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CENTRO TECNOLÓGICO
Florianópolis
2018
Eduardo Leismann Fronza
Centro Tecnológico
Florianópolis
2018
Fronza, Eduardo Leismann
Estudo experimental de um termossifão operando com sódio em diferentes razões
de enchimento/ Eduardo Leismann Fronza; orientador, Luis Hernán Rodríguez Cisterna;
coorientadora, Marcia Barbosa Henriques Mantelli, 2018-
73p.
Inclui referências.
Este Trabalho de Curso foi julgado adequado para a obtenção do título de Engenheiro
Mecânico e aprovado em sua forma final pela Comissão examinadora e pelo Curso de
Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina.
Prof. Carlos Enrique Niño Bohorquez, Dr. Prof. Saulo Güths, Dr. Eng.
Eng. Professor da Disciplina
Coordenador do Curso
Luis Hernán Rodríguez Cisterna, M.Eng. Profª. Marcia Barbosa Henriques Mantelli,
Orientador Dra. Eng.
Coorientadora
Comissão Examinadora:
Luis Hernán Rodríguez Cisterna, M.Eng. Prof. Saulo Güths, Dr. Eng.
Orientador Professor da Disciplina
Prof. Fernando Henrique Milanese, Dr. Eng. Juan Pablo Florez Mera, Dr. Eng.
UFSC UFSC
Florianópolis
2018
Aos meus pais, Nelson e Maria.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Nelson e Maria, que tanto batalharam para dar a mim e meus irmãos
tudo o que precisamos, sobretudo o amor. Aos meus irmãos, Jordana e André, sempre prontos
para me ajudar em momentos difíceis. Não há um dia sequer em que não sinta falta de todos
vocês.
Aos meus amigos, Lucas, Luciano, Marcelo e Victor, companheiros nestes cinco anos
de universidade, amigos que se tornaram irmãos para uma vida.
A todos os meus amigos de Toledo, que sempre me recebem de braços abertos como
se nunca tivesse partido.
Em especial, agradeço à minha namorada Isabelle, que esteve ao meu lado em todos
os momentos da elaboração deste trabalho, e em tantos outros momentos foi um porto
seguro.
À Universidade Federal de Santa Catarina, pelas oportunidades e por tudo que aqui
vivi e aprendi.
Por fim, a todos que de alguma forma fizeram parte deste trabalho, agradeço.
“Não há forma nenhuma de se verificar qual das decisões é melhor porque não há comparação
possível. Tudo se vive imediatamente pela primeira vez, sem preparação. Como se um ator
entrasse em cena sem nunca ter ensaiado."
Termossifões bifásicos são dispositivos utilizados para a transferência de calor que funcionam
através de um ciclo fechado de evaporação e condensação de um fluido de trabalho. Em apli-
cações como concentradores solares, resfriamento de reatores nucleares e armazenamento
de calor latente, onde a temperatura de operação está na faixa de 600 a 1200°C, o sódio se
apresenta como um fluido de trabalho ideal. Atualmente o LABTUCAL está desenvolvendo
um receptor solar híbrido para concentradores solares de torre. Este receptor é assistido
pela tecnologia de termossifões que operam com sódio como fluido de trabalho, sendo
fundamental compreender os fenômenos operacionais deste tipo de dispositivo para obter o
melhor desempenho e uma operação segura. Um fator de grande influencia na operação e
desempenho dos termossifões é a razão de enchimento, definida como a razão do evaporador
ocupada pelo fluido de trabalho. O presente trabalho de conclusão de curso teve como
objetivo analisar experimentalmente a influência da razão de enchimento em termossifões
bifásicos operando com sódio como fluido de trabalho. Quatro termossifões com razões de
enchimento diferentes, sendo elas: 0.28,0.61,0.85 e 1.27, foram testados. Os termossifões
foram carregados com sódio em estado líquido e então evacuados e fechados para posterior-
mente serem testados. Os resultados obtidos mostraram que os termossifões com razão de
enchimento 0.61 e 1.27 apresentam o melhor e pior desempenho, respectivamente. Todos
os termossifões apresentaram o fenômeno do geyser boiling, sendo este mais proeminente
com o aumento da razão de enchimento, e quase não existente para o termossifão com
razão de enchimento de 0.28. Para o termossifão com a menor quantidade de fluido de
trabalho, destacou-se a presença de regiões de secagem e o superaquecimento da região do
evaporador.
Two-phase closed thermosyphons are devices used for heat transfer that work through a closed
cycle of evaporation and condensation of a working fluid. In applications such as concentrated
solar power, nuclear reactor cooling and latent heat storage, where the operating temperature
is in the range of 600 to 1200 ° C, sodium presents itself as an ideal working fluid. LABTUCAL
is currently developing a hybrid solar receiver for tower solar concentrators. This receiver is
assisted by the sodium thermosyphon tecnology, being essential to understand about the
operational phenomena of this type of device to obtain the best performance and a safe
operation.A factor of great influence in the operation and performance of the thermosiphon
is the fill ratio, defined as the ratio of the evaporator occupied by the working fluid. The
present undergraduate thesis had the objective of experimentally analyze the influence of the
fill ratio on two-phase closed sodium thermosyphons. Four thermosiphons with different fill
ratios, being them: 0,28;0,61;0,85 and 1,27, were tested. The thermosyphons were loaded
liquid sodium and then evacuated and closed for further testing. The results showed that
the thermosyphosn with fill ratio of 0.61 had the best performance, while the one with
the fill ratio of 1.27 had the worst. All the thermosiphons presented the phenomenon of
textit geyser boiling, being this more relevant with the increase of the fill ratio, and almost
nonexistent for the thermosyphon with a fill ratio of 0,28. For the thermosyphon with the
lowest amount of working fluid, the presence of dry patches and the overheating of the
evaporator region were highlighted.
GB Geyser boiling
RE Razão de Enchimento
Alfabeto latino:
k Condutividade térmica do ar
lc Comprimento do condensador
Nu Número de Nusselt
Pr Número de Prandtl
q Calor rejeitado
Ra Número de Rayleigh
RE Razão de enchimento
T0 Temperatura ambiente
Tf Temperatura de filme
V Volume do evaporador
Alfabeto grego:
σ Constante de Stefan-Boltzman
υ Volume específico
Sub-índices
cn Convecção natural
e Evaporador do termossifão
eq Equivalente
f Fluido de trabalho
l am Laminar
r Por radiação
s Sódio
T Na temperatura analisada
tur Turbulento
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO E MOTIVAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.1 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.1.1 Objetivos específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.2 Estrutura do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.1 Breve histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2 Funcionamento do termossifão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.3 Aplicações de tubos de calor e termossifões . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.4 Características construtivas e operacionais de termossifões de sódio . 33
2.4.1 Carregamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.4.2 Razão de enchimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.4.3 Início de operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4.4 Geyser Boiling . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4.5 Limites de operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.4.5.1 Limite de Secagem (Dryout) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.4.5.2 Limite de Ebulição (Boiling) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.4.5.3 Limite de Arrasto e Inundação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
6 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
23
1 INTRODUÇÃO E MOTIVAÇÃO
O aumento constante dos preços e tarifas cobrados sobre a energia elétrica no Brasil
têm gerado crescente interesse em fontes alternativas de geração de energia, mais baratas e
com menor impacto ambiental. De acordo com dados da ANEEL, apenas 0,84% da energia
gerada no país provém de aplicações solares . Já para os empreendimentos em construção,
o cenário é um pouco diferente: 8,4% do total da potência que deve ser gerada por estes
empreendimentos advém de centrais geradoras foto-voltaicas (ANEEL, 2018).
Termossifões são dispositivos que transportam calor por meio do ciclo bifásico de
um fluido de trabalho. Consistem basicamente de um tubo metálico evacuado parcialmente
24 Capítulo 1. Introdução e motivação
preenchido por tal fluido, selado em suas extremidades. Termossifões apresentam condutivi-
dade térmica bastante elevada, de algumas ordens de grandeza acima de metais condutores
como cobre e alumínio (MANTELLI, 2012).
1.1 OBJETIVOS
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Termossifões bifásicos são tubos de calor assistidos pela gravidade, sem a presença
do efeito capilar. Deste modo, o condensador deve estar posicionado acima do evaporador
para que o fluido condensado possa retornar ao evaporador (FAGHRI, 1995).
15g de sódio em estado sólido, evacuado e selado. Outro tubo semelhante foi construído
com comprimento de 900mm (GROVER; COTTER; ERICKSON, 1964). A Figura 2, retirada
do trabalho de Grover, mostra os perfis de temperatura ao longo do tubo. Grover especula
que a região de rápido decremento de temperaturas para os variados níveis de potência
provavelmente se deve à presença de hidrogênio, um gás não-condensável que se comporta
como uma barreira para a troca térmica no tubo de calor. O hidrogênio seria proveniente do
hidreto de sódio presente no fluido de trabalho, liberado na reação N aH → N a + 12 H2 .
sódio na faixa de 450 a 650°C. O invólucro é um tubo de aço inox 304 com diâmetro interno
de 10mm (KOTANI; TANIHIRO; SUMIDA, 1974).
Ranken e Lundberg descrevem o custo dos materiais do invólucro dos tubos de calor
de alta temperatura utilizados na época (nióbio, tântalo, molibdênio, tungstênio) como
um fator que desencorajava a pesquisa em aplicações terrestres. Em seu artigo, tratam da
utilização de materiais cerâmicos como uma alternativa, citando a recuperação de calor em
indústrias como uma possível aplicação. (RANKEN; LUNDBERG, 1978)
Yamamoto et al. citam em 1982 o crescente interesse em tubos de calor para trocadores
de calor no Japão, bem como a falta de informações a respeito de aplicações em alta
temperatura. O artigo publicado por eles trata-se de um teste de vida útil para tubos de calor
com sódio como fluido e Aço Inoxidável 316L como material do invólucro. (YAMAMOTO et
al., 1982)
O fluido de trabalho, ao receber calor transferido por uma fonte externa que através
da parede do invólucro na região inferior do termossifão, evapora. A pressão de vapor
gerada transporta o fluido através da seção adiabática até o condensador. Ao atingir a região
do condensador, o fluido é resfriado pelo invólucro do termossifão, sendo condensado e
retornando sob efeito da gravidade para a região do evaporador. A região adiabática pode ou
não estar presente no termossifão, sendo normalmente uma região cercada por um isolante
para minimizar a troca térmica com o meio. Imura et al. citam como uma das vantagens do
30 Capítulo 2. Revisão bibliográfica
Resfriamento
Vapor
Condensador
Isolamento
Seção
Adiabática
Aquecimento
Evaporador
Líquido
Condensado
termossifão o fato de que os fluxos de calor críticos associados a uma determinada potência
inserida são de 1.2 a 1.5 vezes maiores que o de tubos de calor (IMURA et al., 1983). Além
disso, a manufatura de termossifões é muito mais simples que a de tubos de calor, o que
torna estes dispositivos de especial interesse em aplicações industriais, tendo em vista a
redução de custos e tempo de preparação.
• Pressões de vapor não muito elevadas e nem muito baixas para o nível de temperaturas
de operação do termossifão (Como regra geral, entre 0,1 e 20 atm (FAGHRI, 1995)).
• Riscos à saúde.
2.2. Funcionamento do termossifão 31
Para termossifões de alta temperatura, os metais líquidos são utilizados como fluido
de trabalho. A temperatura de operação deve estar localizada entre o ponto de fusão e o
ponto crítico do metal. Entre os metais líquidos mais utilizados estão Sódio, Mercúrio, Lítio
e Césio.
Diversas aplicações têm sido apresentadas na literatura para este tipo de dispositivos,
como por exemplo:
• Na área aeroespacial, os tubos de calor oferecem a vantagem de serem mais leves que
condutores sólidos, não exigirem manutenção e serem um dispositivo confiável. Tubos
de calor são utilizados para equalizar a temperatura em espaçonaves, tendo em vista
que um de seus lados estará sujeito à radiação solar e o outro ao espaço. Isto causaria
um gradiente indesejado de temperaturas (FAGHRI, 1995).
• Utilizados em trocadores de calor, tendo em vista sua alta capacidade de transporte tér-
mico. Podem servir como recuperadores de calor que não requerem energia, produzem
pouca queda de pressão e são facilmente instalados em linhas pré-existentes.
• Na área de construção civil, tubos de calor podem ser utilizados em estradas em que a
formação de neve no inverno seja comum. Os tubos são enterrados até atingir uma
camada de terra que apresente uma temperatura mais elevada que aquela da superfície.
Deste modo, as estradas são aquecidas e a formação de neve é evitada (MANTELLI,
2012).
• Utilização em sistemas de geração de energia por fissão nuclear. Tubos de calor uti-
lizando sódio foram propostos como uma solução para a retirada de calor de um
Reator Compacto de Alta Temperatura. A transferência de calor passiva dos tubos de
2.4. Características construtivas e operacionais de termossifões de sódio 33
2.4.1 Carregamento
Yan et. al descrevem um procedimento que utiliza uma câmara de atmosfera contro-
lada para carregamento do sódio, utilizando resistências para fundir o sódio em um tanque. O
tanque é pressurizado com argônio, de modo a empurrar o sódio para dentro do termossifão
evacuado (YAN et al., 2011).
Uhlmann em seu trabalho propôs uma diminuição dos custos de fabricação dos
termossifões de sódio a partir de sódio sólido manipulado em uma câmara de atmosfera inerte.
Apresenta também um fluxograma de cada etapa do carregamento, todo o procedimento
feito com o tubo bem como as pré-preparações da tubulação e do sódio para o carregamento
na câmera em si. Essas etapas consistem na construção e limpeza dos tubos, limpeza das
camadas contaminadas do sódio, tanto de querosene (onde o sódio fica armazenado) quanto
de hidróxido de sódio, entre outros cuidados tomados na preparação. Uhlmann também traz
especificações quanto ao procedimento posterior à colocação do sódio sólido no tubo, como
o vácuo, o esmagamento, o corte a soldagem para fechamento do tubo(UHLMANN et al.,
2016).
ambiente, ou seja
RE = Vf /Ve . (2.1)
No caso do sódio como fluido de trabalho, não são encontradas muitas informações
na literatura a respeito da RE. Faghri realizou experimentos com termossifões de sódio e
quantidades diferentes de fluido de trabalho. Ele afirma que, apesar de haver uma variação
no perfil de temperaturas desenvolvido, esta se deve à formação de uma camada de óxido
na superfície externa do invólucro, o que causa uma alteração de emissividade. Este fator foi
anulado neste trabalho, como será explicado mais a frente (FAGHRI; BUCHKO; CAO, 1991).
Durante o início de operação a partir do estado sólido, vapor gerado pela região
do evaporador pode ser solidificado na região adiabática ou de condensação. Este fato
pode causar secagem no evaporador (MANTELLI, 2012). O caminho molecular livre na
região do evaporador se torna pequeno comparado ao diâmetro da passagem, e o regime
de escoamento contínuo é estabelecido. Enquanto isto, na parte fria (condensador e seção
adiabática) o vapor ainda se encontra em regime molecular livre (free molecular flow). O
processo de startup de tubos de metal líquido pode ser dividido em algumas etapas, listadas
a seguir (JANG et al., 1990):
De acordo com Jafari et al., não existem em geral restrições no desempenho térmica
de termossifões causadas pelo geyser boiling. Entretanto, este fenômeno deve ser evitado
para que não sejam causados danos estruturais ao dispositivo, tendo em vista que as vibra-
ções causadas pela movimentação da bolha podem danificar pontos de solda, promovendo
vazamentos (JAFARI et al., 2016). Isto é extremamente importante em aplicações industriais,
tendo em vista que a vibração também pode danificar o equipamento do qual o termossifão
faz parte.
O geyser boiling pode ser afetado por diversos fatores, tais como: troca térmica no
condensador, propriedades do fluido de trabalho, dimensões do dispositivo, fluxo de calor
no evaporador e razão de enchimento (TECCHIO et al., 2017).
No caso do sódio, alguns aspectos relacionados a metais líquidos podem ser desta-
cados. A ebulição em piscina de metais líquidos é significativamente diferente daquela em
fluidos não metálicos. Em função da alta condutividade do líquido, calor pode ser transpor-
tado para a interface líquido-vapor rapidamente pela bolha em crescimento, resultando em
um crescimento rápido de bolhas.
Apesar do crescimento ser mais rápido, o período entre bolhas em metais líquidos é
consideravelmente mais longo. Quando uma bolha parte e o metal frio entra em contato
com a parede, localmente a temperatura da superfície diminui mais que para um fluido não
metálico nas mesmas circunstâncias. Esta queda localizada na temperatura de superfície
aumenta o período de espera, resultando em frequências muito menores de bolhas.
Além disso, os ângulos de contato baixos entre metais líquidos e superfícies metálicas
podem resultar em grandes cavidades sendo completamente molhadas e se tornando inativas
como sítios de nucleação. Como resultado, um alto superaquecimento passa a ser necessário
38 Capítulo 2. Revisão bibliográfica
para iniciar a ebulição em pequenas cavidades. Após a formação de bolhas iniciar, o influxo
de líquido frio quando a bolha se desprende pode diminuir a temperatura a tal ponto em
que o processo de ebulição não mais se sustente. Um longo período de espera deve passar
antes que a parede e o fluido adjacente passem a novamente iniciar a ebulição. Quando há
alto superaquecimento, as bolhas crescem quase que explosivamente, gerando uma onda de
choque no líquido que promove um som audível (CAREY, 1992).
O limite de afogamento é o mais comum em termossifões longos com alta RE. Quando
este limite é atingido, ocorre secagem na região do evaporador, prejudicando o desempenho
2.4. Características construtivas e operacionais de termossifões de sódio 39
3.1 MATERIAL
Seção
Condensador Adiabática Evaporador
(200mm) (50mm) (100mm)
Inicialmente, utiliza-se uma ponteira com formato retangular para a prensa. A ferramenta
é posicionada a 50mm da extremidade inferior e o esmagamento é feito utilizando uma
pressão de 10 toneladas. Posteriormente é realizado o esmagamento da região abaixo do
primeiro, com a ferramenta cilíndrica. O selamento da extremidade inferior é realizado a
partir da soldagem da ponta esmagada. A solda utilizada foi do tipo TIG (Tungsten Inert Gas),
corrente contínua, sem pulso, com intensidade de base de 110A. A extremidade do tubo
esmagada e posteriormente soldada é mostrada nas Figuras 5a e 5b.
As tampas dos tubos consistem em chapas cilíndricas com 2mm de espessura. Nestas
tampas são soldados dois umbilicais: um para o carregamento do sódio líquido e outro para
a realização de vácuo após o carregamento e fechamento do umbilical de carregamento. Na
extremidade do umbilical de vácuo é colocada uma válvula de esfera para o controle de
fechamento. Ambos umbilicais possuem diâmetro interno de 4, 35mm.
Quando o nível fino é atingido, lança-se gás hélio na superfície externa do termossifão.
Se houver alguma fissura no dispositivo, a entrada de gás hélio irá causar um aumento na
taxa de vazamento indicada pelo detector. Se algum vazamento é encontrado, o processo de
soldagem é refeito, seguido de um novo teste de vazamento.
Recipiente
de fusão
M2
Controlador de M3
temperatura
V1
M1
V2
V3
Sensores
de pressão
Bomba
de
vácuo
Cilindro
Termossifão de gás
argônio
Forno
1
2
3
A 4
5 aaaaaaaa
6
8
B 9
10
11
C 12
Observa-se na Figura 7, que o sódio em estado sólido (4) é colocado numa grelha
de cobre (5) no interior do reservatório. O sódio é posicionado pela parte superior do
recipiente, que consiste em uma tampa de vidro (2) que pode ser montada e desmontado do
reservatório através de um sistema de flange e o’rings desenvolvido para manter o vácuo
durante o carregamento. Este sistema é acoplado à estrutura do reservatório através de
parafusos como se observa na Figura 8a.
3.3. Carregamento dos termossifões 45
b) Realizar vácuo no sistema até aproximadamente 10−1 mbar. O vácuo é realizado com
o sistema de bomba marca Edwards modelo nXDS15iC e um sensor de pressão de alto
vácuo marca Edwards modelo APG-MP SS NW25 conectado através de mangueiras de
silicone com os umbilicais (1) e (8).
c) Fechar mangueiras dos umbilicais (1) e (8) com pinças kocher e pressurizar o sistema
com argônio até 1 bar. O argônio é introduzido ao sistema através do umbilical (3).
a) Fechar a válvula de esfera (7), bem como as mangueiras de silicone dos umbilicais (1)
e (3) e o suprimento de argônio (8).
e) Realizar vácuo no Tubo Y e no termossifão até 10−1 mbar, através do umbilical (8).
f) Fechar a mangueira de silicone do umbilical (8) e abrir válvula de esfera (7), fazendo
escoar o sódio desde o reservatório até o termossifão (12), vistos na Figura 25.
g) Pressurizar todo o sistema com 1,1 bar de argônio para forçar a descida do sódio.
46 Capítulo 3. Fabricação e carregamento dos termossifões
(a)
(b) (c)
h) Fechar com pinças kocher a mangueira de silicone (10) que conecta o Tubo Y (9) com
o termossifão (12) através do umbilical (11).
Após o fechamento dos termossifões, é realizada uma última etapa anterior aos testes
experimentais. A Figura 10 apresenta um diagrama esquemático do aparato utilizado para
realização de vácuo e purga de GNC no termossifão.
a) Conectar o termossifão através do umbilical (8) da Figura 10b com a bomba difusora
de alto vácuo.
48 Capítulo 3. Fabricação e carregamento dos termossifões
5
2 4 8
3 7
6
b) Abrir a válvula (7) e realizar o vácuo no reservatório de GNC (6) com bomba difusora
de alto vácuo até 10−6 mbar. Esta pressão é registrada pelo próprio sensor da bomba e
pelo sensor de pressão (5) montado no termossifão.
c) Ainda com a bomba de vácuo operando abrir a válvula (4) para realizar o processo de
vácuo em todo o termossifão até 10−6 mbar.
A limpeza é realizada de maneira simples, porém deve ser meticulosa para não
comprometer os carregamentos posteriores. Inicialmente os resíduos grandes de sódio são
retirados com uma pinça e colocados em um recipiente com acetona, líquido que não reage
quimicamente com o sódio. Os componentes então são lavados com água, utilizando-se
equipamentos de proteção (jalecos, luvas e máscaras). Nesta etapa podem ocorrer pequenas
3.3. Carregamento dos termossifões 49
“explosões” nos resíduos. Depois disto, os componentes do carregador passam por um banho
de acetona seguido de outro com álcool absoluto. Todo o carregador é então secado e
inspecionado, podendo ser montado e preparado para um novo carregamento.
51
A bancada pode ser dividida em três partes principais: forno de indução, sistema
de aquisição de dados e suportes para ensaios. O forno utilizado é da marca Eurothermo,
modelo EURO-25kW, e fornece correntes na faixa de 250 a 1150A. Uma das limitações do
forno se encontra no resfriamento do indutor, promovido por meio de circulação de água
em temperatura inicialmente ambiente. Quando a temperatura atinge 60°C o forno desliga
automaticamente. Em alguns dos experimentos realizados isto foi um problema, sendo
necessário parar o teste e continuar depois do arrefecimento da água. O indutor utilizado é
de cobre, com 100mm de comprimento e diâmetro de aproximadamente 3 polegadas.Na
Figura 11 é possível observar o forno de indução e o termossifão C02 sendo testado sob o
seu suporte.
T1 - 10mm
T2 - 30mm
T3 - 50mm
T4 - 70mm
T5 - 90mm Termossifão
T6 - 125mm
T7 - 125mm
T8 - 155mm
T9 - 195mm
T10 - 235mm
T11 - 275mm
T12 - 305mm
T13 - 345mm Flange
Isolamento
• Aguardar até que o regime permanente seja atingido, registrar os valores das tempera-
turas e então aumentar a corrente do forno em 100A.
• Repetir o procedimento anterior até que a corrente máxima do forno seja atingida
(1050A) ou que o termossifão atinja 1200°C em algum dos termopares (temperatura
adotada como limite de segurança).
• Fazer a coleta dos dados pelo datalogger e salvar os dados e a planilha com informações
do experimento.
υ T ms
RE T = , (4.1)
Ve
0.85
0.75
Emissividade 0.7
0.65
0.6
0.55
500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500
Temperatura [K]
A partir das conclusões obtidas do estudo da emissividade do tubo, uma nova etapa
foi acrescentada ao teste dos termossifões. Antes de qualquer teste com intuito de obter
perfis de temperatura, uma queima é realizada, levando o tubo a temperaturas acima de
600°C por um período de aproximadamente 1 hora. O aço inox AISI 316L, quando exposto
a temperaturas superiores a 540°C, apresenta migração de carbono para a superfície mais
externa do tubo, formando uma camada escura e homogênea ao longo da superfície (SHI
et al., 2015). Com a realização da queima, todos os testes são realizados com a mesma
emissividade para o tubo por completo.
Para cada um dos quatro termossifões foram realizados dois testes. Para evitar a
contaminação do tubo por GNC’s, já que é possível que hajam vazamentos microscópicos no
invólucro, os testes foram realizados sempre logo que o dispositivo era carregado.
Para que a potência térmica fornecida pelo indutor fosse calculada, seria necessário
controlar rigorosamente a geometria do indutor e seu posicionamento em relação à região
do evaporador do termossifão. Como estes dois fatores não são cumpridos neste trabalho, é
necessário encontrar outra forma de calcular a taxa de transferência de calor do termossifão.
i=1
X
qt = qc_i , (4.2)
n
Tc_n
Tc_n-1
Tc_i
Tc_i
Dy heq
T0
Tc_3
Tc_2
Tc_1
h̄cn l c ξ
= N ulc = N ulc,cn , (4.5)
k ln(1 + ξ)
1, 8 l c
ξ= , (4.6)
N ulc,cn d t
2, 0
N ulc,lam = , (4.8)
ln 1 + C 2,0
Ra
0,25
lam lc
58 Capítulo 4. Bancada experimental e metodologia
0, 671
Cl am = 4/9 , (4.9)
0,492 9/16
1+ Pr
1/3
C tur Ralc
N ul c,tur = , (4.10)
(1 + 0, 61P r 0,81 )0,42
0, 13P r 0,22
C tur = , (4.11)
(1 + 0, 61P r 0,81 )0,43
gl c3 β( T̄c − To )
Ral c = . (4.12)
να
Todas a propriedades termodinâmicas do fluido foram calculadas utilizando o conceito
de temperatura de filme (T f = ( T̄c + T0 )/2). A temperatura média do condensador é dada
pela média das temperaturas dos volumes de controle.
h r_i = "σ Tc_i
2
+ T02 Tc_i + T0 , (4.13)
Com o objetivo de comparar qual dos fatores de enchimento permite uma operação
mais segura e com melhor desempenho, define-se início de operação como um aumento
súbito da taxa de transferência de calor do termossifão, isto é, quando o termossifão deixa
de se comportar como um tubo oco e comporta-se como um super condutor de calor. Assim,
neste trabalho se considera a temperatura de início de operação à temperatura de vapor
medida na seção adiabática quando o primeiro termopar do condensador (T8 ) atinge a
temperatura do regime contínuo, que para os termossifões testados é de 692K. A Tabela 2
apresenta as temperaturas do vapor de sódio, medidas na seção adiabática do termossifão,
no início de operação.
5.2 DESEMPENHO
A partir dos dados, foram obtidas as temperaturas de regime permanente para cada
uma das correntes utilizadas, e o desempenho dos termossifões foi calculado a partir da
metodologia exposta na Seção 4.5. Na Figura 16, os resultados obtidos são mostrados para
os 4 termossifões e para o tubo oco. Para as potências em que houve geyser boiling no
termossifão, dois pontos são representados, sendo eles o início da formação da bolha e o
instante logo após o seu estouro . A linha cheia nos gráficos apresenta a média entre estes
1200
C01
C01e
C02
C02e
1000
C03
C03e
C04
C04e
800 HT
Calor Transferido [W]
600
400
200
0
800 850 900 950 1000 1050 1100 1150
Temperatura [K]
dois pontos, para fins de comparação. Para cada ponto do gráfico, a incerteza é representada
por meio das barras associadas.
Para facilitar a escolha entre os termossifões C01 e C03 (visando aplicações industri-
ais), os gráficos do transiente de temperaturas, representados pelas Figuras 18 a 21 devem
ser analisados. Para cada um dos termossifões, escolheu-se o teste em que os fenômenos
envolvidos ficassem mais facilmente observáveis (tais como geyser boiling e secagem). Nas
figuras apresentadas, as linhas de 544 e 692K representam, para o dispositivo utilizado e
para o fluido de trabalho as temperaturas de regime molecular e de temperatura do contínuo,
respectivamente.
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
T8 T9 T10 T11 T12 T13
1400
1200
Temperatura [K]
1000
800
692
600
544
400
É possível observar, nos tubos C02, C03 e C04 a presença de intensas oscilações na
temperatura a partir da corrente de 650A. Estas oscilações ocorrem devido ao fenômeno do
geyser boiling. Nos três casos citados, o aumento da corrente, e por consequência da potência
fornecida ao dispositivo, causa uma diminuição na amplitude do GB, acompanhada de um
aumento da frequência. Na Figura 22, uma sequência quadro a quadro do GB o tubo C04 é
mostrada, para uma corrente de 650A, sendo o intervalo entre cada quadro de 1s. É possível
visualizar o aumento repentino na temperatura de parte do condensador, devido ao GB,
evidenciado pelos periódicos sons do impacto do líquido no topo do termossifão.
1100
1000
900
Temperatura [K]
800
700
692
600
544
500
400
300
1200
1100
1000
900
Temperatura [K]
800
700 692
600
544
500
400
300
uma sequência de fotos. Esta transição ocorreu quando a corrente no indutor foi aumentada
de 850 para 950A. É possível observar a temperatura do condensador aumentando, enquanto
a do evaporador diminui. As Figuras 24a e 24b mostram o condensador e evaporador do
termossifão em três momentos distintos: antes, durante e depois da transição. É possível
perceber uma grande uniformização de temperaturas após a transição, momento em que o
termossifão já se comporta da maneira convencional.
1200
1100
1000
Temperatura [K]
900
800
700 692
600
544
500
400
300
Fica claro que, na hora de escolher qual termossifão utilizar entre o C01 e o C03
para uma determinada aplicação, é necessário analisar a taxa de calor que será transferida.
Para baixas temperaturas de vapor, o termossifão C01 é recomendável, por operar em uma
faixa inferior de temperaturas e sem a presença de GB. Já para potências acima de 1kW, o
termossifão C03 é uma boa opção, por não apresentar superaquecimento e pelo GB não estar
mais presente.
(a)
(b) (c)
no experimento são mostrados nas Figuras 26 a 30. Nas figuras, as linhas pontilhadas com
legendas “a” e “b” indicam pontos de início de formação de bolhas e após o estouro, enquanto
as linhas tracejadas indicam a média da temperatura em correntes onde o GB é dominante.
É possível observar, para o tubo C01, uma boa uniformidade nas temperaturas do
condensador para altas potências, com um superaquecimento no evaporador, em especial nos
dois primeiros termopares. Para os demais tubos, o comportamento é semelhante, com uma
melhora na uniformidade das temperaturas conforme a potência fornecida ao termossifão é
aumentada.
No tubo C04, como citado acima e mostrado na Figura 29, verifica-se a uniformização
das temperaturas acima de 950A. Pode-se comparar os perfis de temperatura nos termossifões
com o perfil apresentado para o tubo oco na Figura 30. Antes do início da operação de cada
termossifão, o perfil é semelhante àquele do tubo oco.
66 Capítulo 5. Análise dos resultados
1400
1200
Temperatura [K]
1000
800
600
400
200
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35
Distância da base [mm]
250A 350A 450A 550A 650Aa 650Ab 750Aa 750Ab 850Aa 850Ab 950A 1050A 650Am 750Am 850Am
1600
1400
1200
Temperatura [K]
1000
800
600
400
200
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35
Distância da base [mm]
250A 350A 450A 550A 650Aa 650Ab 750Aa 750Ab 850Aa 850Ab 950A 1050A 650Am 750Am 850Am
1600
1400
1200
Temperatura [K]
1000
800
600
400
200
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35
Distância da base [mm]
250A 350A 450A 550A 650Aa 650Ab 750Aa 750Ab 850Aa 850Ab 950A 1050A 650Am 750Am 850Am
1600
1400
1200
Temperatura [K]
1000
800
600
400
200
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35
Distância da base [mm]
1400
1200
Temperatura [K]
1000
800
600
400
200
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35
Distância da base [mm]
6 CONCLUSÕES
O principal objetivo deste trabalho era analisar como a razão de enchimento influencia
o desempenho e os fenômenos operacionais em termossifões bifásicos com sódio como fluido
de trabalho. A partir dos resultados obtidos, conclui-se que:
• O geyser boiling se torna mais intenso para razões de enchimento maiores e em potências
baixas. Com o aumento da potência transferida a intensidade diminui e a frequência
aumenta, até o momento em que o fenômeno não é mais observado e o termossifão se
comporta da maneira convencional.
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<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1359431103000371>. Citado na
página 33.