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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE HISTÓRIA
GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
NOME: EDUARDO ANTONIO DA SILVA MATRÍCULA: 11611HIS025
TURMA: MATUTINO
DISCIPLINA: HISTÓRIA DA AMÉRICA I PROFA. DRA. ANA PAULA SPINI

UM OLHAR SOBRE AS BRUXAS DE SALÉM (1996): A criação do mal a partir da mulher


na América inglesa (séc. XVII) e seus reflexos no século XXI

1. INTRODUÇÃO: A ORIGEM DO CONCEITO “BRUXA”

O conceito de bruxa e/ou feiticeira está presente no imaginário popular há séculos,


mesmo que não em sua definição mais clara e pontual, mas de fato essa está presente. Com base
nisso propõe-se uma análise – a partir do filme As Bruxas de Salém, de 1996 – acerca de como
a imagem da bruxa tem criado uma visão estereotipada e pejorativa relacionada a mulher.
Para isso deve-se resgatar a origem desse conceito, que é de certa forma polêmico, o
conceito da bruxa. Data-se do ano de 589 a primeira vez em que o termo bruxaria teria sido
usado e esse era constantemente relacionado a práticas rurais e coletivas.1 A bruxa surge no
meio rural, pois esse se encontrava, de certa forma, alheio aos olhares da Igreja, sendo assim o
meio apropriado para o surgimento de uma prática alternativa. “Por sua própria essência, a
bruxaria só pode evoluir em um meio carente de instrução como a população camponesa. Não
é na cidade onde se encontra a verdadeira bruxa, mas sim nos campos”. 2
A ideia de bruxa surge em um momento em que a Igreja e a cristandade estão em alta e
com bastante influência na sociedade. E esse cristianismo medieval se pauta na dualidade de
bem e mal, Deus é bom, o Diabo é mau. Deste modo, pode-se dizer – e Nogueira concorda em
seu livro – que a bruxaria seria uma forma de oposição ao regime religioso em voga, uma forma
de resistência, como diz Nogueira, uma “rebelião contra a ortodoxia”. É aí que começa o
problema, nenhum indivíduo, classe, grupo, em toda a história foi capaz de desafiar a Santa
Igreja e ficou impune.

O dualismo Deus e Demônio faz parte do próprio universo medieval, onde a


sociedade se divide sempre em duas facções em constante peleja em todas as
atividades cotidianas e em cada uma delas, e o Diabo assume o seu lugar em

1
NOGUEIRA, C. R. F. Em busca de conceitos: feitiçaria e bruxaria. In. NOGUEIRA, Carlos R. F. Bruxaria e
História: As práticas mágicas do ocidente cristão. São Paulo: Editora Ática, 1991. pp. 26-40.
2
LANCELIN, Charles. La sorcellerie des campagnes. Paris: 1911. p. 48-49
uma hierarquia feudal, aparecendo como suserano que concede amparo e
proteção em troca da submissão absoluta e entrega total. (NOGUEIRA, p. 40)

O fato de a bruxaria estar relacionada a oposição do cristianismo a torna


automaticamente inimigo da Igreja. Falsa religião, paganismo, esses são os termos direcionados
as religiões que não são cristãs e, na Idade Média, aquilo que é contrário a Igreja não é certo e
merece ser punido. Sendo assim, o maior erro das bruxas era não serem cristãs, e renunciar o
deus cristão. Esse foi o erro delas, não seguir o mesmo Deus seguido pelos demais, o maior dos
pecados de um herege não é relacionado ao outro, ao próximo, o maior pecado do herege, para
a Santa Igreja, é negar – ou ao menos questionar – o seu deus criador. Domenico Scandella3, o
Menocchio passou por isso, muitos outros depois dele e, é claro, as bruxas.
Portanto, entende-se que em um primeiro momento eram considerados bruxa – ou bruxo
–, todos aqueles que eram contrários ou que questionavam a Igreja, e esses teriam jurado
lealdade ao Diabo em troca de proteção. E acreditava-se ainda que entravam em contato com o
Demônio tinham as ferramentas para se vingar da cristandade, “em troca de seu juramento de
fidelidade, ela recebe os meios de executar sua vingança sobrenatural sobre os seus inimigos
(ou seja, toda a cristandade) ”.
Entretanto, a estereotipação da imagem da bruxa vem com os tribunais da Inquisição4,
em 1428, a partir do depoimento de acusados de bruxaria sob tortura, que teria surgido a ideia
da bruxa voadora e da bruxa que pratica o Sabbat.
A partir das informações levantadas percebe-se que a terminologia não estava –
teoricamente – diretamente ligada a figura da mulher, portanto, é necessário que se faça esse
movimento, o movimento de entender quando e como esse foi relacionado à mulher.
Para isso, analisaremos a criação da imagem da feiticeira por Michelet em sua obra A
Feiticeira. 5 Michelet acredita ser necessário falar somente das feiticeiras, no feminino, porque
a diferença do número de feiticeiras em relação a feiticeiros teria sido extremamente grande. O
movimento que o autor faz é bastante importante e, se analisado com cautela e relevando alguns
ideais, pode ser utilizado como ferramenta para exaltar a imagem da mulher, entretanto, não é
por esse viés que analisaremos Michelet, esse, como um homem de seu tempo – patriarcal e
machista –, escorrega muitas vezes em sua argumentação, e coloca a mulher como criatura

3
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes [1976]. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
4
NOGUEIRA, C. R. F. op. cit. p. 39.
5
MICHELET, Jules. A Feiticeira. Trad. de Ana Moura. São Paulo: Aquariana, 2003.
fadada a se tornar bruxa, demonstrando – a partir do que ele acredita – como a feiticeira só
poderia estar, exclusivamente, relacionada à mulher.

“A natureza fê-las feiticeiras”. É o espírito próprio da Mulher e o seu


temperamento. Ela nasce Fada. Pelo retorno regular da exaltação, é Sibila.
Pelo amor, torna-se Mágica. Pela finura e a malícia (muitas vezes fantasiosa e
benéfica), é Feiticeira e enfeitiça, ou pelo menos adormece e ilude os males.
(MICHELET, p. 11)

Com base no trecho que abre a obra de Michelet, percebe-se um discurso que torna a
mulher passiva e totalmente inerte a um destino que lhe é traçado, o destino de ser bruxa. O
pensamento de Michelet diminui a importância da mulher na imagem de bruxa, pois tira todo o
protagonismo da mesma, com a ideia de que a mulher é passiva de escolha sobre seu destino,
sendo predestinada a se tornar bruxa, sem poder de decisão sobre sua própria vida. Além de que
esse olhar anula a importância da bruxaria – para as mulheres, já que os homens que são bruxos,
são por escolha própria – como ferramenta de oposição aos ideais impostos pela sociedade da
época.

2. ANÁLISE DO FILME AS BRUXAS DE SALÉM (1996)

O filme As Bruxas de Salém de 1996, dirigido por Nicholas Hytner e escrito por Arthur
Miller, baseado na peça teatral (1953) escrita pelo mesmo que tinha como propósito criticar a
política de perseguição aos comunistas nos Estados Unidos durante a Guerra Fria. A obra
cinematográfica tem como objetivo demonstrar os eventos relativos aos Julgamentos de Salém
a partir do olhar de homens do século XX. É importante pontuar que o filme é feito por homens
do século XX por dois motivos. Primeiro por ser um filme sobre mulheres e é feito por homens,
portanto há uma imposição histórica aqui. “A História ocidental possui uma marca bastante
característica, que pode ser resumida, grosso modo, da seguinte afirmação: quem conta a
história é o homem”. 6 Segundo, por se tratar de uma visão posterior aos eventos, deste modo
tratamos aqui de uma interpretação dos Julgamentos de Salém e não de uma representação
pautada na verdade absoluta.

6
BOTTON, Flavio. O poder ctônico e a cultura patriarcal: A mulher e suas representações artísticas. In:
HÖFFLER, Angelica. Cinema, Literatura e História. Santo André: UniABC, 2007. p. 74
À primeira vista não há muitos problemas com o filme, entretanto se analisado com
maior energia pode-se perceber algumas problemáticas pautadas na influência do patriarcado e
até do racismo – falamos de uma obra estadunidense, país com um dos maiores índices de
racismo no mundo.
Lembrando-se sempre que a obra se trata da visão do homem sobre a mulher, abordarei
algumas questões que, a partir de todas as injustiças sociais que as mulheres sofreram ao longo
da história, o filme ajuda a perpetuar através de estereótipos relacionados a mulher.
O primeiro ponto que destacarei baseia-se no fato de que o longa-metragem aborda uma
temática feminina – no sentido de falar sobre mulheres – em que a imagem da mulher deveria
ser o foco de importância, entretanto não isso que acontece. Um fato que mostra é isso é que a
personagem Abigail Williams (Winona Ryder) que é tomada como principal, é totalmente
apagada pelo personagem do John Proctor (Daniel Day-Lewis). Isso acontece, pois, a
personagem de Winona Ryder é tida como uma criança ingênua e inconsequente que é
apaixonada pelo homem maduro e exemplo para a sociedade, personagem de Daniel Day-
Lewis. Essa visão se dá pelo motivo de que a todo momento a protagonista feminina tenta
justificar todos os seus atos como um meio de conseguir conquistar seu amado. A imagem que
o filme passa é que todo o Julgamento de Salém se deu por causa de uma criança – na verdade
por várias crianças, todas meninas – que tenta de tudo para conquistar o homem dos seus
sonhos.
Entretanto, a abordagem de tentar diminuir a mulher nas representações artísticas não é
uma exclusividade do século XX e nem do cinema. A partir de Botton podemos perceber que
essa é uma prática que recorrente desde os primórdios da humanidade, e que isso teria partido
da ideia de que “não exista relações sociais, na cultura ocidental, que não sejam relações de
exploração ou conflito”. Com base nisso ele afirma que o apagamento da mulher nas artes pode
ser explicado por duas ideias, uma chamada de “sexual” e outra de “social”. Para ele a primeira
se dá pelas “diferenças biológicas e fisiológicas existentes entre os sexos como ponto de partida
para explicar todo o posicionamento da mulher na sociedade”. 7 Nessa visão, citando Camille
Paglia8, relaciona-se a tentativa de dominação masculina sob o feminino a partir do “’medo
ctônico’, [...], aquilo que está escondido nas ‘entranhas da terra’, na natureza, identificado como
feminino”. E na visão “social” Botton pontua que

7
Ibidem. p. 75
8
PAGLIA, Camille. Personas Sexuais: Arte e decadência de Nerfetite e Emily Dickinson. São Paulo: Cia das
Letras, 2001.
A ‘exclusão’ da mulher se deve à estrutura patriarcal da família burguesa e
capitalista. Nessa estrutura, a mulher está em segundo plano, não fazendo
parte da facção ativa que controla o capital, os meios de produção, nem mesmo
participa como força de trabalho (fato que só irá começar a se modificar no
período da Segunda Guerra Mundial). Dentro dessa hipótese, a mulher é
identificada, muitas vezes, como objeto de status, que, quanto mais adornada,
mais recebe valor. A sua possibilidade de realização tem ainda, situação que
obviamente está há muito tempo se alterando, sido relegada, dentro desse
sistema, unicamente ao casamento. (BOTTON, p. 76)

Outro ponto importante que passa despercebido, mas se analisado a fundo é bastante
problemático. É o fato de a “bruxaria” – explicarei mais à frente o porquê das aspas –, no filme,
ser somente praticada por “classes” consideradas inferiores na sociedade. Isto pois, a “bruxaria”
que é mostrada no começo do filme é somente praticada pelas meninas jovens e, o pior disso
tudo, de certa forma lideradas pela única personagem negra do filme, Tituba. E esse é outro
fator muito problemático pois, há uma grande divergência da real origem de Tituba, ela pode
ter sido negra ou não, e a escolha de representa-la como uma escrava negra no filme certamente
retrata um racismo estrutural, onde o negro sempre é representado negativamente.
Negativamente porque, a partir da visão do longa, Tituba teria sido quem apresentou e
introduziu as jovens à bruxaria.
Enfim, tocarei no ponto da bruxaria demonstrada no filme. Bruxaria, de fato, não há. Na
verdade, a única personagem que de fato pratica algo relacionado a magia, é Tituba. Fora isso,
todo o longa baseia-se em falsas acusações de bruxaria pautadas nos interesses das jovens que
teriam sido acusadas no primeiro momento. Entende-se, que isso acontece devido o contexto
histórico que a produção da peça teatral que deu origem ao filme está inserida, o contexto da
Guerra Fria, e que com essas obras buscava-se criticar a perseguição aos comunistas nos
Estados Unidos, que é considerada infundada pelo autor. Entretanto, apesar disso, o longa
perpetua uma imagem negativa da ideia de bruxa, e esse é um grande agravante na luta das
mulheres. Mostrar as “jovens bruxas” como crianças inconsequentes é relegar todo o legado
das bruxas como forma de oposição aos padrões impostos pela sociedade.

3. COMPARAÇÕES DA REPRESENTAÇÃO DA BRUXA NO CINEMA E NA TV

Depois de apontar os problemas no filme As Bruxas de Salém é interessante contrapor


com outras obras em que o mesmo tema foi abordado, mas de maneira mais satisfatória. Para
método de comparação utilizarei do filme de 2016, A Bruxa (título original: The Witch) e de
maneira mais sintética abordarei alguns pontos da série norte-americana American Horror
Story: Coven (2013). Apesar de ambos também serem produzidos por homens – em sua maioria,
pois, nas duas obras há pelo menos uma mulher na equipe – esses abordam uma visão mais
feminista do que o filme de 1996.
No longa fictício de produção independente, A Bruxa, dirigido por Robert Eggers, tido
como terror psicológico, o que está em voga aqui é a crítica ao fanatismo religioso, isso pois,
narra a história de uma família clássica da Nova Inglaterra colonial que são expulsos de sua vila
pelo fanatismo religioso do chefe da família. A partir disso a família tem de se exilar e vai se
estabelecer próximo a uma floresta. A família é composta pelos pais, William e Katherine, pelos
filhos, do mais novo para o mais velho, Samuel, Mercy e Jonas (gêmeos), Caleb e Thomasin.
Segundo Zendron e Nogueira, o filme tem sua importância por trazer a seguinte mensagem: “as
mulheres do século 17 que eram tratadas como bruxas por não se encaixarem em um padrão
preestabelecido”, 9 isso pois, no filme, as mulheres são retratadas como submissas ao homem e
em determinado momento em que essas não se portam desta forma, são tratadas como bruxas.
Até aí, nada se difere de nossa fonte, o clássico As Bruxas de Salém, entretanto em dois
pontos muito importantes os dois se divergem, e é nisso que está pautada minha comparação.
Em primeiro lugar, a protagonista de A Bruxa é a filha mais velha, Thomasin, e em nenhum
momento isso é deixado de lado, ela em nenhum momento é submissa ao seu pai, e a todo
momento o confronta, o rebaixando, o que para a época seria algo revolucionário. Mas
exatamente por ter uma personalidade forte, a todo momento Thomasin é acusada de ser uma
bruxa, mas o mais interessante é o fato de todas as personagens femininas são relacionadas com
a figura da bruxa em algum momento da obra. Isso acontece porque, segundo a doutora pela
PUC-SP, Carla Cristina Garcia, “o processo de endemonizar as mulheres curandeiras é uma
campanha de marketing bem-sucedida na Igreja Católica”. 10
Outro ponto interessante nessa obra cinematográfica é o fato de que depois de se impor
sobre seu pai, de ser tachada de bruxa, e de todas as mesmas experiências que acontecem em
As Bruxas de Salém com Abigail, em A Bruxa, Thomasin de fato se torna uma bruxa se aliando
ao Diabo (na figura de Black Phillip, um bode preto) como único meio visto pela protagonista
de se manter depois que toda sua família foi devastada.

9
ZENDRON, Mariane; NOGUEIRA, Renata. Mais do que terror, filme “A Bruxa” é uma discussão sobre
feminismo. Disponível em: <https://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2016/03/08/mais-do-filme-de-terror-
filme-a-bruxa-e-uma-discussao-sobre-o-feminismo.htm>. Acesso em 31 de jul. 2017.
10
Idem.
Por último, de forma pontual, demonstrarei como a representação da bruxa e de seus
coven – nome dado aos clãs de bruxas – foram utilizados na série para televisão American
Horror Story: Coven como ferramenta de protagonismo feminino. Também traçada pela ficção,
American Horror Story: Coven, narra a história de bruxas que são descendentes das bruxas de
Salém e em uma escola no mundo contemporâneo essas são recrutadas para se reunirem nesse
coven. Tirando todos esses clichês de fantasia comercial à la Harry Potter, a imagem passada
pela série é de união feminina como forma de proteção, que é de fato muito interessante e bem
distante da visão de As Bruxas de Salém, em que a trama principal se foca em jovens garotas
que por inimizades acusam outras mulheres de serem bruxas causando assim a morte dessas.
Em American Horror Story, a mensagem passada é muito mais positiva e que agrega mais
importância as bruxas da história.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, após o resgate da origem do termo bruxa, da análise do filme, das comparações
cabíveis, podemos de certa maneira pontuar que a ideia de bruxa, quando deixado de lado todo
o místico, o fantasioso, foi de fato uma terminologia muito perigosa em relação as mulheres da
época e até hoje – apesar de algumas exceções.
Essa terminologia rebaixando a mulher desde o período medieval, até os dias de hoje está
intrínseca no imaginário popular, isto é, até o presente se usa o conceito de bruxa – apesar de
estar mais associada ao pejorativo e menos a figura da bruxa em si – como ofensa às mulheres.
E isso é um problema, pois, como muitos autores abordam que a estereotipação da mulher
como bruxa está diretamente relacionada a ideia de que a mulher é mais propensa – ou seja,
mais fraca – aos “encantos” do Diabo, seja por ser mais vulnerável mentalmente e muitas vezes
relacionado a sexualidade, tornando a mulher mais ligada aos prazeres da carne, desse modo
tirando a racionalidade da mulher.
Intimamente relacionada com o erotismo e elemento condicionante deste,
encontramos a sexualidade feminina, o elo mais importante entre a
sensualidade e mundo mágico, produto do destino lamentável das mulheres
(cujo número entre os praticantes da feitiçaria e da bruxaria é constantemente
superior ao de homens). É curioso que os mesmos autores que propõem a
revolta feminina contra a misoginia medieval como sendo a origem da
bruxaria utilizam-se de teorias pseudopsicológicas, ou argumentos de ordem
biológica, para afirmar que as mulheres apresentam uma tendência física que
as predispõe, mais do que os homens, ao fantástico, ao sobrenatural, que as
transforma em um ser delirante. 11 Caberia perguntar se estas argumentações
não configuram um ‘antifeminismo’ mascado por uma pretensa defesa do
elemento feminino que, por sua ‘fragilidade natural’, não deveria ser punido,
mas sim protegido. (NOGUEIRA, p. 104)

Em contraponto às argumentações de como a mulher está propensa a se tornar uma bruxa,


temos o viés em que defende a ideia de que a criação da bruxa, e essa relacionada a mulher, foi
um método utilizado pela Igreja de tentar abafar e silenciar as mulheres que não concordavam
com seus dogmas, desse modo trata-las como inferiores, muitas vezes consideradas como
loucas, e como um perigo a sociedade, as deslegitimariam. Sendo assim, as Caças às Bruxas, e
consequentemente os Julgamentos de Salém teriam sido um instrumento de calar àquelas
mulheres que tinha o desejo de impor seus ideais, sendo contra os da Igreja, não poderiam de
fato existir.

11
FINNÉ, Jacques. Erotisme et sorcellerie. Paris, 1973.
PALOU, Jean. La sorcellerie. Paris, 1973.
5. REFERÊNCIAS

A Bruxa (título original: The Witch: A New-England Folktale). Estados Unidos; Canadá;
Brasil. 2015.
American Horror Story: Coven. Estados Unidos: FX, 2013.
As Bruxas de Salém (título original: The Crucible). Estados Unidos. 1996.
BOTTON, Flavio. O poder ctônico e a cultura patriarcal: A mulher e suas representações
artísticas. In: HÖFFLER, Angelica (org.). Cinema, Literatura e História. Santo André:
UniABC, 2007.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes [1976]. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
LANCELIN, Charles. La sorcellerie des campagnes. Paris: 1911.
MICHELET, Jules. A Feiticeira. Trad. de Ana Moura. São Paulo: Aquariana, 2003.
NOGUEIRA, Carlos R. F. Bruxaria e História: As práticas mágicas do ocidente cristão. São
Paulo: Editora Ática, 1991.
PAGLIA, Camille. Personas Sexuais: Arte e decadência de Nerfetite e Emily Dickinson. São
Paulo: Cia das Letras, 2001.
ZENDRON, Mariane; NOGUEIRA, Renata. Mais do que terror, filme “A Bruxa” é uma
discussão sobre feminismo. Disponível em:
<https://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2016/03/08/mais-do-filme-de-terror-filme-a-
bruxa-e-uma-discussao-sobre-o-feminismo.htm>. Acesso em 31 de jul. 2017.

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