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O presente trabalho resume parte da minha dissertação Imagem e Submissão

Maquínica na Sociedade de Controle que desenvolvo para o programa de mestrado em


filosofia, na linha de pesquisa ética e filosofia política. O objetivo aqui é apresentar
resumidamente algumas das problemáticas que levantou Deleuze e das soluções que
apresentou para o problema do pensamento, de inicio buscarei fazer uma introdução e uma
breve exposição do percurso traçado por Deleuze para a criação de sua filosofia da diferença e
de seu empirismo transcendental, por fim buscarei apresentar de forma breve a problemática
da imagem tecnológica e sua relação com o pensamento no contexto das sociedades de
controle.

IMAGEM DOGMATICA DO PENSAMENTO

Para compreendermos a atitude filosófica de Deleuze e sua posição No contexto


filosofia contemporânea, é importante que nos remetamos ao pensamento de Nietzsche e a
leitura que Deleuze fez desse filósofo. Em primeiro lugar Deleuze ressalta a importância das
criticas Nietzschianas ao conhecimento, sobretudo quando este parece se opor a vida. Com
efeito, Nietzsche dedicou considerável parte de sua obra a tentar destituir a pretensão de certo
tipo de conhecimento de tentar medir e julgar a vida, por um lado e, por outro, considerar-se a
si mesmo como um fim, tendo-a como um objeto ou um meio. O conhecimento, como o
entende Nietzsche, ao fazer-se legislador da vida, medindo, limitando, modelando, tem como
referencia apenas o que nela há de reativo. A critica nietzschiana ao conhecimento visa abrir
novas possibilidades de significação para o pensamento, abertura que o permita acompanhar a
vida em seus movimentos, em suas novidades, mas sobretudo que possa inventar e descobrir
novas possibilidades de vida. De acordo com Nietzsche essa afinidade entre pensamento e
vida era a característica fundamental da filosofia pré-socrática e é ainda o que constitui em
grande parte o “segredo” da arte, que encontra seus valores em não reduzir o pensamento a
uma ratio e a vida a uma reação (DELEUZE, 1964). É a partir da critica nietzschiana ao
conhecimento que Deleuze irá desenvolver por sua vez sua critica ao que chamou de Imagem
Dogmática do Pensamento.

A primeira forma de conter e restringir o pensamento é tentar defini-lo tomando-o por


um de seus efeitos, enquadrando-o em alguns de seus movimentos, erigindo-lhe ume imagem.
Mas não se trata simplesmente de buscar definir conceitualmente e metodologicamente o
pensamento, tomando-o como objeto de si mesmo e como objeto da filosofia, o problema,
para Deleuze, está no fato de que a própria filosofia não se constrangeu em tomar de
empréstimo ao senso comum uma imagem pré-filsófica, irrefletida e subjetiva para o
pensamento.

Quando começa uma filosofia? Pergunta Deleuze. O que significa dizer que a filosofia
de Descartes começa pelo Cogito e a de Hegel pelo Ser Puro, por exemplo? Considerando
que estes são os conceitos iniciais dentro do sistema, aqueles que não necessitam de
pressupostos objetivos que lhes venham explicar, sustentar, conduzir. Para responder tais
questões Deleuze a princípio faz recordar que existem pelo menos dois tipos de pressupostos
filosóficos: os objetivos e os subjetivos. Os pressupostos objetivos são conceitos
explicitamente supostos por outros conceitos dados, por exemplo, se se quer definir o homem
como animal racional, supõe-se antes como explicitamente conhecidos os conceitos de animal
e de racional. Já os pressupostos subjetivos não se sustentam sobre outros conceitos, mas
sobre uma característica implícita, envoltos em um sentimento: supõe-se que todo mundo
saiba, sem conceito, o que significa eu, pensar, ser. Para Deleuze os casos de Descartes e
Hegel são exemplares, ambos souberam evitar o primeiro tipo de pressupostos no começo de
suas filosofias, mas incorreram no segundo: o eu puro do Eu penso de Descartes é uma
aparência de começo, por que remete todos os seus pressupostos ao eu empírico. Já o ser puro
de Hegel remete todos os seus pressupostos ao ser empírico, sensível, concreto. O pressuposto
subjetivo assume a forma do “todo mundo sabe...”, como se de um modo pré-filosófico todo
mundo soubesse o que significa pensar e ser. A forma do “todo mundo sabe...” coloca o
pressuposto subjetivo sob a aparência de um pensamento natural, “é a própria forma da
representação e o próprio discurso do representante” (DELEUZE, 1988,p.216). Dessa forma a
filosofia apenas aparenta começar sem pressupostos, uma vez que só o que se pode alegar
como sendo anterior a ela é esse pensamento pretensamente natural.

No âmbito especifico da filosofia os pressupostos subjetivos - o que se “acredita” que


todo mundo sabe sem conceito - o universalmente reconhecido é a forma da representação e
da recognição em geral: o que significa pensar, ser e eu. Esta forma possui como elemento o
pensamento como exercício natural de uma faculdade, como se o pensamento fosse voltado
naturalmente para o verdadeiro a partir de uma boa vontade do pensador e uma boa natureza
do pensamento:

Dizem-nos que o pensador, enquanto pensador, quer e ama o verdadeiro (veracidade


do pensador); que o pensamento possui ou contem formalmente o verdadeiro
(inatismo da idéia, a priori dos conceitos); que pensar é o exercício natural de uma
faculdade, que basta então pensar “verdadeiramente” para pensar com verdade
(natureza reta do pensamento, bom senso universalmente partilhado).
(DELEUZE,1976, p.49)
Assim, a forma mais geral da representação está no elemento de um senso comum: “é
por que todo mundo pensa naturalmente que se presume que todo mundo saiba
implicitamente o quer dizer pensar” (DELEUZE, 1988, p.218). O pressuposto implícito da
Filosofia encontra-se no senso comum como uma cogitatio natura universalis. Os
pressupostos são mantidos ocultos pelos filósofos, como se não lhes conviesse confessar a
validade que tomam ao senso comum, de uma natureza reta e uma boa vontade do pensar.
Dessa forma Deleuze pode dizer que o pensamento conceitual filosófico tem como
pressuposto uma imagem do pensamento, pré-filosófica e natural, tirada do elemento puro do
senso comum.

De acordo com Deleuze, Nietsche é provavelmente quem primeiro denunciou tal


imagem dogmática do pensamento. Perguntando sobre os pressupostos mais gerais da
filosofia ele pode ver que se tratavam essencialmente de pressupostos morais, uma vez que só
dizia respeito à moral atribuir uma boa natureza ao pensamento, uma boa vontade ao
pensador, e que somente o bem pode fundar uma suposta afinidade do pensamento com o
verdadeiro.

Notadamente, em Nietzsche e a Filosofia, Deleuze apresenta as três teses essenciais


em que a imagem dogmática do pensamento aparece1, que, resumidamente, seriam: 1) a
tendência natural do pensamento para o verdadeiro; 2) que só somos desviados do verdadeiro
por forças estranhas ao pensamento (corpo, paixões, interesses sensíveis; 3) que basta um
método para pensarmos bem e verdadeiramente, através do qual possamos nos safar das
forças estranhas e exteriores que nos alteram e distraem (um método universalmente válido
através do qual evitamos o erro). É nesse ponto que Deleuze toca o problema que lhe
concerne: o verdadeiro é sempre concebido como universal abstrato, de modo que as forças
reais que o pensamento supõe, as forças singulares que “fazem” o pensamento, nunca são
levadas em conta. Acontece que a verdade, enquanto conceito, como universal abstrato, é
totalmente indeterminada.

RECOGNIÇÃO

Nos limites dessa imagem dogmática o modelo que o pensamento recebe é o da


recogição, dentro desse modelo nós temos que todas as faculdades incidem sobre um mesmo

1
DELEUZE, 1976, p. 49
objeto e o reconhecem como o mesmo, e que todo mundo pode conhecê-lo como tal. Cada
faculdade possui seu dado particular, por exemplo: a sensibilidade o sensível, a memória o
memorável, a imaginação o imaginável e o intelecto o inteligível. Mas é preciso que cada uma
delas, a sua maneira, conceba um objeto qualquer como sendo o mesmo para uma outra ou
para todas, de modo que este possa ser reconhecido. Com a recognição temos, pois, uma
espécie de principio subjetivo que serve para todo mundo e supõe uma unidade do sujeito
pensante, um perfeito ideal de senso comum. Essa unidade é o cogito que deve ser
pressuposto para podermos pensar a identidade do objeto. O cogito, dirá Deleuze, é o senso
comum tornado filosófico, pois é o pressuposto do senso comum aparecendo como conceito.

A FILOSOFIA DA DIFERENÇA

Para fazer frente a tal imagem dogmática que continha no modelo da recognição e na
forma da representação sua compreensão para o pensamento, Deleuze buscou desenvolver
uma filosofia da diferença, pensada enquanto diferença pura e a repetição livre.

Uma filosofia da diferença deve sempre ser encarada de dois modos, sobre dois
planos, um metodológico e outro ontológico. Pois são dois tipos de problemas que remetem-
se mutuamente um ao outro: um concerne as diferenças de natureza o outro a natureza da
diferença. Se entendemos que a filosofia pretende ter uma relação direta e positiva com as
coisas, aceitamos que ela deve aprender a coisa pelo que a coisa é, a partir de sua diferença
interna, e naquilo que ela difere de tudo aquilo que não é.

Ao falarmos em diferença interna a coisa estamos apontando para um tipo de diferença


que não é espaço-temporal nem genérica ou especifica, uma diferença que não é exterior a
coisa. Partindo da constatação de Bergson Deleuze mostra que na história do pensamento
freqüentemente cometeu-se o erro de tomar por diferença de grau, ou de intensidade coisas
que diferiam por natureza, mesmo coisas de um mesmo gênero. As diferenças de natureza
precisam portanto ser reencontradas ou restabelecidas, pois elas são os meios que conduzem a
diferença interna, que seria o alvo e o objeto dessa filosofia. Os próprios conceitos filsoficos
devem ser criados visando este tipo de diferença. Deve existir, portanto uma unidade entre o
conceito e seu respectivo objeto, donde temos que o conceito busca vislumbrar a diferença
interna desse objeto, e cada conceito deve ter seu objeto correspondente, não podendo ser
deslocado para outro, ou assumir a forma genérica e abstrata de um universal.
Bérgson apontou como método necessário para atingirmos esse tipo de diferença a
intuição, veremos mais adiante que Deleuze chamou de empirismo transcendental o processo
genético que nos conduz ao elemento diferencial do pensamento. Entre um outro temos em
comum a intenção de encontrar as articulações do real e as linhas de fato, o ponto em que as
diferenças de natureza se distribuem e conduzem as diferenças internas das coisas. Para
Deleuze podemos dizer que se trata de pensar as coisas em limite, desde as suas bordas, o
ponto em que se tornam excessivas, em que se diferenciam de si mesmas e por outro lado se
singularizam, não deixando-se mais conter por uma representação ou recognição. Este
momento propriamente intensivo, e não formal, extensivo ou numérico é identificado por
Deleuze como o ponto do devir, o ponto a ser atingido pela experiência transcendental.

EMPIRISMO TRANSCENDENTAL

Kant tem o mérito de ser aquele que descobriu o domínio do transcendental, que seria
o domínio das condições gerais do conhecimento, o nosso modo de conhecer tal como seja
possível à priori. A filosofia entendida então como atividade transcendental deve se ocupar
das nossas condições de experiência. Deleuze não deixa de seguir essa definição e utilizá-la
na formulação de seu empirismo transcendental que, tal como aponta Ester Maria Dreher
Heuser seria já “uma busca das condições de efetividade das experiências e apresentação do
plano transcendental segundo um método de gênese das faculdades” (DREHER HEUSER,
2008, p.66). Mas é na própria composição do transcendental que surge um primeiro ponto da
crítica que Deleuze tece sobre Kant, ponto no qual insiste repetidamente: o fato é que Kant
realizou uma espécie de decalque das estruturas transcendentais do plano dos atos
empíricos.Tal procedimento significa que o próprio modelo transcendental parte de sínteses
que remontam a apreensão empírica de uma consciência psicológica, a partir da síntese da
recognição, portanto de um sujeito já formado, funcionando como princípio universal. Assim,
é como se Kant não conseguisse se manter no próprio domínio que criou, o transcendental
naufraga no domínio empírico. Instaurando a recognição como modelo transcendental para o
pensamento, ele regressa à forma das estruturas empíricas, o que significa que este ainda está
submetido a uma imagem dogmática, a imagem do pensamento naturalmente reto, submetido
aos ditames de um senso comum:

De todos os filósofos, Kant foi o que descobriu o prodigioso domínio do


transcendental. Ele é o análogo de um grande explorador; não um outro mundo, mas
montanha ou subterrâneo desse mundo. Entretanto, que fez ele? Na primeira edição
da Crítica da Razão Pura ele descreve em detalhes três sínteses que medem a
contribuição respectiva das faculdades pensantes, culminando todas na terceira, a da
recognição, que se exprime na forma do objeto qualquer como correlato do Eu
penso, ao qual todas as faculdades se reportam. É claro, assim, que Kant decalca as
estruturas ditas transcendentais sobre atos empíricos de uma consciência
psicológica: a síntese transcendental da apreensão é diretamente induzida de uma
apreensão empírica. (DELEUZE, 1988, p.224).

A teoria das faculdades em Kant tal como aparece em sua doutrina transcendental esta
restrita ao modelo da recognição: uma faculdade legisladora fornece o modelo especulativo
ou prático para as demais de modo que todas se submetam à figura do mesmo, como objeto
sobre o qual incidem. A razão permanece pautada por seus “interesses naturais” (o verdadeiro,
o bom, o reto) que seguem imunes a crítica, e quantos sejam esses interesses ou elementos
que eles correspondam, tantas serão as formas do senso comum multiplicadas. O modelo da
recognição, tornando-se variado, fixa em toda parte o seu bom uso: uma concórdia das
faculdades determinada por uma faculdade ativa sob a forma do senso comum.

Diante disso Deleuze nos mostra que a regonição não pode ser o limite do uso das
faculdades, é preciso retomar a critica nietzschiana ao conhecimento e entender a vida do
pensamento também como uma vontade de potência, algo que se cria a si mesmo
confrontando seus limites. Dessa forma quando Deleuze retoma a teoria kantiana do uso das
faculdades e a reformula a partir da critica nietzschiana é no intuito de encontrar algo que dê
conta da experiência e que ligue o pensamento à vida sem a mediação de qualquer artifício
genérico ou de qualquer universal abstrato. Seria preciso pensar o empírico, mas sem se
limitar ao mero exercício de recognição na efetuação da experiência remetendo cada
movimento deslocado a uma direção implícita, cada diferença a uma analogia, um
reconhecimento, a figura do mesmo etc.

Para Deleuze, o pensamento não parece depender de um uso ordinário e programático


das faculdades, seu uso propriamente empírico ou decalcado do empírico. É preciso entender
que o uso transcendental das faculdades diz respeito ao limite de cada uma, e que esse limite
está fora de seu uso voluntário, o pensamento depende antes de um encontro com o fortuito do
mundo, algo que force a pensar do que da boa vontade do pensador. Esse encontro, essa
primeira experiência é sempre somente sensível, não podendo ser ao mesmo tempo lembrada,
imaginada, reconhecida. Mas esse signo sensível, esse algo no mundo que força a pensar é
portador de um problema que afeta a alma do vivente, que provoca as demais faculdades a se
esforçarem no sentido de seu desdobramento e de sua problematização. Ele surge como o
portador de um problema. Isso significa que a sensibilidade força outra faculdade – dessa vez
a memória – até o seu limite, a lembrar do que só pode ser lembrado, não no sentido empírico,
onde o que pode ser lembrado deve ter sido visto, ouvido, imaginado ou pensado, mas no seu
uso transcendental. Esse problema envolvido naquilo que aparece e força a sensibilidade é,
então, o objeto singular de uma memória transcendental; mas essa memória transcendental
força, por sua vez, no instante em que se efetua, uma terceira faculdade até seu limitea partir
daí é o pensamento que será levado a aprender o que só pode ser pensado: a Ideia ou a
essência. Muito resumidamente é esse o esquema que aparece no terceiro capitulo de
Diferença e Repetição, onde Deleuze expõe um funcionamento do uso discordante das
faculdades, em que cada uma delas se efetua atingindo seu limite próprio: a sensibilidade o
seu sentiendum, ou o ser do sensível; a memória o seu memorandum, ou o ser da memória e o
pensamento o cogitandum, o ser do pensamento:

Do sentiendum ao cogitandum se desenvolveu a violência daquilo que força a


pensar. Cada faculdade saiu dos eixos. Mas o que são os eixos a não ser a forma do
senso comum que fazia com que todas as faculdades girassem e convergissem? Cada
uma por sua conta e em sua ordem quebrou a forma do senso comum, forma que a
mantinha no elemento empírico da doxa, para atingir a sua enésima potência, como
ao elemento do paradoxo no exercício transcendente. (DELEUZE, 1988,p.233)

Cada faculdade deve ser levada até o limite de seu desregramento, sair dos eixos e do
âmbito de sua boa vontade, para ser vítima de uma tríplice violência: daquilo que a força a se
exercer, daquilo que é forçada a aprender e daquilo que só ela tem o poder de aprender. Cada
uma delas atinge seu elemento diferencial, o auge de sua potência exclusiva. Mas de onde
vem esse privilégio da sensibilidade? Por que isso que força a pensar só pode em primeiro
lugar ser sentido? É que apenas nessa faculdade ocorre a perfeita coincidência do que a força
e daquilo que só ela pode aprender, o que força a sentir e aquilo que só pode ser sentido são o
mesmo, é a intensidade, as diferenças intensivas, e “é sempre através de uma intensidade que
o pensamento nos advém” (DELEUZE,1988, p.239). Essa intensidade atinge, como num
curto circuito elétrico, as demais faculdades. Mas não existe nenhuma unidade subjetiva,
nenhum livre acordo de colaboração entre elas, pois essa comunicação parte de um uso
paradoxal, de uma metamorfose.

O empirismo transcendental, distanciando-se do idealismo transcendental de Kant, é


uma tentativa de pensar as experiência e não as condições possíveis da experiência, e uma
tentativa conceitual de estar a altura do pensamento como criador e como criação. E nessa
perspectiva que Deleuze irá se interessar pelas disciplinas necessariamente criadoras: a
filosofia, a ciência e a arte. E buscara compreender o limite o tipo de criação que concerne a
cada uma, propondo que se desfaçam certos preconceitos, como aquele que atribui uma
identidade restrita entre filosofia e pensamento, ou aquele que busca estabelecer uma
hierarquia entre as diversas áreas em que o pensamento se investe. Cada tipo de criação é
específico, e a ideia especifica de cada campo do criador não é permutável com outra, ainda
que não sejam incomunicáveis, por exemplo: não podemos pedir a um literato ou um filósofo
que tenha idéias em pintura, que seja um criador em pintura, ele pode ter idéias suscitadas de
sua experiência com determinado quadro, ou lançar ou ançar afectos e conceitos que podem
animar a criação pictórica de um artista, mas o tipo específico de idéia que surge só diz
respeito a cada área. O que provoca o pensamento é fortuito, mas é preciso que o vivente
coloque sua vida em condições de encontro com esse fortuito, eu de algum modo freqüente
seus elementos, por só o pintor pode ter idéia em pintura, é preciso alguém que invista sua
vida nesses limites, experimentado seus meios, seus instrumentos e suas dificuldades
específicas, que conheça as virtualidades da pintura, pressinta suas potências e os seus limites,
que a experimente sensivelmente de uma forma tal que seus problemas mais singulares surjam
assim como a possibilidade de sua solução e que possa abordar elementos de outras partes e
agenciá-los em sua composição. Não basta um aprendizado sistemático e metodológico para o
advento da idéia. É o elemento diferencial e a repetição, diferença livre da representação e da
sistematicidade, repetição livre da circularidade e da metodologia que apontam para o
pensamento como criação.

COMUNICAÇÃO E IMAGEM

Todas essas questões conduziram Deleuze a pensar a problemática do mundo


contemporâneo como a da comunicação. Se ele a princípio elegia seus adversários no âmbito
filosófico. Sempre deixou claro que o maior perigo para o pensamento vinha de outra parte,
não necessariamente o erro, o falso os obstáculos à verdade; mas aquilo que, num sentido
espinozista, entristece, diminui as potências de agir e, num sentido nietzschiano, adoece a
vida. Michael Hardt defende que o percurso ontológico traçado por Deleuze tem por
finalidade enriquecer sua proposta ética, afirmativa, uma ética dos afetos, do acontecimento e
da diferença, que segundo Foucault “faça crescer a ação, o pensamento e os desejos por
proliferação e justaposição, antes que por submissão e hierarquização”
(FOUCAULT,1988p.83).

No contexto contemporâneo que Deleuze definiu como uma sociedade de controle,


vemos que a representação alcançou através das técnicas de comunicação um nível
exponencial. imagens que remetem a outras imagens, imagens fraturadas, parciais, clichês e
discursos significantes que compõem com elas circularidades e redundâncias que parecem
esgotar em si mesmos as possibilidades do real.

As imagens não fazem mais um recorte do mundo, elas não reclamam a experiência do
olhar, surgem exatamente como recortes de outras imagens, elas “deslizam” umas sobre as
outras num plano de consecução de informações incessantes, que age diretamente e
autonomamente sobre o cérebro, capturando-o. Não são imagens que provocam realmente o
pensamento, mas apenas interpretação segundo esquemas pré configurados de leitura,
correlatos dos esquemas sensórios-motores que os clichês alimentam. Elas aparecem
constituindo e alimentando semióticas significantes e a-significantes que se propagam no
espaço informacional (o que exclui a distinção entre as dimensões interior, exterior) um
espaço sem fora, um espaço de redundância que surge a partir dos processos de interiorização
do controle. Os clichês (imagens sensório-motoras) antecedem as percepções, os pensamentos
e as ações; flutuam e inundam o mundo exterior, mas saturam também o mundo interior dos
indivíduos, constituindo, eles mesmos esse mundo. Assim, exterior e interior se anulam em
favor de um mesmo espaço de informação que existe como uma espécie de mônada onde só
há um espaço aberto que se expande segundo seus próprios meios, que não possui um fora
que o exceda.
Nessa situação verificamos a incidência de uma dupla articulação que envolve
conteúdo e expressão, as funções do visível e do enunciável, o tangível entre as palavras e as
coisas, de modo que ambos se controlam mutuamente, se auto referenciam e convergem
determinando limites de forma, linguagem, pensamento e organização corporal, ou seja, toda
capacidade de ação decorrente do que se vê e se fala fica constrangida a essa situação de
redundância. Uma das características fundamentais do controle é: aquilo que é intolerável,
aquilo que as pessoas não admitiriam caso fosse imposto por uma estrutura de poder
autoritária, elas aceitam quando parte de uma adesão interna, surgindo na própria formação de
suas percepções, compondo o acervo comunicativo de suas opiniões. Diante disso a proposta
geral do meu trabalho de dissertação é abordar esses problemas a partir da filosofia da
diferença, de alguns conceitos e análises presentes na obra de Deleuze, sobretudo aqueles
referentes à experiência e a criação que apresentei resumidamente acima.
REFERÊNCIAS

DELEUZE, Gilles. A Filosofia Crítica de Kant. – Tradição: Germiniano Franco. – Lisboa:


edições 70, 2000.
DELEUZE, Gilles. A Imagem-tempo, Cinema 2. Tradução: Eloísa de Araújo Ribeiro. – 1. ed.
– São Paulo: Editora Brasiliense, 1990.
DELEUZE, Gilles. Diferença & Repetição. Tradução: Luiz Orlandi& Roberto Machado. – 2.
ed. – Rio de Janeiro: Graal, 2006.

DELEUZE, Gilles.Nietzsche & A Filosofia. Tradução: Edmundo Fernandes Dias & Ruth
Joffily Dias. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1976.

DELEUZE, Gilles / GUATTARI, Félix. O Que é a Filosofia? Tradução: Bento Prado Jr. &
Alberto Alonso Muñoz. – 2. ed. – São Paulo: Editora 34, 1997.
LAZZARATO, Maurizio. Signos, Máquinas, Subjetividades. Tradução: Paulo Domenech
Oneto. – São Paulo: N-1 edições, 2014.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC
INSTITUTO DE CULTURAE ARTE – ICA
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA

IMAGEM DOGMÁTICA DO PENSAMENTO E EMPIRISMO


TRANSCENDENTAL A PARTIR DA FILOSOFIA DE DELEUZE.

Trabalho apresentado à disciplina Tópicos em Filosofia Antiga I

ALUNO: Eduardo Francelino de Carvalho

PROFESSOR ORIENTADOR: Emanuel Ricardo Germano Nunes

MATRICULA: 409413

PROFESSOR DA DISCPLINA: José Gabriel Trindade Santos

Fortaleza
2018

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