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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

JOÃO FRANCISCO DA LUZ SOUZA

RELIGIÃO, NACIONALISMO E A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL NA


REVOLTA DE JOHN CHILEMBWE

FLORIANÓPOLIS
2017
JOÃO FRANCISCO DA LUZ SOUZA

RELIGIÃO, NACIONALISMO E A PRIMEIRA


GUERRA MUNDIAL NA REVOLTA DE JOHN
CHILEMBWE

Trabalho final da disciplina de


História da África, ministrada
pelo professor Dr. Silvio
Marcus de Souza Correa

FLORIANÓPOLIS
2017
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Resumo: Este artigo visa comentar sobre o movimento de


independência de John Chilembwe no Malawi quando o país
ainda era um protetorado inglês com o nome de Niassalândia no
início do século XX. O artigo busca fazer um panorama da
situação política e social na colônia e os possíveis motivos que
alavancaram uma revolta, estabelecendo três fatores como base
para esta: religião, nacionalismo e a ocorrência da primeira
guerra mundial. Por fim, tenta-se entender quais eram os
objetivos reais de Chilembwe com sua revolta, e quais as
consequências de seu movimento.
Palavras-chave: John Chilembwe. Nacionalismo. Religião.
Malawi. Independência

Abstract: This article aims to debate the movement for


independence led by John Chilembwe in Malawi when the
country was a british protectorade with the name of Nyasaland
at the beggining of the 20th century. The article have the
intention of expose the social-political situation of the colony
that may have contributed for the beggining of the revolt,
estabilishing three main factors: nationalism, religion and the
occurrance of the first world war. Then, aims to understand what
were the real objectives of Chilembwe with his revolution, and
what were the consequences of it.
Keywords: John Chilembwe. Nationalism. Religion. Malawi.
Independence
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John Chilembwe nasceu no Protetorado de Niassalândia


em 1871 e tornou-se uma das principais figuras do movimento
anticolonial na África quando protagonizou uma revolta contra a
administração inglesa em 1915. Apesar do fracasso, termo aqui
usado de maneira subjetiva como será explicado no decorrer do
texto, Chilembwe é hoje símbolo de nacionalismo no Malawi e
herói nacional, estampando a nota de 200 Kwacha do país.
Todavia, suas reais intenções ao encabeçar o movimento são
difusas.
Chilembwe foi educado em uma missão da Igreja da
Escócia em Niassalândia, na qual aprendeu o básico do inglês.
Ainda jovem, serviu na casa do missionário batista Joseph
Booth e viajou para os Estados Unidos, onde pôde se aprofundar
nos estudos de história africana e teologia. Em 1900 voltou para
a Niassalândia. Nessa mesma época fundou a Providence
Industrial Mission (daqui em diante abreviada para P.I.M), uma
igreja desassociada do governo colonial. Missões existiam em
abundância no Protetorado, mas o cristianismo africano era tido
como diferente do praticado na Europa, contando com uma
interpretação particular das escrituras. Por sua vez, igrejas
independentes eram as principais reprodutoras do discurso
anticolonial.
A administração inglesa era precária. A distribuição de
terras era feita de maneira a privilegiar agricultores ingleses em
detrimento de africanos; a má utilização desta aliada a baixa
fertilidade do solo fazia com que migrações fossem constantes
ao longo dos anos; a coleta de impostos era opressiva, em
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especial a taxa sobre habitação que previa a queima das cabanas


dos nativos que não pagavam tal taxa, potencializava as
migrações e mudanças na vida dos vilarejos; as leis para o
plantio eram diversas vezes alteradas para forçar o cultivo de
culturas de exportação, causando períodos de fome. A alienação
aos direitos causava grande descontentamento entre a população
nativa, e esse sentimento agravou-se com a eclosão da Primeira
Guerra Mundial.
O primeiro contato dos africanos com a guerra foi a
invasão às colônias alemãs na África pelos aliados. Para tanto, a
Europa levou um vasto número de africanos para o front, mais
de um milhão de homens combatente, além de outros
empregados na logística do conflito, em recrutamento forçado.
Aqueles recrutados na Niassalândia lutaram principalmente na
Tanzânia contra os alemães. Chilembwe era crítico aberto ao
recrutamento. Porém, além da intensificação da opressão
colonial, a Primeira Guerra carregava consigo um aspecto
esotérico entre alguns grupos religiosos no Protetorado.
Sem ter onde manifestar seu descontentamento ou
buscar apoio, visto que as políticas coloniais dissolvia vilarejos,
comunidades e outros grupos, igrejas independentes ganharam
força no território. Entre elas existia a Watch Tower, igreja
ligada às Testemunhas de Jeovah, e popularizada na África por
Elliot Kamwana, um pastor nascido em Niassalândia e pupilo de
Joseph Booth, assim como Chilembwe. Essa igreja possuía o
milenarismo como ponto central de sua filosofia, e defendia que
a chegada de cristo estava ligado ao apocalipse bíblico e então
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uma “batalha final”. O conflito de larga escala entre as nações


europeias se adequava ao discurso milenarista, e africanos
voltaram seus olhos à Watch Tower em busca de salvação. Além
disso, existia na região o medo crescente de um ataque europeu
que destruiria os povos africanos.
John Chilembwe compartilhava da filosofia milenarista,
mas não estava associado à Watch Tower. Ao que tudo indica,
Chilembwe acreditava que o mundo estava próximo do fim dos
tempos, e que sua igreja garantiria a salvação. De acordo com
uma testemunha, Chilembwe havia lhe dito que “God would
come and all except John Chilembwe’s christians would be
killed”1 (LINDEN. J; LINDEN. I. 1971, p. 639). Nesse
momento de tensão é que a revolta de Chilembwe passa a ter um
caráter messiânico, e ele mesmo torna-se um personagem
profético. Suas intenções parecem ser o fim do colonialismo
para a instauração de um governo baseado em sua fé.
O que difere Elliot Kamwana e a Watch Tower de
Chilembwe e a P.I.M era a forma de alcançar o objetivo. Ambos
possuíam uma preocupação com os direitos dos seus povos, mas
enquanto o primeiro defendia uma visão pacifista, Chilembwe e
seus companheiros preferiam o ativismo, com algumas ideias
extremistas que levariam à revolta. Talvez tenha sido isso que
fez com que ele reunisse duzentos homens2 para uma revolta
armada. Novamente as intenções de Chilembwe ficam difusas,
1 Deus viria e todos exceto os cristãos de John Chilembwe seriam mortos,
em tradução livre.
2 Esse número é estimado sobre seus seguidores e congregações da P.I.M,
mas é possível que tenham sido mais, entre membros de outras igrejas
livres e indivíduos de pensamento anticolonial.
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se ele esperava ser bem-sucedido ou não. Uma citação


comumente atribuída a ele é “strike a blow and die, for our
blood will surely mean something at last.” 3. Isso indica que
Chilembwe tinha mais intenções de passar uma mensagem do
que atingir seus objetivos, quaisquer que fossem estes.
A revolta começou por volta de 23 de janeiro de 1914 e
as ações prosseguiram até dia 26 de janeiro. O principal ataque
ocorreu no primeiro dia contra a plantação de Livingstone
Bruce, reconhecida pela brutalidade com a qual tratava seus
funcionários. Os revoltosos invadiram a plantação, roubaram
poucas armas de fogo e assassinaram alguns dos
administradores da propriedade, incluindo proprietário, William
Livingstone, que foi decapitado. Após o ataque, voltaram para o
vilarejo de Mbombwe, onde ficava a sede da P.I.M. No dia
seguinte o governo de Niassalândia reuniu uma força composta
por milicianos e soldados da King’s African Rifles, que sitiou o
vilarejo no dia 25 de janeiro. No dia 26 de janeiro o governo
conseguiu invadir a fortificação rebelde, pondo fim ao
movimento. Chilembwe conseguiu escapar, mas foi encontrado
e morto no dia 3 de fevereiro. A sede da P.I.M foi demolida.
Dito isso, parece que o plano final de Chilembwe era de
fato morrer um mártir, mas outras de suas ações tornam essa
conclusão questionável. Em 24 de janeiro, Chilembwe enviou
um mensageiro, Yotam Bango, para a África Oriental Alemã
(território composto pelo que hoje é parte da Tanzânia, Burundi

3 Algo como “golpeá-los e morrer, pois nosso sangue enfim significará


algo” em tradução livre
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e Ruanda) com uma carta para o governador alemão. O


conteúdo da carta é desconhecido, e sabe-se hoje somente a
resposta das autoridades alemãs. Nesta, o magistrado alemão
agradece a carta de Chilembwe e o informa que os alemães estão
vencendo os ingleses na Europa, e que nos mares os navios
alemães são vastamente superiores. Por fim, avisa que as
notícias da África Oriental Alemã vão ser transmitidas à
Chilembwe por seu próprio mensageiro, Yotam, que ficou a par
de todas. Despede-se com “cumprimentos para seus filhos (no
sentido de seguidores)” (COLE-KING. 2001, p.4)
A questão é que Yotam Bango nunca retornou para
Chilembwe. Não só a resposta foi escrita em 17 de março de
1915, mais de um mês depois da revolta e da morte de seu líder,
como o mensageiro foi interceptado. Yotam foi levado a
julgamento alguns anos depois, mas negou envolvimento com a
revolta e jamais revelou o que deveria ser passado para
Chilembwe. Porém, pelo conteúdo da carta, podemos concluir
que Chilembwe buscou uma aliança com os alemães para tornar
sua revolta bem-sucedida. Isso pode significar que sua intenção
fosse então dar a cabo a rebelião e, teoricamente, retirar os
ingleses de sua posição de poder e assumir sua posição como
regente dessa nova nação. Se foi esse o caso, sugere pouco
conhecimento acerca das leis alemãs, visto que se estes tivessem
invadindo Niassalândia, supondo que vencessem e dominassem
o território, poderiam também assumir o controle dele. Com
base no que já foi dito, é improvável que a intenção de
Chilembwe fosse trocar uma nação por outra no poder colonial.
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Enviar a carta no dia 24 de janeiro foi provavelmente


motivado pelo sucesso da operação na plantação de Livingstone
Bruce na noite anterior. É plausível também que Chilembwe
soubesse que seria incapaz de concluir sua revolta, mas que não
esperava que esta fosse interrompida tão cedo. A resposta das
autoridades alemãs ter sido tão tardia pode ser explicada pela
demora da chegada do mensageiro, mas o fato de ter sido dada
ainda assim mostra que as informações acerca do fracasso da
revolta não eram sabidas. Quais foram as notícias confiadas ao
mensageiro permanecem desconhecidas, e como não houve
durante a guerra nenhum movimento alemão contra a
Niassâlandia, é de se imaginar que elas não seriam positivas aos
apelos de Chilembwe.
As consequências da revolta foi o fortalecimento do
sentimento anticolonial no Protetorado, ao mesmo tempo que
houve algumas mudanças nas leis coloniais. Uma comissão foi
criada para analisar os motivos da revolta, e o cerco à liberdade
foi um dos principais encontrados. Após a revolta o governo
tentou abolir a thangata, um sistema de trabalho compulsório
ligado a agricultura no qual o trabalhador que trabalhava em
propriedades de europeus não era pago em dinheiro, mas em
troca de habitação por aluguel. Esse sistema prejudicava sempre
o trabalhador e resultava em regimes de trabalho análogos a
escravidão. Todavia, a tentativa não deu frutos e a thangata
persistiu por muitas décadas seguintes. As liberdades civis e
garantia de direitos para o povo não melhoraria
significativamente até a independência em 1964, e até a mesma
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não houve em Niassalândia nenhum movimento com a mesma


força que o de Chilembwe. A revolta que encabeçou foi de
notável importância para o fortalecimento do espírito
nacionalista no país, mesmo que essa não fosse sua intenção por
completo.

Referências:
LINDEN, Jane; LINDEN, Ian. John Chilembwe and the New
Jerusalem. The Journal of African History 12, no. 4 (1971): 629-
51

ROTBERG I, Robert. John Chilembwe: Brief life of an


anticolonial rebel: 1871-1915. Disponível em:
<http://harvardmagazine.com/2005/03/john-chilembwe.html>.
Acesso em: 12 de setembro de 20170

ALMEIDA, E. C. A África-colonial e a I Guerra Mundial: A


participação africana no conflito euro-mundial de 1914-1918.
Disponível em: <https://repositorio.iscte-
iul.pt/handle/10071/13570>. Acesso em 12 de setembro de 2017

STUART-MOGG, David; SHEPPERSON, George. John


Chilembwe: Aspiration and Achievement: A Letter and 3
Photographs. The Society of Malawi Journal 63, no. 1. 2010. p.
10-22

COLE-KING, Paul. LETTER TO JOHN CHILEMBWE. The


Society of Malawi Journal 54, no. 1. 2011. p. 1-21

STUART-MOGG, David. A brief investigation into the


genealogy of pastor John Chilembwe of Nyasaland and some
thoughts upon the circumstances surrounding his death. The
Society of Malawi Journal 50, no. 1. 1997. p. 44-58

MCCRACKEN, John. A History of Malawi, 1859–1966.


Woodbridge. 2012
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SILVÉRIO, Valter Roberto (Ed.). Síntese da coleção História


Geral da África: século XVI ao século XX. Brasília, DF:
UNESCO, UFSCAR, MEC, 2013

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