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Direta ou indiretamente, nosso Processo Civil foi regido pelo Regulamento 737 até a
promulgaçao do CPC de 1939, juntamente com as Ordenaçoes do Reino.
Em 11/01/1973, a Lei 5869 promulgou o CPC, entrando este em vigor em 01/01/1974, tendo
como autor do anteprojeto Alfredo Buzaid, então Ministro da Justiça.
Em 2015 NCPC (Lei 13.105/2015) – 1.072 artigos:
PARTE GERAL: dedicada a formulação de regras sobre as Normas Processuais Civis, esta dividida em seis
livros:
Livro I - DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
Livro II - DA FUNÇÃO JURISDICIONAL
Livro III - DOS SUJEITOS DO PROCESSO
Livro IV - DOS ATOS PROCESSUAIS
Livro V – DA TUTELA PROVISÓRIA
Livro VI - DA FORMAÇÃO, DA SUSPENSÃO E DA EXTINÇÃO DO PROCESSO
Lei 8078/90 (CDC): formando uma verdadeira jurisdição coletiva ou mesmo um sistema
processual coletivo, destinando a aplicar de forma especial regras processuais que contemplam
tratamento diferenciado quando estamos diante de conflitos que envolvem conflitos coletivos.
Lei 9099/95 (Lei dos Juizados Especiais) instituindo o procedimento sumaríssimo dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais.
O estudo da historia das civilizações demonstra que a sociedade sempre esteve criada segundo
regras de convivência, posto que, como observou Aristóteles: o homem é um animal politico,
que nasce com a tendência de viver em sociedade.”
Assim predomina o entendimento de que NAO HA SOCIEDADE SEM DIREITO, sem que a
reciproca também é verdadeira, ou seja, não ha direito sem sociedade.
Diante de um fato podem convergir diversos interesses individuais, coletivos, difusos, compete
ao direito disciplinar a relação dos indivíduos com os bens da vida e apontando qual o
interesse deve prevalecer e qual será sacrificado.
Em principio conflito de interesse não se confunde com o de LIDE, pois esta é o conflito de
interesses apresentado em juízo para apreciação do Estado jurisdicional. O conflito de interesse
antecede a lide. NEM TODO CONFLITO É LEVADO EM JUIZO (ANÁLISE DA ATUAÇAO
JURISDICIONAL), TAMBÉM HÁ ALTERNATIVAS EXTRAJUDICIAIS.
MEIOS DE RESOLUÇÃO DE LITÍGIOS:
AUTOTUTELA,
AUTOCOMPOSIÇÃO,
ARBITRAGEM E
JURISDIÇÃO
a) PELOS PRÓPRIOS LITIGANTES: neste caso um dos interessados, ou cada um deles, consente
no sacrifício total ou parcial do próprio interesse (autocomposiçao), ou impõe o sacrifício do
interesse alheio (autodefesa)
ou
Por este meio de resolução de conflito um dos sujeitos impõe a sua vontade sobre a do outro, por meio de
uma ação própria. É uma forma egoísta de solução de conflitos, um dos conflitantes impõe a solução ao
outro pela força, É A JUSTIÇA DE MÃO PRÓPRIA.
Existe uma repulsa do direito à autotutela como meio ordinário de resolução de conflitos porque quase
sempre, resguarda o interesse do mais forte ou mais poderes sobre o mais fraco.
A autotutela não é permitida no Brasil, mas ainda existem algumas situações permitidas. No entanto a lei
prevê a autotutela em algumas situações:
Essa espécie representa um dos meios mais democráticos de resolução de conflitos, pois
prestigia a vontade dos próprios titulares do direito disputado, e justamente por essa razão,
tem sido estimulada pela lei.
É uma autocomposiçao desenvolvida. Um terceiro se coloca entre as partes para fazer acordo, é
um facilitador da conciliação.
O mediador não decide, ele é um facilitador, quem decide são as partes.
O mediador não faz propostas. Tem que usar a mesma linguagem dos mediados.
O mediador não precisa ser advogado.
O mediador não emite opinião sobre o caso, mas apenas facilita o intercâmbio das informações,
ideias e alternativas para a solução do litigio.
4) ARBITRAGEM
A arbitragem é um meio privado de solução de conflitos. Ela pode ser usada para resolver problemas
jurídicos sem a participação do Poder Judiciário.
A arbitragem atualmente esta disciplinada pela Lei 9307/96, que faculta às pessoas capazes de contratar
valer-se dela para solucionar conflito de interesses relativos a direitos disponíveis, escolhendo a terceira
pessoa que ira decidi-lo.
Direitos disponíveis são aqueles em que a parte pode abrir mão sem que terceiros venham se opor, ou seja,
não alteração ou se há, no mundo jurídico.
Direitos indisponíveis: é aquele tutelado pelo Estado de forma peremptória e neste caso mesmo que a
pessoa queira não poderá opinar/declinar contra. Ex.: filhos menores a alimentos dos pais caso estes não
cumpra sua obrigação; corpo humano; vida; liberdade (artigo 5 CF/88).
Negocio jurídico que gera a arbitragem é a convenção de arbitragem. Ha duas espécies:
a) Clausula compromissória: é prévia. As partes decidem que se sobrevier um conflito relativo ao negocio
jurídico esse conflito se resolvera pelo arbitro. É indeterminada. As partes antecipam o conflito.
b) Compromisso arbitral: pressupõe um conflito já existente. As partes resolvem que aquele conflito será
resolvido pelo arbitro. Pode ser precedido de uma clausula compromissória.
A referida lei atribui eficácia própria à sentença arbitral, garantindo os mesmos efeitos da sentença judicial, e
sendo condenatória, força de titulo executivo judicial.
O arbitro não pode executar suas decisões, quem executa é o juiz estatal.
O judiciário não pode rever a decisão do arbitro. Essa decisão não sofrera um controle de mérito. O
judiciário poderá invalidar a decisão arbitral em virtude de um defeito. A decisão arbitral poderá ser
anulada pelo judiciário mas não revê-la.
Essa invalidação poderá ser pleiteada em 90 dias. A parte tera 90 dias para interpor a ação de nulidade de
sentença arbitral devido a um defeito formal. Equivalente a ação rescisória de sentença (prazo de 2 anos).
A arbitragem so se admite em matéria civil (não penal), na medida da disponibilidade dos interesses
substanciais em conflito.
5) CONTROLE JURISDICIONAL INDISPENSAVEL
O processo é o único meio de obter a efetivação dos efeitos ditados pelo direito material. E é justamente a
relevância desses direitos que faz com que seja indispensável o controle jurisdicional.
Assim ocorrendo um litigio entre dois ou mais indivíduos (em que o interesse de um confronta com o do
outro) surge uma pretensão que se opõe ao direito subjetivo do outro, e este para fazer valer o seu direito
(sendo vedada ou não utilizada a autotutela ou porque as partes não quiseram fazer uma autocomposiçao)
terá de postular em juízo a tutela jurídica, advindo dai o que a doutrina chama de LIDE.
No desenrolar do processo as partes buscam convencer o juiz quanto a existência dos seus supostos direitos
e examinados os argumentos das partes e elementos de provas faz incidir a vontade da lei, aplicando o
direito à situação conflituosa trazida à sua apreciação.
A este conjunto de atos das partes, do juiz, dos auxiliares, até a solução da lide obedecendo a um sistema
de normas legais e princípios, fazendo com que esses atos processuais se desenvolvam de modo
ordenado, e não arbitrariamente, chama-se DIREITO PROCESSUAL CIVIL.
O NCPC PREVÊ O SEGUINTE:
Art. 4 - As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída
a atividade satisfativa.
Art. 5 - Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a
boa-fé.
Art. 6 - Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
ARTIGOS 165 A 175 NCPC – DOS CONCILIADORES E MEDIADORES JUDICIAIS.
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela
realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas
destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.
§ 1o A composição e a organização dos centros serão definidas pelo respectivo tribunal, observadas as
normas do Conselho Nacional de Justiça.
§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as
partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de
constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.
§ 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes,
auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam,
pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem
benefícios mútuos.
Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da
imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da
decisão informada.
§ 1o A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso do procedimento, cujo teor
não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa deliberação das partes.
§ 2o Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o mediador, assim como os
membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da
conciliação ou da mediação.
§ 3o Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de proporcionar ambiente favorável à
autocomposição.
§ 4o A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos interessados, inclusive no
que diz respeito à definição das regras procedimentais.
Art. 167. Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de conciliação e mediação serão inscritos
em cadastro nacional e em cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, que manterá
registro de profissionais habilitados, com indicação de sua área profissional.
CONCLUSAO:
Questões relativas a direitos que tenham valor econômico e que possam ser comercializados ou
transacionados livremente por seus donos.
Não se admite recursos na arbitragem, mas se houve ofensa a certos direitos a decisão do arbitro poderá ser
ANULADA pelo Poder Judiciário.
As Instituições Arbitrais (que podem ser Câmaras, Centros, Institutos, etc) são organizações privadas que
administram o procedimento arbitral. São responsáveis por todo o procedimento.
Não existe nenhum órgão oficial de arbitragem – já que é meio privado de solução de conflitos. Não há
órgãos estatais de arbitragem e nem “Poder Judiciário Arbitral”.
Segundo o relatório Justiça em Números do Conselho Nacional de Justiça, a cada ano, para
cada dez novas demandas propostas no Poder Judiciário brasileiro, apenas três demandas
antigas são resolvidas. Some-se a este preocupante dado que se encontram pendentes cerca
de 93 milhões de feitos. Sem dúvida, vivemos sério problema de DÉFICIT OPERACIONAL.
Algumas das atuais soluções para esta delicada situação deficitária envolvem preocupação
essencial com o uso racional e eficiente da máquina estatal. Isto porque frequentemente,
constatamos partes que, após longos períodos de litígio, recebem integralmente o pedido posto
na inicial, mas ainda assim não sentem que “venceram o conflito”. Ainda mais quando a vitória
é parcial.
Certamente se pode afirmar que, se uma parte vence – parcial ou integralmente – uma
disputa, mas ainda se encontra insatisfeita ao final do processo, há algo no uso da máquina
estatal a ser questionado.
De fato, partes vencedoras de uma disputa frequentemente se sentem perdedoras em razão
do tempo, das custas e, principalmente, da perda de vínculo.
Como bem indicado pelo Min. Marco Aurélio Gastaldi Buzzi em reiteradas palestras, faz-se
necessário adotar novas práticas para uso eficiente dos recursos materiais e humanos o Poder
Judiciário.
Esta nova visão ou nova cultura faz com que, empresas, por exemplo, passem a perceber o
consumidor (de forma não adversarial) como parceiro essencial, mesmo em um processo
judicial.
Isso induz a empresa a agir de forma construtiva e proativa quanto ao contexto indicado pelo
autor (e.g.“os autores argumentam que foi prestado um serviço de forma falha e, como
compartilhamos do interesse dos nossos clientes de prestar serviços de excelência, gostaríamos
de conversar sobre formas de melhor atendê-los”).
Com isto, o Poder Judiciário se aproxima de uma de suas mais belas funções: EDUCAR A
SOCIEDADE PARA TORNAR-SE MAIS CONSENSUAL, AO MESMO TEMPO EM QUE ENFRENTA DE
FORMA DIRETA UM DE SEUS MAIORES DESAFIOS: O DÉFICIT OPERACIONAL.
O campo da chamada ‘Resolução Apropriada de Disputas’ (ou RADs) inclui uma série de
métodos capazes de solucionar conflitos. Tais métodos oferecem, de acordo com suas
respectivas peculiaridades, OPÇÕES PARA SE CHEGAR A UM CONSENSO, A UM ENTENDIMENTO
PROVISÓRIO, À PAZ OU APENAS A UM ACORDO – dependendo do propósito para o qual o
processo de resolução de disputas foi concebido ou ‘desenhado’.
Nota-se, portanto, que o sistema público de resolução de conflitos – que envolve o Poder
Judiciário e outros órgãos de prevenção ou resolução de disputas (ex: Defensoria Pública,
Ministério Público, Secretarias de Justiça, entre outros) – é composto, atualmente, por vários
métodos ou processos distintos. Essa gama ou espectro de processos (ex: processo judicial,
arbitragem, conciliação, mediação, entre outros) forma um sistema pluriprocessual.
Nesse contexto, a escolha do método de resolução mais indicado para determinada disputa
precisa levar em consideração características e aspectos de cada processo, tais como: custo
financeiro, celeridade, sigilo, manutenção de relacionamentos, flexibilidade procedimental,
exequibilidade da solução, custos emocionais na composição da disputa, adimplemento
espontâneo do resultado e recorribilidade.
Processos não vinculantes: Controle do processo e do seu resultado cabe às próprias partes
Maior utilização da linguagem cotidiana das Maiores custos processuais (ou operacionais).
partes/interessados
DOS PROCESSOS, MÉTODOS OU MEIOS EM ESPÉCIE
A) NEGOCIAÇÃO
A mediação pode ser definida como uma negociação facilitada ou catalisada por um terceiro.
Alguns autores preferem definições mais completas sugerindo que a mediação um processo
autocompositivo segundo o qual as partes em disputa são auxiliadas por uma terceira parte
neutra/imparcial ao conflito ou por um painel de pessoas sem interesse na causa, para se
chegar a uma composição.
» Por fim, tanto na mediação, quanto na conciliação, como na negociação, as partes não
precisam chegar a um acordo. Os interessados têm ainda a possibilidade de encerrar a
mediação a qualquer hora sem sofrerem maiores prejuízos, pois este é um processo não
vinculante.
A conciliação pode ser definida como um processo autocompositivo breve no qual as partes
ou os interessados são auxiliados por um terceiro, neutro ao conflito, ou por um painel de
pessoas sem interesse na causa, para assisti-las, por meio de técnicas adequadas, a chegar a
uma solução ou a um acordo.
Com lançamento do Movimento pela Conciliação, pelo Conselho Nacional de Justiça, partiu-se
da premissa de que um PODER JUDICIÁRIO MODERNO NÃO PODERIA PERMITIR A CONDUÇÃO
DE TRABALHOS SEM TÉCNICA.
Atualmente, com base na política pública preconizada pelo Conselho Nacional de Justiça e
consolidada em resoluções e publicações diversas, pode-se afirmar que A CONCILIAÇÃO NO
PODER JUDICIÁRIO BUSCA:
A arbitragem pode ser definida como um processo eminentemente privado, nas qual as partes
ou interessados buscam o auxílio de um terceiro, neutro/imparcial ao conflito, ou de um painel
de pessoas sem interesse na causa, para, após um devido procedimento, prolatar uma decisão
(sentença arbitral) visando encerrar a disputa.
Trata-se de um processo, em regra, vinculante, em que ambas as partes são colocadas diante
de um árbitro ou um grupo de árbitros. Como regra, ouvem-se testemunhas e analisam- se
documentos. Os árbitros estudam os argumentos dos advogados antes de tomarem uma
decisão.
Usualmente, em razão dos custos, apenas causas de maior valor em controvérsia são
submetidas à arbitragem e os procedimentos podem durar diversos meses.
A característica principal da arbitragem é sua coercibilidade e capacidade de pôr fim ao
conflito. De fato, é mais finalizadora do que o próprio processo judicial, porque não há recurso
na arbitragem.
De acordo com a Lei 9.307/96, o Poder Judiciário executa as sentenças arbitrais como se
sentenças judiciais fossem.
Caso uma das partes queira questionar uma decisão arbitral devido, por exemplo, à
parcialidade dos árbitros, uma demanda anulatória deve ser proposta (e não um recurso).
A despeito de a arbitragem ser o procedimento decisório mais parecido com um processo
judicial, tal método privado oferece as seguintes vantagens:
» A arbitragem é conhecida por ser mais sigilosa e célere que o processo judicial na maior
parte dos casos. A menos que estejam limitadas por regras acordadas anteriormente, as partes
e seus advogados podem controlar o processo e agilizá-lo drasticamente, reduzindo custos e
tempo.
e) MED-ARB E OUTRAS HIBRIDAÇÕES DE PROCESSOS
Originalmente concebida na década de 80, a med-arb valia-se do mesmo profissional para atuar
como mediador e árbitro. Posteriormente, considerando se tratar de procedimentos bastante
distintos, passou-se a indicar profissionais distintos para as duas etapas desse processo híbrido.
Naturalmente, para haver uma med-arb, faz-se necessária uma convenção ou cláusula
denominada de ‘escalonada’ por haver a previsão da referida hibridação.
Um dos grandes desafios do Poder Judiciário, no século XXI, consiste em combater a posição
singularista de que para cada conflito de interesse só pode haver uma solução correta – a do
magistrado, que, sendo mantida ou reformada em grau recursal, se torna a “verdadeira
solução” para o caso.
A ideia de que o jurisdicionado, quando busca o Poder Judiciário, o faz na ânsia de receber a
solução de um terceiro para suas questões, vem, progressivamente, sendo alterada para uma
visão de Estado que orienta as partes a resolverem, de forma mais consensual e amigável,
seus próprios conflitos e, apenas excepcionalmente, como última hipótese, se decidirá em
substituição às partes.
Nesse sentido, tem se trabalhado a noção de que o Estado precisa preparar o jurisdicionado
para utilizar, adequadamente, o sistema público de resolução de disputas bem como, quando
possível, resolver seus próprios conflitos.
Nesse contexto, diversos tribunais brasileiros têm organizado treinamentos, workshops, aulas,
grupos de apoio, oficinas, entre outras práticas para orientar o jurisdicionado a resolver
melhor seus conflitos. Entre esses treinamentos, destacam-se as oficinas de parentalidade (ou
oficinas de pais e filhos) que buscam orientar pais divorciandos e seus filhos a lidarem melhor
com os conflitos nessa fase de transição.
VALORES CONSENSUAIS DO NOVO CPC
A Política Pública de Resolução Apropriada de Disputas conduzida preponderantemente pelo
Conselho Nacional de Justiça, tem refletido um movimento de consensualização do Poder
Judiciário uma vez que passa a estabelecer a autocomposição como solução prioritária para os
conflitos de interesse.
Isso significa que o legislador crê que a maior parte dos conflitos pode ser resolvida por meios
consensuais.
O Código de Processo Civil apresenta uma série de indicações nesse sentido como o conciliador
e o mediador sendo auxiliares da justiça (art. 149) e a criação de centros judiciários de solução
consensual de conflitos (art. 165).
Por sua vez processos heterocompositivos são retrospectivos na medida em que buscam
examinar o passado da relação e verificar como compensar eventuais equívocos passados com
reparações no presente.
Processos consensuais possuem, em linhas gerais, foco em soluções. Busca-se pensar diante
da situação presente consolidada quais são as melhores saídas para a realização dos interesses
daquelas partes envolvidas bem como o que é necessário para atender às necessidades dos
interessados.
Na autocomposição, frequentemente, não se pensa em quem está certo e quem está errado
mas em como solucionar as questões e quais as melhores formas de atender aos interesses dos
envolvidos.
Na heterocomposição, por sua vez, possui foco preponderante na culpa e, quando possível, na
reparação ainda que esta venha ser pecuniária. Como se lida com o conflito. Processos
autocompositivos abordam a disputa e o conflito como fenômenos a serem resolvidos de forma
preponderantemente colaborativa. Já processos heterocompositivos, como regra, abordam a
disputa como um uma dinâmica a ser vencida.
Na autocomposição, podem existir diversas respostas concomitantemente corretas (e
legítimas) para uma mesma questão. Nessa hipótese, cabe às partes construírem a solução
para suas próprias questões e, assim, encontrarem a resposta que melhor se adeque ao seu
contexto fático. Dogma/Pragma.
Por outro lado, na heterocomposição o formalismo é definido pelo gestor do processo - seja
magistrado ou árbitro.
Nestes casos, o advogado fala pela parte com o intuito principal de convencer e vencer. Em
processos autocompositivos, o advogado auxilia o seu cliente a negociar de forma mais
persuasiva ao mesmo tempo em que assegura que o seu cliente não está renunciando a
direitos sem plena consciência disto. Nessas hipóteses, por ser um técnico (ou coach) de
negociação, cabe ao advogado que atua em conciliações ou mediações saber negociar com
técnica. Na autocomposição os processos tem seus fundamentos nos interesses das partes.
“O ACESSO À JUSTIÇA NÃO SE CONFUNDE COM ACESSO AO JUDICIÁRIO, tendo em vista que
não visa apenas a levar as demandas dos necessitados àquele Poder, mas realmente incluir os
jurisdicionados que estão à margem do sistema para que possam ter seus conflitos resolvidos
(por heterocomposição) ou receberem auxílio para que resolvam suas próprias disputas (pela
autocomposição).
O acesso à justiça está mais ligado à satisfação do usuário (ou jurisdicionado) com o resultado
final do processo de resolução de conflito do que com o mero acesso ao poder judiciário, a
uma relação jurídica processual ou ao ordenamento jurídico material aplicado ao caso concreto.
O verdadeiro acesso à Justiça abrange não apenas a prevenção e reparação de direitos, mas a
realização de soluções negociadas e o fomento da mobilização da sociedade para que possa
participar ativamente dos procedimentos de resolução de disputas como de seus resultados.
Busca-se assim estabelecer uma nova face ao judiciário: UM LOCAL ONDE PESSOAS BUSCAM E
ENCONTRAM SUAS SOLUÇÕES – UM CENTRO DE HARMONIZAÇÃO SOCIAL.
A RESOLUÇÃO 125 E SEUS OBJETIVOS
A criação de uma resolução do Conselho Nacional de Justiça que dispõe sobre a conciliação e
a mediação partiu de uma premissa de que cabe ao Judiciário estabelecer a política pública de
tratamento adequado dos conflitos de interesses resolvidos no seu âmbito – seja por meios
heterocompositivos, seja por meios autocompositivos.
Esta orientação foi adotada, de forma a organizar, em todo território nacional, não somente os
serviços prestados no curso da relação processual (atividades processuais), como também os
que possam incentivar a atividade do Poder Judiciário de prevenção de demandas com as
chamadas atividades pré-processuais de conciliação e mediação.
A criação da Resolução 125 do CNJ foi decorrente da necessidade de se estimular, apoiar e
difundir a sistematização e o aprimoramento de práticas já adotadas pelos tribunais.
Em regra, intuitivamente se aborda o conflito como um fenômeno negativo nas relações sociais
que proporciona perdas para, ao menos, uma das partes envolvidas.
GUERRA
BRIGA
DISPUTA
AGRESSÃO
TRISTEZA
VIOLÊNCIA
RAIVA
PERDA
PROCESSO
Em seguida, sugere-se ao participante do treinamento que se recorde do último conflito em
que se envolveu significativamente. Perguntados quanto às reações fisiológicas, emocionais e
comportamentais que tiveram muitos participantes indicam que reagiram ao conflito da
seguinte forma:
TRANSPIRAÇÃO
TAQUICARDIA
RUBORIZAÇÃO
ELEVAÇÃO DO TOM DE VOZ
IRRITAÇÃO
RAIVA
HOSTILIDADE
DESCUIDO VERBAL
Nesses conflitos, nota-se em regra a atuação abundante do hormônio chamado adrenalina que
provoca tais reações.
REPRIMIR COMPORTAMENTOS
ANALISAR FATOS
JULGAR
ATRIBUIR CULPA
RESPONSABILIZAR
POLARIZAR RELAÇÃO
ANALISAR PERSONALIDADE
CARICATURAR COMPORTAMENTOS
Diante de tais reações e práticas de resolução de disputas, poderia-se sustentar que o conflito
sempre consiste em um fenômeno negativo nas relações humanas?
Quando questionados sobre aspectos positivos do conflito (O que pode surgir de positivo em
razão de um conflito?”) – ou formas positivas de se perceber o conflito – em regra,
participantes de treinamentos em técnicas e habilidades de mediação apresentam, entre
outros, os seguintes pontos:
GUERRA PAZ
BRIGA ENTENDIMENTO
DISPUTA SOLUÇÃO
AGRESSÃO COMPREENSÃO
TRISTEZA FELICIDADE
VIOLÊNCIA AFETO
RAIVA CRESCIMENTO
PERDA GANHO
PROCESSO APROXIMAÇÃO
A POSSIBILIDADE DE SE PERCEBER O CONFLITO DE FORMA POSITIVA CONSISTE EM UMA DAS
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DA CHAMADA MODERNA TEORIA DO CONFLITO.
Isso porque a partir do momento em que se percebe o conflito como um fenômeno natural na
relação de quaisquer seres vivos é possível se perceber o conflito de forma positiva.
TRANSPIRAÇÃO MODERAÇÃO
TAQUICARDIA EQUILÍBRIO
RUBORIZAÇÃO NATURALIDADE
ELEVAÇÃO DO TOM DE VOZ SERENIDADE
IRRITAÇÃO COMPREENSÃO
RAIVA SIMPATIA
HOSTILIDADE AMABILIDADE
DESCUIDO VERBAL CONSCIÊNCIA VERBAL
Nota-se que a coluna da esquerda seria abandonada pelo mediador, na hipótese narrada, caso
ele possuísse as técnicas e habilidades autocompositivas necessárias e percebesse o conflito
como uma oportunidade.
Em suma, o mecanismo de luta ou fuga consiste em uma resposta que libera a adrenalina
causadora das reações da coluna da esquerda no quadro anterior.
Por sua vez, ao se perceber o conflito como algo positivo, ou ao menos potencialmente
positivo, tem-se que o mecanismo de luta ou fuga tende a não ser desencadeado ante a
ausência de percepção de ameaça, o que, por sua vez, facilita que as reações indicadas na
coluna da direita sejam alcançadas.
Note-se que se o mediador tivesse insistido em ter uma interação caso houvesse reagido
negativamente ao conflito, possivelmente tenderia a discutir com o advogado (e.g.“não é
minha culpa – são os problemas trazidos pelas partes que precisam de mais tempo”), ou a
julgá-lo (e.g.“Você sempre teve esse temperamento? Acho que ele não é compatível com a
mediação”), ou a reprimir comportamentos (e.g.“esse discurso foi desnecessário. O que o Sr.
gostaria não é...”), ou a polarizar a relação (e.g.“você é que não está sabendo participar de uma
mediação”).
Isto é, entre outras práticas (ineficientes) de resolução de disputas na hipótese citada temos
aquelas da coluna da esquerda no quadro a seguir
Para tanto, caberia ao mediador adotar algumas das práticas relacionadas à direita no quadro
anterior.
“Dr. Tiago, agradeço sua franqueza. Pelo que entendi o senhor, como um advogado já
estabelecido, tem grande preocupação com o tempo investido na mediação e gostaria de
entender melhor por quanto tempo estaremos juntos e em quais momentos sua participação
seria essencial. Há algum outro ponto na mediação que o senhor gostaria de entender melhor?”
Vale destacar que a resposta dada ao advogado estabelece que não há necessidade de se
continuar o diálogo como se um estivesse errado e o outro certo.
Parte-se do pressuposto que todos tenham interesses congruentes – como o de ter uma
mediação que se desenvolva em curto prazo com a melhor realização de interesses das partes e
maior grau de efetividade de resolução de disputas.
O ato ou efeito de não perceber um diálogo ou um conflito como se houvesse duas partes
antagônicas ou dois polos distintos (um certo e outro errado) denomina-se DESPOLARIZAÇÃO.
De fato, percebe-se que ele apenas assumiu posição mais confortável na mediação – de
legitimidade e liderança – a partir do momento em que tivesse demonstrado saber resolver
bem conflitos.
CONFLITOS E DISPUTAS
Há autores que sustentam que uma disputa existe quando uma pretensão é rejeitada integral
ou parcialmente, tornando-se parte de uma lide quando se envolvem direitos e recursos que
poderiam ser deferidos ou negados em juízo.
Alguns autores sustentam que uma disputa somente existe depois de uma demanda ser
proposta. “Um conflito se mostra necessário para a articulação de uma demanda. Um conflito,
todavia, pode existir sem que uma demanda seja proposta. Assim, apesar de uma disputa não
poder existir sem um conflito, um conflito pode existir sem uma disputa”.
Cada reação torna-se mais severa do que a ação que a precedeu e cria uma nova questão ou
ponto de disputa.
Esse modelo, denominado de ESPIRAIS DE CONFLITO, sugere que com esse crescimento (ou
escalada) do conflito, as suas causas originárias progressivamente tornam-se secundárias a
partir do momento em que os envolvidos mostram-se mais preocupados em responder a uma
ação que imediatamente antecedeu sua reação.
POR EXEMPLO, se em um dia de congestionamento, determinado motorista sente-se ofendido
ao ser cortado por outro motorista, sua resposta inicial consiste em pressionar intensamente a
buzina do seu veículo.
O primeiro motorista continua a buzinar e responde ao gesto com um ainda mais agressivo. O
segundo, por sua vez, abaixa a janela e insulta o primeiro. Este, gritando, responde que o outro
motorista deveria parar o carro e “agir como um homem”. Este, por sua vez, joga uma garrafa
de água no outro veículo. Ao pararem os carros em um semáforo, o motorista cujo veículo foi
atingido pela garrafa de água sai de seu carro e chuta a carroceria do outro automóvel.
No exemplo citado, se houvesse um policial militar perto do último ato, este poderia ensejar
um procedimento de juizado especial criminal. Em audiência, possivelmente o autor do fato
indicaria que seria, de fato, a vítima; e, de certa forma, estaria falando a verdade uma vez que
nesse modelo de espiral de conflitos ambos são, ao mesmo tempo, vítima e ofensor ou autor
do fato.
PROCESSOS CONSTRUTIVOS E DESTRUTIVOS
O processo rende, com frequência, muito menos do que deveria – em “função dos defeitos
procedimentais, resulta muitas vezes lento e custoso, fazendo com que as partes quando
possível, o abandonem.
Constata-se que, atualmente, em grande parte, o ordenamento jurídico processual, que se dirige
predominantemente à pacificação social.
CONFLITOS CIVIS E MEIOS DE COMPOSIÇÃO
O CONFLITO pode ser visto como uma crise na interação humana. Conflito expressa a crise
vivenciada em sentido amplo, enquanto DISPUTA remete a uma unidade controvertida. Assim,
um casal recém-separado pode estar em crise ( vivenciando um contexto amplo de conflitos) ,
mas enfrentar , em certo momento, uma disputa, pontual e específica , quanto ao tempo de
convivência com os filhos.
A expressão “ LIDE”, retrata o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida; a
expressão identifica -se com o vocábulo “ litígio ” e costuma ser usada quando alguém se refere
a uma controvérsia levada a juízo para apreciação pelo Estado- juiz .
Para facilitação didatica, serão o usados os vocábulos “ conflito ” e “ controvérsia ” como
sinónimos - postura, ali ás, corrente na legislação nacional.
Na Lei de Mediação brasileira ( Lei 13.140/ 2015) , “ conflito ” e “ controvérsia” parecem ser
utilizados como sinónimos : o art. l : aponta que a lei versa sobre “ meio de solução de
controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da
administração pública ” .
A mesma situação se verifica , muitas vezes, no Novo CPC ( Lei n. 13.105/ 2015) ; coteje-se, por
exemplo , o art. 3, § 2. ( “ o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos
conflitos ' ) e o art. 694 ( “ nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para a
solução consensual da controvérsia * ) .
Há que se destacar , contudo , que certos dispositivos apresentam uma acepção mais técnica
de “ controvérsia ” , referindo-se ao vocábulo e aos seus derivados (como “ controvertido” )
para retratar um ponto específico tratado processo judicial sobre o qual as partes têm
diferenças de percepção e entendimento ( vide arts . 66, III; 464, § 3 . ° ; art. 545, § l . ° ; 966, §
2. ° ; art. 976, do Novo CPC).
Art. 66. Há conflito de competência quando: III - entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia
acerca da reunião ou separação de processos.
Para bem abordar os conflitos, é importante entender O QUE OS CAUSA.
Algumas vezes, a regra sobre a devida posição jurídica relativa ao bem é cumprida
espontaneamente; pode haver , contudo, uma pretensão que encontre resistência em sua
observância, situação caracterizadora do conflito .
Diante de tal constatação, faz- se necessária, na busca de pacificação social, a definição clara
sobre QUEM É O TITULAR DO INTERESSE.
Quando um dos envolvidos na relação quer satisfazer seu interesse e não consegue fazê-lo
pela conduta de outrem , surge a pretensão: exigência que a outra parte se sujeite ao
cumprimento do interesse alheio.
A partir de tais conceitos, pode-se chegar à clássica definição de lide apresentada por Francesco
Carnelutti: CONFLITO DE INTERESSES QUALIFICADO POR UMA PRETENSÃO RESISTIDA.
As relações interpessoais são marcadas por insatisfações ( “ estados psíquicos decorrentes da
carência de um bem desejado” ); o conflito seria a “ situação objetiva caracterizada por uma
aspiração e seu estado de não satisfação, independentemente de haver ou não interesses
contrapostos ”.
Como se percebe, há certa tensão envolvida no conflito , e a perspectiva jurídica busca enfrentá-
la a partir da noção de satisfação dos interesses . Satisfazer alguém, contudo , tende a ser algo
mais complexo do que simplesmente lhe apresentar a resposta oferecida pelo ordenamento
jurídico .
Com o nome genérico “ conflito ” sã o referenciadas diversas situações que envolvem tensões
cujos tipos e origens podem em muito variar . Por tal razão, estudiosos do tema vêm refletindo
sobre os variados modos de desenlace e as respectivas estratégias para seu enfrentamento. São
in ú meras as dificuldades inerentes à abordagem dos conflitos, porque aspectos subjetivos (
pessoais e psíquicos) podem bloquear a comunicação e impedir o tratamento eficaz da tem á
tica.
É essencial, cada vez mais, arejar o sistema jurídico, gerando oportunidades de diálogo entre
este e as demais disciplinas sociais, abrindo o sistema para a complexidade e para a
interdisciplinaridade.
Sendo cada vez maior o número de transações efetuadas, têm sido potenciados os conflitos
que delas emergem, bem como as formas de sua solução.
O inusitado e crescente aumento das transgressões jurídicas pode ser ainda creditado ao
profundo desequilíbrio dos valores éticos pelo qual passa a humanidade em nossos dias, sendo
praticamente impossível que os quadros judiciários acompanhem o intenso crescimento de
demandas.
Além de tais controvérsias, há ainda inúmeras outras nessa sociedade, tão marcada por
contradições sociais, políticas, económicas e regionais do país; a tais fatores se somam
controvérsias intersubjetivas ou coletivas decorrentes da vida em relação travada na
sociedade.
A verificação dessa verdadeira emancipação da cidadania tem gerado uma ampla disposição de
não mais se resignar ante as injustiças, o que acarreta um maior acesso às cortes estatais para
questionar atos lesivos ; tal situação pode ser vista como uma “ SÍNDROME DE LITIGIOSIDADE”.
Mais recentemente, o Novo CPC ( Lei n. 13.105/ 2015) e a Lei de Mediação ( Lei n . 13.140/
2015) trouxeram previsões que posicionam com destaque os meios consensuais - instituindo ,
inclusive, a audiência de conciliaçã o ou mediação como etapa essencial do procedimento
comum em ju í zo ( art. 334 da Lei n . 13.105/ 2015 e art. 27 da Lei n. 13.140/ 2015).
UMA NOVA VISÃO TAMBÉM NOS CONFLITOS PENAIS
A nova visão que vem sendo empreendida no tratamento das controvérsias penais por revelar
interessante tendência de mudança de rumos . Mesmo na seara criminal vem - se abordando o
conflito de forma mais abrangente, estimulando-se a adoção de mecanismos apropriados à sua
abordagem e de parâmetros atinentes à justiça restaurativa.
A proposta é que todos os envolvidos no evento danoso possam reconhecer suas responsabilidades
e buscar a melhor maneira de reparar os danos e atender às necessidades dos afetados. Merece
destaque ainda a valorização de institutos consentâneos com a noção de justiça consensual e com o
modelo de processo de estrutura cooperatória, como a transação e a delação premiada, além da a
adoção de medidas despenalizadoras.
A Lei 9.099/95, elaborada com base em tal premissa constitucional, preconiza um novo modelo de
justiça criminal . Tal legislação empreendeu uma verdadeira revolução (jurídica e de mentalidade) no
campo penal ao quebrar a inflexibilidade do clássico princípio da obrigatoriedade da ação penal, ao
prever espaço para o consenso.
Embora o conflito seja uma disfunção que reclama tratamento especial (para possibilitar a
satisfação da necessidade das partes ) , h á quem o entenda ‘ como algo útil e necessário, já que
conduz à mudança, à inovação, à modernização e à criatividade, desde que, não suprimido, seja
manejado eficientemente.
O processo, assim como a arbitragem, constitui modalidade em que o resultado é definido por
um terceiro, razão pela qual se fala em heterocomposição ( ou heterotutela ).
A AUTOCOMPOSIÇÃO é regida pela vontade partes que, dentro dos limites da licitude e da
disponibilidade do Direito, são livres para preencher o conteúdo da norma como bem
entenderem, não necessariamente por aplicação direta das previsões legais ao caso concreto.
EXTENSÃO E COMPREENSÃO DOS MEIOS DE COMPOSIÇÃO
AUTOTUTELA
PELA AUTOTUTELA (OU AUTODEFESA) , O INDIVÍDUO RESOLVE O CONFLITO POR SUA PRÓPRIA
FORÇA, AGINDO POR SI PRÓPRIO PARA OBTER UMA POSIÇÃO DE VANTAGEM EM RELAÇÃO À
SITUAÇÃO DESEJADA. Sua prática costuma ser malvista por trazer a ideia de violência e ser
identificada como um resquício de justiça privada.
Sua utilização sempre foi considerada uma alternativa ante a falta de poder do Estado para
definir os conflitos.
Tendo sido a primeira resposta encontrada pelo indivíduo para resolver suas controvérsias, a
autotutela era considerada um instrumento precário e aleatório ; ela não seria apta a garantir
propriamente justiça, mas sim a vitória do mais forte, esperto ou ousado sobre o mais fraco ou
tímido.
Nos termos da lei civil, não constituem atos ilícitos aqueles praticados em legítima defesa, em
exercício regular de um direito reconhecido ou em estado de necessidade.
O possuidor lesado pode atuar, direta e imediatamente, para manter sua posse (agindo em
legítima defesa para evitar a invasão) ou para nela se reintegrar ( realizando desforço imediato
se já esbulhado), exigindo a lei, por outro lado , que “ o faça logo ” , vedando a autotutela
quando a reação ao esbulho ou turbação não seja imediata.
A doutrina civilista clássica afirma que tal direito deriva do princípio da legítima defesa.
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de
esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria
força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do
indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
AUTOTUTELA NAS OBRIGAÇÕES ESPECÍFICAS
Em termos de obrigações de fazer e não fazer, previu o Código Civil que, EM CASO DE
URGÊNCIA, pode o credor, diante de certos descumprimentos, independentemente de
autorização judicial, executar ou mandar executar o fato ou, na hipótese de obrigação de não
fazer, mandar desfazer o ato praticado em seu detrimento.
São duas as razões justificadoras da autotutela nos casos previstos em lei: a impossibilidade de
o Estado- juiz estar presente sempre que um direito esteja sendo violado ( ou prestes a sê-lo )
e a falta de confiança no desprendimento alheio, inspirador de uma possível autocomposição.
Esta abordagem analisa o tema sob o prisma cível; como o corte de árvores envolve outras
searas, será importante que o interessado se informe sobre posturas municipais e regras
ambientais vigentes no local para evitar problemas .
O direito de cortar raízes e ramos de árvores limítrofes que ultrapassam a estrema do prédio é
previsto no Código Civil, no art. 1.283. Pelo teor do dispositivo, percebe-se que o direito de
corte decorre da simples invasão do terreno , não se exigindo prova de lesão ou qualquer
prejuízo.
O direito de retenção ( ius retentionis ) constitui meio direto de defesa concedido pela lei para
que o titular da relação jurídica possa se opor à restituição de um bem até receber a
contraprestação que lhe é devida.
Tal direito é previsto em diversas relações jurídicas; no Código Civil, há previsões referentes, por
exemplo, à locação , ao depósito , ao mandato e ao transporte e à posse. Além dos casos
previstos na lei, a jurisprudência vem reconhecendo o direito de retenção em outras
circunstâncias ( como em favor do empreiteiro construtor , do locatário contra o locador e em
favor do artífice, fabricante e daquele que faz reparos na coisa ).
Pode- se concluir que as modalidades de autotutela existentes são aptas a possibilitar uma
definição imediata em casos específicos que não podem aguardar o recurso aos órgãos
judiciários sem prejuízo da continuidade de certas situações ou relações jurídicas
AUTOCOMPOSIÇÃO (MEIOS CONSENSUAIS)
A possibilidade de que as partes resolvam, isoladamente ou em conjunto, uma saída para o
conflito encerra a hipótese de autocomposição.
Autocomposição unilateral
Autocomposição bilateral
Em tal caso, a solução do conflito contará com a vontade de uma ou ambas as partes para que
se verifique, INEXISTINDO A PARTICIPAÇÃO DE UM TERCEIRO COM PODER DECISÓRIO PARA
DEFINIR O IMPASSE.
Quanto às soluções pacíficas encaminhadas pelas próprias partes, ressalta-se que as partes
podem, adotar como modalidades:
a) a solução “ moral” , em que os antagonistas se conformam em limitar seu interesse, inclusive
renunciando a ele;
b) a solução contratual, em que ambos se entendem e convencionam a composição do conflito
c) a solução arbitral, em que as partes confiam a um terceiro a função de resolver o
desencontro de seus interesses.
Ao se afirmar , na seara cível, que alguém pode dispor de certo direito, indica -se que a parte
tem liberdade de, por sua nica e exclusiva vontade, usá-lo ou não.
Conceitua-se o DIREITO DISPONÍVEL como aquele que pode ou não ser exercido por seu titular,
não existindo norma cogente a impor o cumprimento do preceito sob pena de nulidade ou
anulabilidade do ato praticado com sua infringência.
Em sentido genérico, todos os direitos podem ser considerados suscetíveis de transação, quer
quanto às suas modalidades, quer quanto à sua validade ou à sua extensão ; tudo o que se
requer é que se trate de um objeto física e juridicamente apto a constituir objeto de contrato ,
devendo ainda ser certo, determinado e preciso.
Apesar de tal ampla noção, sempre houve certa resistência doutrinária em considerar a
possibilidade de transação quando a causa versasse sobre relações jurídicas em que seu objeto
fosse considerado personalíssimo e/ ou de significativo relevo público.
Também em ações de estado (como o divórcio) e nas causas relativas a interesses de incapazes
(como a guarda de filhos) é possível que as partes se conscientizem sobre direitos e obrigações
recíprocas e celebrem acordos válidos.
Exemplo disso é que o pai pode reconhecer voluntariamente o vínculo de filiação em ato de
autocomposição unilateral .
Percebe -se, assim , que também no Direito de Família é possível conceber a autocomposição,
seja ela unilateral por reconhecimento jurídico do pedido ou renúncia ( em certos casos), seja
por autocomposição bilateral por força da realização de acordos.
Na perspectiva do direito de ação, ante a proibição estatal genérica da autotutela , o Estado conferiu
ao indivíduo a disponibilidade ( positiva ) de acessar e ( negativa ) de não acessar o Poder Judiciário;
em tal medida, pode-se conceber O DIREITO DE AÇÃO COMO O PRINCÍPIO ATIVO DA
DISPONIBILIDADE.
Pelo princípio da disponibilidade processual (da tutela jurisdicional), cabe às partes, em manifestação
do poder de dispor de seus direitos , tanto iniciar o processo como suspendê-lo ou extingui-lo ( por
meio de institutos como a renúncia ou a desistência). Tal princípio só encontra restrições em sua
aplicação se a demanda versar sobre direitos indisponíveis.
Percebe-se, assim , que o Direito processual se preocupa em assegurar a tutela adequada do Direito
material, evitando manipulações e burlas quanto a temas de interesse público relevante .
Cumpre anotar que o Novo CPC é permeado por previsões que permitem às partes dispor, dentro de
certos limites, sobre o procedimento judicial, o que constitui uma relativa novidade em nosso
sistema. Exemplos disso são a possibilidade de escolha consensual do perito judicial pelas partes, a
convenção sobre ônus da prova e a convenção sobre as normas processuais que regerão o processo .
Há , ainda , previsão genérica inovadora sobre a possibilidade de que as partes celebrem “ negócios
jurídicos processuais ” para convencionar sobre regras processuais relativas aos litígios em que o
direito admita autocomposição.
A previsão de negócios jurídicos processuais insere-se no dever de “buscar um processo
efetivamente democrático , em que convivam os poderes do juiz e a autonomia das partes,
sempre balizados pela conformação constitucional dos direitos fundamentais” .
Tais condutas têm conteúdo abdicativo; como implicam em concessões ou sacrifícios realizados
exclusivamente pelas partes, carecem de reciprocidade.
RENUNCIA
A renúncia é ato unilateral em que o envolvido na relação jurídica ABRE MÃO DO DIREITO
MATERIAL A QUE PODE ( OU PODERIA ) FAZER JUS.
O fenômeno pode se manifestar tanto no plano material como no processual; na seara material,
a renúncia pode ter vários significados, conforme o campo do Direito em que atue, constituindo
abandono no contexto dos direitos reais e remissão no Direito creditório.
No aspecto processual , a renúncia é prevista como hipótese de EXTINÇÃO DO PROCESSO COM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO, implicando uma acomodação da parte quanto à inexistência de
vontade de exercer a posição jurídica.
Como regra, independe da anuência da parte contrária. Para a validade da renúncia, são
exigidos requisitos objetivos e subjetivos: o objeto deve ser renunciável e os renunciantes
devem ser dotados de capacidade para exercer tal ato jurídico. A inadmissibilidade da renúncia
est á ligada à indisponibilidade do direito em questão .
Por igual, direitos que se referem às bases econômica, política ou organizacional da vida em
sua finalidade social são indisponíveis Eis por que é a interpretação do caso concreto que pode
conduzir à conclusão sobre sua indisponibilidade ou não.
DESISTÊNCIA
Cabe destacar, porém, a vedação da desistência em ações que versem sobre interesses
indisponíveis, como as demandas com causas de pedir de índole criminal e relativas à
improbidade administrativa.
Nos casos em que é possível ( entre os quais se incluem os litígios civis) , a desistência pode se
operar antes da sentença ou a qualquer tempo no processo . Fala -se em desistência da ação
quando o autor manifesta o intuito de não prosseguir na demanda, peticionando ao juízo em
prol de seu término .
O processo será então EXTINTO SEM APRECIAÇÃO DO MÉRITO , sendo possível ao autor
propor novamente a demanda.
A desistência do processo é livre até a citação do demandado, bastando ao autor requerê- la .
Tendo, porém, sido o réu integrado à relação jurídica e já estando em curso o prazo de
resposta, é necessário que ele seja consultado sobre o pedido de desistência do autor; o
pleito, aliás, só será acolhido ante a concordância " .
Justifica - se tal previsão pelo fato de que o réu também tem direito ao prosseguimento do
feito para que a pretensão seja apreciada em seu mérito, encerrando de forma definitiva o
questionamento quando do trânsito em julgado da decisão de improcedência e imunizando - a
contra outras proposituras .
Por tal conduta, o réu admite a procedência da pretensão deduzida pelo autor .
Nesse cenário , é importante que haja atividade jurisdicional para homologar o resultado final,
verificados os requisitos descritos.
NEGOCIAÇÃO
A negociação (autocomposição bilateral – conta com a participação do
envolvidos na situação controvertida) é o melhor dos métodos para a
solução de conflitos, pois é através dela que as partes chegam a uma
solução satisfatória, por meio da autocomposição, sem qualquer
participação de terceiros no conflito instaurado, ao contrário da mediação e
da arbitragem onde as soluções sempre dependem da intervenção
obrigatória de terceiros.
O acordo homologado pelo juiz tem a mesma força executiva que a sentença,
de maneira que, em caso de descumprimento, prossegue-se na forma de
execução, dependendo o procedimento da obrigação assumida.
NEGOCIAÇÃO
AUTOCOMPOSIÇÃO BILATERAL
Ocorre, porém, que nem sempre os envolvidos no conflito conseguem se comunicar com
eficiência; nesse cenário, valer- se da participação o de uma PESSOA ISENTA para promover
um diálogo proveitoso pode ser uma saída inteligente e produtiva.
Nas vias consensuais, a definição do conflito não é imposta pelo terceiro imparcial, mas
construída conjuntamente pelos envolvidos na controvérsia, que reorganizam suas posições .
Em outras palavras, mesmo que as partes se afastem das posições inicialmente assumidas ( ou
que absolutamente não assumam posições), “ cedendo”, assim, em suas posições, seus
interesses subjacentes podem restar atendidos sem ser necessário comprometer o interesse
alheio.
Os envolvidos na relação ou situação jurídica podem reorganizar suas posições, obtendo, após
atividade de negociação, saída (s) para o impasse .
Pela negociação os sujeitos em conflito podem , sem a intervenção de outrem, alcançar uma
solução para o assunto suscitado, comunicando- se entre si e expondo seus benefícios.
A vantagem da negociação direta é notória: por ser um método personalíssimo, ela “ preserva
a autoria e a autenticidade dos negociadores na solução dos próprios conflitos, não existindo
nada mais adequado e duradouro do que uma solução autonegociada”.
Pela dificuldade de executar decisões impostas por outrem, vem crescendo o reconhecimento
de que A PERSUASÃO é um elemento importante para alcançar o efetivo cumprimento dos
pactos ao ensejar seu cumprimento espontâneo (ainda que obtido depois de intensas
negociações).
Dois homens, sentados na mesa de uma biblioteca, não conseguem entrar em acordo sobre se
a janela acima da mesa deve ficar aberta ou fechada. Em vez de discutir a validade de suas
posições, seria importante que cada um deflagrasse o motivo pelo qual assume a sua. O
homem que quer a janela aberta deseja ar fresco; o que a quer fechada visa evitar uma
corrente de vento. De posse de tais informações, seria possível chegar a uma solução: abrir a
janela de uma sala vizinha. Tal saída atenderia aos interesses das duas partes - mas isso não
teria sido possível se as partes simplesmente tivessem continuado a negociar em função de
suas posições fechadas.
Os interesses são as necessidades, os desejos e os medos que compõem a preocupação ou
vontade de alguém; eles permeiam a “ posição” , que compreende os itens tangíveis que
alguém diz querer.
No contexto das ações coletivas, h á tempos vê m sendo estimulados contatos entre as partes
para que busquem uma saída combinada para o impasse . A realização de acordos, termos de
ajustamento de conduta e compromissos preliminares pelos legitimados à ação coletiva
revela a mitigação do princípio da indisponibilidade e representa a possibilidade de
composição amigável para viabilizar a reconstituição dos direitos e interesses lesados.
Como bem esclarece Hugo Nigro Mazzilli, o órgão público legitimado à ação coletiva pode
firmar acordo ou celebrar termo de ajustamento de conduta (TAC) - o que representa que, no
tocante aos interesses transindividuais em geral , o legislador fez concessões, permitindo a
composição extrajudicial da lide. Em tais casos, será gerado título executivo extrajudicial.
A celebração de tais instrumentos poupa, de forma salutar, o penoso processo de
conhecimento .
O termo de ajustamento de conduta revela -se altamente eficiente para resolver e prevenir
“conflitos de grande transcendência, que de outro modo ensejariam ações de trâmite
demorado, de forte impacto sobre os agentes envolvidos e até sobre a própria sociedade como
um todo ”.
Sua realização, em regra, exige o estabelecimento de contato entre as partes, que devem estar
dispostas a se comunicar de forma eficiente e aberta.
A proposta dessa teoria de negociação consiste em abandonar, quando possível, formas mais
rudimentares de negociação, como a chamada “NEGOCIAÇÃO POSICIONAL”, a fim de se
buscar resultados mais satisfatórios aos interesses das partes em negociação.
A negociação posicional, por sua vez, consiste naquela cujos negociadores se tratam como
oponentes, o que implica pensar na negociação em termos de um ganhar e outro perder (em
que quanto mais um ganha mais o outro perde). Dessa forma, em vez de abordar os méritos da
questão, o papel do negociador parece ser pressionar ao máximo e ceder o mínimo possível.
De fato, quando se negocia com posições (e.g.um oferece pagar R$ 10.000,00 enquanto o
outro somente aceita receber R$ 15.000,00) o negociador tende a se trancar nesta posição –
quanto mais se justifica uma posição e se tenta enfraquecer a da outra parte mais se está
comprometido com sua posição original.
A negociação baseada em princípios tem como principal obra o livro Como chegar ao Sim, de
Roger Fisher e William Ury. Nesse livro são separados quatro pontos fundamentais da
negociação baseada em princípios, quais sejam:
1) separação das pessoas do problema;
2) foco nos interesses e não em posições;
3) geração de opções de ganhos mútuos; e
4) utilização de critérios objetivos.
SEPARAR AS PESSOAS DO PROBLEMA
A técnica de separar as pessoas do problema, sugere que o revide em uma discussão não
encaminhará a questão para uma solução satisfatória para as duas partes. No entanto, mesmo
sabendo disso, muitos encontram dificuldade em ouvir de forma atenta o debatedor,
reconhecendo os seus sentimentos e estabelecendo uma comunicação ativa que possa conduzir
à colaboração.
Exemplo: Alguém poderia iniciar uma negociação exigindo que seu vizinho se mude, pois sua
falta de educação está prejudicando toda a vizinhança; ou poderia iniciar a negociação
conversando sobre algumas práticas de vizinhança – como colocar o lixo em latões ou cestos
suspensos – como forma de padronizar condutas na vizinhança. Ao se estabelecer que o
“problema é o vizinho” o negociador dificulta significativamente sua comunicação.
FOCO NOS INTERESSES E NÃO EM POSIÇÕES
Encontrar o ponto médio entre posições também pode não produzir um acordo que
efetivamente abordará os verdadeiros interesses que impulsionaram os negociadores a
apresentarem suas respectivas posições.
Exemplo: Alguém poderia iniciar uma negociação exigindo que o vizinho compre uma cesta
suspensa para lixo ou poderia iniciar a negociação indicando que ambos têm o interesse de
relações harmônicas de vizinhança e boa aparência da rua com o acondicionamento apropriado
do lixo.
GERAÇÃO DE OPÇÕES DE GANHOS MÚTUOS
Uma das formas de endereçar essas restrições emocionais na negociação consiste em separar
tempo para a geração de elevado número de opções de ganho mútuo que abordem os
interesses comuns e criativamente reconciliem interesses divergentes.
UTILIZAÇÃO DE CRITÉRIOS OBJETIVOS
A meta dos envolvidos se restringe a barganha, buscando sempre mais. Predomina a lógica
da escassez, dado que o elemento em disputa é considerado limitado.
Na prática, os tipos não são perfeitos, os recursos realmente são muitas vezes limitados e mais
do que se imagina há possibilidades de criação de valor. Isso deve servir de panorama para o
negociador, que trabalhará constantemente com os dois tipos de negociação.
A negociação distributiva é a que estamos culturalmente acostumados, mas como será
examinado a seguir, a negociação integrativa pode ser muito utilizada especialmente em
mediações.
Quanto menos A sabe dos interesses e fraquezas de B, melhor para B. E quanto mais A sabe
(ou imagina saber) do poder de B, melhor para A. Em outras palavras, os envolvidos devem
ser cautelosos com a liberação de informação, pois a depender do teor, poderá ser usada
contra si. O distanciamento e desconfiança são usualmente estimulados como prática.
Exemplo: Imagine-se o processo de venda de um veículo. Após uma pesquisa em publicações
especializadas e nos classificados dos jornais, o vendedor verifica que o valor médio de
mercado para um veículo como o seu está entre 28 e 31 mil reais.
Após examinar por alguns minutos o carro por dentro e por fora, o comprador oferece
R$29.000,00 em dinheiro (oferta inicial do comprador). Até este ponto, podemos identificar
dois elementos da barganha distributiva: oferta inicial de A e oferta inicial de B. Tais ofertas
são apresentadas na negociação como meios de iniciar um processo de persuasão.
Todavia, antes de anunciar o seu carro o vendedor planejou que não o alienaria por menos de 29 mil reais
(seu preço ou valor de reserva). Essa referência funciona como uma balisa mental que autolimita o
vendedor para que não venda abaixo um paramêtro mínimo.
O comprador, por sua vez, também pode ter estabelecido um limite: após verificar a tabela de preços de
mercado estabeleceu como seu preço de reserva a quantia de R$ 31.000,00.
A regra em negociações não se deve revelar o preço de reserva sob pena de se enfraquecer
substancialmente o poder de negociação. Frequentemente, as partes também estabelecem um valor
considerado desejável para se chegar a um acordo chamado ponto alvo (ou valor desejado).
Na hipótese acima indicada, vender o carro por R$ 31.500,00 seria o desejável ao vendedor e este irá se
esforçar para se aproximar o mais próximo possível desse valor. O comprador também pode ter
estabelecido o seu valor desejado: R$28.000,00. Neste caso, ao afastarem-se desses valores
(exemplificativamente por meio de uma negociação em que chegam a um ponto intermediário como
R$ 30.750,00) ambos tenderão a sair ao menos parcialmente insatisfeito -pois construíram uma
expectativa de que determinado valor seria “um bom valor” ou “um valor justo”. Mostra-se
recomendável, utilizarem-se critérios objetivos para romper a percepção de que ambos perderam ao
menos parcialmente.
No exemplo acima apresentado, como os valores de reserva encontram-se separados por valores em razão
dos quais ambos estariam dispostos a acordar afirma-se que há uma Zona de Possível de Acordo (ZOPA). o
citado exemplo apresenta uma ZOPA entre R$ 29.000,00 e R$ 31.000,00.
NEGOCIAÇÃO INTEGRATIVA
O objetivo neste tipo de negociação CONSISTE EM FAZER QUE AS PARTES COMPREENDAM OS
INTERESSES DE AMBOS, PARA ENTÃO GERAR OPÇÕES E ESCOLHER UMA SOLUÇÃO QUE GERE
GANHOS MÚTUOS.
Os ganhos mútuos surgem a partir da noção de que as partes podem oferecer umas às outras
vantagens que até então não foram consideradas.
Para criar valor, o compartilhamento de informações mostra-se necessário para este tipo de
negociação. Nota-se, portanto, uma lógica diametralmente oposta da distributiva, em que os
lados vêem vulnerabilidade nesse comportamento, assumindo de antemão uma postura
defensiva.
Outro aspecto levado em conta nesse tipo de negociação é a expectativa que os envolvidos
têm de negociar novamente, ou seja, suas ações terão em vista um futuro comum ao invés de
uma disputa ocasional.
A reputação está também relacionada a isso, pois é um incentivo aos envolvidos agirem de
boa-fé, criando respeito mútuo, de maneira a consolidar um contexto propício para novas
negociações.
CAMINHOS PARA UMA NEGOCIAÇÃO INTEGRATIVA
O PARADOXO DO NEGOCIADOR
Alguns críticos da negociação baseada em princípios sugerem que esta abordagem seria muito
“suave”. Isto porque toda negociação, em alguma medida, tem seu caráter competitivo e
simultaneamente colaborativo. Atento a isso, o negociador deve saber quando adotará uma
ou outra atitude, sendo essa habilidade determinante na sua competência.
A escolha da estratégia a ser adotada não se mostra necessariamente fácil, e levará em conta
um equilíbrio das posturas. Ainda que a noção de “ganha-ganha” seja louvável, uma boa
negociação levará em conta os aspectos que demandarão uma lógica distributiva.
AUTOCOMPOSIÇÃO BILATERAL FACILITADA
Pode ocorrer que as partes não consigam, sozinhas, comunicar-se de forma eficiente e
entabular uma resposta conjunta para a composição da controvérsia.
Nessas situações, pode ser recomendável que UM TERCEIRO AUXILIE AS PARTES A ALCANÇAR
UMA POSIÇÃO MAIS FAVORÁVEL NA SITUAÇÃO CONTROVERTIDA , POR MEIO DA MEDIAÇÃO
OU DA CONCILIAÇÃO .
Merece destaque, desde logo, a principal diferença entre as duas modalidades, centrada na
forma e no objetivo perseguido ao se encaminhar a autocomposição .
Sua atuação ocorre no sentido de provocar a reflexão para que os próprios indivíduos
encontrem saídas para o conflito.
Já o conciliador, de forma mais pontual, busca a obtenção de acordos, inclusive sugerindo
maneiras de alcançá-lo e extinguir o litígio porventura já instalado, formulando possíveis
propostas de composição .
Essa diferenciação vem refletida no texto do Novo Código de Processo Civil, segundo o qual o
mediador “ atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as
partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito , de
modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação , identificar , por si próprios,
soluções consensuais que gerem benefícios ” .
O conciliador, por sua vez, atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo
anterior entre as partes e poderá sugerir soluções para o litígio.
Como exemplo, imaginemos o impasse dos pais quanto à guarda do filho após o divórcio. Com
a contribuição do mediador, eles serão provocados a refletir sobre qual é a melhor forma de
garantir não a simples prevalência de suas posições (a mãe, por exemplo , pode defender que
ter a criança consigo seja sempre o melhor, sem questionamentos), mas sim o interesse comum
em gerar melhores situações para o filho. O mediador não irá sugerir soluções, mas
proporcionar elementos para que os próprios indivíduos vislumbrem as possibilidades e as
proponham. Diferentemente, se estiver atuando um conciliador, este poderá formular
propostas, por exemplo, de tentativa de guarda compartilhada por certo período de tempo.
No Código de Processo Civil de 1973 , a tentativa de obtenção de uma com posição consensual
para o conflito era sempre designada “ conciliação”. O Novo CPC contempla expressamente a
convivência entre a conciliação e a mediação no processo judicial, ao prever , por exemplo ,
que o réu será citado para comparecimento em audiência de conciliação ou mediação.
Apesar do silêncio do novo Código a respeito, ao que tudo indica o Centro Judiciário de Solução
de Conflitos, previsto no art. 165 e responsável pela realização de sessões de conciliação e
mediação, será o órgão que definirá se o caso deverá ser atendido por mediador ou conciliador.
De todo modo, é importante que os advogados das partes externem sua preferência pela
adoção de um ou outro meio consensual quando tiverem oportunidade de se manifestar nos
autos de modo a contribuir para o encaminhamento à via apropriada.
CONCILIAÇÃO
Como bem esclarece Erica Barbosa e Silva, no exercício de sua função o conciliador , embora
possa sugerir possibilidades de resolução, deve estimular as partes a elaborarem soluções
próprias .
A conciliação pode operar- se tanto no contexto de uma demanda judicial como no âmbito de
instituições privadas voltadas à resolução de controvérsias ( a exemplo das denominadas
“câmaras de conciliação e arbitragem ” ).
Diversas legislações vêm contemplando a conciliação como procedimento relevante na gestão
do conflito , como ocorre nas Leis dos Juizados Especiais " e na Consolidação das Leis do
Trabalho.
Nas causas cíveis regidas pelo Código de Processo Civil, a previsão de realizar a tentativa de
conciliação entre as partes, a qualquer tempo no processo, situa - se entre OS DEVERES DO
MAGISTRADO.
Cumpre destacar que, no regime engendrado pelo Novo CPC, não será mais o juiz a pessoa
responsável por conduzir a sessão consensual : esta deverá ser realizada necessariamente por
um terceiro facilitador auxiliar do juízo .
O Novo CPC não faz exigência quanto ao perfil de qualificação profissional do mediador ou
conciliador judicial, exigindo apenas a capacitação mínima por curso realizado por entidade
credenciada que o habilite a se inscrever em cadastro nacional e cadastro do Tribunal em que o
mediador ou conciliador pretende atuar.
A Lei de Mediação, contudo, impôs como requisitos para que alguém possa ser mediador
judicial:
a) ser pessoa capaz;
b) graduação há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida
pelo Ministério da Educação ;
c) capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores, reconhecida pela Escola
Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados ou pelos tribunais ;
d) observância de outros requisitos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça em
conjunto com o Ministério da Justiça.
Para atuar como mediador extrajudicial, por outro lado, a Lei de Mediação exige apenas que a
pessoa seja capaz e tenha capacitação em mediação.
Métodos Extrajudiciais de Solução de
Controvérsias
Nas fases primitivas da trajetória humana não existia o Estado para impor o direito
acima da vontade do indivíduo. Nesse momento, a solução de um conflito só poderia
ser dada por meio da imposição da vontade do mais forte ou da concessão direta de
uma parte em nome da “paz”. A isso chamou-se autotutela ou autodefesa.
Como eram as próprias partes que resolviam seus conflitos, diz-se que havia
AUTOCOMPOSIÇÃO.
Com o tempo, um grupo especial (sacerdotes, chefes, anciãos e etc) passou a tomar as
decisões em nome das partes. Como quem decidia o conflito era um terceiro, sem
relação com o conflito formado ou com as próprias partes, e sua decisão era
obrigatória, surge o que chamamos HETEROCOMPOSIÇÃO.
Mediação
MEDIAÇÃO
CONCEITO, PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTO
CONCEITO
Até o advento do marco legal brasileiro sobre a mediação, a doutrina vinha trabalhando o
conceito desse importante meio consensual em uma perspectiva cuidadosa para evitar
confusões em relação a outros institutos .
Partindo do dicionário, constata -se que o termo “ mediação” indica o ato ou efeito de mediar,
representando a intercessão, a intervenção, o intermédio e a interposição.
O Novo Código de Processo Civil contempla previsão sobre a atuação do mediador: ao atuar
preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, ele auxiliar á os
interessados a compreender as questões e os interesses em conflito de modo que eles possam ,
pelo restabelecimento da comunicação, identificar por si mesmos soluções consensuais que
gerem benefícios mútuos.
Por fim , a Lei de Mediação brasileira (Lei 13.140/2015) considera tal meio como A ATIVIDADE
TÉCNICA EXERCIDA POR UM TERCEIRO IMPARCIAL SEM PODER DECISÓRIO , QUE, ESCOLHIDO
OU ACEITO PELAS PARTES, AS AUXILIA E ESTIMULA A IDENTIFICAR OU DESENVOLVER
SOLUÇÕES CONSENSUAIS PARA A CONTROVÉRSIA.
Como se percebe pelas definições, tal mecanismo consensual busca proporcionar um espaço
qualificado de conversação que permita a ampliação de percepções e propicie ângulos plurais
de análise aos envolvidos . Uma das possibilidades de promover movimentos úteis é gerar um
ambiente de conversação que permita às partes dedicarem atenção aos interesses envolvidos
em uma perspectiva produtiva.
Como exemplo, imagine uma discussão familiar sobre o valor da pensão alimentícia em que há
posições de resistência ( do alimentante ) e insistência ( da responsável legal do alimentando )
quanto a certo montante. Caso ambos, consensualmente, comuniquem -se para compreender
as despesas que embasam o valor pretendido, trazendo uma lista das despesas da criança e
abordando sua pertinência, visualizarão cada gasto e decidirão como considerá-los .
Enquanto se comunicarem, eles também poderão concluir que mais importante do que a
simples posição de cada um é o atendimento dos interesses da criança em termos de cuidado e
proteção.
A mediação pode ser considerada uma ferramenta importante para a abordagem de impasses
sob diversas perspectivas. A mediação pode ser definida como um meio de solução de
conflitos em que, a partir da atuação das próprias partes, elas se tornam aptas a construir uma
solução rápida, ponderada, eficaz e satisfatória para os envolvidos.
A mediação se configura como [. .. ] um modo de construção e de gestão da vida social graças à
intermediação de um terceiro neutro/imparcial, independente, sem outro poder que não a
autoridade de lhes reconhecerem as partes que a escolheram ou reconheceram livremente. Sua
missão fundamental é (re) estabelecer a comunicação.
Nessa medida, a vantagem da mediação sobre outros métodos é permitir, caso as partes assim
o desejem, A CONTINUIDADE DA RELAÇÃO EM UMA PERSPECTIVA DE FUTURO .
No Brasil a chance de vivenciar experiências consensuais costuma ser pautada pela designação
de audiências conciliatórias, mecanismo previsto em lei como etapa processual.
Por força de tal tradição brasileira, para compreender bem o conceito de mediação é importante
identificar em que medida os meios consensuais de abordagem de controvérsias se aproximam
e diferem.
Grande parte dos estudiosos de mediação diverge: há diferenças principalmente no que tange
à elaboração das propostas de solução ( o mediador não deve sugeri-las ) e também na
profundidade da abordagem de certas situações ( na mediação , as questões subjetivas
costumam ter maior espaço porque as relações envolvem relações continuadas, enquanto na
conciliação o foco tende a ser objetivo, porque as interações entre os envolvidos costumam ser
episódicas).
Para Lília Maia de Morais Sales,
A diferença fundamental entre a mediação e a conciliação reside no conteúdo de cada instituto.
Na conciliação, o objetivo é o acordo, ou seja , as partes, mesmo adversárias, devem chegar a
um acordo para evitar um processo judicial . Na mediação as partes não devem ser entendidas
como adversárias e o acordo é a consequência da real comunicação entre as partes . Na
conciliação o conciliador sugere, interfere, aconselha. Na mediação , o mediador facilita a
comunicação , sem induzir as partes ao acordo.
Na mesma linha manifesta-se Fernanda Levy: enquanto o conciliador auxilia as partes a chegar
ao acordo mediante concessões recíprocas, o mediador, com técnicas especiais, atuará
imparcialmente sem poder julgar ou sugerir, “ acolhendo os mediandos para propiciar- lhes
oportunidades de comunicação eficaz de modo que eles construam conjuntamente a melhor
solução para o conflito ”.
O mediador deve estimular e impulsionar os sujeitos para que eles consigam, saindo da
acomodação, partir em busca de soluções aptas a transformar sua realidade.
Sua base de sustentação e expansão ao longo do tempo tem sido [. . .] o reconhecimento dos
direitos humanos e da dignidade dos indivíduos, a consciência da necessidade de participação
democrática em todos os níveis sociais e políticos, a crença de que o indivíduo tem o direito de
participar e ter controle das decisões que afetam a própria vida, os valores éticos que devem
nortear os acordos particulares e, finalmente, a tendência a uma maior tolerância às
diversidades que caracterizam toda cultura no mundo moderno- contemporâneo.
Na mesma linha, a Lei 13.140/ 2015 destaca, no art. 2.° , que a mediação será orientada pelos
seguintes princípios :
I - imparcialidade do mediador;
II – isonomia entre as partes;
III - oralidade;
IV - informalidade;
V - autonomia da vontade das partes;
VI - busca do consenso ;
VII - confidencialidade;
VIII - boa - fé .
Serão destacadas as principais diretrizes regentes dos meios consensuais a partir de sua
configuração no sistema normativo brasileiro.
1.AUTONOMIA DA VONTADE E DECISÃO INFORMADA
A conversação só pode ser realizada se houver aceitação expressa dos participantes; estes
devem escolher o caminho consensual e aderir com disposição à mediação do início ao fim do
procedimento .
Na mediação não há imposição externa: os envolvidos irão atuar para divisar saídas para suas
disputas.
Não há, porém, como exercer a liberdade sem conhecer as múltiplas opções que a realidade
enseja. Muitas vezes, as partes não têm a exata noção sobre as possibilidades de
encaminhamento do conflito , faltando -lhes informação , comunicação e direcionamento às vá
rias possibilidades existentes para tal mister. Uma primeira conduta na abordagem do conflito,
portanto, deve ser a explanação das possibilidades disponíveis para o tratamento da
controvérsia.
O consentimento para aderir à via consensual deve ser genuíno , assim como legítima deve ser
sua concordância quanto ao resultado obtido a partir da mediação.
Nas palavras de Lilia Maia de Moraes Sales, ( . . . ) as partes é que decidirão todos os aspectos
do problema sem intervenção do mediador, no sentido de induzir as respostas ou as decisões,
mantendo a autonomia e controle das decisões relacionadas ao conflito. O MEDIADOR
FACILITA A COMUNICAÇÃO, ESTIMULA O DIÁLOGO, AUXILIA NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS,
MAS NÃO OS DECIDE.
Ao mediador caberá gerar oportunidades para que as pessoas esclareçam pontos relevantes e
se abram à comunicação necessária para que possam se beneficiar do proveitoso
encaminhamento dos rumos da controvérsia.
Merece destaque o apontamento de outra diretriz intensamente relacionada à autonomia: pelo
PRINCÍPIO DA DECISÃO INFORMADA, é dever do facilitador da comunicação manter o
jurisdicionado plenamente ciente quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está
inserido (Resolução n . 125/ 2010 do CNJ, anexo III, art. l . o , II ) .
Daniel Amorim Assumpção Neves, ao analisar o tema, questiona: como não há exigência de que
o mediador tenha formação jurídica, como exatamente exigir que pessoas sem qualificação
jurídica mantenham o jurisdicionado plenamente informado quanto aos seus direitos ?
Violar tais diretrizes tende a ser fatal em termos de credibilidade e mesmo utilidade da
autocomposição .
2.INFORMALIDADE E INDEPENDÊNCIA
A mediação, como prática para a facilitação do diálogo entre as partes, não tem regras fixas
(embora o mediador preparado conte com certas técnicas para a abordagem das partes e para
o estabelecimento de uma comunicação eficaz com elas ).
Não há forma exigível para a condução de um procedimento de mediação, dado que esta
constitui, essencialmente, um “projeto de interação, de comunicação eficaz”.
A informalidade na conversa pode favorecer a comunicação tanto entre as partes como entre
estas e o mediador; afinal, havendo maior descontração e tranquilidade, facilita -se o encontro
de uma composição favorável a ambas as partes.
Os meios dito “ alternativos” são mais “ amigáveis” e flexíveis; como muitas vezes n ão h á
advogados envolvidos, as partes sã o estimuladas a tomar atitudes que fariam com que a
decisão estivesse mais de acordo com suas reais necessidades.
Não há, portanto, em geral, qualquer exigência formal na condução da mediação ou quanto ao
seu possível resultado.
Na mediação, como a proposta é que o indivíduo possa falar sobre a situação controvertida com
liberdade e sem formalismo, a tendência é que o peso da linguagem jurídica tenha menor
impacto.
Para permitir a percepção apropriada do contexto que envolve as partes, uma técnica essencial
na mediação ( assim como na negociação ) é escutar com atenção, interrogar para saber mais e
ir resumindo o que compreendeu para esclarecer pontos importantes da controvérsia.
A “ ESCUTA ATIVA ” configura importante técnica da mediação; por meio dela, busca - se
valorizar o sentido, do que é dito com vistas a compreender o que foi exposto pelo
interlocutor.
A escuta ativa implica ouvir uma mensagem pressupondo interesse pela pessoa e pela
comunicação com vistas à boa compreensão da mensagem.
Tal técnica é importante por permitir perceber que a pessoa é destinatária de atenção,
mostrando-se o interlocutor interessado em seus pensamentos e em suas opiniões; é também
conhecida como “ reciprocidade ”, já que “ as duas pessoas estão comprometidas no processo
de ouvir ativamente e trocar informações ”.
Pela escuta ativa , o mediador não só ouve, mas considera atentamente as palavras ditas e as
mensagens não expressas verbalmente (mas reveladas pelo comportamento de quem se
comunica) .
A proposta da mediação é permitir que as partes assumam sua voz e contem o ocorrido a
partir de sua percepção.
A Lei de Mediação brasileira concretiza a tendência de reduzir por escrito o encaminhamento
final.
Segundo o art. 20, o procedimento de mediação será encerrado com a lavratura do seu termo
final, quando for celebrado acordo ou quando não se justificarem novos esforços para a
obtenção de consenso, seja por declaração do mediador nesse sentido ou por manifestação de
qualquer das partes .
Para atuar em uma causa, o TERCEIRO IMPARCIAL deve ser completamente estranho aos
interesses em jogo, não sendo ligado às partes por especiais relações pessoais : tal abstenção é
fundamental para o reconhecimento de SUA CREDIBILIDADE EM RELAÇÃO AOS LITIGANTES e à
opinião pública pela certeza de sua independência Qualquer vínculo anterior do mediador
com os envolvidos deve ser revelado.
Na mediação extrajudicial é comum que antes do início do procedimento o mediador seja
consultado para responder se conhece as partes, se já atuou em seu nome e se entende haver
algum fato capaz de comprometer sua isenção que deva ser comunicado .
Em relação à seara judicial, há previsões expressas sobre a necessidade de externar fatores que
ensejem parcialidade. Segundo o Novo CPC, o conciliador ou mediador comunicará
imediatamente impedimento, de preferência por meio eletrônico, e devolverá os autos ao juiz
do processo ou ao coordenador do centro judiciário de solução de conflitos.
A imparcialidade demanda um comportamento de equânime tratamento no sentido de garantir
aos participantes a adequada oportunidade de fazer valer as próprias razões.
Como decorrência do poder decisório das partes, o mediador deve funcionar como um
terceiro imparcial durante todo o procedimento . Sua função precípua, longe de buscar induzir
as partes a um acordo, é contribuir para o restauro do diálogo em condições proveitosas para
as pessoas.
Nos termos da Resolução 125/ 2010 do CNJ, a imparcialidade é retratada como o dever de agir
com ausência de favoritismo , preferência ou preconceito, assegurando que valores e conceitos
pessoais não interfiram no resultado do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos
no conflito e jamais aceitando qualquer espécie de favor ou presente (Anexo III, art. l . ° , IV ).
Comumente, o mediador não deve se manifestar ou expor qualquer juízo de valor sobre o
resultado que entende adequado para a composição do conflito. Assim, por exemplo, não deve
fazer propostas para que um proponente dobre o montante inicialmente proposto .
5.BUSCA DO CONSENSO, COOPERAÇÃO E NÃO COMPETITIVIDADE
A mediação, como técnica consensual, é marcada pela realização de reuniões para promover
conversações úteis para os envolvidos. Em certa medida busca-se abrir espaço para
proveitosas cooperações .
O mediador atuará para que a negociação entre as partes possa avançar , contribuindo para
que a conversa evolua; é importante , então, que ele conheça estratégias de negociação e
esteja atento para as barreiras que impedem o sucesso dela.
Acordos são apenas alguns dos diversos bons resultados de mediações de sucesso.
Elas podem ser assim consideradas, por exemplo, quando as partes saem satisfeitas por ter
restado esclarecidas sobre possibilidades e limites .
Como exemplo, se em uma mediação sobre divórcio a esposa percebe que precisa buscar mais
informações para se habilitar a negociar ( ainda que em um outro momento) , houve êxito: a
retomada do diálogo permitiu uma importante clarificação .
Sob a perspectiva da mediação transformativa, a sessão consensual pode ser bem - sucedida se
novos insights forem obtidos, se escolhas forem esclarecidas ou se novas compreensões dos
pontos de vista de cada um forem alcançadas.
6.BOA-FÉ E CONFIDENCIALIDADE
O mediador deve ser alguém com quem as partes possam falar abertamente sem
preocupações quanto a eventuais prejuízos decorrentes da atuação de boa-fé.
Como deve se dar a atuação do mediador para atender aos desígnios isonômicos?
Antes de cogitar a extinção do conflito como objetivo primordial, deve o mediador contribuir
para que deficiências de comunicação entre os sujeitos não impeça suas conversas.
A mediação pode ser considerada uma proposta não de solução do conflito simplesmente,
mas de reorganização e reformulação da comunicação o entre as pessoas.
O mediador espera e permite que as partes expressem suas emoções, estando preparado para
lidar com essas expressões à medida que o conflito se desenrola.
O mediador atuará contribuindo para que as pessoas em conflito possam, sendo este o seu
desejo , estabelecer uma comunicação produtiva.
Quando os sujeitos em conflito não têm condições de compartilhar espaços por força do grave
histórico que os acometeu, em alguns modelos de mediação é possível avançar no
procedimento consensual por meio de SESSÕES PRIVADAS ENTRE CADA UM DELES E O
MEDIADOR .
POSSÍVEL PRESERVAÇÃO DO RELACIONAMENTO ENTRE AS PARTES
A mediação costuma ser mais acessível, mais rápido e informal, menos dispendioso, e os
próprios julgadores podem ter melhor conhecimento do ambiente em que o episódio surgiu e
mostrar-se mais capazes e mais desejosos de compreender os dramas das partes.
Pela mediação, um terceiro será adicionado à relação polarizada entre as partes para permitir
uma mudança na dinâmica até então verificada.
Deve o mediador ter sempre presente que a mediação apenas poderá ajudar os envolvidos a
preservar seu relacionamento, melhorando- o ou, pelo menos, não o prejudicando, se esta for
a vontade das partes .
POSSÍVEL PREVENÇÃO DE CONFLITOS
A proposta é que os interessados possam se ver COMO PARCEIROS e não propriamente como
adversários.
A experiência anterior de composição pela mediação gera aprendizado sobre formas mais
proveitosas de comunicação e serve como diretriz para futuros encaminhamentos de
controvérsias.
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal realizou pesquisas de opinião sobre os serviços de
mediação forense; em uma delas, 92% dos advogados atendidos nas sessões de mediação
afirmaram que aconselhariam seus clientes a participar de uma sessão em situações
semelhantes às vivenciadas no serviço de mediação forense.
Ao propiciar boas práticas de inclusão, a mediação pode contribuir para o resgate do prestígio
do Poder Judiciário .
Pesquisas realizadas pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal junto a participantes de sessões
consensuais revelam uma externalidade positiva gerada pela autocomposição : para 80, 2% dos
respondentes, a visão que tinham sobre o Poder Judiciário mudou; o resultado é
complementado “por inúmeros comentários que ressaltam a celeridade na resolução dos litígios
e a resolução efetiva do conflito por meio do consenso ”.
Pacificar com justiça é a finalidade almejada por todo método idôneo de composição de
controvérsias .
Não se trata , porém , de tarefa simples ; por envolver o alcance de um estado de espírito
humano, PACIFICAR ABRANGE ASPECTOS NÃO APENAS JURÍDICOS, MAS SOBRETUDO
PSICOLÓGICOS E SOCIOLÓGICOS .
Com o passar do tempo , porém, pode haver alívio no acirramento das posições e admitir- se a
possibilidade de novas definições, com a escuta do outro, para findar pendências do passado .
Na MEDIAÇÃO TRANSFORMATIVA , as emoções não são vistas como fatores a serem
eliminados: o mediador as trata como ricas formas de expressão que, uma vez “
desembrulhadas ” e compreendidas, podem revelar muitas informações sobre os pontos de
vista das partes (sobre a sua situação e a da outra parte); tais dados podem ser utilizados para
fomentar o “ autofortalecimento ” e o reconhecimento do outro.
A vivência de perdas significativas, como as decorrentes do fim de uma união , pode ser sentida
como “ morte” e ensejar um processo de luto ( reação emocional a uma perda significativa). Tal
processo, embora doloroso, pode propiciar uma nova maneira para o sujeito ser e estar no
mundo .
O interessante modelo delineado pela médica suíça Kluber-Ross aponta as CINCO FASES DA
PERDA (OU DO PROCESSO DE LUTO): NEGAÇÃO, RAIVA , DEPRESSÃO, BARGANHA E
ACEITAÇÃO.
Tais estágios nem sempre ocorrem nessa ordem nem precisam ser todos experimentados, mas
a pessoa sempre passará por pelo menos dois deles.
A NEGAÇÃO implica a recusa em assumir a perda. A pessoa pode não crer na informação
recebida, tentar esquecê-la, deixar de refletir sobre ela ou buscar provas ou argumentos de que
ela não retrata a realidade.
A negação funciona como um para-choque após notícias chocantes e inesperadas , sendo útil
para permitir que a pessoa se recupere com o tempo.
Comumente a NEGAÇÃO configura uma defesa temporária que acaba sendo substituída por
uma aceitação parcial.
Tal etapa é marcada pelo aparecimento de emoções como revolta , inveja e ressentimento; a
pessoa se sente inconformada e vê a situação como injusta. Também aqui a abordagem
consensual do conflito pode ser infrutífera , já que dificilmente são trabalhadas com eficiência
as responsabilidades recíprocas nessa árdua fase de indignação.
Na FASE DE BARGANHA, a pessoa busca “ algum tipo de acordo que adie o desfecho inevitável”;
há uma sorte de negociação, buscando- se algum pacto para que as coisas possam voltar a ser
como antes .
Se a pessoa estiver em condições de se comunicar bem com o outro, pode ser o início de
tratativas para ajustar novas fases adiante, desde que ela tenha clareza sobre o fim .
Na realidade, porém, ela precisará ACEITÁ-LO para poder negociar uma nova configuração em
sua vida.
Finalmente, a última etapa é a da ACEITAÇÃO, que pode ser expressa pela frase “tudo vai acabar
bem ”. Este é o estágio em que efetivamente a pessoa tem condições de seguir adiante; a partir
de tal consciência, poderá buscar uma nova configuração para sua situação e abrir- se a saídas
consensuais de modo produtivo.
Quanto tempo pode demorar até que alguém alcance este estágio ? Não há como prever, mas
pode demorar anos para alguns, enquanto para outros pode nem terminar.
A razão dessa pequena digressão sobre as fases da perda foi promover uma breve reflexão sobre
como o tempo pode variar para cada um e como é importante respeitar o processo interno de
cada pessoa, não impondo qualquer tipo de pressão para que ela busque ou atue em prol de
uma suposta pacificação.
A mediação vai mais longe do que outros meios de composição de conflitos AO BUSCAR AS
CAUSAS DA CONTROVÉRSIA PARA TENTAR SANAR O SOFRIMENTO HUMANO.
Por meio da mediação, as pessoas, em diversas sessões , tomam contato com diferentes
aspectos do impasse , respondendo a si mesmas e ao mediador perguntas importantes sobre
as origens do litígio e os destinos pretendidos.
Pacificar, portanto , revela -se uma tarefa alcançável desde que as técnicas da mediação sejam
bem empregadas junto a pessoas interessadas em seu alcance e engajadas em atuar para
obtê-la .
Faltam instrumentos ao Judiciário para lidar com a esfera afetiva e psíquica dos afetos e desejos
e com a esfera psicossocial (papéis e funções) dos vínculos desfeitos.
Sem dúvida o cumprimento do acordo pactuado tem muito mais chance de ser efetivado do
que a sentença imposta pelo magistrado, porquanto o ânimo das partes em relação à
observância espontânea é completamente diverso quando a decisão se origina de sua
vontade.
TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO
1) CONEXÃO ENTRE TÉCNICA E OBJETIVOS DA MEDIAÇÃO
O valor da técnica na mediação é tão grande que, como visto, muitos autores a associam com
o método, de sorte que em muitas definições a expressão aparece logo no início para denotar
um dos aspectos principais do mecanismo.
A prioridade desse elemento foi o foco, por exemplo , dos legisladores responsáveis por um dos
primeiros projetos de lei sobre mediação no Brasil; engendrado para institucionalizar a
mediação do país, o art. 2.do Projeto de Lei 94/ 2002 definia mediação como “ a atividade
técnica exercida por terceiro imparcial que, escolhido ou aceito pelas partes interessadas, e
mediante remuneração, as escuta, orienta e estimula , sem apresentar soluções, com o
propósito de lhes permitir a prevenção ou solução de conflitos de modo consensual” .
A temática não se limita ao aspecto teórico porque, na atuação concreta , a técnica é
fundamental: como bem destacou Giselle Groeninga, “ na mediação , técnica e teoria se
constroem em paralelo ”.
Não há apenas um modo de realizar a mediação ; especialistas entendem que cada uma das
formas pode reproduzir resultados únicos segundo os perfis das pessoas envolvidas.
A técnica liga -se ao conhecimento prático e revela o “ conjunto dos métodos e pormenores
práticos essenciais à execução perfeita de uma arte ou profissão”.
A técnica está a serviço da eficiência do instrumento.
Especialmente no que tange aos meios consensuais, por muito tempo no Brasil a técnica não
recebeu a devida atenção ; quando o juiz era o responsável por conciliar , comumente não era
preparado para tal e o bom conciliador acabava sendo a pessoa naturalmente “ vocacionada”
que descobria em si virtudes que o habilitavam a promover o consenso .
Sendo dever de alguém realizar a autocomposição, É ESSENCIAL QUE ESSA PESSOA ESTEJA
DEVIDAMENTE PREPARADA PARA SE DESINCUMBIR DA MISSÃO .
Mediar é facilitar a comunicação entre as pessoas para propiciar que elas possam , a partir de
uma compreensão ampliada dos meandros da situação controvertida, engendrar respostas
conjuntas sobre questões relevantes do conflito.
Para uma compreensão maior sobre as técnicas utilizadas na mediação, sob o aspecto da
comunicação merece destaque a diferenciação entre as linguagens binária e ternária;
enquanto no pensamento binário há o terceiro excluído e se está diante do princípio da
alternativa lógica, complementar ao princípio da contradição, o pensamento ternário enseja
outras possibilidades : “inclui o terceiro na atividade da comunicação e busca ampliar o
espaço- tempo em que se situa o conflito, gerando mais elementos e aumentando a valorização
das partes, possibilitando-lhes transformar o conflito ”.
Percebe-se então que a linguagem binária é regida pela conjunção “ou”, enquanto a linguagem
ternária é regida pela conjunção “ e” ; esta última torna possível a adoção de infinitas
alternativas para determinada situação de acordo com os recursos pessoais das partes
envolvidas na comunicação.
Quando se cogita da utilização da técnica ternária para auxiliar a atribuir a cada um o que é
devido , prioriza -se a dinâmica da intersubjetividade , visando ao exercício da humanização do
acesso à justiça.
2.1) FORNECIMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE O MEIO CONSENSUAL
O mediador pode não saber como os litigantes ali chegaram: se foram encaminhados por uma
instituição ( seja comunitária, seja do sistema de Justiça ), se um deles teve a iniciativa e o
outro foi convidado a comparecer.
O foco será prestar esclarecimentos sobre a dinâmica para explicar o que é mediação , que o
mediador não tem poder decisório, destacar a relevância da vontade das partes, que a proposta
é ouvir e fomentar a comunicação, que o mediador é isento, imparcial, equidistante, que
poderão ser realizadas sessões individuais/ privadas, que há sigilo.
O cuidado ao se expressar deve estar sempre presente, já que tanto para interromper como
para inserir uma temática é preciso cautela; afinal, o mediador, embora seja o administrador e
organizador da mediação, mostra- se também como o modelo de comunicação para os
participantes.
Recomenda-se ainda que o mediador inicialmente proceda de forma cerimoniosa, abordando
as pessoas como senhor/senhora , e então pergunte como elas preferem ser chamadas;
algumas pessoas, a depender de sua idade ou de características pessoais, podem preferir uma
maneira menos formal.
O mediador deve esclarecer que, no procedimento , algumas pautas de conduta são essenciais:
evitar abordagens desrespeitosas, respeitar a fala do outro (que depois será ouvinte por igual
tempo ), evitando interrupções, buscar falar sempre na primeira pessoa.
Nessa sessão geralmente não se inicia a abordagem do conflito, mas são organizadas as
condições para os encontros seguintes (ajustam-se datas, assinam - se termo de
confidencialidade, etc .).
Nada impede , porém, que havendo vontade das partes elas já avancem rumo às conversas
pertinentes .
No modelo transformativo , o mediador inicia a conversa com uma declaração clara de que o
objetivo é criar um contexto para permitir e ajudar as partes a :
“ ( a ) esclarecerem seus próprios objetivos, recursos, opções, preferências e a tomarem , por
conta própria, decisões sobre sua situação; e
( b) considerarem e entenderem melhor a perspectiva da outra parte, se decidirem que assim o
desejam’.
Nesse modelo a conversa de abertura tem uma estrutura dialógica : O MEDIADOR ESCLARECE
SEU PAPEL E OUVE AS PARTES SOBRE COMO A CONVERSA PODE SE ESTABELECER,
RESPEITANDO SUA VONTADE E NÃO PROPONDO REGRAS FIXAS .
2.2) ESCUTA ATIVA
Sendo a mediação uma conversação, falas e escutas são essenciais para que a dinâmica
evolua.
A escuta ativa permite à pessoa perceber que ela é objeto de atenção, mostrando -se o
interlocutor interessado em seus pensamentos e em suas opiniões; é também conhecida
como “ reciprocidade ” , já que “ as duas pessoas estão comprometidas no processo de
ouvir ativamente e trocar informações”.
Como se percebe, a percepção supera a mera consideração das palavras ; “escutar é diferente
de ouvir ”.
É essencial que o mediador não se deixe envolver pela complexa experiência conflituosa das
partes, que podem tentar manipulá-lo .
Sob certo prisma podem ser apontadas como técnicas inerentes ao modo afirmativo separar as
pessoas dos problemas, compartilhar percepções, usar palavras positivas e focar no futuro.
Há uma lista de pontos a serem trabalhados : o mediador propõe que os mediandos expressem
os assuntos que gostariam de abordar e os vai anotando em um local visível a todos ( por
exemplo, um quadro ou um flip-chart).
O mediador estimula as partes a expressarem seus sentimentos pedindo- lhes que descrevam
o que há por trás deles; as respostas muitas vezes revelam os pontos específicos com os quais
as partes estão tendo dificuldades de lidar, tanto para obter controle sobre sua situação quanto
para entenderem e serem entendidas pela outra parte.
Além disso, o mediador deve checar a compreensão de certas afirmações para seguir
evoluindo na comunicação.
Ao parafrasear e resumir o que foi dito, o mediador permite que o interlocutor possa ouvir-se
e perceber melhor o que expressou .
O modo afirmativo também costuma ser utilizado um pouco antes do término da sessão sob o
aspecto esclarecedor.
O mediador resume de forma sintética o que foi expressado pelas partes para pontuar em que
ponto as partes se situam.
2.4) MODO INTERROGATIVO
As perguntas têm várias funções: permitir ao mediando falar por si mesmo diretamente para
o outro, revelar sentimentos, dúvidas , emoções, demonstrar a complexidade do conflito e
estimular a criação de ideias .
O modo interrogativo é ainda uma expressão importante por ser o melhor meio de preservar
a imparcialidade do mediador; afinal, quando perguntamos deixamos de assessorar,
aconselhar ou emitir juízos de valor.
Há vários tipos de perguntas. As perguntas exploradoras são úteis para evidenciar o que está
omisso; questionar o que, quando, onde, com que, com quem, para que, para onde é
importante para que a narrativa aborde todos os pontos e não sejam omitidos dados
essenciais .
As perguntas também podem ser importantes para evocar memórias da relação entre as
partes que permitam uma compreensão mais ampla da situação .
Como se percebe, as opções de perguntas são muitas e O MEDIADOR PRECISARÁ DOSAR COM
CALMA E SERENIDADE O USO DESSA ÚTIL FERRAMENTA .
O EXERCÍCIO DA PERGUNTA DEVE SER PRUDENTE, já que não é interessante abrir espaço para
temas que não sejam pertinentes ao conflito específico que vem sendo tratado.
MESCLA DE DIFERENTES MODOS
A verificação dos diferentes modos de atuação por parte dos envolvidos em uma mediação
não ocorre de forma linear .
Durante as falas e as escutas podem surgir ruídos, avanços e retrocessos, configurando -se a
necessidade de retomar os pontos importantes e o compromisso das partes com as regras.
A depender do clima emocional, utilizar certa dose de bom humor pode representar um
ótimo recurso para aliviar tensões e criar um clima favorável.
Vale ainda destacar que o humor não é uma ferramenta obrigatória, mas auxiliar: o mediador
deve se sentir confortável para atuar com leveza e serenidade - caso não seja coerente com
seu perfil uma intervenção desse tipo, não deve dela se valer .
Selecionar implica optar por algo, excluindo outra possibilidade.
Qual critério adotar para decidir, naquela fração de segundos, entre ouvir/ falar , perguntar/
calar? Podem ser cogitados vários parâmetros, na teoria e longe do calor dos acontecimentos;
na prática , a intuição acaba sendo determinante para a atuação do mediador.
Além de certas técnicas, “ O OFICIO DO MEDIADOR EXIGE MUITO TALENTO E INTUIÇÃO” por
tratar -se de “um todo complexo que não pode ser reduzido à forma fixas e
predeterminadas”: “ é um trabalho artesanal que busca encontrar soluções diferenciadas para
cada caso .
As respostas e os discursos precisarão ser objeto de uma escuta muito atenta; integrar vários
canais de percepção e promover reciprocidade revela - se muito útil na atuação do facilitador
da comunicação (especialmente quando ele precisa retomar pontos importantes discutidos
anteriormente para seguir adiante ).
APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS EM SESSÕES CONJUNTAS E PRIVADAS
VALENDO-SE DAS TÉCNICAS APROPRIADAS O MEDIADOR DEVE ATUAR TENDO POR BASE DOIS
PILARES:
“ POSTURA FIRME E CONTINENTE AO SOFRIMENTO ” E
“ VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS DAS PARTES”.
São condutas apropriadas para fomentar a comunicação eficiente escutar com atenção e
contribuir para que sejam esclarecidos aspectos importantes das percepções dos envolvidos .
As técnicas deverão ser aplicadas durante toda a mediação, que pode se desenvolver em
sessões conjuntas e/ ou reuniões individuais ( reuniões privadas).
Deve-se deixar claro que tanto as pessoas envolvidas no conflito DEVEM SABER SOBRE A
POSSIBILIDADE DE UMA CONVERSA EM PARTICULAR COMO DEVEM CONCORDAR COM ESSE
MECANISMO .
A realização de SESSÕES INDIVIDUAIS entre o mediador e uma das partes ( e seus advogados,
se presentes) é uma técnica usada para a obtenção de informações e encaminhamentos que
não seriam adequados na presença dos demais envolvidos.
Casos em que podem ser vistos como recomendáveis as sessões individuais:
1. Há um elevado grau de animosidade entre as partes ;
2. Há dificuldade ( de uma ou ambas ) de se comunicar ou expressar adequadamente quanto
a interesses e questões presentes no conflito;
3 . O mediador percebe que há particularidades importantes que só serão obtidas por meio
de uma comunicação reservada;
4. Há necessidade de uma conversa com as partes sobre suas expectativas quanto ao
resultado , por exemplo, de eventual sentença judicial.
5. É possível que a mediação ocorra por requisição dos envolvidos;
As reuniões privadas são especialmente úteis quando se lida com situações extremamente
carregadas de tensão e de emoção, uma vez que possibilitam às partes falar abertamente e, ao
mediador, fazer perguntas mais diretas, que implicam , por exemplo, rever a própria
contribuição para a situação conflituosa.
Por fim , vale lembrar que o mediador observará a CONFIDENCIALIDADE em relação ao teor
comunicado na sessão privada, só podendo comunicá-lo à outra parte se houver autorização
expressa do mediando.
Ao fazê-lo (após ter conquistado a confiança das partes para que estas exponham informações
confidenciais relevantes) , ele deverá comunicar os dados colhidos de forma positiva.
ETAPAS DA MEDIAÇÃO
O mediador deve estar apto a, superando resistências pessoais e obstáculos decorrentes do
antagonismo de posições, RESTABELECER A COMUNICAÇÃO ENTRE AS PARTES.
Seu papel é facilitar o diálogo para que as partes possam voltar a protagonizar a condução de
seus rumos.
Como a mediação é pautada pela informalidade, muitas vezes não há um procedimento único
a ser seguido: dependendo da instituição ou dos mediadores que estejam realizando a
mediação, ela poderá ser conduzida de forma diferente.
O processo pode ser acompanhado por apenas um mediador ou, se for o caso , dois
mediadores.
Como se percebe , a pré- mediação é importante para que as pessoas comecem a vislumbrar
oportunidades de trabalhar as controvérsias que as afligem.
Essa fase inicial tem ainda outro objetivo: fazer que as partes adversárias se habituem a
sentar , uma ao lado da outra, em um mesmo ambiente.
Realizada a abertura, será hora de iniciar a EXPOSIÇÃO DAS PARTES (POR ALGUNS
DENOMINADA INVESTIGAÇÃO); nessa etapa elas terão chance de expor, a viva voz, sua
percepção do que ocorreu para que chegassem até ali.
O mediador deve escutar com atenção e, se preciso, fazer questões para ajudar a esclarecer o
cenário em que se situam as partes e / ou suas percepções .
Ao assim proceder, EXPLORANDO PROPOSTAS já nessa etapa, é bem possível que as partes
realizem um acordo que não englobe todas as questões relevantes do conflito, como também
não abordem seus interesses reais .
Após a exposição das partes e a identificação de seus interesses , vem a fase da AGENDA.
Embora costume ser curta, ela configura uma etapa fundamental no sentido de organizar as
questões controvertidas. A proposta é objetivar os pontos que serão trabalhados.
Cabe ao mediador contribuir para diferenciação entre interesses e posições, trabalhando com
as partes para cogitar soluções criativas e eficientes; ele também deve atuar como um agente
da realidade, contribuindo para que as partes sejam mais realistas quanto às suas alternativas.
Finalmente vem a FASE CONCLUSIVA, que pode resultar no agendamento de uma nova
reunião, na assunção de algum compromisso ( ainda que represente uma solução parcial e
provisória ), na celebração de um acordo , na suspensão momentânea das reuniões ou no
decreto do fim da tentativa consensual.
Essa deliberação dependerá das partes, que no exercício de sua autodeterminação escolherão o
caminho que desejam trilhar .