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CURSO DE PEDAGOGIA
CRISTIANE DA SILVA
São José
2013
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ
CURSO DE PEDAGOGIA
CRISTIANE DA SILVA
São José
2013
CRISTIANE DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Profª. Ma. Alexsandra de Souza Münich.
Orientadora - USJ
_________________________________________________________
Profª. Drª Maria Francisca Rodrigues Giron
Examinadora - USJ
_________________________________________________________
Profª. Ma Ana Elisa Cassal
Examinadora - USJ
Albert Einstein
RESUMO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................09
2.4.1 A política federal para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000 ........23
2.4.2 A política estadual para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000 .....30
REFERÊNCIAS.........................................................................................................76
ANEXOS ...................................................................................................................81
APÊNDICE A ............................................................................................................82
APÊNDICE B ............................................................................................................83
QUESRIONÁRIOS....................................................................................................84
9
INTRODUÇÃO
1
O termo “de zero a seis anos” vem sendo utilizado em vários documentos relacionados à
educação infantil no Brasil. Conforme o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), de 2010,
o ingresso na educação infantil é limitado a crianças de zero a seis anos, sendo que as crianças que
completam seis anos após 31 de março do ano da inscrição são matriculadas no 1º ano do ensino
fundamental.
2
“Assistencialista” é um termo utilizado quando ocorre uma prática politica que visa assistir os
mais carentes, social e economicamente. Para Kuhlmann, a educação infantil oferecida nas
instituições possuía objetivos bem delimitados de cuidados básicos e guarda. “As instituições pré-
escolares foram difundidas internacionalmente... como parte de um conjunto de medidas que
conformam uma nova concepção assistencial...” (1998).
10
de São José, a fim de refletir sobre as relações de cuidar e educar que permeiam a
mesma. Sendo assim, definiram-se os seguintes objetivos específicos:
- Realizar um levantamento bibliográfico sobre o processo histórico em que a
instituição de educação infantil se desenvolveu no Brasil, tendo em vista a
conotação assistencial em que se iniciou;
- Descrever e relacionar as leis que ampliaram os direitos das crianças no
âmbito da educação infantil;
- Refletir acerca das interações entre o/a educador/a3 e as crianças nas
relações de cuidado e de educação que permeiam na instituição;
- Analisar as situações de aprendizagem propostas pelas professoras
observando as intenções pedagógicas que permeiam as mesmas;
- Analisar o ponto de vista das professoras em relação ao cuidar e ao educar
no ensino infantil;
- Observar como tem sido organizado o cotidiano das crianças na instituição
de educação infantil a fim de compreender as relações de cuidar e educar.
Será levantado, neste estudo, o processo histórico em que a educação infantil
no Brasil se desenvolveu, elementos trazidos por Moisés Kuhlmann Jr.4 que
possibilitam a reflexão sobre a concepção de infância e o desenvolvimento da
instituição. Além disso, serão trabalhadas e questionadas algumas leis e diretrizes
que envolvem a constituição das instituições de ensino infantil no formato que
conhecemos atualmente. Levando em consideração que a educação infantil é um
direito da criança que implica um compromisso dos órgãos públicos e buscando
respostas pautadas nesse processo histórico em que se formou a educação infantil,
definiu-se o seguinte questionamento: Como se desenvolvem as relações entre
cuidar e educar em uma instituição de educação infantil pública do município de São
José, levando em consideração o processo histórico em que a mesma se
desenvolveu?
3
O termo “educador(a)” é utilizado neste trabalho com o mesmo sentido do termo
“professor(a)”, sem distinção de formação e funções pedagógicas, pois há vários questionamentos
quanto a palavra educador(a) no sentido de que qualquer pessoa sem formação poderia educar uma
criança. Há também, os que mencionam o educador(a) como um profissional que possui vocação
trabalhando com amor e dedicação, deferentemente do professor que é apenas um profissional, com
diz Rubens Alves 2004.
4
Kulmann Jr., formou-se em pedagogia pela faculdade de educação da USP, Mestre em
Educação pela PUC-SP e Doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da USP. O autor aborda a importância da história da educação infantil para refletir sobre
os aspectos atuais da instituição e as contribuições dessas reflexões para a formação pedagogia.
11
5
Puericultura é o acompanhamento do desenvolvimento infantil. As ações de puericultura, no
Brasil, são percebidas no século XVIII com a criação das Casas de Expostos e o atendimento
assistencial voltado para as crianças. As questões higienistas da época também praticavam a
puericultura, como o objetivo de acompanhar o crescimento da criança orientando sobre vacinação,
alimentação e prevenção de doenças. Para saber mais, ver:
< http://www.fmabc.br/disciplinas/images/pdf/manual_pediatria_puericultura.pdf.>
13
A concepção de infância que temos nos dias atuais é uma visão construída
historicamente, em que é possível perceber o contraste existente entre a atualidade
e algumas décadas atrás. A criança passou a ocupar um local de destaque na
sociedade muito diferente da época em que sua presença era praticamente
imperceptível. Nesta época, as crianças eram inibidas de participar socialmente da
vida comunitária e eram tratadas como um pequeno adulto, passando
despercebidas suas características e peculiaridades. Esse duplo sentimento que
Kramer aborda vem com essa construção histórica do espaço da criança no lar,
surgindo uma nova concepção de família.
Até o final do século XVIII e inicio do século XIX, a infância não possuía uma
definição muito concreta, jovens de dezoito anos ou até mais eram chamados de
crianças. Além disso, diluir as diferenças entre adultos e crianças, ocultava ainda
mais a essência e a importância de especificidade destas.
No século XVIII, ocorreram muitas transformações sociais que contribuíram
para a percepção da criança como um ser particular. As reformas religiosas católicas
e protestantes, as transformações tecnológicas e as mudanças sociais alavancaram
as grandes mudanças na história da concepção de infância. As crianças passaram
14
a ser vistas como sujeitos de direitos, legítimas como figura social, possuidoras de
respeito em todas as suas dimensões.
Essa etapa da história em que a concepção de infância se construiu
transformou a visão que se tinha das crianças. Os pequenos passaram a ocupar um
lugar de destaque na sociedade, que passou a valorizar a infância. Essa valorização
contribuiu para o desenvolvimento do olhar pedagógico dentro da educação,
preocupada com as novas adaptações de métodos educacionais que satisfizessem
as novas demandas desencadeadas por estas transformações.
6
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) foi aprovado em 1998 e
possui três volumes. O objetivo deste documento é servir de guia reflexivo sobre a prática educativa
de qualidade. Os três volumes abordam diversos aspectos da educação infantil, desde a concepção
de criança até a experiência profissional e eixos de trabalho. Sua função, como diz o próprio RCNEI é
“contribuir com as políticas e programas de educação infantil, socializando informações, discussões e
pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos, professores e demais profissionais da
educação infantil....”.
16
A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte
de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma
determinada cultura, em um determinado momento histórico. É
profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas
também o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de
referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que
estabelece com outras instituições sociais. (RCNEI – Vol. 1, 1998: 21)
7
A Creche Companhia de Viação e Tecido Corcovado, conforme Kuhlmann Jr., foi “a primeira
creche brasileira para filhos de operários de que se tem registro”, no ano de 1899. Sua criação foi
impulsionada pela entrada das mulheres no mercado de trabalho.
18
8
Casas de expostos surgiram no Brasil no ano de 1726 em Salvador. Mais conhecida como
Roda dos Expostos pelo mecanismo giratório utilizado para abandonar os recém-nascidos.
19
para que as mães pudessem trabalhar e não abandonassem seus filhos. Como diz
Kuhlmann Jr.:
9
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é a principal norma legislativa brasileira referente
ao Direito do trabalho, criada através do Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943.
20
10
Pedagogia tradicional é um termo utilizado na atualidade para caracterizar métodos de
ensino antigos que tem como característica principal o aluno como mero ouvinte que precisa apenas
decorar o conteúdo. A pedagogia tradicional é criticada nos dias atuais em função do ensino
padronizado, o qual não possibilita uma maior interação entre professor e aluno.
23
2.4.1 A política federal para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000
11
O termo “Qualidade” é utilizado aqui baseado no documento do Ministério da Educação
(MEC), Indicadores de Qualidade na Educação Infantil (2009). Este documento se refere às
definições de qualidade e aos fatores que os influenciam, como: o contexto social e econômico em
que está inserida a instituição, os valores e as tradições culturais e os conhecimentos científicos
sobre as crianças.
24
14
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério (FUNDEF) foi instituído pela Emenda Constitucional n.º 14, de setembro de 1996, e
regulamentado pela Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano, e pelo Decreto nº 2.264, de
junho de 1997. O FUNDEF foi implantado, nacionalmente, em 1º de janeiro de 1998, quando passou
a vigorar a nova sistemática de redistribuição dos recursos destinados ao Ensino Fundamental.
Conforme consta no site do MEC: <www.mec.gov.br/>
15
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (FUNDEB) atende toda a educação básica, da creche ao ensino médio.
Substituto do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério (Fundef), que vigorou de 1997 a 2006, o FUNDEB está em vigor desde janeiro de 2007 e
se estenderá até 2020. Conforme consta no site do MEC: <www.mec.gov.br/>
26
16
O Ministério da Educação (MEC) é um órgão do governo federal do Brasil fundado no
decreto n.º 19.402, em 14 de novembro de 1930 e sua atual estrutura ficou estabelecida pelo decreto
n° 4.791, de 22 de julho de 2003. Possui competênci as com a política nacional de educação,
abrangendo a educação infantil e a educação geral, com algumas exceções, como: o ensino militar;
pesquisa e extensão universitária; e magistério.
17
O ECA foi instituído pela Lei 8.069 no dia 13 de julho de 1990, regulamentando o direito das
crianças e dos adolescente, principalmente no que tange a proteção integral dos mesmos. Para saber
mais: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>
27
acesso das crianças de zero a seis anos à educação infantil, passando a ser dever
de o Estado manter instituições educativas que atendam sua faixa etária.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n° 9.394/1996) dispõe
que a educação infantil passa a ser definida como a primeira etapa da Educação
Básica, conforme diz Oliveira. A atual Constituição reconheceu a educação infantil
como um direito da criança, dever do Estado e opção da família, sem vincular as
instituições de ensino infantil à Política de Assistência Social, e sim à Política
Nacional de Educação.
A LDB, no artigo 29º, “afirma que a educação infantil tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade.” Também é uma determinação da LDB que essa assistência
educacional seja oferecida em creches para crianças de zero a três anos e em pré-
escolas para crianças de quatro a seis anos.
A lei afirma que toda criança de zero a seis anos de idade tem direito à escola
básica, mas, na prática, o que se percebe são creches e pré-escolas lotadas,
faltando vagas e a necessidade de construção de novas creches e instituições de
educação infantil. Não existe, de fato, oportunidade para que todas as crianças
nessa faixa etária tenham acesso.
Em 2001, foi promulgado o Plano Nacional de Educação - PNE19 (Lei n°
10.172/2001), o qual estabelece metas qualitativas que prevê prazos em relação à
qualidade do atendimento da rede de ensino infantil, desde a infraestrutura até a
formação dos educadores. Em relação às creches e pré-escolas, o Plano define que
o município deve acompanhar, controlar e supervisionar as instituições, primando a
qualidade no atendimento.
O Plano foi instituído não apenas com base nos argumentos econômicos do
governo, mas também calcado em uma preocupação com o cuidado e com a
educação da criança, a partir do seu nascimento até o ensino médio. Podemos
entender que esta preocupação está ligada, também, a uma política de
“higienização”.
19
O projeto de lei que cria o Plano Nacional de Educação (PNE) para vigorar de 2011 a 2020,
foi enviado pelo governo federal ao Congresso em 15 de dezembro de 2010. O novo PNE apresenta
dez diretrizes objetivas e 20 metas, seguidas das estratégias específicas de concretização. O texto
prevê formas de a sociedade monitorar e cobrar cada uma das conquistas previstas. Conforme:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=16478&Itemid=1107>
29
2.4.2 A política estadual para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000
20
A Lei do Sistema Estadual de Ensino de Santa Catarina segue os princípios e normas da
Constituição Federal, da Constituição do Estado e das leis federais sobre diretrizes e bases da
educação nacional.
32
21
O Projeto Político Pedagógico (PPP) é um documento elaborado pela instituição de ensino,
juntamente com o corpo docente e a comunidade, que cria objetivos e metas para o ano letivo. O
PPP ganhou progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira, por
meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96), no artigo 15º.
33
22
A Lei nº 11.274 sancionada em 06 de fevereiro de 2006 regulamenta o ensino fundamental
de nove anos. A lei tem como objetivo assegurar às crianças um maior tempo de convívio escolar,
oportunizando a aprendizagem com mais qualidade.
35
[...] a educação infantil, como área específica, precisa ainda refletir, discutir,
debater e produzir conhecimentos e práticas sobre como devem ser
cuidadas e educadas crianças menores de 7 anos em creches e pré-
escolas, compromisso de todos os que, direta ou indiretamente, se
vinculam a esta modalidade educativa. (WIGGERS, 2002: 12 apud
AZEVEDO, sd: 9)
23
O Magistério é uma habilitação obtida no ensino médio que permite exercer a profissão de
professor na educação infantil e séries iniciais. A LDB, prevê que os professores busquem a
formação com a graduação em instituição de ensino superior.
41
estudo, uma vez que a criança pequena não se comunica apenas pela linguagem
falada, mas também por gestos, sorrisos, ações e demais formas de comunicação
que possibilitarão a realização do estudo neste contexto.
Serão utilizados, também, recursos fotográficos para registrar os momentos
mais significativos e propiciar à pesquisa subsídios concretos de momentos que
venham contribuir com o trabalho. Gruran (2000) aponta para dois tipos de fotografia
em trabalhos de pesquisa. Uma delas será utilizada para demonstrar e enunciar
conclusões. Para o autor, os registros fotográficos devem ser analisados levando em
consideração todo o contexto que ocasionou determinada situação.
Nunes (2000) afirma que o educador deve saber mais sobre o significado das
experiências vividas no início da escolaridade para contribuir com o processo de
adaptação e acolhimento. Neste processo, a criança passa a se perceber num
conjunto em que sua personalidade é delimitada, tomando consciência de sua
autonomia. Acolher adequadamente a criança requer um trabalho coletivo na
instituição, onde o espaço tem que estar organizado e as crianças possam a
participar ativamente com materiais ao seu alcance e também aprendam a mantê-
los em ordem. Tornar o ambiente mais enfeitado e com brinquedos disponíveis à
exploração também favorece minimizar os transtornos dos primeiros dias. A criança
deve ser vista não apenas como um ser pensante, mais também como um ser
completo que está em transformação e que busca adequar-se a essa nova realidade
social.
Em seguida, cada criança recebe a primeira refeição do dia, que era banana
amassada com farinha de arroz ou bolacha amolecida no leite. O momento da
alimentação pode (e deve) ser um momento de aprendizado, sentindo sabores e
texturas, conhecendo novos alimentos e distinguindo sabores. A criança começa a
criar sua identidade e autonomia, escolhendo sabores e criando preferências.
49
O espaço possui uma sala separada para a higiene e cuidados das crianças,
onde há uma bancada de mármore, com banheira, pia, armários e prateleiras. Além
de limpa a sala é organizada e funcional. Cada criança possui um armário para seus
pertences diários, como mochila, roupa extra, calçado, toalha, sendo que cada
criança também possui um vasilhame organizador, que fica localizado nas
prateleiras acima da bancada, com produtos de higiene pessoal: fralda, lenço
umedecido, pomada, hidratante, sabonete, xampu etc. Esses produtos são trazidos
pelos pais e, à medida que vão terminando, as educadoras avisam-nos via agenda
para que os reponham.
A sala possui três berços, um colchão de casal no chão, três redes, muitos
brinquedos educativos, duas poltronas de balanço, uma mesa pequena com
cadeiras, uma bancada de mármore, que é utilizada para as refeições, um
chiqueirinho, um móbile, um espelho e um obstáculo acolchoado no centro da sala.
Os obstáculos são interessantes e significativos no desenvolvimento motor e
para o equilíbrio dos bebes. Eles possuem formato de rolo, rampa, degrau, quadrado
etc., e podem servir de instrumento de exploração na fase de engatinhar. Outro
acolchoado interessante utilizado pelas professoras é um em formato de circulo
achatado com um furo ao meio, onde a criança fica sentada dentro para conseguir
se equilibrar até ficar com a coluna mais durinha e sentar-se sozinho.
grupo I utilizam esse espaço apenas quando o tempo está bom e quente, na maioria
das vezes no período da tarde.
Uma das meninas chorava bastante durante boa parte do tempo da manhã,
querendo ficar no colo de uma das educadoras. Conversando com a auxiliar de sala,
procurando entender o motivo, ela me explicou que a bebê ainda não se adaptou,
apesar de já terem passado quatro meses. Isso ocorre pela quantidade de faltas que
ela apresenta. Como seu pai não trabalha todos os dias, ela só vai à instituição
quando não tem com quem ficar. Isso prejudica sua adaptação e seu
desenvolvimento no CEI.
As educadoras demonstram se preocupar com o desenvolvimento afetivo dos
bebês, por meio de estímulos e motivações, utilizando músicas, brinquedos,
materiais emborrachados e muito carinho. Essa relação de carinho demonstra a
preocupação com o cuidado e com o educar, pois a afetividade na educação infantil
é imprescindível para a formação da personalidade e desenvolvimento das crianças.
Para Wallon apud Almeida (2008), o bem estar e o mal estar estão ligados à
afetividade vivenciada pelo indivíduo. Quando bebês, os pequenos buscam saciar
suas necessidades e o momento de alimentação e higiene fazem parte de uma troca
afetiva que fazem parte dessa satisfação. Um pouco maiores as crianças passam a
lidar com os sentimentos de medo, angústia, felicidade, alegria, tristeza, passando
pelo estágio emocional, aprendendo a lidar com essas situações. Wallon afirma que
a afetividade está relacionada ao desenvolvimento cognitivo da criança, e que a
afetividade e o cognitivo se desenvolvem dependendo um do outro.
As educadoras conversam bastante com as crianças, sempre de forma clara
e objetiva, com carinho e afetividade. Durante a troca de fralda de um bebê, pude
observar o carinho e respeito que a educadora tratou a criança. Primeiramente ela
perguntou ao menino se poderia trocá-lo: “Vamos trocar sua fralda B, posso tirar sua
roupinha?”. Ele olhou para ela com uma expressão de confiança e carinho. A todo o
momento ela mostrava a ele o que iria utilizar, demonstrando respeitá-lo como
sujeito de direitos, dedicando-lhe uma atenção individual.
Perto das 11 horas da manhã, o almoço chega à sala: pirão de feijão. As
crianças são colocadas em seus bebês conforto e as educadoras vão alimentando
cada criança, uma a uma. Com exceção da menina que não está adaptada, todas as
demais crianças já conhecem a rotina e aguardam sua vez no bebê conforto com
tranquilidade, assistindo televisão. Após almoçarem, descansam por alguns minutos
53
Iniciou fazendo uma atividade com os nomes das crianças, para verificar
quem estava presente e quem estava ausente. Utilizou uma caixa que continha o
nome de todas as crianças dentro. Os nomes estavam em um papel cartão, e cada
nome continha um desenho diferente ao lado, a fim de criar uma associação por
parte das crianças. Cada uma destas pegava um nome de dentro da caixa e o
identificavam juntas. Normalmente cada criança conseguia identificar seu próprio
nome. A educadora focava bastante na letra inicial do nome e pedia que as crianças
fossem colocando os nomes no trenzinho de alfabeto que havia pendurado na
parede. Além de promover o ensino do alfabeto, a educadora finalizava a atividade
contando em grupo a quantidade de crianças que estavam em sala e a quantidade
que haviam faltado.
As crianças ficaram bem atentas à história, pois foi contada de uma forma
lúdica e atrativa. No momento das músicas, as crianças tentavam acompanhar e
ajudar na cantoria. Neste momento, percebi que a auxiliar de ensino fazia registros
em um caderno, com as falas das crianças e com os momentos mais significativos
da proposta.
Para finalizar, a professora propôs que as crianças pintassem o desenho de
um gato para produzirem um móbile. Havia a disponibilidade de materiais em cima
das mesas, como lápis e giz de cera, e as crianças, além de fazerem a pintura,
desenharam o rosto do gato que estava em branco, para que cada criança pudesse
desenhar da sua maneira.
A turma chega à sala e fica com um tempo livre para brincar e interagir.
Alguns optam por desenhar e pintar nas carteiras, outros buscam por algum
brinquedo e os demais preferem assistir a um desenho infantil.
O grupo apresenta vários desafios a um professor apenas, sem a colaboração
de um auxiliar de ensino. São vinte crianças, e algumas precisam de uma atenção
especial. Uma delas é “A”, uma menina de cinco anos que possui dificuldades na
fala e problemas visíveis de crescimento dos ossos. Ela aguarda por cirurgia para
correção na coluna. “A” é uma criança muito amável, carinhosa e querida com todos
os amigos. Porém, percebi que, em muitos momentos, ela se isola do grupo e brinca
sozinha, sem muitas expressões de alegria.
Há também o “L”, um menino de cinco anos que chora muito quando chega à
escola. Conversando com a professora, ela me disse que todos os dias ocorrem a
mesma situação e que já conversou com a família, porém não houve muitos
resultados. Após aproximadamente 30 minutos, ele se acalma e interage
normalmente com as demais crianças.
Como já havia mencionado, uma das crianças, o “Is”, também com cinco anos
de idade, apresenta diagnóstico de autismo. Há um educador especial que
acompanha “Is” em todos os momentos que se encontra na instituição. O educador
especial preocupa-se bastante com a interação da criança com o grupo e com os
cuidados de higiene. A criança permanece por quase toda a manhã interagindo com
65
o grupo, participando das atividades e brincado. Há alguns momentos que “Is”, sem
motivo aparente, puxa o cabelo ou morde algum amigo do grupo.
A Constituição Brasileira de 1988 deixa claro que todas as crianças têm
direito à educação infantil, sem exceção. Ou seja, toda criança deve ter acesso à
instituição, sem distinção. E a Constituição ainda afirma que devem ser
disponibilizados profissionais especializados à criança com necessidade educacional
especial. Outro documento que reafirma o direito de todos ao acesso à educação em
qualquer nível, inclusive na educação infantil, é a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, de 1996.
Em 1989, foi decretada e sancionada a Lei nº 7.853, que dispõe sobre a
integração social de pessoas com deficiência, garantindo, nos termos do artigo 2º, o
direito à inclusão no sistema educacional. A professora busca a todo o momento a
interação entre todas as crianças, inclusive “Is” que é autista.
A maioria das crianças que convivem com “Is” no grupo VII interage com ele
normalmente. Porém algumas crianças têm receio de que ele as machuque e, por
isso, evitam contato com “Is”. Ele tenta, por várias vezes, aproximar-se das crianças,
principalmente no parque, e algumas se afastam com a presença dele. Essa relação
de exclusão normalmente ocorre nos momentos de brincadeiras livres, pois, nos
momentos de brincadeiras e atividades orientadas, a professora busca a
participação de todos e até chama o “Is” com mais frequência, para estimular a
participação e integração dele com o grupo.
A professora relatou que existem longos períodos de construção em que “Is”
permanece interagindo com o grupo sem problemas de relacionamentos e sem
exclusão dele em momentos de brincadeiras e atividades. Nesses momentos,
ocorre, inclusive, a construção do conhecimento, pois “Is” participa das atividades,
desenhando, pintando, cantando e interagindo de forma natural com os demais.
Porém há algumas oscilações de comportamento que é uma característica do
autismo, em que “Is” fica mais agitado e compromete as relações de aprendizagem
e de socialização com o grupo. A professora afirma que: “apesar de algumas
crianças terem medo dele, elas aprendem muito com a presença dele e com o
desenvolvimento dele”. Ela também relata que “a criança com autismo precisa de
estabilidades na escola e na família”.
66
[...] a maioria das pessoas com autismo são pensadores visuais, ou seja,
processam o pensamento em imagens, como uma fita de vídeo ou um CD-
ROM. Por isso, podem vir a apresentar dificuldades na mudança de rotinas,
ambientes e informações claras e estruturadas, além de dificuldade em
percepção, compreensão e comunicação. (CIRANDA DA INCLUSÃO, 2010:
06)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CERISARA, Ana. Beatriz. Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil?
Perspectiva, Florianópolis, v.17, n. especial, p. 11-21, jul./dez. 1999.
FERREIRA, Maria Manoela. Salvar corpos, forjar a razão: contributo para uma
análise crítica da criança e da infância como construção social em Portugal (1880-
1940). Instituto de Inovação Educacional, Lisboa, 2000.
78
FREIRE, José Carlos Serrano. Eu sou professor. Rio de Janeiro: Lucena, 2002.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas,
1999.
KUHLMANN Jr., Moysés Educação Infantil e Currículo. IN: FARIA, Ana Lúcia e
PALHARES, Marina (orgs). Educação Infantil pós-LDB. 4. ed. Campinas: Autores
Associados, 2003. p. 99-112.
SÃO JOSÉ. Proposta Curricular da Educação Infantil. São José, 2000, p. 175-
190.
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para Infância. Situação da Infância Brasileira
2006: O Direito à Sobrevivência e ao desenvolvimento. Brasília 2005. Disponível em:
http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10167.htm
ANEXO
____________________________
Diretor/a do/a Instituição
APÊNDICE A
Questionário – Professoras
3. Você acredita que o curso de pedagogia (em que cursa ou que cursou) é de qualidade?
Justifique.
5. Você conhece as leis de diretrizes e bases para a educação infantil? E as outras leis
referentes a educação infantil? Comente-as.
8. Para você, o que é mais importante na educação infantil, o cuidar ou o educar? Justifique.
10. Qual o papel dos adultos, professora e auxiliar de sala no trabalho com as crianças?
11. Como você vê a relação das crianças com os brinquedos, móveis e materiais dispostos
na sala?
12. Como você vê a manifestação das crianças nos momentos de alimentação, higiene e
sono?
13. Como você organiza o seu trabalho, ou seja, planeja, registra todos os momentos, como
brincadeira, contação de histórias, sono, higiene, alimentação, etc.? Comente.
14. Em sua opinião, a instituição em que você trabalha apresenta mais características
assistencialistas ou educativas? Justifique.
APÊNDICE B
Questionário – Diretora
3. Você acredita que o curso de pedagogia (em que cursa ou que cursou) é de qualidade?
Justifique.
5. Você conhece as leis de diretrizes e bases para a educação infantil? E as outras leis
referentes a educação infantil? Comente-as.
9. Qual o papel dos adultos, professora e auxiliar de sala no trabalho com as crianças?
10. Em sua opinião, a instituição em que você trabalha apresenta mais características
assistencialistas ou educativas? Justifique.
QUESTIONÁRIOS
1) Questionário Professora
85
86
2) Questionário Professora
87
88
3) Questionário Professora
89
90
4) Questionário Professora
91
92
5) Questionário diretora
93