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PSICOLOGIA
2º SEMESTRE
PINÓQUIO ÀS AVESSAS
Análise crítica
LIMEIRA/SP
2018
UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA
PSICOLOGIA
2º SEMESTRE
PINÓQUIO ÀS AVESSAS
Análise crítica
LIMEIRA/SP
2018
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 3
2 DISCUSSÃO SOBRE AS ABORDAGENS ..................................................... 3
2.1 Abordagem tradicional ............................................................................... 3
2.2 Abordagem comportamental ..................................................................... 5
2.3 Abordagem humanista ............................................................................... 9
CONCLUSÃO .................................................................................................... 11
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 12
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1 INTRODUÇÃO
preciso ir à escola para não ficar burro, para ser gente de verdade...” (ALVES, 2010,
p.11). Salienta-se, ainda, que “a escola, fundada nas concepções desta abordagem,
é o lugar por excelência onde se realiza a educação” (MIZUKAMI, 1986, p.12). Esta
abordagem é, novamente, exposta por Alves no trecho a seguir: “Quando nem o pai
nem a mãe sabiam as respostas para as perguntas do menino, eles diziam: ‘Na
escola você aprenderá...’” (ALVES, 2010, p.16).
Alves denuncia os efeitos negativos desta abordagem na vida do pequeno
Felipe, que após o primeiro dia de aula tem um sonho à noite. Neste sonho, Felipe
era um passarinho que voava junto a outros pássaros, cada um com seu canto. No
entanto, “de repente, surgiu um corvo negro que abriu o bico, e dele saiu um barulho
igualzinho à campainha da escola. Todos os pássaros voaram para gaiolas
separadas, onde ficaram presos” (ALVES, 2010, p.28). Revela-se “um ambiente
físico austero para que o aluno não se distraia” (MIZUKAMI, 1986, p.12). Ao que
todos os pássaros estavam em suas gaiolas, o corvo negro “falou com uma voz
áspera: ‘Eu me chamo Corvo Falante. Na escola vocês vão aprender a cantar como
se deve’” (ALVES, 2010, p.28). Evidencia-se, aqui, conteúdos já prontos, sendo
transmitidos de maneira muito formal. O aluno torna-se um receptor passivo. “O
professor é o agente, o aluno é o ouvinte” (MIZUKAMI, 1986, p.16). O ensino é
centrado no professor, e o aluno um “adulto em miniatura” (MIZUKAMI, 1986).
Mizukami (1986, p.15) também enfatiza que “o papel do professor está
intimamente ligado à transmissão de certo conteúdo que é predefinido e que
constitui o próprio fim da existência escolar”. Segue um trecho de ‘Pinóquio às
avessas’ que clarifica a definição apresentada:
Ao vir para a escola, vi um pássaro azul que come mamão. Mas não sei o
nome dele. A senhora, que ensina nomes, poderia me dizer qual é o nome
dele? A professora sorriu e disse: - Agora não é hora de pensar em
pássaros. Os nomes dos pássaros não estão no programa de português. Na
aula de português, temos de pensar e falar sobre aquilo que o programa
manda. (ALVES, 2010, p.29)
que diz quais são as coisas que devo aprender? Quem foi que colocou em filas as
coisas que devo aprender? ” (ALVES, 2010, p.30). Ao passo que a professora
responde: “Quem põe os conhecimentos em fila são pessoas muito inteligentes, do
governo” (ALVES, 2010, p.30). Segundo Mizukami (1986, p.8), “esse tipo de ensino
volta-se para o que é externo ao aluno: o programa, as disciplinas, o professor. O
aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas por autoridades exteriores”.
É importante, também, destacar que “ignoram-se as diferenças individuais,
pois os métodos não variam ao longo das classes nem dentro da mesma classe”
(MIZUKAMI, 1986, p.14). Na resposta que a professora de Felipe dá a ele, fica claro
este aspecto:
Felipe estava num hospital. Ia ser operado. A cirurgiã, com um giz na mão direita e
um pagador na esquerda, lhe dizia:
- O seu coração é um ninho de pássaros. Mas os pássaros que moram no seu
coração não cantam nas horas certas. Assim, vamos trocá-los por um cuco, que
canta sempre nas horas certas...
A escola, portanto, assumindo-se como agência de controle, pode ser vista como
uma agência de limitação do desenvolvimento da individualidade da pessoa,
porque atua de modo que esta seja mascarada ou preenchida por valores sociais e
não pessoais, quando oferece ao sujeito as opções permitidas pelo caráter social,
como caminhos para que ele desenvolva suas características.
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Mesmo sendo impelido pelo sistema escolar, no decorrer de uma aula “havia ainda
um ninho de passarinhos” (ALVES, 2010, p.37) no coração de Felipe, que, por
consequência, distraiu-se da aula e “começou a sorrir” (ALVES, 2010, p.37) – seria esse o
sorriso da liberdade? – Em sequência
Ao olhar para o sorriso de Felipe, o professor percebeu que ele não estava
prestando atenção.
- Felipe, você não está prestando atenção. Você não está pensando naquilo que
deve pensar nesta hora...
O professor mandou Felipe para a psicóloga, que diagnosticou “distúrbio de
atenção” (ALVES, 2010, p.38)
[...] A psicóloga mandou chamar os pais de Felipe. [...] –Se você continuar a pensar
em passarinhos, vai ficar burro! [...], tirará notas baixas nas provas, tirando notas
baixas, não passará de ano. E não passará no vestibular. Não entrará na
universidade. Não tirará diploma. Não será ninguém na vida. ” (ALVES, 2010, p. 38)
com seus próprios anseios e objetivos. Em uma análise, Felipe, aqui, permite-se ser
“desapossado” do controle de si mesmo, dando a outros:
“Não posso ser motivo de vergonha para meus pais. Eles me matricularam em um
colégio forte, colégio caro, que prepara para o vestibular e fazem um grande
sacrifício por minha causa. Eles querem o meu bem. Não vou mais pensar em
passarinhos. ” (ALVES, 2010, p. 38)
É importante destacar o sonho que Felipe teve na noite após essa conversa com os
pais:
Naquela noite, Felipe sonhou com a estória de Pinóquio. Só que, em vez do
Pinóquio, era ele... Estava numa floresta cheia de pássaros. E estava se
transformando num burrinho! Já tinha um rabo e orelhas grandes. O Corvo Falante,
do alto de uma árvore, regia um coro esquisito: todos tinham viseiras de burro nos
olhos. E cantavam: “É preciso não olhar para os lados para não ter rabo e orelhas
longas...”
Felipe acordou e disse: [...] Tenho que olhar na direção certa: olhar para o professor,
olhar para os livros”. (ALVES, 2010, p. 39)
das quais ele nem chegou a conhecer: entrou menino de carne e osso e saiu como
um boneco de madeira...
Em seu livro, Alves demonstra o desejo de Felipe - e por que não dizer o seu
próprio – de vivenciar uma educação baseada na abordagem humanista.
Felipe dormiu e teve um lindo sonho. Sonhou com a escola. Sonhou que os
professores eram pássaros que ensinavam a voar. Cada pássaro-professor
ensinava a voar de um jeito. Há muitos jeitos de voar: o jeito beija-flores, o
jeito dos urubus, o jeito das pombinhas, o jeito dos sabiás... Havia pássaros-
professores que ensinavam a linguagem dos pássaros, e outros que
ensinavam a cantar como pássaros. Ele e os amigos eram aprendizes de
pássaros” (ALVES, 2010, p.25)
Portanto, fica claro o que Mizukami (1986, p.52) colocou a esse respeito: “Daí
o professor ser compreendido como um facilitador da aprendizagem, devendo, para
isso, ser autêntico (aberto às suas experiências) e congruente, ou seja, integrado”.
É pertinente, ainda, lembrar do apresentado anteriormente quanto à não
existência de modelos e regras fixas neste tipo de abordagem. “Não se enfatiza
técnica ou método para se facilitar a aprendizagem” (MIZUKAMI, 1986, p.53). Logo,
quanto ao que ocorre em sala de aula, a ênfase deve ser dada ao favorecimento do
“desenvolvimento de um clima que possibilite liberdade para aprender” (MIZUKAMI,
1986, p.54). Segue o sonho de Felipe quanto à esta liberdade e ausência de regras
fixas:
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Era assim: Alice estava conversando com muitos bichos. Um deles era um
pássaro grande, que tinha um nome engraçado: Dodô. Haveria uma corrida
da qual todos participariam. Alice perguntou ao pássaro quais era as regras.
Ele explicou:
- Primeiro, marca-se o caminho da corrida, num tipo de círculo. A forma
exata não tem importância. Então os participantes são todos colocados em
lugares diferentes, ao longo do caminho, aqui e ali. Não tem nada de “1, 2, e
já”... Eles começam a correr quando tem vontade e param quando querem,
o que torna difícil dizer quando a corrida termina. (ALVES, 2010, p.32 e 33)
“Seria bom se, na escola, fosse como na corrida do Dodô. Cada um corre
com uma velocidade diferente e, ao final, todos recebem prêmios. Na escola
é diferente. Só levam prêmios os que chegam na frente. Mas onde é a
frente? ” (ALVES, 2010, p.34)
CONCLUSÃO
Diante do que foi analisado, pode-se afirmar que as ideias aqui desenvolvidas
intencionaram proceder a uma breve investigação das diferentes abordagens de
ensino-aprendizagem presentes na vida de Felipe e contadas em ‘Pinóquio às
avessas’.
Através do levantamento teórico, observa-se que as abordagens tradicional e
comportamental envolvem a criança. Embora Felipe não vivencie a realidade de
uma escola e sociedade humanista, ele abriga o desejo intenso de que assim o
fosse. Não há de se falar apenas em escola, mas em uma sociedade voltada, ainda,
para aquilo que um diploma universitário e uma bem-sucedida carreira profissional
podem oferecer a um ser humano que, quando criança, apenas sonha em continuar
com sua alma cheia de pássaros. Mas, com a cirurgia minuciosa e constante do
sistema, tem o seu coração repleto de ninho de pássaros – uma alma produtora de
sonhos e liberdade – trocado por um cuco que obedece às normas de um sistema
doentio, para se dizer o mínimo.
Alves, em seu livro ‘Pinóquio às avessas’, deixa claro o seu desejo de que a
escola e a família devem olhar mais para o ser humano. Logo, revela seu perfil
humanista através de críticas pontuais às demais abordagens tratadas no decorrer
do trabalho.
Embora muitos críticos creiam que Alves seja um tanto quanto romântico em
suas idealizações educacionais, há de se promover um despertar de consciência em
cada leitor desta sua obra. Que se despertem as nossas consciências para valorizar
mais as crianças que estão sob nossos cuidados, mesmo que, talvez, um ensino
humanista ainda esteja um pouco distante da maioria de nós.
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REFERÊNCIAS