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CAPÍTULO VIII

VIRTUDE DE DEUS E VIRTUDES HUMANAS

Nos tempos atuais, fora dos manuais de Teologia Moral e


Ascética, a palavra virtude ou virtudes parece bastante esva­
ziada de sentido, como humanização ideal no plano pessoal
e social. A tradição antiga e medieval criou para cada virtude
uma iconografia própria na forma de jovens esbeltas e atra­
entes que, no entanto, não atraem muito a atenção da moder­
nidade. Sobre a época atual, Max Scheler afirmou que para
muitos as virtudes herdadas não são mais do que “coroas ve­
lhas, brigalhonas, desdentadas”. Talvez esta expressão seja
exagerada em ambiente católico. Todavia, a transmissão da
letra morta do passado não seria apenas falta de coragem ou
de adaptação, mas falta de fé criativa nas comunidades ecle-
siais que, sob outras condições e em outras situações, expres­
sam a virtude, a força e o poder de Deus em sua convivência
na sociedade humana e no mundo em que respiram e tra­
balham.
A descoberta do sentido da palavra virtude, da pessoa vir­
tuosa não é tarefa fácil. Não e questão de esboçar uma teoria
limpa e inocente, com um tempero mais moderno; pois a
questão nevrálgica é a práxis. Como se tornar virtuoso e pro­
duzir os frutos do Espírito dentro de uma sociedade em que
funcionam outros ideais e táticas para ganhar mais dinheiro,
subir na escala social, fazer promoção, incensar para cima,
pisar para baixo, ter mais bens, mais poder sobre os outros?
Se o ambiente moral moderno não é francamente o contrário
do ideal cristão, ao menos se apresenta, muitas vezes, como
contraditório e ambíguo. Esta ambigüidade não é produto cul­
tural de hoje. A dupla moral tradicional dos senhores e dos
escravos, a tripla moral dos homens, das mulheres de bem e
das muiheres de rua, mais as discriminações mal camufladas
contra os negros e os índios, nunca constituíram uma esfera
favorável à práxis equilibrada das virtudes que se esperam
dos discípulos de Jesus.

I. A PRÁTICA DAS VIRTUDES: UM


APRENDIZADO

As virtudes pertencem à intimidade das pessoas, expressam-


se na práxis das pessoas, crescem e criam raízes pela práxis.
Ninguém nasce com uma coleção de virtudês~Teitãs, de ‫־‬mõdõ
que o futuro de uma criança sempre repete a pergunta aberta:
que será deste menino ou menina? (Lc 1,66). Na J radição
católica conhecem-se virtudes infusas. Mas a comunicação da
virtude de Deus não garante, por si, que as sementes lançadas
cãiam em terra^ boa, brotem e produzam fruto cem por um,
sessenta por um, trinta põr um (Mt 13,23). No decorrer da
história de uma pessoa, ela pode aprender a ser virtuosa e
se confirmar na virtude; mas também o contrário se verifica:
que as virtudes adquiridas se atrofiam aos poucos, perdem
sua força inspiradora e diretiva sobre a conduta e são “tro­
cadas” por defeitos e deformações mais ou menos estáveis
sombras daquilo que era virtude uma vez.
À_luz da fé cristã_a_aprendizagem da vida virtuosa e sua
evolução histórica são um processo de aproximação e intera-
ção de dois pólos. De um lado opera a generosidade de Deus
‫־‬qúéT comunica sua força, sua virtude, aos_homens_de boa von­
tade, de modo que as virtudes humanas são verdadeiros frutos
do Espírito que revestem a fraqueza humana com a força do
alto (G1 5,16-25; Lc 24,49). Doutro lado, entra a disciplina
dos discípulos, o esforço feito para levar a vida de um discí­
pulo fiel ao Espírito de seu Senhor. A própria palavra discipli­
na junta tanto a idéia de discípulo, aprendiz, quanto a idéia
de esforço que ele faz e o zelo que demonstra para seguir os
passos de seu Mestre.
O encontro entre Jesus e o cristão-discípulo começou com
o nascimento deste, intensifica-se pelo batismo e alimenta-se

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com o pão da palavra e o pão eucarístico. Pela repetição sem-
pre renovada dos encontros, uma verdadeira amizade fiel se
cria; aqui os dois se movimentam e^ interpenetram cada vez
mais. O movimento de Jesus é a revelação progressiva do Es­
pírito de Deus que se processa nos corações dos fiéis e nas
comunidades de fé e dá-lhes testemunho de que são filhos de
Deus (Rm 8., 16). Doutro lado, os cristãos se movimentam e
se aproximam, como se a jvida fosse uma romaria que ainda
não chegou ao santuário. Vivendo no mundo e passando por
ele, procuram penetrar no mistério do Deus de amor, e com­
preender sua largura, comprimento, altura e profundidade, em­
bora a visão seja, por ora, de maneira confusa e por espelho
(Ef 5,18; ICor 13,12). Colaborando com a graça é que hão
de se libertar, com toda a criação, dã~ escravidão da corrup­
ção, esculpindo em si mesmos a imagem e semelhança escon­
didas de Deus, a esperança da perfeição.

1. S o cied a d e hum ana e virtudes

A sociedade humana é como uma máquina gigantesca e


complicada. Se falta uma peça. entrava um eixo, quebra uma
roda, toda a máquina emperra, começa a falhar, pára. Em
sua comparação entre _a_ Igreja e o corpo, São Paulo observa
que, se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele;
se um membro é honrado, todos os membros se alegram com
ele (ICor 12,26). Esta conexão se verifica também na socie­
dade global. O que_cada_um faz de bem ou de mal, de justo
ou injusto, repercute no ambiente social e cria ondas, como
se fosse jogada uma pedra na lagoa tranqüila: as ondas rolam
para frente até às margens. Na sociedade o homem vale pelo
que é e faz. Talvez não tenha nome além do pequeno círculo
de seus parentes e vizinhos; mas sua virtude ou maldade tem
sua influência sobre a esfera global, formada pelos membros
da sociedade em seu conjunto.
Quando a máquina anda bem. ninguém presta atenção às
peças, Quando a engrenagem começa a emperrar, todas as
peças são olhadas e inspecionadas, porque o defeito deve estar
em algum lugar. Quanto pior anda a sociedade e mais se mui-

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tiplicam as injustiças j violências.^tanto maior_é a tentação
de se acomodar, entrando na dança comum da corrupçãoTmas
também tanto maior é a responsabilidade de cada um de aju­
dar a consertar a máquina social e criar, pela sua vida ho­
nesta, justa e sóbria, uma convivência mais humana, especial­
mente para os mais pobres e fracos. Numa sociedade de clas­
ses, a responsabilidade de irradiar suas virtudes se torna maior
na medida em que as pessoas ocupam postos mais altos e
têm maior poder decisório. Se a corrupção do maior é pior,
também sua virtude tem um raio mais extenso de penetração.
Os catálogos de virtudes, comunicados no Novo Testam en­
to, não servem apenas para uso particular, mas para serem
praticados na convivência comunitária dos irmãos.. Os cris­
tãos que procuram ' vTveT-sinceramente sua fé, inspiram espe­
rança, são honestos, justos, simples, de coração aberto para
com os outros, têm forca paradigmática na comunidade e atra­
em pela sua autenticidade humanãT‫ ־‬No sentido paulino, eles
edificam os outros, como são edificados pelos outros e, juntos,
edificam a Igreja sobre a pedra angular que é o próprio Cristo
Jesus (Ef 2,19-22). Ninguém aprende as virtudes por si mes­
mo, mas conforme os exemplos que,'desde joverh7~recebe no
espaço de sua família, sua comunidade, a parcela do m undo
em que jvive. Também ninguém 'pratica a~ virtude para si
mesmo num enriquecimento avaro, mas pratica-a, servindo aos
seus próximos, para o bem e a edificação deles (Rm 15,2).
Pela edificação m útua, o corpo de Cristo se realiza. A coor­
denação e o conjunto das atividades virtuosas de cada m em ­
bro e de todos os membros fazem com que a Igreja irradie
a força e a luz de Deus sobre a humanidade em procura do
bem e da felicidade.
Tanto dentro, quanto fora da Igreja, a convivência com os
outros inclui o risco da tentação e da sedução do mal que
puxam as pessoas para baixo, pois o mal possui sua própria
atração contam inadora. Mas a força do mal opera dentro de
qualquer cristão, santo e pecador, e é do coração de cada um
que surgem os males que mancham e intoxicam o homem
(Mc 7 ). Mais forte, porém, do que o medo dos contatos com
os outros, é a solidariedade para com os outros, baseada no

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poder de Cristo Jesus, a fim de que todos cresçam e se esfor­
cem por distinguir-se na prática do bem (Tt 3,8). Se a ma­
lícia e fraqueza humanas causam escândalos na história, mais
vale a afirmação: “ Quem ama seu irmão permanece na luz e
não se tom a pedra de tropeço” (Mt 18,1-9; ljo 2,10).

2. O protótipo do homem virtuoso

Na unidade do homem ereto juntam-se a frente e as costas.


De frente ele encara o futuro, reflete sobre o caminho a se­
guir, toma decisões e segue adiante. De costas ele está ori­
entado para trás, de onde veio, onde estão suas raízes histó­
ricas, as fontes de onde tirou sua vida e as experiências dos
antepassados, como ele, filhos de Adão e Eva. No presente,
cam inhando, o homem se encosta no passado e se projeta para
seu futuro.
Pela fé que vive neles e pela eucaristia que celebram em
sua com unidade, os cristãos realizam, sempre de novo, a me­
m ória do Senhor Jesus. Entre nós, este Jesus nasceu de uma
judia, M aria, da raça de A braão, Isaque e Jacó. Entre seu
povo cresceu em sabedoria, em estatura e graça diante de
Deus e dos homens (Lc 2,52). Atraiu multidões, muitos talvez
pelas vantagens de pão sem pagar nada ou cura de doença,
outros pela força singular que dele saía e contagiava os que
m elhor o conheciam. Sua personalidade, sua m aneira de agir
e trata r as pessoas, suas comunicações sobre a grande novi­
dade do Reino de Deus, já começado, entusiasm avam seus
discípulos. Estes ligaram sua vida à vida deles, pois tinha pa­
lavras de vida eterna (Jo 6,67). Pela sua força-virtude, Jesus
não só enche a vida hum ana até as bordas da m orte; mas
ultrapassa esta fronteira dos m ortais e faz ultrapassá-la, por­
que seu Reino é sem fim.
Os prim eiros discípulos haviam de passar pelo refrigério
da m orte de Jesus na cruz e recuperar sua firm eza fiel pela
fé em sua ressurreição. D iante dos males e da m orte, a ten­
tação p ara o homem virtuoso, o homem forte em sua fideli­
dade a Cristo Jesus, continua a ser essa de sua luz enfraquecer

.2 0 0
e seu sal perder a força. Esta tentação é agravada por uma
espiritualidade de doçura e consolação, de cabelos louros e
olhos azuis, que talvez corresponda ao sentimento de um
povo oprimido e sofredor, mas não corresponde ao homem
virtuoso por excelência que foi Jesus de Nazaré, mistura de
bondade e dureza, altivez e humildade, paciência misericor­
diosa e radicalidade exigente. Ele nunca se curvou diante de
nenhuma autoridade humana; curvou-se para lavar õ s jie s He
seus discípulos. Não se prostrou diante de ninguém, mas con­
fessou sua fraqueza no Horto das Oliveiras. S ua"força“'"foi- o
sacrifício de sua vida até à morte na cruz, morrendo pelos
nossos pecados, para nos conduzir a Deus (lP d 3,18).
Como a história da arte cristã e da espiritualidade demons­
tram, a imagem do homem virtuoso Jesus conhece suas varia­
ções, conforme épocas e preferências* pessoais. A própria si­
tuação dos cristãos se reflete na formação da personalidade
de Jesus, o exemplo. Pela leitura atenta da Bíblia e celebra­
ção eucarística nas comunidades, os discípulos encontrarão e
reconhecerão seu Senhor, como os discípulos de Emaús, e
formarão sua m aneira de agir, conforme as condições em que
se encontram , na convicção de que Cristo está sempre unido
aos seus irmãos até o fim dos tempos.

3 . A virtude de Deus

A aprendizagem de uma vida virtuosa não é para os cris-


tãõs u n T processo simp les de fora para dentro. Em últim a
análise, processa-se^ de dentro par;* fora, da virtude de Deus
q u e opera nos cristãos, nas pessoas de boa vontade, para for­
m ar sua m aneira de pensar, decidir, agir no m undo e comuni-
car-se com o utros. A pedagogia cristã conhece métodos e téç-
nicas de aprendizagem e treinam ento das virtudes, mas é
Cristo que é a videira e garante a seiva, e é o Espírito Santo
que ajuda a fraqueza humana e nos transforma, pela sua ação,
num a imagem espelhada da glória de Deus (Rm 8,26; 2Cor
3,18).
Esta força criativa_de-Deu& -passa-pela-Bíblia-CQ‫־‬m Q_um_íio
de ouro. Os term os usados pejas línguas hum anas são vários^

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sopro, força, poder, virtude, espírito de Deus. No Novo Tes­
tamento ela se abre para o mistério da Santíssima Trindade
que habita nos cristãos, neles opera e sc revela na fraqueza
do barro humano, para que transpareça claramente que o
verdadeiro homem virtuoso provém de Deus e não é auto-
criação dele mesmo (cf. 2Cor 4,7). Deus é o grande escultor
que liberta o s homens escravos do mármore de sua prisão,
do pecado e da morte, e forma-os para a liberdade dos filhos
de Deus. servos uns dos outros pela caridade (G1 5,13). Nas
mãos de Deus, o homem é uma obra inacabada até à morte.
Por isso, no fim de sua vida. Francisco de Assis podia dizer:
Vamos começar finalmente, porque até agora temos feito pouca
coisa.
Deus é o artista que não se repete na virtude dos homens
que cria. Desde a filosofia grega antiga, o homem ocidental
em suas limitações se vê obrigado a formar esquemas de vir­
tudes, com definições, divisões e subdivisões, de inegável valor
teórico e prático. Deus não usa modelos^comuns nem trabalha
com Hnha .de_produção. Sua originalidade se expressa na uni­
cidade singular de ‫ ״‬cada pessoa, também na configuração de
suas virtudes. É um e o mesmo Espírito que realiza a todos,
reparFindo a cada um o que lhe apraz (cf. ICor 12,11). San­
tos, sejam grandes, sejam pequenos de cada dia, nunca são
iguais ‫־‬nem uniformes. Pois. pelo poder daquele que nos cha­
mou à sua luz adm irável, cada um publica a grandeza de
Deus de sua m aneira e forma sua imagem de Deus entre os
homens (cf. lP d 2,9).

4 . Pedras no caminho

Os tratados de virtudes dão, às vezes, a impressão de um


/ superm ercado de alimentos enlatados. Basta com prar umas
'‫׳‬ latas, abri-las, comer o conteúdo e a saúde das pessoas em
f termos de virtudes está garantida. M aior conhecimento teórico,
i porém, não produz autom aticam ente o crescimento do homem
\virtuoso. O saber por si não constrói, talvez inche (IC or 8,1)
ou forneça energia de pilha que só movimenta o homem
quando ele começa a praticar o que sabe. Para o cristão vale

202
a palavra que Jesus deu em resposta à mulher que lhe elo­
giou a mãe: “Felizes, antes, os que ouvem a palavra de Deus
e praticam ” (Lc 11,28). A teoria possui a pãz^pãcTentê^do
papel, a prática da vida descobre as pedras e buracos no ca­
minho, aqui e agora.
O jn u n d o . moderno _em que os cristãos hão de dar formas
concretas à virtude é eminentemente complexo e muda em
ritmo acelerado. Não é mais a pequena aldeia, onde o tempo
parece estar parado e o padrão dos comportamentos e rela­
ções sociais é mais ou menos simples e fixo. O universo em
que o homem vive atualmente constitui uma organização com­
plicada e, em boa parte, invisível de convivência, produtivi­
dade, trocas e consumo. Tão complexo ficou, que os métodos
analíticos da sociologia, politologia e economia se mostram in­
suficientes em caprar a engrenagem real e, às vezes, seus re­
sultados se contradizem. Paralelamente, também o próprio ho­
mem se complicou e se vê colocado diante de desafios que
não deixam imediatamente claros qual é o caminho certo
para a virtude certa. E tambérn_dentro da Igreja, as atitudes
e posicionamentos se dividem e nem sempre chegam a uni­
ficar-se no consenso de uma prática comum.
O que um caminhoneiro escreveu no pára-choque de seu
caminhão: “Tenho vergonha de ser honesto”, abre uma outra
perspectiva. Onde a corrupção virou uma endemia social e se
estende de cima para baixo; onde a impunidade dos podero­
sos é proverbial e as prisões se enchem de pobres; onde o
sexo é artigo de venda, de propaganda comercial, de consumo
público; onde a violência está institucionalizada em muitas
formas de opressão e marginalização de grandes partes da po­
pulação; onde os amigos recebem todos os favores e mordo­
mias e para os inimigos restam a dureza da lei, a perseguição
e o exílio; onde a desonestidade quase é uma regra para so­
breviver; comn ns homens se tomarão virtuosos_rem ando
contra a maré?
Pior ainda é a desvalorização das próprias virtudes que pe­
netrou na consciência coletiva. A humildade se deformou na
atitude jdo_povo “hum irde” que abaixa a cabeça, cala-se e se
submete por medo. A obediência virou a execução das ordens

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de cima e basta para justificar qualquer violência ou injus­
tiça. Apesar de ser cega, a justiça enxerga bem quem é quem
e parece trabalhar com duas medidas, como o povo pobre
sabe demais pelo que já apanhou. Um passado recente fazia
ainda da castidade curiosamente a rainha das virtudes, mas
serve “pra m ulher”. A prudência ficou a arma daqueles que
não querem correr risco e tomou a figura da covardia que
esvazia a virtude da fortaleza de enfrentar corajosamente a
vida neste mundo de hoje. Até a caridade, o princípio de
todas as virtudes para o cristão, foi reduzida, às vezes, a dar
esmola ou ajudar um pobre diabo que quer um prato de co­
mida, de modo que o “slogan” conhecido do movimento ope­
rário é: queremos justiça, não caridade.

II. A GRANDE TRILOG IA

Para contrabalançarem o esvaziamento do homem virtuoso,


exemplarmente realizado por Jesus de Nazaré, e resistirem à
tentação de entrar na dança da corrupção, injustiça e violên­
cia, quase institucionalizadas, os discípulos precisam aprofun­
dar a graça que receberam de Deus, o doador de todos os
bens, na forma da fé, esperança e caridade. Na perspectiva
moral, não é a graça gratuitamente dada que é focalizada,
embora a comunicação da virtude de Deus seja motivo con­
tínuo de gratidão e louvor. Interessa mais a caminhada que
os cristãos fazem, o desenvolvimento que realizam mediante
a doação de Deus, consolidando as atitudes desta trilogia em
sua práxis cotidina. É o paradoxo da vida, que o homem em
liberdade produz o que recebe de graça.

Este processo dinâmico exige vigilância, especialmente onde


o catolicismo é folgadamente m ajoritário nos censos nacionais.
A realidade mostra geralmente o que São João já constatou
em certas comunidades de seu tempo (Ap 2-3). Em largas
margens da pertença católica a esfera global é de arrefeci­
mento, indiferentismo, nome só. Movimentos de renovação pa­
roquial e as comunidades eclesiais de base chegaram a reani-

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mar a fé cristã e tornar mais produtiva a caridade de certos
grupos. Mas a falta de ministros sacerdotais, as conseqüências
do desenraizamento religioso moral de milhares de migrantes,
a penetração da mentalidade secularizada que desvirtua a tra­
dição religiosa, o empobrecimento e a marginalização de mi­
lhões das classes populares formam obstáculos sérios ao apro­
fundamento da fé, à força da esperança e à prática eficiente
da caridade. Por falta de pesquisas, o otimismo e o pessimis­
mo costumam dirigir as impressões de cada um. O mesmo
vale para com a fé do povo, tão variada, geralmente subde­
senvolvida e sincretista, e a penetração de seitas protestantes
novas entre os batizados católicos.
Os dois pólos da dinamização do conjunto da fé, esperança
e caridade são o povo de Deus em comunidade e a pessoa do
cristão. Nas últimas décadas, um feliz encontro se realizou
entre as iniciativas de renovação pastoral, inspirada no Con­
cílio Vaticano II, da parte de muitos bispos e padres, e as
iniciativas de avivamento em muitas comunidades de base.
Também aqui o inimigo semeou joio no meio do trigo e criou
confusão (Mt 13,25). Também aqui esqueceu-se o sábio con­
selho de Gamaliel (At 5,28s). Mas a série de planos pastorais
e os documentos de Medellín e Puebla deram e continuam
dando seus frutos na intensificação da vida comunitária, pela
colaboração generosa de muitos leigos.

Doutro lado cresce cada vez mais a necessidade de cada


cristão assumir sua responsabilidade pessoal de discípulo do
Senhor lesus e de membro vivo e ativo de seu corpo místico,
a Igreja. O catolicismo tradicional dominante incluía um forte
condicionamento social e era caracterizado pelo acompanha­
mento grupai. Pela modernização, com seu pluralismo e pri­
vatização, a prática da fé, esperança e caridade cristã depende
muito mais da opção e do esforço que cada batizado faz para
praticar sua dignidade. Na medida em que o controle social
nas práticas religiosas e, em geral, na vida particular diminui,
aum enta o peso da convicção conseqüente das pessoas, apoian­
do-se em sua comunidade local.

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1. O fortalecimento da fé

A popularização da leitura da Bíblia e a organização me­


lhor da catequese e do culto litúrgico estão dando mais ali­
mento e firmeza à fé de muitos. Muitas vezes, gente simples
confessa candidamente: tenho muita fé em Deus, em Nossa
Senhora, em meu Santo. Nestas palavras há muita sinceridade
humana. Mas isso não quer dizer que sua fé chega a enxer­
gar e viver todo o largo panorama sobre Deus, Jesus, o Es­
pírito Santo, a Igreja, o mundo, que a fé cristã revela con­
forme os catecismos. Este panorama não se abriu por completo
para nenhum ser mortal. A vivência da fé permite visões di­
ferentes, mais profundas e abrangentes, ou mais estreitas e
superficiais. Cada época, cada tipo de cultura costuma acen­
tuar mais este elemento ou focalizar mais aquele. As condi­
ções existenciais históricas das pessoas e grupos sociais têm
sua influência sobre a maneira de estruturar sua fé e confor­
mar sua conduta.
Conforme os escritos do Novo Testamento, as primeiras co­
munidades cristãs já se ressentiram dos falsos profetas e dos
caprichos da malignidade dos homens (Ef 4,14; Cl 2,4-8;
lTm 1,5-7; 2Pd 2, etc.). Na complicada sociedade moderna,
as influências que deformam a fé são muito mais sutis e im­
pessoais, difíceis de serem reconhecidas e corrigidas. Na Amé­
rica Latina, conquistada pela espada e a cruz, formaram-se
sociedades de classes claramente contrastantes e opostas, que
imprimiram suas marcas na forma evolutiva do catolicismo.
De um lado, este confirmava o poder e as propriedades da
classe dominante e, doutro, sublimava a submissão resignada
das classes subalternas e sofridas por motivos religiosos. A
mesma instrumentalização antievangélica funcionava no campo
da moral sexual, separando homens e mulheres, senhoras e
moças de bem, e marginalizando as prostitutas. Por causa do
processo recente de conversão da Igreja, documentada em Me-
dellín e Puebla, é possível enxergar melhor tais deformações
da fé cristã que, por serem constatadas, ainda não deixam de
persistir pela própria lentidão com que a fraqueza humana
muda seus rumos herdados. Bem mais difícil, porém, é a ta­
refa de descobrir as maneiras de instrumentalizar a fé evan­
gélica na atualidade.

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Parasitas da fé que vêm de data mais longa são as supers­
tições que formam um anel nebuloso e obscuro em redor da
vivência cristã de muitos. A fraqueza interna e o subdesen­
volvimento da fé abrem um largo espaço em que também
cristãos se deixam dominar pelos mil medos que sua cami­
nhada pelo mundo cria e procuram soluções de seus pro­
blemas e segurança de seu futuro na base de rituais supers­
ticiosos, cartomantes, astrologia, consultas em centros espíritas
e práticas de macumba. Às vezes, tais coisas são feitas sob o
manto de que “ a gente nunca sabe”, mas continua sempre a
mesma preocupação existencial, a mesma insegurança básica
da vida humana, que não encontra paz e tranqüilidade na fé
cristã que se7 confessa.
A margem ampla de sincretismo e superstição indica que
a maneira histórica de conceber e viver a autenticidade da fé
cristã na Igreja da América Latina deixa muitos batizados in­
satisfeitos e subdesenvolvidos em sua capacidade de equili­
brar sua existência em nome do verdadeiro Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo. O problema pastoral e moral do
crescimento da fé pessoal e comunitária se impõe aqui com
força. Parasiticida pode ser uma tática neste campo, comba­
tendo as deformações. Melhor, porém, é cumprir a missão das
comunidades eclesiais de aprofundar a verdadeira fé de seus
membros. Quanto mais a vivência e convivência da confiança
autêntica em Cristo Jesus se intensificarem, tanto mais os su­
cedâneos supersticiosos perderão seu sentido de apoio e cairão
como folhas secas da árvore da vida cristã.

2. A esperança em ação

“A esperança é a última que morre” é um provérbio orien­


tador, fixado na consciência coletiva do povo. Apesar de
todas as formas de resignação que cruza os braços e prolifera
nas classes sociais oprimidas, há muitos exemplos concretos
de coragem de viver e enfrentar a vida entre o povo, que
porventura não sejam observados por ninguém, mas se con­
firmam nas histórias que as pessoas escrevem todos os dias.
Talvez os pais já não enxerguem mais nada de mudança em

207
sua frente, mas esperam dias melhores para seus filhos e fazem
sacrifícios duros, para que eles não sofram o que seus pais
agüentaram. Sempre fica algo a esperar, é preciso inventar
uma saída ou encontrar uma solução. Na vida também a ten­
tação do desespero e do desânimo se apresentam, mas a von­
tade de viver e sobreviver costuma vencer, custe o que custar,
a inclinação para a morte.
Na perspectiva religiosa moral, a esperança se inclina, mui­
tas vezes, para a passividade de quem espera trem, parado
com sua mala na estação. Esse tipo de espera não chega à
preguiça que São Paulo criticou em certos membros da Igreja
em Tessalônica, que se ocupavam de futilidades (2Tm 3,6-12).
Deixando de lado as formas dc malandragem, o povo pobre
costuma trabalhar e trabalhar muito, gastando sua energia e
saúde em serviços, muitas vezes, brutos.
O problema está nas deficiências da visão escatológica cris­
tã. O povo pobre convive ainda muito com a morte e com
seus mortos, apesar da infiltração do modernismo que tenta
tirá-los do visual da vida pública. Há certa consciência do
fim do mundo que vai acabar, até em breve, sentimento que
se repetiu já várias vezes nas culturas ocidentais no fim de
um século. Mas a expressão popular “ no fim vai dar certo”
não deixa bem elucidado que o reino de Deus vem na me­
dida em que é realizado também pela cooperação no bem que
os homens fazem.
Fazendo o bem é que a humanidade constrói a estrada,
aterrando vales e aplainando montes, em direção ao cume da
montanha do tempo, em que o Senhor virá para julgar os
vivos e os mortos e a plenitude do reino se revelará. A espe­
rança não é simplesmente esperar até que o Senhor venha,
mas se confirma e realiza pelas boas obras dos homens. Pelo
amor que praticam, a esperança que inspiram, a paz que co­
municam, a sinceridade com que tratam os outros, a justiça
que fazem a todos, a honestidade com que trabalham, a co­
ragem com que animam os irmãos na luta, mas também pelo
gesto tão singelo de dar um copo de água a quem tem sede,
continuam a construir o reino que com Jesus já veio entre
nós, como se fosse o prelúdio da grande ópera de Deus, cuja
parte final ainda falta.

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3. Caridade e história

Que Deus é amor e, conseqüentemente, o amor sincero que


nos faz próximos uns dos outros é a diretiva básica para todo
o agir humano, as Sagradas Escrituras comunicam com cla­
reza. Todo amor que faz crescer o outro como pessoa huma­
na é um reflexo do amor de Deus para com os homens e
tem nele sua origem. Por causa desta ligação, como Jesus
mostrou na cruz, até o homem, fraco e pecador, chegará a
perdoar seus inimigos e algozes. Pelo mesmo Deus se realiza
tudo em todos; a realização do amor humano, da amizade
humana, especialmente para com os que mais necessitam
deles, é o caminho por excelência para demonstrar a presen­
ça do reino de Deus entre os homens (cf. ICor 12-13).
Em séculos de história, o amor cristão tem criado e man­
tido obras de caridade e misericórdia por toda parte. Na es­
fera da cristandade, tais encarnações do amor em hospitais,
asilos e orfanatos não conheciam praticamente concorrência.
Esta situação mudou com o desenvolvimento dos estados mo­
dernos que assumiram, cada vez mais, os serviços pelo bem-
estar da população, com todas as deficiências e complicações
burocráticas que, especialmente em países subdesenvolvidos,
tais instituições possuem. Por análises mais profundas da rea­
lidade, a consciência coletiva descobriu melhor as verdadei­
ras causas da pobreza, da miséria e do estado precário de
saúde das grandes massas humanas na América Latina e criou
nova vontade de atacar os males pelas raízes.
Os movimentos populares experimentaram que muitos pro­
blemas de bem-estar do povo não têm solução em escala pe­
quena, muitas vezes gotas de água em chapa de fogão aceso.
Pelo alargamento da visão, formada na luta por um lugar em­
baixo do sol comum, a opção certa seria entrar na política
nacional, abrir para si uma clareira no poder tradicional da
classe dominante e martelar no assunto dos direitos humanos
numa perspectiva social. O amor das relações interpessoais se
estende atualmente, além do pequeno círculo do convívio co­
tidiano, ao vasto campo político, com seus companheiros, pro­
jetos, programas e campanhas.

209
O problema premente do analfabetismo, enfrentado pelo
Movimento de Educação de Base e o método Paulo Freire,
descortinou uma outra sombra da vivência histórica da cari­
dade. Essa não só conhecia a generosidade da doação, a de­
dicação que não mede sacrifício, mas também se vestia do
paternalismo que concede favores aos subalternos e deixa-os
no estado de dependência em que estão presos. O povo
aprendeu a cantar que o amor liberta. Esta libertação traz
consigo o respeito pela pessoa dos outros, especialmente dos
mais fracos e mais necessitados. Enquanto for possível, eles
precisam ser ajudados a andarem em liberdade pelas suas
próprias pernas, ganharem seu lugar para participar da vida
comum e chegarem à autonomia de agir e manterem-se na‫ ־‬so­
ciedade. A preocupação econômica pensa em aumentar o
número de braços e cabeças para. produzir em dependência
do sistema capitalista. O amor cria nos outros a consciência
de ser “gente" que se comunica com os demais em pé de
igualdade e assume sua parte responsável na formação de
uma nova civilização de amor humanizante para todos.
Entendido no contexto atual da América Latina, o impulso
do amor fraterno leva a inculturar esta energia, por extensão,
na ação política. Em países de pluripartidarismo, ao menos,
isso significa uma opção política partidária, pois tal situação
não permite neutralidade. Pelo mesmo amor samaritano, esta
opção será em favor preferencial pelas classes eufemisticamen-
te chamadas menos favorecidas, para dar-lhes a face de pes­
soas de pleno direito e de participantes ativos da sociedade,
não só enquanto produzem, mas também enquanto comparti­
lham justamente dos frutos de seu trabalho. Se a lei de Cristo
nos obriga a ajudar-nos uns aos outros a carregar os nossos
fardos (Gl 6,2), a lógica exige que sejam ajudados primei­
ramente aqueles que mais sofrem sob a carga que levam na
caminhada da vida.

III. O CONJUNTO DAS QUATRO IRMÃS

Na iconografia e na esquematização aristotélico-tomística,


as virtudes cardeais, a prudência, a justiça, a temperança e a

210
fortaleza, podem dar a impressão de serem quatro virtudes
autônomas e independentes. De fato, como a própria palavra
“cardo" indica, são o conjunto de eixos em que o agir e fazer
humanos estão engrenados; unidas formam a espinha dorsal
do homem virtuoso. Delas, as ações humanas são como frutos
do mesmo tronco comum e tiram sua energia, seu equilíbrio
e justa medida. Agindo e construindo, os homens realizam
em liberdade os desejos e projetos pelos quais optaram, com
as forças de que dispõem e dentro das proporções justas.
Desde a antiga filosofia grega, formou-se uma longa tra­
dição expositiva destas quatro qualidades de todo agir virtuo­
so das pessoas humanas. Os tempos mudam, as situações são
outras. Por isso, em vez de repetir o que está consagrado
pela teologia moral herdada é mais útil analisar apenas alguns
aspectos que merecem especial atenção nas condições da vida
latino-americana. Pois, como as pessoas, suas portadoras e
agentes, as virtudes não são abstrações que independem das
categorias do tempo e do espaço vividos, mas se formam e
realizam em situações históricas concretas e determinadas
épocas.

1. A atitude crítica: a nova face da virtude


da prudência

Embora seja uma prática humana das mais comuns e mais


antigas, a crítica não costuma ter boa cotação entre o povo,
porque está ligada às categorias negativas de condenar, repe­
lir, torpedear, refutar, negar, rejeitar, atrapalhar, como se ela
fosse apenas questão de ataques pessoais ou de perturbações
da justa ordem de coisas. As experiências mais recentes com
o sistema democrático multipartidário e com o pluralismo
ideológico na sociedade moderna não tiveram ainda influência
suficiente para as práticas de oposição e contestação serem
bem aceitas. A esfera tradicional da sociedade civil e da Igre­
ja, em que os cidadãos e católicos foram, talvez ainda sejam,
socializados, era concentrada na autoridade e sua palavra; o
resto era submissão, obediência e execução das ordens. Há
mudanças em caminho. Nos próprios círculos do poder, a

211
crítica começa a ser tolerada, às vezes, contanto que seja
“construtiva”, conforme o esquema mental dominante de ver,
optar e fazer as coisas. Como se faz uma crítica construtiva
à repressão policial, à tortura, à exploração de trabalhadores,
à miséria de tantas famílias?
Crítica é uma qualidade inata nas pessoas humanas. Na
narração de Adão e Eva já consta sua presença simbólica na
forma da árvore do conhecimento do bem e do mal. Confor­
me a raiz original grega, significa separar, como a mulher faz
catando arroz na peneira; examinar para ver o que presta e
não presta; distinguir o que é verdadeiro, digno, justo, ho­
nesto, virtuoso de tudo quanto há de mentiroso, falso, indig­
no, malicioso na complexa realidade humana, sempre mis­
tura de luzes e sombras; discernir entre o bem e o mal e,
em função deste discernimento, decidir e agir; julgar o que
tem acontecido e o que há de se fazer; formar sua opinião,
tomar posição na situação, como se apresenta. Evidentemente,
estas atividades originais humanas serão tanto mais necessá­
rias, quanto maior for a crise em que a pessoa, a sociedade
se encontra. O fato de que crítica e crise provêm do mesmo
verbo grego “krinein” tem um profundo sentido existencial.
O instrumental humano para fazer críticas é bastante variá­
vel. Há a racionalidade fria que observa os fatos, analisa
uma realidade, faz pesquisas, julga conforme critérios prees­
tabelecidos. leis ou normas, usa argumentos objetivos ou apre­
sentados como tais. Há o bom senso com que o povo roda,
muitas vezes, a espiral do ver, julgar e agir de sua vida. O
coração, a sensibilidade, as emoções têm tanta influência que
a única explicação da crítica pode ser: eu sinto assim. A
espontaneidade da indignação pessoal diante de cenas de vio­
lência, miséria de favela, mais um desastre com caminhão de
bóias-frias, ao lado do gosto pelo bem, desempenha seu papel,
pois quanto mais crítica é a situação, tanto mais crítica pro­
voca. Em termos de instrumento, os cristãos estão numa po­
sição especial pela vivência de sua fé eclesial que implica a
normatividade da Igreja.
O ponto nevrálgico da atividade crítica está na autocrítica
ou na capacidade de incluir o sujeito no pensamento critico.

212
A herança filosófica grega e, mais ainda, as ciências empí­
ricas modernas colocaram a objetividade no centro de modo
tal que a subjetividade, o sujeito humano, que observa, julga,
decide, ficou marginalizado. Para o lado negativo vale a obser­
vação evangélica: “Tira em primeiro lugar a trave de teu
próprio olho, antes de tentar tirar o cisco do olho de teu
irmão" (Mt 7,3). Para o lado positivo, como base de qualquer
crítica, funciona o aviso: examine-se cada um a si mesmo
(num contexto mais estreito: ICor 11,28).
Numa sociedade de classes ou de hierarquia de poder, esta
regra é mais rigorosa ainda, porque o lugar, a posição social
e o ângulo de aproximação da realidade complexa da vida hu­
mana condicionam o processo da crítica e a aceitação ou re­
jeição da crítica feita por outros. A percepção e o julgamento
das pessoas são diferentes também conforme o esquema men­
tal, a experiência existencial, a história de cada um, cada
grupo ou classe. Por isso, a crítica supõe que, olhando em
redor de si, o sujeito inclusivamente se analisa a si mesmo
no universo observado e se conscientiza de seus próprios
óculos.
Para vencer este limite-obstáculo, a hum ildade de escutar
os outros e compreendê-los presta bom serviço. A realidade
eclesial e política, econômica, social contém uma grande massa
de conflitos e contrastes, que nenhuma ideologia de ordem e
paz chega a camuflar. Nesta situação complexa, o simples
bom senso tirará o absolutismo das próprias afirmações e
abrirá os ouvidos para prestar atenção aos outros que ocupam
outro lugar no m undo do convívio humano. Assim, o cami­
nho para um relativo consenso comum se iniciará, a fim de
formar uma base suficiente para agir sobre a realidade his­
tórica e fazer, pela colaboração mais ampla possível, as re­
formas de que a hum anidade está precisando urgentemente.
Aprender dos outros e com os outros também é caridade
cristã, seja no campo da fé e da construção da Igreja, seja no
terreno da sociedade política e econômica.

A inclusão de si mesmo na crítica que se faz tem outra


conseqüência, a da operosidade. Nada mais gratuito do que
a crítica, feita de braços cruzados, da tribuna ou de cima do

213
m uro, sem participação ativa no jogo. A responsabilidade do
povo de Deus pela realização progressiva do reino de Deus
entre os homens não perm ite a situação côm oda de ser mero
público falante, produtor de discursos. A expressão de que
não há inocentes na história talvez seja chocante, mas ao
menos desperta a consciência dos cristãos para não repetir o
gesto de Pilatos. A crítica envolve o crítico nos acontecimen­
tos, seja confirm ando o rumo da hum anidade pela sua cola­
boração ativa, seja quebrando a continuidade e criando outro
rum o, m ais evangélico e hum ano. Crítica inclui a lealdade de
cooperar e a coragem de rem ar contra a m aré ao mesmo
tempo, visto que na realidade presente da Igreja e da socie­
dade o bem e o mal, a vida e a m orte se confundem .

2. Justiça com os direitos

Se o hom em m oderno fala de justiça, ele pensa em direi­


tos, direitos hum anos universais, direitos econômicos, sociais,
políticos e culturais, form ulados em docum entos internacio­
nais, direitos trabalhistas, direitos civis, direitos adquiridos, di­
reitos em ergentes que ainda não encontraram aceitação co­
mum. A qualidade fundam ental da justiça, que deve estar
operando em todos os atos e realizações hum anas, encontra
neles, hoje em dia. sua configuração mais concreta e definível,
em bora o senso de justiça não se esgote nestes produtos teó­
ricos e, m uito menos, nos resultados práticos. Longe ainda
está o ideal de um a sociedade justa ou um convívio eclesial,
que sejam expressão perfeita e pleno desenvolvim ento dos
direitos dos cidadãos e dos fiéis. A realidade está bem dis­
tante dos direitos de papel e esses não chegaram ainda à sua
evolução com pleta.
Nos países latino-am ericanos, periferia do sistem a capitalis­
ta, econom icam ente endividados e politicam ente dependentes,
os direitos hum anos sofrem m uita pressão e m uitas lesões. De
um lado, os trabalhadores, m ulheres, negros, índios começam
a levantar a cabeça e se conscientizam de seus direitos. Não
aceitam m ais serem m arginalizados e instrum entalizados dentro
de um processo histórico em que os outros m onopolizam o

214
poder de m ando. Depois de séculos de repressão, tais m ovi­
m entos de libertação podem ter seus excessos, mas esses são
as som bras de um novo senso de justiça que está brotando
entre o povo oprim ido. Doutro lado, a sociedade de classes,
concentradora do poder político-econômico, conhece a justiça
de classes: favores, vantagens e lucros para uns e deveres,
sacrifícios e exploração para os outros.
O ponto central é a ligação que há entre direitos e deve­
res (Jo 2 3 ). N a prática é costume que, se um reclam a seus
direitos, o outro exige que ele cum pra seus deveres. T oda­
via, a relação entre direito e dever ultrapassa em m uito este
tipo de troca. De fato, a relação se desenvolve em três dim en­
sões do agir hum ano:
a. Q uem tem o direito, tem o dever de cuidar bem dele.
Se o direito é apenas teoria, deve lutar para que se torne
realidade. A transição de o que os antigos juristas rom a­
nos cham aram o “ ius ad re m ” para o “ius in r e ” h á de
ser feita em prim eiro lugar pela ação responsável da pró­
p ria pessoa ou classe social. Ninguém pode ficar de b ra ­
ços cruzados, esperando m ilagre ou que outros lutem por
ele.
b. A segunda dim ensão é sugerida pela Regra Á urea (M t
7 ,1 2 ). D ireitos hum anos não são propriedade particular,
m as supõem reciprocidade. O que um a pessoa exige como
seu direito, há de conhecer e respeitar tam bém com o di­
reito dos outros. O senso de justiça quer igualdade de
todos e não conhece acepção de pessoas ou de classes,
nem discrim inação de sexo, cor ou raça, porque a digni­
dade hum ana é com um a todos.
c. O am or cristão exige solidariedade, especialm ente para
com aqueles cujos direitos legítimos são lesados, e leva a
lu tar ao lado deles, para que obtenham espaço para viver
e liberdade de participar da form ação de um a sociedade
justa. A realização deste projeto tem seu preço, às vezes,
bem alto. O exem plo por excelência desta solidariedade
foi dado p o r Jesus de N azaré que sacrificou sua vida p ara
lib ertar seus irm ãos de ontem , hoje e am anhã de todos
os m ales e até da m orte.

215
3. A coragem de viver

“ Sede homens” (IC or 16,13) é uma expressão que introduz


bem o tema da fortaleza, mas talvez acerte mal no ambiente
latino-americano. Tanto a tradução, quanto o latim da Vul-
gata e o grego original se concentram na pessoa masculina,
como se a força fosse uma qualidade exclusiva masculina. A
idealização burguesa do passado projeta na mulher os dons
da meiguice, delicadeza, ternura e prontidão para servir. A
mulher pobre de hoje, porém, pode não corresponder a este
ideal, mas é forte, firme e resistente na criação de seus filhos;
duplamente, sacrificada pelo trabalho dentro e fora de casa,
costuma ter dupla coragem de enfrentar a vida e lutar para
sobreviver; é como a mulher forte do Livro dos Provérbios,
mas pobre e sem projeção (Pr 31,10). Fortaleza acompanha
o agir humano e fornece a energia às pessoas hum anas, sejam
homens, sejam mulheres.
Unida às outras qualidades das ações humanas, a fortaleza
tempera e canaliza a agressividade que surge espontaneamen­
te nas pessoas diante dos obstáculos da vida, as violências
que sofrem, as injustiças que sentem na carne ou reparam
em outras vítimas. Doutro lado, pela sua força de viver vence
a vontade de entregar os pontos e deixar as coisas andarem
como andam, com o típico gesto de sacudir desanimado os
ombros, porque não há outro jeito. Na corrida da vida, ela
faz esquecer o passado, enterra os traumas, passa por cima
do que houve sem saudades e ressentimentos e deixa para
trás o que foi feito ou alcançado até agora; avança para o
que está adiante, prossegue em direção ao alvo, realizando
passo por passo a soberana vocação de Deus em Cristo Jesus
e construindo seu reino melhor e mais transparente do que
agora está no mundo, até que venha sua plenitude e, com
isso, o prêmio final (cf. F1 3,12-15).
Na consciência do povo de Israel, a força de viver e vencer
na vida tem sua fonte na força poderosa de Deus, cuja fra­
queza é mais forte do que as forças todas dos homens (IC or
1,25). O salmista testemunha esta fé, tantas vezes vivida nos
acontecimentos históricos, em seu cântico: "Eu vos amo, Se-

216
nhor, m inha força; Senhor, minha rocha, minha cidadela, meu
libertador, meu Deus, meu rochedo onde me refugio, meu
escudo, força de minha salvação, minha fortaleza” (SI 17,2-
5). E a gratidão para com esta comunicação contínua da
força de Deus faz assumir a lei, gravada nos corações: “Ama­
rás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a
tua alma e de todas as tuas forças” (Dt 6,5; Mt 22,37 e par.).
Nesta convicção, continua a viver e lutar o povo de Deus
da Nova Aliança, encontrando no evangelho a força de sua
salvação e liberdade (cf. Rm 1,16). Eles sabem que o ho­
mem prudente constrói sua casa sobre a rocha que é Cristo
Jesus, a força de Deus encarnada (cf. Mt 7,24). Na peregri­
nação por este mundo, funciona também a força das trevas
da qual até Jesus foi vítima (Lc 22,53). Seu poder é tão
grande, que São Pedro o compara com um leão que ruge,
buscando a quem devorar, e São João com uma fera que
recebe do dragão sua força, seu trono e poder (lP d 5,8; Ap
13). Mas pela graça do Senhor Jesus, os cristãos estão firmes.
Sabem que a tribulação produz constância, a constância prova
a fidelidade, e a fidelidade comprovada produz a esperança
que não ilude, porque o amor de Deus foi derram ado em
seus corações pelo Espírito Santo que lhes foi dado (cf. Rm
5,1-5).

4 . Tem perança, o gosto da vida

A quarta qualidade interna das realizações hum anas cons­


trutivas é a tem perança. O termo leva uma carga histórica de
supressão de desejos e prazeres, freio da espontaneidade, lista
de proibições, pecados e tabus. A sugestão para desvendar seu
real valor é o cuidado da cozinheira que tempera a comida
a fim de dar-lhe mais gosto e melhor paladar. Para contrastar
com esta imagem, serve o bêbado que nem percebe mais que
uma alma boa trocou a cachaça de sua garrafa por água. A
temperança representa a medida certa, o equilíbrio justo que
evita os excessos que fazem mal às pessoas e sobrecarregam
a já complicada construção da sociedade humana e da Igreja.

217
O mundo atual do qual todos fazem parte, cada um de sua
maneira, forma um grande quadro destemperado de contras­
tes gritantes, que causa angústia e náusea. A liberdade é o
valor central da vida das pessoas e base da sua moral, mas
estão presentes tanto as violações dos direitos humanos nas
ditaduras, como os abusos da liberdade de explorar os fracos,
m anipular a opinião pública, abusar dos outros como objetos
e todas as formas de egoísmo que a civilização burguesa co­
nhece. O consumismo leva a uma saturação em que as m aio­
res extravagâncias e desperdícios são possíveis e, assim mes­
mo, deixam apenas um sentimento de tédio. Mas na mesma
cidade, gente vira latas de lixo à procura de comida, como
se fosse cachorro sem pedigree. No campo sexual os extremos
se tocam, do tabu e da libertinagem. Um poeta escreveu com
“spray” no m uro: “Triste sina da nossa geração, perdemos o
medo de transar e descobrimos o medo de am ar”. O sexo se
tornou passatem po, sem assumir a responsabilidade de uma
relação mais profunda e duradoura entre as pessoas.
A energia vital das pessoas e dos povos que os impulsio­
na a se realizarem , criando sociedade e cultura, conhece um
vasto espectro de atividades humanas e integra um a grande
variação de motivos desde a caridade de Cristo (2Cor 5,14)
até a mais simples necessidade de comer e dorm ir. Neste pro­
cesso, manifestam-se a grandeza e a m iséria dos hom ens, a
altura que sabem alcançar e a baixeza a que podem chegar,
as virtudes e os vícios que a experiência hum ana acumulou
na história da paz e da guerra, do am or e do ódio. Os de­
sejos, impulsos e propensões que as pessoas sentem e as forças
que nelas operam orientam sua cam inhada para o bem ou
para o m al, para sua libertação ou destruição. Sem eles, o
ser hum ano não vive e não realiza nada; com eles, ele é o
cavaleiro que há de pôr cabresto, freio e rédeas para, sen­
tado neles, m antê-los sob seu domínio, guiá-los e viajar longe
sem tropeço ou queda.
O antigo adágio de que a virtude está no meio, im plica a
tem perança como o fiel perm anente de todo agir m oral. Na
práxis, o fiel do equilíbrio não é indicador igual a todos;
varia de acordo com pessoas e situações. A tem perança é como

218
a tem peratura do corpo que permite ligeiras variações, sem
atingir a saúde. Deus não trabalha com clichês, mas com
filhos vivos que, andando passo a passo, precisam equilibrar-
se sempre de novo na realização dos projetos que o Espírito
lhes inspira. Provocações não lhes faltam , nem de dentro, nem
de fora. Mas desvencilhando-se das cadeias do pecado e ar­
mando-se de paciência e sobriedade, eles assumem a luta que
lhes é proposta, com o olhar fixo no autor e consum ador de
sua fé, Jesus (cf. Hb 12,1).

CONCLUSÃO: HUM ILDADE E PACIÊNCIA

No carnaval da vida, o orgulho adamítico usa mil m ásca­


ras e inventa cada dia outras. Por isso, sua opo n en te,-a hu­
mildade, passa por um longo processo de aprendizagem que
só termina com a m orte, em bora seja fundam ental na vida
cristã. A cobiça de apropriar-se de tudo quanto há de bens
e valores, o narcisismo da auto-adm iração e vaidade e a in­
veja hum ana não se dissolvem pelas decepções hum ilhantes
que o convívio e a concorrência aprontam num a sociedade
duramente com petitiva e crítica. Talvez as chamas da soberba
se apaguem por ora, mas a brasa continua a queim ar sob a
camada das cinzas.
Apesar da dificuldade de defini-la, a hum ildade supõe o
reconhecim ento realista e verdadeiro de si mesmo na cami­
nhada que se faz, no lugar em que se está e diante das opor­
tunidades que se apresentam . Pela força da fé que procura
um a resposta sincera e vivida à interrogação de quem sou eu.
o cristão se torna m enor na m edida em que o m istério de
Deus lhe invade o coração e a práxis. O homem vale o que
vale diante de Deus e nada m ais, nada menos. A hum ildade
é a vestim enta do cristão que, criatura e pecador, se curva
diante da mão poderosa de Deus, a quem pode confiar suas
preocupações ( lP d 5,5-7).
A experiência da fé no Antigo e Novo Testam entos fornece
em muitos textos variados unanim em ente o mesmo testem u­
nho. A estratégia de Deus é essa de derrubar os poderosos
do seu trono e exaltar os hum ildes (Pr 3,54; SI 52,10; Lc

219
1,52, etc.). Aos discípulos não resta outra atitude senão seguir
seu Mestre que duplam ente e de modo inimitável se hum i­
lhou. Sendo de condição divina, aniquilou-se a si mesmo, as­
sum indo a condição de escravo; mas, reconhecido como ho­
mem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a
m orte e m orte de cruz (F1 2,5-11).

Na situação latino-am ericana, a hum ildade se tornou a eti­


queta do povo pobre. Até em sua própria consciência, este
povo se sente um povo “h u m ird e”, que abaixa a cabeça e
se cala diante das classes dom inantes. Esta atitude historica­
m ente im posta é mais de precaução do que de verdadeira hu­
m ildade cristã, mais jeito de sobreviver do que convicção in­
terna de ser gente. Na luz da fé, o cristão é altivo diante de
quem o interpela. O mesmo Pedro que já se descobriu a si
mesmo na pesca m ilagrosa, no prim eiro encontro com Jesus
(Lc 5,8), tam bém se convenceu de que somos uma raça esco­
lhida, um sacerdócio régio, um a nação santa, um povo adqui­
rido por Deus a fim de publicarm os seu poder (lP d 2,9).
Pela conscientização de sua dignidade, o povo pobre apren­
derá a m esma altivez corajosa diante dos fariseus e Pilatos
atuais, que Jesus e seus apóstolos m ostraram diante dos adver­
sários de seu tempo. D iante de Deus não é justo obedecer
mais àqueles que oprim em os pobres e os m altratam do que
a Deus, o Pai comum de todos (cf. A t 4,19).
Por fim , tam bém devemos afirm ar que o homem virtuoso
não se form a da noite para o dia, num passe de mágica. O
povo sabe que convém d ar tem po ao tem po, e aprendeu esta
sabedoria m ais pela vida do que pela leitura da Bíblia, seu
passado m ais remoto. Erva daninha pode crescer depressa; m a­
deira de lei cresce devagar e seu tronco robustece em ritm o
lento. O trabalho de se tornar um hom em virtuoso é como
escalar um a m ontanha escarpada. A prim eira vista, o cume
parece estar perto e fácil de ser alcancado; mas quanto mais
se sobe vencendo obstáculos, procurando caminhos entre as
rochas, tanto mais o cum e se afasta, exigindo mais esforço e
sacrifício. A escalada só term inará, quando a m orte propor­
cionar o encontro definitivo com o Senhor Jesus.

- 220
Para crescer e ficar forte, o corpo hum ano precisa de exer­
cícios, esporte, ginástica, andar a pé, além de um a boa ali­
mentação. Para o devir do homem virtuoso, a alimentação é
o Espírito Santo prom etido por Jesus, a Palavra de Deus, a
celebração eucarística com os irmãos.

De resto, para a prática das virtudes não há program a cro­


nom etrado de treinam ento, como o que os atletas adotam . Se
a caridade é o vínculo da perfeição (Cl 3,14), a regra áurea
é a de fazer bem a todos em todas as circunstâncias e fazer
o papel de Cireneu de ajudar os irmãos a levarem sua cruz.
Pela troca de serviços mútuos, não só as pessoas se formam
na virtude, mas tam bém a Igreja se constrói e o Reino de
Deus se m anifesta na sociedade mais pacífica, justa e fraterna.

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