclico Fornecedores 846.900 23,41
Clientes 691.000 10,46 Salários a pagar 45.600 1,26
Estoques 745.700 11,29 Obrigações Sociais e Trabalhistas 223.400 6,17
Valores Diversos 363.000 5,50 Obrigações Tributárias 1.513.075 41,82
Não Circulante 4.253.430 64,40 Contas a Pagar 16.000 0,44
Realizável a Longo Prazo 0 0,00 Passivo Não Circulante 909.400 25,14
Investimentos 235.200 3,56 Financiamentos 909.400 25,14
Imobilizado 4.018.230 60,84 Patrimônio Líquido 2.077.305 57,42
Capital social 140.000 3,87
Reservas 1.937.305 53,55

Note que os totais do ativo e do passivo permaneceram inalterados. Feita a re-


estruturação do balanço, vamos aos sistemas internos do Banco buscar informações a
respeito da empresa. A pesquisa ao SCR no Sisbacen, por exemplo, permite criticar os
números apresentados nas demonstrações financeiras e nas informações adicionais,
no que se refere ao endividamento bancário.
Para fins didáticos, vamos considerar que as informações adicionais recebidas
já foram criticadas e acrescidas das informações colhidas nos sistemas internos do
Banco e, também, em consultas diretas ao contador e aos empresários. Com base nis-
so, tiramos as conclusões a seguir.
Na conta caixa:
• R$ 467.500 estavam contabilizados na conta indevidamente, pois se referi-
am a retiradas dos sócios e despesas menores não registradas. Os restan-
tes R$ 5.000 referiam-se a valores em espécie.
Em valores diversos:
• R$ 280.000 referiam-se a depósitos judiciais sem o aprovisionamento cor-
respondente no Passivo.
Quanto às obrigações tributárias:

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• das dívidas com o ICMS (R$ 1.092.900) e à Cofins (R$ 353.175), a impor-
tância de R$ 1.305.875 referiam-se a impostos em atraso, parcelados em 60
meses. Os restantes R$ 140.200 representam dívidas normais para com
aqueles tributos, vencíveis no ano. Do total dos impostos renegociados, R$
292.375 representam parcelas vencíveis no corrente ano; o restante vence-
rá apenas em exercícios futuros.
A consulta ao SCR apontou a existência das seguintes dívidas com o Sistema
Financeiro Nacional:
• Desconto de duplicatas ................................ 1.100.400
• Cheque especial ............................................. 127.600
• Capital de giro – outras ................................... 462.050
• Financiamento – curto prazo ........................... 300.500
• Financiamento – longo prazo ........................... 909.400
Total ................................................................ 2.899.950
A partir das informações obtidas, vamos ajustar os números. Usando como refe-
rência o balanço reestruturado, transcreva as alterações em uma folha de papel ou
planilha e confira a exatidão de seus apontamentos.

Ajustes
No ativo circulante financeiro – conta caixa:
• R$ 467.000: excluir da conta caixa e lançar na conta retificadora deduções
do ativo.
• R$ 200.500: excluir da conta caixa e lançar na DRE como despesa comercial.
Como esse procedimento afeta o lucro líquido, reduzir igual valor da conta lu-
cros acumulados, equilibrando ativo e passivo. Os restantes R$ 5.000 permanecem na
conta caixa.
No ativo circulante cíclico – valores diversos:
• R$ 280.000: excluir da conta, em contrapartida com deduções do ativo.
No passivo circulante cíclico – obrigações tributárias

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• R$ 292.375: classificar como passivo circulante financeiro, por representa-


rem dívidas de curto prazo sujeitas a juros;
• R$ 1.013.500 classificar no passivo não circulante, por representarem dívi-
das a vencer a partir do exercício seguinte;
• R$ 140.200 são provenientes de fontes espontâneas de recursos e perma-
necem no passivo cíclico.
Com relação às dívidas existentes no Sistema Financeiro Nacional, confrontan-
do as informações contabilizadas no balanço (R$ 127.600 + R$ 552.550 + 909.400 =
R$ 1.589.550) com os valores registrados no SCR (total de R$ 3.399.950), apuramos
uma diferença de R$ 1.810.400, que deve sofrer os seguintes ajustes:
• R$ 1.100.400: lançar no passivo circulante financeiro, na conta duplicatas
descontadas em contrapartida com a conta clientes (somar o valor na conta
clientes existente no ativo circulante cíclico), não sem antes verificar se tal
valor já não estava incluído no montante de clientes;
• do total da conta clientes (R$ 1.791.400), deduzir 3% (R$ 53.742) referentes à
provisão para devedores duvidosos em contrapartida com deduções do ativo;
• R$ 127.600: acrescentar ao saldo da conta empréstimos e financiamentos
bancários, no passivo circulante financeiro. Figurar na conta caixa, no ativo
circulante financeiro, como conta redutora (sinal trocado);
• $ 210.000, diferença entre o informado no SCR (R$ 462.050 + R$ 300.500)
e o lançado no balanço (R$ 552.550) como dívidas de curto prazo: acres-
centar ao saldo da conta empréstimos e financiamentos bancários, em con-
trapartida com deduções do ativo.
Pronto! Ajustado o balanço, vamos conferir suas anotações com o resultado
abaixo, que é como ele ficou (posição 31.12.2012) após a efetivação dos ajustes ne-
cessários. Se você identificar alguma diferença, refaça os passos acima.
Apesar de termos efetuado ajustes apenas no balanço e na DRE de 2012, na
prática devemos ajustar todos os BPs e as DREs entregues para análise. Para efeito
didático, entretanto, vamos considerar que os balanços anteriores – 2010 e 2011 – fo-
ram devidamente ajustados, já que os procedimentos são idênticos. A DRE sofreu

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apenas um ajuste, relativo a despesas com campanha promocional não contabilizadas,


excluídas da conta caixa e lançadas na DRE como despesa comercial.
Feitos os ajustes e as reclassificações cabíveis, os documentos contábeis pas-
saram a apresentar a forma a seguir:

2010 2011 2012


$ mil % $ mil % $ mil %
ATIVO 2.986.869 100,00 5.823.504 100,00 6.831.588 100,00
Circulante 737.016 24,68 1.726.894 29,65 2.578.058 37,74
Circulante Financeiro 45.633 1,53 223.094 3,83 11.700 0,17
Disponibilidades 45.633 1,53 223.094 3,83 11.700 0,17
Circulante Cíclico 691.383 23,15 1.503.800 25,82 2.566.358 37,57
Clientes 644.381 21,57 1.119.980 19,23 1.737.658 25,44
Estoques 24.913 0,83 350.826 6,02 745.700 10,92
Valores Diversos 22.089 0,74 32.994 0,57 83.000 1,21
Não Circulante 2.249.853 75,32 4.096.610 70,35 4.253.430 62,26
Investimentos 235.200 7,87 235.200 4,04 235.200 3,44
Imobilizado 2.014.653 67,45 3.861.410 66,31 4.018.230 58,82

2010 2011 2012


$ mil % $ mil % $ mil %
PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO 2.986.869 100,00 5.823.504 100,00 6.831.488 100,00
Circulante 1.072.013 35,89 2.679.300 46,01 4.042.525 59,17
Circulante Financeiro 385.170 12,90 1.317.674 22,63 2.703.425 39,57
Duplicatas Descontadas 0 0,00 0 0,00 1.100.400 16,11
Empréstimos 365.930 12,25 1.246.700 21,41 890.150 13,03
IR e CSLL 19.240 0,64 70.974 1,22 712.875 10,44
Circulante Cíclico 686.843 23,00 1.361.626 23,38 1.339.100 19,60
Fornecedores 318.447 10,66 749.113 12,86 846.900 12,40
Salários/Encargos/Tributos 357.913 11,98 612.512 10,52 476.200 6,97
Contas a Pagar 10.483 0,35 1 0,00 16.000 0,23
Passivo Não Circulante 0 0,00 1.415.113 24,30 1.922.900 28,15
Financiamentos 0 0,00 1.369.729 23,52 909.400 13,31
Impostos 0 0,00 45.384 0,78 1.013.500 14,84
Patrimônio Líquido 1.914.856 64,11 1.729.091 29,69 866.063 12,68
Capital social 140.000 4,69 140.000 2,40 140.000 2,05
Reservas 2.547.674 85,30 2.552.193 43,83 1.736.805 25,42
Deduções do ativo -772.818 -25,87 -963.102 -16,54 -1.010.742 -14,80

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2010 2011 2012


Demonstração do Resultado Exercício $ mil % $ mil % $ mil %
Receita Operacional Bruta 8.803.338 100,00 11.366.714 100,00 17.197.520 100,00
Receita Operacional Líquida 7.655.931 86,97 9.811.380 86,32 14.951.020 86,94
Custo das mercadorias vendidas -4.091.729 -46,48 -6.373.479 -56,07 -9.289.635 -54,02
Lucro Operacional Bruto 3.564.202 40,49 3.437.901 30,25 5.661.385 32,92
Despesas comerciais 0 0,00 0 0,00 -200.500 -1,17
Despesas administrativas -2.680.610 -30,45 -2.245.773 -19,76 -3.039.892 -17,68
Despesas tributárias -364.144 -4,14 -493.028 -4,34 -970.406 -5,64
Lucro Operacional 519.448 5,90 699.100 6,15 1.450.587 8,43
Receitas Financeiras 1.022 0,01 48.244 0,42 0 0,00
Despesas Financeiras -60.346 -0,69 -131.200 -1,15 -867.113 -5,04
Despesas Financeiras Líquidas -59.324 -0,67 -82.956 -0,73 -867.113 -5,17
Lucro Operacional após resultado Financ 460.124 5,23 616.144 5,42 583.474 3,39
Receitas/despesas não operacionais -15.976 -0,18 138.219 1,22 -14.674 -0,09
Lucro Antes do IR/CS 444.148 5,05 754.363 6,64 568.800 3,31
Provisão IR e contribuição social -226.687 -2,58 -331.360 -2,92 -420.500 -2,45
Lucro Líquido do Exercício 217.461 2,47 423.003 3,72 148.300 0,86

Observe que, ao lado do valor relativo a cada conta ou grupamento, temos a


participação percentual em relação aos totais – do ativo, do passivo ou da receita, con-
forme o caso. Podemos então iniciar a análise pela análise vertical dos relatórios ajus-
tados.
Nas contas do ativo, vemos que as contas do permanente representam 62,26%
do total. Tal dado nos informa que uma parcela relevante dos capitais da empresa está
investida no imobilizado. Vemos, também, que a conta clientes participa com 25,44%
do total do ativo. É, de longe, a conta mais significativa do grupo circulante, indicando
que a empresa efetua suas vendas predominantemente a prazo. Esse é um dado que
já nos alerta sobre a necessidade de analisar seu ciclo financeiro, o que faremos de-
pois.
Vamos agora para as obrigações. No patrimônio líquido, os capitais próprios
correspondem a apenas 12,68% do total das fontes, demonstrando que os recursos de
terceiros são essenciais para tocar as atividades da empresa. Mas que tipo de recur-
sos de terceiros?
Note que são representados principalmente por empréstimos bancários (29,14%
de curto e 13,31% de longo prazo) e pelo parcelamento de impostos (14,84% no longo
prazo). Se contarmos toda a dívida onerosa (passivo circulante financeiro e emprésti-

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116
Análise Econômico-Financeira de Empresas

mos e impostos parcelados de longo prazo), notamos que a soma representa 67,72%
do total.
Podemos perceber que o quadro já não parece bom, com base só na análise
vertical do balanço. Vamos agora à DRE, pois é possível que a operação da empresa
seja ainda mais lucrativa que o custo de todo esse passivo oneroso, de forma que esse
grau de endividamento esteja justificado. Será?
Na DRE podemos perceber que esse não parece ser o caso, embora a situação
ainda não pareça tão grave. As despesas financeiras consomem 5,04% do montante
das vendas e, fazendo o cálculo, quase 60% do lucro operacional.
Isso quer dizer, como ponto positivo, que a operação da empresa suportaria es-
se nível de dívida, já que gera resultado operacional superior a esse custo e os resul-
tados são positivos mesmo depois do resultado financeiro. Se calcularmos o indicador
de rentabilidade sobre o PL com base só em 2012, teremos 17%, número que parece
bastante razoável.
Chegou então a hora da análise horizontal. Vamos ver para onde a empresa es-
tá se encaminhando. Já vimos que, apesar da estrutura alavancada, a situação não
seria desesperadora, desde que soubéssemos que existe uma tendência de melhora
ou, no mínimo, de estabilidade do quadro atual para os próximos exercícios. Vamos ver
então se é isso que está acontecendo.
Vamos começar pelas contas do balanço, depois passaremos para os indicado-
res a seguir, que devem tornar o quadro mais claro.
Observe que o patrimônio líquido vem perdendo espaço como fonte de financi-
amento. De 64,11% no primeiro ano, passou para 29,69% no segundo, para represen-
tar apenas 12,68% do ativo no último ano analisado. Isso importa dizer que há uma
tendência de crescimento na participação de capitais de terceiros, e de capitais onero-
sos também. Isso também nos sinaliza um desequilíbrio em seu giro. Vamos seguir em
frente com a análise dos índices a seguir, lembrando que os índices-padrão são forne-
cidos pelo Banco para empresas do ramo e porte da analisada, na mesma região geo-
gráfica.

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117
Análise Econômico-Financeira de Empresas

Os índices confirmam o que já observamos na análise horizontal das contas do


passivo, evidenciando a tendência forte de piora na situação econômica, não só na
evolução dos indicadores, como na comparação com os indicadores-padrão.
Podemos perceber que os retornos positivos destacados na análise vertical
apresentam clara tendência de queda. A única informação conflitante com esse quadro
parece ser uma melhora, em 2011, nos indicadores de rentabilidade. Porém, quando
vamos à DRE buscar sua razão, notamos que em 2011 houve um resultado não opera-
cional de valor significativo, o que elevou o lucro líquido. Como não se trata de resulta-
do recorrente (pode ser, por exemplo, uma venda de imobilizado) não podemos contar
com ele para os próximos exercícios.
Podemos notar que a empresa cresceu fortemente no período analisado. A ROL
cresceu 95% e o lucro operacional quase triplicou, mas quando olhamos as despesas
financeiras, estas cresceram muito mais, 14 vezes. Em 2010, representavam 11% do
lucro operacional, cresceram em 2011 e, em 2012, já passaram a quase 59%. Nova-
mente, outro indício de que há algo errado com a estratégia, ou com sua implementa-
ção, ou com as duas coisas.
Repare também que o grau de alavancagem (GAF) aponta que os custos pagos
pelos capitais investidos não proporcionaram ganho em 2012. Ao contrário, indicam

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118
Análise Econômico-Financeira de Empresas

que houve perda no montante dos capitais investidos na empresa em função das des-
pesas financeiras incorridas. Em 2011, como já sabemos, o indicador está enganosa-
mente elevado, em virtude do resultado não operacional.
Podemos ainda complementar a análise com o estudo do EBITDA. Por não ter-
mos dados sobre o valor da depreciação (o que na prática é bastante comum), será
possível apenas calcular o EBIT, que é o lucro operacional antes das despesas finan-
ceiras.

2010 2011 2012


EBIT 519.448 699.100 1.450.587
Margem EBIT (%) 6,8% 7,1% 9,7%
Disponibilidades 45.633 223.094 11.700
Dívida Bancária 365.930 2.616.429 2.899.950
Dívida Financeira Líquida 320.297 2.393.335 2.888.250
Dívida Fin Líquida/EBIT (x) 0,62 3,42 1,99
Resultado Financeiro Liq. -59.324 -82.956 -867.113
EBIT/Res. Financeiro Liq. (x) 8,76 8,43 1,67

Nesse caso, também, a situação é de piora, em função da escalada das despe-


sas financeiras pelo aumento da exposição de curto prazo de maior custo. Curiosa-
mente, porém, vale a pena registrar que a margem EBIT (EBIT/ROL) vem crescendo,
ainda que não na mesma proporção das despesas financeiras.
De qualquer forma, diante da situação exposta, é possível afirmar que, confir-
mando nosso diagnóstico baseado na análise vertical, a situação econômica pode ser
considerada ruim.
Falta, agora, a análise financeira. Como você irá perceber, ela está diretamente
ligada à análise econômica, em que já havíamos antecipado prováveis problemas na
administração do capital de giro, o que ficará evidenciado na análise dos indicadores
abaixo:

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119
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Os indicadores de giro revelam com clareza qual é o problema. A ROL, como já


observamos, é crescente e, para bancar o incremento das vendas e o prazo concedido
para seu pagamento, cresceram as necessidades operacionais de giro (NCG), em con-
sequência do aumento do montante das contas clientes e estoques.
Como não possui disponibilidade de capital de giro (CDG), dado o elevado mon-
tante investido em ativos fixos, a empresa se utiliza de recursos de terceiros para su-
portar as aplicações operacionais em giro. Podemos observar que ela não tem conse-
guido suprir o aumento da NCG com fontes cíclicas, como, por exemplo, com a conta
fornecedores (o que significaria maiores prazos de pagamento para as compras). As-
sim, tem recorrido sistematicamente a fontes onerosas, no último exercício também em
operações de desconto de duplicatas.
Como resultado dessa dinâmica, o saldo de tesouraria (ST) mostra-se negativo,
crescente e em volume significativo com relação às vendas. Isso decorre: a) da eleva-
ção de investimento em giro, principalmente no que se refere a estoques, e b) da redu-
ção das fontes próprias, observada pela involução do PL (que não ocorre no balanço
enviado para a análise, revelando um fator de risco adicional: a baixa qualidade dos
documentos contábeis).

Evidenciando o que já antecipamos, veja que os prazos médios (PMR – PME –


PMC) praticados indicam que a analisada apresenta ciclo financeiro (CF) crescente.
Note que para aumentar as vendas é necessário manter um estoque maior e atrair cli-
entes oferecendo algum diferencial, normalmente preço ou prazo.
Nesse caso, a empresa não sacrificou suas margens de lucro operacional para
crescer, mas o fez por meio da concessão de prazos. Como está claro, a empresa bus-

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120
Análise Econômico-Financeira de Empresas

cou e conseguiu o crescimento, mas negligenciou a análise e o planejamento das fon-


tes de recurso que permitiriam que o fizesse com segurança.
Isso mostra que, de certa forma ao contrário do que prega o senso comum, o in-
cremento das vendas, por si só, não é fator suficiente para melhorar a performance de
uma empresa em dificuldade. Pelo contrário, se mal administrado e efetuado de manei-
ra descontrolada, pode levar uma empresa sólida à insolvência.
Além disso, a análise dos indicadores de liquidez (LC – LS – LG) já mostra tam-
bém que, sob o aspecto de solvência, a empresa já não possui capacidade para saldar
todos os seus compromissos, em caso de necessidade, e já apresentaria problemas
caso houvesse uma retração do crédito bancário e dificuldades de refinanciamento da
dívida de curto prazo.

Conclusão
Com base nas análises efetuadas, podemos concluir com segurança que a situ-
ação econômico-financeira da empresa analisada é ruim, e com indícios de que cami-
nha para a insolvência.
Veja que, com as peças contábeis ajustadas, seguindo os passos descritos e
utilizando os referenciais de análise estudados, não foi difícil emitir um parecer funda-
mentado sobre a situação econômico-financeira da empresa do exemplo.
Para finalizar nosso diagnóstico, seria ainda necessário estabelecer a relação
dos números analisados com as informações mercadológicas e empresariais já obti-
das, bem como entender como a própria empresa enxerga sua situação e quais seus
planos futuros. Muitas dicas já foram dadas pelas próprias informações analisadas, e é
hora de confirmá-las ou complementá-las.
Por exemplo, caso descobríssemos que a Laticínios Boa Fé planeja manter o
nível de crescimento e expandir os segmentos de atuação, como descrito no enuncia-
do, a situação irá tornar-se ainda mais grave, uma vez que apuramos que um dos prin-
cipais problemas para a piora na situação econômico-financeira apurada é, justamente,
o crescimento descontrolado.

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121
Análise Econômico-Financeira de Empresas

Tais dados confirmariam, portanto, que para esse caso a estratégia indicada se-
ria de negar a proposta de financiamento (ou reduzir a exposição, se já formos financi-
adores).
Por outro lado, porém, consideremos a seguinte alternativa: a empresa mostra-
se ciente de sua situação e está demandando um alongamento de sua dívida de curto
prazo – alternativa essa que já teria sido aceita por outros bancos credores – para que
tivesse maior folga de capital de giro. Juntamente com isso, mostra-se comprometida
em controlar o ritmo de crescimento e disposta a obedecer a eventuais cláusulas con-
tratuais que limitem seu endividamento e controlem a relação entre despesas financei-
ras e lucro operacional.
Nesse caso, a decisão seria tão simples? Obviamente que não. Apesar da ten-
dência ruim, vimos que a empresa gera resultados operacionais e com margens cres-
centes. Seu problema é, principalmente, a dependência crescente de recursos onero-
sos de alto custo e curto prazo, em função de um crescimento descontrolado, que a faz
caminhar para a insolvência. Caso esse ciclo seja interrompido, talvez a empresa pos-
sa voltar a ser viável.
Para buscar mais subsídios para amparar tal decisão, seria importante um estudo mais
detalhado das ameaças e oportunidades, pontos fortes e pontos fracos da empresa em
seu relacionamento com clientes, fornecedores, concorrentes, sócios e funcionários,
bem como em relação ao ambiente econômico, legal e regulatório. É o que estudare-
mos no capítulo a seguir.

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122
Análise Econômico-Financeira de Empresas

ANÁLISE EMPRESARIAL E MERCADOLÓ-


GICA
Objetivos:
 Identificar principais aspectos empresariais e mercadológicos a serem observa-
dos na análise de uma empresa.
 Descrever a relação entre esses aspectos e a situação econômico-financeira já
apurada, como forma de aprimorar o processo de decisão.

Nas discussões ao longo do curso foram levantados diversos exemplos em que


variações significativas nos índices calculados ou nos valores das contas do balanço,
ou da DRE, deveriam chamar nossa atenção, uma vez que afetariam de alguma forma
a situação econômico-financeira da empresa.
Na maioria dos casos, como ocorreu na análise dos Laticínios Boa Fé do capítu-
lo anterior, será possível concluir se a evolução dos números indica uma tendência
favorável ou desfavorável e, em uma parte deles, será inclusive possível diagnosticar
se a situação econômico-financeira é boa ou ruim, exclusivamente com base nos nú-
meros apresentados.
Obviamente, nossa tarefa fica facilitada nos casos mais extremos. Uma empresa
que tenha elevada participação de capitais próprios como fonte de recursos, dinâmica
de giro favorável, seja operacionalmente lucrativa e apresente bons índices de rentabi-
lidade – consistentes e estáveis – estará, claramente, em boa situação econômico-
financeira.
Por outro lado, uma empresa com passivo a descoberto ou em queda, com dívida
onerosa de valores elevados e perfil de vencimento concentrado no curto prazo, que conte
com despesas financeiras crescentes e que não tenha apresentado resultados operacio-
nais positivos estará, necessariamente, em situação econômico-financeira ruim.

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123
Análise Econômico-Financeira de Empresas

Muitas vezes, porém – podemos até dizer que na maioria das vezes – a situação
será intermediária. Por exemplo, a empresa apresenta estrutura de capitais desfavorá-
vel, mas tem se mostrado lucrativa e em recuperação. Ou é uma empresa historica-
mente sólida, mas que está realizando investimentos para expansão e vem comprome-
tendo seu capital de giro. Ou, ainda, pode também ser uma empresa em situação regu-
lar, sem grandes destaques, tanto economicamente como financeiramente.
Nesses casos, principalmente, é essencial que a empresa seja avaliada em um
contexto mais amplo, e que sejam ponderadas as influências, ameaças e oportunida-
des externas, com o objetivo de compreender de que forma e em que intensidade suas
características societárias, as estratégias da empresa e as informações produzidas
pela análise econômico-financeira efetuada, em conjunto, tornam a empresa frágil ou
não a modificações econômicas ou de mercado que estejam fora de seu controle e ca-
pacidade de previsão 5.
Assim, com base nesse cenário mais amplo, será possível identificar aspectos
gerais e pontuais de risco, que permitirão que a decisão de crédito (valor e condicio-
nantes) esteja o mais adequada possível ao perfil do cliente.
Sem a pretensão de esgotar o assunto, já que cada caso é único e os potenciais
fatores de influência são inumeráveis, vamos discutir os principais pontos aos quais
precisamos estar atentos e sobre os quais devemos buscar informações nos meios
disponíveis, já que podem ter relevância real na avaliação da situação econômico-
financeira e capacidade de pagamento futura das operações com o Banco.

Estrutura acionária/societária
É importante verificar, entre outros fatores, a composição societária da empresa
e do grupo em que está inserida: se o controle é familiar ou não, se a família participa

5
É muito difícil, ou quase impossível, prever exatamente quando e em que intensidade haverá uma desvalorização
cambial, ou qual será exatamente a estratégia da concorrência, ou qual será a reação do mercado consumidor ao
novo produto lançado. Por isso, mais importante que a previsão exata, é avaliar o potencial impacto das diferentes
possibilidades de desfechos, e em que medida a empresa se mostra robusta ou frágil em relação a eles.

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124
Análise Econômico-Financeira de Empresas

da direção, se há litígio entre os sócios e se há perspectivas de mudança futura de


controle, na empresa e no grupo econômico.
Tais fatos são relevantes para se compreender a capacidade de suporte dos controla-
dores, bem como a disposição para realizá-lo, em caso de necessidade. Muitas subsi-
diárias brasileiras de grandes grupos globais não apresentam boa situação econômico-
financeira e, em alguns casos, inclusive prejuízos recorrentes. No entanto, a capacida-
de de suporte do controlador, quando considerada juntamente com informações sobre
disposição de realizar novos investimentos e ampliar a operação no Brasil, pode mini-
mizar substancialmente o risco percebido, mesmo na ausência de uma possível coo-
brigação formal da matriz aos contratos. Da mesma forma, o fato de a empresa ter con-
trole estatal ou ser de interesse estratégico para a administração pública pode, tam-
bém, ser considerado mitigador de risco.
Por outro lado, o risco pode ser majorado em caso de litígio entre os controlado-
res e/ou percepção de falta de experiência e/ou competência por parte de controlado-
res, principalmente quando acumulam a função de dirigentes. Obviamente, o histórico
e o caráter dos sócios, por meio da análise das restrições cadastrais e de informações
recebidas ou pesquisadas nas fontes disponíveis, também são fatores relevantes.

Estratégia
A compreensão da estratégia está, em muitos pontos, relacionada ao item ante-
rior. Sua compreensão é importante para justificar fatores observados na análise e pa-
ra que possamos vislumbrar os possíveis cenários futuros, o que deve, também, signi-
ficar aumento ou redução do risco percebido.
O risco será aumentado, por exemplo, caso se apure que uma empresa varejis-
ta, já com início de desequilíbrio financeiro verificado na análise de seus números,
mantém a estratégia de elevar a participação no mercado e aumentar o volume de
vendas por meio, por exemplo, da expansão de lojas, sem que busque as fontes de
recurso adequadas para tanto.
Poderá, também, ser reduzido (nesse caso com base em ponderação cuidado-
sa) se a empresa justificar um aumento de dívida, pontual e planejado, como resultado
de um investimento no desenvolvimento de um produto que complementará seu portfó-

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125
Análise Econômico-Financeira de Empresas

lio, ou que servirá para aproveitar uma oportunidade identificada de crescimento que
irá permitir crescimento das margens operacionais, com redução da dívida nos exercí-
cios seguintes.
Obviamente, nesses casos, o perfil agressivo ou conservador das estratégias (e
dos dirigentes) deve ser considerado, bem como o usual viés de otimismo de empresá-
rios e dirigentes (muitas vezes também da instância proponente) na visualização do
futuro.

Concorrência
É importante entendermos qual a importância da empresa no(s) mercado(s) em
que atua e em que medida ela seria afetada pela entrada de novos concorrentes ou por
ações (de redução de preço, por exemplo) de seus concorrentes atuais.
É importante também identificar eventuais produtos e tecnologias substitutas,
que possam tornar obsoletos os produtos da empresa e, nesse caso, qual é a consci-
ência da empresa sobre o assunto e sua estratégia de reação.

Clientes, fornecedores e matéria-prima


Em ambas as pontas, devemos nos preocupar com o poder de barganha da em-
presa, ou seja, em que medida ela está sujeita a imposições de condições de volume,
preço e prazos a seus clientes e fornecedores, que podem afetar diretamente os indi-
cadores de giro (por exemplo, pela exigência de prazos de pagamento ou recebimen-
to), ou se, pelo contrário, a empresa se relaciona com clientes e fornecedores de me-
nor porte e tem poder de impor condições sobre eles.
Além do porte das empresas envolvidas, ou da exclusividade do produto ou tec-
nologia, o poder de barganha está ainda diretamente relacionado com a diversificação
ou concentração das compras e vendas em clientes e fornecedores. De maneira geral,
a diversificação de clientes e fornecedores, bem como de produtos comercializados, é
salutar, enquanto o contrário pode significar que o negócio tem risco mais elevado.
Pode ainda haver riscos adicionais na ponta do fornecedor, caso não haja alterna-
tivas para a aquisição da matéria-prima utilizada, ou caso haja risco de interrupção de
fornecimento. Deve ainda ser observado o grau de dependência de matérias-primas im-
portadas e, nesse caso, como a empresa se relaciona com os fornecedores externos.

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

Câmbio
No caso de fornecedores ou clientes externos, devemos também saber qual a
estratégia adotada pela empresa para administrar seu risco cambial, já que o valor das
dívidas em moeda estrangeira crescerá proporcionalmente, no caso de uma desvalori-
zação da moeda local. A valorização da moeda, por outro lado, pode prejudicar uma
empresa eminentemente exportadora, já que seus produtos se tornam mais caros.

Sistema financeiro
Além da informação sobre o número de bancos de relacionamento em crédito,
que está disponível no SCR, é importante que busquemos também saber quais são
essas instituições e em quais valores e condições financiam a empresa. A interpreta-
ção de tais informações nem sempre é óbvia e há um componente estratégico envolvi-
do (existem empresas que optam por não concentrar relacionamento e outras preferem
estreitar relações com poucos bancos).
De maneira geral, porém, a concentração em um ou poucos bancos aumenta o
risco de refinanciamento das dívidas, caso sejam necessárias. Da mesma forma, a
presença de muitos bancos de pequeno porte pode indicar dificuldades na obtenção de
crédito, e pode sugerir que a empresa está disposta (ou tenha necessidade de) pagar
caro pelos recursos, o que pode ser cotejado com a informação dos demonstrativos.
Nos casos de o relacionamento estar concentrado em bancos de primeira linha,
saber quais são os valores e condições de prazo e garantia praticados pode dar dicas
sobre qual a percepção de risco dessas instituições sobre a empresa, informação que,
analisada criticamente, pode também contribuir para a nossa percepção de risco.
Como já dissemos, além dos fatores expostos, mais comuns no dia a dia da análise,
inúmeros outros fatores podem exercer influência no negócio da empresa, como ques-
tões regulatórias, ambientais ou políticas, questões relacionadas à imagem e a recla-
mações de consumidores, problemas no relacionamento com funcionários, gerando
greves, paralizações de produção ou sabotagem, etc.

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

Concluindo
Cabe ao analista, com base nas informações recebidas e nas pesquisas realiza-
das, apurar no momento da análise a relevância de cada um dos aspectos discutidos,
estabelecer a relação deles com os números apresentados e identificar eventuais e
potenciais consequências sob o ponto de vista de risco de crédito.
Note também que a situação econômico-financeira – ou o desempenho – não
pode ser analisada isoladamente. É fácil perceber, por exemplo, que uma empresa que
tenha apresentado resultados bons e estáveis, mas que tenha suas vendas concentra-
das em um produto prestes a se tornar obsoleto pelo lançamento de novas tecnologia,
ou, sendo importadora, não tenha política de proteção contra variação cambial, podem
apresentar maior risco do que outra, com resultados apenas regulares, não apresente
fragilidades como as citadas.
Retomando, então, nossa análise dos Laticínios Boa Fé, agora com foco nos fa-
tores empresariais e mercadológicos: informações positivas relativas à administração,
posicionamento de mercado e estratégia poderiam, como dissemos, nos levar a consi-
derar a hipótese de participar do reperfilamento da dívida, desde que atendidas todas
as condições que entendêssemos necessárias.
Por outro lado, é fácil perceber que, se em nossas pesquisas e contatos com a
agência e o cliente, apurássemos a existência de riscos potenciais já discutidos nos
itens anteriores, a decisão de negar a concessão de limite ou de reduzir a exposição
com o cliente estaria definitivamente consolidada.

Concluímos, assim, o que é, em linhas gerais, o percurso realizado pelo


analista durante o processo de análise. Obviamente, cada caso contará
com suas próprias peculiaridades e serão diferentes os aspectos a serem
observados. No entanto, esperamos ter demonstrado neste capítulo a rele-
vância de se compreender a ligação entre a situação econômico-financeira,
que aprendemos a apurar, e os demais aspectos internos e externos que
afetam os negócios de uma empresa.

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APÊNDICE

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OUTROS INDICADORES
Abordaremos a seguir algumas ferramentas que, embora não sejam adotadas
sistematicamente pelo Banco, são utilizados no mercado para avaliação de empresas.
O seu conhecimento, mesmo que superficial, torna- se importante na medida em que
você poderá deparar-se com empresários que os abordam ao avaliar suas empresas.

Valor adicionado
O valor adicionado, também chamado valor agregado, tem íntimo relaciona-
mento com o processo do ciclo operacional da empresa. Refere-se a valores alocados
na remuneração direta e indireta de recursos humanos, dividendos, juros sobre capital
próprio, retenções, participação dos administradores e empregados nos resultados e
impostos.
A CVM incentiva a divulgação voluntária da Demonstração do Valor Adicionado
(DVA). Tal demonstração tem como objetivo principal informar o valor da riqueza criada
pela empresa e a forma de sua distribuição. Não deve ser confundida com a demons-
tração do resultado do exercício, pois esta tem suas informações voltadas quase que
exclusivamente para os sócios e acionistas, principalmente na apresentação do lucro
líquido, enquanto a DVA está direcionada para a geração de riquezas e sua respectiva
distribuição pelos fatores de produção (capital e trabalho), e é dirigida, também, ao go-
verno.
Neste ponto de vista, um produto ou uma empresa será tanto melhor para a
economia do país a que pertence quanto maior for seu valor agregado.

EVA e MVA
EVA, ou valor econômico adicionado, na sigla em inglês, é o retorno que excede
às expectativas de remuneração dos capitais aplicados. Os investimentos criam valor e
mostram-se economicamente atraentes quando o retorno obtido nas aplicações exce-

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der à taxa requerida na alocação dos recursos na empresa. Criar valor para os acionis-
tas significa elevar o valor da empresa para deixá-los mais ricos.
O EVA é uma medida de performance econômica que constitui ferramenta de
gerenciamento de negócios. O objetivo do EVA é assegurar que as decisões tomadas
no dia a dia de determinada empresa tenham como foco a criação de valor.
O EVA, como medida de desempenho, é a simples noção do lucro residual em
sua forma mais fundamental, ou seja, para que investidores realizem uma taxa de re-
torno adequada, o retorno deve ser grande o suficiente para compensar o risco. Assim,
o lucro residual é zero se o retorno operacional de uma empresa for apenas igual ao
retorno exigido em troca do risco.
Vamos exemplificar. Admitamos a implantação de uma lanchonete por R$
50.000,00, com recursos próprios. Os investidores possuem como custo de oportuni-
dade (maior remuneração que teriam aplicando seus capitais em outros investimentos)
anual e constante de R$ 10.000,00. Assim, aplicam seus recursos estimando retorno à
taxa de 20% ao ano que, para fins didáticos, não será capitalizada. Nessas condições,
o fluxo de investimento estaria assim representado:

Capital inicial: $ 50.000


Custo de oportunidade: 20% a.a.
Passados três anos do investimento inicial, os acionistas constataram que os resul-
tados projetados inicialmente (R$ 10.000,00 ao ano) foram alcançados nos seus exatos
valores, em nada superiores às expectativas iniciais. Verificaram, também, que o valor de
mercado da lanchonete estava sendo determinado pela sua capacidade de geração de
resultados para os anos seguintes, ou seja, caso mantivesse constante o fluxo até então
10.000
gerado, o valor de mercado da lanchonete seria de R$ 50.000,00 ( ).
0,20

Do que foi visto, conclui-se que os resultados apresentados não agregaram nem
destruíram valor à empresa; os investidores não ficaram nem mais ricos nem mais po-

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bres, ou seja, a empresa não obteve EVA e nem MVA (valor de mercado adicionado,
na sigla também em inglês), conforme segue:

Capital inicial: $ 50.000


Custo de oportunidade: 20% a.a.

Capital inicial: $ 50.000


Custo de oportunidade: 20
10.000
Valor de mercado: $ 50.000,00 ( )
0,20

MVA = $ 50.000,00 - $ 50.000 MVA = 0

No entanto, para os anos seguintes, os acionistas desejam que a lanchonete


supere as expectativas inicialmente previstas. Para tanto, planejam maximizar os resul-
tados, incrementando as receitas e reduzindo custos, projetando, então, retorno de R$
12.500,00 ao ano, originando o seguinte fluxo de investimento:

Capital inicial: $ 50.000


Custo de oportunidade: 20% a.a.

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

EVA (excedente da remuneração): R$ 2.500,00


Capital inicialmente empregado: R$ 50.000,00
10.000
Valor de mercado da empresa: R$ 62.500,00 ( )
0,20

MVA*: R$ 12.500,00
*MVA = Valor de mercado da empresa (–) Capital total investido.

Desta forma, se a empresa conseguisse gerar R$ 2.500,00 anuais além do re-


torno inicialmente exigido pelos investidores, obteria EVA e, consequentemente, adici-
onaria valor ao seu ativo no montante de R$ 12.500,00. Assim, conclui-se o seguinte:
• o EVA mede a diferença entre o retorno sobre os capitais de uma empresa
e o custo desses capitais;
• EVA positivo indica que se criou valor para os acionistas; se negativo, indi-
ca destruição de capital;
• o MVA reflete o impacto do EVA no valor de mercado da empresa. Mede
quanto a empresa valorizou-se pelo fato de obter EVA positivo, ou quanto
desvalorizou-se por ter gerado EVA negativo. O MVA é, ainda, o valor pre-
sente dos EVA futuros, descontados à taxa de retorno desejada pelos acio-
nistas.
Pode-se agregar valor à empresa e, consequentemente, aos acionistas, aumen-
tando o lucro operacional, seja pelo incremento de receitas, seja pela redução de cus-
tos. Outras maneiras de agregar valor aos acionistas são:
• utilizar mais capital de terceiros e menos capital próprio;
• reduzir os ativos operacionais;
• reduzir o custo do capital próprio e de terceiros;
• aumentar o giro.
No entanto, devemos ter presente que, quando o administrador procura incre-
mentar o EVA da empresa via aumento de capitais de terceiros, deve estar atento para
o fato de que essa alternativa tem limite, pois, a partir de determinado patamar, o re-
sultado poderá mostrar-se inverso, uma vez que os financiadores poderão passar a

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Análise Econômico-Financeira de Empresas

exigir juros mais elevados para continuarem concedendo novos créditos. Como é sabi-
do, empresas mais endividadas oferecem maiores riscos; riscos mais elevados impli-
cam juros maiores; juros maiores acarretam lucros menores e, consequentemente,
EVA e MVA também menores e, até mesmo, negativos.

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