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DO PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA NO

ÂMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS: INSTRUMENTO QUE BUSCA


COERÊNCIA, EFICIÊNCIA E SEGURANÇA JURÍDICA DO SISTEMA
PROCESSUAL.

SOTTORIVA, Denielli Heloise Cordeiro Martins 1

RESUMO

O presente artigo científico se propõe a analisar e traçar algumas considerações


sobre o instituto da Uniformização de Jurisprudência no âmbito dos Juizados
Especiais, tema este pouco tratado na doutrina. É evidente a importância da
uniformização do entendimento entre as Turmas Recursais na promoção da
coerência e eficiência, elementos estes essenciais a todo e qualquer sistema
processual, assim como o princípio da segurança jurídica e a própria completude da
prestação jurisdicional. O Poder Judiciário como um todo deve manter certa
concordância em suas decisões a fim de afastar a insegurança jurídica, para tanto, a
fim de manter a sintonia afastando divergência jurisprudencial entre as Turmas
Recursais por meio da formulação de um pedido de uniformização jurisprudencial.

Palavras-chave: Juizados Especiais; Decisões Divergentes; Uniformização de


Jurisprudência.

1Pós-Graduanda em Direito Processual (lato sensu) da Pontifícia Universidade Católica de Minas


Gerais – Unidade Betim/MG, deloisesotto@gmail.com;
2

1- INTRODUÇÃO

1.1 – Contextualização Histórica Da Gênese dos Juizados Especiais.

Inicialmente, faz-se necessário realizar uma breve exposição no que diz


respeito ao surgimento da Lei nº 9.099/95, realizando uma contextualização histórica
que corroborou com a sua elaboração. Surgiu no Rio Grande do Sul um movimento
de juristas que reconheceram na conciliação mais do que um mero incidente
processual, mas um verdadeiro caminho para reduzir o enorme fluxo de litígios
resultantes da hipertrofia da função jurisdicional do Poder Judiciário e o sentimento
de descrédito resultante do elevado custo, demora dos processos, isto é, os
embaraços que se interpõe entre a sociedade e a prestação jurisdicional. O acesso
à justiça, como um direito fundamental social vinculado à democratização e à
cidadania social, não pode ser tomado meramente como a garantia de acesso à
ordem jurídica e, foram os supracitados juristas que perceberam que era preciso o
estabelecimento de um ambiente propício para a formação de uma nova tradição,
baseada na busca da solução dos conflitos pela via conciliatória.
Então, no início da década de 80, em caráter experimental, foram criados no
Rio Grande do Sul os chamados Conselhos de Conciliação e Arbitramento, que por
si próprios não possuíam nenhuma exigência legal, nem função judicante e eram
compostos por juízes improvisados que atuavam neles fora do horário de expediente
forense.2 Já em São Paulo, foram implantadas as denominadas Juntas Informais de
Conciliação.
Em razão do sucesso das experiências e do bom recebimento por parte da
sociedade, restou assomada a necessidade da criação de um diploma legal que
regulasse a introdução desse novo modelo de órgão judicial conciliador no sistema
judiciário brasileiro. Foram enviados ao Congresso Nacional pelo Poder Executivo
sob a forma do Projeto de Lei nº 1.950/83, estudos resultantes dos esforços de uma
Comissão que pretendia criar um modelo de Juizado de Pequenas Causas, focado
na conciliação e assim foi criada a Lei nº 7.244 de 7/11/84.
O supracitado diploma legal criou um Juizado competente para as pequenas
causas, cujo critério era o valor econômico, tais juizados foram implantados em

2SALOMÃO, Luís Felipe. Roteiro dos Juizados Especiais Cíveis. Rio de Janeiro: Destaque, 1997. p.
27
3

diversos Estados e atendiam os princípios da celeridade, oralidade e informalidade,


com grande destaque para a conciliação. Importante ressaltar que referida Lei
buscou “universalizar a jurisdição e racionalizar o seu exercício”3 criando regras e
princípios próprios, a fim de facilitar o acesso ao Judiciário.
Foi neste movimento de maior acesso à justiça que o legislador constituinte
conferiu caráter constitucional aos Juizados de Pequenas Causas, com a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, de forma específica em seu
art. 24, inciso X. E conforme o disposto no art. 98, inciso I da CRFB/88, houve a
implantação dos Juizados Especiais (da União, dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios), responsáveis em julgar as causas cíveis de menor complexidade e
infrações penais de menor potencial ofensivo. Nesse sentido, dispõem os referidos
artigos4, respectivamente que:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:


I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas
cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial
ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas
hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por
turmas de juízes de primeiro grau;

Por conseguinte, a programação da Carta Magna dos supramencionados


juizados foi implementada com a criação da Lei nº 9.099 em 26/09/1995, que dispõe
tanto sobre o Juizado Especial Cível como o Criminal.
A Lei nº 9.099/95 revogou expressamente a Lei nº 7.244/84, e criou um
modelo chamado de Juizados Especiais Cíveis cujas competências se baseiam em
dois critérios: causas de pequeno valor econômico (40 salários mínimos – art. 3º,
incisos I e IV) e causas especiais em razão da matéria (causas de menor
complexidade – art. 3º, incisos II e III).

3 DINAMARCO, Cândido Rangel. Manual do Juizados Cíveis. 2ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p.
20.
4
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Vade Mecum. São Paulo: Rideel,
2017.
4

No que diz respeito aos Juizados Especiais Criminais, com a Lei nº 9.099/95,
houve uma alteração no tratamento dos acusados pela prática de crimes de menor
potencial ofensivo, assim como no papel da vítima e na forma de cumprimento das
penas.
Saliente-se que segundo a Carta Magna de 1988 e a Lei nº 9.099/95, os
Juizados Especiais deveriam existir apenas no âmbito da justiça dos Estados e do
Distrito Federal e, apenas com a Emenda Constitucional nº 22/1999 (alterou o art.
98) que a sua instituição foi prorrogada também para o âmbito da Justiça Federal.
Após 1995, diante do sucesso do modelo dos Juizados Especiais, este foi
reproduzido para a Justiça Trabalhista (Lei nº. 9.957/00), para a Justiça Federal (Lei
nº. 10.259/01) e para o Juízo Fazendário dos Estados, Municípios e Distrito Federal
(Lei nº. 12.153/09).

1.2 – Sistema De Precedentes Judiciais

A ideia dos precedentes judiciais foi adotada pela comissão de juristas que
elaborou a proposta do Novo Código de Processo Civil, mas há muito que o direito
brasileiro já vinha seguindo em direção da valorização dos precedentes. Para além
de uma mera valorização, de acordo com alguns doutrinadores, a maior alteração e
quebra de paradigma com o sistema processual anterior foi a inovação trazida com o
efeito vinculante dos precedentes.
De acordo com Gabriel Wedy e Juarez Freitas5, “os precedentes judiciais
ostentam notável prestígio argumentativo, em especial nos países da Common Law,
marcados pelo sistema do stare decisis”. Em tal sistema o Direito, em grande parte,
é construído com base nos precedentes e estes funcionam como balizas que
demarcam a estrutura jurídico-institucional adotada com relação à determinadas
questões. Importante destacar que, de acordo com a teoria mencionada, os
precedentes normativos devem ser usados em casos semelhantes, garantindo,
assim, previsibilidade do direito.

5 Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2015-mar-26/legado-votos-vencidos-suprema-corte-


estados-unidos>. Acesso em: 02/03/2018.
5

Para Luiz Guilherme Marinoni6, os precedentes foram essenciais no processo


de evolução do Sistema da Common Law, em cujo, no curso do seu
desenvolvimento, surgiu o stare decisis com o objetivo de conferir segurança às
relações jurídicas. Cumpre ressaltar que o stare decisis tem sustentação
especialmente na igualdade, na segurança e na previsibilidade.
Já o Sistema jurídico brasileiro, conforme ensinamentos de Elpídio
Donizetti7, sempre foi filiado ao sistema da Civil Law, semelhante àquele que
ocorre nos países de origem romano-germânica. Para este Sistema a Lei é a fonte
primária do ordenamento jurídico e, consequentemente, o instrumento apto a
solucionar as controvérsias levadas ao conhecimento do Poder Judiciário.
Por isso a inserção da teoria dos precedentes judiciais no Novo Código de
Processo Civil causou certo estranhamento. Como dito anteriormente, o Brasil adota
o sistema de Civil Law, por isso não existe dever de que o Poder Judiciário, como
intérprete da lei, deva dar tratamento uniforme em processos diferentes, nos quais
se discutem as mesmas questões. Nesse sistema, os precedentes apenas se
prestavam a orientar.
Conforme Jaldemiro Rodrigues de Ataíde Jr.8:

Há quase vinte anos, o Direito brasileiro vem caminhando rumo a um


sistema de precedentes. É inegável que no Brasil anuncia-se um novo
processo, que põe em destaque o caráter paradigmático das decisões dos
tribunais superiores e se volta a solucionar com maior segurança jurídica,
coerência, celeridade e isonomia as demandas de massa, as causas
repetitivas, ou melhor, as causas cuja relevância ultrapassa os interesses
subjetivos das partes. Não é por acaso que o efeito vinculante e a
possibilidade de eficácia prospectiva dos precedentes são considerados por
muitos como duas das principais inovações do projeto do novo Código de
Processo Civil.

6 MARINONI, Luiz Guilherme. Aproximação crítica entre as jurisdições de civil law e de common law e
a necessidade de respeito aos precedentes no Brasil. Revista da Faculdade de Direito - UFPR,
Curitiba, n.49, 2009, p.54. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/direito/article/viewFile/17031/11238>.
Acesso em: 02/03/2018
7 DONIZETTI, Elpídio. A força dos precedentes do Novo Código de Processo Civil. Disponível em: <

https://elpidiodonizetti.jusbrasil.com.br/artigos/155178268/a-forca-dos-precedentes-do-novo-codigo-
de-processo-civil>. Acesso em: 02/03/2018
8 ATAÍDE JR., Jaldemiro Rodrigues de. Uma proposta de sistematização da eficácia temporal dos

precedentes diante do projeto de novo CPC. In: ADONIAS, Antônio; DIDIER JR., Fredie (org.). O
projeto do novo Código de Processo Civil: estudos em homenagem ao professor José Joaquim
Calmon de Passos. Salvador: Jus Podivn, 2012. p. 363-364.
6

Assim, a inserção do Sistema dos precedentes judiciais se apresentou como


uma tentativa de solucionar dois dos grandes problemas enfrentados pelo Poder
Judiciário nacional contemporâneo: o do excesso de processos e o da morosidade.
Somado a estes, existe ainda o problema da falta de segurança jurídica, com a
imprevisibilidade das decisões judiciais, o que acaba por gerar um estado de
incredulidade no sistema jurídico brasileiro.
A segurança jurídica é um dos princípios estruturantes do Estado
Democrático de Direito e possui ligação direta com os Direitos Fundamentais. Luiz
Guilherme Marinoni afirma que a segurança jurídica é vista como estabilidade e
continuidade da ordem jurídica, assim como uma forma de previsibilidade das
consequências jurídicas de determinada conduta, sendo ela indispensável para a
conformação de um Estado que pretenda ser 'Estado de Direito'9.
No sistema da Common Law, a segurança jurídica e a estabilização de
expectativas é alcançada por intermédio da fixação de padrões decisórios que ficam
à mercê da observância, em larga escala, de precedentes sólidos, tidos como
aceitáveis culturalmente. Com base nisto que a Constituição norte-americana teve
sucesso em no processo de se adaptar às novas realidades, sem deixar de
preservar formalmente o seu texto, mantendo-se intacta desde a versão
dos Founding Fathers of the United States, em 1787, que participaram da redação
da Constituição dos Estados Unidos após a Declaração de Independência.
Por fim, é essencial destacar que estes mecanismos de utilização dos
precedentes instituídos no Novo Código de Processo Civil não têm por objetivo o
engessamento do Poder Judiciário, crítica negativa que alguns estudiosos acentuam
(aqueles que são contrários a um sistema de precedentes). Assim, por meio desse
sistema é possível observar que a legislação e a doutrina sobre precedentes
apresentam espaço para inovação e mudança, desde que haja realmente a
necessidade e a devida fundamentação para que isto ocorra, priorizando sempre a
observância do princípio da isonomia e tendo como fim a manutenção da segurança
jurídica.

9MARINONI, Luiz Guilherme. Os Precedentes na Dimensão da Segurança Jurídica. Disponível em:


<http://www.tex.pro.br/home/artigos/261-artigos-mar-2014/6443-os-precedentes-na-dimensao-da-
seguranca-juridica>. Acesso em: 02/03/2018.
7

2 – DO PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA

O mecanismo denominado pedido de uniformização da jurisprudência esta


disposto nos arts. 14 da Lei nº 10.259/2001 e 18 da Lei nº 12.153/2009. Quais
sejam:

Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal


quando houver divergência entre decisões sobre questões de direito
material proferidas por Turmas Recursais na interpretação da lei.
§ 1o O pedido fundado em divergência entre Turmas da mesma Região será
julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência do
Juiz Coordenador.
§ 2o O pedido fundado em divergência entre decisões de turmas de
diferentes regiões ou da proferida em contrariedade a súmula ou
jurisprudência dominante do STJ será julgado por Turma de Uniformização,
integrada por juízes de Turmas Recursais, sob a presidência do
Coordenador da Justiça Federal.
§ 3o A reunião de juízes domiciliados em cidades diversas será feita pela via
eletrônica.
§ 4o Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em
questões de direito material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante
no Superior Tribunal de Justiça -STJ, a parte interessada poderá provocar a
manifestação deste, que dirimirá a divergência.
§ 5o No caso do § 4o, presente a plausibilidade do direito invocado e
havendo fundado receio de dano de difícil reparação, poderá o relator
conceder, de ofício ou a requerimento do interessado, medida liminar
determinando a suspensão dos processos nos quais a controvérsia esteja
estabelecida.
§ 6o Eventuais pedidos de uniformização idênticos, recebidos
subseqüentemente em quaisquer Turmas Recursais, ficarão retidos nos
autos, aguardando-se pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça.
§ 7o Se necessário, o relator pedirá informações ao Presidente da Turma
Recursal ou Coordenador da Turma de Uniformização e ouvirá o Ministério
Público, no prazo de cinco dias. Eventuais interessados, ainda que não
sejam partes no processo, poderão se manifestar, no prazo de trinta dias.
§ 8o Decorridos os prazos referidos no § 7o, o relator incluirá o pedido em
pauta na Seção, com preferência sobre todos os demais feitos, ressalvados
os processos com réus presos, os habeas corpus e os mandados de
segurança.
§ 9o Publicado o acórdão respectivo, os pedidos retidos referidos no §
6o serão apreciados pelas Turmas Recursais, que poderão exercer juízo de
retratação ou declará-los prejudicados, se veicularem tese não acolhida
pelo Superior Tribunal de Justiça.
§ 10. Os Tribunais Regionais, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo
Tribunal Federal, no âmbito de suas competências, expedirão normas
regulamentando a composição dos órgãos e os procedimentos a serem
adotados para o processamento e o julgamento do pedido de uniformização
e do recurso extraordinário

Art. 18. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei quando


houver divergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais sobre
questões de direito material.
8

§ 1o O pedido fundado em divergência entre Turmas do mesmo Estado


será julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência
de desembargador indicado pelo Tribunal de Justiça.
§ 2o No caso do § 1o, a reunião de juízes domiciliados em cidades diversas
poderá ser feita por meio eletrônico.
§ 3o Quando as Turmas de diferentes Estados derem a lei federal
interpretações divergentes, ou quando a decisão proferida estiver em
contrariedade com súmula do Superior Tribunal de Justiça, o pedido será
por este julgado.

Conforme ensina Elpídio Donizetti,10 contra decisão da Turma Recursal do


Juizado Especial Federal (JEF) ou do Juizado da Fazenda Pública existe um
instrumento específico para fazer resolver o problema da ocorrência de
interpretações discordantes de Lei Federal entre diferentes Turmas Recursais.
No âmbito dos Juizados Especiais Federais, os órgãos competentes para o
direcionamento do pedido de uniformização em comento são as Turmas Conjuntas,
qual seja, o órgão formado pelas Turmas Recursais em divergência, dentro da
mesma Região. Quando a divergência ocorre entre Turmas Recursais de regiões
diferentes, bem como quando a divergência no sentido contrário a entendimento
sumulado ou Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, será competente para o
julgamento do pedido de uniformização a Turma de Uniformização, sendo esta
integrada por juízes de Turmas Recursais e conduzido pela presidência do
Coordenador da Justiça Federal. No caso da Turma de Uniformização contrariar
súmula ou jurisprudência dominante no STJ, em hipóteses que dizem respeito à
questões de direito material, existe a possibilidade da parte interessada provocar a
manifestação da Corte que discutirá a divergência.
Com a admissão do pedido de uniformização no STJ e verificado que estão
presentes a plausibilidade do direito invocado, bem como o fundado receio de dano
de difícil reparação, o Ministro Relator poderá conceder, de ofício ou a requerimento
do interessado, medida liminar determinando a suspensão dos processos nos quais
a controvérsia esteja estabelecida. O Ministro Relator pode ainda, se entender
necessário, pedir informações ao Presidente da Turma Recursal ou ao Presidente
da Turma de Uniformização, ouvindo-se o Ministério Público nos casos previstos em
lei. Decorrido o prazo para manifestação do Ministério Público.

10 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 20ª ed. rev. e completamente
reformulada conforme o Novo CPC – Lei 13.105 de 16 de março de 2015. São Paulo: Atlas, 2017. p.
894
9

Aos Tribunais Regionais Federais, no que tange seu âmbito de atuação,


restou a competência para disciplinar e regulamentar sobre a composição dos
órgãos e dos procedimentos a serem adotados nos julgamentos dos pedidos de
uniformização. Já no âmito do STJ, foi o Regimento Interno da Turma Nacional de
Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais que regulou sobre
o pedido de uniformização (aprovado pela Resolução nº 345/2015, do Conselho da
Justiça Federal).
Interessante verificar que por meio do pedido de uniformização de
interpretação de lei federal da Lei nº 10.259/2001, é solicitado não só a fixação da
tese jurídica aplicável ao caso em questão, mas também o reexame da decisão, na
mesma relação processual. Pode-se concluir, portanto, que se trata de um
verdadeiro recurso, próprio dos Juizados Especiais Federais, com função
semelhante à do Recurso Especial fundado em dissídio jurisprudencial previsto no
art. 105, inciso III, alínea c, da CRFB/88.
No âmbito dos Juizados Especiais da Fazenda Pública o pedido de
uniformização de jurisprudência poderá ser manejado pela parte interessada quando
ocorrer divergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais sobre questões
de direito material. Cumpre ressaltar que não é cabível o pedido de uniformização no
caso em que a divergência versar sobre questão de direito processual. Em relação
ao procedimento, o julgamento do incidente é feito em reunião conjunta das Turmas
em conflito, sob a condução de um Desembargador indicado pelo Tribunal de
Justiça da Unidade Federativa a que pertençam ambas as Turmas. Caso os juízes
tiverem sede em cidades diferentes, a reunião, assim como no âmbito dos JEF,
também poderá ser realizada por meio eletrônico. Quando as Turmas Divergentes
pertencerem a Estados diferentes, ou quando a divergência envolver decisão em
contrariedade com súmula do STJ, será esta Corte competente para julgar o pedido
de uniformização. E ainda, o STJ também se manifestará, à pedido da parte
interessada, nas hipóteses em que a solução adotada pelas Turmas locais de
Uniformização contrariar súmula da referida Corte.

Assim, as hipóteses de cabimento do pedido de uniformização, nos termos da


Lei nº 12.153/2009 (Lei dos Juizados da Fazenda Pública), são as seguintes:
10

- quando há divergência em relação a decisões proferidas por Turmas


Recursais sobre questões de direito material dentro do mesmo Estado (art.
18);
- quando há contradição entre julgados de Turmas Recursais de diferentes
Estados quanto à interpretação da lei federal (art. 19);
- E por fim quando há confrontamento entre decisões de Turma Recursal ou
orientações acolhidas por Turmas de Uniformização com súmula do
Superior Tribunal de Justiça (art. 19).

As duas primeiras hipóteses dizem respeito à uniformização de interpretação


de lei quando houver divergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais
sobre questões de direito material (art. 18, § 3º). Novamente, resta evidente que não
há espaço para uniformização de lei processual, não cabendo a utilização do
incidente para tanto.
E quando existirem pedidos de uniformização fundados em questões
idênticas, ao serem interpostos, em qualquer Turma Recursal, estes serão retidos
nos autos, devendo aguardar o pronunciamento do STJ com relação à questão.
Após a publicação do acórdão pelo STJ, os pedidos retidos serão apreciados pelas
respectivas Turmas Recursais, que poderão exercer juízo de retratação ou declarar
os pedidos de uniformização prejudicados, quando contrários à tese prevalecente no
STJ.
No STJ o procedimento ocorre da seguinte forma: I- O Ministro Relator pode
pedir informações ao Presidente da Turma Recursal ou ao Presidente da Turma de
Uniformização e, nos casos previstos em lei, ouvirá o Ministério Público (prazo de 5
dias); II- Então, o processo será incluído pelo Ministro Relator em pauta na sessão,
preferindo a todos os demais feitos, ressalvados os processos com réus presos, os
de habeas corpus e os de mandado de segurança; III- Com a publicação do
acórdão, os pedidos retidos também serão apreciados pelas Turmas Recursais, que
podem exercer o juízo de retratação ou então, os declarará prejudicados (caso
veiculem tese não acolhida pelo STJ;

Nos Juizados Especiais Cíveis da Justiça dos Estados não existe a previsão
na Lei nº 9.099/95 de mecanismo semelhante ao explicitado acima. Mas para
solucionar e superar possíveis divergências com relação à interpretação de lei, o
Supremo Tribunal Federal declarou o cabimento da Reclamação Constitucional, nas
11

hispóteses em que decisão de Turma Recursal for de encontro a súmula ou


jurisprudência consolidada em recursos repetitivos do STJ, conforme prevê o art.
1.036 do NCPC (Lei nº 13.105/15).

3 – CONCLUSÃO

A segurança jurídica se faz necessária para que o cidadão possa saber quais
serão as consequências jurídicas e os efeitos de determinados atos e
comportamentos, sejam os seus ou os de terceiros. A prestação da tutela
jurisdicional como um todo deve guardar um mínimo de coerência a fim de preservar
a segurança jurídica e a credibilidade do sistema judicial.
Portanto, o mecanismo trazido na forma do pedido de uniformização de
jurisprudência é uma importante ferramenta de garantia da eficácia e celeridade da
tutela jurisdicional, assim promovendo também a isonomia e a segurança jurídica,
bem como outros princípios previstos no ordenamento jurídico brasileiro.
No entanto, no âmbito dos Juizados Especiais Estaduais ainda existe uma
carência de aperfeiçoamento da uniformização de jurisprudência, isto por que não
ocorre como nos Juizados Federais, cuja estrutura possibilita recurso à Turma
Nacional de Uniformização.
Ante todo o exposto, conclui-se que a aplicação do instituto da uniformização
de jurisprudência é imprescindível em razão das necessidades da sociedade que
busca do Poder Judiciário soluções isonômicas, justas e proporcionais, sendo
indispensável, portanto, o controle quando houver decisões divergentes entre
Turmas Recursais dos Juizados Especiais.

REFERÊNCIAS

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temporal dos precedentes diante do projeto de novo CPC. In: ADONIAS, Antônio;
DIDIER JR., Fredie (org.). O projeto do novo Código de Processo Civil: estudos em
homenagem ao professor José Joaquim Calmon de Passos. Salvador: Jus Podivn,
2012.

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São Paulo: Rideel, 2017.
12

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- CASTRO, João Antônio Lima (org.). Direito Processual e a era digital. Belo
Horizonte: PUC Minas, Instituto de Educação Continuada, 2015.

- DINAMARCO, Cândido Rangel. Manual do Juizados Cíveis. 2ª Ed. São Paulo:


Malheiros, 2001.

- DONIZETTI, Elpídio. A força dos precedentes do Novo Código de Processo Civil.


Disponível em: < https://elpidiodonizetti.jusbrasil.com.br/artigos/155178268/a-forca-
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