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FINANCEIRA DE EMPRESAS
Julho de 2013
Realização:
Banco do Brasil
Diretoria Gestão de Pessoas
Diretoria de Crédito
Nenhuma parte deste caderno poderá ser reproduzida, sejam quais forem os mei-
os empregados (mimeografia, xerox, datilografia, gravação, reprodução em disco
ou fita), sem permissão por escrito do Banco do Brasil. Aos infratores aplicam-se
as sanções previstas no Título VII, capítulo II Das Sanções Civis, da Lei nº 9.610,
de 19 de fevereiro de 1998
.
Educando para a sustentabilidade
Papel
Desenvolver a excelência humana e profissional de seus públicos, por meio da criação
de valor em soluções educacionais, contribuindo para a melhoria do desempenho organi-
zacional e para o fortalecimento da imagem institucional do Banco do Brasil.
O profissional
O atual contexto empresarial, altamente dinâmico, exige profissionais igualmente dinâmi-
cos que possam situar-se como protagonistas de sua trajetória pessoal e profissional. Que
sejam capazes de se manter atualizados com os acontecimentos do mundo e, a partir de
seus valores e relacionamentos, refletir sobre a influência desses fatos na organização do
trabalho e na sociedade. Que elaborem, por fim, respostas novas aos novos problemas.
Essa atitude exige do profissional o comprometimento ético, assim como exige do Banco a
oferta de condições de desenvolvimento e de trabalho para que sejam firma- dos compro-
missos nas seguintes dimensões:
C o m p r o m i s s o c o n s i g o m e s m o : a u t o d e s e n v o l v i m e n t o , a u t o n o m i a , autoconheci-
mento, qualidade de vida, construção de projeto de vida (pessoal e profissional) e coerên-
cia entre sua prática e seus valores.
Compromissos com os outros sujeitos: apoio mútuo, aprendizagem coletiva, coopera-
ção, solidariedade, empatia, reciprocidade, transparência, atitude dialógica, tolerância,
aceitação e valorização da diversidade humana.
Compromissos com o trabalho : reflexão sobre a natureza e o sentido do trabalho,
aprimoramento permanente da sua qualificação – por meio do acompanhamento das ciên-
cias e tecnologias – e de sua atuação profissional – por meio da sua participação na cons-
trução e reconstrução da realidade.
Compromissos com a Organização: conhecimento e realização das estratégias e dos
objetivos organizacionais, seja no âmbito mercadológico ou no tocante às suas funções
sociais, gerindo as possíveis tensões entre esses dois papéis.
Compromissos com a sociedade: atuação crítica, democrática e transformadora nas
redes sociais em que se insere, para fortalecer os princípios de solidariedade, justiça soci-
al, cidadania e sustentabilidade ambiental.
APRESENTAÇÃO
O processo de crédito compreende o conjunto de ações que envolvem as operações
de empréstimo, financiamento ou prestação de garantias aos clientes. No nível operacional,
essas ações vão desde a identificação do cliente até ao retorno dos capitais emprestados.
No Banco do Brasil, esse processo foi estruturado levando-se em conta a premissa de
que o risco de crédito compõe-se de acordo com a seguinte equação:
RISCO DO CLIENTE
RISCO DE CRÉDITO = +
RISCO DA OPERAÇÃO
O conjunto de cursos direcionados à área de crédito foi planejado com base nes-
ses componentes, e tem o objetivo de apresentar o processo de maneira global, nos cur-
sos introdutórios, com opções para desenvolvimento de conhecimento específico.
Os cursos considerados básicos são:
Introdução ao Processo de Crédito: oferece abrangente visão do processo de crédito.
Cadastro. Oferece diretrizes necessárias para a confecção e a manutenção de um ca-
dastro com informações completas, confiáveis e atualizadas.
Risco de Clientes. Aborda as formas adotadas pelo Banco para a atribuição do risco
do cliente e o estabelecimento do limite de crédito.
Risco de Operações. Refere-se especificamente à concretização do negócio de crédi-
to, que se inicia com uma efetiva proposição por parte do cliente – empréstimo ou fi-
nanciamento. Logo, pressupõe que as etapas anteriores, de elaboração ou atualização
da ficha cadastral e de atribuição do risco e estabelecimento do limite de crédito já te-
nham sido superadas.
Além dos cursos citados, existem cursos para aprofundamento de temas especí-
ficos, como este, destinado à análise econômico-financeira de empresas com a finali-
dade de crédito
Assim, este treinamento integra as ações voltadas para a formação profissional
dos funcionários responsáveis pela viabilização do principal negócio de um banco –
emprestar e receber, para novamente emprestar, em um ciclo contínuo.
Está direcionado especificamente àqueles que, direta ou indiretamente, nas
agências ou nas unidades da Direção Geral, se relacionem com empresas clientes ou
potenciais clientes, com vista ao estabelecimento de risco e limite de crédito, condição
necessária para o início do relacionamento em crédito.
Desta forma, além das pessoas que se ocupam da análise do crédito, interessa,
também, àquelas que participam indiretamente da análise de empresas, pela coleta de
informações, ou que dela se utilizem, deferindo e gerenciando operações de crédito.
O CURSO
Informações básicas
Objetivo geral
Esperamos que, ao final do curso, o participante, tomando por base informações extraídas
dos documentos e demonstrações contábeis, seja capaz de analisar uma empresa 1 sob a
ótica de sua situação econômico-financeira.
Desempenho esperado
Informações complementares
Metodologia
Este curso é autoinstrucional. Isso significa que o material deve permitir a aprendizagem indi-
vidual, sem exigir a presença física do Educador.
Mas aprendizagem individual não quer dizer necessariamente estudar sozinho. Pelo contrá-
rio. Formar grupo de estudos traz inúmeras vantagens, consideradas, sempre, as condições
da dependência e as necessidades de treinamento.
Tempo
Uma das grandes vantagens do treinamento autinstrucional é a liberdade que ele dá a cada
participante de desenvolver os estudos dentro de seu próprio ritmo. Entretanto, o grupo que
participou do piloto para validação deste curso considerou o tempo de trinta horas de estu-
do, mais duas para a VA, suficientes para a conclusão do treinamento.
1
Embora o conteúdo seja, na maioria dos casos, aplicável a diversos tipos de pessoa jurídi-
ca, o curso é direcionado à análise de empresas e grupos empresariais.
Público-alvo
Funcionários dos segmentos gerencial, técnico e operacional que exerçam funções de aná-
lise de clientes ou de operações.
Verificação da aprendizagem
Será considerado aprovado o candidato que obtiver aproveitamento mínimo de setenta por
cento.
ÍNDICE
Introdução ....................................................................................... 8
Exercícios ..................................................................................... 43
Exercícios ..................................................................................... 73
Exercícios ..................................................................................... 96
INTRODUÇÃO
Conceder crédito é uma das razões da existência de um banco comercial. Pode
ser um ótimo negócio quando bem administrado, mas, em caso contrário, pode rapi-
damente levar a instituição à falência.
Por esse motivo, é normal que os bancos mantenham estruturas específicas pa-
ra cuidar do crédito, desde a administração da carteira e desenvolvimento de metodo-
logias, até à análise propriamente dita de clientes, que no Banco, para as empresas,
ocorre de forma individualizada a partir de determinados valores.
Diferentemente das pessoas físicas, as empresas não existem fisicamente e,
por isso, são mais complexas. Suas ações são produto das ações e intenções de acio-
nistas, dirigentes e funcionários, que nem sempre são coordenadas. Ao mesmo tempo,
elas também influenciam e são influenciadas pelo ambiente em que estão inseridas, de
maneiras muitas vezes imprevisíveis e nem sempre sob seu controle.
Essa complexidade torna difícil a tarefa de encontrar motivos precisos para os
fatos ocorridos e de prever exatamente qual será o futuro. Mas esse não é o objetivo
principal da análise de crédito.
Na análise de crédito, o essencial é que possamos, por meio da coleta, trata-
mento e análise crítica e integrada dos dados e informações disponíveis, identificar
tendências, pontos fortes e pontos fracos, além de oportunidades e ameaças às quais
a empresa analisada possa estar exposta. O objetivo é que possamos chegar ao final
do curso com uma boa idéia de como se fazer isso.
Esse curso está, portanto, está voltado essencialmente às pessoas que se ocu-
pem da análise de risco de clientes pessoas jurídicas. Interessa, também, àqueles que
participam indiretamente da análise, coletando as informações e negociando direta-
mente com o cliente, bem como deferindo e gerenciando crédito.
de baixa participação de capital de terceiros tende a estar relacionada com menor ne-
cessidade de liquidez.
No entanto, uma administração deficiente de capital de giro pode levar uma em-
presa lucrativa e com boa situação econômica a não ser capaz de cumprir suas obriga-
ções de curto prazo, por falta de disponibilidades financeiras, ou mesmo, de forma gra-
dual, resultar no crescimento do endividamento e das despesas financeiras, até o pon-
to em que os resultados gerados não sejam mais suficientes para o cumprimento das
obrigações. Veremos esses pontos em capítulos posteriores.
Nosso curso irá considerar tais diferenças e detalhar os principais aspectos de
cada uma das abordagens, ambas efetuadas com base em informações extraídas dos
relatórios contábeis e de informações complementares prestadas pelo cliente. Chegou
a hora, então, de tomarmos contato com esses documentos.
Documentos contábeis
• balanços patrimoniais (BP) e demonstrações de resultado (DRE) dos últimos
três exercícios (para permitir a análise de tendências), assinados pela empresa
e por contador ou publicados, preferencialmente auditados por empresa espe-
cializada independente, principalmente nos casos em que houver previsão para
isso na legislação. Em caso de cópias, estas devem estar autenticadas pela
agência. Em caso de grupo, demonstrativos individuais para cada empresa do
grupo, bem como demonstrativos consolidados, quando disponíveis;
• balancetes recentes, de acordo com prazos estipulados nos normativos, nos
casos em que os demonstrativos referentes ao encerramento do exercício
estiverem defasados;
• demonstração de fluxo de caixa, demonstração de valor adicionado, relatório de
administração, parecer da auditoria e notas explicativas, para os casos de com-
panhias abertas ou empresas com demonstrativos auditados e publicados;
• autorização para consulta ao SCR do Bacen, para que se possa consultar o
endividamento da empresa no Sistema Financeiro Nacional, com base em in-
formações das próprias instituições financeiras, comparando os dados com
os valores contabilizados e permitindo detalhamentos adicionais nem sempre
fornecidos nos demonstrativos;
• questionário de responsabilidade socioambiental, ou, alternativamente, ba-
lanço social, quando disponível.
Informações Adicionais
• cadastrais: cadastros atualizados da empresa, administradores e sócios,
com destaque para a composição do capital, participação em coligadas ou
subsidiárias e dirigentes. Observar a compatibilidade com o tipo mínimo exi-
gido pelos normativos;
• econômico-financeiras: informações sobre volume de importações e exporta-
ções, abertura do endividamento bancário (prazos, formas de pagamento,
garantias e instituições financeiras), detalhamento de valores relevantes con-
tabilizados em rubricas com nomes genéricos (contas a receber, outras des-
pesas operacionais, etc.) e relação de faturamento mensal (para verificação
Conclusão
Após esses três passos, chegamos então ao momento de concluir se a docu-
mentação é suficiente e se tem a qualidade necessária para o início da análise.
Caso o exame revele alguma dificuldade, devemos verificar a possibilidade de
resolvê-la por nós mesmos, por meio de pesquisas adicionais, ou em consulta à agên-
cia. Caso contrário, devemos contatar o dirigente ou contador e, quando entendido co-
mo necessário, visitar as instalações da empresa, no intuito de esclarecer eventuais
dúvidas ou mesmo de checar informações prestadas in loco.
Supondo, para seguirmos em frente, que documentação tenha se revelado sufi-
ciente e que as informações apresentem a qualidade necessária para permitir o início
da análise, é hora, então, de conhecermos a composição das principais peças contá-
beis, para podermos dar continuidade ao nosso trabalho.
PRINCIPAIS DEMONSTRAÇÕES
E NOVO PADRÃO CONTÁBIL
Objetivos
Listar os relatórios contábeis que compõem o processo de análise.
Descrever as principais mudanças de padrão a partir da vigência da Lei 11.638/2007 e alte-
rações posteriores.
Demonstrar a importância de cada relatório na apuração da situação econômica e financei-
ra da empresa.
Conceituar bens, direitos, obrigações e patrimônio líquido
Identificar no balanço patrimonial os grupamentos de contas do ativo e do passivo.
Detalhar a demonstração do resultado do exercício e as receitas e despesas que entram na
apuração do resultado.
práticas adotadas no Brasil com as IFRS, sigla em inglês para padrão internacional de
relatório financeiro.
As IFRS são um conjunto de normas internacionais editadas pelo IASB, sigla
para comitê de normas internacionais de contabilidade. Essas normas foram criadas
para facilitar o processo de análise de investimentos e consolidação de demonstrativos
de empresas localizadas em diferentes países, reflexo da globalização da economia e
do desenvolvimento de grupos empresariais multinacionais.
Ao convergir sua legislação às práticas internacionais, o Brasil amplia a possibi-
lidade de parceria entre empresas brasileiras e estrangeiras, unifica os procedimentos
contábeis das empresas multinacionais já instaladas no País e permite melhor avalia-
ção dos investimentos. Vale lembrar, porém, que a aderência não é integral 2 e que
permanecem existindo diferenças nos padrões brasileiros, ainda que pontuais.
De maneira geral, é importante compreender que o alinhamento ao IFRS trouxe
mudança de filosofia nos critérios de contabilização, que antes eram definidos sob uma
ótica predominantemente fiscal e passam, com os novos critérios, a contar com pressu-
postos gerenciais, com valorização da essência e do significado em detrimento da forma.
Obrigatoriedade
Embora a legislação date de 2007, a adoção das novas práticas passou a ser
obrigatória a partir da apresentação das demonstrações do ano 2010, com a necessi-
dade de que fossem ajustados e republicados os demonstrativos de 2009.
Devem seguir as novas diretrizes, de acordo com as leis, as sociedades anôni-
mas, sejam elas de capital aberto ou fechado, e as sociedades de grande porte 3. Mes-
mo quando não enquadradas nas regras citadas, algumas empresas já são orientadas
por seus órgãos reguladores a adotarem os novos padrões, tais como aquelas entida-
des vinculadas à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), à Agência Nacional
de Energia Elétrica (ANEEL) e ao Banco Central do Brasil (BCB).
2 Nem todas as normas estão aderentes às IFRS, como, por exemplo, a possibilidade de reavaliação de ativos
(proibida no Brasil) e a obrigatoriedade de DVA - Demonstração do Valor Adicionado (no Brasil, as companhi-
as abertas estão obrigadas à apresentação do demonstrativo, o que não é exigido nas normas internacionais).
3 Sociedade de grande porte é aquela que, individualmente ou sob controle comum (grupo), possua, no ano ante-
rior, ativo total superior a R$ 240 milhões ou receita bruta anual superior a R$ 300 milhões.
Conjunto de demonstrativos
O conjunto completo dos demonstrativos contábeis detalhado a seguir não é obri-
gatório a todas as empresas. Cada qual deve elaborar e divulgar aqueles aos quais está
obrigada. Os demonstrativos essenciais para a análise e que todas as empresas de-
vem fornecer são:
• BP e a DRE (balanço patrimonial e demonstração de resultado do exercício).
Tais demonstrativos serão objeto de maior detalhamento nos itens posterio-
res deste capítulo. Além desses, temos também os seguintes demonstrativos
previstos pela legislação em vigor, com obrigatoriedade restrita a empresas
reguladas pela CVM:
• DRA (demonstração do resultado abrangente). Informa transações que ainda
não afetaram o exercício e irão impactar exercícios futuros. Interfere na dis-
tribuição futura de dividendos.
• DMPL (demonstração das mutações do patrimônio líquido). Detalha a com-
posição do patrimônio líquido, informando os acréscimos e reduções de cada
rubrica, chegando ao patrimônio líquido no final do período. É um subsídio à
compreensão da evolução do patrimônio líquido.
• DFC (demonstração do fluxo de caixa). Substitui a antiga DOAR (demonstra-
ção de origem e aplicação de recursos). Apresenta a geração e o uso do
caixa durante determinado período.
Balanço patrimonial
Para compreender o que é e o que revela o balanço patrimonial, é importante
entender o conceito de patrimônio.
Patrimônio é o conjunto de bens, direitos e obrigações de uma empresa. Os
bens e direitos constituem o ativo e as obrigações, o passivo. A diferença entre eles
constitui o patrimônio líquido. Vamos entender melhor o que representa cada um deles.
Bens
O conceito refere-se aos bens econômicos, ou seja, aos bens considerados
úteis, que existem em quantidades limitadas e, portanto, possuem valor. Quanto à
forma física, podem ser tangíveis (um item de estoque), ou intangíveis (o valor atribuí-
do a uma marca). Diferenciam-se também entre bens móveis, que podem ser removi-
dos por si próprios ou por terceiros (máquinas, animais, mercadorias e dinheiro) e bens
imóveis, vinculados ao solo (edifícios, construções).
Direitos
Entende-se por direito o poder de exercer alguma prerrogativa ou exigir alguma
coisa, como, por exemplo, receber um valor acordado por uma venda a prazo, ou sacar
valores depositados em conta bancária. Além desses, outros direitos comumente pre-
sentes nos balanços são aluguéis a receber, dividendos a receber, adiantamento a for-
necedores, etc.
Obrigações
São as obrigações e dívidas da empresa em relação a terceiros. São denomina-
das obrigações exigíveis, pois seus valores podem ser reclamados – exigidos – nas
datas dos vencimentos. Exemplos de obrigações exigíveis presentes nos balanços são
4
Existe controvérsia sobre a abrangência do termo “passivo”. Pela Lei das S.A. (nº 6.404/76), o conceito de
passivo inclui, além das obrigações, o patrimônio líquido. Já pelo Conselho Federal de Contabilidade (Res.
CFC 1.374/11 – NBC TG Estrutura Conceitual), o passivo se refere somente às obrigações da entidade, e não
inclui o patrimônio líquido. Para fins desse curso, “passivo” não incluirá o patrimônio líquido.
ATÉ 2007
ATIVO PASSIVO
Circulante Circulante
Realizável a longo prazo Exigível a longo prazo
Permanente Resultado de exercícios futuros
Investimentos Patrimônio líquido
Imobilizado Capital
Diferido Reservas (inclusive de reavaliação)
Lucros/Prejuízos acumulados
NOVA ESTRUTURA
ATIVO PASSIVO
Circulante Circulante
Caixa/Bancos/Aplicações Empréstimos/Financiamentos
Clientes Fornecedores
Estoques Tributos a pagar
Outros valores circulantes Outros valores circulantes
Não Circulante
Realizável em Longo Prazo Não circulante
Clientes Empréstimos/Financiamentos
Transações entre ligadas Outros (ex.: impostos refinanciados)
Outros (ex.: depósitos judiciais)
Investimento
Participações societárias PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Imobilizado Capital Social
Bens imóveis de uso Reserva de Lucros
Intangível Prejuízo Acumulado
Marcas e patentes Ajuste de Avaliação Patrimonial
Passivo
Da mesma forma, o passivo foi subdividido em circulante e não circulante, agru-
pados por prazo de exigibilidade.
No passivo circulante estão as dívidas vencíveis no decorrer do exercício se-
guinte (empréstimos de curto prazo, fornecedores, salários a pagar, etc.); já no passivo
não circulante, figuram as obrigações vencíveis após o encerramento do exercício se-
guinte (financiamentos de longo prazo, impostos renegociados, etc.).
Em relação à estrutura anterior, é importante ressaltar a extinção do grupo
resultados de exercícios futuros. Nessa conta eram registrados valores já recebi-
dos, mas de competência de exercícios futuros, já deduzidas de seus custos e des-
pesas. Agora, esses eventos são classificados como receita diferida, dentro do pas-
sivo não circulante.
Patrimônio líquido
Nesse grupamento também ocorreram mudanças. A conta lucros ou prejuízos
acumulados deixou de existir e foi substituída por prejuízos acumulados, para a qual
não existe mais a possibilidade de compensação. Portanto, quando a empresa obtém
prejuízo no encerramento de determinado exercício, o resultado negativo permanece
evidenciado nos exercícios seguintes. Quando o resultado for positivo e não distribuí-
do, deve ser contabilizado na conta reserva de lucros.
Os critérios para reavaliação também mudaram. Foi criada a rubrica ajuste de
avaliação patrimonial, com o objetivo de registrar as diferenças de ativos e passivos
para mais ou para menos, obtidas pela diferença entre o valor contábil e o valor justo
(valor de transação em condições usuais de mercado). Os valores consignados nessa
rubrica devem ser baseados em laudo técnico, observando-se ainda as vedações le-
gais. Por exemplo, a reavaliação de imóveis está proibida no Brasil. No entanto, no ano
de adoção dos padrões internacionais de contabilidade, foi permitida a reavaliação,
desde que baseada em laudo técnico e constante nas notas explicativas. Títulos dispo-
níveis para venda (que não se destinam à negociação mas podem ser vendidos em
caso de oportunidade negocial) são outro exemplo de possível origem de valores na
rubrica citada.
Observação: no balanço patrimonial existem algumas contas chamadas retifica-
doras que, por estarem vinculadas diretamente a uma conta específica, são contabili-
zadas com valor negativo, reduzindo o saldo da conta retificada. As principais são:
• no ativo circulante: duplicatas descontadas e provisão para devedores du-
vidosos, que diminuem o valor da conta clientes;
• no ativo não circulante: depreciação, amortização e exaustão acumuladas,
que diminuem o valor de contas do imobilizado ou do intangível;
• no patrimônio líquido: capital a realizar e ações em tesouraria, que diminu-
em o valor do capital social.
fronta as receitas (vendas) com o total dos custos das mercadorias ou serviços vendi-
dos e demais despesas incorridas no período.
Se as receitas forem maiores que os custos e despesas, a empresa teve lucro;
se os custos e despesas forem maiores, teve prejuízo.
Regime de caixa
Trata-se de uma forma simplificada de contabilidade, adotada basicamente por
entidades públicas, mas passível de ser encontrada na contabilidade de microempre-
sas, por exemplo.
Por esse regime, toda receita é contabilizada no momento em que ocorrer seu
efetivo recebimento, ou seja, quando o dinheiro entrar no caixa; toda despesa é conta-
bilizada no momento do efetivo pagamento, ou seja, quando os recursos forem desem-
bolsados.
Regime de competência
Este é o regime contábil universalmente adotado, previsto nas normas internaci-
onais e exigido pelas normas contábeis e fiscais. No regime de competência, receitas e
despesas são contabilizadas no período em que foram geradas, independentemente da
data de seu recebimento ou pagamento. Assim, a venda efetuada em dezembro será
contabilizada como receita em dezembro, independentemente do recebimento estar
previsto para o próximo exercício. Da mesma forma, compras a prazo devem ser reco-
nhecidas quando efetuadas, e não na data do pagamento.
Assim, o resultado é apurado pela soma das receitas e despesas geradas no
período, mesmo que não tenham sido efetivamente recebidas ou pagas.
BALANÇO APRESENTADO
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Passivo Não Circulante
Ativo Não Circulante PATRIMÔNIO LÍQUIDO
BALANÇO REESTRUTURADO
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Financeiro Passivo Circulante Financeiro
Ativo Circulante Cíclico Passivo Circulante Cíclico
Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
DRE, do mais operacional para o menos operacional, de maneira mais estrita e de for-
ma a facilitar o processo de análise.
Na DRE reestruturada, após chegarmos ao lucro operacional bruto, apuramos o re-
sultado operacional em três momentos: antes das despesas e receitas financeiras (lucro
operacional I), antes da equivalência patrimonial (lucro operacional II) e antes do resultado
das despesas e receitas não operacionais (lucro operacional III). Depois deste, da provisão
de IR e da contribuição social, chegamos finalmente ao lucro líquido do exercício.
Este é o momento em que devem ser identificadas a receita bruta, o montante
dos impostos incidentes sobre as vendas, as despesas de deprecia-
ção/amortização/exaustão, as receitas e despesas não operacionais, e outros necessá-
rios à análise, cujos valores não estejam destacados nos demonstrativos, valendo-se o
analista das notas explicativas ou das informações adicionais fornecidas pelo cliente.
Ao registrar os valores da DRE nos aplicativos utilizados pelo Banco para análi-
se, o próprio sistema apura os lucros nas diversas fases anteriormente citadas. Além
disso, os valores são indexados pelo sistema, que, de acordo com opção do analista
no cadastramento, pode ajustar os valores dos exercícios anteriores ao valor atual,
pelos índices de inflação.
Veja como fica uma DRE reestruturada:
lise, já que causa impacto nos indicadores de giro, como poderemos ver nos capítulos
seguintes.
Duplicatas descontadas: trata-se de títulos de vendas a prazo cujos valores fo-
ram adiantados para a empresa. Refere-se a uma modalidade de empréstimos bancá-
rios e aparece no ativo como conta retificadora. Transferir para o passivo circulante
financeiro porque, na verdade, o desconto de duplicatas é um empréstimo para capital
de giro. Esse procedimento possibilita análise mais adequada das fontes de recursos
que a empresa tem utilizado.
Provisão para devedores duvidosos: representa a estimativa de créditos ven-
cíveis no exercício seguinte que não serão recebidos. A provisão deve incluir toda a
estimativa de perdas da empresa. Deve figurar no balanço como retificadora da conta
clientes. Quando inexistente ou apresentar valor aparentemente subestimado, fazer as
correções de acordo com informações sobre inadimplência (utilizar, por exemplo, os
índices de liquidez da carteira de cobrança). Em todo caso, quando não houver infor-
mação, considerar o mínimo de 3% do saldo total de clientes. Lançar o valor apurado –
ou a diferença – na conta provisões para devedores duvidosos, em contrapartida de
deduções do ativo.
Atentar, porém, para o fato de que, muitas vezes, o valor da conta clientes pode
ter sido apresentado já líquido das provisões e, nesse caso, as informações detalhadas
podem constar das notas explicativas, quando houver.
Estoques: verificar a compatibilidade dos valores classificados nessa conta,
considerando o volume de negócios da empresa, política de estoques, mercado em
que atua, concorrência, sazonalidade, etc. Quando elevado em relação ao ativo e às
vendas, pode indicar mercadorias e produtos vendidos e não baixados, ou a existência
de estoques invendáveis ou, pior, preparação para pedido de concordata (nessa ocasi-
ão, a empresa costuma fazer um volume de compras atípico). Quando for possível apu-
rar a existência de estoques invendáveis, excluir do ativo o valor correspondente, em
contrapartida da conta deduções do ativo.
Débitos de diretores, cotistas e solidários: aparecem no ativo circulante e
podem constituir retiradas feitas pelos sócios, não contabilizadas como despesa. Ex-
cluir do ativo em contrapartida da conta deduções do ativo, quando não houver pers-
Conclusão
Essas são as principais reclassificações e ajustes normalmente efetuados, bem
como as principais contas que devem ter seus valores criticados pelo analista. Note que,
em muitos casos, a necessidade dos ajustes decorre de inconsistências ou erros concei-
tuais na elaboração do balanço, problema que tende a ser mais comum em empresas de
menor porte, que não publiquem ou passem pelo processo de auditoria externa de seus
demonstrativos. Caso haja indicações para muitos ajustes, inclusive, as peças contábeis
poderão ser desconsideradas para efeito de análise, por não servirem de fato como ins-
trumento para avaliar a situação econômico-financeira da empresa.
Importante lembrar que, conforme comentamos, durante o processo será necessá-
rio que tomemos decisões sobre a classificação das contas ou ajustes a serem efetuados.
Como regra geral, quando permanecer dúvida sobre a classificação de valores (como, por
exemplo, se um empréstimo é de curto ou longo prazo, ou se receitas são operacionais ou
não), devemos adotar a postura mais conservadora (ou seja, classificar o empréstimo para
o curto prazo e considerar as receitas como não operacionais).
Concluídas as observações sobre reclassificações e ajustes, observe, nos quadros
a seguir, exemplo de composição do balanço antes e depois da reestruturação, das re-
classificações e dos ajustes realizados. Para ficar mais fácil o entendimento, destacamos
as contas reclassificadas com os números correspondentes.
BALANÇO RECLASSIFICADO/AJUSTADO
ATIVO PASSIVO
Circulante Financeiro Circulante Financeiro
Caixa/Bancos/Aplicações Duplicatas Descontadas (1)
Circulante Cíclico Empréstimos/Financiamentos
Clientes (-Prov. Dev. Duvidosos) (2) Empréstimos Diretores/Coligadas
Estoques Provisão para IR e Contrib. Social
Adiantamento a Fornecedores Dividendos a Pagar
Despesas Antecipadas Outros Passivos não Operacionais (5)
Não Circulante Circulante Cíclico
Realizável em Longo Prazo Fornecedores
Clientes Tributos a pagar
Transações entre ligadas (3) Salários a pagar
Investimentos Adiantamento de clientes
Participações societárias Outros valores circulantes
Imobilizado Não circulante
Bens imóveis de uso Empréstimos/Financiamentos LP
Intangível Outros (ex.: impostos refinanciados) (5)
Marcas e patentes PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital Social
Reserva de Lucros
Prejuízos Acumulados
Ajuste de Avaliação Patrimonial
(-) Deduções do Ativo (4)
EXERCÍCIOS
1. Correlacione as colunas:
1. Bens. ( ) Imóveis.
2. Direitos. ( ) Fornecedores.
3. Obrigações. ( ) Clientes.
( ) Empréstimos bancários.
( ) Caixa
( ) Provisão para IR e contribuição social.
( ) Estoques.
( ) Veículos.
( ) Adiantamento de clientes.
d) C E A D B C
e) D E C C A B
10. Dos ajustes abaixo, indique o que NÃO É NECESSÁRIO se fazer no balanço
patrimonial para a análise econômica e financeira.
a) A conta títulos descontados deve ser classificada como pertencente ao
ativo circulante financeiro.
b) A conta empréstimos a interligadas deve ser classificada como perten-
cente ao ativo não circulante.
c) O valor dos bens obsoletos constante da conta Imobilizado deve ser de-
duzido do ativo, bem como do patrimônio líquido.
d) A conta empréstimos de interligadas deve ser classificada como perten-
cente ao passivo circulante financeiro.
e) A conta empréstimos a diretores deve ser classificada como ativo reali-
zável a longo prazo.
Com base nos dados abaixo e após ajustá-los aos padrões do Banco, escolha
as alternativas corretas para as questões 11 e 12.
Gabarito
1C 2A 3E 4D 5D 6B 7C 8D 9A 10A 11B 12A
GRUPO EMPRESARIAL
Grupo de relacionamento
No Banco do Brasil, grupo de relacionamento é o conjunto de empresas subme-
tidas a controle único ou com interdependência econômica, financeira ou administrati-
va, sendo que a existência de relacionamento empresarial caracteriza-se pela ocorrên-
cia de uma ou mais das seguintes situações:
• controle pelo capital - em que a maior parte do capital de uma empresa per-
tence:
o a uma pessoa física ou grupo delas, detentora da maioria absoluta do
capital de outra empresa;
o a uma pessoa jurídica, isoladamente ou em conjunto com outras pessoas;
• participação relevante no capital – em que uma empresa detém participação
superior a 10% do capital da outra;
• controle pela administração – em que um ou mais dos dirigentes ou princi-
pais componentes de uma empresa exerce funções de ingerência em outra,
com qualquer participação no capital;
• existência de interesses comuns por parentesco, ou outros vínculos, entre
os dirigentes ou principais componentes de uma e outras empresas, ainda
que em caráter informal;
• constituição formal como grupo;
• existência de uma sociedade dominante (líder, holding ou controladora).
Grupo econômico
No BB, constitui grupo econômico o conjunto de empresas consolidadas para
fins de análise, sendo o limite de crédito estabelecido mediante análise conjunta das
empresas.
É sabido que:
• a empresa A participa da empresa B com $ 100.000;
• a empresa B participa da empresa C com $ 200.000 e da A com $ 130.000;
• a empresa C participa da empresa A com $ 300.000.
ANÁLISE ECONÔMICA
Objetivos
Aplicar fórmulas para apuração dos índices e indicadores econômicos.
Descrever o significado dos índices e indicadores econômicos.
Listar procedimentos de análise econômica.
empresa esteja à beira da insolvência. Há aquelas que convivem com níveis altos de
endividamento sem comprometer sua solvência, já que há outros fatores que podem
atenuar essa condição.
Trataremos dos índices-padrão mais a diante no nosso curso. Por enquanto,
saiba que são valores obtidos a partir da análise de um universo de empresas do
mesmo ramo, tamanho e região, e que são utilizados como referência para compara-
ção com casos particulares.
Vale ressaltar que os índices consideram apenas os dados quantitativos, sendo
necessário, ao fazermos a análise, buscar entender o que está por trás dos números
para não incorrermos em análises inconsistentes.
Vejamos quais índices se prestam à análise econômica, como obtê-los e o que
significam. Vimos que eles podem ser reunidos em dois grandes grupos: os que se
referem à estrutura patrimonial e os que estão ligados à rentabilidade da empresa.
PC+PNC
RFR = x 100
PL
Endividamento Geral
PC+PNC
EG = x 100
ATIVO
PC
CE = x 100
PC + PNC
PCF+PNC
POSA = x 100
ATIVO
ANC - RLP
IPL = x 100
PL
A nova estrutura das contas patrimoniais, oriunda das alterações na Lei das So-
ciedades Anônimas, suprimiu a nomenclatura “ativo permanente”. Contudo, para fins
didáticos, manteremos essa denominação. O índice exprime, assim, o percentual do
ativo permanente (composto pelos grupamentos investimento, imobilizado e intangível)
da empresa que é financiado pelo patrimônio líquido.
Por exemplo, o IPL de 73% informa que a empresa está imobilizando o corres-
pondente a 73% de seu patrimônio líquido. Sobrando, portanto, 27% de recursos pró-
prios para aplicação no ativo circulante e de longo prazo.
A adequada administração dos recursos de uma empresa pressupõe o casa-
mento dos prazos das aplicações dos recursos com os prazos das fontes. Assim, con-
vencionou-se dizer que as aplicações permanentes devem ser financiadas pelo patri-
mônio líquido (recursos próprios de caráter permanente) ou por financiamentos de lon-
go prazo.
A política de obtenção de fontes de longo prazo para investimentos no ativo
imobilizado ou não circulante revela, normalmente, estratégia administrativa acertada
por parte os dirigentes.
Não são raros os casos em que empresários fazem investimentos em aplicações
permanentes utilizando integralmente o patrimônio líquido da empresa, deixando-a sem
recursos próprios para o giro dos negócios. Ou ainda, de forma mais arriscada, efetu-
am os investimentos com fontes de terceiros vencíveis no curto prazo, tornando a em-
presa dependente de sucessivas renovações de créditos, muitas vezes com encargos
financeiros elevados.
Concluímos o estudo dos índices que fornecem referenciais para análise da es-
trutura patrimonial da empresa. Passemos, agora, aos que medem sua rentabilidade.
Índices de rentabilidade
Os índices de rentabilidade têm por objetivo avaliar a capacidade da empresa
em gerar lucros. A seguir são listados os índices de rentabilidade utilizados pelo Ban-
co para análise de seus clientes:
RPL Rentabilidade do Patrimônio Líquido
MOL Margem Operacional de Lucro
ML Margem Líquida de Lucro
RA Rotação do Ativo
RI Rentabilidade dos Investimentos
GAF Grau de Alavancagem Financeira
Todos os índices acima são interpretados como: QUANTO MAIOR, MELHOR.
Lucro líquido
RPL = x 100
PL médio
O índice mede a remuneração dos capitais próprios da empresa. Por exemplo, RPL
de 20% significa que a empresa conseguiu, no período, remuneração de 20% sobre seu
patrimônio líquido. Do ponto de vista de quem investe numa empresa, este deve ser o ín-
dice mais importante.
A RPL permite, além de avaliar a remuneração do capital próprio, comparar esse
rendimento com outras opções de investimento. Um investidor, por exemplo, avaliando a
RPL, poderá optar por uma aplicação no mercado financeiro, em vez de aplicar numa em-
presa que está proporcionando baixa rentabilidade e maior risco.
Sempre que houver dados de dois demonstrativos contábeis consecutivos, deve-
mos utilizar a média do PL para comparar com o lucro líquido, de forma a melhor traduzir a
rentabilidade do período. Isso porque o patrimônio líquido pode sofrer alterações durante o
exercício, como aumento de capital, distribuição de dividendos, saída de sócios etc.
A MOL é uma medida de lucratividade das vendas (lucro sobre as vendas líqui-
das). Avalia o ganho operacional da empresa (resultado antes das receitas e despesas
não operacionais) em relação a seu faturamento (líquido das devoluções, abatimentos
e impostos incidentes sobre as vendas). Representa, assim, a capacidade da empresa
em gerar resultado com suas vendas.
MOL de 17%, por exemplo, indica que a empresa obteve 17% de lucro operaci-
onal sobre seu faturamento líquido.
Lucro líquido
ML = x 100
Receita operacional líquida
correspondente ao valor de seu ativo ou, como comumente se diz, quantas vezes con-
seguiu “girar seu ativo”.
Sempre que houver dados de dois demonstrativos consecutivos, devemos utili-
zar a média do ativo total para comparar com a receita operacional líquida.
Digamos que tenhamos apurado RA de 1,36. Nesse caso, a empresa vendeu,
durante o período, o equivalente a 1,36 vez o valor de seu ativo total.
Como veremos a seguir, o RA, conjugado com outros indicadores, colabora para
o estudo da rentabilidade de empresas.
Rentabilidade dos Investimentos ou Retorno sobre Investimento Total
Opção “a”:
Lucro operacional líquido $ 18.000
RI= x 100 = x 100 = 18,00%
Ativo total médio 100.000
ANÁLISE FINANCEIRA
Objetivos
Demonstrar fórmulas e significados dos índices financeiros.
Descrever a apuração e o significado dos indicadores de prazos médios.
Índices de liquidez
Os índices de liquidez são medidas de avaliação da capacidade financeira da
empresa em satisfazer os compromissos para com terceiros. Fazem relação entre o
que a empresa dispõe de bens e direitos com as suas obrigações. Estão listados abai-
xo os índices de liquidez mais conhecidos. Cada um fornece informações diferentes
sobre a situação da empresa.
LC Liquidez Corrente
LS Liquidez Seca
LG Liquidez Geral
De maneira geral, assumimos que QUANTO MAIORES forem os índices de li-
quidez, MELHOR será a situação financeira da empresa.
No entanto, devemos ter em mente que índices de liquidez favoráveis não re-
presentam, necessariamente, que a empresa disporá de recursos suficientes nas datas
de vencimento das dívidas, pois nem sempre a empresa consegue realizar seus ativos
com a velocidade exigida pelas obrigações.
Liquidez corrente
AC
LC=
PC
A liquidez corrente é um dos índices mais conhecidos. Indica a relação entre os
ativos realizáveis no curto prazo (disponibilidades, clientes, estoques, etc.) e as dívidas
do passivo circulante (fornecedores, empréstimos e financiamentos de curto prazo,
contas a pagar, etc.).
Índice superior a 1 indica, em princípio, que a empresa tem capacidade para
saldar suas dívidas de curto prazo. Uma liquidez corrente de 2,5, por exemplo, quer
dizer que, para cada $ 1,00 de obrigações de curto prazo, a empresa dispõe de $ 2,50
aplicados em bens e direitos realizáveis no curto prazo.
Índice inferior a 1 indica que, em princípio, a empresa não possui capacidade
para saldar seus compromissos de curto prazo.
Liquidez seca
AC - Estoques
LS =
PC
Esse índice é uma medida mais rigorosa para avaliação da liquidez. Indica a re-
lação entre os ativos circulantes, sem considerar os estoques, e as obrigações de curto
prazo. Se a liquidez seca for igual ou maior que 1, pode-se dizer que a empresa não
depende da venda de estoques para saldar seus compromissos de curto prazo. Por
outro lado, quanto mais abaixo da unidade, maior será a dependência da venda dos
estoques para honrar suas dívidas.
Existem autores que propõem outras fórmulas para o cálculo da liquidez seca.
Uns recomendam comparar somente disponibilidades e clientes com as obrigações de
curto prazo. Outros usam excluir, além dos estoques, todas as contas que não repre-
sentem entrada efetiva de recursos na empresa (despesas antecipadas, impostos a
compensar, adiantamentos a funcionários, entre outras). Qualquer que seja a fórmula
utilizada, o importante é que o analista tenha consciência dos valores envolvidos e da
relação expressa pelo índice.
Liquidez geral
AC + RLP
LG =
PC + PNC
A liquidez geral é uma medida da capacidade de pagamento de todo o passivo
exigível da empresa. Faz relação entre os valores registrados no ativo circulante e no
realizável a longo prazo com todos os compromissos com terceiros.
Quando o índice for superior a 1, diz-se que, em princípio, a empresa tem capa-
cidade para pagar todas as suas dívidas de curto e longo prazos. Índice de liquidez
geral de 1,2, por exemplo, revela que a empresa dispõe de $ 1,20 de bens e direitos
realizáveis no curto e longo prazo para cada $ 1,00 de dívidas totais.
Índices de rentabilidade
Os índices de rentabilidade adotados para efeito da análise financeira são os mes-
mos já estudados na análise econômica. Contudo, o foco na análise financeira é o de que
a rentabilidade, a longo prazo, ajuda a melhorar a situação financeira da empresa, pela
acumulação de capital próprio nos negócios, com o reinvestimento dos lucros.
no balanço, supõe-se que a empresa mantém estoque médio desse valor durante o
exercício.
A análise dos prazos médios constitui importante instrumento para se conhecer
a política de compra, estocagem e venda adotada pela empresa. A partir dela, pode-se
constatar a eficiência com que os recursos estão sendo administrados (duplicatas a
receber, estoques e fornecedores).
Assim como os demais indicadores, não devem ser analisados individualmente,
mas sempre em conjunto.
Fornecedores
PMC = x 360
Montante de compras
Esse indicador exprime o prazo que a empresa vem obtendo de seus fornecedo-
res para pagamento das compras de matérias-primas e mercadorias. Assim, podemos
dizer que prazo médio de compras é o número de dias que decorre, em média, entre a
compra e o respectivo pagamento aos fornecedores.
Em linhas gerais, considera-se ideal que o pagamento das compras seja efetua-
do no maior prazo possível. Assim, quanto maior esse prazo, melhor será a situação da
empresa, já que estará financiando seu giro com recursos não onerosos (desde que, é
claro, o valor da compra não varie em função do prazo concedido).
Sempre que houver dados de dois demonstrativos consecutivos, devemos utili-
zar a média da conta fornecedores para comparar com o montante de compras. Calcu-
la-se a média do saldo de fornecedores dos dois últimos anos e divide-se pelo montan-
te das compras do último ano, conforme fórmula:
(Fat + Fan) x 360
PMC =
2 x MC
onde:
Fat = Fornecedores, saldo atual
Fan = Fornecedores, saldo anterior
MC = Montante de compras
Caso não fornecido o montante de compras, esse valor poderá ser estimado da
seguinte forma: MC = CPV + Estoque final – Estoque inicial.
Clientes
PMR = x 360
Receita operacional bruta
Onde:
Clat = Clientes, saldo atual
Clan = Clientes, saldo anterior
Devemos ter em mente que os créditos de curto e longo prazos devem estar
contidos no valor de clientes. No caso das vendas, devem ser descontados os valores
referentes às devoluções ocorridas no período.
Ciclo operacional
CO = PME + PMR
Compreende o período de tempo decorrido entre a aquisição das matérias-primas e
o efetivo recebimento das vendas. É a fase operacional existente na empresa. Um ciclo
operacional longo significa que a empresa deve direcionar maior volume de recursos para
o financiamento das suas atividades operacionais, por isso, quanto maior, pior.
Utilizando dados numéricos como exemplo, podemos assim representar:
Ciclo financeiro
CF = CO – PMC
ou
CF = PME + PMR – PMC
No exemplo, o CF foi de 50 dias. Isso significa que a empresa paga seus forne-
cedores 40 dias após a compra e somente 50 dias após esse pagamento receberá o
valor da venda a seus clientes. Para financiar seus clientes por 50 dias, a empresa
poderá utilizar-se de recursos próprios ou recorrer a desconto de duplicatas ou outros
empréstimos para capital de giro.
A boa gestão empresarial revela-se muito pela competência na administração
dos prazos médios, expressos finalmente através do ciclo financeiro.
O ciclo financeiro (CF) nada mais é do que uma medida aproximada da necessi-
dade de capital de giro da empresa, expressa em dias, ao longo do exercício social e
corresponde ao período de tempo entre o pagamento ao fornecedor e o momento em
que a empresa recebe do cliente o dinheiro das vendas.
Ressaltamos, mais uma vez, a importância de conhecermos o conteúdo das
verbas do balanço, em termos de qualidade. Estoques invendáveis mantidos na conta-
bilidade, créditos duvidosos e descasamento dos prazos de recebimento com os da
compra podem, também, em algum momento, tornar a empresa ilíquida. O resultado da
leitura de números inconsistentes pode ser extremamente enganoso.
EXERCÍCIOS
1. O índice de liquidez corrente mostra quantas UM (unidades monetárias) a
empresa tem:
a) no seu ativo para cada UM de dívida a curto prazo.
b) no ativo circulante para cada UM de dívida total.
c) no ativo permanente para cada UM de Patrimônio Líquido.
d) no ativo circulante para cada UM de dívida a curto prazo.
e) no seu patrimônio líquido para cada UM de dívida a curto prazo
4. Relacione as colunas:
A. RFR = 1
B. RFR > 1
C. RFR < 1
( ) Há predominância de recursos próprios.
( ) Há predominância de utilização de capitais de terceiros
( ) Os capitais próprios e os recursos de terceiros estão em partes
iguais.
A sequência obtida foi:
a) C B A
b) A B C
c) B A C
d) C A B
e) B C A
Com base nos dados abaixo, assinale as alternativas corretas nas questões 8 a 11.
Empresa XY
Balanço Patrimonial de 31/12/X1
ATIVO $ mil PASSIVO $ mil
Caixa 9.000 Duplic. Descontadas 10.000
Bancos 11.000 Fornecedores 30.000
Clientes 50.000 Salários a pagar 8.000
Prov. Dev. Duvidosos -1.500 Empréstimos Curto Prazo 10.000
Estoques 25.000 Empréstimos Longo Prazo 20.000
Máquinas 15.000 Capital social 40.000
Móveis 5.500 Reservas 15.000
Veículos 15.000 Prejuízos Acumulados -4.000
Total 129.000 Total 129.000
8. O índice de LC é de:
a) 1,65
b) 1,18
c) 1,20
d) 1,37
e) 1,61
9. O índice de LG é de:
a) 1,61
b) 1,37
c) 1,20
d) 1,18
e) 1,17
12. É possível que uma empresa tenha índice de liquidez corrente igual a 2,00
e não possa pagar suas obrigações em dia?
a) Não, pois o índice de liquidez corrente é o único que relaciona os venci-
mentos dos direitos e das obrigações.
b) Sim, pois o índice de liquidez corrente reflete o volume de capitais pró-
prios aplicados no caixa.
c) Não, pois o índice de liquidez corrente reflete o volume de recursos dis-
poníveis no caixa.
d) Sim, pois pode haver descasamento entre os vencimentos dos direitos e
das obrigações.
e) Não, pois o índice de liquidez corrente apresenta a capacidade de paga-
mento da empresa no curto prazo.
Ano 1 Ano 2
Rentabilidade dos Investimentos 10% 15%
Rotação do Ativo 2 3
16. Sabendo-se:
ÍNDICES EMPRESAS
A B C
Margem operacional de lucro 5 10 30
Rentabilidade dos investimentos 30 40 20
Rentabilidade do capital próprio 60 40 30
Com base nos dados acima, assinale a alternativa que melhor responde às per-
guntas abaixo:
( ) Qual empresa apresenta maior capacidade de produzir lucro?
( ) Qual apresenta melhor remuneração aos capitais investidos pelos sócios?
( ) Qual apresenta maior grau de rotação do Ativo?
( ) Qual obtém mais lucro em cada unidade vendida?
a) C A C B
b) C A B C
c) A C B B
d) B A A C
e) C C B B
17. O aumento da margem operacional de lucro de uma empresa pode ser con-
seguido, entre outros fatores, por meio de:
a) diminuição do ativo em maior proporção do que a das vendas.
b) crescente elevação dos custos ou diminuição dos investimentos em ativos.
c) aumento do volume de vendas em proporção maior que o aumento dos
custos.
d) maior diminuição das vendas do que a dos custos.
e) aumento das vendas em proporção maior que o lucro líquido.
Se a rotação do ativo cair para 1,5 vez, qual deve ser a margem de lucro, a fim
de se manter a mesma rentabilidade dos investimentos?
a) 30,0 %
b) 45,0 %
c) 15,0 %
d) 22,5 %
e) 20,0 %
ÍNDICES EMPRESAS
T U V
Relação entre as Fontes de Recursos 0,40 0,50 0,70
Liquidez Corrente 1,50 1,30 1,60
Rentabilidade dos Investimentos -15% 20% 0%
XX XY YY
Empresa
Margem operacional de lucro 20% 25% 30%
Taxa de retorno dos investimentos 40% 35% 20%
Rentabilidade do patrimônio líquido 30% 35% 30%
b) II e IV
c) Somente a II
d) Somente a I
e) III e IV
22. A empresa Lucros Ltda. obteve, no ano X1, rentabilidade dos investimentos na
ordem de 10%. Para o ano seguinte, pretende elevá-la para 15%, mantendo a mesma mar-
gem operacional do ano anterior. Qual a alternativa que viabiliza essa pretensão?
a) Aumentar a rotação do ativo.
b) Diminuir as despesas comerciais.
c) Aumentar o lucro em cada unidade vendida.
d) Diminuir a rentabilidade dos capitais próprios.
e) Aumentar os custos dos seus produtos.
Pode-se afirmar.
a) Na empresa XX, os estoques giram mais rapidamente do que na XY.
b) A empresa XX consegue menor prazo dos fornecedores do que a XY.
c) A necessidade de financiamento complementar para o giro é maior na
empresa XY.
d) O prazo de retorno dos valores investidos no ativo circulante é idêntico
nas duas empresas.
e) O ciclo financeiro em ambas as empresas é o mesmo.
Gabarito
1D 2C 3C 4A 5B 6C 7E 8E 9C 10A 11B 12D 13E 14D 15A 16D 17C
18E 19C 20A 21C 22A 23E 24B 25E 26C 27D
empresa é que chamamos de ativo circulante cíclico. Da mesma forma para a conta
fornecedores, com relação às compras efetuadas.
Indicadores de giro
Neste tópico, iremos abordar três indicadores:
NCG ou IOG: Necessidade de Capital de Giro ou Investimento Operacional em
Giro
CDG: Capital de Giro
ST: Saldo de Tesouraria
NCG ou IOG
NCG é a diferença entre as aplicações cíclicas e as fontes cíclicas, que são du-
as grandezas que se renovam no dia a ia da empresa. No balanço, as aplicações cícli-
cas estão representadas pelo ACC e as fontes cíclicas pelo PCC. Assim, a necessida-
de de capital de giro de uma empresa está representada pela diferença entre esses
dois valores, como na fórmula:
NCG = ACC – PCC
Em outras palavras, e como o próprio nome sugere, a NCG visa apurar quais
são as necessidades que a empresa tem de capital de giro para bancar as aplicações
cíclicas não supridas pelas fontes cíclicas (também chamadas de fontes espontâneas)
de recursos.
Assim, quando os recursos representados pelas fontes cíclicas são insuficien-
tes, a empresa necessita recorrer a fontes não diretamente ligadas à atividade (fontes
onerosas). Analisando a diferença entre as aplicações cíclicas e as origens de recursos
cíclicos, teremos duas situações.
Primeira:
Tipos de NCG
A necessidade de capital de giro de uma empresa pode apresentar-se de três
maneiras:
• permanente – própria de empresas cujo nível de atividade de produção e
vendas é distribuído com certa homogeneidade ao longo do ano;
• sazonal – característica das empresas com forte concentração de ativida-
des em certas épocas do ano. É o caso das que produzem brinquedos, arti-
gos juninos, natalinos, dos produtores rurais, etc.;
• mista – pode ser observada em empresas que fabricam produtos distintos,
com linhas de montagem segregada (ovos de páscoa + biscoitos), mas com
administração única. Ovos de páscoa têm seu consumo concentrado em de-
terminada época (domingo da páscoa); biscoitos, no entanto, são consumi-
dos quase que uniformemente ao longo do ano.
O conhecimento do tipo de NCG auxilia na identificação do montante e do perí-
odo do ano em que as necessidades financeiras são maiores, ao tempo em que permi-
te considerar quais são as linhas de crédito mais apropriadas para a empresa.
Por parte do credor, esse conhecimento contribui para dimensionar o prazo de
retorno dos valores concedidos e, também, para negociar produtos do ativo e do passi-
vo. No caso de as necessidades serem sazonais, a negociação poderá ser feita no
sentido de alocação de recursos quando a NCG for positiva e na captação de recursos
quando negativa, promovendo a parceria com o cliente no sentido amplo.
A NCG pode ser coberta principalmente pelas seguintes maneiras:
• pelo CDG (assunto que estudaremos a seguir), reforçado pelos lucros rein-
vestidos;
• pela venda de bens do imobilizado, desde que não haja prejuízo ao proces-
so produtivo;
• por aporte de capital pelos sócios, elevando o CDG;
• por fontes onerosas (capitais de terceiros), normalmente bancos.
No gráfico acima, verificamos que as fontes de longo prazo (PNC + PL) superam
as aplicações de longo prazo (ANC), resultando a diferença no CDG (parte hachurada).
Considerando que ativo e passivo constituem grandezas iguais, o mesmo valor
aritmético do CDG pode ser encontrado pela equação AC – PC. Apenas que, neste
caso, utilizamos o conceito de CAPITAL CIRCULANTE Líquido (CCL).
CCL = AC – PC
Graficamente, ficaria assim:
Então, temos que o CCL (parte hachurada) representa o excedente do ativo cir-
culante em relação ao passivo circulante.
Saldo de Tesouraria - ST
O saldo de tesouraria representa a diferença entre as contas do ativo circulante
e do passivo circulante que não são cíclicas. É revelado pelas equações:
ST = ACF - PCF
ou
ST = CDG - NCG
Onde:
ACF = Ativo Circulante Financeiro
PCF = Passivo Circulante Financeiro
CDG = Capital de Giro
NCG = Necessidade de Capital de Giro.
Efeito tesoura
O efeito tesoura é evidência de descontrole no crescimento das fontes onerosas de
recursos de curto prazo. Ocorre quando o saldo de tesouraria apresenta-se cada vez mais
negativo a cada exercício, variando em níveis superiores ao crescimento da NCG.
Portanto, o efeito tesoura é consequência de saldo de tesouraria cada vez mais
negativo, variando em proporção superior à NCG. A tendência é dada pela relação
[ST/NCG]. Resultado decrescente evidencia que a empresa recorre, cada vez mais, a
empréstimos onerosos de curto prazo. Para melhor avaliar o efeito tesoura, devemos
observar o comportamento do indicador em diversos períodos.
Se quisermos melhor visualizar a representatividade dos investimentos operaci-
onais em giro, podemos utilizar a fórmula [(NCG / ROB) X 360], que apura a NCG em
dias de venda. Em outras palavras, indica quantos dias a empresa precisa vender (fa-
turar) para obter os recursos complementares, necessários ao seu capital de giro. Para
melhor compreensão desse assunto, vejamos dois exemplos apresentados a seguir:
Exemplo 1:
A empresa Y apresenta os seguintes números nos últimos 5 exercícios:
Exemplo 2:
Agora analisemos o gráfico da empresa Z. Ela apresenta a mesma NCG da em-
presa Y e também está com o ST cada vez mais negativo.
Uma análise superficial poderia induzir a dizer que a empresa está passando
por dificuldade financeira, pois o ST é negativo e a linha da NCG está se distanciando
da linha do CDG a cada ano. Ocorre que a relação percentual entre a NCG e o CDG se
mantém.
Veja no quadro a seguir:
Sinais de alerta
A NCG é um instrumento que nos permite visualizar, com bom grau de confiabi-
lidade, a efetiva necessidade de capital de giro da empresa, mantido seu nível de ativi-
dade. Todavia, tal como nos demais sinalizadores econômico-financeiros, devemos
observar a performance de outros indicadores – inclusive NCG/vendas – , e esses com
o setor, para, assim, verificarmos o desempenho global da empresa.
A NCG positiva, se crescente, período após período, pode indicar anomalia em-
presarial. O crescimento da NCG pode acontecer, também, por força de expansão dos
negócios da empresa. O que não pode – ou não deve – ocorrer é seu crescimento em
proporção superior ao volume das vendas.
Os eventos provocadores de desequilíbrio financeiro são de ordem interna e ex-
terna à empresa. Todavia, devem ser observados não isoladamente, mas, sim, de
acordo com o setor e ambiente econômico em que ela atue. Citamos abaixo várias das
situações que podem levá-la ao overtrade:
a) fatores internos:
• estado crônico de escassez de disponibilidades;
• crescimento da NCG em níveis superiores ao do CDG (efeito tesoura);
• excesso não justificado de ativo imobilizado, causando atrofiamento do
ativo circulante;
• lucro líquido muito baixo em relação ao movimento dos negócios;
• declínio acentuado nas vendas;
• excesso de produção ou de estocagem de produtos não absorvidos pelo
mercado ou invendáveis;
• ciclo financeiro crescente;
• elevado nível de participação das despesas financeiras em relação às
vendas;
• distribuição excessiva de lucros;
• crescimento desordenado da empresa;
EXERCÍCIOS
1. Assinale “V” (verdadeiro) e “F” (falso):
( ) NCG negativa ocorre quando as fontes cíclicas são maiores do que as
aplicações cíclicas.
( ) A conta adiantamento a fornecedores deve ser classificada no ACC.
( ) Duplicatas descontadas é fonte espontânea de recursos.
( ) NCG e CDG possuem o mesmo significado.
( ) As contas provisão para imposto de renda e contribuição social de-
vem ser classificadas no PCF.
a) 1A 2B 3C
b) 1C 2A 3B
c) 1B 2C 3A
d) 1C 2C 3A
e) 1A 2A 3B
Gabarito
1A 2A 3D 4D 5B 6B 7E
Índices-padrão
Para complementar a análise dos índices econômico-financeiros de uma empre-
sa, é necessário que esses sejam comparados com o mercado. Para a comparação,
normalmente são utilizados os índices-padrão, que são valores obtidos a partir da aná-
lise de um universo de empresas do mesmo ramo, tamanho e região.
Ramo de atividade
O segmento de atuação é um dos fatores mais decisivos na vida da empresa. É
ele que determina:
• a necessidade de maior ou menor investimento em imóveis, máquinas e
equipamentos;
• o volume de estoque necessário;
• os prazos de compra e venda que serão praticados.
Quanto à atividade, as empresas podem ser classificadas nos setores primário,
secundário e terciário. Por sua vez, esses setores podem ser desdobrados em diversos
ramos, para melhor enquadrar a atividade. Os serviços, por exemplo, podem compre-
ender serviços de telecomunicação, de saúde, de transportes, etc. Cada um desses
pode ainda ser subdividido, para caracterização mais específica, como transporte ro-
doviário de cargas, transporte rodoviário de passageiros, transportes aéreos, marítimos
e ferroviários.
Tamanho da empresa
Da mesma forma que o ramo de atividade, o porte é também determinante na
comparação entre empresas. É fácil perceber que não devemos comparar uma grande
rede de supermercados com uma pequena mercearia. Embora comercializem os mes-
mos itens, assumem comportamentos diferentes, por exemplo, nas negociações das
compras e na composição dos estoques.
Região geográfica
Ao analisarmos uma empresa, devemos dimensioná-la numa visão sistêmica,
em que exerce influência e é influenciada pelo meio no qual está inserida. Nessa forma
Análise vertical
Na análise vertical, examinamos a participação relativa dos componentes do ba-
lanço patrimonial, em relação a ativos e passivos, e os da demonstração do resultado
do exercício, em relação à receita operacional líquida mais os impostos.
Vejamos um exemplo:
Com base nos números do balanço e da DRE, podemos verificar, entre outras
constatações, que:
a) “clientes”, com 36,46% no ativo circulante e 16,67% no realizável a longo pra-
zo, e “imobilizado”, com 31,25%, são as contas mais significativas do ativo;
b) “financiamentos – longo prazo”, com 36,46%, e “capital social”, com 31,25%,
são as contas mais significativas do passivo;
c) as despesas financeiras consumiram 10,31% do faturamento;
d) a empresa foi lucrativa no exercício e seu resultado decorreu da atividade
operacional. Seu resultado operacional, inclusive, foi superior à sua dívida
financeira líquida (endividamento oneroso menos disponibilidades).
BALANÇO PATRIMONIAL
ANO 20X1 ANO 20X2 ANO 20X3
$ mil % $ mil % $ mil %
ATIVO 9.600 100,00 10.100 100,00 11.300 100,00
Circulante 5.000 52,08 4.200 41,58 4.500 39,82
Caixa e bancos 500 5,21 700 6,93 400 3,54
Clientes 3.500 36,46 1.500 14,85 2.600 23,01
Estoques 1.000 10,42 2.000 19,80 1.500 13,27
Ativo não Circulante 4.600 47,92 5.900 58,42 6.800 60,18
Clientes - longo prazo 1.600 16,67 800 7,92 400 3,54
Imobilizado 3.000 31,25 5.100 50,50 6.400 56,64
EXERCÍCIOS
1. Na análise vertical, o percentual de uma conta mostra:
a) o resultado de uma divisão que, em princípio, nada permite concluir.
b) a variação dela em relação ao ano anterior.
c) sua real importância no conjunto.
d) a insegurança da empresa quanto à administração da conta.
e) a taxa de inflação que houve no período.
a) Somente I.
b) Somente III.
c) I e II.
d) I e III.
e) I e IV.
a) I.
b) II.
c) III.
d) IV.
e) I e II.
Gabarito:
FAZENDO A ANÁLISE
Objetivos
Simular os procedimentos de análise econômica e financeira.
Aplicar os procedimentos na análise de uma empresa fictícia.
Reestruturação
Utilizando o modelo de balanço reestruturado reproduzido a seguir, vamos então
proceder às reclassificações necessárias. Você pode tentar primeiro, em uma folha ou
planilha à parte.
BALANÇO TRADICIONAL
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Passivo Não Circulante
Ativo Não Circulante PATRIMÔNIO LÍQUIDO
BALANÇO REESTRUTURADO
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Financeiro Passivo Circulante Financeiro
Ativo Circulante Cíclico Passivo Circulante Cíclico
Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
No ativo:
• reclassificar para o circulante financeiro as contas que representam dinheiro
em caixa, em bancos e aplicações financeiras. No caso da empresa Laticí-
nios Boa Fé, as contas caixa R$ 672.500; bancos R$ (127.600) e aplicações
financeiras R$ 6.700.
• reclassificar para o circulante cíclico – grupamento que está relacionado
com o ciclo operacional da empresa – as contas que representem as ativi-
dades de compra, transformação e venda. No caso sob análise: clientes R$
691.000; estoques R$ 745.700 e valores diversos R$ 363.000.
Note que as demais contas não necessitam de reclassificação.
• No passivo
• reclassificar para o circulante financeiro as contas representativas de dívi-
das de curto prazo e que não façam parte das atividades diárias da empresa
(normalmente sujeitas a juros). No caso específico: empréstimos e financi-
amentos bancários R$ 552.550; imposto de renda de PJ R$ 284.600 e con-
tribuição social R$ 135.900.
• reclassificar para o circulante cíclico as contas que identifiquem os financia-
dores normais das atividades da empresa e que constituam fontes espontâ-
neas de recursos, normalmente não sujeitas a juros. No caso: fornecedores
R$ 846.900; salários R$ 45.600; INSS R$ 215.090; FGTS R$ 7.620; contri-
buição sindical R$ 690; ICMS R$ 1.092,900; PIS R$ 67.000; Cofins R$
353.175 e contas a pagar R$ 16.000.
• para o passivo não circulante as contas que representem dívidas a vencer a
partir do exercício seguinte: empréstimos e financiamentos bancários R$
909.400.
$ mil % $ mil %
ATIVO 6.604.730 100,00 PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO 6.604.730
Circulante Financeiro 2.351.300 35,60 Circulante Financeiro 973.050 26,89
Caixa 672.500 10,18 Empréstimos 552.550 15,27
Bancos -127.600 -1,93 IR e CSLL 420.500 11,62
Aplicações Financeiras 6.700 0,10 Circulante Financeiro 2.644.975
Circulante Cíclico Fornecedores 846.900 23,41
Clientes 691.000 10,46 Salários a pagar 45.600 1,26
Estoques 745.700 11,29 Obrigações Sociais e Trabalhistas 223.400 6,17
Valores Diversos 363.000 5,50 Obrigações Tributárias 1.513.075 41,82
Não Circulante 4.253.430 64,40 Contas a Pagar 16.000 0,44
Realizável a Longo Prazo 0 0,00 Passivo Não Circulante 909.400 25,14
Investimentos 235.200 3,56 Financiamentos 909.400 25,14
Imobilizado 4.018.230 60,84 Patrimônio Líquido 2.077.305 57,42
Capital social 140.000 3,87
Reservas 1.937.305 53,55
• das dívidas com o ICMS (R$ 1.092.900) e à Cofins (R$ 353.175), a impor-
tância de R$ 1.305.875 referiam-se a impostos em atraso, parcelados em 60
meses. Os restantes R$ 140.200 representam dívidas normais para com
aqueles tributos, vencíveis no ano. Do total dos impostos renegociados, R$
292.375 representam parcelas vencíveis no corrente ano; o restante vence-
rá apenas em exercícios futuros.
A consulta ao SCR apontou a existência das seguintes dívidas com o Sistema
Financeiro Nacional:
• Desconto de duplicatas ................................ 1.100.400
• Cheque especial ............................................. 127.600
• Capital de giro – outras ................................... 462.050
• Financiamento – curto prazo ........................... 300.500
• Financiamento – longo prazo ........................... 909.400
Total ................................................................ 2.899.950
A partir das informações obtidas, vamos ajustar os números. Usando como refe-
rência o balanço reestruturado, transcreva as alterações em uma folha de papel ou
planilha e confira a exatidão de seus apontamentos.
Ajustes
No ativo circulante financeiro – conta caixa:
• R$ 467.000: excluir da conta caixa e lançar na conta retificadora deduções
do ativo.
• R$ 200.500: excluir da conta caixa e lançar na DRE como despesa comercial.
Como esse procedimento afeta o lucro líquido, reduzir igual valor da conta lu-
cros acumulados, equilibrando ativo e passivo. Os restantes R$ 5.000 permanecem na
conta caixa.
No ativo circulante cíclico – valores diversos:
• R$ 280.000: excluir da conta, em contrapartida com deduções do ativo.
No passivo circulante cíclico – obrigações tributárias
mos e impostos parcelados de longo prazo), notamos que a soma representa 67,72%
do total.
Podemos perceber que o quadro já não parece bom, com base só na análise
vertical do balanço. Vamos agora à DRE, pois é possível que a operação da empresa
seja ainda mais lucrativa que o custo de todo esse passivo oneroso, de forma que esse
grau de endividamento esteja justificado. Será?
Na DRE podemos perceber que esse não parece ser o caso, embora a situação
ainda não pareça tão grave. As despesas financeiras consomem 5,04% do montante
das vendas e, fazendo o cálculo, quase 60% do lucro operacional.
Isso quer dizer, como ponto positivo, que a operação da empresa suportaria es-
se nível de dívida, já que gera resultado operacional superior a esse custo e os resul-
tados são positivos mesmo depois do resultado financeiro. Se calcularmos o indicador
de rentabilidade sobre o PL com base só em 2012, teremos 17%, número que parece
bastante razoável.
Chegou então a hora da análise horizontal. Vamos ver para onde a empresa es-
tá se encaminhando. Já vimos que, apesar da estrutura alavancada, a situação não
seria desesperadora, desde que soubéssemos que existe uma tendência de melhora
ou, no mínimo, de estabilidade do quadro atual para os próximos exercícios. Vamos ver
então se é isso que está acontecendo.
Vamos começar pelas contas do balanço, depois passaremos para os indicado-
res a seguir, que devem tornar o quadro mais claro.
Observe que o patrimônio líquido vem perdendo espaço como fonte de financi-
amento. De 64,11% no primeiro ano, passou para 29,69% no segundo, para represen-
tar apenas 12,68% do ativo no último ano analisado. Isso importa dizer que há uma
tendência de crescimento na participação de capitais de terceiros, e de capitais onero-
sos também. Isso também nos sinaliza um desequilíbrio em seu giro. Vamos seguir em
frente com a análise dos índices a seguir, lembrando que os índices-padrão são forne-
cidos pelo Banco para empresas do ramo e porte da analisada, na mesma região geo-
gráfica.
que houve perda no montante dos capitais investidos na empresa em função das des-
pesas financeiras incorridas. Em 2011, como já sabemos, o indicador está enganosa-
mente elevado, em virtude do resultado não operacional.
Podemos ainda complementar a análise com o estudo do EBITDA. Por não ter-
mos dados sobre o valor da depreciação (o que na prática é bastante comum), será
possível apenas calcular o EBIT, que é o lucro operacional antes das despesas finan-
ceiras.
Conclusão
Com base nas análises efetuadas, podemos concluir com segurança que a situ-
ação econômico-financeira da empresa analisada é ruim, e com indícios de que cami-
nha para a insolvência.
Veja que, com as peças contábeis ajustadas, seguindo os passos descritos e
utilizando os referenciais de análise estudados, não foi difícil emitir um parecer funda-
mentado sobre a situação econômico-financeira da empresa do exemplo.
Para finalizar nosso diagnóstico, seria ainda necessário estabelecer a relação
dos números analisados com as informações mercadológicas e empresariais já obti-
das, bem como entender como a própria empresa enxerga sua situação e quais seus
planos futuros. Muitas dicas já foram dadas pelas próprias informações analisadas, e é
hora de confirmá-las ou complementá-las.
Por exemplo, caso descobríssemos que a Laticínios Boa Fé planeja manter o
nível de crescimento e expandir os segmentos de atuação, como descrito no enuncia-
do, a situação irá tornar-se ainda mais grave, uma vez que apuramos que um dos prin-
cipais problemas para a piora na situação econômico-financeira apurada é, justamente,
o crescimento descontrolado.
Tais dados confirmariam, portanto, que para esse caso a estratégia indicada se-
ria de negar a proposta de financiamento (ou reduzir a exposição, se já formos financi-
adores).
Por outro lado, porém, consideremos a seguinte alternativa: a empresa mostra-
se ciente de sua situação e está demandando um alongamento de sua dívida de curto
prazo – alternativa essa que já teria sido aceita por outros bancos credores – para que
tivesse maior folga de capital de giro. Juntamente com isso, mostra-se comprometida
em controlar o ritmo de crescimento e disposta a obedecer a eventuais cláusulas con-
tratuais que limitem seu endividamento e controlem a relação entre despesas financei-
ras e lucro operacional.
Nesse caso, a decisão seria tão simples? Obviamente que não. Apesar da ten-
dência ruim, vimos que a empresa gera resultados operacionais e com margens cres-
centes. Seu problema é, principalmente, a dependência crescente de recursos onero-
sos de alto custo e curto prazo, em função de um crescimento descontrolado, que a faz
caminhar para a insolvência. Caso esse ciclo seja interrompido, talvez a empresa pos-
sa voltar a ser viável.
Para buscar mais subsídios para amparar tal decisão, seria importante um estudo mais
detalhado das ameaças e oportunidades, pontos fortes e pontos fracos da empresa em
seu relacionamento com clientes, fornecedores, concorrentes, sócios e funcionários,
bem como em relação ao ambiente econômico, legal e regulatório. É o que estudare-
mos no capítulo a seguir.
Muitas vezes, porém – podemos até dizer que na maioria das vezes – a situação
será intermediária. Por exemplo, a empresa apresenta estrutura de capitais desfavorá-
vel, mas tem se mostrado lucrativa e em recuperação. Ou é uma empresa historica-
mente sólida, mas que está realizando investimentos para expansão e vem comprome-
tendo seu capital de giro. Ou, ainda, pode também ser uma empresa em situação regu-
lar, sem grandes destaques, tanto economicamente como financeiramente.
Nesses casos, principalmente, é essencial que a empresa seja avaliada em um
contexto mais amplo, e que sejam ponderadas as influências, ameaças e oportunida-
des externas, com o objetivo de compreender de que forma e em que intensidade suas
características societárias, as estratégias da empresa e as informações produzidas
pela análise econômico-financeira efetuada, em conjunto, tornam a empresa frágil ou
não a modificações econômicas ou de mercado que estejam fora de seu controle e ca-
pacidade de previsão 5.
Assim, com base nesse cenário mais amplo, será possível identificar aspectos
gerais e pontuais de risco, que permitirão que a decisão de crédito (valor e condicio-
nantes) esteja o mais adequada possível ao perfil do cliente.
Sem a pretensão de esgotar o assunto, já que cada caso é único e os potenciais
fatores de influência são inumeráveis, vamos discutir os principais pontos aos quais
precisamos estar atentos e sobre os quais devemos buscar informações nos meios
disponíveis, já que podem ter relevância real na avaliação da situação econômico-
financeira e capacidade de pagamento futura das operações com o Banco.
Estrutura acionária/societária
É importante verificar, entre outros fatores, a composição societária da empresa
e do grupo em que está inserida: se o controle é familiar ou não, se a família participa
5
É muito difícil, ou quase impossível, prever exatamente quando e em que intensidade haverá uma desvalorização
cambial, ou qual será exatamente a estratégia da concorrência, ou qual será a reação do mercado consumidor ao
novo produto lançado. Por isso, mais importante que a previsão exata, é avaliar o potencial impacto das diferentes
possibilidades de desfechos, e em que medida a empresa se mostra robusta ou frágil em relação a eles.
Estratégia
A compreensão da estratégia está, em muitos pontos, relacionada ao item ante-
rior. Sua compreensão é importante para justificar fatores observados na análise e pa-
ra que possamos vislumbrar os possíveis cenários futuros, o que deve, também, signi-
ficar aumento ou redução do risco percebido.
O risco será aumentado, por exemplo, caso se apure que uma empresa varejis-
ta, já com início de desequilíbrio financeiro verificado na análise de seus números,
mantém a estratégia de elevar a participação no mercado e aumentar o volume de
vendas por meio, por exemplo, da expansão de lojas, sem que busque as fontes de
recurso adequadas para tanto.
Poderá, também, ser reduzido (nesse caso com base em ponderação cuidado-
sa) se a empresa justificar um aumento de dívida, pontual e planejado, como resultado
de um investimento no desenvolvimento de um produto que complementará seu portfó-
lio, ou que servirá para aproveitar uma oportunidade identificada de crescimento que
irá permitir crescimento das margens operacionais, com redução da dívida nos exercí-
cios seguintes.
Obviamente, nesses casos, o perfil agressivo ou conservador das estratégias (e
dos dirigentes) deve ser considerado, bem como o usual viés de otimismo de empresá-
rios e dirigentes (muitas vezes também da instância proponente) na visualização do
futuro.
Concorrência
É importante entendermos qual a importância da empresa no(s) mercado(s) em
que atua e em que medida ela seria afetada pela entrada de novos concorrentes ou por
ações (de redução de preço, por exemplo) de seus concorrentes atuais.
É importante também identificar eventuais produtos e tecnologias substitutas,
que possam tornar obsoletos os produtos da empresa e, nesse caso, qual é a consci-
ência da empresa sobre o assunto e sua estratégia de reação.
Câmbio
No caso de fornecedores ou clientes externos, devemos também saber qual a
estratégia adotada pela empresa para administrar seu risco cambial, já que o valor das
dívidas em moeda estrangeira crescerá proporcionalmente, no caso de uma desvalori-
zação da moeda local. A valorização da moeda, por outro lado, pode prejudicar uma
empresa eminentemente exportadora, já que seus produtos se tornam mais caros.
Sistema financeiro
Além da informação sobre o número de bancos de relacionamento em crédito,
que está disponível no SCR, é importante que busquemos também saber quais são
essas instituições e em quais valores e condições financiam a empresa. A interpreta-
ção de tais informações nem sempre é óbvia e há um componente estratégico envolvi-
do (existem empresas que optam por não concentrar relacionamento e outras preferem
estreitar relações com poucos bancos).
De maneira geral, porém, a concentração em um ou poucos bancos aumenta o
risco de refinanciamento das dívidas, caso sejam necessárias. Da mesma forma, a
presença de muitos bancos de pequeno porte pode indicar dificuldades na obtenção de
crédito, e pode sugerir que a empresa está disposta (ou tenha necessidade de) pagar
caro pelos recursos, o que pode ser cotejado com a informação dos demonstrativos.
Nos casos de o relacionamento estar concentrado em bancos de primeira linha,
saber quais são os valores e condições de prazo e garantia praticados pode dar dicas
sobre qual a percepção de risco dessas instituições sobre a empresa, informação que,
analisada criticamente, pode também contribuir para a nossa percepção de risco.
Como já dissemos, além dos fatores expostos, mais comuns no dia a dia da análise,
inúmeros outros fatores podem exercer influência no negócio da empresa, como ques-
tões regulatórias, ambientais ou políticas, questões relacionadas à imagem e a recla-
mações de consumidores, problemas no relacionamento com funcionários, gerando
greves, paralizações de produção ou sabotagem, etc.
Concluindo
Cabe ao analista, com base nas informações recebidas e nas pesquisas realiza-
das, apurar no momento da análise a relevância de cada um dos aspectos discutidos,
estabelecer a relação deles com os números apresentados e identificar eventuais e
potenciais consequências sob o ponto de vista de risco de crédito.
Note também que a situação econômico-financeira – ou o desempenho – não
pode ser analisada isoladamente. É fácil perceber, por exemplo, que uma empresa que
tenha apresentado resultados bons e estáveis, mas que tenha suas vendas concentra-
das em um produto prestes a se tornar obsoleto pelo lançamento de novas tecnologia,
ou, sendo importadora, não tenha política de proteção contra variação cambial, podem
apresentar maior risco do que outra, com resultados apenas regulares, não apresente
fragilidades como as citadas.
Retomando, então, nossa análise dos Laticínios Boa Fé, agora com foco nos fa-
tores empresariais e mercadológicos: informações positivas relativas à administração,
posicionamento de mercado e estratégia poderiam, como dissemos, nos levar a consi-
derar a hipótese de participar do reperfilamento da dívida, desde que atendidas todas
as condições que entendêssemos necessárias.
Por outro lado, é fácil perceber que, se em nossas pesquisas e contatos com a
agência e o cliente, apurássemos a existência de riscos potenciais já discutidos nos
itens anteriores, a decisão de negar a concessão de limite ou de reduzir a exposição
com o cliente estaria definitivamente consolidada.
APÊNDICE
OUTROS INDICADORES
Abordaremos a seguir algumas ferramentas que, embora não sejam adotadas
sistematicamente pelo Banco, são utilizados no mercado para avaliação de empresas.
O seu conhecimento, mesmo que superficial, torna- se importante na medida em que
você poderá deparar-se com empresários que os abordam ao avaliar suas empresas.
Valor adicionado
O valor adicionado, também chamado valor agregado, tem íntimo relaciona-
mento com o processo do ciclo operacional da empresa. Refere-se a valores alocados
na remuneração direta e indireta de recursos humanos, dividendos, juros sobre capital
próprio, retenções, participação dos administradores e empregados nos resultados e
impostos.
A CVM incentiva a divulgação voluntária da Demonstração do Valor Adicionado
(DVA). Tal demonstração tem como objetivo principal informar o valor da riqueza criada
pela empresa e a forma de sua distribuição. Não deve ser confundida com a demons-
tração do resultado do exercício, pois esta tem suas informações voltadas quase que
exclusivamente para os sócios e acionistas, principalmente na apresentação do lucro
líquido, enquanto a DVA está direcionada para a geração de riquezas e sua respectiva
distribuição pelos fatores de produção (capital e trabalho), e é dirigida, também, ao go-
verno.
Neste ponto de vista, um produto ou uma empresa será tanto melhor para a
economia do país a que pertence quanto maior for seu valor agregado.
EVA e MVA
EVA, ou valor econômico adicionado, na sigla em inglês, é o retorno que excede
às expectativas de remuneração dos capitais aplicados. Os investimentos criam valor e
mostram-se economicamente atraentes quando o retorno obtido nas aplicações exce-
der à taxa requerida na alocação dos recursos na empresa. Criar valor para os acionis-
tas significa elevar o valor da empresa para deixá-los mais ricos.
O EVA é uma medida de performance econômica que constitui ferramenta de
gerenciamento de negócios. O objetivo do EVA é assegurar que as decisões tomadas
no dia a dia de determinada empresa tenham como foco a criação de valor.
O EVA, como medida de desempenho, é a simples noção do lucro residual em
sua forma mais fundamental, ou seja, para que investidores realizem uma taxa de re-
torno adequada, o retorno deve ser grande o suficiente para compensar o risco. Assim,
o lucro residual é zero se o retorno operacional de uma empresa for apenas igual ao
retorno exigido em troca do risco.
Vamos exemplificar. Admitamos a implantação de uma lanchonete por R$
50.000,00, com recursos próprios. Os investidores possuem como custo de oportuni-
dade (maior remuneração que teriam aplicando seus capitais em outros investimentos)
anual e constante de R$ 10.000,00. Assim, aplicam seus recursos estimando retorno à
taxa de 20% ao ano que, para fins didáticos, não será capitalizada. Nessas condições,
o fluxo de investimento estaria assim representado:
Do que foi visto, conclui-se que os resultados apresentados não agregaram nem
destruíram valor à empresa; os investidores não ficaram nem mais ricos nem mais po-
bres, ou seja, a empresa não obteve EVA e nem MVA (valor de mercado adicionado,
na sigla também em inglês), conforme segue:
MVA*: R$ 12.500,00
*MVA = Valor de mercado da empresa (–) Capital total investido.
exigir juros mais elevados para continuarem concedendo novos créditos. Como é sabi-
do, empresas mais endividadas oferecem maiores riscos; riscos mais elevados impli-
cam juros maiores; juros maiores acarretam lucros menores e, consequentemente,
EVA e MVA também menores e, até mesmo, negativos.