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 MÓDULO I – MÉTODOS EXTRAJUDICIAIS DE SOLUÇÃO DE

CONTROVÉRSIAS (MESC). NEGOCIAÇÃO.


 MÓDULO II – MEDIAÇÃO.
 MÓDULO III – ARBITRAGEM.
 MÓDULO IV – COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA; DESVANTAGENS
DO PROCESSO JUDICIAL.
MÓDULO I

Métodos Extrajudiciais de Solução de


Controvérsias (MESC);
INTRODUÇÃO
O Direito Processual Civil brasileiro teve longo período de sua historia dominada pelas
Ordenações Filipinas também chamadas de “Ordenações do Reino” (eram constituídas por 5
livros dos quais o terceiro era dedicado ao processo civil tendo as mesmas fontes do processo
comum que dominava a Europa) – desde de sua entrada em vigor, em 1595, por Lavara de Dom
Felipe I de Portugal (D. Felipe II da Espanha) até cerca de 1850. A preocupação com a pratica
forense vigorou amplamente durante este período. Havia procedimento sumario,
procedimentos especiais.

Inicialmente a Independência (7 de setembro de 1822) não trouxe quase nenhuma alteração à


nossa legislação processual, permanecendo em vigor todas as leis portuguesas que não
ofendessem a soberania do Brasil e o regime.

A regulamentação do processo das causas comerciais foi a primeira manifestação significativa


de autonomia legislativa no campo do Processo Civil Brasileiro e seu deu com a publicação do
Regulamento 737, em 1850, no mesmo ano da Promulgação do Código Comercial.
Em um unico diploma, em 1871, foram consolidadas as leis processuais civis vigentes que
constavam, basicamente, das Ordenaçoes do Reino e de leis complementares. Foi elaborado
pelo Conselheiro Ribas e provado pela resoluçao imperial com o titulo “Consolidaçao das Leis do
Processo Civil”.

Direta ou indiretamente, nosso Processo Civil foi regido pelo Regulamento 737 até a
promulgaçao do CPC de 1939, juntamente com as Ordenaçoes do Reino.

O CPC de 1939 renovou os proprios fundamentos do processo. O juiz passou a verdadeiramente


dar direiçao ao processo deixando de apenas zelar pela observância das regras formais por parte
dos litigantes.

Em 11/01/1973, a Lei 5869 promulgou o CPC, entrando este em vigor em 01/01/1974, tendo
como autor do anteprojeto Alfredo Buzaid, então Ministro da Justiça.
Em 2015 NCPC (Lei 13.105/2015) – 1.072 artigos:

O NCPC que é uma sistema muito diferente do CPC/1973.


Não podemos pensar que o Novo CPC foi uma reforma do CPC/73, o NCPC monta um NOVO SISTEMA –
normas novas, sistema novo.

PANORAMA GERAL DO NOVO CPC (Lei 13.105/2015)


O NOVO CPC se destaca pela procura de sistematizar e organizar de forma inédita de uma PARTE GERAL e de
uma PARTE ESPECIAL.

PARTE GERAL: dedicada a formulação de regras sobre as Normas Processuais Civis, esta dividida em seis
livros:
Livro I - DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
Livro II - DA FUNÇÃO JURISDICIONAL
Livro III - DOS SUJEITOS DO PROCESSO
Livro IV - DOS ATOS PROCESSUAIS
Livro V – DA TUTELA PROVISÓRIA
Livro VI - DA FORMAÇÃO, DA SUSPENSÃO E DA EXTINÇÃO DO PROCESSO

PARTE ESPECIAL: que contem três livros:


Livro I - DO PROCESSO DE CONHECIMENTO (tanto de procedimento comum como de procedimento
especial, tanto de jurisdição contenciosa como de jurisdição voluntaria) E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Livro II - DO PROCESSO DE EXECUÇÃO
Livro III - DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E DOS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS
Ainda temos LEIS EXTRAVAGANTES AO DIPLOMA PROCESSUAL CIVIL que vem editando
conjunto de normas como a Lei 7347/85 (Lei da Ação Civil Publica) – responsável pela tutela
processual dos direitos difusos e coletivos.

Lei 8078/90 (CDC): formando uma verdadeira jurisdição coletiva ou mesmo um sistema
processual coletivo, destinando a aplicar de forma especial regras processuais que contemplam
tratamento diferenciado quando estamos diante de conflitos que envolvem conflitos coletivos.

Lei 9099/95 (Lei dos Juizados Especiais) instituindo o procedimento sumaríssimo dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais.

Lei 10259/2001 (Juizados Especiais Federais)

Lei 12153/2009 (Juizados Especiais da Fazenda Publica)


A SOCIEDADE E O DIREITO

O estudo da historia das civilizações demonstra que a sociedade sempre esteve criada segundo
regras de convivência, posto que, como observou Aristóteles: o homem é um animal politico,
que nasce com a tendência de viver em sociedade.”

Assim predomina o entendimento de que NAO HA SOCIEDADE SEM DIREITO, sem que a
reciproca também é verdadeira, ou seja, não ha direito sem sociedade.

É inevitável a correlação entre sociedade e direito, pois O DIREITO TEM FUNÇÃO


ORDENADORA DA SOCIEDADE, DE FORMA A TRAÇAR DIRETRIZES, VISANDO A PREVENIR E
COMPOR OS CONFLITOS QUE NASCEM ENTRE SEUS MEMBROS.
Os conflitos de interesse emergem do seio social, quando uma pessoa por exemplo adquire o
bem e não realiza o pagamento devido.

Diante de um fato podem convergir diversos interesses individuais, coletivos, difusos, compete
ao direito disciplinar a relação dos indivíduos com os bens da vida e apontando qual o
interesse deve prevalecer e qual será sacrificado.

Em principio conflito de interesse não se confunde com o de LIDE, pois esta é o conflito de
interesses apresentado em juízo para apreciação do Estado jurisdicional. O conflito de interesse
antecede a lide. NEM TODO CONFLITO É LEVADO EM JUIZO (ANÁLISE DA ATUAÇAO
JURISDICIONAL), TAMBÉM HÁ ALTERNATIVAS EXTRAJUDICIAIS.
MEIOS DE RESOLUÇÃO DE LITÍGIOS:

 AUTOTUTELA,
 AUTOCOMPOSIÇÃO,
 ARBITRAGEM E
 JURISDIÇÃO

Surgindo um conflito de interesses, é possível que ele se resolva:

a) PELOS PRÓPRIOS LITIGANTES: neste caso um dos interessados, ou cada um deles, consente
no sacrifício total ou parcial do próprio interesse (autocomposiçao), ou impõe o sacrifício do
interesse alheio (autodefesa)

ou

b) MEDIANTE A DECISAO IMPERATIVA DE UM TERCEIRO, ESTRANHO AO CONFLITO: as partes


submetem a resolução do conflito a um terceiro (arbitragem e jurisdição).
1) AUTOTUTELA OU AUTODEFESA

Por este meio de resolução de conflito um dos sujeitos impõe a sua vontade sobre a do outro, por meio de
uma ação própria. É uma forma egoísta de solução de conflitos, um dos conflitantes impõe a solução ao
outro pela força, É A JUSTIÇA DE MÃO PRÓPRIA.

Existe uma repulsa do direito à autotutela como meio ordinário de resolução de conflitos porque quase
sempre, resguarda o interesse do mais forte ou mais poderes sobre o mais fraco.

A autotutela não é permitida no Brasil, mas ainda existem algumas situações permitidas. No entanto a lei
prevê a autotutela em algumas situações:

 Desforço imediato: artigo 1210, §1 CC (direito de proteção da posse no caso de esbulho).


 Direito de retenção: artigo 578 CC: o locatário goza do direito de retenção, no caso de benfeitorias
necessárias, ou no caso de benfeitorias uteis, se estas foram feitas com expresso consentimento do
locador.
 O direito de cortar raízes e ramos de arvores limítrofes: artigo 1283 CC: As raízes e os ramos de árvore,
que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo
proprietário do terreno invadido.
 O direito de greve: artigo 9 da CF/88
 Legitima defesa: artigos 24 e 25 CP
2) AUTOCOMPOSIÇAO OU CONCILIAÇAO

Além da autotutela, outra resolução de conflitos de interesses é a autocomposiçao. Na


autocomposiçao, uma das partes, ou ambas, abrem mão do interesse ou parte dele.

Essa espécie representa um dos meios mais democráticos de resolução de conflitos, pois
prestigia a vontade dos próprios titulares do direito disputado, e justamente por essa razão,
tem sido estimulada pela lei.

São três formas de autocomposiçao:


a) Desistência (renuncia de direitos)
b) Submissão (renuncia à resistência oferecida à pretensão)
c) Transação (concessões reciprocas)
As formas de autocomposiçao podem ocorrer tanto DENTRO DA RELAÇÃO JURÍDICA
PROCESSUAL (ENDOPROCESSUAL: artigo 487, III, a b e c do NCPC):

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:


I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;
II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;
III - homologar:
a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção;
b) a transação;
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.

COMO FORA DO PROCESSO: EXTRAPROCESSUAL. Ex: Juizados informais de conciliação em São


Paulo; Núcleo Sindical de Conciliação Trabalhista Rural.
3) MEDIAÇAO

É uma autocomposiçao desenvolvida. Um terceiro se coloca entre as partes para fazer acordo, é
um facilitador da conciliação.
O mediador não decide, ele é um facilitador, quem decide são as partes.
O mediador não faz propostas. Tem que usar a mesma linguagem dos mediados.
O mediador não precisa ser advogado.

É um meio alternativo de solução de conflitos no qual um terceiro imparcial orienta as partes


para a solução da controvérsia sem sugestionar.

O mediador não emite opinião sobre o caso, mas apenas facilita o intercâmbio das informações,
ideias e alternativas para a solução do litigio.
4) ARBITRAGEM

A arbitragem é um meio privado de solução de conflitos. Ela pode ser usada para resolver problemas
jurídicos sem a participação do Poder Judiciário.

É um mecanismo voluntario: ninguém pode ser obrigado a se submeter à arbitragem.

A arbitragem atualmente esta disciplinada pela Lei 9307/96, que faculta às pessoas capazes de contratar
valer-se dela para solucionar conflito de interesses relativos a direitos disponíveis, escolhendo a terceira
pessoa que ira decidi-lo.

Direitos disponíveis são aqueles em que a parte pode abrir mão sem que terceiros venham se opor, ou seja,
não alteração ou se há, no mundo jurídico.

Direitos indisponíveis: é aquele tutelado pelo Estado de forma peremptória e neste caso mesmo que a
pessoa queira não poderá opinar/declinar contra. Ex.: filhos menores a alimentos dos pais caso estes não
cumpra sua obrigação; corpo humano; vida; liberdade (artigo 5 CF/88).
Negocio jurídico que gera a arbitragem é a convenção de arbitragem. Ha duas espécies:
a) Clausula compromissória: é prévia. As partes decidem que se sobrevier um conflito relativo ao negocio
jurídico esse conflito se resolvera pelo arbitro. É indeterminada. As partes antecipam o conflito.
b) Compromisso arbitral: pressupõe um conflito já existente. As partes resolvem que aquele conflito será
resolvido pelo arbitro. Pode ser precedido de uma clausula compromissória.

A arbitragem é convencionada pelas partes através da clausula compromissória (clausula contratual


segundo a qual as partes celebram que eventual conflito será decidido pela arbitragem) ou através do
compromisso arbitral (convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou
mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial).

Compromisso arbitral – tem natureza facultativa


Clausulas compromissórias – tem natureza compulsória
Somente pessoas capazes podem fazer arbitragem porque estão abrindo mão da justiça Estadual.

Somente direitos disponíveis

O arbitro escolhido é juiz de fato e de direito.

A sentença arbitral é titulo executivo judicial

A referida lei atribui eficácia própria à sentença arbitral, garantindo os mesmos efeitos da sentença judicial, e
sendo condenatória, força de titulo executivo judicial.

O arbitro não pode executar suas decisões, quem executa é o juiz estatal.

O judiciário não pode rever a decisão do arbitro. Essa decisão não sofrera um controle de mérito. O
judiciário poderá invalidar a decisão arbitral em virtude de um defeito. A decisão arbitral poderá ser
anulada pelo judiciário mas não revê-la.

Essa invalidação poderá ser pleiteada em 90 dias. A parte tera 90 dias para interpor a ação de nulidade de
sentença arbitral devido a um defeito formal. Equivalente a ação rescisória de sentença (prazo de 2 anos).

Apos 90 dias a sentença arbitral é definitiva.

A arbitragem so se admite em matéria civil (não penal), na medida da disponibilidade dos interesses
substanciais em conflito.
5) CONTROLE JURISDICIONAL INDISPENSAVEL

Em determinadas matérias, a lei proíbe de maneira sistemática a autotutela, a autocomposiçao, a


medição, a arbitragem. Em tais casos a sujeição ao exame judicial para sua procedência é condição
essencial.

O processo é o único meio de obter a efetivação dos efeitos ditados pelo direito material. E é justamente a
relevância desses direitos que faz com que seja indispensável o controle jurisdicional.

Assim ocorrendo um litigio entre dois ou mais indivíduos (em que o interesse de um confronta com o do
outro) surge uma pretensão que se opõe ao direito subjetivo do outro, e este para fazer valer o seu direito
(sendo vedada ou não utilizada a autotutela ou porque as partes não quiseram fazer uma autocomposiçao)
terá de postular em juízo a tutela jurídica, advindo dai o que a doutrina chama de LIDE.

No desenrolar do processo as partes buscam convencer o juiz quanto a existência dos seus supostos direitos
e examinados os argumentos das partes e elementos de provas faz incidir a vontade da lei, aplicando o
direito à situação conflituosa trazida à sua apreciação.

A este conjunto de atos das partes, do juiz, dos auxiliares, até a solução da lide obedecendo a um sistema
de normas legais e princípios, fazendo com que esses atos processuais se desenvolvam de modo
ordenado, e não arbitrariamente, chama-se DIREITO PROCESSUAL CIVIL.
O NCPC PREVÊ O SEGUINTE:

Art. 3 - Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.


§ 1 É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2 O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
§ 3 A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público,
inclusive no curso do processo judicial.

Art. 4 - As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída
a atividade satisfativa.
Art. 5 - Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a
boa-fé.
Art. 6 - Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
ARTIGOS 165 A 175 NCPC – DOS CONCILIADORES E MEDIADORES JUDICIAIS.

Seção V - Dos Conciliadores e Mediadores Judiciais

Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela
realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas
destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.

§ 1o A composição e a organização dos centros serão definidas pelo respectivo tribunal, observadas as
normas do Conselho Nacional de Justiça.
§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as
partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de
constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.
§ 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes,
auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam,
pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem
benefícios mútuos.
Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da
imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da
decisão informada.
§ 1o A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso do procedimento, cujo teor
não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa deliberação das partes.
§ 2o Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o mediador, assim como os
membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da
conciliação ou da mediação.
§ 3o Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de proporcionar ambiente favorável à
autocomposição.
§ 4o A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos interessados, inclusive no
que diz respeito à definição das regras procedimentais.

Art. 167. Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de conciliação e mediação serão inscritos
em cadastro nacional e em cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, que manterá
registro de profissionais habilitados, com indicação de sua área profissional.
CONCLUSAO:

Existem varias formas de resolver um conflito de interesses.


 Pode-se optar diretamente com a outra parte – negociação.
 Pode-se escolher uma pessoa para facilitar o dialogo entre os envolvidos, permitindo que estes mesmo
possam chegar a uma solução – mediação ou conciliação.
 Pode-se utilizar o poder judiciário, solicitando que um juiz tome a medida legal cabível – processo
judicial.
 Pode-se escolher uma pessoa para resolver o conflito de interesses sem a ajuda do Estado - arbitragem.
Ao escolher a arbitragem as pessoas abrem mão de recorrer ao poder judiciário, escolhendo árbitros de
sua confiança para o julgamento do conflito.

Questões relativas a direitos que tenham valor econômico e que possam ser comercializados ou
transacionados livremente por seus donos.

Não se admite recursos na arbitragem, mas se houve ofensa a certos direitos a decisão do arbitro poderá ser
ANULADA pelo Poder Judiciário.

As Instituições Arbitrais (que podem ser Câmaras, Centros, Institutos, etc) são organizações privadas que
administram o procedimento arbitral. São responsáveis por todo o procedimento.

Não existe nenhum órgão oficial de arbitragem – já que é meio privado de solução de conflitos. Não há
órgãos estatais de arbitragem e nem “Poder Judiciário Arbitral”.

As instituições de arbitragem não integram o poder publico.


MÉTODOS EXTRAJUDICIAIS DE
SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS (MESC)
 NEGOCIAÇÃO
 MEDIAÇÃO (Mediadores extrajudiciais e Mediadores judiciais – Lei 13.140/15)
 ARBITRAGEM (Lei 9.307/96 – alterada pela Lei 13.129/2015)

Segundo o relatório Justiça em Números do Conselho Nacional de Justiça, a cada ano, para
cada dez novas demandas propostas no Poder Judiciário brasileiro, apenas três demandas
antigas são resolvidas. Some-se a este preocupante dado que se encontram pendentes cerca
de 93 milhões de feitos. Sem dúvida, vivemos sério problema de DÉFICIT OPERACIONAL.

Algumas das atuais soluções para esta delicada situação deficitária envolvem preocupação
essencial com o uso racional e eficiente da máquina estatal. Isto porque frequentemente,
constatamos partes que, após longos períodos de litígio, recebem integralmente o pedido posto
na inicial, mas ainda assim não sentem que “venceram o conflito”. Ainda mais quando a vitória
é parcial.

Certamente se pode afirmar que, se uma parte vence – parcial ou integralmente – uma
disputa, mas ainda se encontra insatisfeita ao final do processo, há algo no uso da máquina
estatal a ser questionado.
De fato, partes vencedoras de uma disputa frequentemente se sentem perdedoras em razão
do tempo, das custas e, principalmente, da perda de vínculo.

Como bem indicado pelo Min. Marco Aurélio Gastaldi Buzzi em reiteradas palestras, faz-se
necessário adotar novas práticas para uso eficiente dos recursos materiais e humanos o Poder
Judiciário.

Esta decisão envolve eminentemente NOVA CULTURA E NOVAS POLÍTICAS INSTITUCIONAIS:


perceber que pode haver ganho com a participação em mediações e conciliações, tratando
estas como uma oportunidade de crescimento, amadurecimento ou até mesmo para
empresas como marketing direto e de aproximação com o consumidor.

Perceber o consumidor como adversário em um processo judicial induz a empresa a agir de


forma defensiva e até mesmo passiva quanto ao contexto apresentado pelo autor (e.g.“os
autores argumentam que prestamos esse serviço de forma falha e nós contra-argumentamos
que o serviço foi bem prestado”).
Por outro lado, a criação de ambientes não adversariais de resolução de disputas consiste em
um dos maiores desafios para esta política pública e para o próprio Poder Judiciário.

ISTO PORQUE ESTA MUDANÇA ENVOLVE UMA MUDANÇA DE CULTURA.

Esta nova visão ou nova cultura faz com que, empresas, por exemplo, passem a perceber o
consumidor (de forma não adversarial) como parceiro essencial, mesmo em um processo
judicial.

Isso induz a empresa a agir de forma construtiva e proativa quanto ao contexto indicado pelo
autor (e.g.“os autores argumentam que foi prestado um serviço de forma falha e, como
compartilhamos do interesse dos nossos clientes de prestar serviços de excelência, gostaríamos
de conversar sobre formas de melhor atendê-los”).

Com isto, o Poder Judiciário se aproxima de uma de suas mais belas funções: EDUCAR A
SOCIEDADE PARA TORNAR-SE MAIS CONSENSUAL, AO MESMO TEMPO EM QUE ENFRENTA DE
FORMA DIRETA UM DE SEUS MAIORES DESAFIOS: O DÉFICIT OPERACIONAL.
O campo da chamada ‘Resolução Apropriada de Disputas’ (ou RADs) inclui uma série de
métodos capazes de solucionar conflitos. Tais métodos oferecem, de acordo com suas
respectivas peculiaridades, OPÇÕES PARA SE CHEGAR A UM CONSENSO, A UM ENTENDIMENTO
PROVISÓRIO, À PAZ OU APENAS A UM ACORDO – dependendo do propósito para o qual o
processo de resolução de disputas foi concebido ou ‘desenhado’.

Nota-se, portanto, que o sistema público de resolução de conflitos – que envolve o Poder
Judiciário e outros órgãos de prevenção ou resolução de disputas (ex: Defensoria Pública,
Ministério Público, Secretarias de Justiça, entre outros) – é composto, atualmente, por vários
métodos ou processos distintos. Essa gama ou espectro de processos (ex: processo judicial,
arbitragem, conciliação, mediação, entre outros) forma um sistema pluriprocessual.

Nesse contexto, a escolha do método de resolução mais indicado para determinada disputa
precisa levar em consideração características e aspectos de cada processo, tais como: custo
financeiro, celeridade, sigilo, manutenção de relacionamentos, flexibilidade procedimental,
exequibilidade da solução, custos emocionais na composição da disputa, adimplemento
espontâneo do resultado e recorribilidade.
Processos não vinculantes: Controle do processo e do seu resultado cabe às próprias partes

Tomada de decisão particular pelas próprias partes


Negociação, Mediação, Conciliação

Processos vinculantes: controle do processo e o seu resultado cabe a terceiro (s)

Tomada de decisão extrajudicial por terceiro: decisão administrativa e arbitragem

Tomada de decisão judicial por terceiro: decisão judicial


Características intrínsecas

Negociação, Mediação, Conciliação jurisdição


Maior sigilo Maior publicidade

Maior propensão à preservação de Maior propensão à solução do conflito como


relacionamentos se sendo uma questão pontual

Maior adimplente espontâneo Maior exequibilidade diante de facilidades


relativas à execução forçada

Maior exigibilidade procedimental Maior rigor com o seguimento de


procedimento previamente estabelecido

Maior preocupação com a humanização e Maior desgaste emocional


sensibilização das partes

Maior celeridade Maior recorribilidade

Maior utilização da linguagem cotidiana das Maiores custos processuais (ou operacionais).
partes/interessados
DOS PROCESSOS, MÉTODOS OU MEIOS EM ESPÉCIE
A) NEGOCIAÇÃO

A negociação – definida como uma comunicação voltada à persuasão. Em uma negociação


simples e direta, as partes têm, como regra, total controle sobre o processo e seu resultado.

Assim, em linhas gerais, as partes:


i) escolhem o momento e o local da negociação;
ii) determinam como se dará a negociação, inclusive quanto à ordem e ocasião de discussão de
questões que se seguirão e o instante de discussão das propostas;
iii) podem continuar, suspender, abandonar ou recomeçar as negociações;
iv) estabelecem os protocolos dos trabalhos na negociação;
v) podem ou não chegar a um acordo e têm o total controle do resultado. E mais, a negociação
e o acordo podem abranger valores ou questões diretamente relacionadas à disputa e variam,
significativamente, quanto à matéria e à forma, podendo, inclusive, envolver um pedido de
desculpas, trocas criativas, valores pecuniários, valores não pecuniários. Assim, todos os
aspectos devem ser considerados relevantes e negociáveis.
b) MEDIAÇÃO

A mediação pode ser definida como uma negociação facilitada ou catalisada por um terceiro.

Alguns autores preferem definições mais completas sugerindo que a mediação um processo
autocompositivo segundo o qual as partes em disputa são auxiliadas por uma terceira parte
neutra/imparcial ao conflito ou por um painel de pessoas sem interesse na causa, para se
chegar a uma composição.

Trata-se de um método de resolução de disputas no qual se desenvolve um processo


composto por vários atos procedimentais pelos quais o(s) terceiro(s) imparcial(is) facilita(m) a
negociação entre as pessoas em conflito, habilitando-as a melhor compreender suas posições
e a encontrar soluções que se compatibilizam aos seus interesses e necessidades.

Os chamados ‘processos autocompositivos’ compreendem tanto os processos que se


conduzem diretamente ao acordo, como é de forma preponderante a conciliação, quanto às
soluções facilitadas ou estimuladas por um terceiro – geralmente mas nem sempre,
denominado “mediador”.

Em ambos os casos, existe a presença de um terceiro imparcial, e a introdução deste significa


que os interessados renunciaram parte do controle sobre a condução da resolução da disputa.
Além disso, em todos os processos autocompositivos:

» As partes podem continuar, suspender, abandonar e retomar as negociações.

» Assim como na negociação, nenhuma questão ou solução deve ser desconsiderada.


O mediador pode e deve contribuir para a criação de opções que superam a questão monetária
ou discutir assuntos que não estão diretamente ligados à disputa, mas que afetam a dinâmica
dos envolvidos.

» Por fim, tanto na mediação, quanto na conciliação, como na negociação, as partes não
precisam chegar a um acordo. Os interessados têm ainda a possibilidade de encerrar a
mediação a qualquer hora sem sofrerem maiores prejuízos, pois este é um processo não
vinculante.

A característica dos processos não vinculantes consiste na inexistência do ônus de participar do


processo.

A MEDIAÇÃO E A CONCILIAÇÃO SÃO MÉTODOS NÃO VINCULANTES e se caracterizam pela


redução ou delegação do direcionamento e do controle do procedimento a um terceiro, mas
pela manutenção do controle sobre o resultado pelas partes.
c) CONCILIAÇÃO

A conciliação pode ser definida como um processo autocompositivo breve no qual as partes
ou os interessados são auxiliados por um terceiro, neutro ao conflito, ou por um painel de
pessoas sem interesse na causa, para assisti-las, por meio de técnicas adequadas, a chegar a
uma solução ou a um acordo.

Originalmente, estabeleciam-se diversos pontos de distinção entre a mediação e a conciliação,


sugerindo-se que:

i) a mediação visaria à ‘resolução do conflito’ enquanto a conciliação buscaria apenas o


acordo;
ii) a mediação visaria à restauração da relação social subjacente ao caso enquanto a conciliação
buscaria o fim do litígio;
iii) a mediação partiria de uma abordagem de estímulo (ou facilitação) do entendimento
enquanto a conciliação permitiria a sugestão de uma proposta de acordo pelo conciliador;
iv) a mediação seria, em regra, mais demorada e envolveria diversas sessões enquanto a
conciliação seria um processo mais breve com apenas uma sessão;
v) a mediação seria voltada às pessoas e teria o cunho preponderantemente subjetivo
enquanto a conciliação seria voltada aos fatos e direitos e com enfoque essencialmente
objetivo;
vi) a mediação seria confidencial enquanto a conciliação seria eminentemente pública;
vii) a mediação seria prospectiva, com enfoque no futuro e em soluções, enquanto a conciliação
seria com enfoque retrospectivo e voltado à culpa;
viii) a mediação seria um processo em que os interessados encontram suas próprias soluções
enquanto a conciliação seria um processo voltado a esclarecer aos litigantes pontos (fatos,
direitos ou interesses) ainda não compreendidos por esses;
ix) a mediação seria um processo com lastro multidisciplinar, envolvendo as mais distintas áreas
como psicologia, administração, direito, matemática, comunicação, entre outros, enquanto a
conciliação seria unidisciplinar (ou monodisciplinar) com base no direito.
Merece destaque que as distinções acima apresentadas mostravam-se necessárias em razão da
inexistência de uma abertura, por parte de órgãos públicos, para as críticas à forma com que se
conduziam as conciliações até o início do século XXI.

Com lançamento do Movimento pela Conciliação, pelo Conselho Nacional de Justiça, partiu-se
da premissa de que um PODER JUDICIÁRIO MODERNO NÃO PODERIA PERMITIR A CONDUÇÃO
DE TRABALHOS SEM TÉCNICA.

Diante desta abertura, passou-se a se defender explicitamente a utilização de técnicas na


conciliação.
Com isso, as distinções entre mediação e conciliação passaram, progressivamente, a se
reduzir.

Atualmente, com base na política pública preconizada pelo Conselho Nacional de Justiça e
consolidada em resoluções e publicações diversas, pode-se afirmar que A CONCILIAÇÃO NO
PODER JUDICIÁRIO BUSCA:

i) além do acordo, uma efetiva harmonização social das partes;


ii) restaurar, dentro dos limites possíveis, a relação social das partes;
iii) utilizar técnicas persuasivas, mas não impositivas ou coercitivas para se alcançarem
soluções;
iv) demorar suficientemente para que os interessados compreendam que o conciliador se
importa com o caso e a solução encontrada;
v) humanizar o processo de resolução de disputas;
vi) preservar a intimidade dos interessados sempre que possível;
vii) visar a uma solução construtiva para o conflito, com enfoque prospectivo para a relação dos
envolvidos;
viii) permitir que as partes sintam-se ouvidas; e
ix) utilizar-se de técnicas multidisciplinares para permitir que se encontrem soluções
satisfatórias no menor prazo possível.
d) ARBITRAGEM

A arbitragem pode ser definida como um processo eminentemente privado, nas qual as partes
ou interessados buscam o auxílio de um terceiro, neutro/imparcial ao conflito, ou de um painel
de pessoas sem interesse na causa, para, após um devido procedimento, prolatar uma decisão
(sentença arbitral) visando encerrar a disputa.

Trata-se de um processo, em regra, vinculante, em que ambas as partes são colocadas diante
de um árbitro ou um grupo de árbitros. Como regra, ouvem-se testemunhas e analisam- se
documentos. Os árbitros estudam os argumentos dos advogados antes de tomarem uma
decisão.

Usualmente, em razão dos custos, apenas causas de maior valor em controvérsia são
submetidas à arbitragem e os procedimentos podem durar diversos meses.
A característica principal da arbitragem é sua coercibilidade e capacidade de pôr fim ao
conflito. De fato, é mais finalizadora do que o próprio processo judicial, porque não há recurso
na arbitragem.

De acordo com a Lei 9.307/96, o Poder Judiciário executa as sentenças arbitrais como se
sentenças judiciais fossem.

Caso uma das partes queira questionar uma decisão arbitral devido, por exemplo, à
parcialidade dos árbitros, uma demanda anulatória deve ser proposta (e não um recurso).
A despeito de a arbitragem ser o procedimento decisório mais parecido com um processo
judicial, tal método privado oferece as seguintes vantagens:

» Antes de iniciada a arbitragem, as partes têm controle sobre o procedimento na medida em


que podem escolher o(s) árbitro(s) e as regras procedimentais da preparação à decisão
arbitral. Havendo consenso entre as partes quanto ao procedimento, a liberdade de escolha
estende-se inclusive ao direito e a possibilidade de julgamento por equidade pelo árbitro .

» A arbitragem é conhecida por ser mais sigilosa e célere que o processo judicial na maior
parte dos casos. A menos que estejam limitadas por regras acordadas anteriormente, as partes
e seus advogados podem controlar o processo e agilizá-lo drasticamente, reduzindo custos e
tempo.
e) MED-ARB E OUTRAS HIBRIDAÇÕES DE PROCESSOS

A med-arb consiste em um processo híbrido no qual se inicia com uma mediação e, na


eventualidade de não se conseguir alcançar um consenso, segue-se para uma arbitragem.

Originalmente concebida na década de 80, a med-arb valia-se do mesmo profissional para atuar
como mediador e árbitro. Posteriormente, considerando se tratar de procedimentos bastante
distintos, passou-se a indicar profissionais distintos para as duas etapas desse processo híbrido.

Naturalmente, para haver uma med-arb, faz-se necessária uma convenção ou cláusula
denominada de ‘escalonada’ por haver a previsão da referida hibridação.

De igual forma, a cláusula contratual ou o compromisso de resolução de disputas pode


contemplar uma fase anterior à mediação que consiste em negociação direta de gestores ou
diretores. Nesse caso, denomina-se o processo de neg-med-arb, por se tratar de uma
negociação, seguida de uma mediação e, na hipótese de ausência de sucesso das duas fases
preliminares, segue-se para uma arbitragem.

Merece destaque o fato de todos esses processos possuírem bastante flexibilidade


procedimental a ponto de, como indicado anteriormente, ser possível a concepção ou o
‘desenho’ de um processo de resolução de disputas que melhor se adeque ao conflito concreto
e aos seus participantes.
f ) PRÁTICAS AUTOCOMPOSITIVAS INOMINADAS

Um dos grandes desafios do Poder Judiciário, no século XXI, consiste em combater a posição
singularista de que para cada conflito de interesse só pode haver uma solução correta – a do
magistrado, que, sendo mantida ou reformada em grau recursal, se torna a “verdadeira
solução” para o caso.

A ideia de que o jurisdicionado, quando busca o Poder Judiciário, o faz na ânsia de receber a
solução de um terceiro para suas questões, vem, progressivamente, sendo alterada para uma
visão de Estado que orienta as partes a resolverem, de forma mais consensual e amigável,
seus próprios conflitos e, apenas excepcionalmente, como última hipótese, se decidirá em
substituição às partes.

Nesse sentido, tem se trabalhado a noção de que o Estado precisa preparar o jurisdicionado
para utilizar, adequadamente, o sistema público de resolução de disputas bem como, quando
possível, resolver seus próprios conflitos.

Nesse contexto, diversos tribunais brasileiros têm organizado treinamentos, workshops, aulas,
grupos de apoio, oficinas, entre outras práticas para orientar o jurisdicionado a resolver
melhor seus conflitos. Entre esses treinamentos, destacam-se as oficinas de parentalidade (ou
oficinas de pais e filhos) que buscam orientar pais divorciandos e seus filhos a lidarem melhor
com os conflitos nessa fase de transição.
VALORES CONSENSUAIS DO NOVO CPC
A Política Pública de Resolução Apropriada de Disputas conduzida preponderantemente pelo
Conselho Nacional de Justiça, tem refletido um movimento de consensualização do Poder
Judiciário uma vez que passa a estabelecer a autocomposição como solução prioritária para os
conflitos de interesse.

Isso significa que o legislador crê que a maior parte dos conflitos pode ser resolvida por meios
consensuais.

O Código de Processo Civil apresenta uma série de indicações nesse sentido como o conciliador
e o mediador sendo auxiliares da justiça (art. 149) e a criação de centros judiciários de solução
consensual de conflitos (art. 165).

De fato, estas indicações refletem normas infralegais estabelecidas no CNJ, como a


Recomendação 50/2014 e a Resolução 125/10, respectivamente.
O legislador, tanto na Lei de Mediação como no NCPC, prestigiou a proposta de
consensualização do Poder Judiciário preconizada com o Movimento pela Conciliação e
especialmente pela Res. 125/10.

Todavia, nota-se que o legislador avançou estabelecendo a regra de encaminhamento à


conciliação ou à mediação no art. 334 do NCPC, indicando que se a petição inicial preencher os
requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará
audiência de conciliação ou de mediação. O estímulo pretendido foi tão enfático que o § 4 do
mesmo artigo estabelece que a audiência não será realizada apenas se ambas as partes
manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual ou quando não se
admitir a autocomposição.

Ademais, o § 8 desse mesmo artigo estabelece também que o não comparecimento


injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação deve ser considerado ato
atentatório à dignidade da justiça e deve ser sancionado com multa de até dois por cento da
vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do
Estado.
Processos autocompositivos Processos heterocompositivos
• Prospectivos • Retrospectivos
• Foco em soluções • Foco em culpa
• Disputa deve ser resolvida • Disputa deve ser vencida
• Enfoque pluralista • Enfoque monista
• Uso pragmático do Direito • Uso dogmático do Direito
• Formalismo definido pelo usuário • Formalismo definido pelo prestador
• Linguagem e regras simplificadas • Linguagem e regras tradicionais
• Participação ativa das partes • Participação ativa dos Operadores do
• Advogados direcionados a contribuir com direito
soluções negociadas • Advogados direcionados a atuar no
• Foco em interesses processo para vencer
• Processo humanizado • Foco em direitos e fatos
• Processo positivado
Processos autocompositivos são, como regra, prospectivos uma vez que se preocupam com o
futuro da relação em questão.

Por sua vez processos heterocompositivos são retrospectivos na medida em que buscam
examinar o passado da relação e verificar como compensar eventuais equívocos passados com
reparações no presente.

Processos consensuais possuem, em linhas gerais, foco em soluções. Busca-se pensar diante
da situação presente consolidada quais são as melhores saídas para a realização dos interesses
daquelas partes envolvidas bem como o que é necessário para atender às necessidades dos
interessados.

Na autocomposição, frequentemente, não se pensa em quem está certo e quem está errado
mas em como solucionar as questões e quais as melhores formas de atender aos interesses dos
envolvidos.

Na heterocomposição, por sua vez, possui foco preponderante na culpa e, quando possível, na
reparação ainda que esta venha ser pecuniária. Como se lida com o conflito. Processos
autocompositivos abordam a disputa e o conflito como fenômenos a serem resolvidos de forma
preponderantemente colaborativa. Já processos heterocompositivos, como regra, abordam a
disputa como um uma dinâmica a ser vencida.
Na autocomposição, podem existir diversas respostas concomitantemente corretas (e
legítimas) para uma mesma questão. Nessa hipótese, cabe às partes construírem a solução
para suas próprias questões e, assim, encontrarem a resposta que melhor se adeque ao seu
contexto fático. Dogma/Pragma.

Processos heterocompositivos requerem o estabelecimento de determinadas organizações


tidos como pontos fundamentais e indiscutíveis dentro de um sistema (dogmas).
Exemplificativamente, a regra de que o que não está nos autos não está no mundo serve para
limitar o que deve ser apreciado pelo juiz em sua sentença.

Na autocomposição, a preocupação em soluções que funcionem na prática e na vida real dos


interessados mostra-se preponderante.

Por outro lado, na heterocomposição o formalismo é definido pelo gestor do processo - seja
magistrado ou árbitro.

Nestes casos, o advogado fala pela parte com o intuito principal de convencer e vencer. Em
processos autocompositivos, o advogado auxilia o seu cliente a negociar de forma mais
persuasiva ao mesmo tempo em que assegura que o seu cliente não está renunciando a
direitos sem plena consciência disto. Nessas hipóteses, por ser um técnico (ou coach) de
negociação, cabe ao advogado que atua em conciliações ou mediações saber negociar com
técnica. Na autocomposição os processos tem seus fundamentos nos interesses das partes.
“O ACESSO À JUSTIÇA NÃO SE CONFUNDE COM ACESSO AO JUDICIÁRIO, tendo em vista que
não visa apenas a levar as demandas dos necessitados àquele Poder, mas realmente incluir os
jurisdicionados que estão à margem do sistema para que possam ter seus conflitos resolvidos
(por heterocomposição) ou receberem auxílio para que resolvam suas próprias disputas (pela
autocomposição).

O acesso à justiça está mais ligado à satisfação do usuário (ou jurisdicionado) com o resultado
final do processo de resolução de conflito do que com o mero acesso ao poder judiciário, a
uma relação jurídica processual ou ao ordenamento jurídico material aplicado ao caso concreto.
O verdadeiro acesso à Justiça abrange não apenas a prevenção e reparação de direitos, mas a
realização de soluções negociadas e o fomento da mobilização da sociedade para que possa
participar ativamente dos procedimentos de resolução de disputas como de seus resultados.

Naturalmente, se mostra possível realizar efetivamente esse novo acesso à justiça se os


tribunais conseguirem REDEFINIR O PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO NA SOCIEDADE COMO
MENOS JUDICATÓRIO E MAIS HARMONIZADOR.

Busca-se assim estabelecer uma nova face ao judiciário: UM LOCAL ONDE PESSOAS BUSCAM E
ENCONTRAM SUAS SOLUÇÕES – UM CENTRO DE HARMONIZAÇÃO SOCIAL.
A RESOLUÇÃO 125 E SEUS OBJETIVOS

A criação de uma resolução do Conselho Nacional de Justiça que dispõe sobre a conciliação e
a mediação partiu de uma premissa de que cabe ao Judiciário estabelecer a política pública de
tratamento adequado dos conflitos de interesses resolvidos no seu âmbito – seja por meios
heterocompositivos, seja por meios autocompositivos.

Esta orientação foi adotada, de forma a organizar, em todo território nacional, não somente os
serviços prestados no curso da relação processual (atividades processuais), como também os
que possam incentivar a atividade do Poder Judiciário de prevenção de demandas com as
chamadas atividades pré-processuais de conciliação e mediação.
A criação da Resolução 125 do CNJ foi decorrente da necessidade de se estimular, apoiar e
difundir a sistematização e o aprimoramento de práticas já adotadas pelos tribunais.

Desde a década de 1990, houve estímulos na legislação processual à autocomposição,


acompanhada na década seguinte de diversos projetos piloto nos mais diversos campos da
autocomposição: mediação civil, mediação comunitária, mediação vítima-ofensor (ou mediação
penal), conciliação previdenciária, conciliação em desapropriações, entre muitos outros.

Os objetivos desta Resolução estão indicados de forma bastante taxativa:


i) disseminar a cultura da pacificação social e estimular a prestação de serviços
autocompositivos de qualidade (art. 2º);
ii) incentivar os tribunais a se organizarem e planejarem programas amplos de
autocomposição (art. 4º);
iii) reafirmar a função de agente apoiador da implantação de políticas públicas do CNJ (art. 3º).
TEORIA DO CONFLITO

O CONFLITO E O PROCESSO JUDICIAL


O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas
divergem em razão de metas, interesses ou objetivos individuais percebidos como
mutuamente incompatíveis.

Em regra, intuitivamente se aborda o conflito como um fenômeno negativo nas relações sociais
que proporciona perdas para, ao menos, uma das partes envolvidas.

Em treinamentos de técnicas e habilidades de mediação, os participantes frequentemente são


estimulados a indicarem a primeira ideia que lhes vem à mente ao ouvirem a palavra conflito.
Em regra, a lista é composta pelas seguintes palavras:

GUERRA
BRIGA
DISPUTA
AGRESSÃO
TRISTEZA
VIOLÊNCIA
RAIVA
PERDA
PROCESSO
Em seguida, sugere-se ao participante do treinamento que se recorde do último conflito em
que se envolveu significativamente. Perguntados quanto às reações fisiológicas, emocionais e
comportamentais que tiveram muitos participantes indicam que reagiram ao conflito da
seguinte forma:

TRANSPIRAÇÃO
TAQUICARDIA
RUBORIZAÇÃO
ELEVAÇÃO DO TOM DE VOZ
IRRITAÇÃO
RAIVA
HOSTILIDADE
DESCUIDO VERBAL
Nesses conflitos, nota-se em regra a atuação abundante do hormônio chamado adrenalina que
provoca tais reações.

Quando solicitado a eles para indicar os procedimentos percebidos por pessoas


significativamente envolvidas emocionalmente em conflitos, os participantes de treinamentos,
em regra, indicam que se adotam (ainda que posteriormente haja arrependimento) as seguintes
práticas (mesmo os envolvidos sabendo que poderiam não ser aquelas mais eficientes ou
produtivas):

REPRIMIR COMPORTAMENTOS
ANALISAR FATOS
JULGAR
ATRIBUIR CULPA
RESPONSABILIZAR
POLARIZAR RELAÇÃO
ANALISAR PERSONALIDADE
CARICATURAR COMPORTAMENTOS
Diante de tais reações e práticas de resolução de disputas, poderia-se sustentar que o conflito
sempre consiste em um fenômeno negativo nas relações humanas?

A resposta da doutrina é negativa.

Constata-se que do conflito podem surgir mudanças e resultados positivos.

Quando questionados sobre aspectos positivos do conflito (O que pode surgir de positivo em
razão de um conflito?”) – ou formas positivas de se perceber o conflito – em regra,
participantes de treinamentos em técnicas e habilidades de mediação apresentam, entre
outros, os seguintes pontos:

GUERRA PAZ
BRIGA ENTENDIMENTO
DISPUTA SOLUÇÃO
AGRESSÃO COMPREENSÃO
TRISTEZA FELICIDADE
VIOLÊNCIA AFETO
RAIVA CRESCIMENTO
PERDA GANHO
PROCESSO APROXIMAÇÃO
A POSSIBILIDADE DE SE PERCEBER O CONFLITO DE FORMA POSITIVA CONSISTE EM UMA DAS
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DA CHAMADA MODERNA TEORIA DO CONFLITO.

Isso porque a partir do momento em que se percebe o conflito como um fenômeno natural na
relação de quaisquer seres vivos é possível se perceber o conflito de forma positiva.

Exemplificativamente, em uma determinada mediação, após a declaração de abertura, um


advogado dirige-se para o mediador e irritado diz “esta mediação está se alongando
desnecessariamente e a cada minuto sinto que terei que gastar mais tempo com isso ou aquilo.
Acho que você não está sabendo mediar”.
O mediador, neste momento, poderia interpretar o discurso do advogado de algumas formas
distintas:
i) como uma agressão (percebe-se o conflito como algo negativo);
ii) como uma oportunidade de demonstrar às partes e aos seus advogados como se despolariza
uma comunicação (percebe-se o conflito como algo positivo);
iii) como um sinal de insatisfação com sua atuação como mediador (percebe-se o conflito como
algo negativo);
iv) como um sinal de que algumas práticas autocompositivas podem ser aperfeiçoadas – e.g.sua
declaração de abertura poderia ser desenvolvida deixando claro que o processo de mediação
pode se estender por várias sessões e que o advogado pode auxiliar muito as partes ao
permanecer de sobreaviso nos horários das sessões de mediação;
v) como um desafio ou confronto para testar sua força e domínio sobre a mediação (percebe-se
o conflito como algo negativo);
vi) como um pedido realizado por uma pessoa que ainda não possui habilidades comunicativas
necessárias (percebe-se o conflito como algo positivo).
Na hipótese narrada, o mediador, se possuísse técnicas e habilidades autocompositivas
mínimas necessárias para exercer esta função, seguramente perceberia a oportunidade que
lhe foi apresentada perante as partes e tenderia a reagir como normalmente se reage perante
uma oportunidade como essas

TRANSPIRAÇÃO MODERAÇÃO
TAQUICARDIA EQUILÍBRIO
RUBORIZAÇÃO NATURALIDADE
ELEVAÇÃO DO TOM DE VOZ SERENIDADE
IRRITAÇÃO COMPREENSÃO
RAIVA SIMPATIA
HOSTILIDADE AMABILIDADE
DESCUIDO VERBAL CONSCIÊNCIA VERBAL
Nota-se que a coluna da esquerda seria abandonada pelo mediador, na hipótese narrada, caso
ele possuísse as técnicas e habilidades autocompositivas necessárias e percebesse o conflito
como uma oportunidade.

Naturalmente, opta-se conscientemente pela coluna da direita no quadro anterior. Isso


porque o simples fato de se perceber o conflito de forma negativa desencadeia uma reação
denominada “retorno de luta ou fuga (ou apenas luta ou fuga) ou resposta de estresse agudo.
O retorno de luta ou fuga consiste na teoria de que animais reagem a ameaças com uma
descarga ao sistema nervoso simpático impulsionando-o a lutar ou fugir.

Em suma, o mecanismo de luta ou fuga consiste em uma resposta que libera a adrenalina
causadora das reações da coluna da esquerda no quadro anterior.

Por sua vez, ao se perceber o conflito como algo positivo, ou ao menos potencialmente
positivo, tem-se que o mecanismo de luta ou fuga tende a não ser desencadeado ante a
ausência de percepção de ameaça, o que, por sua vez, facilita que as reações indicadas na
coluna da direita sejam alcançadas.
Note-se que se o mediador tivesse insistido em ter uma interação caso houvesse reagido
negativamente ao conflito, possivelmente tenderia a discutir com o advogado (e.g.“não é
minha culpa – são os problemas trazidos pelas partes que precisam de mais tempo”), ou a
julgá-lo (e.g.“Você sempre teve esse temperamento? Acho que ele não é compatível com a
mediação”), ou a reprimir comportamentos (e.g.“esse discurso foi desnecessário. O que o Sr.
gostaria não é...”), ou a polarizar a relação (e.g.“você é que não está sabendo participar de uma
mediação”).

Isto é, entre outras práticas (ineficientes) de resolução de disputas na hipótese citada temos
aquelas da coluna da esquerda no quadro a seguir

REPRIMIR COMPORTAMENTOS COMPREENDER COMPORTAMENTOS


ANALISAR FATOS ANALISAR INTENÇÕES
JULGAR RESOLVER
ATRIBUIR CULPA BUSCAR SOLUÇÕES
RESPONSABILIZAR SER PROATIVO PARA RESOLVER
POLARIZAR RELAÇÃO DESPOLARIZAR A RELAÇÃO
JULGAR O CARÁTER / PESSOA ANALISAR PERSONALIDADE
CARICATURAR COMPORTAMENTOS GERIR SUAS PRÓPRIAS EMOÇÕES
Por outro lado, no referido exemplo, o mediador poderia adotar práticas mais eficientes para
atender de forma mais direta seus próprios interesses – como o de ser reconhecido como um
mediador zeloso e que os seus usuários pudessem aproveitar a oportunidade da mediação
para aprender a lidar com o conflito da melhor forma possível e com o mínimo de desgaste
desnecessário.

Para tanto, caberia ao mediador adotar algumas das práticas relacionadas à direita no quadro
anterior.

Assim, ao ouvir o comentário do advogado, o mediador poderia responder que:

“Dr. Tiago, agradeço sua franqueza. Pelo que entendi o senhor, como um advogado já
estabelecido, tem grande preocupação com o tempo investido na mediação e gostaria de
entender melhor por quanto tempo estaremos juntos e em quais momentos sua participação
seria essencial. Há algum outro ponto na mediação que o senhor gostaria de entender melhor?”
Vale destacar que a resposta dada ao advogado estabelece que não há necessidade de se
continuar o diálogo como se um estivesse errado e o outro certo.

Parte-se do pressuposto que todos tenham interesses congruentes – como o de ter uma
mediação que se desenvolva em curto prazo com a melhor realização de interesses das partes e
maior grau de efetividade de resolução de disputas.

O ato ou efeito de não perceber um diálogo ou um conflito como se houvesse duas partes
antagônicas ou dois polos distintos (um certo e outro errado) denomina-se DESPOLARIZAÇÃO.

No exemplo, constata-se que se o mediador tivesse despolarizado a interação com o


advogado, isso não o colocaria em situação de humilhação ou inferioridade em relação a este
profissional.

De fato, percebe-se que ele apenas assumiu posição mais confortável na mediação – de
legitimidade e liderança – a partir do momento em que tivesse demonstrado saber resolver
bem conflitos.
CONFLITOS E DISPUTAS

Há autores que sustentam que uma disputa existe quando uma pretensão é rejeitada integral
ou parcialmente, tornando-se parte de uma lide quando se envolvem direitos e recursos que
poderiam ser deferidos ou negados em juízo.

Alguns autores sustentam que uma disputa somente existe depois de uma demanda ser
proposta. “Um conflito se mostra necessário para a articulação de uma demanda. Um conflito,
todavia, pode existir sem que uma demanda seja proposta. Assim, apesar de uma disputa não
poder existir sem um conflito, um conflito pode existir sem uma disputa”.

Em termos coloquiais, CONFLITO REFERE-SE A UM DESENTENDIMENTO – A EXPRESSÃO OU


MANIFESTAÇÃO DE UM ESTADO DE INCOMPATIBILIDADE.
ESPIRAIS DE CONFLITO

Para alguns autores há uma progressiva escalada, em relações conflituosas, resultante de um


círculo vicioso de ação e reação.

Cada reação torna-se mais severa do que a ação que a precedeu e cria uma nova questão ou
ponto de disputa.

Esse modelo, denominado de ESPIRAIS DE CONFLITO, sugere que com esse crescimento (ou
escalada) do conflito, as suas causas originárias progressivamente tornam-se secundárias a
partir do momento em que os envolvidos mostram-se mais preocupados em responder a uma
ação que imediatamente antecedeu sua reação.
POR EXEMPLO, se em um dia de congestionamento, determinado motorista sente-se ofendido
ao ser cortado por outro motorista, sua resposta inicial consiste em pressionar intensamente a
buzina do seu veículo.

O outro motorista responde também buzinando e com algum gesto descortês.

O primeiro motorista continua a buzinar e responde ao gesto com um ainda mais agressivo. O
segundo, por sua vez, abaixa a janela e insulta o primeiro. Este, gritando, responde que o outro
motorista deveria parar o carro e “agir como um homem”. Este, por sua vez, joga uma garrafa
de água no outro veículo. Ao pararem os carros em um semáforo, o motorista cujo veículo foi
atingido pela garrafa de água sai de seu carro e chuta a carroceria do outro automóvel.

Nota-se que o conflito desenvolveu-se em uma espiral de agravamento progressivo das


condutas conflituosas.

No exemplo citado, se houvesse um policial militar perto do último ato, este poderia ensejar
um procedimento de juizado especial criminal. Em audiência, possivelmente o autor do fato
indicaria que seria, de fato, a vítima; e, de certa forma, estaria falando a verdade uma vez que
nesse modelo de espiral de conflitos ambos são, ao mesmo tempo, vítima e ofensor ou autor
do fato.
PROCESSOS CONSTRUTIVOS E DESTRUTIVOS

O processo rende, com frequência, muito menos do que deveria – em “função dos defeitos
procedimentais, resulta muitas vezes lento e custoso, fazendo com que as partes quando
possível, o abandonem.

Os processos de resolução de disputas podem ser classificados construtivos ou destrutivos.

PROCESSO DESTRUTIVO se caracteriza pelo enfraquecimento ou rompimento da relação social


preexistente à disputa em razão da forma pela qual esta é conduzida. Em processos
destrutivos há a tendência de o conflito se expandir ou tornar-se mais acentuado no
desenvolvimento da relação processual. Como resultado, tal conflito frequentemente torna-se
“independente de suas causas iniciais”, assumindo feições competitivas nas quais cada parte
busca “vencer” a disputa e decorre da percepção, muitas vezes errônea, de que os interesses
das partes não podem coexistir.

PROCESSOS CONSTRUTIVOS, seriam aqueles em razão dos quais as partes concluiriam a


relação processual com um fortalecimento da relação social preexistente à disputa.
Para esse professor, processos construtivos caracterizam-se:
i) pela capacidade de estimular as partes a desenvolverem soluções criativas que permitam a
compatibilização dos interesses aparentemente contrapostos;
ii) pela capacidade de as partes ou do condutor do processo (e.g.magistrado ou mediador)
motivarem todos os envolvidos para que prospectivamente resolvam as questões sem atribuição de
culpa;
iii) pelo desenvolvimento de condições que permitam a reformulação das questões diante de
eventuais impasses e
iv) pela disposição de as partes ou do condutor do processo a abordar, além das questões
juridicamente tuteladas, todas e quaisquer questões que estejam influenciando a relação (social) das
partes. Em outros termos, partes quando em processos construtivos de resolução de disputas
concluem tal relação processual com fortalecimento da relação social preexistente à disputa e, em
regra, robustecimento do conhecimento mútuo e empatia.

SE CONDUZIDO CONSTRUTIVAMENTE, O CONFLITO PODE PROPORCIONAR CRESCIMENTO PESSOAL,


PROFISSIONAL E ORGANIZACIONAL.

Constata-se que, atualmente, em grande parte, o ordenamento jurídico processual, que se dirige
predominantemente à pacificação social.
CONFLITOS CIVIS E MEIOS DE COMPOSIÇÃO

CONFLITO : CONCEITO E ABORDAGEM

Conflito é sinónimo de embate, oposição, pendência, pleito ; no vocabulário juridico ,


prevalece o sentido de entrechoque de ideias ou de interesses em razão do qual se instala uma
divergência entre fatos, coisas ou pessoas. Por haver diversas nomenclaturas para esse
recorrente fenômeno nas relações pessoais, a expressão “ conflito ” costuma ser usada como
sinónimo de “ controvérsia ”, “ disputa ”, “ lide ” e “ litígio ”.

O CONFLITO pode ser visto como uma crise na interação humana. Conflito expressa a crise
vivenciada em sentido amplo, enquanto DISPUTA remete a uma unidade controvertida. Assim,
um casal recém-separado pode estar em crise ( vivenciando um contexto amplo de conflitos) ,
mas enfrentar , em certo momento, uma disputa, pontual e específica , quanto ao tempo de
convivência com os filhos.

A expressão “ LIDE”, retrata o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida; a
expressão identifica -se com o vocábulo “ litígio ” e costuma ser usada quando alguém se refere
a uma controvérsia levada a juízo para apreciação pelo Estado- juiz .
Para facilitação didatica, serão o usados os vocábulos “ conflito ” e “ controvérsia ” como
sinónimos - postura, ali ás, corrente na legislação nacional.

Na Lei de Mediação brasileira ( Lei 13.140/ 2015) , “ conflito ” e “ controvérsia” parecem ser
utilizados como sinónimos : o art. l : aponta que a lei versa sobre “ meio de solução de
controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da
administração pública ” .

A mesma situação se verifica , muitas vezes, no Novo CPC ( Lei n. 13.105/ 2015) ; coteje-se, por
exemplo , o art. 3, § 2. ( “ o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos
conflitos ' ) e o art. 694 ( “ nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para a
solução consensual da controvérsia * ) .

Há que se destacar , contudo , que certos dispositivos apresentam uma acepção mais técnica
de “ controvérsia ” , referindo-se ao vocábulo e aos seus derivados (como “ controvertido” )
para retratar um ponto específico tratado processo judicial sobre o qual as partes têm
diferenças de percepção e entendimento ( vide arts . 66, III; 464, § 3 . ° ; art. 545, § l . ° ; 966, §
2. ° ; art. 976, do Novo CPC).

Art. 66. Há conflito de competência quando: III - entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia
acerca da reunião ou separação de processos.
Para bem abordar os conflitos, é importante entender O QUE OS CAUSA.

Muitos fatores podem originá-los, merecendo destaque a limitação de recursos , a ocorrência


de mudanças, a resistência a aceitar posições alheias, a existência de interesses contrapostos,
o desrespeito à diversidade e a insatisfação pessoal.

Algumas vezes, a regra sobre a devida posição jurídica relativa ao bem é cumprida
espontaneamente; pode haver , contudo, uma pretensão que encontre resistência em sua
observância, situação caracterizadora do conflito .

Diante de tal constatação, faz- se necessária, na busca de pacificação social, a definição clara
sobre QUEM É O TITULAR DO INTERESSE.

Quando um dos envolvidos na relação quer satisfazer seu interesse e não consegue fazê-lo
pela conduta de outrem , surge a pretensão: exigência que a outra parte se sujeite ao
cumprimento do interesse alheio.

A partir de tais conceitos, pode-se chegar à clássica definição de lide apresentada por Francesco
Carnelutti: CONFLITO DE INTERESSES QUALIFICADO POR UMA PRETENSÃO RESISTIDA.
As relações interpessoais são marcadas por insatisfações ( “ estados psíquicos decorrentes da
carência de um bem desejado” ); o conflito seria a “ situação objetiva caracterizada por uma
aspiração e seu estado de não satisfação, independentemente de haver ou não interesses
contrapostos ”.

Como se percebe, há certa tensão envolvida no conflito , e a perspectiva jurídica busca enfrentá-
la a partir da noção de satisfação dos interesses . Satisfazer alguém, contudo , tende a ser algo
mais complexo do que simplesmente lhe apresentar a resposta oferecida pelo ordenamento
jurídico .

Constatada a POTENCIAL OCORRÊNCIA DE SITUAÇÕES CONTROVERSAS, é importante conhecer


os meios disponíveis para abordar os impasses verificados nas relações privadas (que
envolvem , por exemplo, vínculos contratuais).
Embora predominem referências negativas à sua verificação, há quem reconheça no conflito
oportunidades de melhoria que abrem caminhos para mudanças e transformação de
perspectivas.

Alguns aspectos POSITIVOS do conflito: A OCORRÊNCIA DO CONFLITO PREVINE A


ESTAGNAÇÃO, ESTIMULA O INTERESSE E PERMITE A MANIFESTAÇÃO DE PROBLEMAS EM
BUSCA DE SUA SOLUÇÃO, CONSTITUINDO A RAIZ DE MUDANÇAS PESSOAIS E SOCIAIS.
ABORDAGEM CUIDADOSA DAS CONTROVÉRSIAS

É relevante abordar o fenômeno conflituoso de forma abrangente para perceber a melhor


forma de abordá –lo.

No sentido leigo, a palavra conflito retrata choque, enfrentamento , profunda falta de


entendimento , discussão acalorada e contestação recíproca.

Com o nome genérico “ conflito ” sã o referenciadas diversas situações que envolvem tensões
cujos tipos e origens podem em muito variar . Por tal razão, estudiosos do tema vêm refletindo
sobre os variados modos de desenlace e as respectivas estratégias para seu enfrentamento. São
in ú meras as dificuldades inerentes à abordagem dos conflitos, porque aspectos subjetivos (
pessoais e psíquicos) podem bloquear a comunicação e impedir o tratamento eficaz da tem á
tica.

A normatização jurídica da vida em sociedade constitui um tema interdisciplinar por


compreender dimensões filosóficas, históricas, sociológicas, económicas e políticas ( entre
outras.
Em certos processos judiciais que abordam conflitos familiares, o Novo CPC permite a
suspensão do feito para encaminhamento a atendimento multidisciplinar ( Lei n . 13.105/ 2015,
art. 694, parágrafo único).

A mesma iniciativa se verifica no tratamento de conflitos envolvendo violência doméstica ( que


são normalmente referidos ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher) , em
que há obrigatória intervenção da equipe multidisciplinar ( composta , nos termos da Lei, por
profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde) , com funções de
fornecimento de subsídios ao juiz , orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas
voltadas para a mulher ofendida ( arts . 29 e 30 da Lei n. 11.340/ 2006).

É essencial, cada vez mais, arejar o sistema jurídico, gerando oportunidades de diálogo entre
este e as demais disciplinas sociais, abrindo o sistema para a complexidade e para a
interdisciplinaridade.
Sendo cada vez maior o número de transações efetuadas, têm sido potenciados os conflitos
que delas emergem, bem como as formas de sua solução.

O inusitado e crescente aumento das transgressões jurídicas pode ser ainda creditado ao
profundo desequilíbrio dos valores éticos pelo qual passa a humanidade em nossos dias, sendo
praticamente impossível que os quadros judiciários acompanhem o intenso crescimento de
demandas.

Na realidade brasileira, A LITIGIOSIDADE É AGRAVADA POR MÚLTIPLOS FATORES INERENTES ÀS


NOSSAS INSTITUIÇÕES .

O ESTADO É UM GRANDE GERADOR DE CONFLITOS E INSATISFAÇÕES (ESPECIALMENTE NAS


ÁREAS FISCAL E ADMINISTRATIVA).

Além de tais controvérsias, há ainda inúmeras outras nessa sociedade, tão marcada por
contradições sociais, políticas, económicas e regionais do país; a tais fatores se somam
controvérsias intersubjetivas ou coletivas decorrentes da vida em relação travada na
sociedade.
A verificação dessa verdadeira emancipação da cidadania tem gerado uma ampla disposição de
não mais se resignar ante as injustiças, o que acarreta um maior acesso às cortes estatais para
questionar atos lesivos ; tal situação pode ser vista como uma “ SÍNDROME DE LITIGIOSIDADE”.

Em relação à busca de meios que sanem efetivamente as controvérsias, é inegável a evolução


normativa no cenário brasileiro: a Resolução 125/ 201033 do Conselho Nacional de Justi ça
vem exercendo importante papel desde que instituiu a “ Política Judiciária Nacional de
tratamento adequado de conflitos criando melhores bases para o desenvolvimento da
conciliação e da mediaçã o no â mbito judici á rio .

Mais recentemente, o Novo CPC ( Lei n. 13.105/ 2015) e a Lei de Mediação ( Lei n . 13.140/
2015) trouxeram previsões que posicionam com destaque os meios consensuais - instituindo ,
inclusive, a audiência de conciliaçã o ou mediação como etapa essencial do procedimento
comum em ju í zo ( art. 334 da Lei n . 13.105/ 2015 e art. 27 da Lei n. 13.140/ 2015).
UMA NOVA VISÃO TAMBÉM NOS CONFLITOS PENAIS

A nova visão que vem sendo empreendida no tratamento das controvérsias penais por revelar
interessante tendência de mudança de rumos . Mesmo na seara criminal vem - se abordando o
conflito de forma mais abrangente, estimulando-se a adoção de mecanismos apropriados à sua
abordagem e de parâmetros atinentes à justiça restaurativa.

A proposta é que todos os envolvidos no evento danoso possam reconhecer suas responsabilidades
e buscar a melhor maneira de reparar os danos e atender às necessidades dos afetados. Merece
destaque ainda a valorização de institutos consentâneos com a noção de justiça consensual e com o
modelo de processo de estrutura cooperatória, como a transação e a delação premiada, além da a
adoção de medidas despenalizadoras.

A Lei 9.099/95, elaborada com base em tal premissa constitucional, preconiza um novo modelo de
justiça criminal . Tal legislação empreendeu uma verdadeira revolução (jurídica e de mentalidade) no
campo penal ao quebrar a inflexibilidade do clássico princípio da obrigatoriedade da ação penal, ao
prever espaço para o consenso.

Vale ressaltar ainda a contemplação de medidas “ despenalizadoras” , como a composição civil , o


emprego das penas alternativas, a exigência de representação da vítima para lesões corporais ( leves
ou culposas ) e a possível suspensão condicional do processo para crimes de pena mínima não
superior a um ano. Tais previsões, al é m de valorizarem o consenso, sinalizam o uso da prisão como
ultima ratio.
COMPOSIÇÃO, SOLUÇÃO E ABORDAGEM DE CONFLITOS

A ocorrência de conflitos tende a se incrementar em virtude da dinâmica das relações interpessoais ,


cuja variação é intensa nos tempos recentes . Por tal razão , revela -se NECESSÁRIO CONCEBER UM
SISTEMA EFICIENTE PARA O TRATAMENTO DAS CONTROVÉRSIAS que potencialmente hão de surgir.

Embora o conflito seja uma disfunção que reclama tratamento especial (para possibilitar a
satisfação da necessidade das partes ) , h á quem o entenda ‘ como algo útil e necessário, já que
conduz à mudança, à inovação, à modernização e à criatividade, desde que, não suprimido, seja
manejado eficientemente.

Revela - se importante , então, a noção de “TRANSFORMAÇÃO DO CONFLITO ”: sendo a controvérsia


constituída pela percepção da relação vivida, alterar o modo de visualizar os fatos reputados
controvertidos pode gerar uma mudança de comportamento e, com isso, repercutir no andamento
da controvérsia , transformando-a em uma nova experiência.

Importa - nos, portanto, A NOÇÃO DE CONFLITO COMO POSSÍVEL OBJETO DE TRANSFORMAÇÃO,


mudança e, quiçá , evolução do ser humano, razão pela qual sua abordagem deve se dar da forma
mais adequada possível.
Na perspectiva eminentemente jurídica, a doutrina clássica utiliza o termo “ composição” para
abordar as possíveis formas de encaminhamento e tratamento de controvérsias, mencionando
os termos “autocomposição” e “heterocomposição” .

No léxico, a palavra “ COMPOSIÇÃO ” significa ação de constituir um todo , retratando o modo


pelo qual os elementos constituintes do todo se dispõem e integram , configurando uma
organização". No senso jurídico , a palavra composição está sempre relacionada ao litígio .

O processo, assim como a arbitragem, constitui modalidade em que o resultado é definido por
um terceiro, razão pela qual se fala em heterocomposição ( ou heterotutela ).

COMPOR A LIDE É RESOLVER O CONFLITO SEGUNDO A ORDEM JURÍDICA, RESTABELECENDO-A.

A AUTOCOMPOSIÇÃO é regida pela vontade partes que, dentro dos limites da licitude e da
disponibilidade do Direito, são livres para preencher o conteúdo da norma como bem
entenderem, não necessariamente por aplicação direta das previsões legais ao caso concreto.
EXTENSÃO E COMPREENSÃO DOS MEIOS DE COMPOSIÇÃO

AUTOTUTELA

PELA AUTOTUTELA (OU AUTODEFESA) , O INDIVÍDUO RESOLVE O CONFLITO POR SUA PRÓPRIA
FORÇA, AGINDO POR SI PRÓPRIO PARA OBTER UMA POSIÇÃO DE VANTAGEM EM RELAÇÃO À
SITUAÇÃO DESEJADA. Sua prática costuma ser malvista por trazer a ideia de violência e ser
identificada como um resquício de justiça privada.

Sua utilização sempre foi considerada uma alternativa ante a falta de poder do Estado para
definir os conflitos.

Tendo sido a primeira resposta encontrada pelo indivíduo para resolver suas controvérsias, a
autotutela era considerada um instrumento precário e aleatório ; ela não seria apta a garantir
propriamente justiça, mas sim a vitória do mais forte, esperto ou ousado sobre o mais fraco ou
tímido.

A autodefesa constituiria “uma atividade meramente privada, movida por impulsos e


intenções particulares e egoísticos , embora consentidos pelo Estado ” .
No nosso ordenamento jurídico encontramos as seguintes possibilidades da realização da
autotutela:

 Legitima defesa e estado de necessidade


 Autotutela nas obrigações específicas de fazer e não fazer
 Direito de vizinhança
 Direito de retenção
LEGITIMA DEFESA E ESTADO DE NECESSIDADE

Nos termos da lei civil, não constituem atos ilícitos aqueles praticados em legítima defesa, em
exercício regular de um direito reconhecido ou em estado de necessidade.

A previsão expressa a permissão excepcional ao indivíduo de usar a própria força para


preservar a si ou a outrem de agressões alheias nos casos em que a autoridade estatal pode
não chegar a tempo para socorrê- lo.

As hipóteses utilizam, para sua configuração os mesmos parâmetros previstos no âmbito


criminal: injustiça da agressão , reação imediata e proporcionalidade nos meios de defesa.
A autodefesa possessória, instituto tradicional em nosso Direito, vem prevista no art. 1.210, § l,
do Código Civil.

O possuidor lesado pode atuar, direta e imediatamente, para manter sua posse (agindo em
legítima defesa para evitar a invasão) ou para nela se reintegrar ( realizando desforço imediato
se já esbulhado), exigindo a lei, por outro lado , que “ o faça logo ” , vedando a autotutela
quando a reação ao esbulho ou turbação não seja imediata.

A doutrina civilista clássica afirma que tal direito deriva do princípio da legítima defesa.

Não se pode recusar ao possuidor o direito de se defender e sustentar- se na posse, repelindo


pela força as vias de fato que são dirigidas contra a coisa possuída.

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de
esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria
força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do
indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
AUTOTUTELA NAS OBRIGAÇÕES ESPECÍFICAS

Em termos de obrigações de fazer e não fazer, previu o Código Civil que, EM CASO DE
URGÊNCIA, pode o credor, diante de certos descumprimentos, independentemente de
autorização judicial, executar ou mandar executar o fato ou, na hipótese de obrigação de não
fazer, mandar desfazer o ato praticado em seu detrimento.

São duas as razões justificadoras da autotutela nos casos previstos em lei: a impossibilidade de
o Estado- juiz estar presente sempre que um direito esteja sendo violado ( ou prestes a sê-lo )
e a falta de confiança no desprendimento alheio, inspirador de uma possível autocomposição.

O REQUISITO DE URGÊNCIA exigido pelas normas não representa um “ cheque em branco”


para a atuação do credor, porquanto , embora o conceito seja aberto e indeterminado , não
consagra uma liberdade ilimitada.

O juiz ir á aferir se efetivamente a urgência se configurou; ademais, os principios da boa - fé, da


eticidade e do abuso do direito, pressupostos implícitos da autotutela, impregnam todo o
sistema do Código Civil; por fim , a utilização da autotutela corre por risco e conta do credor.
DIREITO DE VIZINHANÇA

Esta abordagem analisa o tema sob o prisma cível; como o corte de árvores envolve outras
searas, será importante que o interessado se informe sobre posturas municipais e regras
ambientais vigentes no local para evitar problemas .

O direito de cortar raízes e ramos de árvores limítrofes que ultrapassam a estrema do prédio é
previsto no Código Civil, no art. 1.283. Pelo teor do dispositivo, percebe-se que o direito de
corte decorre da simples invasão do terreno , não se exigindo prova de lesão ou qualquer
prejuízo.

Dispensa-se a comunicação entre as partes possivelmente porque o legislador considera que a


necessidade de diálogo poderia gerar ainda mais controvérsias; todavia, para obter saídas
apropriadas em termos de respeito e reciprocidade, é recomendável , sempre que possível,
tentar estabelecer conversações para o esclarecimento das condutas empreendidas e de sua
conformidade com a lei e/ ou eventuais decisões administrativas.
DIREITO DE RETENÇÃO

O direito de retenção ( ius retentionis ) constitui meio direto de defesa concedido pela lei para
que o titular da relação jurídica possa se opor à restituição de um bem até receber a
contraprestação que lhe é devida.

Tal direito é previsto em diversas relações jurídicas; no Código Civil, há previsões referentes, por
exemplo, à locação , ao depósito , ao mandato e ao transporte e à posse. Além dos casos
previstos na lei, a jurisprudência vem reconhecendo o direito de retenção em outras
circunstâncias ( como em favor do empreiteiro construtor , do locatário contra o locador e em
favor do artífice, fabricante e daquele que faz reparos na coisa ).

Pode- se concluir que as modalidades de autotutela existentes são aptas a possibilitar uma
definição imediata em casos específicos que não podem aguardar o recurso aos órgãos
judiciários sem prejuízo da continuidade de certas situações ou relações jurídicas
AUTOCOMPOSIÇÃO (MEIOS CONSENSUAIS)
A possibilidade de que as partes resolvam, isoladamente ou em conjunto, uma saída para o
conflito encerra a hipótese de autocomposição.

 Autocomposição unilateral
 Autocomposição bilateral

Em tal caso, a solução do conflito contará com a vontade de uma ou ambas as partes para que
se verifique, INEXISTINDO A PARTICIPAÇÃO DE UM TERCEIRO COM PODER DECISÓRIO PARA
DEFINIR O IMPASSE.

Quanto às soluções pacíficas encaminhadas pelas próprias partes, ressalta-se que as partes
podem, adotar como modalidades:
a) a solução “ moral” , em que os antagonistas se conformam em limitar seu interesse, inclusive
renunciando a ele;
b) a solução contratual, em que ambos se entendem e convencionam a composição do conflito
c) a solução arbitral, em que as partes confiam a um terceiro a função de resolver o
desencontro de seus interesses.

Nenhuma de tais soluções é estável ou definitiva, podendo haver o renascimento do conflito;


por tal razão, manifesta preferência pela solução jurisdicional.
DISPONIBILIDADE DO DIREITO MATERIAL

Ao se afirmar , na seara cível, que alguém pode dispor de certo direito, indica -se que a parte
tem liberdade de, por sua nica e exclusiva vontade, usá-lo ou não.

Conceitua-se o DIREITO DISPONÍVEL como aquele que pode ou não ser exercido por seu titular,
não existindo norma cogente a impor o cumprimento do preceito sob pena de nulidade ou
anulabilidade do ato praticado com sua infringência.

CONSIDERAM-SE DISPONÍVEIS OS BENS QUE PODEM SER LIVREMENTE ALIENADOS OU


NEGOCIADOS POR SE ENCONTRAREM DESEMBARAÇADOS, DISPONDO O ALIENANTE DE PLENA
CAPACIDADE JURÍDICA PARA TANTO.
De forma tradicional, associa -se a disponibilidade do Direito ao seu caráter patrimonial
(pecuniário).

Em sentido genérico, todos os direitos podem ser considerados suscetíveis de transação, quer
quanto às suas modalidades, quer quanto à sua validade ou à sua extensão ; tudo o que se
requer é que se trate de um objeto física e juridicamente apto a constituir objeto de contrato ,
devendo ainda ser certo, determinado e preciso.

Havendo, portanto, poder de disposição do titular do direito, nada obsta a verificação da


autocomposição no campo de família, patrimonial, obrigacional ou outro ramo.

Apesar de tal ampla noção, sempre houve certa resistência doutrinária em considerar a
possibilidade de transação quando a causa versasse sobre relações jurídicas em que seu objeto
fosse considerado personalíssimo e/ ou de significativo relevo público.

Assim, tradicionalmente se considerou que temas afeitos aos direitos de personalidade


(envolvidos, por exemplo, em ações de estado), coisas fora do comércio e muitos temas
relativos ao Direito de família não pudessem ser objeto de transação
Mesmo quando o interesse é indisponível (como o direito a alimentos) , o efeito pecuniário da
sentença condenatória pode, não obstante, ser objeto de transação entre as partes (o que
ocorre frequentemente).

Também em ações de estado (como o divórcio) e nas causas relativas a interesses de incapazes
(como a guarda de filhos) é possível que as partes se conscientizem sobre direitos e obrigações
recíprocas e celebrem acordos válidos.

Exemplo disso é que o pai pode reconhecer voluntariamente o vínculo de filiação em ato de
autocomposição unilateral .

Percebe -se, assim , que também no Direito de Família é possível conceber a autocomposição,
seja ela unilateral por reconhecimento jurídico do pedido ou renúncia ( em certos casos), seja
por autocomposição bilateral por força da realização de acordos.

É IMPORTANTE RESSALTAR QUE A “INDISPONIBILIDADE” DE UM DIREITO NÃO SIGNIFICA


EXIGÊNCIA DE SUA NECESSÁRIA DISCUSSÃO EM JUÍZO .
DISPONIBILIDADE PROCESSUAL

Na perspectiva do direito de ação, ante a proibição estatal genérica da autotutela , o Estado conferiu
ao indivíduo a disponibilidade ( positiva ) de acessar e ( negativa ) de não acessar o Poder Judiciário;
em tal medida, pode-se conceber O DIREITO DE AÇÃO COMO O PRINCÍPIO ATIVO DA
DISPONIBILIDADE.

Pelo princípio da disponibilidade processual (da tutela jurisdicional), cabe às partes, em manifestação
do poder de dispor de seus direitos , tanto iniciar o processo como suspendê-lo ou extingui-lo ( por
meio de institutos como a renúncia ou a desistência). Tal princípio só encontra restrições em sua
aplicação se a demanda versar sobre direitos indisponíveis.

Percebe-se, assim , que o Direito processual se preocupa em assegurar a tutela adequada do Direito
material, evitando manipulações e burlas quanto a temas de interesse público relevante .

Cumpre anotar que o Novo CPC é permeado por previsões que permitem às partes dispor, dentro de
certos limites, sobre o procedimento judicial, o que constitui uma relativa novidade em nosso
sistema. Exemplos disso são a possibilidade de escolha consensual do perito judicial pelas partes, a
convenção sobre ônus da prova e a convenção sobre as normas processuais que regerão o processo .

Há , ainda , previsão genérica inovadora sobre a possibilidade de que as partes celebrem “ negócios
jurídicos processuais ” para convencionar sobre regras processuais relativas aos litígios em que o
direito admita autocomposição.
A previsão de negócios jurídicos processuais insere-se no dever de “buscar um processo
efetivamente democrático , em que convivam os poderes do juiz e a autonomia das partes,
sempre balizados pela conformação constitucional dos direitos fundamentais” .

Tratando-se de convenção sobre normas processuais, pressupõe-se que as partes estejam em


condições razoáveis de igualdade para negociar em termos de informação, técnica, organização
e poder econômico.

Os institutos relativos à autocomposição unilateral permitem o exercício da disponibilidade


quanto à posição processual. Por implicar renúncia à tutela jurisdicional, exigem, em sua análise,
verificação apurada do efetivo consentimento na manifestação da vontade.
AUTOCOMPOSIÇÃO UNILATERAL

A autocomposição será unilateral QUANDO DEPENDER DE ATO A SER PRATICADO


EXCLUSIVAMENTE POR UMA DAS PARTES EM SUA SEARA DE DISPONIBILIDADE;

O interessado terá os seguintes atos de autocomposição unilateral par serem realizados:


renúncia, desistência ou reconhecimento jurídico do pedido .

Tais condutas têm conteúdo abdicativo; como implicam em concessões ou sacrifícios realizados
exclusivamente pelas partes, carecem de reciprocidade.

 RENUNCIA

A renúncia é ato unilateral em que o envolvido na relação jurídica ABRE MÃO DO DIREITO
MATERIAL A QUE PODE ( OU PODERIA ) FAZER JUS.

O fenômeno pode se manifestar tanto no plano material como no processual; na seara material,
a renúncia pode ter vários significados, conforme o campo do Direito em que atue, constituindo
abandono no contexto dos direitos reais e remissão no Direito creditório.
No aspecto processual , a renúncia é prevista como hipótese de EXTINÇÃO DO PROCESSO COM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO, implicando uma acomodação da parte quanto à inexistência de
vontade de exercer a posição jurídica.

Como regra, independe da anuência da parte contrária. Para a validade da renúncia, são
exigidos requisitos objetivos e subjetivos: o objeto deve ser renunciável e os renunciantes
devem ser dotados de capacidade para exercer tal ato jurídico. A inadmissibilidade da renúncia
est á ligada à indisponibilidade do direito em questão .

No Código de Processo Civil, o tema da indisponibilidade aparece em certos contextos: na não


aplicação do efeito da revelia; no tratamento do ônus da prova e na inadmissibilidade da
confissão em certos casos.

Constata-se, assim, que o conceito de indisponibilidade não é propriamente processual, mas


material. No processo civil, o poder dispositivo tem grande amplitude, sendo quase absoluto, à
mercê da natureza do Direito material em questão . Suas limitações, em realidade, ocorrerão em
virtude do Direito material considerado indisponível caso prevaleça o interesse público sobre o
privado.

Por igual, direitos que se referem às bases econômica, política ou organizacional da vida em
sua finalidade social são indisponíveis Eis por que é a interpretação do caso concreto que pode
conduzir à conclusão sobre sua indisponibilidade ou não.
 DESISTÊNCIA

Proposta a demanda, pode o autor, COM BASE NO PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE


PROCESSUAL, DESISTIR DO PROCESSO E ABDICAR DA POSIÇÃO PROCESSUAL ASSUMIDA APÓS
O AJUIZAMENTO DA CAUSA.

Cabe destacar, porém, a vedação da desistência em ações que versem sobre interesses
indisponíveis, como as demandas com causas de pedir de índole criminal e relativas à
improbidade administrativa.

Também merece realce a situação da desistência na ação popular , em que há possibilidade de


que um terceiro ou o Ministério Público, pela relevância do interesse protegido , assuma o
polo ativo da ação, prosseguindo o processo.

Nos casos em que é possível ( entre os quais se incluem os litígios civis) , a desistência pode se
operar antes da sentença ou a qualquer tempo no processo . Fala -se em desistência da ação
quando o autor manifesta o intuito de não prosseguir na demanda, peticionando ao juízo em
prol de seu término .

O processo será então EXTINTO SEM APRECIAÇÃO DO MÉRITO , sendo possível ao autor
propor novamente a demanda.
A desistência do processo é livre até a citação do demandado, bastando ao autor requerê- la .

Tendo, porém, sido o réu integrado à relação jurídica e já estando em curso o prazo de
resposta, é necessário que ele seja consultado sobre o pedido de desistência do autor; o
pleito, aliás, só será acolhido ante a concordância " .

Justifica - se tal previsão pelo fato de que o réu também tem direito ao prosseguimento do
feito para que a pretensão seja apreciada em seu mérito, encerrando de forma definitiva o
questionamento quando do trânsito em julgado da decisão de improcedência e imunizando - a
contra outras proposituras .

O esgotamento do prazo para a resposta ou a apresentação desta, antes de vencido o prazo,


torna inadmissível a desistência da ação por simples manifestação de vontade do autor; ser á
indispensável, então, a anuência do réu, não podendo tal consentimento ser suprido pelo juiz.
 RECONHECIMENTO JURÍDICO DO PEDIDO

Por tal conduta, o réu admite a procedência da pretensão deduzida pelo autor .

Praticado pelo réu o reconhecimento jurídico do pedido, cumprirá ao juiz verificar a


admissibilidade de tal ato com base em dois critérios : disponibilidade do direito e capacidade
de quem manifesta a vontade .

Quanto à forma de realização, não há exigência formal, podendo o reconhecimento se verificar


nos autos por manifestação da própria parte ou de seu advogado (com poderes para tanto ) ou
em documento extrajudicial; o que importa é que o ato seja inequívoco.

O reconhecimento jurídico do pedido implica excluir a composição jurisdicional da lide, visto


que o processo se encerra pelo fato de um dos litigantes concordar que o outro tem razão.

A partir do momento em que o réu reconhece a procedência da pretensão do autor , ocorre


uma reorganização da situação controvertida , que se estrutura em novas bases . Afinal, ambos
os envolvidos concordam sobre a titularidade da posição jurídica, verificando-se verdadeira
autocomposição.

Nesse cenário , é importante que haja atividade jurisdicional para homologar o resultado final,
verificados os requisitos descritos.
NEGOCIAÇÃO
A negociação (autocomposição bilateral – conta com a participação do
envolvidos na situação controvertida) é o melhor dos métodos para a
solução de conflitos, pois é através dela que as partes chegam a uma
solução satisfatória, por meio da autocomposição, sem qualquer
participação de terceiros no conflito instaurado, ao contrário da mediação e
da arbitragem onde as soluções sempre dependem da intervenção
obrigatória de terceiros.

Deve, portanto, ser o método privilegiado para fins de solução de litígios de


natureza trabalhista e sindical, tal qual ocorre na celebração dos Acordos e
Contratos Coletivos de Trabalho, obtidos mediante negociação direta entre as
partes envolvidas.
NEGOCIAÇÃO
Uma das principais vantagens da autocomposição é, sem sombra de dúvida, a
sua efetividade como mecanismo de pacificação social.

Na medida em que o acordo é resultado da atuação conjunta e direta das


próprias partes envolvidas no litígio, o comprometimento com o seu efetivo
cumprimento tende a ser maior, já que, em termos psicológicos já se deu a
aceitação da solução dada, processo interno que ainda precisa ser elaborado
quando há determinação imposta por sentença judicial.
NEGOCIAÇÃO
A autocomposição pode ser feita a qualquer tempo. Quando ainda não
existe ação em andamento, basta que requeiram a homologação de acordo
extrajudicial ao juízo que seria o competente para apreciar a matéria (art. 57
da Lei n. 9.099/95).

Quando já em curso ação, a autocomposição pode ocorrer em audiência de


conciliação com a intermediação do juiz ou de conciliador - ou por meio de
simples petição a ser juntada nos autos.

O acordo homologado pelo juiz tem a mesma força executiva que a sentença,
de maneira que, em caso de descumprimento, prossegue-se na forma de
execução, dependendo o procedimento da obrigação assumida.
NEGOCIAÇÃO
AUTOCOMPOSIÇÃO BILATERAL

A autocomposição ser a bilateral QUANDO CONTAR COM A PARTICIPAÇÃO DOS ENVOLVIDOS


NA SITUAÇÃO CONTROVERTIDA.

Quando encaminham a composição por si mesmas, estabelecendo tratativas diretas sem a


intermediação de um terceiro, as partes encerram uma negociação.

Ocorre, porém, que nem sempre os envolvidos no conflito conseguem se comunicar com
eficiência; nesse cenário, valer- se da participação o de uma PESSOA ISENTA para promover
um diálogo proveitoso pode ser uma saída inteligente e produtiva.

Nas vias consensuais, a definição do conflito não é imposta pelo terceiro imparcial, mas
construída conjuntamente pelos envolvidos na controvérsia, que reorganizam suas posições .

Quando as partes se compõem e definem , em conjunto, o destino da pretensão, pactuam um


acordo .
Como exemplo, considere a disputa entre locador e locatário pelo valor do aluguel. Em vez de
disputarem simplesmente com base em números, pode ser construída uma resposta conjunta
contemplando melhorias no imóvel e considerando abonos e/ ou adiamento do reajuste .
Nesse ponto, começa a surgir uma inconsistência na associação entre “ solução negociada ” e “
transação” : é possível negociar fazendo “concessões recíprocas”, mas também é possível
negociar sem fazer concessões .

Em outras palavras, mesmo que as partes se afastem das posições inicialmente assumidas ( ou
que absolutamente não assumam posições), “ cedendo”, assim, em suas posições, seus
interesses subjacentes podem restar atendidos sem ser necessário comprometer o interesse
alheio.

Para a obtenção de situações de vantagem, AS PESSOAS PODEM REALIZAR, DIRETAMENTE


ENTRE SI, ATIVIDADES DE NEGOCIAÇÃO OU SE VALEREM DA ATUAÇÃO DE UM TERCEIRO
IMPARCIAL FACILITADOR.
AUTOCOMPOSIÇÃO BILATERAL MEDIANTE NEGOCIAÇÃO

Os envolvidos na relação ou situação jurídica podem reorganizar suas posições, obtendo, após
atividade de negociação, saída (s) para o impasse .

Pela negociação os sujeitos em conflito podem , sem a intervenção de outrem, alcançar uma
solução para o assunto suscitado, comunicando- se entre si e expondo seus benefícios.

A NEGOCIAÇÃO PODE SER ENTENDIDA COMO A COMUNICAÇÃO ESTABELECIDA DIRETAMENTE


PELOS ENVOLVIDOS, COM AVANÇOS E RETROCESSOS, EM BUSCA DE UM ACORDO; trata -se do
mais fluido, básico e elementar meio de resolver controvérsias, sendo também o menos
custoso .

Em certo sentido, a negociação é o processo de comunicação em que duas ou mais pessoas


decidem sobre a distribuição de valores escassos; em outras palavras, NEGOCIA - SE PARA SE
OBTER COM O OUTRO AQUILO QUE SOZINHO NÃO SE OBTERIA.
Mecanismos tradicionais como a força, o poder e a autoridade vêm perdendo espaço no
mundo contemporâneo e cedendo lugar a métodos negociais; afinal, cada vez mais se tem
consciência da necessidade de “ obter o consentimento da outra parte como método
construtivo e de resultados duradouros para a produção de contratos e resolução de
controvérsias” .

A vantagem da negociação direta é notória: por ser um método personalíssimo, ela “ preserva
a autoria e a autenticidade dos negociadores na solução dos próprios conflitos, não existindo
nada mais adequado e duradouro do que uma solução autonegociada”.

Pela dificuldade de executar decisões impostas por outrem, vem crescendo o reconhecimento
de que A PERSUASÃO é um elemento importante para alcançar o efetivo cumprimento dos
pactos ao ensejar seu cumprimento espontâneo (ainda que obtido depois de intensas
negociações).

O conceito de persuasão está intimamente ligado com crença e convicção, convencimento


porque persuadir alguém significa fazer com que essa pessoa acredite ou aceite uma
determinada ideia.
Baseados no Projeto de Negociação de Harvard, Roger Fisher , William Ury e Bruce Patton, em
sua obra Como chegar ao sim: a negociação de acordos sem concessões, destacam importantes
fatores a serem desenvolvidos para a obtenção de acordos sensatos que atendam aos legítimos
interesses das partes - na medida do possível -, resolvendo imparcialmente os interesses
conflitantes, com durabilidade, e considerando os interesses da comunidade.

Informam os autores serem PRINCÍPIOS IMPORTANTES NO MÉTODO DE NEGOCIAÇÃO :

 não negociar sobre posições (geralmente fechadas) , mas considerar os interesses ;


 separar as pessoas dos problemas (tratando o outro sempre com respeito, confiança e
consideração);
 fixar-se nos reais interesses envolvidos (desejos e preocupações) e não nas posições formais
adotadas (de rigidez ou conduta fechada);
 imaginar, criativamente, opções alternativas, com ganhos recíprocos.
A teoria de Harvard contrasta a figura do NEGOCIADOR COMPETITIVO - preocupado em “
vencer” a negociação pela intimidação, com maior vantagem/melhor preço, e a preocupação
de captar para si todo o valor disponível na mesa de negociação, no enfoque “ ganha - perde ”

- com a figura do NEGOCIADOR COOPERATIVO , baseado em princípios, que busca o “ ganha -


ganha ” ; longe de ser ingênuo , o negociador cooperativo é preparado para lidar com batalhas
de distribuição, mantendo- se atento à possibilidade de soluções inovadoras, à criação de valor
e à manutenção o de relacionamentos.
Um exemplo simples demonstra a noção de negociação baseada em interesses:

Dois homens, sentados na mesa de uma biblioteca, não conseguem entrar em acordo sobre se
a janela acima da mesa deve ficar aberta ou fechada. Em vez de discutir a validade de suas
posições, seria importante que cada um deflagrasse o motivo pelo qual assume a sua. O
homem que quer a janela aberta deseja ar fresco; o que a quer fechada visa evitar uma
corrente de vento. De posse de tais informações, seria possível chegar a uma solução: abrir a
janela de uma sala vizinha. Tal saída atenderia aos interesses das duas partes - mas isso não
teria sido possível se as partes simplesmente tivessem continuado a negociar em função de
suas posições fechadas.
Os interesses são as necessidades, os desejos e os medos que compõem a preocupação ou
vontade de alguém; eles permeiam a “ posição” , que compreende os itens tangíveis que
alguém diz querer.

A postura de buscar o real interesse envolvido, busca um eficiente negociador , possibilita a


REORGANIZAÇÃO DAS POSIÇÕES DOS ENVOLVIDOS e abre o leque de possibilidades de
encontrar saí das eficientes e satisfatórias para o impasse .

A valorização da negociação como instrumento idôneo de tratamento de conflitos revela a


tendência de mudança de paradigmas (é a representação de um padrão a ser seguido), com a
diminuição do enfoque “ganhar- perder”( baseado no antagonismo) e o crescimento do
enfoque cooperativo, baseado na satisfação de interesses; a proposta é que A NEGOCIAÇÃO
VENHA A FORTALECER OS VÍNCULOS INTERPESSOAIS.
A negociação se dá em diversos setores nas interações humanas.

No sistema jurídico brasileiro há vários mecanismos que buscam incentivar a comunicação


entre as partes para que elas encetem a composição do conflito negociando uma saída
consensual.

No contexto das ações coletivas, h á tempos vê m sendo estimulados contatos entre as partes
para que busquem uma saída combinada para o impasse . A realização de acordos, termos de
ajustamento de conduta e compromissos preliminares pelos legitimados à ação coletiva
revela a mitigação do princípio da indisponibilidade e representa a possibilidade de
composição amigável para viabilizar a reconstituição dos direitos e interesses lesados.

Como bem esclarece Hugo Nigro Mazzilli, o órgão público legitimado à ação coletiva pode
firmar acordo ou celebrar termo de ajustamento de conduta (TAC) - o que representa que, no
tocante aos interesses transindividuais em geral , o legislador fez concessões, permitindo a
composição extrajudicial da lide. Em tais casos, será gerado título executivo extrajudicial.
A celebração de tais instrumentos poupa, de forma salutar, o penoso processo de
conhecimento .

O termo de ajustamento de conduta revela -se altamente eficiente para resolver e prevenir
“conflitos de grande transcendência, que de outro modo ensejariam ações de trâmite
demorado, de forte impacto sobre os agentes envolvidos e até sobre a própria sociedade como
um todo ”.

Há ainda inúmeras outras VANTAGENS NOS AJUSTES DE CONDUTA: “ assunção voluntária de


direitos e obrigações; aprendizagem de direitos e deveres; preservação da imagem da empresa
e sua marca; custos; prazo de celebração e cumprimento; qualidade do pacto impondo - se à
qualidade da sentença ” .
Percebe- se, assim, a crescente valorização da negociação como mecanismo eficiente para
domar resistências e convencer os envolvidos sobre a adequação da composição do conflito
em bases consensuais.

Sua realização, em regra, exige o estabelecimento de contato entre as partes, que devem estar
dispostas a se comunicar de forma eficiente e aberta.

Deve ser mencionada, portanto, a tendência de prestigiar a realização do acordo em amplos


termos, não só fora, mas também na esfera judicial.

O acordo pode ser obtido em um procedimento de intensas negociações, emprestando - lhe o


sistema jurídico, após a homologação judicial , a configuração de título executivo judicial.
Percebe-se, portanto , o forte est í mulo dado pelo ordenamento à realização de atos negociais.
FUNDAMENTOS DA NEGOCIAÇÃO
Se a mediação é amplamente definida como uma NEGOCIAÇÃO ASSISTIDA POR UM TERCEIRO,
alguns fundamentos da negociação se mostram essenciais em um treinamento de técnicas e
habilidades de mediação.

A abordagem principal na teoria da negociação utilizada na mediação consiste em apresentar


algumas ESTRUTURAS DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS que podem ser utilizadas pelo
mediador durante o processo autocompositivo.

A proposta dessa teoria de negociação consiste em abandonar, quando possível, formas mais
rudimentares de negociação, como a chamada “NEGOCIAÇÃO POSICIONAL”, a fim de se
buscar resultados mais satisfatórios aos interesses das partes em negociação.

A negociação consiste em uma comunicação voltada à persuasão.

A negociação posicional, por sua vez, consiste naquela cujos negociadores se tratam como
oponentes, o que implica pensar na negociação em termos de um ganhar e outro perder (em
que quanto mais um ganha mais o outro perde). Dessa forma, em vez de abordar os méritos da
questão, o papel do negociador parece ser pressionar ao máximo e ceder o mínimo possível.
De fato, quando se negocia com posições (e.g.um oferece pagar R$ 10.000,00 enquanto o
outro somente aceita receber R$ 15.000,00) o negociador tende a se trancar nesta posição –
quanto mais se justifica uma posição e se tenta enfraquecer a da outra parte mais se está
comprometido com sua posição original.

A NEGOCIAÇÃO POSICIONAL incentiva o obstáculo ao entendimento e ao acordo, pois na


negociação posicional tenta-se melhorar as chances de um acordo favorável iniciando-se a
negociação com posições extremadas, ou de forma intransigente, mantendo-se preso a uma
posição, ou induzindo em erro a outra parte quanto a seus interesses e perspectivas, ou
deferindo pequenas concessões apenas para que a negociação continue.
A negociação posicional pode se tornar uma prova de determinação dos negociadores cuja raiva
e o ressentimento frequentemente proporcionam prejuízo na relação social dos envolvidos,
pois uma parte sente-se cedendo à intransigência da outra enquanto suas legítimas
preocupações permanecem desatendidas.

Nesse contexto, tem-se a chamada “NEGOCIAÇÃO BASEADA EM PRINCÍPIOS” OU


“NEGOCIAÇÃO BASEADA EM MÉRITOS” sugerindo que, para a obtenção da negociação de
resultados sensatos e justos (com a vantagem de evitar a deterioração do relacionamento
entre as pessoas) faz-se necessário que se abordem os interesses reais dos envolvidos (e não
suas posições).

A negociação baseada em princípios tem como principal obra o livro Como chegar ao Sim, de
Roger Fisher e William Ury. Nesse livro são separados quatro pontos fundamentais da
negociação baseada em princípios, quais sejam:
1) separação das pessoas do problema;
2) foco nos interesses e não em posições;
3) geração de opções de ganhos mútuos; e
4) utilização de critérios objetivos.
SEPARAR AS PESSOAS DO PROBLEMA

A técnica de separar as pessoas do problema, sugere que o revide em uma discussão não
encaminhará a questão para uma solução satisfatória para as duas partes. No entanto, mesmo
sabendo disso, muitos encontram dificuldade em ouvir de forma atenta o debatedor,
reconhecendo os seus sentimentos e estabelecendo uma comunicação ativa que possa conduzir
à colaboração.

As emoções frequentemente se misturam com o méritos da negociação. Assim, antes de


presumir que as pessoas envolvidas façam parte do problema a ser abordado, recomenda-se
que os envolvidos assumam uma postura de “atacar” os méritos da negociação, lado a lado, e
não os negociadores.

Exemplo: Alguém poderia iniciar uma negociação exigindo que seu vizinho se mude, pois sua
falta de educação está prejudicando toda a vizinhança; ou poderia iniciar a negociação
conversando sobre algumas práticas de vizinhança – como colocar o lixo em latões ou cestos
suspensos – como forma de padronizar condutas na vizinhança. Ao se estabelecer que o
“problema é o vizinho” o negociador dificulta significativamente sua comunicação.
FOCO NOS INTERESSES E NÃO EM POSIÇÕES

O segundo ponto fundamental da negociação baseada em princípios foi concebido para


superar as barreiras que se formam quando a negociação se fixa exclusivamente nas posições
manifestadas pelas partes. Isso porque a posição manifestada muitas vezes não indica os
verdadeiros interesses daquele negociador.

Encontrar o ponto médio entre posições também pode não produzir um acordo que
efetivamente abordará os verdadeiros interesses que impulsionaram os negociadores a
apresentarem suas respectivas posições.

Exemplo: Alguém poderia iniciar uma negociação exigindo que o vizinho compre uma cesta
suspensa para lixo ou poderia iniciar a negociação indicando que ambos têm o interesse de
relações harmônicas de vizinhança e boa aparência da rua com o acondicionamento apropriado
do lixo.
GERAÇÃO DE OPÇÕES DE GANHOS MÚTUOS

Um dos princípios básicos da negociação baseada em princípios consiste na geração de uma


variedade de possibilidades antes de se decidir qual solução será adotada.

Naturalmente, sob pressão, muitos negociadores encontram dificuldades de encontrar


soluções eficientes especificamente em razão do envolvimento emocional.

A busca de uma única solução, especialmente diante de um adversário, tende a reduzir a


perspectiva de uma solução aceitável.

Uma das formas de endereçar essas restrições emocionais na negociação consiste em separar
tempo para a geração de elevado número de opções de ganho mútuo que abordem os
interesses comuns e criativamente reconciliem interesses divergentes.
UTILIZAÇÃO DE CRITÉRIOS OBJETIVOS

O último ponto fundamental da negociação baseada em princípios consiste na utilização de


padrões objetivos como tabelas de preços de veículos usados, valores médios de metro
quadrado construído, ou índices de correção monetária.

A proposta de debater critérios objetivos em vez de posições favorece a despersonificação do


conflito (ideia de que o conflito existe por culpa da outra parte).
TIPOS DE NEGOCIAÇÃO
NEGOCIAÇÃO DISTRIBUTIVA

Dentre as diversas classificações de tipos de negociação possivelmente a que mais se destaca


consiste naquela que diferencia a negociação distributiva da integrativa.

A NEGOCIAÇÃO DISTRIBUTIVA consiste naquela na qual os envolvidos já se engajam


determinados a maximizar a obtenção de um elemento fixo, sendo que inevitavelmente a
vantagem de um lado implica na desvantagem para o outro.

A meta dos envolvidos se restringe a barganha, buscando sempre mais. Predomina a lógica
da escassez, dado que o elemento em disputa é considerado limitado.

A dinâmica de “cabo de guerra” ilustra bem a dinâmica desse tipo de negociação.


Por outro lado, a NEGOCIAÇÃO INTEGRATIVA consiste naquela em que primeiro se busca
compreender interesses dos envolvidos para então, criando opções, atendê-los de maneira
simultaneamente proveitosa.

Predomina a lógica da presunção de abundância, confiando-se na criação de valor como forma


de atender os interesses dos envolvidos sem que a vantagem de um signifique a desvantagem
do outro.

A flexibilidade deste tipo de negociação consiste no FOCO DADO A INTERESSES EM


DETRIMENTO DE UM POSICIONAMENTO FIXO, sendo que os interesses podem ser atendidos
de diversas formas.

Na prática, os tipos não são perfeitos, os recursos realmente são muitas vezes limitados e mais
do que se imagina há possibilidades de criação de valor. Isso deve servir de panorama para o
negociador, que trabalhará constantemente com os dois tipos de negociação.
A negociação distributiva é a que estamos culturalmente acostumados, mas como será
examinado a seguir, a negociação integrativa pode ser muito utilizada especialmente em
mediações.

Um exemplo de negociação distributiva consiste na relação de compra e venda. Nela, o


vendedor busca vender ao maior preço, enquanto o comprador busca o maior desconto. O
preço do produto é o único parâmetro da negociação. Implicitamente, o que ocorre é um
“empurra-empurra”, em que quem tem maior poder de pressionar acaba por fazendo o outro
lado ceder.

Ainda, na negociação distributiva, “relacionamento” e “reputação”, em regra, não são fatores


frequentemente levados em conta. Ou seja, não se considera muitas vezes a possibilidade dos
envolvidos negociarem novamente no futuro, ou uma busca mútua por senso de justiça,
fortalecendo o respeito recíproco. Nota-se que a ação é pautada apenas pela visão das
circunstâncias imediatas. Nesse contexto, a informação tem um papel fundamental.

Quanto menos A sabe dos interesses e fraquezas de B, melhor para B. E quanto mais A sabe
(ou imagina saber) do poder de B, melhor para A. Em outras palavras, os envolvidos devem
ser cautelosos com a liberação de informação, pois a depender do teor, poderá ser usada
contra si. O distanciamento e desconfiança são usualmente estimulados como prática.
Exemplo: Imagine-se o processo de venda de um veículo. Após uma pesquisa em publicações
especializadas e nos classificados dos jornais, o vendedor verifica que o valor médio de
mercado para um veículo como o seu está entre 28 e 31 mil reais.

Ele publica um anúncio em um site especializado e recebe uma ligação de um possível


comprador.

Começa, então, a dinâmica da negociação (a princípio, distributiva). O comprador pergunta


pelo preço do veículo. O vendedor responde que está ofertando por R$ 32.500,00 (sua oferta
inicial ou oferta de abertura). O comprador responde que está um pouco caro mas irá ver o
carro apenas para desencargo de consciência -este discurso visa verificar qual a disposição do
vendedor de aceitar uma oferta mais baixa.

Após examinar por alguns minutos o carro por dentro e por fora, o comprador oferece
R$29.000,00 em dinheiro (oferta inicial do comprador). Até este ponto, podemos identificar
dois elementos da barganha distributiva: oferta inicial de A e oferta inicial de B. Tais ofertas
são apresentadas na negociação como meios de iniciar um processo de persuasão.
Todavia, antes de anunciar o seu carro o vendedor planejou que não o alienaria por menos de 29 mil reais
(seu preço ou valor de reserva). Essa referência funciona como uma balisa mental que autolimita o
vendedor para que não venda abaixo um paramêtro mínimo.

O comprador, por sua vez, também pode ter estabelecido um limite: após verificar a tabela de preços de
mercado estabeleceu como seu preço de reserva a quantia de R$ 31.000,00.

A regra em negociações não se deve revelar o preço de reserva sob pena de se enfraquecer
substancialmente o poder de negociação. Frequentemente, as partes também estabelecem um valor
considerado desejável para se chegar a um acordo chamado ponto alvo (ou valor desejado).

Na hipótese acima indicada, vender o carro por R$ 31.500,00 seria o desejável ao vendedor e este irá se
esforçar para se aproximar o mais próximo possível desse valor. O comprador também pode ter
estabelecido o seu valor desejado: R$28.000,00. Neste caso, ao afastarem-se desses valores
(exemplificativamente por meio de uma negociação em que chegam a um ponto intermediário como
R$ 30.750,00) ambos tenderão a sair ao menos parcialmente insatisfeito -pois construíram uma
expectativa de que determinado valor seria “um bom valor” ou “um valor justo”. Mostra-se
recomendável, utilizarem-se critérios objetivos para romper a percepção de que ambos perderam ao
menos parcialmente.

No exemplo acima apresentado, como os valores de reserva encontram-se separados por valores em razão
dos quais ambos estariam dispostos a acordar afirma-se que há uma Zona de Possível de Acordo (ZOPA). o
citado exemplo apresenta uma ZOPA entre R$ 29.000,00 e R$ 31.000,00.
NEGOCIAÇÃO INTEGRATIVA
O objetivo neste tipo de negociação CONSISTE EM FAZER QUE AS PARTES COMPREENDAM OS
INTERESSES DE AMBOS, PARA ENTÃO GERAR OPÇÕES E ESCOLHER UMA SOLUÇÃO QUE GERE
GANHOS MÚTUOS.

Os ganhos mútuos surgem a partir da noção de que as partes podem oferecer umas às outras
vantagens que até então não foram consideradas.

Para criar valor, o compartilhamento de informações mostra-se necessário para este tipo de
negociação. Nota-se, portanto, uma lógica diametralmente oposta da distributiva, em que os
lados vêem vulnerabilidade nesse comportamento, assumindo de antemão uma postura
defensiva.

Outro aspecto levado em conta nesse tipo de negociação é a expectativa que os envolvidos
têm de negociar novamente, ou seja, suas ações terão em vista um futuro comum ao invés de
uma disputa ocasional.

A reputação está também relacionada a isso, pois é um incentivo aos envolvidos agirem de
boa-fé, criando respeito mútuo, de maneira a consolidar um contexto propício para novas
negociações.
CAMINHOS PARA UMA NEGOCIAÇÃO INTEGRATIVA

A negociação integrativa prevê roteiro que envolve entre outras ações:


 o fornecimento de informação sobre as circunstâncias;
 a explicação do motivo de se querer fazer negócio, falando dos interesses abertamente;
 a explicação das preferências nos assuntos e opções;
 a consideração dos recursos e capacidades que podem ser interessantes a outra parte e
agregados no negócio e a partir da informação compartilhada;
 a busca de opções que atendam às partes na melhor forma.
Percebe-se como o aspecto central do diálogo é valorizado nessa forma.

O PARADOXO DO NEGOCIADOR

Alguns críticos da negociação baseada em princípios sugerem que esta abordagem seria muito
“suave”. Isto porque toda negociação, em alguma medida, tem seu caráter competitivo e
simultaneamente colaborativo. Atento a isso, o negociador deve saber quando adotará uma
ou outra atitude, sendo essa habilidade determinante na sua competência.

A escolha da estratégia a ser adotada não se mostra necessariamente fácil, e levará em conta
um equilíbrio das posturas. Ainda que a noção de “ganha-ganha” seja louvável, uma boa
negociação levará em conta os aspectos que demandarão uma lógica distributiva.
AUTOCOMPOSIÇÃO BILATERAL FACILITADA
Pode ocorrer que as partes não consigam, sozinhas, comunicar-se de forma eficiente e
entabular uma resposta conjunta para a composição da controvérsia.

Afinal, a deterioração da relação entre os indivíduos pode acarretar graves problemas de


contato e comunicação .

Nessas situações, pode ser recomendável que UM TERCEIRO AUXILIE AS PARTES A ALCANÇAR
UMA POSIÇÃO MAIS FAVORÁVEL NA SITUAÇÃO CONTROVERTIDA , POR MEIO DA MEDIAÇÃO
OU DA CONCILIAÇÃO .

Merece destaque, desde logo, a principal diferença entre as duas modalidades, centrada na
forma e no objetivo perseguido ao se encaminhar a autocomposição .

O mediador não induz propriamente as pessoas a um acordo, mas contribui para o


restabelecimento da comunicação, de modo que elas gerem novas formas de relacionamento
e equacionamento de controvérsias.

Sua atuação ocorre no sentido de provocar a reflexão para que os próprios indivíduos
encontrem saídas para o conflito.
Já o conciliador, de forma mais pontual, busca a obtenção de acordos, inclusive sugerindo
maneiras de alcançá-lo e extinguir o litígio porventura já instalado, formulando possíveis
propostas de composição .

Essa diferenciação vem refletida no texto do Novo Código de Processo Civil, segundo o qual o
mediador “ atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as
partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito , de
modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação , identificar , por si próprios,
soluções consensuais que gerem benefícios ” .

O conciliador, por sua vez, atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo
anterior entre as partes e poderá sugerir soluções para o litígio.
Como exemplo, imaginemos o impasse dos pais quanto à guarda do filho após o divórcio. Com
a contribuição do mediador, eles serão provocados a refletir sobre qual é a melhor forma de
garantir não a simples prevalência de suas posições (a mãe, por exemplo , pode defender que
ter a criança consigo seja sempre o melhor, sem questionamentos), mas sim o interesse comum
em gerar melhores situações para o filho. O mediador não irá sugerir soluções, mas
proporcionar elementos para que os próprios indivíduos vislumbrem as possibilidades e as
proponham. Diferentemente, se estiver atuando um conciliador, este poderá formular
propostas, por exemplo, de tentativa de guarda compartilhada por certo período de tempo.

No Código de Processo Civil de 1973 , a tentativa de obtenção de uma com posição consensual
para o conflito era sempre designada “ conciliação”. O Novo CPC contempla expressamente a
convivência entre a conciliação e a mediação no processo judicial, ao prever , por exemplo ,
que o réu será citado para comparecimento em audiência de conciliação ou mediação.

Apesar do silêncio do novo Código a respeito, ao que tudo indica o Centro Judiciário de Solução
de Conflitos, previsto no art. 165 e responsável pela realização de sessões de conciliação e
mediação, será o órgão que definirá se o caso deverá ser atendido por mediador ou conciliador.

De todo modo, é importante que os advogados das partes externem sua preferência pela
adoção de um ou outro meio consensual quando tiverem oportunidade de se manifestar nos
autos de modo a contribuir para o encaminhamento à via apropriada.
CONCILIAÇÃO

Por tal técnica de autocomposição, um profissional imparcial intervém para, mediante


atividades de escuta e investigação, auxiliar os contendores a celebrar um acordo , se
necessário expondo vantagens e desvantagens em suas posições e propondo saídas
alternativas para a controvérsia , sem , todavia , forçar a realização do pacto.

O objetivo da atuação do conciliador É ALCANÇAR UM ACORDO QUE EVITE COMPLICAÇÕES


futuras, com dispêndio de tempo e dinheiro .

Como bem esclarece Erica Barbosa e Silva, no exercício de sua função o conciliador , embora
possa sugerir possibilidades de resolução, deve estimular as partes a elaborarem soluções
próprias .

A conciliação pode operar- se tanto no contexto de uma demanda judicial como no âmbito de
instituições privadas voltadas à resolução de controvérsias ( a exemplo das denominadas
“câmaras de conciliação e arbitragem ” ).
Diversas legislações vêm contemplando a conciliação como procedimento relevante na gestão
do conflito , como ocorre nas Leis dos Juizados Especiais " e na Consolidação das Leis do
Trabalho.

No Novo Código de Processo Civil e na Lei de Mediação, a realização de sessões para a


tentativa de autocomposição ocupa lugar de grande destaque, precedendo , inclusive, o
oferecimento de defesa pelo réu.

Nas causas cíveis regidas pelo Código de Processo Civil, a previsão de realizar a tentativa de
conciliação entre as partes, a qualquer tempo no processo, situa - se entre OS DEVERES DO
MAGISTRADO.

A tendência atual é que os processos disponham de tentativas de solução consensual.


O acordo não deve ser obtido por receio ou temor, mas por efetiva composição das partes, em
verdadeira reorganização de suas posições.

Cumpre destacar que, no regime engendrado pelo Novo CPC, não será mais o juiz a pessoa
responsável por conduzir a sessão consensual : esta deverá ser realizada necessariamente por
um terceiro facilitador auxiliar do juízo .

A Lei de Mediação retrata a mesma concepção ao trabalhar diretrizes ligadas à


confidencialidade e ao perfil dos mediadores judiciais .

O Novo CPC não faz exigência quanto ao perfil de qualificação profissional do mediador ou
conciliador judicial, exigindo apenas a capacitação mínima por curso realizado por entidade
credenciada que o habilite a se inscrever em cadastro nacional e cadastro do Tribunal em que o
mediador ou conciliador pretende atuar.
A Lei de Mediação, contudo, impôs como requisitos para que alguém possa ser mediador
judicial:
a) ser pessoa capaz;
b) graduação há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida
pelo Ministério da Educação ;
c) capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores, reconhecida pela Escola
Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados ou pelos tribunais ;
d) observância de outros requisitos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça em
conjunto com o Ministério da Justiça.

Para atuar como mediador extrajudicial, por outro lado, a Lei de Mediação exige apenas que a
pessoa seja capaz e tenha capacitação em mediação.
Métodos Extrajudiciais de Solução de
Controvérsias
Nas fases primitivas da trajetória humana não existia o Estado para impor o direito
acima da vontade do indivíduo. Nesse momento, a solução de um conflito só poderia
ser dada por meio da imposição da vontade do mais forte ou da concessão direta de
uma parte em nome da “paz”. A isso chamou-se autotutela ou autodefesa.

Como eram as próprias partes que resolviam seus conflitos, diz-se que havia
AUTOCOMPOSIÇÃO.

Com o tempo, um grupo especial (sacerdotes, chefes, anciãos e etc) passou a tomar as
decisões em nome das partes. Como quem decidia o conflito era um terceiro, sem
relação com o conflito formado ou com as próprias partes, e sua decisão era
obrigatória, surge o que chamamos HETEROCOMPOSIÇÃO.

Em outras palavras, heterocomposição é a resolução de uma questão por meio de


valores impostos por um terceiro.
Métodos Extrajudiciais de Solução de
Controvérsias
Sob esse aspecto, o sistema judicial, posteriormente construído,
também é uma forma de heterocomposição, já que o conflito só
é resolvido pela decisão (sentença) de um juiz. Nesse caso, não
há mais o árbitro, mas um juiz investido de poder para agir em
nome de um Estado organizado. Dessa forma, arbitragem e
jurisdição passam a ser as formas heterocompositivas por
excelência.

Com o fortalecimento do Estado e do surgimento de garantidas


da pessoa, surge a ideia de que somente por meio do processo,
no qual certos pressupostos, direitos e garantias estivessem
presentes, é que os conflitos poderiam ser resolvidos.
Métodos Extrajudiciais de Solução de
Controvérsias
No entanto, o processo judicial não pôde abarcar todos os conflitos. Além disso,
com a evolução de uma cultura litigiosa, o sistema processual passou a não dar a
devida prestação para quem o procura, mesmo nos casos de conflitos por ele
abarcado.

Assim, novamente surge a possibilidade de outra forma heterecompositiva (a


arbitragem, como hoje é vista) e de formas autocompositivas resolverem as questões
que, por algum motivo, não podem (ou não querem) ser objeto de decisão judicial.
Considera-se, então, que dentro de um novo sistema de princípios e valores e de
certas proteções e garantias, as partes podem resolver suas próprias questões
ou delegar esse poder para quem confiam e acreditam poder fazer (o juiz ou o
árbitro).

Os chamados métodos alternativos para solução de controvérsias, surgiram no meio


dos negócios – políticos e comerciais – e mostraram-se como modo eficaz de
finalizar demandas de variada complexidade através dos tempos.
Métodos Extrajudiciais de Solução de
Controvérsias
Natureza Jurídica dos resultados obtidos por meio dos Métodos
Extrajudiciais de Solução de Controvérsias.

Quando reconhecidos pelo ordenamento jurídico, os Métodos


Extrajudiciais de Solução de Conflitos, ao materializarem os
resultados de sua atuação conferem às partes verdadeiro Título
Executivo Extrajudicial. Tais títulos, derivam, em última análise,
da vontade da lei. É bom lembrar que não há nestes casos
aplicação da jurisdição.

Desta forma, conclui-se pela existência de mero reconhecimento


legal do resultado obtido, o que, por consequência, garante sua
executividade pela via Judicial.
MÓDULO II

Mediação
MEDIAÇÃO
CONCEITO, PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTO

CONCEITO

Até o advento do marco legal brasileiro sobre a mediação, a doutrina vinha trabalhando o
conceito desse importante meio consensual em uma perspectiva cuidadosa para evitar
confusões em relação a outros institutos .

Partindo do dicionário, constata -se que o termo “ mediação” indica o ato ou efeito de mediar,
representando a intercessão, a intervenção, o intermédio e a interposição.

A mediação consiste no MEIO CONSENSUAL DE ABORDAGEM DE CONTROVÉRSIAS EM QUE


UM TERCEIRO IMPARCIAL ATUA PARA FACILITAR A COMUNICAÇÃO ENTRE OS ENVOLVIDOS e
propiciar que eles possam, a partir da percepção ampliada da situação controvertida,
protagonizar saídas produtivas para os impasses que os envolvem.
A mediação configura um MEIO CONSENSUAL PORQUE NÃO IMPLICA A IMPOSIÇÃO DE
DECISÃO POR UMA TERCEIRA PESSOA; sua lógica, portanto, difere totalmente daquela em que
um julgador tem autoridade para impor decisões.

A mediação constitui em um método fundamentado, teórica e tecnicamente, por meio do qual


uma terceira pessoa, neutra/imparcial e especialmente treinada, ensina os mediandos a
despertarem seus recursos pessoais para que consigam transformar o conflito em oportunidade
de construção de outras alternativas, para o enfrentamento ou a prevenção de conflitos.
A mediação consiste em um meio consensual, voluntário e informal de prevenção , condução e
pacificação de conflitos conduzido por um mediador; este, com técnicas especiais, “ atua como
terceiro imparcial, sem poder de julgar ou sugerir, acolhendo os mediandos no sentido de
propiciar-lhes a oportunidade de comunicação recíproca e eficaz para que eles próprios
construam conjuntamente a melhor solução para o conflito.

A mediação permite que os envolvidos na controvérsia atuem cooperativamente em prol de


interesses comuns ligados à superação de dilemas e impasses.

No modelo transformativo , MEDIAÇÃO É UM PROCESSO EM QUE UM TERCEIRO AJUDA AS


PESSOAS EM CONFLITO A AGIREM COM MAIOR GRAU DE AUTODETERMINAÇÃO e
responsividade enquanto debatem e exploram vários tópicos e possibilidades de resolução.

Como se percebe, as definições doutrinárias têm em comum o destaque à abordagem


construtiva propiciada pela mediação, que conta com alguém isento e capacitado para
contribuir na conversação de modo que os envolvidos possam assumir posturas protagonistas
na abordagem da controvérsia.
No âmbito público foram traçadas diretrizes importantes pela Resolução 125 do Conselho
Nacional de Justiça; tal ato reconheceu a instituição da Política Judiciária Nacional de
tratamento de conflitos de interesses tendente a assegurar a todos o direito à solução dos
conflitos por meios adequados à sua natureza e à sua peculiaridade.

As previsões da resolução mencionam conjuntamente a mediação e a conciliação; apesar de


traçar diretrizes éticas e princípios, o ato normativo não trouxe a definição dos meios
consensuais .

O Novo Código de Processo Civil contempla previsão sobre a atuação do mediador: ao atuar
preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, ele auxiliar á os
interessados a compreender as questões e os interesses em conflito de modo que eles possam ,
pelo restabelecimento da comunicação, identificar por si mesmos soluções consensuais que
gerem benefícios mútuos.

Por fim , a Lei de Mediação brasileira (Lei 13.140/2015) considera tal meio como A ATIVIDADE
TÉCNICA EXERCIDA POR UM TERCEIRO IMPARCIAL SEM PODER DECISÓRIO , QUE, ESCOLHIDO
OU ACEITO PELAS PARTES, AS AUXILIA E ESTIMULA A IDENTIFICAR OU DESENVOLVER
SOLUÇÕES CONSENSUAIS PARA A CONTROVÉRSIA.
Como se percebe pelas definições, tal mecanismo consensual busca proporcionar um espaço
qualificado de conversação que permita a ampliação de percepções e propicie ângulos plurais
de análise aos envolvidos . Uma das possibilidades de promover movimentos úteis é gerar um
ambiente de conversação que permita às partes dedicarem atenção aos interesses envolvidos
em uma perspectiva produtiva.

Como exemplo, imagine uma discussão familiar sobre o valor da pensão alimentícia em que há
posições de resistência ( do alimentante ) e insistência ( da responsável legal do alimentando )
quanto a certo montante. Caso ambos, consensualmente, comuniquem -se para compreender
as despesas que embasam o valor pretendido, trazendo uma lista das despesas da criança e
abordando sua pertinência, visualizarão cada gasto e decidirão como considerá-los .

Enquanto se comunicarem, eles também poderão concluir que mais importante do que a
simples posição de cada um é o atendimento dos interesses da criança em termos de cuidado e
proteção.

A mediação pode ser considerada uma ferramenta importante para a abordagem de impasses
sob diversas perspectivas. A mediação pode ser definida como um meio de solução de
conflitos em que, a partir da atuação das próprias partes, elas se tornam aptas a construir uma
solução rápida, ponderada, eficaz e satisfatória para os envolvidos.
A mediação se configura como [. .. ] um modo de construção e de gestão da vida social graças à
intermediação de um terceiro neutro/imparcial, independente, sem outro poder que não a
autoridade de lhes reconhecerem as partes que a escolheram ou reconheceram livremente. Sua
missão fundamental é (re) estabelecer a comunicação.

Nessa medida, a vantagem da mediação sobre outros métodos é permitir, caso as partes assim
o desejem, A CONTINUIDADE DA RELAÇÃO EM UMA PERSPECTIVA DE FUTURO .

A mediação é totalmente coerente com o estímulo à cultura de paz.


SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

No Brasil a chance de vivenciar experiências consensuais costuma ser pautada pela designação
de audiências conciliatórias, mecanismo previsto em lei como etapa processual.

Por força de tal tradição brasileira, para compreender bem o conceito de mediação é importante
identificar em que medida os meios consensuais de abordagem de controvérsias se aproximam
e diferem.

São pontos comuns à mediação e à conciliação:


1 . A participação de um terceiro imparcial ;
2. A promoção da comunicação em bases produtivas;
3 . A não imposição de resultados ;
4. A busca de saídas satisfatórias para os envolvidos;
5. O exercício da autonomia privada na elaboração de saídas para os impasses .

Em ambos os mecanismos alguém intervém para facilitar o diálogo e estabelecer uma


comunicação eficaz : pela ética inerente aos meios consensuais, o terceiro imparcial não pode
expressar opiniões pessoais, realizar julgamentos nem se aliar aos envolvidos.
Há quem sustente não haver diferença entre mediação e conciliação : na prática o terceiro que
as realiza poderia escolher entre uma ou outra vertente de atuação .

Grande parte dos estudiosos de mediação diverge: há diferenças principalmente no que tange
à elaboração das propostas de solução ( o mediador não deve sugeri-las ) e também na
profundidade da abordagem de certas situações ( na mediação , as questões subjetivas
costumam ter maior espaço porque as relações envolvem relações continuadas, enquanto na
conciliação o foco tende a ser objetivo, porque as interações entre os envolvidos costumam ser
episódicas).
Para Lília Maia de Morais Sales,
A diferença fundamental entre a mediação e a conciliação reside no conteúdo de cada instituto.
Na conciliação, o objetivo é o acordo, ou seja , as partes, mesmo adversárias, devem chegar a
um acordo para evitar um processo judicial . Na mediação as partes não devem ser entendidas
como adversárias e o acordo é a consequência da real comunicação entre as partes . Na
conciliação o conciliador sugere, interfere, aconselha. Na mediação , o mediador facilita a
comunicação , sem induzir as partes ao acordo.

Na mesma linha manifesta-se Fernanda Levy: enquanto o conciliador auxilia as partes a chegar
ao acordo mediante concessões recíprocas, o mediador, com técnicas especiais, atuará
imparcialmente sem poder julgar ou sugerir, “ acolhendo os mediandos para propiciar- lhes
oportunidades de comunicação eficaz de modo que eles construam conjuntamente a melhor
solução para o conflito ”.
O mediador deve estimular e impulsionar os sujeitos para que eles consigam, saindo da
acomodação, partir em busca de soluções aptas a transformar sua realidade.

Além de impactar negativamente na autodeterminação das partes, uma atuação avaliadora do


mediador poder á acabar afetando sua imparcialidade .

O mediador precisa atuar com equidistância perante os participantes durante todo o


procedimento , sob pena de ver comprometida a credibilidade da intervenção ; ainda que não
seja efetivamente parcial, há o risco de ele soar como tal perante um dos interessados , o que
poderá comprometer a continuidade do procedimento .
PRINCÍPIOS INFORMADORES

A mediação tem importantes diretrizes para sua escorreita verificação .

Sua base de sustentação e expansão ao longo do tempo tem sido [. . .] o reconhecimento dos
direitos humanos e da dignidade dos indivíduos, a consciência da necessidade de participação
democrática em todos os níveis sociais e políticos, a crença de que o indivíduo tem o direito de
participar e ter controle das decisões que afetam a própria vida, os valores éticos que devem
nortear os acordos particulares e, finalmente, a tendência a uma maior tolerância às
diversidades que caracterizam toda cultura no mundo moderno- contemporâneo.

Assim, destacam - se como suas diretrizes essenciais O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA - já


que um dos pilares dos meios consensuais é o reconhecimento do poder de decisão das partes
(com liberdade e autodeterminação), A INFORMALIDADE, A PARTICIPAÇÃO DE TERCEIRO
IMPARCIAL E A NÃO COMPETITIVIDADE.
No plano normativo a relevância dos princípios tem sido reconhecida. O CPC/ 2015 afirma , no
art. 166, serem princípios regentes da mediação e da conciliação em juízo a independência, a
imparcialidade, a autonomia da vontade, a confidencialidade, a oralidade, a informalidade e a
decisão informada.

Na mesma linha, a Lei 13.140/ 2015 destaca, no art. 2.° , que a mediação será orientada pelos
seguintes princípios :

I - imparcialidade do mediador;
II – isonomia entre as partes;
III - oralidade;
IV - informalidade;
V - autonomia da vontade das partes;
VI - busca do consenso ;
VII - confidencialidade;
VIII - boa - fé .

Serão destacadas as principais diretrizes regentes dos meios consensuais a partir de sua
configuração no sistema normativo brasileiro.
1.AUTONOMIA DA VONTADE E DECISÃO INFORMADA

O reconhecimento da autonomia da vontade implica em que A DELIBERAÇÃO EXPRESSA POR


UMA PESSOA PLENAMENTE CAPAZ, COM LIBERDADE E OBSERVÂNCIA DA LEI, DEVA SER TIDA
COMO SOBERANA.

O termo “ vontade” tem como uma das suas acepções :


1. a faculdade que tem o ser humano de querer , escolher , livremente praticar ou deixar de
praticar certos atos;
2. força interior que impulsiona o indivíduo a realizar aquilo a que se propôs, a atingir seus fins
ou desejos - ânimo, determinação e firmeza;
3 . grande disposição em realizar algo por outrem - empenho, interesse, zelo ;
4. capacidade de escolher , de decidir entre alternativas possíveis - volição;
5. sentimento de desejo ou aspiração motivado por um apelo físico, fisiológico, psicológico ou
moral - querer;
6. deliberação, determinação , decisão que alguém expressa no intuito de que seja cumprida ou
respeitada.
A autonomia da vontade, também entendida como autodeterminação, é um valor essencial.

A MEDIAÇÃO PERMITE QUE O INDIVÍDUO DECIDA OS RUMOS DA CONTROVÉRSIA E


PROTAGONIZE UMA SAÍDA CONSENSUAL PARA O CONFLITO : ao incluir o sujeito como
importante ator na abordagem da crise, valoriza -se sua percepção e considera -se seu senso de
justiça. Como facilmente se percebe, a autonomia da vontade está ligada à dignidade e à
liberdade .

O tema da autonomia da vontade também traz a mente um ponto importante : a


VOLUNTARIEDADE.

A conversação só pode ser realizada se houver aceitação expressa dos participantes; estes
devem escolher o caminho consensual e aderir com disposição à mediação do início ao fim do
procedimento .

Ao abordar o tema no cenário da autocomposição judicial, a Resolução 125/2010 do CNJ


reconhece ser a autonomia da vontade o dever de respeitar os diferentes pontos de vista dos
envolvidos, assegurando - lhes que cheguem a uma decisão voluntária e não coercitiva , com
liberdade para tomar as próprias decisões durante ou no final do processo, podendo
interrompê-lo a qualquer momento ( Anexo III , art . 2. ° , II ).
A AUTONOMIA DA VONTADE IMPLICA O RECONHECIMENTO TAMBÉM DO PRINCÍPIO DA
LIBERDADE OU DA AUTODETERMINAÇÃO : os participantes da mediação têm o poder de
definir e protagonizar o encaminhamento da controvérsia, o que inclui desde a opção pela
adoção do método compositivo até a responsabilidade pelo resultado final.

Na mediação não há imposição externa: os envolvidos irão atuar para divisar saídas para suas
disputas.

Sob a perspectiva transformativa , a mediação “ é um processo que permite que as pessoas em


conflito ajam com um maior grau de autodeterminação e responsividade em relação aos outros,
ao mesmo tempo que exploram soluções para questões específicas”.
O princípio da liberdade individual, nos tempos atuais, consubstancia a possibilidade de
realizar, sem interferências de qualquer natureza, as próprias escolhas; assim cada um poderá
possa concretizar seu projeto de vida como melhor lhe convier em uma perspectiva de
privacidade, intimidade e livre exercício da vida privada.

Não há, porém, como exercer a liberdade sem conhecer as múltiplas opções que a realidade
enseja. Muitas vezes, as partes não têm a exata noção sobre as possibilidades de
encaminhamento do conflito , faltando -lhes informação , comunicação e direcionamento às vá
rias possibilidades existentes para tal mister. Uma primeira conduta na abordagem do conflito,
portanto, deve ser a explanação das possibilidades disponíveis para o tratamento da
controvérsia.
O consentimento para aderir à via consensual deve ser genuíno , assim como legítima deve ser
sua concordância quanto ao resultado obtido a partir da mediação.

NA MEDIAÇÃO, COMO O PODER DE DEFINIÇÃO DO CONFLITO COMPETE ÀS PARTES, O


MEDIADOR DEVE ATUAR COMO UM FACILITADOR DO DIÁLOGO . As partes envolvidas, após o
restabelecimento da comunicação, devem estar aptas a decidir a controvérsia sem qualquer
indução por parte do mediador quanto ao mérito da avença; ambas as partes devem colaborar
para o alcance do entendimento.

Nas palavras de Lilia Maia de Moraes Sales, ( . . . ) as partes é que decidirão todos os aspectos
do problema sem intervenção do mediador, no sentido de induzir as respostas ou as decisões,
mantendo a autonomia e controle das decisões relacionadas ao conflito. O MEDIADOR
FACILITA A COMUNICAÇÃO, ESTIMULA O DIÁLOGO, AUXILIA NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS,
MAS NÃO OS DECIDE.

Ao mediador caberá gerar oportunidades para que as pessoas esclareçam pontos relevantes e
se abram à comunicação necessária para que possam se beneficiar do proveitoso
encaminhamento dos rumos da controvérsia.
Merece destaque o apontamento de outra diretriz intensamente relacionada à autonomia: pelo
PRINCÍPIO DA DECISÃO INFORMADA, é dever do facilitador da comunicação manter o
jurisdicionado plenamente ciente quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está
inserido (Resolução n . 125/ 2010 do CNJ, anexo III, art. l . o , II ) .

Daniel Amorim Assumpção Neves, ao analisar o tema, questiona: como não há exigência de que
o mediador tenha formação jurídica, como exatamente exigir que pessoas sem qualificação
jurídica mantenham o jurisdicionado plenamente informado quanto aos seus direitos ?

Não há comprometimento: na prática, o princípio da decisão informada impõe o


esclarecimento, por parte dos mediadores, sobre os direitos do mediando em relação a aceitar
participar da via consensual e de seguir participando das sessões.
Nas sessões consensuais, o condutor imparcial , antes de iniciar a comunicação sobre o mérito
da disputa, deve se certificar se os envolvidos estão devidamente informados sobre o contexto
em que se inserem e sobre o direito envolvido; se for o caso , ele deve também advertir sobre a
necessidade de que se informem com um profissional.

Como se percebe, os princípios da autonomia da vontade e da decisão informada são


essenciais para que não haja comprometimento do proveito da mediação para os
interessados, que precisam ser contemplados ao máximo em sua liberdade para que se
engajem a obter resultados uteis.

Violar tais diretrizes tende a ser fatal em termos de credibilidade e mesmo utilidade da
autocomposição .
2.INFORMALIDADE E INDEPENDÊNCIA

A mediação, como prática para a facilitação do diálogo entre as partes, não tem regras fixas
(embora o mediador preparado conte com certas técnicas para a abordagem das partes e para
o estabelecimento de uma comunicação eficaz com elas ).

Não há forma exigível para a condução de um procedimento de mediação, dado que esta
constitui, essencialmente, um “projeto de interação, de comunicação eficaz”.

A mediação se desenvolve por meio de conversações entre as partes com a contribuição de um


terceiro imparcial; este se vale de técnicas para clarificar situações, percepções, afirmações e
possibilidades aventadas pelas pessoas em suas interações . Tratando-se de mecanismo que
busca o restabelecimento da comunicação, muitas vezes o encaminhamento da controvérsia
deverá ser conduzido segundo as situações pessoais dos envolvidos e as condições concretas de
sua relação .

Em geral, muitas são as oportunidades de atuação do mediador junto às partes, e cada


encontro pode ser conduzido de forma diversa. Geralmente, as sessões de mediação são várias
e não há regras fixas de condução do procedimento .
A previsão não deve ser vista como uma contradição: a lei regula o tema para trazer
parâmetros úteis e alguma previsibilidade, mas não impõe um modo rígido de atuação.

A informalidade na conversa pode favorecer a comunicação tanto entre as partes como entre
estas e o mediador; afinal, havendo maior descontração e tranquilidade, facilita -se o encontro
de uma composição favorável a ambas as partes.

Os meios dito “ alternativos” são mais “ amigáveis” e flexíveis; como muitas vezes n ão h á
advogados envolvidos, as partes sã o estimuladas a tomar atitudes que fariam com que a
decisão estivesse mais de acordo com suas reais necessidades.

Não há, portanto, em geral, qualquer exigência formal na condução da mediação ou quanto ao
seu possível resultado.

A informalidade conecta -se a outra importante diretriz: pelo PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA,


a atuação de conciliadores e mediadores judiciais deve se dar com autonomia e liberdade, sem
subordinação nem influência de qualquer ordem.
3.ORALIDADE

A mediação se desenvolve por meio de conversações e / ou negociações entre as pessoas.

Como meio focado no (r)estabelecimento da comunicação, configura um procedimento


pautado por iniciativas verbais: por meio de expressões, questionamentos e afirmações,
busca-se viabilizar um espaço de comunicação entre os envolvidos para que eles possam
divisar saídas para seus impasses, relatando sua percepção e contribuindo para eventual
elaboração de propostas.

Na mediação, como a proposta é que o indivíduo possa falar sobre a situação controvertida com
liberdade e sem formalismo, a tendência é que o peso da linguagem jurídica tenha menor
impacto.

Para permitir a percepção apropriada do contexto que envolve as partes, uma técnica essencial
na mediação ( assim como na negociação ) é escutar com atenção, interrogar para saber mais e
ir resumindo o que compreendeu para esclarecer pontos importantes da controvérsia.
A “ ESCUTA ATIVA ” configura importante técnica da mediação; por meio dela, busca - se
valorizar o sentido, do que é dito com vistas a compreender o que foi exposto pelo
interlocutor.

A escuta ativa implica ouvir uma mensagem pressupondo interesse pela pessoa e pela
comunicação com vistas à boa compreensão da mensagem.

Tal técnica é importante por permitir perceber que a pessoa é destinatária de atenção,
mostrando-se o interlocutor interessado em seus pensamentos e em suas opiniões; é também
conhecida como “ reciprocidade ”, já que “ as duas pessoas estão comprometidas no processo
de ouvir ativamente e trocar informações ”.
Pela escuta ativa , o mediador não só ouve, mas considera atentamente as palavras ditas e as
mensagens não expressas verbalmente (mas reveladas pelo comportamento de quem se
comunica) .

A demonstração de muitos elementos relevantes pode ser depreendida a partir de sua


postura, de sua expressão facial e mesmo do contato visual . Como se nota, a percepção do
mediador supera a mera consideração das palavras, razão pela qual se costuma afirmar que
“escutar é diferente de ouvir ” .

A proposta da mediação é permitir que as partes assumam sua voz e contem o ocorrido a
partir de sua percepção.
A Lei de Mediação brasileira concretiza a tendência de reduzir por escrito o encaminhamento
final.

Segundo o art. 20, o procedimento de mediação será encerrado com a lavratura do seu termo
final, quando for celebrado acordo ou quando não se justificarem novos esforços para a
obtenção de consenso, seja por declaração do mediador nesse sentido ou por manifestação de
qualquer das partes .

O termo final de mediação, na hipótese de celebração de acordo, constitui título executivo


extrajudicial; quando ele é homologado judicialmente , constitui título executivo judicial ( Lei
13.140 / 2015, art. 20, par á grafo ú nico ).

Na seara extrajudicial, o nível de liberdade é evidentemente superior, já que no âmbito judicial


critérios como a produtividade e o impacto num é rico do resultado tendem a ensejar
interferência estatal sobre o assunto.
4.IMPARCIALIDADE

Essencial diretriz dos meios de solução de conflitos, a imparcialidade representa a


equidistância e a ausência de comprometimento do mediador em relação aos envolvidos no
conflito.
A imparcialidade é um fator determinante para que seja reconhecida como válida a atuação do
terceiro que intervém no conflito (seja para decidir , seja para fomentar o consenso ).

Para atuar em uma causa, o TERCEIRO IMPARCIAL deve ser completamente estranho aos
interesses em jogo, não sendo ligado às partes por especiais relações pessoais : tal abstenção é
fundamental para o reconhecimento de SUA CREDIBILIDADE EM RELAÇÃO AOS LITIGANTES e à
opinião pública pela certeza de sua independência Qualquer vínculo anterior do mediador
com os envolvidos deve ser revelado.
Na mediação extrajudicial é comum que antes do início do procedimento o mediador seja
consultado para responder se conhece as partes, se já atuou em seu nome e se entende haver
algum fato capaz de comprometer sua isenção que deva ser comunicado .

Em relação à seara judicial, há previsões expressas sobre a necessidade de externar fatores que
ensejem parcialidade. Segundo o Novo CPC, o conciliador ou mediador comunicará
imediatamente impedimento, de preferência por meio eletrônico, e devolverá os autos ao juiz
do processo ou ao coordenador do centro judiciário de solução de conflitos.
A imparcialidade demanda um comportamento de equânime tratamento no sentido de garantir
aos participantes a adequada oportunidade de fazer valer as próprias razões.

Como decorrência do poder decisório das partes, o mediador deve funcionar como um
terceiro imparcial durante todo o procedimento . Sua função precípua, longe de buscar induzir
as partes a um acordo, é contribuir para o restauro do diálogo em condições proveitosas para
as pessoas.

Nos termos da Resolução 125/ 2010 do CNJ, a imparcialidade é retratada como o dever de agir
com ausência de favoritismo , preferência ou preconceito, assegurando que valores e conceitos
pessoais não interfiram no resultado do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos
no conflito e jamais aceitando qualquer espécie de favor ou presente (Anexo III, art. l . ° , IV ).

Comumente, o mediador não deve se manifestar ou expor qualquer juízo de valor sobre o
resultado que entende adequado para a composição do conflito. Assim, por exemplo, não deve
fazer propostas para que um proponente dobre o montante inicialmente proposto .
5.BUSCA DO CONSENSO, COOPERAÇÃO E NÃO COMPETITIVIDADE

A mediação, como técnica consensual, é marcada pela realização de reuniões para promover
conversações úteis para os envolvidos. Em certa medida busca-se abrir espaço para
proveitosas cooperações .

O mediador atuará para que a negociação entre as partes possa avançar , contribuindo para
que a conversa evolua; é importante , então, que ele conheça estratégias de negociação e
esteja atento para as barreiras que impedem o sucesso dela.

Um dos modelos mais conhecidos, o da negociação baseada em princípios preconizados pela


Escola de Harvard, é orientado por quatro diretrizes básicas :
( i ) Separaras pessoas dos problemas.
( ii ) Focar em interesses e não em posições.
( iii) Inventar opções de ganho mútuo.
( iv) Insistência em critérios objetivos para ponderação das opções criadas.
O princípio da busca do consenso, como se percebe, é inerente à autocomposição , permeando
a pauta de atuação do facilitador do diálogo . Tal diretriz não consta no Novo CPC, mas foi
destacada como princípio na Lei de Mediação ( Lei n. 13.105/ 2015 , art. 2. ° , VI ).

Pode-se, portanto, considerar ‘bem-sucedida’ a mediação quando o “ sucesso ” está


diretamente relacionado à satisfação da parte.

Acordos são apenas alguns dos diversos bons resultados de mediações de sucesso.

Elas podem ser assim consideradas, por exemplo, quando as partes saem satisfeitas por ter
restado esclarecidas sobre possibilidades e limites .

Como exemplo, se em uma mediação sobre divórcio a esposa percebe que precisa buscar mais
informações para se habilitar a negociar ( ainda que em um outro momento) , houve êxito: a
retomada do diálogo permitiu uma importante clarificação .

Sob a perspectiva da mediação transformativa, a sessão consensual pode ser bem - sucedida se
novos insights forem obtidos, se escolhas forem esclarecidas ou se novas compreensões dos
pontos de vista de cada um forem alcançadas.
6.BOA-FÉ E CONFIDENCIALIDADE

A mediação é um meio consensual que envolve a participação voluntária dos participantes na


conversa, sendo essencial que haja disposição e boa-fé para que possam se comunicar e
buscar soluções .

A boa - fé consiste no sentimento e no convencimento íntimos quanto à lealdade, à honestidade


e à justiça do próprio comportamento em vista da realização dos fins para os quais este é
direcionado.

O princípio da boa-fé é de suma relevância na mediação: participar com lealdade e real


disposição de atuar são condutas essenciais para que a via consensual possa se desenvolver de
forma eficiente. Afinal, se um dos envolvidos deixar de levar a sério a mediação, sua postura
gerará lamentável perda de tempo para todos .
Quando as pessoas têm um histórico de negociações de má -fé, pode haver comprometimento
da mediação: partes que assim barganham costumam fazer ofertas de acordo e depois retirá -las
para tentar obter lucro em termos de negociação.

Nesse cenário, pode ser ineficaz a atuação do mediador. Negociações de má - fé geralmente


ocorrem quando as partes estão emocionalmente instáveis, quando a ira se transformou em
ódio e quando uma das partes deseja punir a outra.

A boa - fé está intrinsecamente ligada à confidencialidade; o sigilo , aliás, costuma ser


identificado como uma das vantagens decorrentes da adoção da mediação .

O mediador deve ser alguém com quem as partes possam falar abertamente sem
preocupações quanto a eventuais prejuízos decorrentes da atuação de boa-fé.

Para que os participantes da sessão consensual possam se expressar com abertura e


transparência, é essencial que se sintam protegidos em suas manifestações e contem com a
garantia de que o que disserem não será usado contra si em outras oportunidades.
7.ISONOMIA

A mediação deve proporcionar IGUALDADE DE OPORTUNIDADES AOS ENVOLVIDOS para que


eles tenham plenas condições de se manifestar durante todo o procedimento.

Como deve se dar a atuação do mediador para atender aos desígnios isonômicos?

A primeira providência do imparcial facilitador da comunicação é informar aos presentes o


perfil do procedimento para que não haja equívoco quanto ao teor das comunicações, mas sim
o devido esclarecimento sobre as consequências da celebração ou não de um acordo.

É também papel do terceiro imparcial checar se os envolvidos conhecem os dados relevantes


para que eventuais soluções construídas consensualmente possam ser acolhidas como fruto de
genuíno e esclarecido consentimento.

Cientes da confidencialidade e do potencial colaborativo do encontro, as pessoas poderão ter


condições de dialogar em um espaço útil à comunicação .
Nas disputas em que as partes têm poderio desigual, o mediador/ conciliador pode encarar
dois tipos de problemas : de percepção ( em que a disparidade de poder não é percebida e há
uma errónea consideração da situação ) e de existência de relações extremamente assimétricas
( em que uma parte est á em uma posição muito mais fraca e ambas as partes sabem disso ).

Uma possibilidade para buscar superar o desequilíbrio é promover a comunicação sobre


pontos de comum interesse : em vez de enfrentar diretamente o mérito e adiantar impressões
sobre a quem assistiria a razão em um potencial julgamento , o facilitador do consenso deve
enfocar aquele momento, e não o eventual prosseguimento sob o prisma contencioso.

É também conveniente que as partes saibam que o mediador:


1 . Não tem obrigação de proteger seus interesses ou fornecer informações sobre seus direitos
2. Que a assinatura de um acordo alcançado na mediação pode afetar de maneira adversa seus
direitos ;
3 . Que as partes devem consultar um advogado antes de assinar qualquer acordo a que tenham
chegado pela mediação caso não estejam seguras sobre seus direitos.
Como o terceiro facilitador do diálogo tem compromisso com a imparcialidade, não deve atuar
como advogado nem assessor técnico litigante mais fraco; contudo , permanece seu dever de
colaborar para que as pessoas, se assim desejarem , alcancem um acordo efetivo e durável em
bases razoáveis .

Ao invés de proceder a um julgamento independente quanto ao equilíbrio do poder, o


mediador se orienta pelo julgamento da parte : após procurar sinais, indaga sobre o que ela
sente: Se e quando tal insatisfação for expressa, o mediador ajuda o disputante a esclarecer
exatamente o que deseja, a transmitir o que deseja expressar à outra parte e a tomar as
decisões que têm de enfrentar .
FINALIDADES DA MEDIAÇÃO
 RESTABELECIMENTO DA COMUNICAÇÃO

Um primeiro objetivo importante na mediação É PERMITIR QUE AS PESSOAS ENVOLVIDAS NO


CONFLITO POSSAM VOLTAR A REALIZAR UMA COMUNICAÇÃO EFICIENTE, habilitando-se a
discutir elementos da controvérsia e eventualmente encontrar saídas para o impasse .

Sendo a finalidade da mediação a responsabilização dos protagonistas, é fundamental fazer


deles sujeitos capazes de elaborar, por si mesmos, acordos duráveis.

Para tanto, o grande trunfo da mediação É RESTAURAR O DIÁLOGO E PROPICIAR O ALCANCE


DA PACIFICAÇÃO DURADOURA.

Antes de cogitar a extinção do conflito como objetivo primordial, deve o mediador contribuir
para que deficiências de comunicação entre os sujeitos não impeça suas conversas.
A mediação pode ser considerada uma proposta não de solução do conflito simplesmente,
mas de reorganização e reformulação da comunicação o entre as pessoas.

Muitas vezes é impossível que os interessados estabeleçam um dialogo direto em virtude de


fatores emocionais críticos, como rancor, insegurança ou desprezo.

Até que sejam trabalhadas as tensões, a comunicação dificilmente ocorrerá de forma


satisfatória.

A participação de um terceiro neutro/imparcial, mas ativo, pode ser essencial para o


restabelecimento do contato entre as partes.
Na perspectiva da MEDIAÇÃO TRANSFORMATIVA , a expressão da emoção - por sentimentos
como raiva , mágoa e frustração - é considerada parte integrante do conflito;

O mediador espera e permite que as partes expressem suas emoções, estando preparado para
lidar com essas expressões à medida que o conflito se desenrola.

A função do mediador É TRABALHAR PAUTAS DE COMUNICAÇÃO PARA QUE ESTA SE REALIZE


DE FORMA EFICIENTE COM ATENÇÃO, CLAREZA E CONSIDERAÇÃO DO PONTO DE VISTA DO
OUTRO.

O mediador atuará contribuindo para que as pessoas em conflito possam, sendo este o seu
desejo , estabelecer uma comunicação produtiva.

Quando os sujeitos em conflito não têm condições de compartilhar espaços por força do grave
histórico que os acometeu, em alguns modelos de mediação é possível avançar no
procedimento consensual por meio de SESSÕES PRIVADAS ENTRE CADA UM DELES E O
MEDIADOR .
 POSSÍVEL PRESERVAÇÃO DO RELACIONAMENTO ENTRE AS PARTES

O que há de mais importante na mediação é a necessidade de manutenção de boas relações


entre as partes mesmo depois de solucionada a controvérsia.

A mediação e outros meios de interferência apaziguadora são os métodos mais apropriados


para preservar o relacionamento entre os envolvidos em controvérsias.

Dada a interdependência nas relações sociais, renasce a necessidade de solução harmônica


dos problemas, de modo a preservar as relações e a evitar novos litígios.
A melhor ilustração é ministrada pelos casos em que o conflito não passa de um episódio em
relação complexa e permanente.

A justiça conciliatória , ou a “ justiça reparadora ”, tem a possibilidade de preservar a relação,


tratando o episódio litigioso antes como perturbação temporária do que como ruptura
definitiva daquela.

A mediação costuma ser mais acessível, mais rápido e informal, menos dispendioso, e os
próprios julgadores podem ter melhor conhecimento do ambiente em que o episódio surgiu e
mostrar-se mais capazes e mais desejosos de compreender os dramas das partes.

Pela mediação, um terceiro será adicionado à relação polarizada entre as partes para permitir
uma mudança na dinâmica até então verificada.

Deve o mediador ter sempre presente que a mediação apenas poderá ajudar os envolvidos a
preservar seu relacionamento, melhorando- o ou, pelo menos, não o prejudicando, se esta for
a vontade das partes .
 POSSÍVEL PREVENÇÃO DE CONFLITOS

Uma das finalidades da mediação pode ser EVITAR O ACIRRAMENTO DA POTENCIAL


LITIGIOSIDADE e, por meio do restabelecimento da comunicação entre os indivíduos, EVITAR
QUE OUTROS CONFLITOS VENHAM A SE AVOLUMAR NO CENÁRIO CONTENCIOSO .

A proposta é que os interessados possam se ver COMO PARCEIROS e não propriamente como
adversários.

A experiência anterior de composição pela mediação gera aprendizado sobre formas mais
proveitosas de comunicação e serve como diretriz para futuros encaminhamentos de
controvérsias.
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal realizou pesquisas de opinião sobre os serviços de
mediação forense; em uma delas, 92% dos advogados atendidos nas sessões de mediação
afirmaram que aconselhariam seus clientes a participar de uma sessão em situações
semelhantes às vivenciadas no serviço de mediação forense.

Assim, desponta a mediação como FERRAMENTA EFICIENTE PARA QUE SE EVITE A


OCORRÊNCIA DO FENÔMENO DA LITIGIOSIDADE REMANESCENTE QUANTO À CONTROVÉRSIA
ABORDADA, assim como a litigiosidade sobre pontos controvertidos relativos a outros
potenciais impasses naquela ou em outras relações jurídicas entre os envolvidos.
 INCLUSÃO SOCIAL

A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE NA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA É VANTAJOSA POR


ENSEJAR MAIORES CELERIDADE E ADERÊNCIA DA JUSTIÇA À REALIDADE SOCIAL, propiciando
maior credibilidade às instituições judiciárias e ao sentido pedagógico de sua administração,
estimulando o senso de colaboração entre os indivíduos .

Ao propiciar boas práticas de inclusão, a mediação pode contribuir para o resgate do prestígio
do Poder Judiciário .

Pesquisas realizadas pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal junto a participantes de sessões
consensuais revelam uma externalidade positiva gerada pela autocomposição : para 80, 2% dos
respondentes, a visão que tinham sobre o Poder Judiciário mudou; o resultado é
complementado “por inúmeros comentários que ressaltam a celeridade na resolução dos litígios
e a resolução efetiva do conflito por meio do consenso ”.

Os procedimentos de autocomposição são os métodos de solução de conflitos mais próximos


do modelo de democracia pluralista previsto no art. 1 , V , da Constituição Federal.
Para que a distribuição da justiça seja efetivamente racionalizada e tornada eficiente, é preciso
contar com todos os setores da sociedade.

Incumbe ao cidadão a importante tarefa de colaborar para o exercício da jurisdição,


reconhecendo também sua responsabilidade na busca da justiça e do consenso.

A introdução da mediação como fase voluntária no âmbito do procedimento nos Julgados de


Paz permite aos indivíduos experimentar a gestão do conflito na primeira pessoa, numa
perspectiva de diálogo , expressando a forma mais elevada do exercício dos direitos de
cidadania, participando ativamente na construção de uma solução possível, equilibrada e
justa.

A valorização do consenso pode resultar na concretização de vivências que propiciem o


despontar de uma mentalidade menos formalista, menos burocrática e mais atenta às
demandas da cidadania.
 PACIFICAÇÃO SOCIAL

Pacificar com justiça é a finalidade almejada por todo método idôneo de composição de
controvérsias .

Não se trata , porém , de tarefa simples ; por envolver o alcance de um estado de espírito
humano, PACIFICAR ABRANGE ASPECTOS NÃO APENAS JURÍDICOS, MAS SOBRETUDO
PSICOLÓGICOS E SOCIOLÓGICOS .

É comum haver sentimentos de negação, inconformismo e raiva após a constatação da


resistência alheia, sendo natural que não se creia na boa-fé do outro para cumprir combinados.

Com o passar do tempo , porém, pode haver alívio no acirramento das posições e admitir- se a
possibilidade de novas definições, com a escuta do outro, para findar pendências do passado .
Na MEDIAÇÃO TRANSFORMATIVA , as emoções não são vistas como fatores a serem
eliminados: o mediador as trata como ricas formas de expressão que, uma vez “
desembrulhadas ” e compreendidas, podem revelar muitas informações sobre os pontos de
vista das partes (sobre a sua situação e a da outra parte); tais dados podem ser utilizados para
fomentar o “ autofortalecimento ” e o reconhecimento do outro.

A vivência de perdas significativas, como as decorrentes do fim de uma união , pode ser sentida
como “ morte” e ensejar um processo de luto ( reação emocional a uma perda significativa). Tal
processo, embora doloroso, pode propiciar uma nova maneira para o sujeito ser e estar no
mundo .
O interessante modelo delineado pela médica suíça Kluber-Ross aponta as CINCO FASES DA
PERDA (OU DO PROCESSO DE LUTO): NEGAÇÃO, RAIVA , DEPRESSÃO, BARGANHA E
ACEITAÇÃO.

Tais estágios nem sempre ocorrem nessa ordem nem precisam ser todos experimentados, mas
a pessoa sempre passará por pelo menos dois deles.

A NEGAÇÃO implica a recusa em assumir a perda. A pessoa pode não crer na informação
recebida, tentar esquecê-la, deixar de refletir sobre ela ou buscar provas ou argumentos de que
ela não retrata a realidade.

A negação funciona como um para-choque após notícias chocantes e inesperadas , sendo útil
para permitir que a pessoa se recupere com o tempo.
Comumente a NEGAÇÃO configura uma defesa temporária que acaba sendo substituída por
uma aceitação parcial.

Tal etapa é marcada pelo aparecimento de emoções como revolta , inveja e ressentimento; a
pessoa se sente inconformada e vê a situação como injusta. Também aqui a abordagem
consensual do conflito pode ser infrutífera , já que dificilmente são trabalhadas com eficiência
as responsabilidades recíprocas nessa árdua fase de indignação.

Na FASE DE BARGANHA, a pessoa busca “ algum tipo de acordo que adie o desfecho inevitável”;
há uma sorte de negociação, buscando- se algum pacto para que as coisas possam voltar a ser
como antes .
Se a pessoa estiver em condições de se comunicar bem com o outro, pode ser o início de
tratativas para ajustar novas fases adiante, desde que ela tenha clareza sobre o fim .

Na realidade, porém, ela precisará ACEITÁ-LO para poder negociar uma nova configuração em
sua vida.

Finalmente, a última etapa é a da ACEITAÇÃO, que pode ser expressa pela frase “tudo vai acabar
bem ”. Este é o estágio em que efetivamente a pessoa tem condições de seguir adiante; a partir
de tal consciência, poderá buscar uma nova configuração para sua situação e abrir- se a saídas
consensuais de modo produtivo.

Quanto tempo pode demorar até que alguém alcance este estágio ? Não há como prever, mas
pode demorar anos para alguns, enquanto para outros pode nem terminar.

A razão dessa pequena digressão sobre as fases da perda foi promover uma breve reflexão sobre
como o tempo pode variar para cada um e como é importante respeitar o processo interno de
cada pessoa, não impondo qualquer tipo de pressão para que ela busque ou atue em prol de
uma suposta pacificação.
A mediação vai mais longe do que outros meios de composição de conflitos AO BUSCAR AS
CAUSAS DA CONTROVÉRSIA PARA TENTAR SANAR O SOFRIMENTO HUMANO.

Por meio da mediação, as pessoas, em diversas sessões , tomam contato com diferentes
aspectos do impasse , respondendo a si mesmas e ao mediador perguntas importantes sobre
as origens do litígio e os destinos pretendidos.

Pacificar, portanto , revela -se uma tarefa alcançável desde que as técnicas da mediação sejam
bem empregadas junto a pessoas interessadas em seu alcance e engajadas em atuar para
obtê-la .
Faltam instrumentos ao Judiciário para lidar com a esfera afetiva e psíquica dos afetos e desejos
e com a esfera psicossocial (papéis e funções) dos vínculos desfeitos.

Com a implementação de um “MODELO MEDIACIONAL” de resolução dos conflitos, o Estado


estará mais próximo da conquista da pacificação social e da harmonia entre as pessoas.

Sem dúvida o cumprimento do acordo pactuado tem muito mais chance de ser efetivado do
que a sentença imposta pelo magistrado, porquanto o ânimo das partes em relação à
observância espontânea é completamente diverso quando a decisão se origina de sua
vontade.
TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO
1) CONEXÃO ENTRE TÉCNICA E OBJETIVOS DA MEDIAÇÃO

O valor da técnica na mediação é tão grande que, como visto, muitos autores a associam com
o método, de sorte que em muitas definições a expressão aparece logo no início para denotar
um dos aspectos principais do mecanismo.

A prioridade desse elemento foi o foco, por exemplo , dos legisladores responsáveis por um dos
primeiros projetos de lei sobre mediação no Brasil; engendrado para institucionalizar a
mediação do país, o art. 2.do Projeto de Lei 94/ 2002 definia mediação como “ a atividade
técnica exercida por terceiro imparcial que, escolhido ou aceito pelas partes interessadas, e
mediante remuneração, as escuta, orienta e estimula , sem apresentar soluções, com o
propósito de lhes permitir a prevenção ou solução de conflitos de modo consensual” .
A temática não se limita ao aspecto teórico porque, na atuação concreta , a técnica é
fundamental: como bem destacou Giselle Groeninga, “ na mediação , técnica e teoria se
constroem em paralelo ”.

Em que viés pode e/ou deve ser concebida a técnica na mediação ?

Não há apenas um modo de realizar a mediação ; especialistas entendem que cada uma das
formas pode reproduzir resultados únicos segundo os perfis das pessoas envolvidas.

A técnica liga -se ao conhecimento prático e revela o “ conjunto dos métodos e pormenores
práticos essenciais à execução perfeita de uma arte ou profissão”.
A técnica está a serviço da eficiência do instrumento.

HAVENDO CONEXÃO ENTRE TÉCNICA E FINALIDADES, CABE IDENTIFICAR OS OBJETIVOS DA


MEDIAÇÃO .

É possível identificar como finalidades:


 o restabelecimento da comunicação,
 a possibilidade de preservação de relacionamento em bases satisfatórias (caso tal
manutenção seja necessária e/ou desejada ),
 a prevenção de conflitos,
 a inclusão dos cidadãos e
 a pacificação social .
2) APROPRIADA APLICAÇÃO DE TÉCNICAS NA AUTOCOMPOSIÇÃO

É de grande relevância a conscientização sobre a necessária aplicação de técnicas adequadas


no manejo dos meios de composição de controvérsias .

Especialmente no que tange aos meios consensuais, por muito tempo no Brasil a técnica não
recebeu a devida atenção ; quando o juiz era o responsável por conciliar , comumente não era
preparado para tal e o bom conciliador acabava sendo a pessoa naturalmente “ vocacionada”
que descobria em si virtudes que o habilitavam a promover o consenso .

Sendo dever de alguém realizar a autocomposição, É ESSENCIAL QUE ESSA PESSOA ESTEJA
DEVIDAMENTE PREPARADA PARA SE DESINCUMBIR DA MISSÃO .

Mediar é facilitar a comunicação entre as pessoas para propiciar que elas possam , a partir de
uma compreensão ampliada dos meandros da situação controvertida, engendrar respostas
conjuntas sobre questões relevantes do conflito.
Para uma compreensão maior sobre as técnicas utilizadas na mediação, sob o aspecto da
comunicação merece destaque a diferenciação entre as linguagens binária e ternária;
enquanto no pensamento binário há o terceiro excluído e se está diante do princípio da
alternativa lógica, complementar ao princípio da contradição, o pensamento ternário enseja
outras possibilidades : “inclui o terceiro na atividade da comunicação e busca ampliar o
espaço- tempo em que se situa o conflito, gerando mais elementos e aumentando a valorização
das partes, possibilitando-lhes transformar o conflito ”.

Percebe-se então que a linguagem binária é regida pela conjunção “ou”, enquanto a linguagem
ternária é regida pela conjunção “ e” ; esta última torna possível a adoção de infinitas
alternativas para determinada situação de acordo com os recursos pessoais das partes
envolvidas na comunicação.

Quando se cogita da utilização da técnica ternária para auxiliar a atribuir a cada um o que é
devido , prioriza -se a dinâmica da intersubjetividade , visando ao exercício da humanização do
acesso à justiça.
2.1) FORNECIMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE O MEIO CONSENSUAL

A abertura é um momento crucial para o início da conversação.

O mediador pode não saber como os litigantes ali chegaram: se foram encaminhados por uma
instituição ( seja comunitária, seja do sistema de Justiça ), se um deles teve a iniciativa e o
outro foi convidado a comparecer.

Assim, revela-se importante agradecer a presença , fazer as devidas apresentações e estar


pronto para fornecer informações sobre a mediação .
Essa primeira atuação do mediador pode ocorrer em um encontro especial denominado “ PRÉ-
MEDIAÇÃO”.

O foco será prestar esclarecimentos sobre a dinâmica para explicar o que é mediação , que o
mediador não tem poder decisório, destacar a relevância da vontade das partes, que a proposta
é ouvir e fomentar a comunicação, que o mediador é isento, imparcial, equidistante, que
poderão ser realizadas sessões individuais/ privadas, que há sigilo.

Informa-se ainda que um dos objetivos da mediação é o estabelecimento (ou


restabelecimento) da comunicação , compondo o objeto da mediação “ o presente e futuro ”.

O cuidado ao se expressar deve estar sempre presente, já que tanto para interromper como
para inserir uma temática é preciso cautela; afinal, o mediador, embora seja o administrador e
organizador da mediação, mostra- se também como o modelo de comunicação para os
participantes.
Recomenda-se ainda que o mediador inicialmente proceda de forma cerimoniosa, abordando
as pessoas como senhor/senhora , e então pergunte como elas preferem ser chamadas;
algumas pessoas, a depender de sua idade ou de características pessoais, podem preferir uma
maneira menos formal.

O mediador deve esclarecer que, no procedimento , algumas pautas de conduta são essenciais:
evitar abordagens desrespeitosas, respeitar a fala do outro (que depois será ouvinte por igual
tempo ), evitando interrupções, buscar falar sempre na primeira pessoa.

Nessa sessão geralmente não se inicia a abordagem do conflito, mas são organizadas as
condições para os encontros seguintes (ajustam-se datas, assinam - se termo de
confidencialidade, etc .).

Nada impede , porém, que havendo vontade das partes elas já avancem rumo às conversas
pertinentes .
No modelo transformativo , o mediador inicia a conversa com uma declaração clara de que o
objetivo é criar um contexto para permitir e ajudar as partes a :
“ ( a ) esclarecerem seus próprios objetivos, recursos, opções, preferências e a tomarem , por
conta própria, decisões sobre sua situação; e
( b) considerarem e entenderem melhor a perspectiva da outra parte, se decidirem que assim o
desejam’.

Nesse modelo a conversa de abertura tem uma estrutura dialógica : O MEDIADOR ESCLARECE
SEU PAPEL E OUVE AS PARTES SOBRE COMO A CONVERSA PODE SE ESTABELECER,
RESPEITANDO SUA VONTADE E NÃO PROPONDO REGRAS FIXAS .
2.2) ESCUTA ATIVA

Sendo a mediação uma conversação, falas e escutas são essenciais para que a dinâmica
evolua.

A escuta ativa permite à pessoa perceber que ela é objeto de atenção, mostrando -se o
interlocutor interessado em seus pensamentos e em suas opiniões; é também conhecida
como “ reciprocidade ” , já que “ as duas pessoas estão comprometidas no processo de
ouvir ativamente e trocar informações”.

PELA ESCUTA ATIVA, O MEDIADOR NÃO SÓ OUVE, MAS CONSIDERA ATENTAMENTE AS


PALAVRAS DITAS E AS MENSAGENS NÃO EXPRESSAS VERBALMENTE ( mas reveladas pelo
comportamento de quem se comunica ).

A demonstração de muitos elementos relevantes pode ser depreendida a partir de sua


postura, de sua expressão facial e mesmo do contato visual.

Como se percebe, a percepção supera a mera consideração das palavras ; “escutar é diferente
de ouvir ”.
É essencial que o mediador não se deixe envolver pela complexa experiência conflituosa das
partes, que podem tentar manipulá-lo .

Exemplos de técnicas inerentes à escuta ativa:


 manter postura relaxada, mas atenta;
 participar ativamente da conversa , mostrando- se receptivo e disponível para escutar;
 evitar escutar e digitar / escrever ao mesmo tempo ;
 usar incentivos verbais como “ Fale mais” , “ Verdade? ” ;
 reduzir ao máximo gestos que possam distrair o interlocutor ( como brincar com uma caneta,
estalar os dedos. . . ) ;
 manter um contato visual eficiente, procurando evitar desviar o olhar;
 fugir à tentação de interromper a pessoa no meio de sua fala;
 fazer perguntas para checar o que foi dito;
 usar a empatia e
 ser compreensivo.
2.3) MODO AFIRMATIVO

Presente especialmente na primeira fase do procedimento de mediação ( em que se abordam


as pautas de atuação) , as afirmações destinam - se a destacar os objetivos da técnica, a
esclarecer , a reafirmar , a reformular .

Sob certo prisma podem ser apontadas como técnicas inerentes ao modo afirmativo separar as
pessoas dos problemas, compartilhar percepções, usar palavras positivas e focar no futuro.

Há uma lista de pontos a serem trabalhados : o mediador propõe que os mediandos expressem
os assuntos que gostariam de abordar e os vai anotando em um local visível a todos ( por
exemplo, um quadro ou um flip-chart).

Eleitos os pontos, destaca a impossibilidade de conversarem sobre todos de uma só vez e


ressalta o efeito benéfico de elegerem aquele sobre o qual seja possível conversar a respeito.
Evitar expressões emocionais e seu controle rígido não se coaduna aos propósitos almejados.

O mediador estimula as partes a expressarem seus sentimentos pedindo- lhes que descrevam
o que há por trás deles; as respostas muitas vezes revelam os pontos específicos com os quais
as partes estão tendo dificuldades de lidar, tanto para obter controle sobre sua situação quanto
para entenderem e serem entendidas pela outra parte.

Além disso, o mediador deve checar a compreensão de certas afirmações para seguir
evoluindo na comunicação.

Ao parafrasear e resumir o que foi dito, o mediador permite que o interlocutor possa ouvir-se
e perceber melhor o que expressou .

O modo afirmativo também costuma ser utilizado um pouco antes do término da sessão sob o
aspecto esclarecedor.

O mediador resume de forma sintética o que foi expressado pelas partes para pontuar em que
ponto as partes se situam.
2.4) MODO INTERROGATIVO

As perguntas têm várias funções: permitir ao mediando falar por si mesmo diretamente para
o outro, revelar sentimentos, dúvidas , emoções, demonstrar a complexidade do conflito e
estimular a criação de ideias .

O modo interrogativo é ainda uma expressão importante por ser o melhor meio de preservar
a imparcialidade do mediador; afinal, quando perguntamos deixamos de assessorar,
aconselhar ou emitir juízos de valor.

Há vários tipos de perguntas. As perguntas exploradoras são úteis para evidenciar o que está
omisso; questionar o que, quando, onde, com que, com quem, para que, para onde é
importante para que a narrativa aborde todos os pontos e não sejam omitidos dados
essenciais .
As perguntas também podem ser importantes para evocar memórias da relação entre as
partes que permitam uma compreensão mais ampla da situação .

Como se percebe, as opções de perguntas são muitas e O MEDIADOR PRECISARÁ DOSAR COM
CALMA E SERENIDADE O USO DESSA ÚTIL FERRAMENTA .

O EXERCÍCIO DA PERGUNTA DEVE SER PRUDENTE, já que não é interessante abrir espaço para
temas que não sejam pertinentes ao conflito específico que vem sendo tratado.
MESCLA DE DIFERENTES MODOS

A verificação dos diferentes modos de atuação por parte dos envolvidos em uma mediação
não ocorre de forma linear .

Durante as falas e as escutas podem surgir ruídos, avanços e retrocessos, configurando -se a
necessidade de retomar os pontos importantes e o compromisso das partes com as regras.

Outra ferramenta que pode ser de extrema valia é o humor .

A depender do clima emocional, utilizar certa dose de bom humor pode representar um
ótimo recurso para aliviar tensões e criar um clima favorável.

Recomenda-se porém , a adoção de um “humor ingénuo” , não ofensivo às partes e que


objetive criar um ambiente mais agradável sem desvirtuar o propósito do encontro.

Vale ainda destacar que o humor não é uma ferramenta obrigatória, mas auxiliar: o mediador
deve se sentir confortável para atuar com leveza e serenidade - caso não seja coerente com
seu perfil uma intervenção desse tipo, não deve dela se valer .
Selecionar implica optar por algo, excluindo outra possibilidade.

Qual critério adotar para decidir, naquela fração de segundos, entre ouvir/ falar , perguntar/
calar? Podem ser cogitados vários parâmetros, na teoria e longe do calor dos acontecimentos;
na prática , a intuição acaba sendo determinante para a atuação do mediador.

Além de certas técnicas, “ O OFICIO DO MEDIADOR EXIGE MUITO TALENTO E INTUIÇÃO” por
tratar -se de “um todo complexo que não pode ser reduzido à forma fixas e
predeterminadas”: “ é um trabalho artesanal que busca encontrar soluções diferenciadas para
cada caso .

A mediação é flexível, sendo este um de seus mais importantes predicados.

A sensibilidade também é um ponto essencial a ser desenvolvido pelo mediador.

As respostas e os discursos precisarão ser objeto de uma escuta muito atenta; integrar vários
canais de percepção e promover reciprocidade revela - se muito útil na atuação do facilitador
da comunicação (especialmente quando ele precisa retomar pontos importantes discutidos
anteriormente para seguir adiante ).
APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS EM SESSÕES CONJUNTAS E PRIVADAS

VALENDO-SE DAS TÉCNICAS APROPRIADAS O MEDIADOR DEVE ATUAR TENDO POR BASE DOIS
PILARES:
 “ POSTURA FIRME E CONTINENTE AO SOFRIMENTO ” E
 “ VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS DAS PARTES”.

São condutas apropriadas para fomentar a comunicação eficiente escutar com atenção e
contribuir para que sejam esclarecidos aspectos importantes das percepções dos envolvidos .

As técnicas deverão ser aplicadas durante toda a mediação, que pode se desenvolver em
sessões conjuntas e/ ou reuniões individuais ( reuniões privadas).
Deve-se deixar claro que tanto as pessoas envolvidas no conflito DEVEM SABER SOBRE A
POSSIBILIDADE DE UMA CONVERSA EM PARTICULAR COMO DEVEM CONCORDAR COM ESSE
MECANISMO .

Além de ser informada desde o início a possibilidade de reuniões individuais, os participantes


devem ter ciência de que tanto o mediador quanto eles podem solicitá-la caso entenda haver
benefícios em sua adoção.

A realização de SESSÕES INDIVIDUAIS entre o mediador e uma das partes ( e seus advogados,
se presentes) é uma técnica usada para a obtenção de informações e encaminhamentos que
não seriam adequados na presença dos demais envolvidos.
Casos em que podem ser vistos como recomendáveis as sessões individuais:
1. Há um elevado grau de animosidade entre as partes ;
2. Há dificuldade ( de uma ou ambas ) de se comunicar ou expressar adequadamente quanto
a interesses e questões presentes no conflito;
3 . O mediador percebe que há particularidades importantes que só serão obtidas por meio
de uma comunicação reservada;
4. Há necessidade de uma conversa com as partes sobre suas expectativas quanto ao
resultado , por exemplo, de eventual sentença judicial.
5. É possível que a mediação ocorra por requisição dos envolvidos;

As reuniões privadas são especialmente úteis quando se lida com situações extremamente
carregadas de tensão e de emoção, uma vez que possibilitam às partes falar abertamente e, ao
mediador, fazer perguntas mais diretas, que implicam , por exemplo, rever a própria
contribuição para a situação conflituosa.

No espaço privado, as acusações prevalecem e os mediadores podem ajudar os mediandos a


redefinir suas queixas em preocupações, identificando valores morais que estariam sendo
violados pelo comportamento do outro, como o respeito e a confiança, entre outros.
Como se percebe, para poder se valer da técnica da sessão privada o MEDIADOR PRECISARÁ
DISPOR DE UMA BOA ESTRUTURA , contando com pelo menos dois ambientes para o caso de
precisar fazer sessões individuais.

Em câmaras e entidades privadas realizadoras de mediação e arbitragem costuma haver espaços


para atender a essa necessidade.

Por fim , vale lembrar que o mediador observará a CONFIDENCIALIDADE em relação ao teor
comunicado na sessão privada, só podendo comunicá-lo à outra parte se houver autorização
expressa do mediando.

Ao fazê-lo (após ter conquistado a confiança das partes para que estas exponham informações
confidenciais relevantes) , ele deverá comunicar os dados colhidos de forma positiva.
ETAPAS DA MEDIAÇÃO
O mediador deve estar apto a, superando resistências pessoais e obstáculos decorrentes do
antagonismo de posições, RESTABELECER A COMUNICAÇÃO ENTRE AS PARTES.

Seu papel é facilitar o diálogo para que as partes possam voltar a protagonizar a condução de
seus rumos.

Como a mediação é pautada pela informalidade, muitas vezes não há um procedimento único
a ser seguido: dependendo da instituição ou dos mediadores que estejam realizando a
mediação, ela poderá ser conduzida de forma diferente.

O processo pode ser acompanhado por apenas um mediador ou, se for o caso , dois
mediadores.

Pode haver ou não a pré-mediação ou as reuniões em separado.

O procedimento pode ser reduzido a termo (escrito em um documento) e assinado , ou essa


providência pode ser dispensada. Enfim , dependendo da instituição, do mediador e das partes
serão definidos procedimentos diferentes . Evidentemente que os princípios da mediação e o
código de ética devem ser seguidos por esses profissionais e por essas instituições.
A consideração de etapas na mediação serve para FORNECER LINHAS MESTRAS
NORTEADORAS DO CAMINHO A SER PERCORRIDO, não devendo ser tidas como passos
inflexíveis que trariam o retorno da linearidade.

O procedimento da mediação pode ser dividido em dois grandes principais momentos:


 A PRÉ-MEDIAÇÃO E
 A MEDIAÇÃO PROPRIAMENTE DITA .

De modo mais pormenorizado, é viável vislumbrar a divisão do procedimento nas seguintes


etapas: PRÉ-MEDIAÇÃO; ABERTURA; INVESTIGAÇÃO;AGENDA; CRIAÇÃO DE OPÇÕES; ESCOLHA
DAS OPÇÕES E SOLUÇÃO.

A PRÉ-MEDIAÇÃO inicia com o encaminhamento dos interessados ao mediador; muitas vezes


ela é feita por seus advogados e enseja a reunião dos envolvidos para esclarecer as funções e
as atribuições de cada um no processo.
Na PRÉ- MEDIAÇÃO há a explicação do perfil do procedimento.

No caso de mediações privadas ( institucionais ou autónomas) , o mediador faz a proposta de


contrato de prestação de serviços; tal etapa pode se dar na presença das partes em conjunto
ou individualmente.

São objetivos da pré-mediação eliminar a contenciosidade, informar as partes sobre sua


responsabilidade pelo processo, promover cooperação e respeito mútuo, escutar atentamente
o que cada um deseja e fomentar a confiança entre os indivíduos.

Como se percebe , a pré- mediação é importante para que as pessoas comecem a vislumbrar
oportunidades de trabalhar as controvérsias que as afligem.

Iniciando um segundo momento, A MEDIAÇÃO PROPRIAMENTE DITA, é possível dividir as


seguintes etapas : abertura , investigação, agenda , criação de opções, escolha das opções e
solução.
Na mesma linha, pode-se considerar o desenvolvimento do processo de mediação em cinco
fases :
i ) declaração de abertura;
ii ) exposição de razões pelas partes;
iii ) identificação de questões, interesses e sentimentos ;
iv ) esclarecimento acerca de questões, interesses e sentimentos ; e
v ) resolução de questões.
A ABERTURA tem suma importância: logo no início da sessão, após saudar as partes e
promover as devidas apresentações, o mediador esclarece o que é a mediação, qual é o seu
papel ( explicando que não atua como juiz ou conselheiro ) e aponta os possíveis resultados
que podem advir da conversação .

Na abertura também são destacados princípios importantes como a confidencialidade, a


autonomia e a isonomia.

Essa fase inicial tem ainda outro objetivo: fazer que as partes adversárias se habituem a
sentar , uma ao lado da outra, em um mesmo ambiente.

Realizada a abertura, será hora de iniciar a EXPOSIÇÃO DAS PARTES (POR ALGUNS
DENOMINADA INVESTIGAÇÃO); nessa etapa elas terão chance de expor, a viva voz, sua
percepção do que ocorreu para que chegassem até ali.

O mediador deve escutar com atenção e, se preciso, fazer questões para ajudar a esclarecer o
cenário em que se situam as partes e / ou suas percepções .

Ao assim proceder, EXPLORANDO PROPOSTAS já nessa etapa, é bem possível que as partes
realizem um acordo que não englobe todas as questões relevantes do conflito, como também
não abordem seus interesses reais .
Após a exposição das partes e a identificação de seus interesses , vem a fase da AGENDA.

Embora costume ser curta, ela configura uma etapa fundamental no sentido de organizar as
questões controvertidas. A proposta é objetivar os pontos que serão trabalhados.

Cabe ao mediador contribuir para diferenciação entre interesses e posições, trabalhando com
as partes para cogitar soluções criativas e eficientes; ele também deve atuar como um agente
da realidade, contribuindo para que as partes sejam mais realistas quanto às suas alternativas.

Finalmente vem a FASE CONCLUSIVA, que pode resultar no agendamento de uma nova
reunião, na assunção de algum compromisso ( ainda que represente uma solução parcial e
provisória ), na celebração de um acordo , na suspensão momentânea das reuniões ou no
decreto do fim da tentativa consensual.

Essa deliberação dependerá das partes, que no exercício de sua autodeterminação escolherão o
caminho que desejam trilhar .

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