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UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA

PSICOLOGIA
2º SEMESTRE

PINÓQUIO ÀS AVESSAS
Análise crítica

Anemeire Alves D581FF-5


Lucielma Silva Leão D66EFH-8
Michelle Cristiane Santini Bueno C679CD-3
Raquel dos Reis Encarnação Boccaletti T6263H-8
Solange de Araújo Teixeira D72BDD-4

LIMEIRA/SP
2018
UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA
PSICOLOGIA
2º SEMESTRE

Anemeire Alves – RA D581FF-5


Lucielma Silva Leão – RA D66EFH-8
Michelle Cristiane Santini Bueno – RA C679CD-3
Raquel dos Reis Encarnação Boccaletti – RA T6263H-8
Solange de Araújo Teixeira – RA D72BDD-4

PINÓQUIO ÀS AVESSAS
Análise crítica

Trabalho de análise crítica do livro


‘Pinóquio às avessas’ e as abordagens
tradicional, comportamental e humanista
de ensino.

Orientador: Prof.ª Liliane F. Neves Inglez


de Souza

LIMEIRA/SP
2018
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 3
2 DISCUSSÃO SOBRE AS ABORDAGENS ..................................................... 3
2.1 Abordagem tradicional ............................................................................... 3
2.2 Abordagem comportamental ..................................................................... 5
2.3 Abordagem humanista ............................................................................... 9
CONCLUSÃO .................................................................................................... 11
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 12
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1 INTRODUÇÃO

Esta obra é uma análise articulada do livro ‘Pinóquio às avessas’, de Rubem


Alves, que se dá pela busca dos aspectos primordiais de três diferentes abordagens
de ensino-aprendizagem presentes na sociedade e ensino a que Felipe,
personagem principal, está submetido. Abordagem Tradicional, Comportamental e
Humanista compõe a base teórica do estudo.
Através das páginas deste trabalho, será possível ao leitor identificar as
citadas abordagens e verificar as influências de cada uma na vida da personagem
Felipe, que, quando criança, era cheio de sonhos de liberdade, mas chega à sua
vida adulta moldado pelo sistema e buscando ter de volta sua alma cheia de
pássaros.

2 DISCUSSÃO SOBRE AS ABORDAGENS

Há diversas formas de se conceber o fenômeno de se educar, sendo este um


fenômeno humano, histórico e multidimensional, estando presentes tanto a
dimensão humana, quanto a técnica, cognitiva, emocional, sócio-política e cultural.
Seguem nos próximos tópicos a análise das abordagens verificadas em
‘Pinóquio às avessas’.

2.1 Abordagem Tradicional

Importa ressaltar que “este tipo de abordagem inclui tendências e


manifestações diversas” (MIZUKAMI, 1986, p.7) e “trata-se de uma concepção e
uma prática educacionais que persistiram no tempo, em suas diferentes formas”
(MIZUKAMI, 1986, p.7).
Em ‘Pinóquio às avessas’, de Rubem Alves, a abordagem tradicional
apresenta-se amiudadamente nas diversas categorias elencadas por Mizukami em
seu livro ‘Ensino: as abordagens do processo’.
Segundo Mizukami (1986), nesta abordagem, o aluno precisa ser atualizado,
uma vez que é considerado tábula rasa no início da vida, sendo “a realidade algo
que será transmitido ao indivíduo principalmente pelo processo de educação formal”
(MIZUKAMI, 1986, p.9). A fala do pai de Felipe atesta a afirmação anterior: “É
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preciso ir à escola para não ficar burro, para ser gente de verdade...” (ALVES, 2010,
p.11). Salienta-se, ainda, que “a escola, fundada nas concepções desta abordagem,
é o lugar por excelência onde se realiza a educação” (MIZUKAMI, 1986, p.12). Esta
abordagem é, novamente, exposta por Alves no trecho a seguir: “Quando nem o pai
nem a mãe sabiam as respostas para as perguntas do menino, eles diziam: ‘Na
escola você aprenderá...’” (ALVES, 2010, p.16).
Alves denuncia os efeitos negativos desta abordagem na vida do pequeno
Felipe, que após o primeiro dia de aula tem um sonho à noite. Neste sonho, Felipe
era um passarinho que voava junto a outros pássaros, cada um com seu canto. No
entanto, “de repente, surgiu um corvo negro que abriu o bico, e dele saiu um barulho
igualzinho à campainha da escola. Todos os pássaros voaram para gaiolas
separadas, onde ficaram presos” (ALVES, 2010, p.28). Revela-se “um ambiente
físico austero para que o aluno não se distraia” (MIZUKAMI, 1986, p.12). Ao que
todos os pássaros estavam em suas gaiolas, o corvo negro “falou com uma voz
áspera: ‘Eu me chamo Corvo Falante. Na escola vocês vão aprender a cantar como
se deve’” (ALVES, 2010, p.28). Evidencia-se, aqui, conteúdos já prontos, sendo
transmitidos de maneira muito formal. O aluno torna-se um receptor passivo. “O
professor é o agente, o aluno é o ouvinte” (MIZUKAMI, 1986, p.16). O ensino é
centrado no professor, e o aluno um “adulto em miniatura” (MIZUKAMI, 1986).
Mizukami (1986, p.15) também enfatiza que “o papel do professor está
intimamente ligado à transmissão de certo conteúdo que é predefinido e que
constitui o próprio fim da existência escolar”. Segue um trecho de ‘Pinóquio às
avessas’ que clarifica a definição apresentada:

Ao vir para a escola, vi um pássaro azul que come mamão. Mas não sei o
nome dele. A senhora, que ensina nomes, poderia me dizer qual é o nome
dele? A professora sorriu e disse: - Agora não é hora de pensar em
pássaros. Os nomes dos pássaros não estão no programa de português. Na
aula de português, temos de pensar e falar sobre aquilo que o programa
manda. (ALVES, 2010, p.29)

Na continuidade do diálogo, transcrito acima, entre Felipe e sua professora de


português, o mesmo a questiona sobre o que seria programa, ao qual a mestre
responde: “ – Programa é uma fila com todas as coisas que você deve aprender na
escola, colocadas uma atrás da outra” (ALVES, 2010, p.30). Logo, revela-se que a
abordagem tradicional “trata-se, pois, da transmissão de ideias selecionadas e
organizadas logicamente” (MIZUKAMI, 1986, p.11). Felipe, então questiona “Quem é
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que diz quais são as coisas que devo aprender? Quem foi que colocou em filas as
coisas que devo aprender? ” (ALVES, 2010, p.30). Ao passo que a professora
responde: “Quem põe os conhecimentos em fila são pessoas muito inteligentes, do
governo” (ALVES, 2010, p.30). Segundo Mizukami (1986, p.8), “esse tipo de ensino
volta-se para o que é externo ao aluno: o programa, as disciplinas, o professor. O
aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas por autoridades exteriores”.
É importante, também, destacar que “ignoram-se as diferenças individuais,
pois os métodos não variam ao longo das classes nem dentro da mesma classe”
(MIZUKAMI, 1986, p.14). Na resposta que a professora de Felipe dá a ele, fica claro
este aspecto:

O que você deve aprender é aquilo que disseram os homens inteligentes do


governo. Tudo na ordem certa. Uma coisa de cada vez. Todas as crianças
ao mesmo tempo. Na mesma velocidade...
- Professora – continuou Felipe -, todas as crianças podem aprender na
mesma velocidade?
A professora achou melhor não continuar a conversa. Mudou de assunto”.
(ALVES, 2010, p.30)

Analisando-se os aspectos teóricos da abordagem tradicional e o conto


‘Pinóquio às avessas’, fica clara a presença desta abordagem na vida, escola e
sociedade em que Felipe está inserido.

2.2 Abordagem Comportamental

Esta abordagem caracteriza-se pelo primado do objeto (MIZUKAMI, 1986).


Moreira (1999, p.140) expõe que

A abordagem comportamentalista considera o aprendiz, basicamente,


como um ser que responde a estímulos que se lhe apresentam. Nesta
perspectiva, a atenção volta-se para os eventos observáveis e mensuráveis
no mundo exterior ao indivíduo; esta ênfase no ambiente objetivo, por sua
vez, provê uma base para o estudo de manipulações que produzem
mudanças comportamentais.

Mizukami (1986) declara que a ideia de que o indivíduo não é livre é


absolutamente necessária, como uma forma de controle e modelagem. Logo, “o
aluno é considerado como um recipiente de informações e reflexões” (MIZUKAMI,
1986, p.20) e
“Objetiva-se que o professor possa aprender a analisar os elementos
específicos de seu comportamento, seus padrões de interação, para, dessa
forma, ganhar controle sobre eles e modificá-los em determinadas direções
quando necessário, ou mesmo desenvolver outros padrões”. (MIZUKAMI,
1986, p.21)
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Ao ler a história de Felipe em ‘Pinóquio às avessas’, observa-se que Felipe


era um menino curioso, que amava pássaros. Alves (2010, p.17) declara que “a alma
de Felipe estava cheia de pássaros”, retratando sua liberdade. Em resposta à uma
pergunta de seu pai, Felipe responde: “- Quando eu crescer, quero continuar a ser o
que sou agora: Felipe! Não quero ser outra pessoa! Não quero mudar de nome! ”.
(ALVES, 2010, p.18)
Mas, imerso, também, em uma abordagem comportamentalista, Felipe
começa a ser modelado. Alves (2010, p.36) conta um episódio na vida do aluno:

“Felipe pintou um elefante cor-de-rosa e outro verde. A professora chamou o


menino e disse que elefantes não eram cor-de-rosa nem verdes. Ele deveria
pintar os elefantes da cor que eles eram. Felipe obedeceu. Passou a pintar
os elefantes e todas as outras coisas do jeito como eram”.

Consoante Mizukami (1986 apud ROCHA, 1980, p.28), a aprendizagem pode


ser definida como “uma mudança relativamente permanente em uma tendência
comportamental e/ou na vida mental do indivíduo, resultantes de uma prática
reforçada. ”
Percebe-se uma Abordagem Comportamental por parte da professora com
relação a Felipe. Por conseguinte, o menino vai se permitindo moldar pelas contingências
que o cercam a partir da frustração que surge ao não ter suas perguntas respondidas e
suas curiosidades sanadas, como a escola idealizada por ele em seus pensamentos.
Em sequência a um sonho onde todos corriam e todos ganhavam, Felipe teve o
seguinte pesadelo:

Felipe estava num hospital. Ia ser operado. A cirurgiã, com um giz na mão direita e
um pagador na esquerda, lhe dizia:
- O seu coração é um ninho de pássaros. Mas os pássaros que moram no seu
coração não cantam nas horas certas. Assim, vamos trocá-los por um cuco, que
canta sempre nas horas certas...

Mizukami (1986 apud COSTA, 1978, p.13) define de maneira magnifica o


significado do pesadelo de Felipe:

A escola, portanto, assumindo-se como agência de controle, pode ser vista como
uma agência de limitação do desenvolvimento da individualidade da pessoa,
porque atua de modo que esta seja mascarada ou preenchida por valores sociais e
não pessoais, quando oferece ao sujeito as opções permitidas pelo caráter social,
como caminhos para que ele desenvolva suas características.
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Apercebendo-se de como funcionava o metiê escolar, e passando pelo processo de


modelagem, Felipe afirma que “É igualzinho na televisão. A gente aperta um botão e o
canal muda. Na escola, é a campainha que faz mudar o canal do pensamento. Esse deve
ser o jeito certo. Pensar as coisas certas, ao aperto de um botão. ” (Alves, 2010, p.34)
A respeito deste controle do seu eu ser exercido por outras pessoas – cirurgiã
(projeção da professora) que trocara os pássaros por um cuco - Mizukami (1986 apud
SKINNER, 1973, p.157) delineia que:

“O homem autônomo é um dispositivo empregado para explicar o que não


podemos explicar por outro meio qualquer. Foi produto de nossa ignorância,
e, à medida que nossa compreensão aumenta, a verdadeira essência de
que se compõe desaparece. [...] Somente o desapossando (o homem),
poderemos voltar-nos para as causas reais do comportamento humano.
Somente então poderemos voltar-nos do inferido para o observado, do
milagroso para o natural, do inacessível para o manipulável. ”

Mesmo sendo impelido pelo sistema escolar, no decorrer de uma aula “havia ainda
um ninho de passarinhos” (ALVES, 2010, p.37) no coração de Felipe, que, por
consequência, distraiu-se da aula e “começou a sorrir” (ALVES, 2010, p.37) – seria esse o
sorriso da liberdade? – Em sequência

Ao olhar para o sorriso de Felipe, o professor percebeu que ele não estava
prestando atenção.
- Felipe, você não está prestando atenção. Você não está pensando naquilo que
deve pensar nesta hora...
O professor mandou Felipe para a psicóloga, que diagnosticou “distúrbio de
atenção” (ALVES, 2010, p.38)

A atuação do professor pode ser esclarecida pela definição de Mizukami (1986,


p.32): “A função básica do professor consistiria em arranjar as contingências de reforço de
modo a possibilitar ou aumentar a probabilidade de ocorrência de uma resposta a ser
aprendida” .

[...] A psicóloga mandou chamar os pais de Felipe. [...] –Se você continuar a pensar
em passarinhos, vai ficar burro! [...], tirará notas baixas nas provas, tirando notas
baixas, não passará de ano. E não passará no vestibular. Não entrará na
universidade. Não tirará diploma. Não será ninguém na vida. ” (ALVES, 2010, p. 38)

Percebemos aqui um estimulo negativo, como forma de promover mudanças no


comportamento de Felipe para que ele se “enquadre” nos moldes pretendidos pelo
ambiente familiar, escolar, social, etc. Diante de tal estímulo, Felipe “toma consciência” do
seu comportamento e da forma como se deve viver no “mundo dos adultos” e, a resposta
de Felipe vem de acordo com as expectativas terceiras sobre si mesmo e não de acordo
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com seus próprios anseios e objetivos. Em uma análise, Felipe, aqui, permite-se ser
“desapossado” do controle de si mesmo, dando a outros:

“Não posso ser motivo de vergonha para meus pais. Eles me matricularam em um
colégio forte, colégio caro, que prepara para o vestibular e fazem um grande
sacrifício por minha causa. Eles querem o meu bem. Não vou mais pensar em
passarinhos. ” (ALVES, 2010, p. 38)

De acordo com Mizukami (1986, p.25):

“O controle e o diretivismo do comportamento humano são


considerados inquestionáveis... É ele uma peça numa máquina planejada e
controlada, realizando a função que se espera seja realizada de maneira
eficiente. ”

É importante destacar o sonho que Felipe teve na noite após essa conversa com os
pais:
Naquela noite, Felipe sonhou com a estória de Pinóquio. Só que, em vez do
Pinóquio, era ele... Estava numa floresta cheia de pássaros. E estava se
transformando num burrinho! Já tinha um rabo e orelhas grandes. O Corvo Falante,
do alto de uma árvore, regia um coro esquisito: todos tinham viseiras de burro nos
olhos. E cantavam: “É preciso não olhar para os lados para não ter rabo e orelhas
longas...”
Felipe acordou e disse: [...] Tenho que olhar na direção certa: olhar para o professor,
olhar para os livros”. (ALVES, 2010, p. 39)

Interessante é perceber as viseiras de burro em todo o coro regido pelo Corvo


Falante (sistema/ professor?). Desse ponto em diante, Felipe se torna no modelo que era
esperado dele. Se dedica aos estudos, aprende tudo que lhe é ensinado e guarda seus
pensamentos para si mesmo. No vestibular, o grande exame dos nomes, foi aprovado em
primeiro lugar. Foi motivo de orgulho para seus pais. Ele agora era “especialista em frangos
de corte. Felipe tinha uma profissão. Felipe tinha um nome. Se tornou um profissional
respeitado. Ficou rico.
Educação, ensino-aprendizagem, instrução, passam a significar arranjo de
contingencias para que a transmissão cultural seja possível, assim como as
modificações que forem julgadas necessárias pela cúpula decisória.
Como consequência dessa abordagem, fica claro que o que não é
programado não é desejável. (MIZUKAMI, 1986, p.35)

Portanto, segundo o conceito da abordagem comportamentalista que diz que


o “homem é uma consequência das influências e forças existentes no meio
ambiente” (MIZUKAMI, 2010, p.21) analisa-se que Felipe, um menino de carne e
osso, em contato com contingências diferentes das que ele fazia parte, foi sendo
modelado segundo referenciais propostos e determinados por um grupo de pessoas
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das quais ele nem chegou a conhecer: entrou menino de carne e osso e saiu como
um boneco de madeira...

2.3 Abordagem Humanista

Destoando das abordagens anteriores, Moreira (1999, p.140) afirma que a


“abordagem humanística, considera, primordialmente, o aluno como pessoa. Ele é
essencialmente livre para fazer escolhas em cada situação... O ensino deve facilitar
a auto realização, o crescimento pessoal”. Logo, o professor não precisa apenas
passar um conteúdo programado, mas sim facilitar a aprendizagem do aluno,
criando condições para que ele se encontre em suas experiências.
Ainda sobre esta abordagem, Mizukami (1986, p.38) declara que:

...a experiência pessoal e subjetiva é o fundamento sobre o qual o


conhecimento abstrato é construído. Não existem, portanto, modelos
prontos nem regras a seguir, mas um processo de vir-a-ser. O objetivo
último do ser humano é a auto realização ou o uso pleno de suas
potencialidades e capacidades.

Em seu livro, Alves demonstra o desejo de Felipe - e por que não dizer o seu
próprio – de vivenciar uma educação baseada na abordagem humanista.

Felipe dormiu e teve um lindo sonho. Sonhou com a escola. Sonhou que os
professores eram pássaros que ensinavam a voar. Cada pássaro-professor
ensinava a voar de um jeito. Há muitos jeitos de voar: o jeito beija-flores, o
jeito dos urubus, o jeito das pombinhas, o jeito dos sabiás... Havia pássaros-
professores que ensinavam a linguagem dos pássaros, e outros que
ensinavam a cantar como pássaros. Ele e os amigos eram aprendizes de
pássaros” (ALVES, 2010, p.25)

Portanto, fica claro o que Mizukami (1986, p.52) colocou a esse respeito: “Daí
o professor ser compreendido como um facilitador da aprendizagem, devendo, para
isso, ser autêntico (aberto às suas experiências) e congruente, ou seja, integrado”.
É pertinente, ainda, lembrar do apresentado anteriormente quanto à não
existência de modelos e regras fixas neste tipo de abordagem. “Não se enfatiza
técnica ou método para se facilitar a aprendizagem” (MIZUKAMI, 1986, p.53). Logo,
quanto ao que ocorre em sala de aula, a ênfase deve ser dada ao favorecimento do
“desenvolvimento de um clima que possibilite liberdade para aprender” (MIZUKAMI,
1986, p.54). Segue o sonho de Felipe quanto à esta liberdade e ausência de regras
fixas:
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Era assim: Alice estava conversando com muitos bichos. Um deles era um
pássaro grande, que tinha um nome engraçado: Dodô. Haveria uma corrida
da qual todos participariam. Alice perguntou ao pássaro quais era as regras.
Ele explicou:
- Primeiro, marca-se o caminho da corrida, num tipo de círculo. A forma
exata não tem importância. Então os participantes são todos colocados em
lugares diferentes, ao longo do caminho, aqui e ali. Não tem nada de “1, 2, e
já”... Eles começam a correr quando tem vontade e param quando querem,
o que torna difícil dizer quando a corrida termina. (ALVES, 2010, p.32 e 33)

A abordagem humanista ainda “coloca ênfase no processo e não nos estados


finais de ser” (MIZUKAMI, 1986, p.43), o que pode ser verificado no sonho de Felipe,
que continua:

Assim a corrida começou. Depois que haviam corrido um certo tempo, o


pássaro Dodô gritou:
- A corrida terminou!
Todos se reuniram ao redor de Dodô e perguntaram:
- Quem ganhou?
- Todos ganharam – ele respondeu. – E todos devem ganhar prêmios.
(ALVES, 2010, p.33)

Ao acordar, indignado com o modelo de ensino-aprendizagem vivenciado por


ele, Felipe pensou:

“Seria bom se, na escola, fosse como na corrida do Dodô. Cada um corre
com uma velocidade diferente e, ao final, todos recebem prêmios. Na escola
é diferente. Só levam prêmios os que chegam na frente. Mas onde é a
frente? ” (ALVES, 2010, p.34)

Portanto, a história ‘Pinóquio às avessas’, é uma crítica à forma de ensino


aprendizagem imposta aos alunos, suprimindo o indivíduo e o dogmatizando, sem
levar em conta o subjetivo de cada um. Para finalizar esta breve análise, segue um
trecho de Moreira (1999, p.16):

A filosofia humanista vê o ser que aprende, primordialmente, como pessoa...


o aprendiz é visto como um todo – sentimentos, pensamentos e ações –
não só intelecto. Neste enfoque, a aprendizagem não se limita a um
aumento de conhecimentos. Ela é penetrante, visceral, e influi nas escolhas
e atitudes do indivíduo. Pensamentos, sentimentos e ações estão
integrados, para o bem ou para o mal. Não tem sentido falar do
comportamento ou da cognição sem considerar o domínio afetivo, os
sentimentos do aprendiz. Ele é pessoa e as pessoas pensam, sentem e
fazem coisas integradamente.
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CONCLUSÃO

Diante do que foi analisado, pode-se afirmar que as ideias aqui desenvolvidas
intencionaram proceder a uma breve investigação das diferentes abordagens de
ensino-aprendizagem presentes na vida de Felipe e contadas em ‘Pinóquio às
avessas’.
Através do levantamento teórico, observa-se que as abordagens tradicional e
comportamental envolvem a criança. Embora Felipe não vivencie a realidade de
uma escola e sociedade humanista, ele abriga o desejo intenso de que assim o
fosse. Não há de se falar apenas em escola, mas em uma sociedade voltada, ainda,
para aquilo que um diploma universitário e uma bem-sucedida carreira profissional
podem oferecer a um ser humano que, quando criança, apenas sonha em continuar
com sua alma cheia de pássaros. Mas, com a cirurgia minuciosa e constante do
sistema, tem o seu coração repleto de ninho de pássaros – uma alma produtora de
sonhos e liberdade – trocado por um cuco que obedece às normas de um sistema
doentio, para se dizer o mínimo.
Alves, em seu livro ‘Pinóquio às avessas’, deixa claro o seu desejo de que a
escola e a família devem olhar mais para o ser humano. Logo, revela seu perfil
humanista através de críticas pontuais às demais abordagens tratadas no decorrer
do trabalho.
Embora muitos críticos creiam que Alves seja um tanto quanto romântico em
suas idealizações educacionais, há de se promover um despertar de consciência em
cada leitor desta sua obra. Que se despertem as nossas consciências para valorizar
mais as crianças que estão sob nossos cuidados, mesmo que, talvez, um ensino
humanista ainda esteja um pouco distante da maioria de nós.
12

REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens; SOUSA, Maurício. Pinóquio às avessas, São Paulo, SP:


Maurício de Sousa Editora, 2010
COSTA, M.L.A. As implicações do currículo centrado na proposição de
Skinner, São Paulo, Tese de Mestrado em Supervisão e Currículo, PUC-SP, 1978
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: As abordagens do processo,
São Paulo, SP: EPU, 1986
MOREIRA, Marco Antônio. Teorias da aprendizagem, São Paulo, SP: EPU,
1999
ROCHA, E.M.B. O processo ensino-aprendizagem. Modelos e componentes.
In: PENTEADO, W.M.D. (org). Psicologia e Ensino, São Paulo, Papel Livros, 1980
SKINNER, B.F.Ciência e Comportamento Humano, São Paulo, SP: EDART-
EDUSP, 1974

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