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Resumo

A pesquisa pretende refletir acerca das transformações na experiência de recepção na

arte da performance tomando como objeto o “Método Abramović”. Elaborado por M.

Abramović, foi apresentado na mostra “Terra Comunal”, nele o público foi instruído a

participar de uma série de atividades que buscam reduzir os estímulos sensório-

intelectuais antes de passarem pelas demais obras da mostra, propondo a emergência de

uma outra disposição psicofísica no público para experienciar a mostra. Para tanto

pretendo fazer, em primeiro momento, uma revisão bibliográfica acerca das correlações

entre o desenvolvimento técnico e as transformações das capacidades perceptivas do

sujeito. Posteriormente, um estudo teórico-prático acerca de técnicas de meditação e as

transformações no sujeito, relacionando com as propostas do “Método Abramović”.

Introdução e justificativa

Entre os meses de março e maio de 2015 aconteceu na cidade de São Paulo a exposição

“Terra Comunal – Marina Abramović + MAI”, uma parceria do Sesc e MAI (Marina

Abramović Institut) apresentando uma retrospectiva do trabalho da artista composta por

três instalações, objetos transitórios (definida por ela como esculturas para uso humano,

a maioria utilizando cristais e madeira), vídeos com registros de suas performances, além

de apresentar atividades vinculadas ao MAI, como o “Método Abramović”, conferências

públicas com a artista, reencenação de seus trabalhos históricos e o workshop “cleaning

the house” com artistas selecionados previamente que também apresentaram seus

trabalhos durante a mostra.

A produção de Abramović percorreu as últimas quatro décadas, em uma trajetória

multifacetada, marcada pela exploração de diferentes questões que a levou a


investigações de novos meios para desdobra-las. A artista divide seus trabalhos em três

tipos, (Abramović, 2015), o primeiro denominado “Artist Body” no qual a performer está

diante do público e analisa quais são as possibilidades da arte da performance usando seu

corpo como veículo, podemos exemplificar com as performances “Lips of Thomas”

(1975) e “Rythm 5” (1974). O segundo chamado “Public Body” é caracterizado pelo foco

na análise das possibilidades de compartilhar a experiência da performance com o

público, tornando sua presença como parte integrante da obra, como nos objetos

transicionais e nas performances “The house with ocean view” (2002) e “The Artist is

Present” (2010). Por fim há o ciclo intitulado “Student Body”, na qual a ênfase está na

transmissão de sua experiência às novas gerações, através do ensino do que é e como

realizar uma performance, qual é o estado de presença que é necessário desenvolver para

criar uma performance e como alcançá-lo. Esta podendo ser representado pelo projeto de

criação do MAI e o “Método Abramović”.

Essa metodologia foi desenvolvida pela artista como um experimento com o público

anterior a performance propriamente dita, possibilitando a emergência de uma disposição

à experiência estética distinta do cotidiano, ampliando os horizontes de experiência da

performance. Esta dinâmica já havia sido trabalhada, em performances como “In

Between” (1996), “Escape” (1998) e “The Drill” (2009). O “Método” se distingue por se

tratar de uma primeira sistematização, podendo ser aplicada em diferentes contextos. Ele

é composto pelas seguintes atividades: usar bloqueador de sons e/ou vendas; contar os

grãos de um determinado monte de arroz; andar; deitar; sentar; permanecer em pé; andar

lentamente; gritar; olhar para um quadro monocromático; tomar água lentamente. Em

cada cidade é feita uma composição de exercícios que constituíram a apresentação do

método e a duração de cada atividade. Na mostra Terra Comunal o método teve duas

horas de duração, iniciando com o público entregando pertences como aparelhos digitais
e relógios, após recebem um abafador sonoro. A artista não participa do método, estando

presente em um primeiro momento através de um vídeo em que oferece as orientações.

São instruídos quatro exercícios: caminhar lentamente e permanecer nas posições

sentada, deitada e em pé junto ao objeto transicional referente a posição. Cada atividade

tinha duração média de 20 minutos. Ao participar do método o público é convidado a

permanecer em uma situação com estímulos limitados, diferente da saturação de

informação tão constante na vida cotidiana, possibilitando, assim, a emergência de outra

percepção do espaço/tempo.

A temática da possibilidade de deslocar os limites da percepção e da temporalidade é um

tema caro à arte da performance, como mostra Carlson (2009) e Féral (2015). Essa

pesquisa busca compreender o “Método” a partir de uma outra perspectiva, uma vez que

parte da hipótese que mais do que propor a vivência de uma descontinuidade temporal

entre o cotidiano e a performance, o “Método” reposiciona a questão da possibilidade da

performance ser uma arte capaz de criar uma outra experiência perceptiva, questionando

a capacidade receptiva do público contemporâneo. Em entrevista com Bernstein (2003),

Abramović questiona se ainda há possibilidade de haver a experiência da performance

como na década de 70, para a artista a relação que a geração atual estabelece com o tempo

é incapaz de criar o vínculo necessário do público com o performer devido a ânsia de

consumir cada vez mais novidades em um ritmo cada vez mais acelerado. Procuro

fornecer a seguir um breve panorama acerca das mudanças nos modos de percepção na

modernidade com o intuito de favorecer um quadro conceitual que possibilite uma melhor

apreensão da questão a ser tratada na pesquisa.

As relações entre o avanço tecnológico e as transformações da sensibilidade oriundas

deste processo, remontam aos escritos de G. Simmel (2009). Este autor da virada do

século XIX para o XX procura compreender como o novo ambiente urbano afeta o
indivíduo. A sensibilidade do citadino é intensificada por estar inserido em uma

ininterrupta profusão de estímulos desconexos em um ritmo frenético que necessitam ser

incorporados imediatamente pelo sujeito para que este possa se posicionar e sobreviver

ao ritmo na grande cidade, contudo, sua consciência é incapaz de dar sentido a estas

imagens em ritmo tão veloz, sendo vivenciadas como choques. Essa experiência de

grande excitação dos sentidos proporciona uma intensificação da vida nervosa, para não

se desintegrar o corpo cria uma barreira protetora, uma carapaça de apatia e frieza,

evitando, dessa forma, ser abatido por um esgotamento físico e intelectual. Por

consequência, ocorre um empobrecimento da percepção a medida em que os estímulos

aumentam, fazendo com que o indivíduo urbano tenha seus sentidos físicos

paulatinamente embotados.

W. Benjamin (2004) retoma as questões de Simmel, refletindo-as juntamente com as

descobertas de Freud (2010), a noção de choque é correlacionada à teoria do inconsciente.

Para o último, é a consciência é o sistema cuja uma das funções é de defender o organismo

vivo em meio ao excesso de estímulos, com o intuito de manter a reserva de energia

psíquica constante. Dessa forma, as impressões sensoriais amortecidas pela consciência

não deixam modificações duradouras no sistema, não deixando traços na memória. Em

um contexto mais amplo, no qual o choque é uma experiência social de massa, há um

progressivo declínio das capacidades de retenção de imagens e lembranças, sendo este

um dos fatos que marcam o processo de enfraquecimento da experiência (erfahrung).

Para Benjamin, na modernidade os acontecimentos dificilmente alçam a um significado

além do momento presente, as vivências (erlebnis) aparecem como fragmentos, isoladas

uma com as outras. Consequentemente, o indivíduo não consegue apossar da sua

memória, fazer desta um saber capaz de orientar a si mesmo e também aconselhar os

demais, uma experiência. Outro fato correlato a esse processo é a ascensão da informação
jornalística à forma de comunicação hegemônica. Esta se assenta no paradigma da

novidade (news), tudo a ser comunicado deve ser atual, tornando-se ultrapassada em

tempo cada vez mais reduzido; o que implica um ambiente cada vez mais saturado de

informações. A vivência de choque se torna a norma na sociedade industrial, seja em meio

as colisões na multidão, entre as máquinas que ditam o reorganizam o corpo do

trabalhador ou mesmo na torrente frenética de novas notícias. Os efeitos dos choques na

percepção irão refletir nas capacidades de recepção da obra de arte, para a pesquisa me

foco nas que dizem respeito ao público da poesia lírica. O autor irá buscar na figura do

leitor criada por Baudelaire como um novo paradigma, cito sua caracterização: “sua força

de vontade e, consequentemente, seu poder de concentração não se vai longe; esses

leitores preferem os prazeres dos sentidos e estão afeitos ao spleen (melancolia) que anula

o interesse e a receptividade”

Com a explosiva expansão de novas mídias no século XX, o interesse e a receptividade

do público são colocados em outros termos, passando a ser uma questão central para a

indústria. O seu mecanismo de funcionamento passa a ser investigado e colocado em

variáveis racionais através do planejamento de um esquematismo1 repetido

permanentemente nos produtos culturais, possibilitando a orientação da organização da

percepção do público, administrando, assim, a atitude e interpretação do público. Tais

teses foram desenvolvidas por Adorno e Horkheimer (2016) na criação do conceito de

“indústria cultural” para compreender a dinâmica de produção de bens culturais em larga

escala e as consequências desta para a constituição do sujeito, em seus aspectos

1
Este conceito provém da noção kantiana do “esquematismo do entendimento puro”, nas palavras dos
autores: “Assim se chama o funcionamento inconsciente do mecanismo intelectual que já estrutura a
percepção em correspondência com o entendimento. Este imprime na coisa como qualidade objetiva a
inteligibilidade que o juízo subjetivo nela encontra, antes mesmo que ela penetre no ego. Sem esse
esquematismo, em suma, nenhuma categoria ao exemplar, e muito menos o pensamento teria qualquer
unidade, para não falar da unidade do sistema, para a qual porém tudo está dirigido” (Adorno &
Horkheimer, 2016, p.72)
pulsionais, perceptivos, mentais e relacionais. De maneira geral, são elaboradas

estratégias para que os sentidos dos indivíduos sejam ocupados em seu tempo livre e

mediante a esse contato constante, ocorre um gradativo nivelamento das faculdades do

público, empobrecendo suas capacidades a ponto de reduzir sua apreensão apenas a

fenômenos que reproduzem a sequência de operações como os padrões da indústria

cultural. Os autores apontam para um sistema totalizante que elabora estratégias que agem

de maneira incisiva, buscando capturar a atenção do indivíduo para que este seja reduzido

a um consumidor em tempo integral.

As transformações das capacidades perceptivas adquirem outro patamar com o

desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação2, acentuando os

fenômenos já descritos. Estas tecnologias possibilitam um novo sistema de comunicação

que, segundo Castells (2017), é caracterizado pelos seguintes atributos: alcance global,

integração de todos os meios de comunicação (reunindo as modalidades escrita, oral e

audiovisual) e interatividade potencial. Entre os pensadores que lançaram um olhar crítico

para essa mudança tecnológica, particularmente aos impactos na percepção, destaco a

contribuição de C. Türcke (2014). Para o autor, o processo de transformação da percepção

pode ser compreendido na mudança do significado da palavra sensação: esta passou de

sinônimo de percepção para aquilo que atrai a percepção, o que se destaca em um

ambiente hiper saturado. Por consequência, o que não chama a atenção não é percebido.

O reflexo dessa afirmação é uma forma comunicativa que necessita causar uma sensação,

uma excitação, para que seja possível transmitir algo. Em larga escala, há uma pressão de

diversos meios procurando capturar a atenção do expectador por algum período de tempo,

transformando, em última instância, a publicidade como a ação comunicativa por

2
Esse termo, segundo Castells (2017, p.87), abrange um “conjunto convergente de tecnologias em
microeletrônica, computação (software e hardware) telecomunicações/radiodifusão e optogeletrônica”.
excelência, em um comportamento de massa. De maneira concreta, esse processo pode

ser percebido como uma disseminação da estética usada na propaganda em outros setores

da vida, havendo uma necessidade de almejar os padrões estabelecidos pelo comercial

para ser percebido na multidão de estímulos.

Como já foi dito, situações em que há excesso de informação, são apreendidas de maneira

fragmentada pelo sujeito, o que leva a um empobrecimento da percepção. Türcke

complementa que essa afirmação ao indicar que a alta pressão informacional gera um

estado exaustivo e, em situações desse tipo, há a tendência em procurar um certo alivio

por meio de uma ocupação momentânea, uma distração para os sentidos. Vale ressaltar

que na maioria das vezes essa ação é desorganizada, acontecendo simultaneamente em

diferentes partes do corpo procuram alvos distintos para descarregar a tensão acumulada,

o que leva a um corpo constantemente fragmentando em múltiplas atividades e em uma

atenção difusa. Vale ressaltar, que esse fenômeno deve ser inserido no contexto da

Indústria Cultural em um estado avançado, havendo ampla disseminação de produtos que

almejam deixar o público em um constante estado de fascínio e distração, proporcionando

uma sensação de rápido alivio. Essa dinâmica gera um ciclo vicioso, uma compulsão ao

sujeito a querer permanecer no estado de excitação, que é vivida como um permanente

estado de inquietação. Esse estado possui uma afinidade com as tecnologias interativas

pois estas conseguem dar uma forma, um destino, a essa inquietação: a compulsão ao

estímulo tornar-se uma compulsão a emitir, de permanecer participando da realidade

virtual. Nessa circunstância a atenção passa a se focar cada vez mais nas informações

advindas da rede, tornando o contato prolongado com a realidade concreta uma situação

entediante. Crary aponta que nessa situação há cada

Após esse rápido panorama acerca do problema da percepção nos últimos tempos, tento

desdobrar tais questões na reflexão no horizonte da experiência performática. Meu foco


será na maneira como foi caracterizada a questão da particularidade do processo de

recepção de performance. Fischer-Litche (2008) aponta que no fenômeno espetacular é o

que ela denomina de performativo: um acontecimento auto referenciável, isto é, a ação

realizada não é para ser compreendida sob o prisma de uma estrutura ficcional, o olhar é

convocado para a intervenção real que acontece diante do público. Isso coloca o público

em uma posição distinta de mero expectador, a autora então caracteriza duas ordens

perceptivas coexistentes durante a apreensão do evento artístico, por um lado a ordem da

representação e por outro a ordem da presença. Foquemo-nos por hora apenas na última,

nesta o corpo do espectador assume um protagonismo na maneira de estabelecer a relação

com a performance, elaborando significado a partir de uma comunicação sinestésica com

a performance, desencadeando no corpo do espectador uma série de efeitos, afecções e

sensações que, por sua vez, desencadeiam um fluxo de associações de ideias não

voluntárias. Há um impacto imediato na audiência que não provém do significado da ação

que esteja ocorrendo, mas pelo fato de ela realmente estar ocorrendo. Féral (2015)

também aponta para a centralidade do corpo do expectador como local que serão

atravessados fluxos energéticos, deslocamentos, o que exige novos hábitos de percepção.

Uma das hipóteses da pesquisa é que o Método é um objeto privilegiado para

compreender tais questões pois possibilita que o próprio público vivencie tal problema,

além de questionar as possibilidades de haver a performance

Para realizar tal pesquisa

Objetivos

Com base no conjunto de reflexões apresentadas na justificativa, a pesquisa tem como

objetivo geral lançar um olhar para o “Método Abramovic” através da seguinte questão:

De que maneira as transformações proveniente do desenvolvimento tecnológico estão


impactando as capacidades perceptivas do sujeito? E, a partir dessa chave, procurar

compreender a tensão existente entre uma dinâmica perceptiva ancorada num corpo

engajado na experiência da performance e, por outro lado, um processo social que

fragiliza as condições perceptivas do sujeito. O intuito desse objetivo é de possibilitar

Para tanto,alcançar tal objetivo, este será desdobrado nos seguintes objetivos específicos

Materiais e métodos

Forma de análise dos resultados

Estar atento às posturas do meu corpo, para isso estabelecerei formas para realizar ações,

criando uma ritualização no ato de andar, sentar, comer, beber, ler, escrever. b) Evitar

comunicações com pessoas, verbais e visuais. Quando necessário, procurarei comunicar

apenas o fundamental, evitando uma conversa. Durante as aulas procurarei manter o foco

no assunto desenvolvido, não realizando conversas sobre assuntos paralelos. (Será

reavaliado a eficácia de tal regra em ambiente de sala de aula a partir da prática, podendo

ser suspendida caso o autor perceba que está atrapalhando em sua produção acadêmica)

c)Estar sempre junto com uma caderneta na qual escreverei todas as atividades que inicio

e o seu horário d) Não usar substâncias entorpecentes. E )Não ouvir músicas (não se aplica

caso o ambiente tenha música) f)Não usar redes sociais g) Nos últimos 30 minutos da

jornada de trabalho será dedicado à escrita de um diário, relatando como está sendo a

realização do processo.

Atividade dos doze bimestres 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º


Disciplinas

Revisão bibliográfica

Redação e entrega do relatório parcial

Redação do exame de qualificação

Redação e entrega do relatório final

Redação e defesa da dissertação

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