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OBJECTIVOS
Quando tiver terminado o estudo deste módulo, o estudante deveria ser capaz de:
Introdução
Necessidade de protecção
Definição
Fontes do direito
1. Internacional
A Convenção de Paris
Diplomática de Bruxelas para a revisão da Convenção de Paris que este reconhecimento pela
primeira vez se manifestou através da inserção do Artigo 10bis na Convenção. Como
resultado das conferências de revisão subsequentes, o Artigo tem agora o seguinte teor (no
Acto de Estocolmo (1967) da Convenção de Paris):
"1) Os países da União obrigam-se a assegurar aos nacionais dos países da União a protecção
efectiva contra a concorrência desleal.
2) Constitui acto de concorrência desleal qualquer acto de concorrência contrário aos usos
honestos em matéria industrial ou comercial.
– todos os actos susceptíveis de, por qualquer meio, criar confusão com o estabelecimento,
os produtos, ou as actividades industriais ou comerciais, de um concorrente;
10. Segundo o Artigo 10bis.1 da Convenção de Paris, os países da União de Paris são
obrigados a assegurar a protecção efectiva contra a concorrência desleal. Além disso, o Artigo
10ter.1 da Convenção prevê a obrigação de assegurar "recursos legais apropriados". Em
especial, devem ser tomadas medidas para permitir que federações ou associações que
representam industriais, produtores ou comerciantes interessados, instaurem acções, desde
que isso não seja contrário às leis do país em questão e não exceda os direitos normalmente
concedidos às associações nacionais.
11. O Artigo 10bis.2 da Convenção de Paris define a concorrência desleal como qualquer
acto de concorrência contrário aos usos honestos em matéria industrial ou comercial. Esta
definição deixa a determinação da noção de "honestidade comercial" a cargo dos tribunais
nacionais e das autoridades administrativas. Os Estados membros da União de Paris têm
também a liberdade de conceder protecção contra certos actos mesmo que as partes não sejam
concorrentes.
12. O Artigo 10bis.3 da Convenção de Paris dá três exemplos de casos que "em particular"
devem ser proibidos. Estes exemplos não devem ser considerados como exaustivos, mas antes
como o mínimo de protecção que deve ser concedido por todos os Estados membros. Os
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primeiros dois – criar confusão e desacreditar – podem ser considerados como pertencendo ao
domínio "tradicional" do direito da concorrência, a saber, o da protecção dos concorrentes. O
terceiro – induzir em erro – foi acrescentado pela Conferência de Revisão em Lisboa, e leva
em consideração os interesses tanto dos concorrentes como dos consumidores.
13. Além dos Artigos 10bis e 10ter, a Convenção de Paris contém diversas disposições
relacionadas com a protecção contra actos de concorrência desleal num sentido mais vasto,
especialmente as que dizem respeito às marcas e aos nomes comerciais. Estas disposições
foram explicadas no Módulo II.
O Acordo TRIPS
15. O Acordo TRIPS exige que as informações não divulgadas – segredos industriais ou
comerciais ou conhecimentos técnicos – beneficiem de protecção. Segundo o Artigo 39.2, a
protecção deve aplicar-se a informações que são secretas, que têm um valor comercial porque
são secretas, e em relação às quais foram tomadas medidas razoáveis para mantê-las secretas.
O Acordo não requer que as informações não divulgadas sejam tratadas como uma forma de
propriedade, mas requer certamente que uma pessoa que legitimamente controle tais
informações, tenha a possibilidade de impedir que as informações sejam divulgadas a,
adquiridas por, ou utilizadas por, outras pessoas sem o seu consentimento, de uma maneira
contrária às práticas comerciais honestas. Uma "maneira contrária às práticas comerciais
honestas" inclui a ruptura de contrato, o abuso de confiança e a instigação à infracção, assim
como a aquisição de informações não divulgadas por terceiras pessoas que sabiam, ou que não
sabiam por negligência grave, que a aquisição implicou tais práticas.
16. O Acordo TRIPS contém também disposições sobre dados de ensaios e outros dados
não divulgados cuja submissão é exigida pelos governos como condição para aprovar a
comercialização de produtos farmacêuticos ou de produtos químicos agrícolas que utilizam
novas entidades químicas. Numa tal situação, o governo membro interessado deve proteger os
dados contra a utilização comercial desleal. Além disso, os membros devem proteger os dados
contra a divulgação, excepto se isso for necessário para proteger o público, ou a não ser que
sejam tomadas medidas para assegurar que os dados são protegidos contra a utilização
comercial desleal.
17. O Artigo 40 do Acordo TRIPS reconhece que certas práticas ou condições relativas à
concessão de licenças de direitos de propriedade intelectual que restringem a concorrência
podem ter efeitos prejudiciais para o comércio e podem impedir a transferência e a divulgação
da tecnologia (parágrafo 1). Os países membros podem adoptar, de maneira compatível com
as outras disposições do Acordo TRIPS, medidas apropriadas para impedir ou controlar
práticas relativas à concessão de licenças de direitos de propriedade intelectual que sejam
abusivas e anti-concorrenciais (parágrafo 2).
18. O Acordo TRIPS prevê um mecanismo através do qual um país que procure agir contra
tais práticas envolvendo as empresas de outro país membro podem entrar em consultações
com esse outro membro e trocar informações não confidenciais disponíveis publicamente com
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importância para o assunto em causa e de outras informações de que dispõe esse membro,
sem prejuízo do direito nacional e da conclusão de acordos mutuamente satisfatórios sobre a
salvaguarda da sua confidencialidade pelo membro requerente (parágrafo 3).
Semelhantemente, um país cujas empresas são objecto de tais acções noutro país membro
podem entrar em consultações com esse membro (parágrafo 4).
1) Como pode ser definida a concorrência desleal? Existe uma norma universal a respeito
dos actos de concorrência desleal?
5) Por que razão é que se considera geralmente que os actos de concorrência desleal não
podem ser impedidos pelo jogo livre das forças do mercado?
6) Os princípios de ordem pública que facilitam a concorrência livre e leal têm às vezes um
conflito potencial com os direitos de propriedade intelectual. Existe realmente um conflito
entre a propriedade intelectual e os princípios anti-concorrência desleal e anti-cartel?
2. Legislações nacionais
19. Todos os países que estabeleceram sistemas de economia de mercado criaram um tipo
qualquer de protecção contra práticas comerciais desonestas. Ao fazê-lo, porém, escolheram
métodos muito diferentes. Embora noutras áreas do direito da propriedade industrial, tais
como as que tratam das patentes, dos desenhos ou modelos ou das marcas, concorda-se
geralmente que a melhor maneira de conceder a protecção é através de um estatuto específico
global, a base legal para a repressão da concorrência desleal pode variar entre uma disposição
sucinta sobre os actos ilícitos e um regulamento pormenorizado num estatuto especial. A
razão para esta diversidade é muitas vezes puramente histórica.
pela suposição que a violação de qualquer lei pode ser uma prática comercial desonesta
porque dá uma vantagem indevida na concorrência sobre o concorrente que respeita a lei.
21. Num grupo de países com tradição de direito civil, que seguem o método da protecção
do homem de negócios honesto, tal protecção encontra-se geralmente na lei geral sobre os
delitos civis. Noutro grupo de países que seguem tradições de direito consuetudinário, as
acções nos tribunais contra quem faz passar os seus produtos pelos produtos de outra marca e
por violação de segredos comerciais e industriais (pelo menos originalmente) continuam a ser
a base principal da protecção dos concorrentes. No que diz respeito à protecção dos
consumidores, um certo número de países dos referidos dois grupos, promulgaram leis
separadas que regem casos específicos de comportamento indesejável no mercado, tais como
a publicidade falaciosa, comparações de preços, lotarias, jogos e prémios; essas leis são
essencialmente independentes da protecção dos concorrentes no âmbito dos princípios do
direito civil ou do direito consuetudinário.
22. A maior parte dos países partes da Convenção de Paris – mesmo os que primeiro
tentaram regular a concorrência desleal através da lei geral sobre os delitos civis – prevêem
uma combinação de princípios de direito civil, jurisprudência e leis especiais. Em muitos
países com uma estrutura federal, a divisão da competência legislativa entre a legislatura
federal e as legislaturas dos Estados federados resultou numa combinação das diversas formas
de protecção ainda mais complexa.
23. Não obstante os diferentes métodos mencionados acima, todos os países que
introduziram protecções efectivas contra a concorrência desleal dedicam uma atenção
particular à aplicação da lei, e dão aos tribunais uma liberdade de acção considerável. O
sucesso de uma lei sobre a concorrência desleal depende em grande parte da sua aplicação
pelos tribunais. Um pequeno número de palavras numa disposição geral sobre os actos ilícitos
pode ser uma base suficiente sobre a qual desenvolver um sistema eficaz de protecção contra
a concorrência desleal, enquanto que um estatuto impressionantemente redigido pode dar
fracos resultados. Por isso, muitos países completaram as duas disposições explícitas contra
certas práticas comerciais com uma disposição geral que autoriza os tribunais a incluir novas
formas de prática comercial desonesta no sistema geral.
24. É verdade que a descrição da concorrência desleal como actos contrários às "práticas
comerciais honestas", à "boa fé" etc., não define claramente normas de comportamento
universalmente aceites, uma vez que o significado dos termos utilizados é bastante fluido. A
norma de "lealdade" ou "honestidade" na concorrência não é mais do que uma reflexão dos
conceitos sociológicos, económicos, morais e éticos de uma sociedade, e podem variar de um
país para outro (e às vezes mesmo dentro de um país). No entanto, é geralmente admitido que
pelo menos alguns actos e práticas são sempre irreconciliáveis com a noção de lealdade na
concorrência. Estes são discutidos adiante em pormenor.
25. O Artigo 10bis.3 contém uma lista não exaustiva de três tipos de actos de concorrência
desleal, a saber, actos susceptíveis de criar confusão, actos que desacreditam um concorrente,
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e actos que podem induzir o público em erro. Como os actos susceptíveis de criar confusão e
os actos que podem induzir o público em erro são parecidos e às vezes idênticos, são tratados
antes do acto de desacreditar um concorrente.
27. O Artigo 10bis.3.1 da Convenção de Paris obriga os Estados membros a proibir todos os
actos que sejam susceptíveis de, por qualquer meio, criar confusão com o estabelecimento, os
produtos ou as actividades industriais ou comerciais de um concorrente. O âmbito deste
Artigo é muito vasto, pois abrange qualquer acto no decorrer do comércio que envolva uma
marca, um sinal, um rótulo, um slogan, uma embalagem, a forma ou cor de produtos, ou
qualquer outra indicação distintiva utilizada por gente de negócios. Portanto, não só as
indicações utilizadas para distinguir os produtos, os serviços, ou as empresas, mas também a
aparência dos produtos e a apresentação dos serviços são consideradas pertinentes para a
proibição da confusão.
28. Induzir em erro pode aproximadamente ser definido como criar uma impressão errada
sobre os produtos ou serviços de um concorrente. Trata-se possivelmente da forma mais
prevalecente de concorrência desleal, e não é de maneira nenhuma inofensiva. Pelo contrário,
a indução em erro pode ter consequências muito sérias: o consumidor, fiando-se em
informações incorrectas, pode sofrer um prejuízo financeiro (ou pior). O concorrente honesto
perde clientes, A transparência do mercado diminui, com consequências negativas para a
economia em geral e para o bem-estar económico.
29. A maior parte dos países incluíram a proibição de actos ou práticas que induzem em
erro nos seus sistemas legais (ou até promulgaram leis específicas sobre o assunto). Além
disso, os tribunais desenvolveram uma jurisprudência especialmente abundante sobre a
indução em erro. Mesmo em países onde, no passado, a protecção contra a indução em erro
era mais fraca, os desenvolvimentos recentes indicam um movimento em direcção a um maior
rigor. Na busca de soluções legais eficazes, porém, os diversos países escolheram métodos
divergentes. Uma razão importante desta divergência é o facto de os actos que induzem em
erro serem dirigidos principalmente aos consumidores e não directamente aos concorrentes.
31. Uma comunicação falaciosa não tem necessariamente de ser positiva: uma meia verdade
é também uma meia mentira. Por exemplo, se for dito que uma determinada fatia de pão tem
menos calorias que outras, embora isto seja devido ao facto de ela ser mais fina, a omissão
desta informação pode criar uma impressão tão falsa como faria uma declaração expressa.
Consequentemente, alguns países mencionam expressamente a omissão de factos importantes
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na suas listas de práticas enganosas ou, alternativamente, os tribunais reconheceram que tal
omissão pode ser uma prática enganadora. Porém uma omissão nem sempre pode ser
assimilada a uma declaração positiva. Uma vez que nenhum chefe de empresa tem a
obrigação geral de revelar os aspectos desfavoráveis do produto que vende, só pode haver
logro se o público, na falta de informações expressas, estiver convencido de que uma certa
característica existe.
PAA 42: Consideraria você que há acto de concorrência desleal nas seguintes situações e, se
assim for, porquê?
2) A sua companhia abriu em 2006 uma nova loja de produtos ópticos num determinado
lugar. Como as suas actividades comerciais gozam de um grande sucesso, um dos seus
concorrentes abre a sua própria loja, também para produtos ópticos, exactamente em frente da
sua.
3) Você produz carne da Argentina em latas que contêm carne de cavalo (25%) e carne de
vaca (75%). Para promover este novo produto, você lança uma campanha de publicidade com
o seguinte slogan: "Prove e aprecie a carne de vaca da Argentina".
4) O seu principal concorrente lançou uma linha de produtos que copia muitos dos aspectos
e qualidades (não protegidos) do seu produto. Para não perder partes do mercado, o
departamento do design da sua empresa decidiu copiar a embalagem do seu concorrente.
5) O seu concorrente iniciou uma campanha de publicidade em que se afirma que o processo
de análise do disco duro do computador que vende é "duas vezes mais rápido" do que o seu.
Embora a declaração seja tecnicamente verdadeira, na realidade, o processo do computador da
sua empresa executa três vezes mais funções do que o processo do seu concorrente, o que
mais que compensa a diferença de rapidez.
Exagerações
32. As consequências dos diferentes conceitos de induzir em erro podem ser vistas
claramente no tratamento das exagerações. Embora em todos os países as exagerações
evidentes (mesmo se literalmente erradas) não sejam consideradas enganosas pois são
facilmente reconhecíveis como "conversa de vendas", a questão do que é simplesmente
"conversa" ou "presunção" e do que deve ser levado a sério, é resolvida de maneira diferente
em países diferentes. Em alguns países (tais como a Alemanha), assume-se que o público
acredita basicamente em todas as declarações publicitárias, especialmente as que proclamam a
singularidade ("o melhor", "o primeiro", etc.); consequentemente, uma norma especialmente
rigorosa é aplicada. Outros países (tais como a Itália, e os Estados Unidos da América) tomam
a posição exactamente oposta e toleram indicações formuladas geralmente, especialmente na
forma de proclamações de singularidade. Por isso, nos Estados Unidos da América, os
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tribunais geralmente só intervêm se o produto de que é feita a publicidade de ser o melhor for,
na realidade, inferior.
34. Uma lista de exemplos de práticas desonestas completada por uma disposição geral só é
possível, porém, se as sanções contra a indução em erro forem predominantemente as do
direito civil. O direito penal geralmente exige uma proibição relativamente estritamente
redigida e enumerativa, embora na prática esta diferença seja reduzida pelo facto de,
geralmente, a lista das práticas mencionadas expressamente ser bastante completa.
Desacreditação de concorrentes
35. A desacreditação (ou depreciação) é geralmente definida como qualquer falsa alegação
a respeito de um concorrente podendo prejudicar a sua reputação comercial. Tal como a
indução em erro, a desacreditação tenta atrair clientes com informações erradas. Ao contrário
da indução em erro, porém, isto não é feito através de declarações falsas ou falaciosas sobre
os próprios produtos, mas através de falsas declarações sobre um concorrente, os seus
produtos ou os seus serviços. A desacreditação, portanto, envolve sempre um ataque directo
contra um determinado chefe de empresa ou uma categoria particular de gente de negócios,
mas as suas consequências vão além desse objectivo: como as informações sobre o
concorrente ou os seus produtos são falsas, é provável que o consumidor sofra também.
36. O Artigo 10bis.3.2 da Convenção de Paris obriga os Estados membros a proibir todas as
"as falsas afirmações, no exercício do comércio, susceptíveis de desacreditar o
estabelecimento, os produtos, ou as actividades industriais ou comerciais, de um concorrente".
Uma disposição semelhante encontra-se na maior parte das legislações nacionais sobre a
concorrência desleal. Mas mesmo sem uma tal proibição expressa, considera-se geralmente
que a desacreditação é irreconciliável com a noção de "lealdade" na concorrência. Nos casos
em que a legislação sobre a concorrência desleal foi desenvolvida a partir de disposições
gerais sobre os delitos civis, a desacreditação é considerada uma das formas "clássicas da
concorrência desleal. Em todos os países de direito consuetudinário é reconhecido um delito
de depreciação ou de desacreditação (de direito consuetudinário); adicionalmente, alguns
desses países garantiram recentemente reparação por mandado judicial. Uma vez que é em
primeiro lugar o chefe de empresa individual que sofre com comentários depreciativos,
sanções de direito civil (reparação por mandado judicial ou indemnização por perdas e danos)
são preferidas. Porém, nos casos mais graves, especialmente os que envolvem difamação
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intencional ou maliciosa, são também previstas sanções penais, muitas vezes no âmbito do
código penal geral.
37. Os segredos comerciais ou industriais são protegidos contra a utilização não autorizada
e a divulgação por vários meios estatutários. Alguns países têm disposições especiais para a
protecção dos segredos comerciais ou industriais quer através de uma legislação específica
sobre a concorrência desleal, quer como parte de outra legislação. Outros países tratam os
segredos comerciais ou industriais como um aspecto da legislação sobre os delitos civis.
Outros países ainda, promulgaram disposições de direito penal, administrativo, comercial ou
civil que proíbem a utilização não autorizada ou a divulgação dos segredos comerciais ou
industriais. As disposições penais são menos importantes na prática, porém, pois normalmente
o conhecimento do segredo, assim como uma intenção maliciosa ou fraudulosa, têm de ser
provados. Contudo, se a divulgação de um segredo comercial ou industrial constituir um
delito penal, a divulgação normalmente constituirá também um acto de concorrência desleal.
Além disso, como os empregados, consultores, colaboradores independentes e joint-ventures
são muitas vezes partes interessadas em segredos comerciais ou industriais, vários aspectos do
direito civil relativos a contratos de emprego e ao direito das obrigações são também
pertinentes, conforme as circunstâncias do caso. Enfim, não é inabitual encontrar
combinações dos referidos meios disponíveis. Por exemplo, a violação de segredos comerciais
ou industriais poderia resultar numa responsabilidade por concorrência desleal ou delito civil,
assim como em sanções penais. Por outro lado, em situações em que pessoas não concorrentes
tenham intimidado ou influenciado agentes ou empregados, ou de outro modo os tenham
levado, ou a outras pessoas obrigadas ao segredo, a divulgar as informações secretas, apenas a
legislação sobre os delitos civis estaria disponível.
"Parasitismo"
PAA 43: Consideraria você que há acto de concorrência desleal nas seguintes situações e, se
assim for, porquê?
promover a sua companhia pelo registo do seguinte slogan como marca "XX: o número 1
mundial, sempre", e utilizá-lo em campanhas publicitárias.
2) Você moveu uma acção contra um dos seus concorrentes na base dos seus direitos de
marca. Na medida em que a decisão do tribunal vai demorar alguns meses e que a continuação
das actividades do seu concorrente prejudica os seus negócios, você decide enviar uma carta a
todos os seus clientes para informá-los de que o seu concorrente infringe os seus direitos de
marca e avisá-los de que qualquer compra a essa empresa é ilegal e sujeita a acções judiciais.
3) A sua empresa fabrica sapatos. Como parte de uma entrevista publicada numa revista
especializada neste domínio e distribuída a todos os retalhistas, você criticou severamente um
dos seus concorrentes, sugerindo que as suas actividades tinham sido transferidas para o
estrangeiro para beneficiarem do baixo custo da mão de obra infantil.
"Diluição"
42. Geralmente, se não é provável que a utilização não autorizada de uma marca para
diferentes produtos ou serviços cause confusão, não há nem violação de marca de fábrica ou
de comércio, ou de marca de serviço, nem um acto de concorrência desleal. Isto resulta do
"princípio da especialidade" no direito das marcas, que é uma consequência da função
distintiva das marcas de fábrica ou de comércio e das marcas de serviço. Em alguns países,
porém, tais como o Canadá, os Estados membros da CE no âmbito da Directiva para
Aproximar as Legislações Nacionais sobre as Marcas, e vários Estados dos EUA, as marcas
que adquiriram uma certa fama recebem uma protecção adicional contra a chamada diluição
da sua qualidade distintiva ou do seu valor publicitário.
44. Um outro tipo de apropriação ilícita recentemente reconhecida como contrária à prática
comercial honesta é tirar partido desonestamente da reputação ou do "prestígio" das
realizações comerciais de outras empresas industriais ou comerciais. Esta doutrina vem
especialmente a propósito em casos de apropriação de indicações bem conhecidas. Por
exemplo, se a qualidade de um produto ou serviço com marca autêntica levou os
consumidores a associar a marca com uma certa origem ou consistência de qualidade do
produto, a utilização não autorizada da marca noutros produtos ou serviços, mesmo que não
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cause confusão quanto à proveniência, poderia ser considerada como a apropriação ilícita de
uma reputação. A doutrina pode também aplicar-se à aparência dos produtos, mas em tal caso
deve ser reconhecido que a aparência indica um certo grau de qualidade, de imagem ou de
prestígio. Os países têm, porém, maneiras diferentes de abordar este tipo de apropriação
ilícita. Por exemplo, enquanto que em França se supõe que a apropriação do prestígio da
marca ou do produto de outra pessoa é geralmente ilícita, na Espanha esse tipos de
apropriação ilícita é expressamente proibido sem mais condições prévias no Artigo 12 da lei
1991 contra a concorrência desleal.
Imitação servil
46. O conceito de imitação servil como um acto separado de concorrência desleal, foi
desenvolvido em vários países europeus. Este tipo de parasitismo é geralmente considerado
como uma excepção à regra geral da apropriação livre na área dos produtos ou indicações que
não podem ser protegidos, ou para os quais a protecção expirou segundo uma legislação
especial, ou nos casos em que não há probabilidade de confusão quanto à proveniência dos
produtos. Na ausência de probabilidade de confusão, as circunstâncias específicas do caso
devem revelar um carácter excepcional para que o acto seja considerado desleal. Geralmente a
deslealdade é encontrada na falta de pesquisa, investimento, criatividade ou despesa da parte
do imitador que copiou simplesmente a realização de outra pessoa, apesar de estarem
disponíveis maneiras alternativas de fazer concorrência eficazmente. É necessário, além disso,
que os produtos ou as indicações imitadas possuam um carácter distintivo particular que não
deve resultar simplesmente de características técnicas necessárias para que o produto funcione
correctamente, mas deve estar relacionado com aspectos estéticos ou decorativos que deixam
uma margem suficiente para formas e desenhos ou modelos alternativos.
PAA 44: Consideraria você que há acto de concorrência desleal nas seguintes situações e, se
assim for, porquê?
1) O seu concorrente não renovou a protecção da sua marca "KELI" (para sapatos) embora
continue a fabricar produtos com essa marca. Como a marca "KELI" deixou de ser uma marca
de fábrica ou de comércio protegida, você decide de pedir o registo no seu próprio nome
(também para sapatos) com a intenção de impedir que o seu concorrente utilize esta marca no
futuro.
2) Você decide comercializar um novo motociclo sob a marca "Kan". Para promover as
vendas, você indica na sua publicidade que guiar estes motociclos equivale a guiar uma
"espécie de Ferrari".
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3) A sua empresa possui uma marca internacional muito popular, "Blast Off" (descolagem
de foguetão; explosão), para vendas de roupas elegantes para adolescentes com um design
particular. Porém, você não registou a sua marca em todos os países. Uma pequena firma num
dos países em que você não registou a sua marca adoptou a marca "Cast Off" (deitar fora)
para a venda de roupas elegantes em segunda mão para adolescentes.
Publicidade comparativa
47. A publicidade comparativa pode tomar duas formas: uma referência positiva ao produto
de outra pessoa (a declaração de que o meu produto é tão bom como o outro) ou uma
referência negativa (a declaração de que o meu produto é melhor do que outro). No primeiro
caso, em que o produto do concorrente é geralmente bem conhecido, a questão essencial tem a
ver com a possibilidade de apropriação ilícita da reputação de outra pessoa. No segundo caso,
em que o produto do concorrente é criticado, a questão que surge é a da comparação injuriosa.
Porém, ambas as formas de comparação envolvem uma referência (não autorizada) a um
concorrente, cujo nome é mencionado ou implicitamente identificável pelo público.
50. Em anos recentes, porém, esta atitude sobre a publicidade comparativa tem mudado.
Considera-se cada vez mais que comparações verdadeiras de factos pertinentes podem não só
reduzir para os consumidores os custos de busca de informações, mas também ter efeitos
positivos sobre a economia pelo aumento de transparência no mercado. Os tribunais dos
países que tradicionalmente consideravam a publicidade comparativa injuriosa atenuaram a
proibição rigorosa de todas as declarações que identificam um concorrente. Por exemplo,
comparações de preços, se forem baseadas em dados correctos, pertinentes e suficientes,
podem ser autorizadas. De modo geral, parece haver uma tendência nítida para a admissão da
publicidade comparativa correcta.
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51. As comparações são muitas vezes impossíveis sem referência a uma a marcas de
determinados produtos, serviços ou empresas. Nestes casos, é necessário ter em conta não só a
legislação sobre a concorrência desleal, mas também a legislação sobre as marcas. Nos países
em que as marcas são protegidas unicamente como indicações de proveniência de um produto
ou de um serviço, a utilização de uma marca na publicidade comparativa pode estar fora do
alcance do direito das marcas. Contudo, há países em que a utilização da marca de outra
pessoa na publicidade comparativa pode ser considerada como uma violação da marca. No
entanto, os estatutos até agora não foram aplicados em casos de publicidade comparativa
verdadeira, e pode haver razões constitucionais para uma tal excepção em casos de
publicidade comparativa. Há um argumento a favor da autorização de tal publicidade desde
que, em especial, não seja criada confusão entre as marcas do autor da publicidade e as
marcas de um concorrente, e que a publicidade não desacredite, denigre ou desrespeite as
marcas de um concorrente. A publicidade comparativa varia consideravelmente entre
jurisdições e as campanhas de marketing não podem ser "cegamente" trocadas entre países.
PAA 45: Você comercializa um novo refresco chamado "BINJA" e indica nos seus catálogos
e documentos publicitários que o seu produto é "muito melhor e mais barato que Coca-Cola".
Poderia isto ser considerado um acto de concorrência desleal, e se tal for o caso, porquê?
PAA 46: A sua empresa é o primeiro retalhista de alimentos naturais nos Estados Unidos. O
seu concorrente mais próximo começou uma campanha de publicidade na qual declara que os
alimentos dele são 95% naturais, enquanto que os alimentos do "maior retalhista" (a sua
empresa) são apenas 80% naturais, o que é verdade e permitido segundo a lei relativa à
rotulagem dos alimentos naturais. A publicidade acaba com o slogan "os alimentos mais
naturais que se podem comprar". Você move uma acção por publicidade falsa, alegando que a
combinação dos seus dados com o slogan incluem a sua identidade de um modo que é
injurioso.