Caso Clínico

Tratamento interdisciplinar auxiliado pela

proporção dourada

Weider de Oliveira Silva*, Vitório Costa**

Palavras-chave Resumo
Proporção dourada. Estética dentária. Atualmente, os implantes bucais são parte importante na reabilitação oral, sen-
Planejamento. Sorriso. Implantes. do que cada vez mais pacientes e profissionais optam por essa modalidade
Enxerto ósseo. de tratamento. A interdisciplinaridade permite que as diversas áreas da Odon-
tologia, dentro de uma mesma filosofia, trabalhem e alcancem os objetivos
desejados. O presente trabalho relata um caso clínico no qual, por meio de
um planejamento detalhado e integrado das áreas da Dentística, Prótese e
Implantodontia, foi possível reabilitar o paciente, devolvendo função e estética,
seguindo a grade de proporção dourada.

* Especialista em Dentística pela Faculdade de Odontologia do Planalto Central, Brasília/DF. Especialista em Implantodontia pela Associação Brasileira de Odontologia, Brasília/DF.
** Especialista em Prótese pela UFU-MG. Especialista em Implantodontia pela ABO-DF.

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Tratamento interdisciplinar auxiliado pela proporção dourada
INTRODUÇÃO
A introdução do conceito da osseointegração
trouxe à Odontologia muitas alterações, incluindo
mudanças significativas em alguns paradigmas.
Dentes com problemas periodontais, que antes
passavam por inúmeras tentativas de tratamen-
to, hoje são reavaliados e, caso sua manutenção
traga muitos fatores complicadores, poderão ser
extraídos e substituídos por implantes .
Durante a fase de planejamento cirúrgico-pro-
tético, deve-se observar as alterações ocorridas nas
estruturas do sistema estomatognático10. O trata-
mento reabilitador deverá promover a manutenção
da saúde das estruturas anatômicas, assim como
corrigir eventuais problemas presentes. Situações
de extremo desgaste dentário, em decorrência de
parafunções e/ou reabilitações mal procedidas, po-
dem gerar a perda de Dimensão Vertical de Oclu-
são (DVO), culminando em uma mínima exposição
dentária, até mesmo durante o ato de sorrir.
Na busca de uma explicação racional para o
belo ou para a lógica da natureza, os filósofos
gregos, como Polyclitus, Aristóteles e Platão, des-
cobriram e estabeleceram os conceitos de sime-
tria, equilíbrio e harmonia como pontos-chave da
beleza de um conjunto. Assim, surgiu a proporção
dourada, também chamada de divina ou áurea
— uma fórmula matemática para definir a harmo-
nia nas proporções de qualquer figura, escultura,
estrutura ou monumento, assim representada:
1,618 : 1,0 : 0,618. Onde a proporção para que
as medidas apresentem uma sensação agradável
aos olhos do observador deverá ser de 0,618,
tanto na largura quanto no comprimento .
A introdução da proporção dourada na Odon-
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tologia foi citada inicialmente por Lombardi3, em
1973, e, logo depois, por Levin2, em 1978, o
qual desenvolveu a régua da proporção dourada,
que é um facilitador, principalmente nas reabili-
tações complexas, para se obter um resultado
estético agradável. Apesar das diferenças de
forma e tamanho entre os dentes, eles mantêm
uma relação individual de largura/altura e, entre
5
si, certa proporção de largura real e aparente na
vista frontal. Alguns autores relacionam a largura
do sorriso à largura real e aparente dos dentes4,9.
Segundo Mondelli7, a largura ideal para o inci-
sivo central superior é 0,155 a largura do sorriso
do paciente. Para Francischone1, ao se observar
uma pessoa sorrindo, esse sorriso deve se apre-
sentar agradável e harmonioso quando, a partir
da linha média em direção ao canino, a largura
aparente do incisivo lateral seja 0,62 da largura
do incisivo central, assim como a largura aparente
do canino seja 0,62 da largura do incisivo lateral.
O objetivo deste trabalho é demonstrar uma
abordagem multidisciplinar, viabilizando uma
estética final dentro dos princípios da proporção
dourada, e recuperando socialmente o paciente
em um menor período de tempo.
Caso Clínico
Paciente do sexo masculino, 64 anos de ida-
de, leucoderma, Asa II, apresentou-se desejando
substituir a prótese removível antiga, visando,
também, que ao final do tratamento seus dentes
aparecessem na fala e no ato de sorrir. Ao exa-
me clínico, observou-se a presença de mobilidade
6,8
dos elementos 11, 24 e 25; ausência de estética
dos elementos anteriores inferiores; sobremordida

anterior; e mínima exposição dos elementos supe-
riores durante o sorriso. Verificou-se, ainda, que os
dentes não tinham uma proporção correta entre si
e em relação à face do paciente (Fig. 1 a 6).
A medida da largura do sorriso do paciente
foi mensurada (L.S. = 65mm) para a confecção
da grade de proporção dourada, que foi enviada
ao laboratório de prótese para a montagem das
futuras peças protéticas (Fig. 7).
Avaliando os exames radiográfico e tomo-
Figura 1 - Vista intrabucal frontal inicial.
Figura 3 - Vista oclusal superior inicial.
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Silva WO, Costa V
gráfico, verificou-se a necessidade de enxertia
óssea para possibilitar a utilização de implantes
dentários na arcada superior.
Após análise criteriosa e planejamento mul-
tidisciplinar, o caso foi iniciado cirurgicamente
com a extração dos elementos 11, 24 e 25,
sendo realizado imediatamente o levantamento
de seio maxilar bilateral, com a colocação de
osso autógeno removido do ramo mandibular
direito e instalação simultânea de 10 implantes
Figura 2 - Vista intrabucal inicial sem a prótese.
Figura 4 - Vista oclusal inferior inicial.
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Figura 5 - Sorriso inicial, sem mostrar os dentes superiores.
3,8mm
6,2mm
6,2mm
10mm
10mm
12,4mm
L.S. = 65mm
Figura 7 - Grade de proporção dourada com as respectivas larguras dos
incisivos centrais, laterais, caninos e corredor bucal, obtidas a partir da lar-
gura do sorriso.
cônicos (3i , Osseotite, EUA), sendo oito na ar-
®
cada superior e dois na região dos elementos
ausentes 45 e 46. Todos os implantes tiveram
travamento superior a 45N.cm² (Fig. 8 a 15).
Uma prótese superior provisória previamen-
te confeccionada, e já com a DVO restabele-
cida, foi reembasada com material resiliente
(Coe Soft®, Brasil) e instalada ao final desse
ato cirúrgico. Após 10 dias, a sutura foi remo-
vida, a prótese novamente reembasada e os
elementos 17 e 27, que foram mantidos para
48
Figura 6 - Mensuração da largura do sorriso.
preservar a propriocepção do paciente, foram
preparados para substituição das coroas metá-
licas por coroas provisórias já em nova DVO.
Logo em seguida, foi realizado o facetamento
e o aumento do comprimento nos elementos
3,8mm
12,4mm 42, 41, 31 e 32 com resina composta direta
(OA2 Charisma/Kulzer®, Brasil e A1 Enamel/
Ivoclar Vivadent®, Brasil), sem nenhum desgas-
te dentário. Os elementos 43, 44 e 47 foram
preparados para substituição das coroas meta-
loplásticas por coroas provisórias (Fig. 16, 17).
Seis meses após a intervenção cirúrgica, foi
realizada a reabertura dos implantes, instalação de
minipilares cônicos (1mm – Neodent®, Brasil) com
torque de 20N.cm², e moldagem para confecção
de um protocolo superior metaloplástico (dentes
Magister – Heraeus Kulzer®, Brasil), de acordo com
a grade de proporção dourada, simultaneamente à
confecção de coroas metalocerâmicas para os ele-
mentos 17, 27, 43, 44 e 47 (Fig. 18 a 23).
Ao final do tratamento, verificou-se uma har-
monia e equilíbrio no sorriso final do paciente
(Fig. 24, 25).
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Figura 8 - Radiografia inicial. Figura 9 - Levantamento de seio maxilar direito.

Figura 10 - Levantamento de seio maxilar esquerdo. Figura 11 - Remoção de enxerto do ramo mandibular direito.

Figura 12 - Osso removido. Figura 13 - Osso removido triturado.

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Figura 14 - Colocação do osso triturado no seio maxilar direito, junto com Figura 15 - Colocação do osso triturado no seio maxilar esquerdo e nos
os implantes. alvéolos do 24 e do 25, junto com os implantes.

Figura 16 - Prótese imediata reembasada. Figura 17 - Prótese imediata instalada.

Figura 18 - Radiografia pós-operatória. Figura 19 - Rebordo superior pré-reabertura dos implantes.

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Figura 20 - Instalação de minipilares sobre os implantes. Figura 21 - Prótese metaloplástica.

Figura 22 - Prótese metaloplástica instalada. Figura 23 - Reabilitação inferior concluída.

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Figura 24 - Prótese final em proporção dourada.
Conclusão
Pacientes que necessitam de reabilitações
extensas e complexas, precisam de um plane-
jamento multidisciplinar muito bem elaborado,
dentro das diversas áreas da Odontologia,
para que seja alcançado um resultado final
previsível e agradável.
A situação relatada evidenciava, inicialmen-
te, a desarmonia estética devida à diferença de
tamanho, forma e cor existente entre dentes
e peças protéticas, assim como o não apare-
cimento dos elementos dentários do paciente
durante o ato de falar ou mesmo de sorrir, devi-
do ao desarranjo oclusal presente.
A partir da utilização de implantes os-
seointegráveis, e por meio da reabilitação
do paciente com prótese sobre implantes e
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Figura 25 - Sorriso final com nova DVO.
facetas diretas confeccionadas dentro dos
princípios da proporção dourada, foi possível
devolver-lhe uma oclusão funcional e um sor-
riso equilibrado e harmonioso.
Outras proporções matemáticas também
podem ser utilizadas na busca de um sorriso
esteticamente agradável e natural. Entretanto,
a proporção dourada ainda é a mais utilizada
pelos profissionais.
É válido salientar que a adoção de certos
parâmetros matemáticos e geométricos, pelo clí-
nico ou técnico de laboratório, facilitará a confec-
ção de trabalhos estéticos complexos, proporcio-
nando resultados finais agradáveis e harmonio-
sos. Entretanto, essas leis não devem ser vistas
como únicas ou imutáveis, e sim como apenas
mais um recurso utilizado pelos profissionais.
 Silva WO, Costa V

Interdisciplinary treatment guided by the

golden proportion
ABSTRACT

Currently, oral implants are an important part on oral rehabilitation. Nowadays, more and more patients and
professionals opt for this kind of treatment. Interdisciplinarity, guided by the use of a common philosophy,
facilitates the achievement of the goals set by the professionals from many areas in dentistry. This article
describes a clinical case in which it was possible to rehabilitate the patient and restore function and aesthetics
by means of a detailed treatment plan that involved dentistry, prosthesis and implantology, and that followed
the golden proportion scale.

KEYWORDS: Golden proportion. Dental esthetics. Planning. Smile. Implants. Bone graft.

Referências

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J Prosthet Dent. 1978 Sep;40(3):244-52. pucrs.br/ojs/index.php/fo/article/viewFile/1201/959.
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odontologia estética. Int J Dent. 2008 out-dez;7(4):234-8.
CEP: 70.390-108 – Brasília / DF
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