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que estava a gerir, disse abertamente que uma das bases para o seu sucesso
estarem inseguros é muito “saudável” para a sociedade, pois, nessa situação, eles
não vão perguntar pelos salários, não vão entrar em greve ou exigir benefícios; vão
Na altura, o comentário de Greenspan foi encarado por todos como muito razoável,
a julgar pela ausência de reacção e pelo grande aplauso de que desfrutou. Bem,
pessoas penduradas por um membro que pode ser serrado a qualquer momento, de
modo a que fiquem caladas, recebam salários mínimos e façam o seu trabalho. E
miseráveis por mais um ano, devem aceitar sem pedir mais. É assim que se mantém
é exactamente o que está a ser imposto. E cada vez mais nos vamos confrontar
com isto.
Este é um aspecto, mas há outros aspectos que são também bastante familiares na
administrativa que o faça. Então, na indústria dos Estados Unidos, ainda mais do
administradores aumentou.
chamado “The Fall of the Faculty: The Rise of the All-Administrative University
muito bem pagos. Isto inclui administradores profissionais como reitores, por
exemplo, que antes costumavam ser membros do corpo docente, que tiravam
alguns anos para servir num papel administrativo e voltavam de novo para o corpo
docente; agora, são sobretudo profissionais, que depois têm de contratar sub-
reitores, secretários, e assim por diante, toda uma proliferação de estrutura que
Mas o uso de mão-de-obra barata e vulnerável é uma prática de negócio tão antiga
Os custos, claro, são suportados pelos estudantes e pelas pessoas que estão a ser
encontramos um erro na nossa conta corrente e ligamos para o banco para tentar
a dizer: “We love you, here is the menu”. Talvez o menu tenha aquilo que procura,
música e, de vez em quando, uma voz que interfere e diz “Por favor, espere,
appreciate your business], e assim por diante. Finalmente, depois de algum tempo,
poderemos ter direito à atenção de um ser humano, a quem poderemos colocar uma
claro que ele impõe custos a nós e esses custos são multiplicados pelo número de
usuários, que pode ser enorme – mas isto não é contabilizado como custo nos
apenas inseguros, como também são mantidos num trajecto que garante que não
voltarmos ao início dos anos 70, quanto tudo isto começou, havia muita
dos anos 60 – esta é normalmente referida como “a época dos distúrbios” [the time
Carter foi quase inteiramente concebida a partir dos seus pressupostos. Estavam
o excesso de democracia.
Nos anos 60, havia pressões da parte da população, desses “interesses especiais,”
para tentar conquistar direitos dentro da arena política e isto colocava demasiada
pressão sobre o estado. Não se pode fazer isso. Havia um “interesse especial” que
estado, então nós não falamos dele. Mas os “interesses especiais” estavam a causar
problemas e por isso eles diziam: “temos de ter mais moderação na democracia,”
cartão de crédito. É uma armadilha para o resto da vida porque as leis são
contrai uma dívida excessiva, ainda pode declarar bancarrota, mas os indivíduos
quase nunca se podem livrar da dívida estudantil por meio da bancarrota. Eles
disciplina.
Não estou a dizer que tenha sido conscientemente introduzida com este propósito,
mas tem certamente este efeito. E é difícil argumentar que exista alguma base
económica para isto. Basta olhar para o resto do mundo: o ensino superior é
Finlândia, que está sempre no topo, a educação superior é gratuita. E num país
ensino superior era praticamente gratuito. A G.I. Bill deu educação gratuita a um
Foi muito bom para elas e foi muito bom para a economia e para a sociedade; foi
parte das razões que levaram à alta taxa de crescimento económico. Mesmo nas
Olhe para mim: fui para a universidade em 1945 numa universidade da Ivy League,
a cerca de $800, nos dólares actuais. E era muito fácil obter uma bolsa, então podia-
disciplina.
mal podem sobreviver com um salário de professor auxiliar. E quando não se tem
um emprego seguro, não podemos construir uma carreira, não nos podemos mover
E isto é muito semelhante àquilo que se poderia esperar numa fábrica, onde se
disciplina os trabalhadores, para que sejam obedientes; não é suposto que eles
Antes de mais, devíamos pôr de lado qualquer ideia de que houve, a certa altura,
funcionários a participar.
Estes esforços eram levados adiante pela iniciativa estudantil, com algum grau de
sucesso. Muitas universidades têm agora algum grau de participação estudantil nas
decisões de ensino. E penso que é em direcção a este tipo de coisas que nos
devíamos mover: uma instituição democrática, na qual as pessoas envolvidas,
se às fábricas.
Estas ideias não são radicais, devo dizer. Elas vêm directamente do liberalismo
clássico. Se lermos, por exemplo, John Stuart Mill, uma figura principal na
tradição liberal, ele tomava por garantido que os locais de trabalho deviam ser
vinte, que não defendia apenas a educação voltada para a independência criativa
nas escolas, como também o controlo dos trabalhadores na indústria, ao qual deu
razões para que a participação directa não possa ser, não só legítima, como útil.
estarem aptos para determinar numa medida substancial como se desenvolve o seu
trabalho: o que vão ensinar, qual vai ser o curriculum. Muitas das decisões sobre
acontece. E isto é sempre parte de uma estrutura de fundo que, embora sempre
administrativas, mas este pode ser revogado nalgum momento, sob autoridade das
pessoas que administra. Isto acontece cada vez menos. Há cada vez mais
administradores profissionais, camadas sobre camadas deles, com cada vez mais
candidatar todos os anos de modo a serem designados de novo. Estas coisas não
ser integrados na tomada de decisões, uma vez que também são parte da
universidade.
Então, há muito a fazer, mas penso que podemos facilmente compreender a razão
neoliberal sob a qual a maioria do mundo tem vivido durante quarenta anos. E vale
a pena reparar que duas partes do mundo, pelo menos, escaparam praticamente do
seu domínio, nomeadamente, a Ásia Oriental, onde nunca a aceitaram realmente,
uma coisa boa, como “maior insegurança laboral.” Pondo de lado a indústria, onde
trata de um grande problema. Uma das minhas filhas ensina numa universidade;
ela telefonou-me há umas noites e disse-me que a sua actividade lectiva estava a
ser transferida porque um dos cursos oferecidos não tinha inscrições suficientes.
ensina-se num curso diferente, numa secção extra, ou algo assim. As pessoas não
estudantes inscritos nos cursos. Há todo o tipo de meios para ajustar o regime a
essa variação.
E podemos continuar por aqui. Olhando para as notícias dos últimos dias,
considere-se, por exemplo, Jamie Dimon, o CEO do banco JP Morgan Chase: ele
como mostra de gratidão por ter salvo o banco de acusações criminais que teriam
enviado a administração para a cadeia; conseguiu escapar apenas com $20 biliões
em multas por actividades criminosas. Bem, posso imaginar que descartar alguém
assim poderia ser útil para a economia. Mas não é a isto que as pessoas se referem
quando falam de “reforma laboral.” São os trabalhadores que têm de sofrer e têm
de sofrer pela insegurança, por não saber de onde virá o pedaço de pão de amanhã
receptáculo cheio, digamos, com água. Tratava-se daquilo a que hoje chamamos
a água. Mas é um receptáculo muito permeável, como todos nós, que passamos
pela escola, experienciamos, já que memorizamos algo em que não temos qualquer
O modelo do receptáculo chama-se hoje “nenhuma criança fica para trás” [no
children left behind], “corrida para o topo” [race to the top], ou outro nome
este modelo.
estudante progride à sua maneira, segundo a sua própria iniciativa, talvez movendo
impor um certo grau de estrutura. Então, um programa de ensino, seja ele qual for,
um curso de física ou algo do género, não será simplesmente um “vale tudo”; tem
uma certa estrutura. Estes são modelos de ensino bastante distintos. O ideal
iluminista era o segundo, e eu penso que é esse que devemos procurar. É essa a
curiosas, querem saber coisas, entender as coisas e, a não ser que isto seja
Isto é tão verdadeiro para um físico investigador, como para um carpinteiro; tenta-
se criar algo de valor, lidando com um problema difícil e resolvendo-o. Penso que
razoavelmente, vê-se pessoas que trabalham o tempo todo, porque gostam do seu
trabalho; é isso que elas querem fazer; é-lhes dada a oportunidade, têm os recursos,
isto? É isto que elas gostam de fazer. E isto, de novo, pode ser feito em qualquer
fase do ensino.
Vale a pena pensar sobre alguns dos programas imaginativos e criativos, de ensino,
que estão a ser desenvolvidos a vários níveis. Por exemplo, alguém me descreveu,
de ciências onde se coloca aos estudantes uma questão interessante: “Como pode
com a força que uma gota de chuva atinge um mosquito, esmagá-lo-ia de imediato.
É assim que devia ser a educação em todas as fases, até ao jardim de infância,
criança é dada uma colecção de pequenos itens: pedras, conchas, sementes e coisas
as sementes. Nessa fase, cada criança recebe uma lupa e, com a ajuda do professor,
perfura a semente, observa o seu interior, e encontra o embrião que a faz crescer.
Estas crianças aprendem realmente, não apenas algo sobre as sementes e o que faz
com que as coisas cresçam; mas também sobre como descobrir. Aprendem o prazer
esperamos que eles nos digam quando estamos errados, ou que proponham novas
ideias, para desafiar, para seguir caminhos que ainda não tenham sido pensados. É
este o verdadeiro ensino a qualquer nível, e é isto que devia ser encorajado. Devia
ser este o propósito do ensino. Não é despejar informação na cabeça de alguém
que depois a esvazia, mas permitir que essa pessoa se torne criativa, independente,
que possa encontrar entusiasmo na descoberta, criação e criatividade, seja qual for
Vocês sabem melhor do que eu o que tem de ser feito, o tipo de problema que
enfrentam. Apenas sigam em frente e façam o que tem de ser feito. Não se sintam
intimidados, não se assustem e reconheçam que o futuro pode estar nas vossas
Noam Chomsky
Nota da edição
O que se segue é uma transcrição editada (preparada por Robin J. Sowards) de observações
feitas por Noam Chomsky, em 2014, numa reunião de membros e aliados da Adjunct Faculty
Association of the United Steelworkers em Pittsburgh, Pensilvânia. Tradução para português
por Paulo Ávila. O original em inglês pode ser lido em Jacobin, com o título “The Death of
American Universities”. No sentido de expor a dimensão universal do problema que
Chomsky trata e que não se limita ao caso americano optou-se pelo título “A Morte das
Universidades”.
Ficha Técnica
Data de publicação: 03.10.2018
Etiqueta: Pensamento \ Crítica