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Cultura Brasileira

Material Teórico
O Nacional – Popular na Cultura Brasileira

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. João Elias Nery

Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
O Nacional – Popular
na Cultura Brasileira

• Introdução
• As Culturas em Tempos de Modernização e Democracia
• A Modernidade nas Ruas: A Cultura para as Massas
• A Cultura Encontra o Povo

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Analisar o período dos anos 1950-60 e sua relação com a cultura de
massa no Brasil. Evidenciar o papel do cinema produzido no Brasil
nos anos 1950.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE O Nacional – Popular na Cultura Brasileira

Contextualização
Nesta unidade, analisaremos o desenvolvimento da cultura no Brasil dos após o
primeiro período getulista, de 1930-1945. O período getulista é tão marcante na
história do País, em função da revolução de 1930 e do Estado Novo, que, de certa
forma, ofusca os acontecimentos do período posterior.

Há a opção por analisar as culturas brasileiras a partir de recortes cronológicos,


pois, mais do que fazer um retrato da cultura em seu tempo, leva-nos a relacionar
essa área com os contextos políticos e econômicos.

Dessa forma, ao identificar as relações entre cultura e realidade, seguimos


parâmetros estabelecidos por teóricos do campo dos Estudos Culturais desde os
anos 1930, nos quais a cultura é expressão de cidadãos inseridos em contextos
específicos. Tal realidade, no período citado, ofereceu inúmeros desafios à
sociedade, que trilhou caminhos da modernização autoritária.

Desse modo, nesta unidade daremos ênfase ao período de 1945-1960


predominantemente, evidenciando as características da cultura brasileira e suas
influências na época, principalmente da cultura de massa.

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Introdução
A figura de Getúlio Vargas e o populismo polarizaram a sociedade brasileira
no período de 1930 a 1945 e, também, nos anos 1950 e 1960. A influência das
práticas políticas e culturais da Era Vargas são visíveis até os dias de hoje, marcando
a sociedade e interferindo no cotidiano e nos projetos para o País.

Abordaremos a Cultura entre os anos 1945 e 1960, tendo como parâmetros


principais a experiência de democracia eleitoral, a expansão da cultura de massas
e a inserção do Brasil no mundo da Guerra Fria, dividido entre capitalistas e
comunistas, EUA e URSS.

Fim da Segunda Guerra Mundial, fim do Estado Novo e, a partir de 1945, abre-se
um período de, saberíamos posteriormente, quase 20 anos de democracia no
Brasil Republicano.

Na área das culturas, houve muitas transformações. Um país que se industria-


lizava, principalmente no Sudeste do país, e entrava na Modernidade mantendo
traços da sociedade tradicional, precisava consolidar práticas culturais capazes de
criar identidades no ambiente das metrópoles, marcado esse pela produção em
série e pelo surgimento das multidões, a partir de então analisadas pela Sociologia
e por outras áreas acadêmicas como fenômeno essencial do século XX.

As culturas brasileiras, que haviam sido instrumentalizadas pelo Estado Novo e


profissionalizadas pelos meios de comunicação que se desenvolveram intensamente
no período de 1930 a 1945, enfrentavam agora novos desafios. O principal con-
tinuava sendo criar mecanismos de expressão para a diversidade existente no país.

Veremos neste texto a trajetória daqueles anos de democracia eleitoral e


expansão dos signos da Modernidade.

As Culturas em Tempos de Modernização


e Democracia
O Brasil do final da primeira metade do século XX já não se reconhecia como
uma comunidade. A expansão das metrópoles, principalmente do Sudeste do
Brasil, e a dos meios de comunicação de massa trariam elementos novos para as
relações entre os segmentos sociais que compunham a sociedade.

O conhecimento objetivo das pessoas e da realidade tende a decrescer e, em seu


lugar, um conhecimento mediado vai ser cada vez mais importante para a vida do
cidadão e do indivíduo.

Dissolvem-se algumas das principais formas de relação comunitária, no bairro


e no trabalho, e emergem as atividades definidas na agenda da comunicação e da

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cultura de massa. Rapidamente, a cultura popular será em grande medida apropria-


da pelos valores e estética da cultura de massa. De produtores de cultura, os cida-
dãos dos extratos mais pobres da população passam a fornecedores de conteúdo e
formas para a cultura de massa.

Das expressões religiosas à música, do circo ao cordel, tudo tende a ser transfor-
mado em produto cultural e a ser oferecido como mercadoria.

Você Sabia? Importante!

O que é Literatura de Cordel?


Trata-se de uma forma de literatura popular, escrita em geral de forma rimada, que
pode ser oral ou impressa em folhetos, que podem ou não ser expostos em cordas –
daí o nome de cordel. Essa prática veio de Portugal e se popularizou mais nos estados
nordestinos do Brasil, mostrando histórias folclóricas, de amor ou do cotidiano da cultura
popular regional. Em alguns casos, além das rimas, há também xilogravuras.

Figura 1 – Literatura de Cordel no Brasil


Fonte: Wikimedia Commons

Um eficiente e profissionalizado sistema de comunicação de massas, composto


por rádio, cinema e mídia impressa, já estava montado e em funcionamento desde
os anos 1930 e o hábito de consumo também havia sido instalado.

Os novos tempos veriam a televisão juntar-se ao grupo de mídias, primeiro como


aventura das classes dominantes, depois como poderoso instrumento de comunica-
ção para as massas.

A primeira fase da televisão no Brasil inicia-se em 1950 e vai até meados da


década de 1960, sem grandes alterações em sua participação, ou seja, é um brin-
quedo para as elites, o que levou pesquisadores a definirem essa fase como Elitista.

As tecnologias disponíveis, bem como o contexto político e econômico, não


permitiam a expansão da TV como veríamos acontecer nos anos 1970.

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As duas primeiras décadas da televisão foram importantes para organizar o
segmento, definindo sistemas de produção e distribuição de mensagens e modelos
de propriedade e funcionamento das empresas – a definição da televisão como
concessão pública é desse período e persiste até os dias atuais.

Essas transformações no campo da cultura fazem parte do processo marcado


pelo fim do estado novo com a deposição de Getúlio Vargas em 1945, que
coincidiu com eventos de grande importância que ocorreram no mundo.

O final da Segunda Guerra Mundial e o início da Guerra Fria foram os mais


significativos. Derrotado o projeto nazifascista, restava a disputa entre capitalismo
e comunismo. As armas apresentadas pelos adversários não estavam apenas no
campo bélico, como se pode constatar ao final, mas na disputa das ideias.

A questão que se colocou para a humanidade como um todo era das mais
complexas, pois dois modelos antagônicos de organização social, econômica
e política apresentavam-se à sociedade e procuravam, cada um à sua maneira,
conquistar a hegemonia a partir da promessa de construção de um mundo melhor.

O campo da cultura será amplamente utilizado em tal disputa na tentativa de


convencer as populações de que o “melhor dos mundos” era aquele oferecido pela
sociedade na qual estavam, isso sem que houvesse contato de parte a parte, ou
seja, a Cortina de Ferro, como o Ocidente capitalista se referiu ao bloco socialista,
não permitia a entrada em seus territórios dos produtos, serviços e, principalmente,
ideias do mundo “do lado de lá”, bem como pouco daquele mundo circulou para o
bloco ocidental.

Figura 2 – Moda nos Blocos Ocidental e Oriental


Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons e webpark.ru

Para quem não viveu esses tempos, talvez seja difícil imaginar um mundo sem
as marcas globalizadas e com fortes restrições à circulação de pessoas e ideias em
função de disputas ideológicas hoje menos presentes em nossa sociedade.

No Brasil, havia um discurso e desenvolveu-se um forte sentimento anticomu-


nista entre parte da população e do governo, já explorado no período anterior e
relevante na política nacional nas décadas seguintes.

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UNIDADE O Nacional – Popular na Cultura Brasileira

A Guerra Fria ocorreu nos meios de comunicação com anúncios frequentes


de novas armas e acordos, divulgados segundo interesses específicos. A Cultura
desses tempos foi fortemente influenciada pelo temor de uma “guerra final” que,
felizmente, nunca veio. A polarização entre EUA e União Soviética deu-se em
todos os campos, do político ao esportivo, incluindo o cultural.

No Ocidente, o american way of life, expressão largamente difundida pela


indústria cultural dos EUA, amplamente hegemônica, representava o ideal de vida
do ocidente cristão, individualista e capitalista; enquanto que o mundo soviético,
com os valores coletivos e socialistas, era a referência para o bloco formado por
países alinhados com tal política.

Ambos se esforçavam por mostrar as vantagens do seu sistema e as desvantagens


do outro como artifício para convencimento da sua superioridade.

No Brasil, viviam-se tempos de gestação de novas práticas políticas advindas


daquelas desenvolvidas a partir da Revolução de 1930.

O Brasil se tornara um país com características muito diferentes daquelas da


Primeira República, apresentando grande complexidade em sua formação social,
política e econômica. Novos atores tinham assumido papéis importantes nesses
campos e o fim do Estado Novo abriria possibilidades e desafios para a ocupação
do cenário político.

A Modernidade nas Ruas:


A Cultura para as Massas
As profundas mudanças pelas quais a sociedade brasileira passara nas primeiras
décadas da República foram mais lentamente assimiladas pelo campo da Cultura.
A sociedade de massas que se constituiria no Brasil exigia novos valores e condutas
e o cidadão das novas metrópoles precisava desenvolver uma série de saberes e
hábitos novos, inexistentes nos padrões das gerações anteriores, que agiam a
partir de valores fortemente determinados pela religião católica, pela família e
pelo tradicionalismo.
Importante ressaltar que tais mudanças eram maiores nas grandes cidades e
metrópoles do que no campo. O Brasil, que ainda tinha a maioria da população
vivendo no campo, passava então a conviver também com uma sociedade
urbano-industrial.
Esse processo de urbanização, destacado pelos exemplos das cidades do Rio
de Janeiro e de São Paulo, foi formado também por um grande processo de
migração, principalmente de nordestinos, que se juntaram aos antigos imigrantes, e
descendentes de antigos escravos, e formaram as classes populares e médias dessas
cidades. Além de um processo de êxodo rural, cujos migrantes foram levados para
a cidade pela atração das atividades de serviços e pelo processo de industrialização.

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Figura 3 – Viaduto do Chá, década de 1950
Fonte: Wikimedia Commons

As condições para a expansão da sociedade urbano-industrial estavam presentes


e a cultura de massas seria sua principal referência para a adaptação dos diferentes
segmentos da população às novidades. Em um país majoritariamente analfabeto,
coube ao rádio, ao cinema e, posteriormente, à televisão a tarefa de industrializar
a informação e o entretenimento.

Os anos dourados do capitalismo mundial se refletiam também no Brasil que,


depois da resolução dos conflitos que levaram ao suicídio do Presidente Vargas, em
1954, passavam por uma etapa otimista com os anos JK.

A Modernidade estava em toda parte, mas Brasília, a nova capital, era o


seu principal símbolo. O otimismo daqueles tempos contagiou os brasileiros de
maneira inequívoca. À derrota na Copa do Mundo de Futebol de 1950 e à morte
de Vargas sucederam-se a vitória na Suécia, em 1958, e o Presidente “Bossa
Nova” Juscelino Kubitschek.

Num primeiro momento, essa construção e cultura estavam arraigadas mais à


elite e às classes médias, mas depois foi se popularizando. No caso da rádio, esse
fenômeno deu-se também no campo, entre os camponeses era comum músicas
que tratavam de seu modo de vida – da ruralidade, do cotidiano na agropecuária,
da moda de viola entre os caipiras paulistas, por exemplo.

O rádio consolidou, nas décadas de 1940 e 1950, linguagens e produção que


se adequavam aos padrões de consumo de parcelas significativas da população e
faziam propaganda e publicidade. As radionovelas difundiam histórias de amor e
do cotidiano brasileiro, ao mesmo tempo em que faziam propagandas de toaletes
e outros produtos.

Na área jornalística, programas como Repórter Esso definiam padrões de


objetividade na cobertura aos fatos; na dramaturgia radiofônica, as radionovelas
atraíam a audiência para consumo no nível ficcional determinado por horários e
padrões de publicidade.

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Figura 4 – Heron Domingues, apresentador do Reporter Esso


Fonte: radioemrevista.com

A música torna-se definitivamente um produto cultural ao ser difundida pelo Rá-


dio, criando um mercado para a indústria do segmento que se conectava com a in-
dústria cinematográfica, potencializando os efeitos dessa nascente indústria cultural.

Havia programas de auditório nas rádios, popularizados pela Rádio Nacional,


sediada no Rio de Janeiro, consagrando temáticas e músicas mais populares, que
agradavam ao gosto das massas daquele período.

Se no período getulista o samba reinou entre os estilos musicais mais populares,


agora havia outros elementos e estilos, caso do xote e baião, cujo protagonista foi
Luiz Gonzaga, bem como o bolero, estilo oriundo de países latino americanos, que
acabou influenciando o próprio samba com a criação do samba-canção.

Essas expressões populares cooptadas de certa forma pela indústria cultural


nem sempre eram bem vistas pela elite da época, como explica o pesquisador:
Nos anos 1950, percebemos uma contradição crescente no campo da
cultura brasileira, que se agravaria nas décadas seguintes e expressava os
dilemas de uma sociedade excludente, desigual e conflituosa. Ainda que
eventualmente úteis, para fins de manipulação ideológica, para uma boa
parte das elites políticas o povo e os produtos culturais a eles dirigidos
eram motivos de vergonha [...]. Na visão dessa elite, o problema não era
o veículo em si (o rádio e o cinema, por exemplo), mas os conteúdos e
os tipos humanos veiculados, quase sempre pessoas pobres, lutando pela
vida, ou tipos debochados e cafajestes, malandros que fugiam às normas
de conduta da burguesia (NAPOLITANO, 2014, p. 17).

Algumas das características mais comuns eram um certo conformismo contra a


ordem social existente, uma certa ingenuidade e malícia, solidariedade com aqueles
definidos como mais fracos, um senso de humor frente a vida, temas comuns nas
músicas e nos filmes da época no Brasil. Nas rádios, as radionovelas faziam ainda
grande sucesso.

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Os filmes de Mazzaropi, como o típico caipira,
foi imortalizado no personagem Candinho, que se
apaixonava por uma moça de “vida fácil”, expres-
são comum na época, saindo do campo para a ci-
dade, retratando um pouco da malícia ingênua que
era comum nos filmes brasileiros dos anos 1950.

O cinema, no Brasil, seguiu a trajetória das dé-


cadas anteriores: exibição majoritária da produção
de Hollywood e produção local baseada nos valo-
res da cultura popular – principalmente na Atlânti-
da, responsável pela produção de filmes do gênero
“chanchada”, comédias e paródias utilizando ar-
tistas do circo e do rádio, música e humor – para Figura 5 – Mazzaropi
diversão das massas. Fonte: portalcultura.com.br

Você Sabia? Importante!

O que foram as chanchadas?


Eram filmes populares, cômicos, sem temáticas mais profundas, com assuntos brasileiros
mostrados de maneiras divertidas. Oscarito e Grande Otelo foram atores representantes
desse cinema brasileiro.

De popular a popularesco, os produtos da Atlântida exibiam valores da cultura


tradicional, rural, como “coisas do passado”, passíveis de escárnio pela cultura
urbano-industrial “moderna”.

Figura 6 – Atlântida Cinematográfica


Fonte: culturadigital.br

Já a Vera Cruz, paulista, procurou estabelecer padrões de produção próximos


aos do cinema estadunidense, obtendo algum sucesso de crítica; porém, fracasso
de público.

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UNIDADE O Nacional – Popular na Cultura Brasileira

A imprensa, no período, teve grande influência, tanto no campo político quanto


na formação de hábitos de consumo. Os principais grupos responsáveis pelas
publicações impressas em São Paulo e Rio de Janeiro, além de uns poucos de
outros menos importantes veiculados nos demais estados, participaram ativamente
da política nacional, interferindo diretamente na definição das alianças políticas e
nos projetos, seja nos bastidores, seja pela divulgação de fatos a partir de opiniões
que interessavam aos “barões” da imprensa, apoiando ou criticando governos.

Exemplos disso são os jornais Última Hora, dirigido por Samuel Wainer e
que apoiava Getúlio Vargas, e o Tribuna da Imprensa, no qual Carlos Lacerda
publicou críticas contundentes contra Vargas e que esteve no centro do processo
que culminou com o suicídio do presidente, em agosto de 1954.

Os empresários responsáveis pelos Diários Associados, Estado de São Paulo,


Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e O Globo e Manchete foram atores
importantes no período posterior ao suicídio de Vargas, interferindo na eleição de
JK e na formação da opinião pública sobre o seu governo.

O teatro apresenta uma vertente sofisticada no Teatro Brasileiro de Comédia


(TBC) que, em São Paulo, reúne diretores, produtores e artistas em torno de
projetos dirigidos à classe média paulistana, buscando trazer para São Paulo um
teatro de vertente mundial e de nomes e clássicos modernos consagrados.

A cultura e a elite paulista


[...] no geral, a palavra de ordem, em São Paulo, era atualização cultural,
busca de um compasso com o mundo desenvolvido. Em outras palavras,
atualizar as formas, representações e tecnologias da produção artístico-
cultural, cunho modelo era a “cultura” do mundo desenvolvido. Na verdade.
Essas iniciativas de atualização se concentravam em três áreas principais:
teatro, cinema e artes plásticas. A música popular continuava tendo no
Rio de Janeiro seu principal foco criativo, cujos meios de comunicação
ditavam os grandes sucessos nacionais. Em São Paulo o TBC -Teatro
Brasileiro de Comédia, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz e as
mudanças no campo das artes plásticas- criação do MASP (Museu de Arte
de São Paulo) em 1947, do MAM (Museu de Arte Moderna) em 1948,
e da Bienal de Artes Plástica- são expressões mais significativas desse
processo. Mas não devemos esquecer que, a partir de São Paulo, surgia
outro sistema de comunicação de massa, ainda tímido: a televisão (criada
em 1950, pelo empresário Assis Chateaubriand, o mesmo empresário
por trás do Masp) (NAPOLITANO, 2014, p. 18-19).

Desse modo, São Paulo e Rio de Janeiro rivalizavam como centralidades da


cultura de massa e também como centro difusor de concepções mais elitistas da
cultura. No caso de São Paulo, a centralidade econômica transforma-se também
em hegemonia e cultura dominante. Não sendo propriamente uma cultura erudita,
mas procurando ser mais sofisticada.

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Figura 7 – Companhia Cinematográfica Vera Cruz
Fonte: brasil.gov.br

A companhia cinematográfica Vera Cruz foi concebida para produzir filmes bra-
sileiros que buscam competir com o cinema hollywoodiano. Situava-se em São Ber-
nardo do Campo, cidade hoje da Região Metropolitana de São Paulo. Apesar de al-
guns sucessos como Sinhá Moça, Floradas na Serra e o Cangaceiro – esse último
premiado em Cannes (evento cinematográfico francês) –, essa companhia entrou
em falência em 1954, devido à dificuldade financeira e de distribuição dos filmes.

Apesar disso, a cidade de São Paulo apresentava também outra concepção de


teatro, desenvolvida nos anos 1950, no Teatro Arena, com produções despojadas
e temáticas relacionadas à realidade nacional.

Teatro de Arena
Explor

O Teatro de Arena foi um movimento artístico cultural relacionado ao teatro que nos anos
1950 fundou em São Paulo um grupo que se apresentavam em fábricas, salões, clubes e no
próprio teatro. Em princípio, apresentavam peças de autores consagrados internacionais,
mas depois começaram a tratar de temáticas nacionais. Um dos grandes sucessos da época
foi a peça Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, tratando dos conflitos
humanos, do movimento operário no Brasil nesta época.

Em outro registro, o teatro continua a atrair grandes públicos para o que ficou
conhecido como Teatro de Revista, que segue a linha popularesca das chanchadas
da Atlântida no cinema.

Também houve produções cinematográficas com tendências mais à esquerda,


caso do filme Rio 40 graus e Rio, Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos.
Rio 40 graus foi censurado por um tempo, pois retratava meninos de favela, que
vendiam amendoins, em situações do cotidiano que, em geral, não eram observados
pela sociedade carioca.

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O cenário da cultura de massas dessas décadas teve


a televisão, inaugurada em 1950, como novidade. Pro-
duzida por egressos do Rádio e utilizando tecnologias
ainda restritivas à programação e à exibição, a TV será
um brinquedo de luxo para os que podiam adquirir os
aparelhos e empresas que podiam realizar os progra-
mas e exibi-los. Década após década, ela será um la-
boratório no qual experiências serão desenvolvidas e,
posteriormente, aprofundadas – como o vínculo com
a linguagem radiofônica e temas e produtos popula-
rescos – ou abandonadas – principalmente programas
com formatos elitistas.
Fundamentalmente, a TV, até meados da década de
1960, terá como fatores a impedirem seu desenvolvi-
mento a ausência de aparelhos para a maior parte da Figura 8 – Rio 40 graus, de
população e de uma rede para retransmissão do sinal. Nelson Pereira dos Santos
Tais condições seriam alteradas apenas a partir de 1967. Fonte: adorocinema.com

A Cultura Encontra o Povo


A sociedade urbano-industrial que se formava no Brasil dos anos 1950 propiciou
algo novo para a cultura do país. As culturas tradicionais, popular e erudita, antes
circunscritas aos seus públicos, pobres e ricos, circulava nas metrópoles e era objeto
da cultura de massas, que fazia conviverem valores de ambas no cinema, no rádio,
na tevê e na imprensa.
A ampliação das classes médias que têm acesso ao ensino superior e às artes
ocorre em paralelo à construção de um imaginário de um país “em desenvolvi-
mento”, a caminho das transformações que o aproximariam do modelo hegemô-
nico de vida, o dos EUA, potência emergente após a Segunda Guerra Mundial e
responsável pela difusão dos principais símbolos da vida moderna na produção
cultural do período.
A música, o cinema, o jornalismo e a televisão, ou seja, a indústria cultural dos
EUA era a principal referência para a nascente cultura de massas brasileira; porém,
à moda do modernismo dos anos 1920, os brasileiros absorviam, à sua maneira,
as influências do jazz, do rock e da estética padronizada por Hollywood, criando
o novo: bossa nova, cinema novo, arte e política do CPC.

A Bossa Nova foi um movimento musical brasileiro lançado por Tom Jobim, Vinícius de
Explor

Moraes e João Gilberto e outros compositores do Rio de Janeiro que foram influenciados
principalmente pelo samba e pelo jazz. Trata-se de um ritmo calmo, cadenciado, geralmente
acompanhado de violão ou piano, com letras poetizadas em geral. Alguns sucessos da Bossa
Nova foram: Chega de saudade, de Vinícius de Moraes e Tom Jobim; Garota de Ipanema,
de Tom Jobim e Vinícius de Moraes; Ela é carioca, de Vinícius de Moraes; Eu sei que vou te
amar, de Tom Jobim; Águas de março, de Tom Jobim; Se todos fossem iguais a você, de
Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

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Na construção simbólica das artes, a cultura criadora individualizada (BOSI,
1992) encontra o povo não mais como referência para exposição do antigo, do
atraso, mas como força para a transformação da própria Arte e da realidade,
movimento que vai estabelecer um vínculo entre arte política e arte apolítica,
dicotomia que se vai manter viva por décadas em função da Ditadura Militar que
se iniciaria em 1964.

No teatro, na música e no cinema, a busca por signos de identidade nacional e


de elementos de pertencimento e de superação do atraso serão essenciais para a
compreensão do Brasil do período.

Brasília, “Presidente Bossa Nova”, “fuscas”, inflação, dívida externa e arte


engajada: o Brasil do final da década de 1950 parecia macunaimicamente tentar
uma solução criativa para os impasses que a história criara para si.

Figura 9 – Tom Jobim e Vinícius de Moraes


Fonte: ebc.com.br

No começo dos anos 1950, o Brasil vivia o que alguns denominaram de


“anos dourados”, com certo crescimento econômico e ampliação do processo de
urbanização das cidades brasileiras, principalmente das metrópoles do Sudeste –
São Paulo e Rio de Janeiro.

A década de 1960 começava com burburinho, crises políticas e movimentos


de massa.

Finalizando esta unidade é importante salientar que os anos de 1945-60 foi um


período democrático no Brasil, com a cultura de massas sendo influenciada pelos
EUA e o País tornando-se uma sociedade urbano-industrial, principalmente nas
metrópoles do Sudeste.

Trata-se também de um período no qual a cultura popular alcançou também


a cultura de massa por meio da mídia impressa e principalmente pelas rádios e
programas de auditórios.

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UNIDADE O Nacional – Popular na Cultura Brasileira

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Cultura Popular no Brasil
AYALA, Marcos et al. Cultura popular no Brasil. São Paulo: Ática, 2006. (e-book-
biblioteca virtual).
Introdução às Culturas Populares no Brasil
ZUCON, Otávio; BRAGA, Geslline Giovana. Introdução às culturas populares no
Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013 (e-book-biblioteca virtual).

 Leitura
Teatro de Arena
Enciclopédia Itaú Cultural.
https://goo.gl/xciql7
O Brasil de JK > Sociedade e Cultura nos Anos 1950
Fundação Getúlio Vargas.
https://goo.gl/gvuS56

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Referências
BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

HOBSBAWM, E. A era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980).


São Paulo: Contexto, 2014. (e-book-biblioteca virtual)

SKIDMORE, T. Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.

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