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Economia

EDUCAÇÃO SUPERIOR
Modalidade Semipresencial
Silvia Cristina Galana
Guilherme Antonio Ziliotto
Herida Cristina Tavares

Economia

São Paulo
2017
Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional
PRODUÇÃO EDITORIAL - CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL. CRUZEIRO DO SUL VIRTUAL

G146e
Galana, Silvia Cristina.
Economia. / Silvia Cristina Galana, Guilherme Antonio Ziliotto,
Herida Cristina Tavares. São Paulo: Cruzeiro do Sul Educacional.
Campus Virtual, 2017.
96 p.

Inclui bibliografia

ISBN: 978-85-8456-167-4

1. Economia. I. Ziliotto, Guilherme Antonio. II. Tavares, Herida


Cristina. III. Cruzeiro do Sul Educacional. Campus Virtual. IV. Título.
CDD 330

Pró-Reitoria de Educação a Distância: Prof. Dr. Carlos Fernando de Araujo Jr.

Autoria: Silvia Cristina Galana, Guilherme Antonio Ziliotto e Herida Cristina Tavares

Revisão: Simone Aparecida Polli e Eliane Nagamini (revisão textual); Herida Cristina Tavares (revisão técnica)

2017 © Cruzeiro do Sul Educacional. Cruzeiro do Sul Virtual.


www.cruzeirodosulvirtual.com.br | Tel: (11) 3385-3009
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização
por escrito dos autores e detentor dos direitos autorais.
Plano de Aula

Economia

SUMÁRIO
9 Unidade I – Principais Conceitos e Temas da Economia

23 Unidade II – Microeconomia I: As Leis que Regem o Mercado

45 Unidade III – Microeconomia II: Produção e Competição

Unidade IV – Macroeconomia
59 I: Os Princípios que
Regem a Economia

71 Unidade V – Macroeconomia II: Moedas e Políticas Econômicas

87 Unidade VI – Macroeconomia III: Setor Externo


PLANO DE
AULA

Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem Conserve seu
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua material e local de
formação acadêmica e atuação profissional, siga estudos sempre
algumas recomendações básicas: organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
Assim: de se alimentar
e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da hidratado.
sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário
fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.

6
Objetivos de aprendizagem
Principais Conceitos e Temas da Economia
Unidade I

» Trataremos dos aspectos mais relevantes do ambiente em que a empresa está situada (o que chamaremos de
“Macroeconomia”) e das principais teorias econômicas que nos permitem entender a competição neste ambiente (o
que chamaremos de “Microeconomia”).

Microeconomia I: As Leis que Regem o Mercado


Unidade II

» Estudaremos os principais temas relacionados à Microeconomia, isto é, a parte da Economia que estuda mais de perto
o funcionamento das empresas e como elas se comportam no ambiente competitivo.
Unidade III

Microeconomia II: Produção e Competição


» Continuaremos o estudo da Microeconomia, tendo foco especial no comportamento do produtor e nas formas de
competição mais importantes que existem ao nosso redor.

Macroeconomia I: Os Princípios que Regem a Economia


Unidade IV

» Vamos analisar a economia de uma forma mais abrangente, olhando para o conjunto da economia. Esta é a
Macroeconomia, que aborda os principais temas que formam o ambiente econômico ao nosso redor. Estudaremos
temas tão interessantes quanto o crescimento econômico, a inflação, o setor externo, entre muitos outros.

Macroeconomia II: Moedas e Políticas Econômicas


Unidade V

» Continuaremos o estudo da Macroeconomia e do ambiente econômico, dando especial atenção às funções e ao uso
do dinheiro. Veremos também de que forma o setor público tenta controlar os rumos da economia para atender aos
objetivos determinados pela sociedade.

Macroeconomia III: Setor Externo


Unidade VI

» O tema central da unidade será o setor externo, principalmente a taxa de câmbio e seus impactos na economia como
um todo.

7
I
Principais Conceitos
e Temas da Economia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Silvia Cristina Galana

Revisão Textual:
Profa. Ms. Simone Aparecida Polli
Principais Conceitos e Temas da Economia
UNIDADE
I
Contextualização
Bem-vindo à disciplina de Ambiente de Negócios!

Essa será uma disciplina extremamente interessante que deverá mostrar de uma
forma mais estruturada e científica diversos aspectos do nosso cotidiano empresarial.

Para o melhor acompanhamento desta disciplina, o aluno deverá ter a mente


aberta para uma nova forma de ver os fenômenos que certamente já conhece
dos noticiários, jornais e revistas, como inflação, crescimento econômico, as leis
da concorrência, entre outros. Deverá estar familiarizado também com algumas
ferramentas matemáticas básicas, como o uso de equações lineares e a construção
de gráficos.

Aliaremos teoria à prática com o uso de exemplos reais em cada unidade


da disciplina.

Como entender o Ambiente de Negócios?


Explor

Esta é uma questão sempre presente para profissionais da área de Negócios e de Marketing.
Então, vamos conhecer alguns conceitos importantes!

10
Conceitos da Economia
Mesmo se estiverem realizando uma disciplina de Economia pela primeira vez,
os alunos em geral já trazem uma bagagem de conhecimentos sobre o tema em
razão da sua importância. Diariamente, vários aspectos sobre a economia são
abordados nos noticiários, nas TVs, no trabalho e até em casa.

Contudo, é preciso que tomemos um cuidado em diferenciar os aspectos que


são tratados nestes veículos de informação e os aspectos teóricos mais formais da
Economia. De um lado, é importante ter o conhecimento diário e mais genérico
sobre as atualidades e notícias recentes. Mas, de outro lado, é também fundamental,
sobretudo para os profissionais que atuarão no mundo dos negócios, entenderem
os aspectos mais formais e teóricos da Economia. Ou seja, o empreendedor deve
conhecer as “Leis” que regem o funcionamento da Economia.

Vamos, então, definir de que trata esta ciência.

A definição dada por Vasconcellos & Garcia é a seguinte: “Economia é a ciência


social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem empregar recursos
produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as
várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas.”
(Vasconcellos; Garcia, 2005, p. 2)

Há, nessa definição, diversos conceitos que iremos abordar ao longo da disciplina,
como a questão da produção, distribuição, emprego de recursos, etc.

O primeiro aspecto a ressaltar é que Economia é uma Ciência Social. Em razão


do uso intensivo da matemática e da estatística, algumas pessoas são inclinadas a
imaginar que Economia é uma Ciência Exata; mas não é, embora a Matemática e
Estatística sejam ferramentas usadas largamente pelos economistas. A Economia
trata da maneira com que os homens se organizam e organizam seus recursos para
produzirem e distribuírem os bens que desejam. Trata, portanto, do homem e seu
meio, sendo então uma ciência humana e, como alguns autores diriam, é a mais
humana de todas as ciências.1

Sobre este amplo conceito de economia, sustentam-se estudos mais específicos,


o que denominamos de ramos da economia. Estudaremos nesta disciplina os prin-
cípios elementares de dois destes ramos: a microeconomia e a macroeconomia. Na
microeconomia, veremos como funcionam os mercados isoladamente, o compor-
tamento de produtores e consumidores, e como eles decidem trocar produtos no
mercado, decidindo as quantidades e a que preço negociarão suas mercadorias. Na
macroeconomia, abordaremos os temas mais amplos das economias que afetam
a todos os agentes que de alguma forma atuam neste meio. Os principais temas

1 Há diversos casos de cientistas socias de outras áreas que, ao tentarem entender determinado fenômeno, passaram
a estudar economia para tentar entendê-los melhor, e acabaram por redirecionar suas carreiras para a Economia.
Muitos sociólogos, cientistas políticos, historiadores, entre outros, passaram a se dedicar à economia na busca das
respostas a questões sociais. Também há na economia contribuições importantes de cientistas de áreas tão diversas,
como física, matemática e biologia.

11
Principais Conceitos e Temas da Economia
UNIDADE
I
tratados na macroeconomia são o PIB dos países, inflação, os juros, o câmbio (re-
lação de troca entre moedas de diferentes países), o emprego, as contas do setor
público, as contas externas, entre outros.

Principais Questões e Problemas Abordados


Com ajuda da microeconomia, abordaremos as questões de quais bens produzir,
quantas quantidades produzir ou adquirir, e a que preço. Também averiguaremos
de que forma podemos atingir o máximo de lucro em nossos negócios, a partir
de entendimentos do funcionamento de nossa empresa, dos concorrentes e dos
compradores deste mercado.

Através da macroeconomia, por sua vez, tentaremos entender de forma mais


abrangente como se dá o ambiente econômico em que nossa empresa opera.
Tentaremos entender por que há inflação e quais seus malefícios aos negócios, o
que determina o crescimento de um país ou região, de que forma mudanças nas
taxas de câmbio podem afetar este ambiente e de que maneira os juros interferem
também em nossos negócios. Buscaremos, ainda, entender o funcionamento das
contas públicas e sua influência nas economias e, finalmente, o relacionamento da
economia de um país com os outros países (o “resto do mundo”).

Relevância e Atualidade
Em um curso de Marketing, poderíamos dizer que poucas coisas são mais
importantes do que entender os mercados em que as empresas operam. Uma das
propostas desta disciplina é justamente a de iluminar este tema; não necessariamente
do ponto de vista mais prático e específico dos mercados em que se atua, mas dos
mecanismos gerais que determinam o funcionamento dos mercados, ou seja, suas
“leis”. Apesar de um pouco mais abstrata, esta abordagem tem a vantagem de ser
aplicável a mais casos, de forma genérica, para todos os mercados.

Já com relação à macroeconomia, a relevância é contribuir para o ambiente


econômico a que todas as empresas de um país estão submetidas. Entender este
ambiente econômico é compreender os fatores que influenciam os negócios e
permitem um posicionamento mais consciente no mercado de atuação da empresa.

Modos de Produção
O objetivo deste tópico é apresentar algumas das formas mais importantes de
produzir riqueza estabelecida ao longo da história da sociedade. Nossa intenção é
a de demonstrar que o modo de produção atualmente dominante, o capitalismo,
é uma forma relativamente recente de organização econômica, que tem suas
particularidades, vantagens e desvantagens. Com isso, buscaremos salientar
as principais características que distinguem o capitalismo das demais formas de

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produção e, ao mesmo tempo, exporemos que diversas destas características, dadas
como ‘naturais’ e até ‘obvias’, são na verdade inovações sociais extremamente
complexas, recentes e particulares deste modo de produção, resultado de milhares
de anos de evolução social.
Outro objetivo deste tópico é mostrar que este mesmo modo de produção ainda
está em constante transformação, mesmo nos dias atuais, que certamente fazem
com que o capitalismo mude e evolua a cada dia.2
O termo ‘modo de produção’ foi cunhado pelo economista alemão Karl Marx
para denominar os sistemas econômicos dominantes em determinadas civilizações
em dados períodos, cujas características econômicas marcantes eram dadas pelas
suas forças produtivas e as relações de produção entre os grupos de indivíduos
daquelas sociedades.
Trata-se de um conceito simplificador, mas que nos ajuda a entender, de uma
forma genérica, como uma sociedade produzia os bens de que precisava e queria
usufruir. Neste sentido, ao estudar a história da humanidade, Marx identificou, de
forma idealizada, seis modelos de funcionamento das economias das civilizações.

Karl Marx, economista prussiano (atual-


Explor

mente, Alemanha), disseminou o con-


ceito de “modos de produção”, formas ca-
racterísticas utilizadas pelas civilizações
para produzirem seus bens ao longo da
história. Aprofundou-se no estudo das
características do capitalismo, tendo
como principal obra “O Capital”. Grande
pensador do século XIX, Marx foi ainda
sociólogo, filósofo, historiador e cientista
político. É considerado um dos autores
mais influentes da história. Fonte: Wikimedia Commons

A seguir vamos ressaltar as principais características de cada um destes modos


de produção.

Modo Primitivo ou Comunismo Primitivo


Trata-se das organizações tribais e coletivistas mais primitivas das primeiras
sociedades humanas. Este modo de produção, comumente associado às sociedades
humanas tribais (algumas ainda existentes em locais remotos) foi a forma de
produção dominante nos períodos paleolítico e neolítico. As atividades econômicas
mais importantes são a caça, a pesca, a coleta de tubérculos, frutos e demais
alimentos vegetais e, em períodos posteriores ou sociedades mais avançadas,
sistemas de agricultura rudimentar.

2 Ao usarmos o termo ‘evolução’ não nos referimos a uma mudança necessariamente para melhor, mas sim a uma
forma mais adaptada de organização social ao seu meio.

13
Principais Conceitos e Temas da Economia
UNIDADE
I
Do ponto de vista social, trata-se de uma sociedade sem classes bem definidas.
Em razão do pequeno ou nulo superávit (produção acima das necessidades básicas
para a sobrevivência) não há formação de uma elite significativa. A produção é
distribuída de forma relativamente igual para todos os membros da sociedade, que
atuam de forma coletiva.

Neste período ocorreu aquela que é considerada uma das mais importantes
revoluções da nossa história e da economia: a invenção da agricultura. A agricultura
permitiu a fixação das sociedades em determinadas regiões, contrariando a
tendência nômade anterior (exigida porque a atividade de coleta e caça é extensiva
e pode rapidamente exaurir um determinado ambiente, exigindo o deslocamento
constante). A agricultura desenvolveu-se principalmente às margens de rios e outras
fontes de água doce. O benefício mais importante desta localização, além da fonte
de água para consumo, era a fertilidade dos terrenos ao redor.

Modo de Produção Asiático


Assim denominado por Marx para representar, de forma comum, as sociedades
da Fenícia, Mesopotâmia e Pérsia antiga (entre outras da região do Oriente Médio),
e as civilizações antigas hoje denominadas China, Índia e Egito.

Trata-se de uma simplificação feita por Marx para abranger sociedades que tinham
algumas características importantes em comum. Do ponto de vista econômico,
todas elas apresentavam uma base na agricultura, já bastante mais desenvolvida
aqui do que a agricultura rudimentar observada no modo Primitivo. A produção
de grãos para alimentação difundiu-se entre várias destas “novas civilizações”, e
diversas técnicas agrícolas passaram a ser utilizadas de forma disseminada. Houve
ainda o desenvolvimento de equipamentos e instrumentos agrícolas, utilizados
como auxílio em todas as fases da produção e até no armazenamento de colheitas.
Desenvolvimentos em outras áreas, como a construção, atuavam também como
apoio à produção, como era o caso da construção de sistemas de irrigação, a
exemplo da fertilização de terrenos mais distantes dos vales dos rios, permitindo o
aumento da produção.

Representação de sistema de irrigação e canais típicos do Egito antigo. Tais sistemas


também foram largamente utilizados por outras sociedades, associadas ao modo de
produção “Asiático”, e possibilitaram um aumento na produção agrícola.
Estas sociedades foram ainda marcadas pela ênfase na construção de grandes obras
e monumentos.

Outro desenvolvimento importante dessas sociedades foi no ramo da metalurgia,


principalmente com a exploração do cobre e bronze. A construção também foi
um aspecto fundamental dessas economias, com destaque para os monumentos
edificados na época (como pirâmides, jardins suspensos etc.).

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Por serem sociedades mais eficientes na produção de alimentos e outros bens,
elas permitiram a formação de classes diferentes na sociedade, como as elites
religiosas. Nessas sociedades é que surgem, pela primeira vez de forma mais
formal, a noção de um Estado e de uma classe gestora dos aspectos comuns
daquela sociedade.

Outros aspectos econômicos importantes que surgem como destaque nessas


sociedades foi o uso mais difundido da moeda (dinheiro, representado de forma
rudimentar por objetos de valor como gado, conchas, e posteriormente, moedas
de cobre) e do comércio.

Modo de Produção Antigo


Este é o modo de produção associado às civilizações da Grécia e Roma antigas.
Trata-se de um modo de produção bastante similar ao modo Asiático, porém com
uma ênfase mais formal no uso do trabalho escravo, por isso esse modo, por vezes,
é denominado como Modo de produção Escravista.

Além das características descritas no modo anterior, essas sociedades eram


marcadas por um sistema agrícola mais avançado, rotas de comércio e o uso
permanente da guerra como força econômica. A guerra, além de expandir as
fronteiras da civilização a outros povos, permitia ainda a captura de mais escravos.

Por entenderem que esse modo de produção é similar ao “Asiático”, alguns


autores preferem denominar essas sociedades de forma comum, como “Civiliza-
ções Clássicas”.

Modo de Produção Feudal


Apesar de a imagem do feudalismo estar associada à Europa, esse é um modo
de produção que se disseminou para diversas civilizações, tanto no ocidente como
no oriente, tendo atingido as regiões hoje ocupadas pela Europa continental e
insular, norte da África, Oriente Médio, Rússia, China, Japão, entre outras.

Do ponto de vista econômico, o aspecto mais marcante é o surgimento de uma


classe aristocrática, isto é, os proprietários da terra, cuja mão-de-obra servil está
associada a ela. A servidão era a condição das populações que habitavam aquela
terra, e estavam de certa forma presos a ela. A mobilidade, portanto, estava restrita.
Havia uma rede de obrigações mútuas entre aristocratas e servos, resumidas nas
relações sociais conhecidas como “senhoriagem” e “vassalagem”.

A base econômica continua sendo a agricultura, porém o período é marcado por


um enorme avanço nas práticas artesanais nas áreas têxtil, metalúrgica, produção
de ferramentas e armamentos, entre outros. A importância da produção de bens,
além da agricultura, cresce de forma nunca vista em nenhum período anterior.

15
Principais Conceitos e Temas da Economia
UNIDADE
I
Também há avanços extremamente importantes na própria agricultura,
construção, na produção de energia e em seu uso na produção (como moinhos). De
forma generalizada, há avanços em todas as áreas científicas. Também o comércio
é intensificado e expandido. Dissemina-se neste período o uso de metais nobres
como moeda, facilitando o comércio entre diferentes civilizações.

Capitalismo
Surge entre os séculos XIV e XVI, na Europa, a partir do mercantilismo, a
intensificação do comércio ocorrida já ao final do período feudal. Na visão de Marx,
a característica principal do capitalismo é a criação do trabalho como um fator de
produção comercializável. Dessa maneira, o capitalismo é marcado pelo uso do
trabalho na forma de uma mercadoria.

O capitalismo, assim, é caracterizado por uma sociedade de classes em que,


de um lado, há os proprietários do capital (ou capitalistas) e de outro lado há os
proprietários de trabalho (ou “desapropriados” de capital), que precisam vender
sua força de trabalho.

Um dos marcos do capitalismo é o fenômeno histórico denominado “Revolução


Industrial”. A Revolução Industrial foi um conjunto de transformações técnicas,
tecnológicas, científicas e sociais que permitiram um aumento sem precedentes na
produtividade e na variedade de bens produzidos pelas sociedades.

Do ponto de vista da dinâmica capitalista, o principal motor de desenvolvimento


deste sistema está baseado na livre iniciativa dos empreendedores, que decidem
alocar seu capital em empresas e projetos que vislumbram serem lucrativos. Este
modo de produção é marcado ainda pelo funcionamento do “mercado”, um
ambiente (que pode ser real ou abstrato) de livre negociação de mercadorias. Nesse
ambiente, os indivíduos que desejam comprar e os indivíduos que desejam vender
determinadas mercadorias encontram-se para negociar preços e quantidades a
serem comercializadas.

Trataremos de outros aspectos do capitalismo ainda nesta unidade.

Comunismo
Trata-se de um modo de produção baseado na gestão científica e planejada
da produção, em contraposição ao mecanismo de mercado do capitalismo. No
comunismo, há um ou mais planejadores centrais que, através de avaliações
objetivas e científicas, identificam a quantidade e os tipos de bens que devem ser
produzidos. A partir dessa identificação, é feito um planejamento e a alocação dos
recursos exigidos para que esta produção ocorra de fato.

No limite, o comunismo seria um meio de produção mais eficiente que


o capitalismo, por minimizar “desperdícios” que ocorrem normalmente no
capitalismo, como o desemprego, o uso de recursos para propaganda e outros

16
elementos da concorrência, além de propiciar um maior ganho de escala na gestão
da produção. No seu limite extremo, o comunismo eliminaria outros aspectos de
modos de produção anteriores, como a necessidade de se usar moeda para trocas.

Na prática, o Comunismo foi um modo de produção idealizado, mas nunca


realizado de fato. As experiências econômicas inauguradas pela União Soviética
no século XX foram denominadas de “socialismo real”, cujo objetivo era o de
estabelecer o comunismo como modo de produção, todavia sucumbiram antes desta
realização. Alguns dos aspectos fundamentais ao comunismo, como a democracia
plena, não estiveram presentes nessas economias.

O Capitalismo
Descreveremos a seguir as principais características dessa forma de produzir,
hoje dominante no mundo em que vivemos. Na observação dessas características,
é fundamental fazermos duas ressalvas.

Primeiro, quanto à simplicidade das informações colocadas aqui. Naturalmente,


tais características são aquelas entendidas como as mais relevantes para se entender
o modo de produção em que atuamos. Trata-se de uma visão puramente técnica e
econômica do capitalismo, em que buscamos apenas destacar o que é mais relevante
para o profissional de Marketing, objetivando entender que o meio em que atua
tem preconceitos e valores que não são necessariamente naturais do ser humano,
mas provavelmente são induzidos pela nossa forma atual de produzir, consumir e
trocar bens. Há muitas outras características que deveriam ser analisadas e mesmo
as que são demonstradas aqui deveriam ser estudadas mais profundamente para
um completo entendimento do capitalismo.

Segundo, quanto à constante evolução do capitalismo. O modo de produção


em que atuamos é extremamente dinâmico e evolui constantemente. Foi, aliás,
justamente esse caráter de constante adaptação do capitalismo ao seu meio que
permitiu que ele se tornasse o modo de produção dominante até hoje, de forma
generalizada no mundo. Portanto é importante perceber que ressaltaremos as
características elementares, que persistem ao longo do tempo, e que há muitas e
constantes mudanças ao longo do tempo sobre as formas com que o capitalismo
se desenvolve.

Bens e Mercadorias
Bens são todos os produtos e serviços que têm alguma utilidade para os indi-
víduos e que podem ser comercializados de alguma forma. Todas as mercadorias
que adquirimos ou vendemos são bens. Também são considerados bens aqueles
materiais adquiridos e utilizados para a fabricação de outros bens. Nesse caso, os
primeiros são chamados de bens intermediários; enquanto os últimos são denomi-
nados bens finais.

17
Principais Conceitos e Temas da Economia
UNIDADE
I
Mercadorias são, simplesmente, os bens quando transacionados ou comercia-
lizados. Eles têm a dupla característica de terem algum valor para as pessoas e
poderem ser negociados entre elas.

Propriedade Privada
No capitalismo os bens e direitos são de propriedade de indivíduos (privada)
ou do Estado (pública). Na prática, isso significa que os bens, ativos, mercadorias
(e mesmo direitos) têm dono certo e identificado. Esse proprietário pode, por
conseguinte, fazer o uso que desejar de seus bens, desde que respeite as leis daquele
país ou região em que atua. O Estado também pode ser proprietário, porém nos
Estados capitalistas modernos a maior parte da propriedade é privada e o Estado
atua como garantidor destas propriedades e dos contratos.

Fatores de Produção
A produção é realizada através da combinação de diversos fatores. Esses
fatores são comumente categorizados em capital, trabalho e terra. Atualmente,
capital e terra confundem-se, pois terra posta à produção também tem as mesmas
características de capital. Portanto, essencialmente, os fatores de produção são
capital e trabalho que, combinados, permitem a produção de produtos e serviços.
Por exemplo, para que sejam fabricados pregos são necessários aço, ferramentas
(para cortar e afiar o aço no formato desejado) e algumas pessoas operando estas
ferramentas e a matéria-prima para que o produto final seja realizado. Nesse caso,
então, o aço e as ferramentas são o capital, enquanto o esforço das pessoas em
converter a matéria-prima em pregos é o trabalho.

Mercado
Mercado é o ambiente, real ou virtual, em que se dão as trocas dos bens. É
o local onde as pessoas que querem comprar um bem e as pessoas que querem
vender este mesmo bem se encontram para negociar o preço e realizar esta troca.
O mercado pode ser, efetivamente, um mercadinho de bairro onde se compram
os alimentos da semana. Pode ser também uma Bolsa de Valores, onde ativos
financeiros - que também são bens - podem ser negociados. Pode ainda ser um
ambiente virtual ou abstrato, por exemplo, um portal na internet onde é feito um
leilão de telefones celulares.

Divisão do Trabalho
Trata-se de um dos aspectos mais marcantes do capitalismo. Mesmo em modos
de produção mais modernos, havia um grau de certa diversidade nas atividades de

18
um indivíduo. Um típico artesão do feudalismo, por exemplo, era responsável por
realizar todo um conjunto de atividades que viriam, ao final, a dar como resultado
a produção de um sapato.

No capitalismo, porém, a produção é feita de forma extremamente parcelada e


especializada. Na produção de um sapato, por exemplo, um funcionário pode ser
responsável apenas por colar a sola do sapato no couro, mas ele faz isso de forma
extremamente especializada e sem precisar trocar ferramentas e equipamentos. No
seu conjunto, com a produção sendo feita por diversas pessoas realizando atividades
parciais, mas de forma especializada, há um enorme aumento da produtividade.

É uma característica que damos por “natural”, mas que é bastante recente, a
nossa especialização em profissões. Dessa forma, um biólogo que trabalhe em uma
vinícola pode ser hoje especializado nos processos de fermentação e fazer isso com
conhecimento e produtividade inigualáveis, mas pouco sabe dos solos e das épocas
do plantio ou mesmo do processo de engarrafamento do vinho. No feudalismo, para
compararmos, um vinho provavelmente era feito pela mesma pessoa ou família,
que realizavam todo o processo desde plantio, colheita, fermentação, produção,
engarrafamento e venda.

Essa maior divisão do trabalho é que permitiu o alcance de maior produtividade


e especialização no capitalismo.

Você Sabia? Importante!

Segundo observado por Adam Smith em seu clássico “Riqueza das Nações”, considerado
um dos fundadores da Ciência Econômica moderna, a divisão do trabalho permitia que
a produção de alfinetes passasse de 20 unidades por trabalhador (no modelo artesanal)
para cerca de 4.800 alfinetes por trabalhador (no modelo industrial), essencialmente
em virtude da divisão do trabalho.

Uso Crescente da Moeda e do Comércio


A moeda e o comércio já existiam antes do capitalismo, mas é a partir desse
modo de produção eles passam a ser essenciais na vida cotidiana de todos. A razão
disso é que, como no capitalismo predomina a divisão do trabalho, cada pessoa
tende a produzir apenas um tipo de bem ou alguns tipos de bens, porém para
sobreviver precisa adquirir uma variedade muito maior de bens.

Dessa maneira, a necessidade de comercializar bens é comum a todos. Por


exemplo, um indivíduo assalariado vende seu trabalho em troca de moeda e
comprar todos os demais bens de que precisa com uso também da moeda.

Trataremos mais deste tema em outras unidades.

19
Principais Conceitos e Temas da Economia
UNIDADE
I
O Estado
Ao contrário do que algumas pessoas poderiam imaginar, a existência do Estado
não é antagônica à existência do capitalismo; é, ao contrário, uma condição necessária.

É fato, aliás, notado por diversos historiadores, que o capitalismo somente vigorou
naquelas nações que detinham um Estado em pleno funcionamento. Observa-se,
ainda, que o capitalismo frutificou primeiro naquelas nações cujo Estado, na nossa
concepção moderna, desenvolveu-se de forma plena.

Isso ocorre porque o capitalismo somente pode funcionar em um ambiente em


que a propriedade privada está garantida, em que há respeito aos contratos e em
que há um certo ambiente de segurança. Além disso, existem outros elementos
pelos quais o Estado zela e que facilitam muito o desenvolvimento do capitalismo,
como, por exemplo, a moeda.

Livre Iniciativa ou Liberdade Econômica


Se podemos considerar que o motor do capitalismo é o mercado, então podemos
dizer que a liberdade econômica é o combustível que faz este motor funcionar.

A liberdade econômica é a permissão para que os cidadãos comuns de um


país tenham direito a propriedade privada e possam realizar empreendimentos
tendo como objetivo o lucro. É o direito de realizar negócios e apropriar-se dos
lucros deste negócio. Para que isso seja possível, deve haver um conjunto de leis
que permita - e, em alguns casos, estimule - a realização de empreendimentos
econômicos privados, além da garantia estatal à propriedade e aos contratos. Em
uma sociedade capitalista, considera-se legítimo que um empreendedor aproprie-se
dos lucros de seu empreendimento, ainda que parte dos lucros possa ser retida pelo
Estado na forma de impostos sobre a renda ou lucro.

É justamente esta expectativa dos lucros que motiva as pessoas a realizarem


investimentos, estimulando a produção de bens, o emprego e a inovação.

Essas são apenas algumas das características do capitalismo, mas que perduram
em todas as suas fases desde seu nascimento até os dias atuais, ainda que muitos
outros aspectos tenham se alterado de forma significativa.

É importante notar a brevidade do capitalismo na vida humana, sobretudo a


partir de sua forma mais consolidada, a partir do século XVIII.

Na próxima unidade, trataremos de forma mais objetiva de algumas das


“Leis” que regem o funcionamento dos mercados e dos negócios dentro deste
sistema econômico.

20
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Economia Descomplicada
https://youtu.be/liZcE05M93U
Comunismo – Socialismo – A História de uma Ilusão
https://youtu.be/5kcjH-b7a1E
Feudalismo – Castelos em Guerra
https://youtu.be/pLFBF2Iq_ho

Leitura
Economia
Parkin, Michael. Economia. 8 Ed. São Paulo: Addison Wesley, 2009.
https://goo.gl/oIuwjR

21
Principais Conceitos e Temas da Economia
UNIDADE
I
Referências
ANDERSON, Perry. Passages from Antiquity to Feudalism. Nova Iorque:
Verso Books, 1997.

MANDEL, Ernest. An Introduction to Marxist Economic Theory. Nova


Iorque: Pathfinder Press, 1974.

SMITH, Adam. Riqueza das Nações: investigação sobre sua natureza e suas
causas. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996.

VASCONCELLOS, M. A. S.; ENRIQUEZ GARCIA, M. Fundamentos de


Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

22
II
Microeconomia I:
As Leis que Regem o Mercado

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Guilherme Antonio Ziliotto

Revisão Técnica:
Profa. Ms. Herida Cristina Tavares

Revisão Textual:
Profa. Ms. Eliane Nagamini
Microeconomia I: As Leis que Regem o Mercado
UNIDADE
II
Contextualização
Quando nos referimos ao termo “microeconomia”, estamos tratando das
questões econômicas que são dadas em um determinado mercado, alguns poucos
mercados, um setor ou mesmo apenas uma unidade produtiva. Por isso é usada
a palavra “micro”, que significa que estamos olhando a economia de bem perto.

Nesta unidade, estudaremos as questões e os princípios mais básicos deste seg-


mento da Ciência Econômica. Veremos também, simplificadamente, de que forma
comportam-se e interagem os principais “agentes econômicos”, isto é, as pessoas
ou grupos de pessoas representadas por seus interesses econômicos distintos.

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Principais Temas da Micro Empresa
Uma das principais perguntas perseguidas pelos economistas, mesmo nos
primórdios desta ciência, foi a de entender o que dá valor aos bens. Durante séculos
os economistas debateram-se sobre esta questão do valor – que será explicada mais
detalhadamente no tópico a seguir - sem, contudo, conseguirem uma resposta
plena e satisfatória, ao menos do ponto de vista quantitativo, para este tema.

Partiram, posteriormente, para a tentativa de determinação dos preços. Neste


caso, sim, a teoria evoluiu satisfatoriamente para uma teoria de determinação de
preços de mercado e, associados a estes preços, as quantidades de compra e
venda que dariam estabilidade a este mercado. A este grupo de questões denomina-
se Teoria do Consumidor.

A microeconomia investiga também questões ligadas ao produtor. As questões


mais importantes são a determinação da quantidade a ser produzida para que se
obtenha o menor custo possível - por unidade de bem produzido - e, ao mesmo
tempo, o máximo lucro possível. Trata-se da Teoria do Produtor.

Finalmente, outro grupo importante de questões da microeconomia é o estudo


das Estruturas de Mercado, cujo objetivo é entender as formas mais comuns
de interação entre compradores e vendedores de um determinado tipo de bem.
A avaliação sobre esses modelos de concorrência permite-nos entender de
forma mais específica como as empresas competem e como os compradores se
comportam dentro de ambientes competitivos variados.

Nesse momento, esses conceitos provavelmente são bastante abstratos para o


aluno; mas não se preocupe, trataremos de cada um deles a seu tempo e todos
serão explicados ao longo da unidade e praticados nos exercícios.

Microeconomia vs. Macroeconomia


Como vimos na Unidade 1, a microeconomia diferencia-se bastante da macroe-
conomia, tanto quanto ao tema tratado como nas metodologias de estudo. De um
lado, a microeconomia, na sua visão “neoclássica” (que é nosso objetivo) é uma
construção teórica bastante abstrata que busca verificar os comportamentos racio-
nais das empresas, consumidores e, no máximo, de algum setor em conjunto. Por
outro lado, a macroeconomia busca explicações para temas mais amplos, como
aqueles ligados a um país ou uma região, ou no mínimo para o agregado de algu-
mas classes ou setores econômicos.

A metodologia também é, na maioria das vezes, distinta. Na macroeconomia


o estudo dá-se mais por indução, isto é, partimos de casos ou fenômenos conhe-
cidos, muitas vezes através de dados históricos, e tentamos entender as leis gerais
que determinaram estes casos ou fenômenos. Um desses métodos é o uso de

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Microeconomia I: As Leis que Regem o Mercado
UNIDADE
II
instrumentos estatísticos - mais propriamente, econométricos - para tentarmos
avaliar o comportamento de variáveis macroeconômicas. Já na microeconomia
neoclássica, a lógica é normalmente dedutiva. A racionalidade por trás dos fenôme-
nos está dada pela própria lógica dos agentes e alguns axiomas fundamentais, e a
teoria é construída sobre estas bases. Naturalmente, é possível (e sempre desejável)
a posteriori verificar se as teorias são confirmadas pelo mundo real.

Princípios Básicos no Estudo da Microeconomia


O estudo da microeconomia exige que tenhamos em mente alguns pressupostos
e princípios, detalhados a seguir.

Economia como Ciência Objetiva


O estudo da microeconomia conforme proposto aqui, corresponde a uma visão
chamada de “neoclássica”. Nessa visão, a economia é tratada como uma ciência
objetiva, em que são definidos alguns axiomas (princípios básicos e dados como
certos) e toda a teoria é desenvolvida a partir desses axiomas de forma lógica e,
por vezes, matemática. Em alguns casos isso representará alguma simplificação da
realidade, mas com isso tem-se o benefício de um maior avanço nas conclusões e
uma maior formalidade na construção da teoria.

Existe, naturalmente, a possibilidade de testar, ao final, se as teorias encontram


respaldo na realidade, o que denominamos de “testes empíricos”. A teoria
microeconômica tem evoluído muito desta forma, com da construção de modelos
teóricos e, a partir daí, a verificação se a realidade é suficientemente explicada com
base nestes modelos.

Utilidade
Utilidade é a característica que os produtos e serviços têm de satisfazerem
necessidades ou desejos das pessoas e empresas. Esse conceito de “utilidade”
aproxima-se do uso cotidiano que damos para a palavra. Podemos dizer que um
litro de água tem utilidade por vários motivos. Pode ser usado para saciar a sede;
pode ser usado para lavar a louça; pode ser usado para cozinhar alimentos. O
conceito de utilidade está ligado, em parte, à característica daquele produto em
satisfazer necessidades ou desejos das pessoas.

Além desse aspecto mais óbvio, os bens também podem ter utilidade mais
abstrata. Por exemplo, um diamante, que a princípio não é um bem “essencial”
para a sobrevivência humana, tem utilidade porque pode ser considerado como
um artigo que embeleza um adereço ou uma pessoa. Dessa forma, a pessoa que
adquire um diamante encontra utilidade nesse objeto, por mais “supérfluo” que
possa parecer a princípio. Vale mencionar também que um serviço também carrega
uma determinada utilidade. Cortar os cabelos, por exemplo, é um serviço que tem
sua utilidade.

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Finalmente, outro aspecto que não deve ser esquecido sobre a utilidade é que ela
é subjetiva. Isto é, a percepção de “quão útil” é um determinado produto depende
do seu utilizador ou comprador. Depende também do momento e da necessidade
atribuída àquele produto em um dado momento. Portanto, a utilidade de um litro
d’água para um habitante de uma casa com água encanada abundante é diferente
da utilidade do mesmo litro d’água atribuída por um habitante do deserto do Saara.
A utilidade é subjetiva porque depende do uso que será dado a determinado bem,
das preferências das pessoas, do momento do consumo, entre outros fatores.

Escassez
Este é um dos conceitos mais importantes da economia e, ao mesmo tempo, um
dos que algumas pessoas encontram mais dificuldade. Por isso, exige maior atenção.

Escassez significa, literalmente, a falta ou a iminência da falta de algo. Ou seja,


escassez é o oposto de abundância. Entretanto, escassez, no seu sentido econômico,
não significa que não há nenhuma quantidade disponível de um determinado objeto,
mas sim que não há quantidades infinitas desse objeto à disposição, e/ou que há
um custo para a obtenção deste objeto.

Por exemplo, um caso evidente de produto escasso é o petróleo. Não só é uma


substância rara, mas também tem sua quantidade limitada pela própria natureza.
Não há “infinitos” litros de petróleo no mundo. Há o que está nos reservatórios do
subsolo e do oceano e nenhuma gota a mais.

O que dizer dos alimentos, por exemplo, como o milho? Não há uma quantidade
pré-determinada de milho no mundo. Há a quantidade que está disponível hoje,
mas podemos plantar mais e mais, de forma indefinida (pelo menos ao longo
do tempo). Podemos então dizer que o milho não é um produto escasso? A
resposta é um sonoro “NÃO”. Apesar de existir em grandes quantidades, há um
custo para se obter milho. Deve-se plantar, há um custo para cultivá-lo, colhê-lo,
armazená-lo, transportá-lo. Logo, milho entra também na categoria econômica
de produtos escassos.

Bens
Uma vez explicados os conceitos de utilidade e escassez, podemos agora definir o
que são bens. Resumidamente, um bem, no sentido econômico, é qualquer produto
ou serviço que tem utilidade e é escasso. Assim, uma substância tão importante
quanto o ar que respiramos normalmente, em sua forma natural disponível em
abundância, não pode ser considerado um bem econômico por não haver escassez,
salvo em situações ou condições especiais. Outros itens são escassos, porém não são
considerados úteis ou mesmo maléficos e, portanto, também não são considerados
bens econômicos. Alguns exemplos seriam o lixo doméstico, materiais descartáveis
utilizados, a poluição, entre outros.1

1 Produtos que são considerados nocivos ou indesejáveis têm utilidade negativa, e são considerados “males”.

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UNIDADE
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O leque de opções desse conceito é bastante amplo. São considerados bens não
somente os produtos e serviços finais que consumimos diariamente. Os materiais,
produtos e serviços que utilizamos para a produção de outros bens também são
considerados bens (os chamados bens intermediários de produção e bens de
capital). Logo, uma máquina utilizada na fabricação de carros é um bem. O próprio
trabalho utilizado na produção é um bem. Além, é claro, do produto final, o carro,
que neste caso é denominado de bem final ou bem de consumo (neste caso um
bem de consumo durável).

Agentes Econômicos
Agentes econômicos são todas as pessoas que tomam qualquer tipo de decisão
na economia, seja pessoal, para suas empresas, governo, etc. As próprias empresas
e o governo podem ser considerados agentes econômicos per se. O termo agente
vem do fato de que esses indivíduos, grupos, governo, entidades ou empresas
agem na economia e a ação tem algum efeito ou impacto em seu funcionamento.

Racionalidade
Um dos princípios mais elementares da microeconomia é a racionalidade.
Racionalidade, no sentido microeconômico, significa duas coisas. Primeiro, que os
agentes econômicos desejam sempre obter o máximo de utilidade.2 Isto é conhecido
pelo termo “maximização da utilidade”. Trata-se de um princípio bastante intuitivo,
mas ao mesmo tempo de fundamental importância para a teoria microeconômica.
Outro fator da racionalidade é a consideração de que os agentes econômicos
conhecem as regras básicas de funcionamento de seus negócios e de economia
como um todo, conseguindo, com base nessas regras, tomar decisões de consumo
e produção.

O Que dá Valor aos Produtos e Serviços


O que é valor?

O valor é a característica da importância econômica de um determinado bem


quando é trocado pelos agentes econômicos. Um bem que vale R$1.000 é
duas vezes mais importante economicamente que um bem de R$500. Assim, a
importância econômica de um bem é refletida no valor pela qual é transacionado
entre as pessoas, sendo de particular importância a relação de valor entre os
bens e não sua representação de valor na forma monetária (ou seja, é importante
percebermos o valor real, e não somente o valor nominal, dos bens).

O que dá valor aos bens?

A questão do valor ocupou as atenções dos filósofos, cientistas sociais e


economistas desde que se tem notícia. A dúvida fundamental é: o que dá valor às

2 Agentes econômicos são todas as pessoas que tomam qualquer tipo de decisão na economia, seja pessoal, para suas
empresas, governo, etc. As próprias empresas e o governo podem ser considerados agentes econômicos per se.

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coisas? Por que os bens têm o valor que têm? Por que bens tão essenciais como a
água são trocados por valores relativamente baixos enquanto bens não essenciais,
quase “inúteis”, como o diamante, tem valor altíssimo?

Trata-se de um tema fundamental para profissionais de qualquer setor eco-


nômico, sobretudo para profissionais de Marketing. Ao saber identificar o que
dá valor aos bens, os profissionais poderão focar esforços naquelas atividades
e características que “agregam mais valor” aos bens, em detrimento de outras
atividades menos profícuas.

Principais Teorias
A principal “escola” econômica que tratou da questão do valor foi a Escola
Clássica, cujos principais expoentes foram Thomas Malthus, Adam Smith,
John Stuart Mill, David Ricardo, Karl Marx, entre muitos outros. Essa escola de
pensamento econômico foi dominante durante o século XIX.

Na concepção dos autores clássicos, o que dá valor aos bens é o trabalho


humano. Um determinado bem é mais valioso se há necessidade de muito trabalho
humano para que ele seja obtido; enquanto que um outro bem será menos valioso se
pode ser obtido ou construído com relativamente pouco trabalho. Essa concepção
atingiu várias formas, mas teve seu ponto de maior rigor teórico nos trabalhos
de Karl Marx. No entendimento de Marx, o valor é dado pelo tempo de trabalho
socialmente necessário para a produção deste bem. Dessa forma, explicar-se-ia
a questão do valor da água e do diamante. O diamante tem valor alto porque é
extremamente raro e exige muito tempo de trabalho para ser encontrado, trabalhado
e lapidado, até que seja transformado em um ornamento e jóia. Por outro lado, a
água que pode ser encontrada em abundância, exige pouco trabalho da sociedade
(pelo menos em relação aos diamantes, mais raros e de difícil obtenção). Por isso,
exigindo pouco trabalho, apesar de mais essencial, a água tem um valor menor.

Apesar de mais satisfatória que teorias anteriores, essa interpretação não


explicava, por exemplo, por que o mesmo bem era comprado e vendido a preços
diferentes em diferentes situações. Afinal, se um determinado bem, em determinado
momento, tem um dado custo social em horas de trabalho por unidade de produto,
seria de se esperar que seu valor (e, portanto, seu preço) não oscilasse tanto.

A partir da segunda metade do século XIX, começou a tomar corpo uma nova
visão sobre o valor e os preços das mercadorias. Segundo diversos economistas,
o valor das mercadorias não poderia ser atribuído a características intrínsecas dos
bens, nem somente ao trabalho que era exigido para serem obtidos. Esta nova
escola de pensamento considerava que, ao determinar o valor de um bem, as
pessoas levam em conta as quantidades adicionais deste bem que estariam à sua
disposição e, além disso, consideram também os aspectos de valor subjetivos que
cada pessoas atribui aos bens. Tratava-se de uma visão tão distinta das anteriores e

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II
que ganhou tanta importância que tomou o nome de Revolução Marginalista. Seus
principais expoentes, à época, foram William Jevons (1862), Carl Menger (1871)
e León Walras (1874).

Essa visão efetivamente revolucionou a forma de se compreender o valor,


abolindo a interpretação do valor intrínseco dos bens (relativo ao seu material ou
aos seus custos de produção) e passando a explicar o valor dos bens em função de
sua abundância relativa e também dos aspectos derivados do desejo das pessoas
em adquirir tal bem.

Valor, Preço, Objetividade e Subjetividade


Por entenderem que o termo “valor” carregava esta visão de uma característica
intrínseca dos bens, os teóricos do marginalismo passaram a chamar suas teorias
de teorias de determinação dos preços, a não mais do valor. O valor, assim, teria
um caráter puro e objetivo, mas de difícil determinação.

Já os preços são função da relação da sua abundância relativa (em comparação


com os demais bens) e da necessidade ou desejo que as pessoas têm em adquiri-
los. Trataremos deste tema no item 3 desta unidade. É importante neste momento
perceber que a determinação de preços não depende apenas de um fator isolado
(seu custo ou sua abundância relativa), mas também da necessidade ou do desejo
que as pessoas têm em adquirir tal bem e do valor subjetivo que cada uma atribui
a tais bens.

A partir da Revolução Marginalista fundaram-se diversas escolas de pensamento


novas, com destaque para a escola neoclássica e para a escola austríaca.

Variáveis que Afetam a Percepção de Valor


Mencionamos no tópico anterior que a determinação de preços depende, entre
outros fatores, da percepção de valor que as pessoas atribuem a determinado bem.
Mencionamos também que isto é subjetivo, ou seja, varia de um indivíduo para
outro e para um mesmo indivíduo, de uma situação para outra.

Um dos elementos mais importantes na determinação subjetiva do valor são os


gostos ou as preferências por determinado bem. Pode haver preferências naturais
de uma pessoa, por determinado alimento em detrimento de outro, que o faça
preferir este àqueles. O gosto de cada um de nós, portanto, é determinante na
atribuição subjetiva de valor. Da mesma forma que a mesma pessoa pode atribuir
um desejo maior ou menor por determinado bem dependendo da situação. Quanto
você pagaria por um guarda-chuva em um dia de sol? E quanto pagaria pelo mesmo
bem em um dia de chuva? Provavelmente valores diferentes. Provavelmente pagaria
também valores diferentes em um momento de chuva se estivesse voltando para
casa de carro, ou se estivesse indo para uma entrevista de emprego a pé.

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Pessoas atribuem valores diferentes a um mesmo bem de acordo com suas
preferências, de acordo com situações distintas, e dependendo de condições que
variam. Valor é algo subjetivo.

O Comportamento do Consumidor
no Ambiente de Negócios
Entendendo, assim, que o valor varia, que é subjetivo, que depende de fatores
ligados a abundância dos bens, sua utilidade para cada agente, suas preferência,
etc., passaremos a tentar resolver de forma mais objetiva e formal a questão da
determinação de preços. Este tópico trata da teoria microeconômica dominante
de determinação dos preços.

Os itens a seguir exigirão uma visão diferente do aluno, e uma mente aberta para
uma forma abstrata de se enxergar fenômenos do cotidiano. Ao ler os conceitos
e explicações a seguir, tente sempre fazer a ponte entre o que é abstrato (a teoria)
e o real (exemplos da nossa vida e o mundo à nossa volta). Este é um dos pontos
em que diversos alunos têm muita dificuldade, o que chamamos de “capacidade de
abstração”. Entretanto, essa é uma capacidade que pode ser exercitada pelo aluno
e, com isso, desenvolvida.

Os alunos que conseguirem desenvolver essa capacidade de pensar de forma


abstrata passarão a ter sucesso na compreensão de modelos teóricos e terão maior
chance de sucesso na resolução dos problemas complexos da realidade.

A “Lei” da Oferta e da Procura


Certamente todos já ouviram, em algum momento, em um noticiário, em um
artigo de jornal, em um artigo na internet, algum comentário sobre “a lei da oferta
e da procura”.

Trata-se de um termo largamente utilizado, de certa forma útil, mas bastante


impreciso. Em geral, é usado para explicar alguma variação importante de preços
de um bem. Por exemplo, “o preço do tomate subiu 5,3% neste mês, em razão
da entressafra do produto. É a lei da oferta e da procura que faz com que o
produto fique mais caro quando a oferta do produto diminui nos supermercados
e nas feiras”.

Em muitos casos a explicação do fenômeno é válida. Faz-se uma avaliação do


preço de um bem como resposta à disponibilidade dele no mercado (oferta) e ao
desejo das pessoas em obtê-lo (procura). Entretanto, como um aluno de um curso
superior, é importante que você utilize termos mais precisos.

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Microeconomia I: As Leis que Regem o Mercado
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Primeiramente, é importante abolir o uso do termo “lei”. A economia, conforme
aprendemos na Unidade 1, não é uma ciência exata, e sim uma ciência humana.
Portanto, é um pouco perigoso atribuirmos aos comportamentos dessa ciência
o caráter de “leis universais”. A Física pode ter leis universais, como as três leis
da Termodinâmica. Basicamente porque o átomo comporta-se da mesma forma,
repetidamente, desde que reproduzidas as mesmas condições. O ser humano,
contudo, é bem mais complexo, sendo difícil atribuirmos um comportamento
robótico, previsível ou mesmo repetitivo para suas atitudes. Por isso, não falaremos
em leis, e sim em teorias, modelos ou hipóteses.

Outra ressalva importante é trocarmos o termo “procura” por “demanda”, que


definiremos a seguir.

Vamos, então, definir o que é oferta, o que é demanda e como a interação dessas
duas “forças” no ambiente de mercado leva à formação dos preços e quantidades.

Oferta

Podemos definir oferta como a quantidade de determinado bem que os produ-


tores desejam vender no mercado a um determinado nível de preços. Oferta está
ligada ao desejo de vender um determinado bem no mercado.

Por exemplo, suponha que fizéssemos uma pesquisa junto a todos os produto-
res e vendedores de café em grãos do Brasil. Suponha que fizéssemos a seguinte
pergunta: quantas sacas de café você venderia hoje no mercado se o preço fosse
de R$ 200? Cada vendedor responderia com uma determinada quantidade. A
soma de todas as quantidades que desejam ser ofertadas naquele mercado, na-
quele momento, àquele determinado preço, é a oferta de café em grão.

Quisemos enfatizar que a oferta depende do preço, de um determinado mercado,


de um determinado momento, e é relativa a um bem específico. É importante que
o aluno NÃO atribua ao termo “oferta” o significado utilizado no cotidiano, usado
para promoções ou vendas com desconto (“oferta de carros a preço de custo”,
“oferta especial de Natal” etc.). Na economia, oferta NÃO tem este significado de
promoção. É, sim, a soma das quantidades que os vendedores desejam vender a
um determinado preço. Concretamente, se houvesse apenas 3 produtores de café
em grão, e a resposta do primeiro fosse “10 mil sacas”, a resposta do segundo
fosse “30 mil sacas” e a resposta do terceiro fosse “5 mil sacas”, a oferta seria de
45 mil sacas. Mais rigorosamente, esta é a quantidade ofertada.

Uma vez entendido este lado inicial da oferta, podemos olhá-la de uma perspectiva
um pouco mais ampla. Perceba que a quantidade ofertada é uma hipótese, uma
possibilidade. Se o preço fosse de R$ 200, a quantidade ofertada seria de 45 mil
sacas de café. Vamos supor agora que a mesma pesquisa fosse feita para um preço
maior, digamos de R$ 250. O que você esperaria que ocorresse com a oferta? Em
situações normais, para bens considerados normais, esperamos que a oferta seja
maior quanto maior for o preço.

Ou seja, se fizéssemos a mesma pesquisa, com os mesmos parâmetros, mas


mudando o preço para R$ 250, deveríamos obter respostas que, somadas, seriam

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superiores a 45 mil sacas. Isso, é claro, porque os vendedores de qualquer produto
têm uma tendência a desejar vender mais daqueles produtos se o preço for maior.
Além disso, outros produtores que, talvez, não tivessem sua produção lucrativa a
um preço de R$200, poderiam ter sua produção viabilizada a um preço de R$250.
Por exemplo, um produtor com custo de R$210 por saca não ofertaria os produtos
a um preço de R$200 (pois teria prejuízo e não valeria a pena produzir e vender
nessas condições). Porém, a um preço de R$250, mesmo essa produção a custo
de R$210 torna-se viável. Portanto, a oferta tende a aumentar à medida que são
oferecidos preços maiores. De forma análoga, a tendência é que a quantidade
ofertada seja menor para preços menores (verifique que você entendeu isso antes
de seguir adiante).

Vamos, agora, explorar sua capacidade de abstração e de pensar na forma de


modelos. Vamos representar graficamente o comportamento da oferta. Entendendo
que a quantidade ofertada de um determinado bem, em um determinado mercado,
varia em função do preço que seria pago por este bem, vamos simular quais seriam
as diversas combinações de preço e quantidades ofertadas possíveis. Isto é como
se fizéssemos inúmeras pesquisas como as descritas anteriormente e fossemos
registrando neste gráfico as combinações de preço e quantidades ofertadas obtidas
em sua resposta. O gráfico teria a forma da Figura 1 a seguir.

Figura 1 – Exemplo de Curva de Oferta

É importante ressaltar que este não é um gráfico da evolução da oferta no


tempo. Ele representa todas as combinações de preço e quantidade de oferta de
café em grão para o mercado mencionado, em um dado momento. O aspecto mais
importante representado é dado pela inclinação do gráfico (dada pelo ângulo da
figura em relação ao eixo horizontal. Como a inclinação é positiva, isso significa
que para preços maiores, estão associadas a eles ofertas também maiores de café.

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UNIDADE
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A combinação de diversas possibilidades de oferta e seu preço neste gráfico
denomina-se curva de oferta. Por ser uma representação extremamente simples,
ela toma a forma de uma reta. Entretanto, uma representação mais realista
provavelmente não seria uma reta, podendo ter vários formatos não-lineares.
Uma vez entendida a representação gráfica da oferta, passamos agora para sua
representação algébrica, que corresponde à escrita desse fenômeno na forma de
uma equação matemática.
Por ser linear, sua representação é dada genericamente por uma equação
do tipo:

O=a+b.p
Sendo “O” = quantidade ofertada, em milhares de sacas; “p” = preço em R$
por saca; “a” e “b” parâmetros da equação. Alguns autores preferem representar
“qo” (quantidade ofertada) ao invés de “O”.
Dado o conhecimento que você já tem sobre a oferta e o gráfico que fizemos,
o que você espera dos sinais dos parâmetros a e b? Como vimos anteriormente
que a quantidade ofertada sobe à medida que aumentamos o preço, podemos
dizer confortavelmente que o sinal de b é positivo. Isso também é refletido na
inclinação da curva, positiva. Com relação ao sinal de a, no caso representado
no gráfico, sabemos que ele é negativo, mas no momento não é tão importante
darmos atenção a ele.
A propósito do exemplo das sacas de café, a equação representada no gráfico é:

O = –20 + 0,325 . p
É muito importante que você se familiarize com esta visão matemática de se
representar um fenômeno social. Tente exercitar este conhecimento, traçando um
gráfico com a curva de oferta, a partir da equação acima. Basta listar diversos
valores de p e calcular qual a quantidade ofertada associada cada um deles. Após
estes cálculos (que ficam mais organizados na forma de uma tabela) basta que você
represente os pontos obtidos (combinações de preço e quantidades) em um gráfico.
A ligação destes pontos dá a figura da curva de oferta.
A seguir um exemplo de uma tabela gerada a partir de valores hipotéticos de p.

Tabela para curva de oferta


p (R$) q (mil unid)
200,00 45,00
250,00 61,25
150,00 28,75
100,00 12,50
61,54 -
300,00 77,50
350,00 93,75
400,00 110,00

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Esta descrição da função de oferta é uma visão estática. Isto significa que, em um
dado momento, dadas características de produção, consumo e mercado constantes,
ela representa as combinações possíveis de preço e quantidade ofertadas. Isto é, a
quantidade ofertada varia “sobre” a curva de oferta.

Poderíamos, contudo, fazer uma análise mais dinâmica sobre a oferta. A pergunta
neste momento é: “o que faria a curva se mover?”, ou, em outras palavras, “o que,
além do preço, mudaria o comportamento dos ofertantes?”.

Diversos fatores. Um aumento da produtividade, que reduzisse os custos de


produção, permitiria um aumento da oferta, sem alterarmos o nível de preços. Ou
uma redução dos custos derivada de insumos mais baratos. Qualquer destes fatores
causaria um deslocamento da curva de oferta para a direita. Isso significa que, aos
mesmos preços, a oferta seria maior do que anteriormente. Esta mudança está
representada na Figura 2. A linha tracejada representa a oferta antes das mudanças.
A linha cheia representa a curva de oferta após as mudanças (por exemplo, após
uma redução nos custos do setor, de forma generalizada).

Figura 2 – Deslocamento da curva de oferta

Praticaremos posteriormente alguns exercícios na forma de curvas de oferta,


sua representação gráfica e algébrica. Mas antes vamos ver como se comportam
outros agentes que atuam sobre o mercado de café.

Demanda (“procura”)

Se, de um lado, os ofertantes de café querem vender o produto, isso somente


poderá ocorrer se, de outro lado, existirem agentes desejando comprar este produto.

Os indivíduos, empresas e demais agentes econômicos que desejam adquirir um


produto são chamados de demandantes. De forma análoga à oferta, o conjunto

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dos demandantes, quando atuam em um determinado mercado e manifestam sua
intenção de adquirir determinado bem, refletem-se no conceito de “demanda”.
Demanda, portanto, é a intenção, o desejo manifesto de adquirir um determinado
bem a um dado nível de preços.
Também da mesma maneira com que investigamos a oferta, podemos investigar
o comportamento da demanda.
Suponha, então, que fizéssemos uma pesquisa com todos os demandantes
de café em grãos do Brasil. Suponha que a pergunta fosse “quantas sacas você
compraria se o preço fosse R$ 200 por saca?”. A quantidade demandada seria a
soma de todas as quantidades demandadas individuais manifestadas pelos potencias
compradores do mercado. Supondo, então que a soma destas respostas fosse de
60 mil sacas, esta seria a quantidade demandada associada ao preço de R$200/
saca. O que você espera que ocorra, agora, se aumentarmos o preço proposto,
digamos, para R$ 250/saca? Você se lembra que a oferta aumentava quando
aumentávamos o preço.
Pois ocorre exatamente o oposto no caso dos demandantes. À medida que
subimos o preço, considerando bens normais e uma situação normal do mercado,
a tendência é que a quantidade demandada caia. Afinal, a preços maiores nós
compramos menos quantidades de um dado produto, certo?
Vamos tentar inverter um pouco a ordem de raciocínio apresentada anterior-
mente. Suponha que tenha sido dada a função (equação) da curva de demanda,
descrita a seguir:

qd = 100 – 0,2 . p

Sendo qd a quantidade demandada (em milhares de sacas) e p o preço (em


R$/saca). Como você faria o gráfico da quantidade demandada?

O primeiro passo é montar uma tabela em que se representam o preço e


a quantidade demandada associada a cada preço. Posteriormente, basta supor
um valor de p e calcular, com base na função da demanda, qual a qd associada a
este preço.

Um exemplo de tabela seria:

Tabela de demanda
q (mil unid) p (R$)
60 200
50 250
70 150
80 100
90 50
40 300
30 350
20 400

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A partir da tabela, basta então identificarmos os pontos que representam
cada combinação de preço e quantidade. A interligação destes pontos é a curva
de demanda.

Figura 3 – Curva de demanda

Evidentemente, a inclinação da curva de demanda é negativa, correspondendo


à reação dos demandantes de reduzirem suas compras à medida que o preço sobe.

Da mesma forma que a oferta pode sofrer alterações (além do preço), a


demanda também pode. Alguns exemplos são: aumento da renda ou da riqueza
da população; uma variação dos gostos ou preferências por este produto (por
exemplo, um estudo mostrando que café reduz a chance de se obter um determinado
câncer); um aumento do número de compradores. Qualquer destas variações faria
aumentar a demanda de forma generalizada, aos mesmos níveis de preço, o que
seria representado por um deslocamento para a direita da curva de demanda.

Obviamente, variações no sentido oposto (redução da renda etc.) causariam um


deslocamento à esquerda da demanda.

O Mercado
Analisamos, até agora, o comportamento isolado de demandantes e ofertantes.
Porém, o mais interessante está por vir: investigarmos como funciona a interação
destes comportamentos.

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Microeconomia I: As Leis que Regem o Mercado
UNIDADE
II
Esta interação ocorre no que chamamos de mercado. Conforme aprendemos
na Unidade 1, o mercado é um ambiente em que demandantes e ofertantes de
um mesmo produto encontram-se, física ou virtualmente, para realizarem estes
intercâmbios a uma taxa que denominamos “preço”.

Três características são importantes para que um mercado funcione de for-


ma ótima.

Primeiro, o mercado deve ser livre e sem muitas interferências. A imposição de


um preço, ou um piso dos preços, um teto, etc., interferem no bom funcionamento
dos mercados em geral. A interferência governamental no sentido de cobrar
impostos exagerados também afeta o funcionamento otimizado dos mercados.

Segundo, deve haver uma definição precisa do produto que está sendo
transacionado (“café arábica tipo II, safra 2009”). Quanto mais específico for o
produto, menor a interferências de variações na qualidade do produto ou outras
variáveis relativas à diferenciação no mercado. Basicamente, esta homogeneização
ou “commmoditização” do mercado permite que a discussão limite-se a preços e
quantidades comercializadas.

Terceiro, o mercado deve ter um arcabouço de regulação e organização tal que


permita a livre concorrência. Por exemplo, nos mercados de capitais organizados
(bolsas de valores, futuros, bens agrícolas, entre outras) há regulações no sentido
de proibir a atuação de agentes que têm conhecimento privilegiado sobre os bens
transacionados. Por exemplo, o presidente de uma empresa não pode comprar ou
vender ações da sua própria empresa com objetivo de obter lucros de curto prazo.
Isso porque tal agente tem informações privilegiadas, sabendo de fatos que alteram
a percepção do valor das ações antes dos demais membros do mercado. Perceba
que estas regulações são distintas do primeiro item, pois são mecanismos para
promover uma igualdade entre os agentes demandantes e ofertantes no mercado.

Equilíbrio de Mercado
O equilíbrio de mercado ocorre quando a interação entre demandantes e
ofertantes de um bem no mercado leva a que haja uma combinação ótima de
quantidades trocadas a um dado preço. O ponto de equilíbrio3 é o ponto em
que todos os demandantes que querem comprar o bem a um determinado preço
encontram oferta para ele, e todos os ofertantes que querem vender este bem
àquele preço também encontram demanda para ele. Não há, portanto, “sobras”
nem “falta” de bens.

3 Mais especificamente, aqui referimo-nos ao chamado “Equilíbrio Walrasiano”. Há outras definições de equilíbrio e um
sistema econômico complexo pode ter muitos pontos de equilíbrio ou nenhum. Pode ainda ter equilíbrios estáveis ou
instáveis. Nessa visão inicial, vamos nos restringir ao básico.

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Vejamos um exemplo: no caso das sacas de café, obtivemos que a R$200 a
quantidade ofertada é de 45 mil sacas. Ao mesmo preço, vimos que os demandantes
desejam a quantidade demandada de 60 mil sacas. Pela definição de equilíbrio do
parágrafo anterior, você entende que o mercado está em equilíbrio? É claro que
não. Pois estão faltando 15 mil sacas para que os demandantes consigam comprar
tudo o que desejam ao preço de R$ 200. A oferta é de 45 mil sacas, enquanto a
demanda é por 60 mil sacas.

O que é preciso que ocorra para haver equilíbrio? É preciso que o preço suba,
pois assim mais ofertantes irão desejar vender seus bens, ao passo que um maior
preço fará com que a demanda caia um pouco, até que se atinja o equilíbrio.

Porém, a melhor estratégia para descobrirmos o ponto de equilíbrio não é um


método de tentativa e erro. Levaria muito tempo. Há um método algébrico mais
fácil, que consiste basicamente em igualar as quantidades dadas pela função de
demanda e pela função de oferta. A partir daí, isola-se o preço, que será o preço
de equilíbrio. Então, substitui-se o preço de equilíbrio em qualquer das funções para
se obter a quantidade de equilíbrio. Exemplificando:

Relembrando as funções: demanda qd = 100 – 0,2p

Relembrando as funções: oferta qo = –20 + 0,325p

Fazendo qd = qo: 100 – 0,2p = –20 + 0,325p

Isolando p, temos: –0,2p – 0,325p = –20 – 100

Resolvendo p: –0,525p = –120 ∴ p = 228,57

Resolvendo q: q = 100 – 0,2p = 100 – 0,2 * 2287,57 ∴ q = 54,29

Repare que, neste último passo, pode ser usada tanto a equação da demanda
como da oferta. Obviamente, como se trata do equilíbrio, as quantidades de
demanda e de oferta devem ser idênticas (faça o teste!).

Qual o ponto de equilíbrio? É a combinação de preço de R$228,57 por saca


e a quantidade de 54,29 mil sacas. A este preço, todas as quantidades ofertadas
encontram demanda e todas as quantidades demandadas encontram oferta. Não
há sobras; não há faltas. Um aluno atento já saberia sugerir uma nova forma de
representar o equilíbrio. Trata-se, sem nenhuma novidade, da forma gráfica. O
primeiro passo é representarmos demanda e oferta em um mesmo gráfico. A seguir,
identificamos o ponto de equilíbrio (p=228,57; q=54,29). Qual a observação a ser
feita sobre este ponto? (veja na figura a seguir).

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Microeconomia I: As Leis que Regem o Mercado
UNIDADE
II

Figura 4 – Equilíbrio de Mercado

O ponto de equilíbrio, marcado em amarelo, é justamente o ponto de encontro


das curvas de oferta e demanda. Como, aliás, não poderia deixar de ser. Afinal,
qualquer outro ponto sobre as curvas não preencheria os requisitos do equilíbrio.
Faça o teste. Identifique qualquer ponto sobre a demanda ou a oferta que não seja
o ponto de equilíbrio, e veja como, em qualquer deles, ou sobrará ou faltará café.

Vejamos, agora, que podem ocorrer diversas perturbações na oferta ou na


demanda, que poderiam levar este mercado a outro equilíbrio. Suponha que partindo
do ponto de equilíbrio identificado na figura anterior, houvesse uma mudança
externa. Por exemplo, imagine que, obtido o equilíbrio anterior, seja feita uma
grande campanha publicitária institucional, que influencie de forma generalizada
as pessoas para os benefícios do consumo do café. O que você esperaria que
ocorresse neste mercado?

Como vimos anteriormente, a demanda deslocar-se-ia para a direita (aumento


da demanda). Com a oferta, por sua vez, não há mudanças. O novo equilíbrio
seria dado em um novo ponto. Veja no gráfico a seguir esta representação. A linha
laranja tracejada (D1) representa a demanda antes da mudança. A linha laranja
cheia representa a demanda após a campanha publicitária. A linha azul representa
a oferta (só há uma, pois a oferta não foi afetada pela campanha). A curva de oferta
antes é a mesma que a curva de oferta depois.

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Figura 5 – Deslocamento da demanda e novo equilíbrio

Perceba que há 2 equilíbrios. “Eq1” representa o equilíbrio original, pelo


cruzamento de D1 e O. Após o deslocamento da demanda, configura-se o novo
equilíbrio, “Eq2”. O que ocorreu neste novo equilíbrio? Perceba que, em razão do
deslocamento da curva de demanda e da manutenção da curva de oferta, o novo
equilíbrio foi atingido à direita e acima do anterior. Portanto, há uma venda de mais
quantidades de café, e a preços maiores.

Viu como foi importante esta campanha publicitária? A partir dela os ofertantes
passaram a vender mais e a preços maiores. Esta é, provavelmente, uma visão
bastante mais formalizada e rigorosa de um fenômeno que os alunos de Marketing
tratarão o tempo todo.

Se você entendeu corretamente os itens desta Unidade, parabéns! Trata-se de um


passo importante na compreensão dos mecanismos econômicos mais elementares.
Entender a interação de oferta e demanda é uma grande vantagem para qualquer
profissional, sobretudo para profissionais atuantes no mundo dos negócios.

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Microeconomia I: As Leis que Regem o Mercado
UNIDADE
II
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Economia Descomplicada
https://youtu.be/2FdEBPCxmvM
Economia
https://youtu.be/bYfaWytagGs

Filmes
A Lei do Mercado
França, 2015. Thierry, de 51 anos, está desempregado há já quase dois anos. Depois
de muitos meses de angústia em que procurou, incessantemente, um meio de sustentar
a mulher e o filho, quase perde a esperança no futuro. Um dia vê-se finalmente,
selecionada para a função de segurança de um supermercado. Apesar do magro
ordenado que lhe é oferecido, torna-se finalmente capaz de cobrir as necessidades
básicas da sua família.

Leitura
Microeconomia
PINDYCK, Robert S. RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 8 ed. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2013.
https://goo.gl/CX9kFi

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Referências
VASCONCELLOS, M. A. S.; ENRIQUEZ GARCIA, M. Fundamentos de
Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. 2ª. Ed. Rio de Janeiro:


Campus, 1994.

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III
Microeconomia II:
Produção e Competição

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Guilherme Antonio Ziliotto

Revisão Técnica:
Profa. Ms. Herida Cristina Tavares

Revisão Textual:
Profa. Ms. Eliane Negamini
Microeconomia II: Produção e Competição
UNIDADE
III
Contextualização
Nesta unidade vamos dar seguimento aos nossos estudos microeconômicos,
mas agora dando um foco especial para a Produção e para a Competição.

Vamos investigar, de um lado, como o produtor se comporta no ambiente dos


negócios. Quais são as principais decisões que ele tem com relação a sua produção?
O que faz produtor optar por produzir mais ou menos? Como o produtor escolhe
o nível de produção mais lucrativo para ele? São questões de vida ou morte para
qualquer negócio, que abordaremos de forma breve mas relevante.

De outro lado, vamos abordar de que forma os diversos ofertandes competem


em um mercado e como isso dá a eles maior ou menor poder de barganha. Quais
são os elementos que fazem um mercado ser mais ou menos concentrado, e quais
são os elementos que permitem aos ofertantes “fugirem” da competição pura por
preços baixos? Trata-se de uma questão fundamental que, tenho certeza, todos os
alunos de marketing mal podem esperar para desvendar.

Então, como você já sabe:


• O Aprendendo a conhecer apresenta os conceitos teóricos que trabalha-
remos na unidade;
• O Aprender a viver junto lhe remeterá a discussões sobre um dos assuntos
abordados;
• O Aprender a fazer apresentará uma atividade de auto-correção, na qual
você poderá ponha em prática os conteúdos da semana; e
• O Aprender a ser que apresenta uma proposta alinhada à Atividade Inter-
disciplinar do semestre.

Ah! nesta unidade, vamos abordar estas questões por vezes com ferramentas
matemáticas e, por outras vezes, de uma forma mais conceitual. Seja qual for o
caso, é importante que você faça a leitura sempre pensando nos exemplos reais e
na sua própria experiência de vida para verificar como a teoria ajuda a explicar o
mundo real à sua volta.

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O Comportamento do Produtor
no Ambiente de Negócios
Iniciaremos esta unidade verificando de que forma funciona um dos principais
aspectos da economia a dos negócios: a produção.
Devemos lembrar que, como estamos tratando da produção de bens, em geral,
na economia, referimo-nos tanto à produção de produtos como a de serviços.
Vamos abordar as decisões que levam o produtor a produzir mais ou menos
quantidades de seus bens e de que forma ele calcula a melhor quantidade para
produzir e vender.
Esta é parte da chamada “Teoria da Firma”, ou “Teoria do Produtor”, e é uma
composição da contribuição de diversos autores e economistas, que hoje compõe
não somente os livros de economia, mas também de contabilidade, administração,
engenharia, entre outros.

O que é Produção?
Produção é o ato de produzir bens, sejam eles produtos ou serviços, para vendê-
los em determinado mercado. Contudo, tais bens não são criados a partir do nada.
Da mesma forma que na física, também no caso da produção trata-se mais de uma
transformação do que da criação de algo.
Assim, definimos produção como a transformação de fatores em bens
econômicos, sejam eles produtos ou serviços. Esses fatores são mais propriamente
denominados de fatores de produção. Há dois tipos de fatores de produção,
nomeadamente, capital e trabalho.
Trabalho é o esforço humano, seja na sua forma física ou mental, aplicado à
produção. Dessa forma, um lavrador que cultiva a terra, um professor que dá aulas,
um médico que realiza uma cirurgia, etc., todos estão realizando um trabalho. O
trabalho permite a transformação do meio e a criação de bens.
Entretanto, o trabalho por si só não permite a produção. É preciso que, em
auxílio do trabalho, haja também capital. Nesse sentido, capital são os insumos,
matérias-primas, ferramentas, instrumentos, terra, equipamentos, máquinas,
veículos, entre muitos outros, que permitem e auxiliam o trabalho na transformação
do meio e a produção de bens. Em muitos casos, o capital é o próprio meio sendo
transformado pelo trabalho, como é o caso das matérias primas.
Vamos imaginar um lenhador que, por ofício, corta árvores de um bosque
utilizando um machado. Neste exemplo simples, o trabalho é o esforço realizado
pelo lenhador. O capital é composto pelo machado, pelas árvores, e também pelo
bosque (a terra). O produto é a lenha. Portanto, a árvore, matéria prima que já
estava presente no bosque, só se torna de fato um produto na medida em que é
trabalhado pelo lenhador e transformado em lenha.

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Microeconomia II: Produção e Competição
UNIDADE
III
A produção, neste exemplo, é justamente o ato de transformação de árvore
em lenha. Retire qualquer dos fatores de produção mencionados, neste exemplo
(a terra, as árvores, o machado e o trabalho do lenhador), e você verificará que a
produção torna-se impossível.
Outro fator importante para a produção, que está sutilmente colocado no exemplo
anterior, é que é preciso um determinado conhecimento para que a produção seja
realizada. É preciso, por exemplo, saber manusear o machado, saber quais árvores
cortar e onde cortá-las, saber ainda onde estar (e onde não estar) quando a árvore
cair. Todos esses conhecimentos, a “fórmula” para transformar um determinado
conjunto de fatores em um determinado número de bens, chamaremos de
“tecnologia”. As tecnologias podem ser novas ou antigas, melhores ou piores,
mas somente com esses conhecimentos é que a produção torna-se possível.
Outro traço marcante das tecnologias é que elas podem ser modificadas e
melhoradas. Se nos lembrarmos do exemplo da fábrica de alfinetes de Adam Smith,
poderemos verificar que, entre a produção artesanal de alfinetes e a produção
industrial, não houve mudança nos fatores utilizados, que eram algumas ferramentas
simples, o arame usado como matéria-prima e o trabalho de algumas pessoas. O
que permitiu o fantástico aumento da produtividade foi uma mudança no processo
produtivo, na forma de se combinar trabalho e capital, isto é, na tecnologia.
Tente imaginar, agora, o seu processo produtivo. Qual sua atuação profissional
(seja da profissão que você já tem ou pretende ter) e tente identificar quais são os
itens que compõem o capital, o trabalho e qual é o processo produtivo ou a tecnolo-
gia. Lembre-se que mesmo a prestação de serviços exige uma boa porção de capital
para que exista produção. Mesmo um professor precisa de equipamentos, infraestru-
tura, como a sala de aula, cadeiras, etc., e outras formas de capital para conseguir
produzir. Nesse caso, o produto é a disseminação do conhecimento, considerada um
bem, representada na obtenção de um diploma universitário, por exemplo.1

Trabalho
Capital

Tecnologia

Bens
Figura 1 – Fatores, Tecnologia e Produção

1 A própria acumulação de conhecimento dos profissionais especializados, neste caso de um professor, é muitas vezes
considerada como um capital pelos economistas. Por vezes esta categoria de capital é denominada de capital humano
ou, ainda, capital intelectual.

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Produção é o ato de transformar Fatores de Produção em Bens econômicos.
Para isso, é essencial a utilização de capital e trabalho, sendo que a produção é
considerada mais eficiente na medida em que utilizar uma quantidade menor de
fatores para produzir a mesma quantidade de bens. Para que seja possível esta
produção, é necessário ainda que se conheça a tecnologia ou as técnicas de produção.

Fatores que Determinam


a Decisão de Produzir
A atividade essencial de qualquer empresa, sua razão econômica de existir, é
produzir bens que possam ser vendidos no mercado e que possibilitem a máxima
geração de lucro.

Existem diversas decisões a serem tomadas pelo empreendedor para que isso
possa ser feito. Uma delas é como produzir.

Conforme mencionamos antes, a maneira mais eficiente de produzir é aquela


que utiliza uma quantidade menor de fatores. Vamos imaginar duas situações.
Situação “A”: um lenhador trabalha durante um dia com seu machado e, fazendo
cortes horizontais no tronco das árvores, consegue produzir 200 Kg de lenha.
Situação “B”: o mesmo lenhador trabalha durante um dia com o mesmo machado
e, alternando cortes diagonais e horizontais nas árvores, consegue produzir
250 Kg de lenha.

O que mudou entre uma situação e outra? Duas coisas: de um lado, mudou o tipo
de corte (a tecnologia, a maneira de produzir); de outro lado, mudou a quantidade
produzida. Perceba que os fatores de produção não mudaram. Podemos, portanto,
entender que a situação “B” exemplifica uma tecnologia mais eficiente que
a situação “A”. Por isso, fará mais sentido que a produção seja feita conforme
exemplificado em “B”, pois se pode produzir uma quantidade maior de bens com
os mesmos custos de produção (já que a quantidade de insumos é a mesma).

De que forma poderíamos expressar essa forma mais eficiente de se produzir?


Como você já percebeu, os economistas gostam muito de representar processos
sociais na forma de equações matemáticas e gráficos. Não será diferente agora.
Vamos então traduzir a transformação de fatores em bens na forma de uma função
matemática, a qual denominaremos “função de produção”. Trata-se, neste
exemplo, de uma função simples (porque o exemplo é simples).

Situação A: q = 200 ⋅ K ⋅ T

Situação B: q = 250 ⋅ K ⋅ T

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Microeconomia II: Produção e Competição
UNIDADE
III
Atribuímos “q” para a quantidade de bens finais produzidos, em Kg de lenha;
“K” é a quantidade de capital utilizada, em número de machados utilizados; “T” é
a quantidade de trabalho utilizada, em número de dias de trabalho.

Para sabermos a produção, basta substituirmos as quantidades de capital e tra-


balho utilizadas. No caso “A” exposto, K=1 e T=1, portanto q = 200. Na situação
“B”, K=1 e T=1, mas q = 250, porque a tecnologia utilizada é mais eficiente.

Verifique que, utilizando a tecnologia “B”, 2 machados e 2 dias de trabalho, a


produção dobraria, totalizando 500 Kg de lenha, o que faz sentido, pois dobramos
os fatores utilizados. Contudo, experimente apenas duplicar a quantidade de
capital (K=2) mantendo a quantidade de trabalho (T=1). Você deve ser capaz
de verificar que a produção aumentaria, sendo q= 354 Kg de lenha, mas isso
é menos que o dobro da produção. Afinal, uma pessoa trabalhando com 2
machados não conseguiria produzir tanto quanto duas pessoas empunhando dois
machados. Portanto, além de tentar melhorar a tecnologia, o produtor poderia
tentar escolher qual seria a melhor combinação possível de insumos. Para isso,
além da função de produção, ele levaria em conta também o preço dos insumos,
tentando atingir o máximo de produção com o menor custo possível.2

Perceba que a função de produção não responde completamente à questão


de como os bens são produzidos, mas dá uma relação de quantidades produzi-
das com base nos fatores de produção utilizados. Para saber exatamente como
produzir, seria necessário fazer uma descrição completa do processo produtivo,
seus procedimentos, técnicas, etc., algo que não é possível somente com uma
equação matemática.

Custos de Produção
Todas as pessoas que têm algum contato com o mundo dos negócios já ouviram
falar, em algum momento, dos custos de produção. É um conceito bastante
intuitivo, dizendo respeito aos custos, despesas e gastos que se tem ao produzir
determinados bens. Também é bastante óbvia a noção de que o empresário sempre
quer produzir o máximo (em quantidades de bens) para um dado custo da produção
ou, visto de outra forma, quer produzir com o menor custo possível, dado um
nível de produção. Isso significa, basicamente, que o produtor quer ter a máxima
produtividade possível. Conforme vimos no tópico anterior, isso significa produzir
com a tecnologia mais eficiente, e utilizando o menor volume de insumos por
quantidade de bens produzidos.

Mas não é só isso. Ao tentar atingir o menor custo da produção possível, o


produtor, além das quantidades de bens produzidos e da quantidade de fatores
utilizados, também deve levar em conta o custo dos fatores de produção.

2 Não é ambição desta disciplina cobrir a resolução deste problema, mas é importante que o aluno compreenda que há
técnicas matemáticas que nos permitem atingir uma solução para ele.

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Isso porque o custo de produção é o valor monetário (isto é, em dinheiro) do
somatório do produto dos insumos (ou fatores) pelo respectivo preço dos insumos.
Tomando exemplo do corte de lenha, e supondo a situação “B”, notamos que o
produtor utilizou 1 dia de trabalho e 1 machado para produzir 250 Kg de lenha.
Suponha que 1 dia de trabalho custe R$100 e 1 machado custe R$50. Significa
que, esta produção irá custar:

CT = T . 100 + K . 50

CT = 1 . 100 + 1 . 50

CT = 150

Portanto, o Custo Total desta produção de 250 Kg de lenha é de R$150.


Mas quanto custou cada Kg de lenha? Neste caso, queremos averiguar o Custo
Médio desta produção. Para isso, basta dividirmos o Custo Total (CT=R$150) pela
quantidade produzida (q= 250Kg). Com este cálculo simples, obtemos que o Custo
Médio é de R$0,60 por Kg de lenha.

Para obter lucro, o produtor sabe que deveria vender a um preço acima de
R$0,60 por Kg de lenha (descontados todos os eventuais impostos).

Maximização dos Lucros


A partir dos cálculos simples da seção anterior, conseguimos saber a partir de
qual valor o produtor passa a ter lucro. Entretanto, um produtor racional não
deseja ter qualquer lucro, mas sim o máximo lucro possível, dada sua tecnologia,
os custos dos fatores de produção que ele utiliza e as condições do mercado. As
condições do mercado, por sua vez, são determinadas, de um lado, pela oferta e os
demais concorrentes no setor e, de outro lado, pela demanda e pelas características
e preferências dos compradores deste bem.

São, de fato, muitos fatores a serem considerados e, em consequência disso,


o tratamento algébrico dessa questão pode aumentar muito em complexidade,
exigindo ferramentas matemáticas mais avançadas.

Uma forma mais simplificada de tentar resolver essa questão seria através da
criação de um gráfico, representando a Receita obtida pela empresa em função
de diversas quantidades hipotéticas de bens vendidos e o Custo de Produção,
representando, de forma análoga, os custos totais de produção de diversas
quantidades hipotéticas de bens produzidos.

O gráfico sugerido tem dois eixos, sendo o eixo vertical a representação dos
valores monetários, em R$, de Receita e Custo. Enquanto o eixo horizontal denota
as quantidades produzidas e vendidas. Este gráfico seria feito com duas funções:

51
Microeconomia II: Produção e Competição
UNIDADE
III
uma função de Receita e outra de Custo Total. A função de receita é bem simples,
R = q.p, sendo R a receita Total, q a quantidade produzida e vendida e p o preço final
dos bens. Trata-se, portanto, de uma função linear em que R cresce à medida que
q aumenta. Consideramos que p é constante durante este exercício (supõe-se dado
o preço de mercado). Dessa forma, ao representarmos as diversas combinações
possíveis de R e q, obteríamos uma reta, conforme a linha azul traçada no gráfico
a seguir.

Figura 2 – Escolhendo a quantidade que maximiza o lucro

O custo, por sua vez, seria obtido através da substituição dos insumos (fatores)
utilizados, na sua combinação mais eficiente, na função de produção e, após isso,
seria realizado o cálculo do Custo Total a partir dos custos de cada insumo utilizado.

Em um exemplo simplificado, e uma situação normal de produção, os custos


teriam a forma da curva vermelha representada no gráfico. Perceba que os
custos sobem rapidamente à medida que cresce q, depois a partir de certo ponto
desaceleram-se, e posteriormente voltam a se acelerar.

O lucro desta produção é representado pela diferença entre as curvas R e CT em


cada ponto de produção. Isto é, dado um q, o lucro é obtido através da diferença
entre R e CT relativos àquela quantidade produtiva. Fica fácil observarmos, dessa
maneira, que há três situações diferentes no gráfico demonstrado. Na situação
representada pela letra “A”, a curva de CT está acima da curva de R, o que significa
que, para aquele intervalo de quantidades, o custo é maior que a receita. Portanto,
trata-se de uma situação de prejuízos. Já na situação “B”, a curva R passa a ficar
acima da curva CT, ou seja, uma situação de lucros. Enquanto que a situação “C”
identifica novamente uma situação de prejuízos.

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Logo, a primeira conclusão é que o produtor deve produzir uma quantidade que
está entre os limites da situação “B”. Mas qual? O lucro máximo obtido seria aquele
em que a distância entre R e CT é a maior possível. Este ponto é identificado pela
linha verde. Este ponto corresponde à quantidade produzida de 27 unidades de
produto. A esta quantidade produzida, o produtor teria uma Receita de R$120 e
um Custo total de R$100, portanto um lucro de R$20.

Esta abordagem simplificada é, de certa forma, imprecisa, mas nosso objetivo é


demonstrar principalmente que a Receita e os Custos Totais do produtor variam de
forma distinta. Isso, na maioria das vezes irá permitir que, analisando o mercado
e os aspectos relativos a sua produção, o produtor consiga vislumbrar um ponto
ótimo de produção, em que ele irá obter o maior lucro possível.3

Formas de Competição
(e como escapar delas)
Mercado e competição
Neste tópico, examinaremos algumas das formas mais relevantes de com-
petição no mercado. Vamos investigar de que forma os produtos, ofertantes e
demandantes de uma mercadoria podem fazer com que o jogo da concorrência
tome formas diferentes.

Vamos começar com a seguinte pergunta: será que o mercado de automóveis


funciona da mesma forma que o mercado de tomates, por exemplo? De um lado há um
setor que tem poucos produtores, com tecnologia altamente especializada, grande
necessidade de capital para se produzir e vender, e um alto grau de diferenciação
entre os produtos. De outro lado, há um mercado em que os produtos são bastante
similares, há baixo custo em se montar uma unidade produtora (sementes, terra e
mão-de-obra simples) e, em consequência, muitos produtores.

É claro que estas situações não são iguais. Os mercados tomam formas distintas
de acordo com o número de ofertantes e demandantes que atuam nele; o tipo
de bem, sobretudo se os bens são muito parecidos (como soja, petróleo, tomate,
minério de ferro, etc.)4 ou se são diferenciados (como automóveis, telefones
celulares, restaurantes etc.); se há barreiras ou dificuldades para se entrar neste
mercado ou se é fácil iniciar a produção, e mesmo deixar de produzir.

Vamos segmentar essas características em diversas situações de mercado, às


quais chamamos de “formas de competição”, descritas a seguir.

3 Neste caso estamos tratando do lucro de curto prazo, em que os preços dos produtos, os custos dos fatores, a tecnologia
e os aspectos da concorrência são estáveis. No longo prazo, contudo, estas variáveis podem também oscilar.
4 Produtos com estas características são chamados de commodities.

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Microeconomia II: Produção e Competição
UNIDADE
III
Concorrência Perfeita
Um ambiente de concorrência perfeita é aquele em que há, conforme sugerido,
extrema competição. Tal ambiente só pode existir quando há um número muito
grande de demandantes e também de ofertantes no mercado, de forma que nenhum
competidor ou comprador, isoladamente, pode influenciar este mercado, seja
tentando manipular preços ou quantidades totais transacionadas. Imagine o caso
do mercado de tomates. Há um sem número de produtores e, igualmente, uma
infinidade de consumidores. Portanto, se um ofertante ou demandande, de forma
isolada, tenta manipular os preços, ele não conseguirá fazê-lo de forma que afete
as quantidades e preços gerais de mercado. Na verdade, um ofertante que tentasse
vender seus tomates a um preço acima do preço de mercado, provavelmente não
teria sucesso em vender qualquer quantidade. Cada demandante ou ofertante,
individualmente, é insignificante neste mercado.

Na situação de concorrência perfeita, os produtos são homogêneos. Isso quer


dizer que não há uma diferenciação entre um produto e outro. Significa que um
produtor de tomates não conseguirá cobrar um preço maior pelos tomates que
produz porque são diferentes; na verdade todos os tomates de uma determinada
espécie são extremamente similares. O mesmo não poderia ser dito de carros
de fabricantes diferentes, pois cada fabricante consegue diferenciar seus produtos
em design, equipamentos, acabamento, opcionais, etc., de forma que eles não
são exatamente comparáveis. Mas tomates são tomates. Da mesma forma, soja,
demais gêneros agrícolas, petróleo, minério de ferro, metais em geral, entre outros,
são produtos bastante homogêneos.

Outro aspecto importante para que se observe a concorrência perfeita é que


não existam barreiras muito importantes à entrada nestes mercados, ou mesmo
à saída deles. Isso significa que qualquer pessoa que se sinta estimulada poderia
produzir tais bens e competir nestes mercados. Novamente vem à tona os mercados
agrícolas, em que, havendo disponibilidade de terra, qualquer indivíduo pode iniciar
uma produção comprando sementes e vendendo os bens. O mesmo não poderia
ser dito da produção de automóveis, por exemplo. É necessário um enorme
volume de capital, tecnologias bastante sofisticadas, acesso a mercados, mão-de-
obra especializada, etc., para que se possa fabricar um carro sequer. O mesmo vale
para muitas outras indústrias.

Resumidamente, um mercado em concorrência perfeita é um mercado com


barreiras à entrada irrelevantes, cujo produto é homogêneo e onde há um infinito
número de demandantes e ofertantes.

Nesse mercado, a competição dá-se essencialmente por preços e normalmente


aquele produtor que tiver a tecnologia mais eficiente e for mais produtivo, com os
menores custos médios, é que conseguirá sobreviver.

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Monopólio, Oligopólio e Concorrência Monopolista
O extremo oposto da situação de concorrência perfeita é a situação de Mono-
pólio. Nesse ambiente, apenas um ofertante domina o mercado, provendo bens
para os demandantes. Isso pode ocorrer por diversos motivos. Pode ser, por exem-
plo, um monopólio definido por lei, como era o caso do setor de exploração de
petróleo, no Brasil, antes da abertura ao mercado na década de 1990. A lei deter-
minava que somente a Petrobras poderia explorar e produzir petróleo no Brasil, o
que impedia a entrada de novos concorrentes. Também pode haver monopólio nos
casos de patentes, normalmente beneficiando fórmulas de produtos farmacêuticos
ou projetos de engenharia ou tecnologia. Estas, porém, são patentes temporárias.
Além disso, há monopólios nos casos de extrema diferenciação de produtos ou no
caso de grandes barreiras à entrada. Por exemplo, a produção de foguetes espa-
ciais, é algo tão sofisticado, caro, arriscado e específico, que somente uma empresa
contratada pelo Estado poderia realizar tal empreitada.

Como é fácil imaginar, na situação de monopólio os ofertantes é que ditam


as regras. Na prática, eles têm a capacidade de escolher a quantidade que irão
produzir para o mercado; outra forma de ver a questão é que o monopolista escolha
o preço que irá cobrar e a quantidade demandada será resultado da capacidade de
pagamento e desejo dos consumidores em obterem tais bens.

Há uma situação análoga ao monopólio, mas que ocorre quando há apenas um


demandante (ou comprador) em um mercado de muitos produtores e ofertantes.
Neste caso a situação denomina-se “monopsônio”. Nesse caso, o total poder de
barganha está nas mãos do único comprador.

Finalmente, existe a situação em que apenas um grupo pequeno de ofertantes


domina o mercado. Trata-se do “oligopólio”. Nessa situação, em geral os
competidores concorrem mais por diferenciação de produtos, qualidade, design,
prazo de entrega, inovações etc. Em razão do processo de consolidação e fusão de
empresas em nível global, muitos mercados encontram-se hoje em uma situação de
oligopólio, como é o caso da indústria automobilística, indústria de bens de consumo
duráveis (como aparelhos eletrodomésticos de maior porte), setor imobiliário,
tecnologia da informação (softwares), entre outros.

Mercados Imperfeitos e o Mundo Real


Entre as situações extremas de concorrência perfeita e monopólio há uma
infinidade de situações intermediárias. Simplificadamente, elas são denominadas
de mercados imperfeitos, ou concorrência imperfeita.

55
Microeconomia II: Produção e Competição
UNIDADE
III
Nessas situações ou mesmo nas situações de oligopólio, é possível que a sociedade
consiga criar mecanismos de monitoramento dos mercados que estimulem a
competição entre os poucos competidores. Há, por exemplo, a criação de órgãos
de defesa da concorrência, de legislação que o proteja5, entre outros. Isso tem
como objetivo tentar impedir que os concorrentes manipulem preços, estimulando
a competição entre eles, a maior eficiência e produtividade, maiores níveis de
qualidade, inovações, entre outros fatores que somente podem existir quando os
ofertantes competem entre si pela demanda.

Alguns meios legítimos que permitem aos competidores venderem bens a preços
maiores e, portanto, auferirem lucros maiores, estão a inovação, a diferenciação de
produtos, aumento da qualidade, a redução de custos, entre outros.

Por exemplo, um produtor que desenvolva uma tecnologia de produção mais


eficiente e consiga com isso reduzir seu custo médio, vendendo ao mesmo preço
que os demais ofertantes do mercado, conseguirá observar maiores lucros. De forma
similar, um ofertante que consiga criar um produto mais atraente aos compradores,
poderá conseguir preços melhores, ainda que o mercado inicialmente fosse de
commodities. Este seria o caso, por exemplo, de um produtor de tomates orgânicos.
Por ter maior preferência entre os consumidores mais exigentes, este tipo de produto
seria vendido a preços maiores. Trata-se de uma diferenciação de produto.

O profissional de marketing deve entender o mercado em que atua e, com


base neste entendimento, pensar em formas de fugir da condição de concorrência
perfeita, conseguindo com isso aumentar a lucratividade de suas empresas.

5 No Brasil, o órgão mais importante de defesa da concorrência é o CADE. Há ainda um código específico que rege
as leis da concorrência e estimula a competição, o Código de Defesa do Consumidor.

56
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Filmes
A Corporação (The Corporation)
Excelente documentário canadense de 2003, que apresenta o poder das Corporações,
mais forte que o poder politico. Através de seus lobbies junto aos governos e suas ferra-
mentas de merchandising, marketing, branding, etc, definem tendências de consumo de
produtos eletrônicos, vestuário, alimentos, entretenimento, medicamentos etc.
https://youtu.be/ZcT_yygkqDg

Leitura
Microeconomia
PINDYCK, Robert S. RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 8 ed. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2013.
https://goo.gl/QI6EAk

Organização Empresarial em Marshall


KERSTENETZKY, Jaques. Organização Empresarial em Marshall. EST. ECON.,
SÃO PAULO, V. 34, N. 2, P. 369-392, ABRIL-JUNHO 2004.
https://goo.gl/XkTF12

Microeconomia
HAFFNER, Jacqueline Angélica Hernandes. Microeconomia. Curitiba: InterSaberes, 2013.
https://goo.gl/rBrNdH

57
Microeconomia II: Produção e Competição
UNIDADE
III
Referências
MOCHÓN, F. Princípios de economia. São Paulo: Prentice Hall, 2007.

VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. 2ª. Ed. Rio de Janeiro:


Campus, 1994.

VASCONCELLOS, M. A. S.; ENRIQUEZ GARCIA, M. Fundamentos de


Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

58
IV
Macroeconomia I: Os Princípios
que Regem a Economia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Guilherme Antonio Ziliotto

Revisão Técnica:
Profa. Ms. Herida Cristina Tavares

Revisão Textual:
Profa. Ms. Eliane Negamini
Macroeconomia I: Os Princípios que Regem a Economia
UNIDADE
IV
Contextualização
Nas unidades 2 e 3, examinamos algumas das questões econômicas tratadas
pelas firmas, mercados ou setores produtivos.

Nas unidades 4 e 5, observaremos a economia de outro ângulo. Será uma visão


das questões mais abrangentes da economia, aquelas relacionadas à economia de
um país todo ou de uma região. Estas unidades são particularmente importantes
porque evidenciam temas que nos afetam a todos. Afinal, todas as pessoas, seja
qual for o ramo de atividade econômica, têm suas vidas afetadas pelos eventos que
acontecem na economia do país ou da sua região. Os profissionais de marketing
ou de outro ramo ligado a gestão de empresas são particularmente afetados, pois
seus negócios são diretamente impactados pelas decisões econômicas, influências
externas e políticas do setor público que norteiam as economias.

60
Principais Temas da Macroeconomia
A macroeconomia trata dos grandes temas econômicos das economias de paí-
ses, regiões ou mesmo do mundo todo. Para cada tema abordado, a macroecono-
mia trata das causas e efeitos das variáveis em questão, além, é claro, de propor
medidas para elas, pois sem uma medida é impossível avaliar com alguma seguran-
ça se determinado aspecto da economia está melhorando ou piorando.

Um dos principais temas tratados é a produção de riqueza dos países. Na


microeconomia também se avalia a produção, mas de mercados isolados. Aqui o
tratamento é dado para uma soma de muitos mercados, por isso a classificamos
como produção agregada. As principais questões abordadas neste prisma são: o
que causa a maior ou menor produção e prosperidade nos países? Como fazer um
país enriquecer? Como atingir o máximo da produção e da abundância de bens?
Este é um tema que está relacionado à disponibilidade de bens nesta determinada
população e, de forma análoga, com o bem-estar dela1. Uma das medidas usadas
para averiguar a produção agregada de um país é o Produto Interno Bruto, ou PIB.
Há outras medidas, como o Produto Nacional Bruto, mas o PIB é a medida mais
comumente utilizada.

Outro tema de fundamental relevância na macroeconomia é a determinação do


nível de emprego da economia, isto é, qual a proporção de pessoas da economia
que se encontram empregadas ou economicamente ativas.2 Em uma economia
capitalista, o nível de emprego depende tanto do setor privado como do setor
público, sendo que o desemprego alto é um problema extremamente sério nas
economias. Por isso, praticamente todas as economias capitalistas têm por objetivo,
explícita ou implicitamente, a manutenção de altos níveis de emprego.

Ao lado dos temas de produção e emprego está a inflação, com o contraste


de que, para esta última variável o que se deseja é o mínimo possível. A economia
brasileira conviveu por décadas com níveis altíssimos de inflação e é fácil percebermos
quais os malefícios que isso traz para a economia. As causas e consequências da
inflação serão tratadas de forma mais específica na unidade 5.

Também se considera de suma importância nos estudos macroeconômicos o


relacionamento entre diversos países ou regiões, e de que forma este relacionamento
pode ajudar no bem estar das pessoas. Este relacionamento, do ponto de vista
econômico, é retratado nos conceitos das Contas Externas dos países. As principais
formas de relacionamento com outros países são a exportação, importação,
investimentos externos, transferências de capital e a realização de serviços.

1 Ainda que não seja correto atribuir o bem-estar de uma população somente ao nível de renda ou abundância de bens
de que ela dispõe.
2 Emprego significa que um indivíduo tem uma relação de assalariamento com um empregador, seja do setor público
ou privado. A população economicamente ativa inclui as pessoas empregadas e também profissionais liberais,
autônomos, empresários, agricultores familiares, entre outros.

61
Macroeconomia I: Os Princípios que Regem a Economia
UNIDADE
IV
Além destes aspectos, existe um setor da economia que, por suas particularidades
e por seu peso nas economias, atrai atenção especial dos macroeconomistas.
Trata-se do setor público. O monitoramento das principais características deste
setor encontra-se na chamada Economia do Setor Público. O setor público é
quantitativamente importante nas economias porque em geral ocupa um grande
espaço como produtor, como consumidor e como redistribuidor de seus recursos.
Além disso, qualitativamente é um setor diferente dos demais, porque incorpora
uma razão de ser distinta dos demais elementos da economia e por seu papel
ativo no mundo econômico, realizado através das políticas públicas, neste caso
específico, nas políticas macroeconômicas. Estas políticas são atividades
legítimas de influenciar a economia para que se atinjam determinados objetivos, em
geral comandados pelos desejos mais gerais da sociedade, manifestados por sua
colocação política e social. O setor público é tão relevante que, além de ser tratado
na macroeconomia, compõe uma área própria de estudos econômicos.

Há ainda muitos outros temas da macroeconomia, que não serão tratados


nesta disciplina. Ao aluno que tenha interesse de aprofundamento, sugerimos
uma investigação dos manuais de macroeconomia citados em bibliografia. Trata-
-se de uma ciência vasta, dinâmica extremamente rica e interessante, e que tem
contribuído positivamente ao longo da história para a melhoria do bem-estar das
populações de forma intensa e abrangente.

Microeconomia vs. Macroeconomia (relembrando)


Conforme vimos anteriormente, a macroeconomia se diferencia da microe-
conomia tanto na ênfase e nos temas abordados como, muitas vezes, na me-
todologia utilizada. Com relação a este aspecto metodológico, é comum que a
microeconomia (neoclássica) faça uso mais intenso de instrumentos matemáticos
e lógico-dedutivos, enquanto que a macroeconomia é muitas vezes uma ciência
indutiva e apoiada em estudos estatísticos e econométricos. Na macroeconomia,
vale-se mais de eventos e dados históricos para deles extrairmos os princípios
de seu funcionamento. Também do ponto de vista da ciência macroeconômica,
é preciso admitir que ela tem sido objeto de maiores incertezas do que a micro-
economia, sobre tudo quanto à dificuldade em se prever períodos de expansão
econômica ou de crise.

Em nossa abordagem, trataremos do entendimento dos conceitos e as cau-


sas e efeitos das mudanças das variáveis macro e da influência de uma variável
em outra.

62
Princípios Básicos no Estudo
da Macroeconomia
Ao tratar de economias de países ou regiões, a macroeconomia aborda uma
somatória de mercados simultaneamente. Quando tratamos de um grande conjunto
de elementos de um mesmo grupo econômico, estamos nos referindo a agregados
macroeconômicos. Por exemplo, ao tratar de todos os mercados de um país,
referimo-nos à soma de todos os bens produzidos neste país. Trata-se, assim, do
agregado da produção deste país.

Da mesma forma que na microeconomia, na macroeconomia também nos


valemos do conceito de Agentes Econômicos. O conceito é o mesmo, mas os
agentes na macroeconomia são mais propriamente expressos em grupos de
indivíduos com comportamento econômico similar. Assim, os principais agentes
são grupos de trabalhadores, empreendedores, setor privado, o governo (ou setor
público), agentes do exterior (por vezes denominados de “o resto do mundo”),
entre outros.

Para realizar o estudo dos diversos fenômenos macroeconômicos e para


entendermos propriamente o que se passa com as economias, é preciso que sejam
realizadas medidas dos agregados macroeconômicos. Afinal, sabemos que
somente pode ser entendido e controlado aquilo que e medido. Estas medidas
são próprias de característica da economia e devem ser avaliadas periodicamente
(trimestralmente, anualmente etc.) e sua evolução acompanhada e controlada.
Diversas destas medidas serão mencionadas no item a seguir.

Um aspecto fundamental da macroeconomia, e mesmo do entendimento


de diversas outras partes do estudo econômico, é o entendimento de que uma
variável ou característica pode influenciar outra. Isso significa ainda que variações
em uma variável podem causar variações em outra variável. Por exemplo, uma
relação comum deste tipo de influência é a influência das taxas de juros sobre os
investimentos diretos (formação bruta de capital fixo). Entende-se que um aumento
das taxas de juros da economia irá causar uma redução dos investimentos diretos.
Assim, quem quiser controlar o volume de investimentos da economia e tiver poder
de atuar sobre as taxas de juros, poderá fazê-lo de forma indireta. Ainda que não
possa controlar os investimentos diretamente, tal agente poderia alterar as taxas de
juros, sendo que estas influenciariam os investimentos, até que agente conseguisse
atingir as variações desejadas nesta última variável. De forma resumida, se A causa
B e um determinado agente tem poder sobre A, então tal agente poderá também
controlar B. Há limites, entretanto, para este controle, seja com relação ao tempo
(que pode demorar mais ou menos) ou ainda à intensidade desta influência, já que
pode haver limite para a causalidade de A em B.

63
Macroeconomia I: Os Princípios que Regem a Economia
UNIDADE
IV
Esta tentativa de influenciar uma determinada variável macroeconômica para
que se atinja um determinado objetivo na economia é denominada de política
macroeconômica. As políticas macroeconômicas são, em geral, perseguidas por
agentes extremamente poderosos da economia, como por exemplo, partes do
setor público. Por exemplo, o Banco Central do Brasil é um dos agentes do setor
público e tem como um de seus objetivos a manutenção de taxas de inflação
baixas. Assim, ele pode controlar e modificar diversas variáveis da economia para
perseguir tal objetivo, como por exemplo, aumentar o compulsório bancário.
Tal prática é um exemplo simplificado de política macroeconômica. A execução
sincronizada de diversas políticas macroeconômicas compatíveis é que permite um
bom controle da economia e a realização dos objetivos econômicos determinados
pela sociedade. Trataremos mais especificamente de políticas macroeconômicas
na quinta unidade.

Como são medidos os agregados


Macroeconômicos
Renda e Produtos Nacionais
A produção e a renda nacional estão entre as principais variáveis macroeconô-
micas que devem ser medidas periodicamente. A produção agregada de um país
mede o valor de tudo aquilo que foi produzido em seu território, sejam produtos
ou serviços.

Um conceito importante é que somente é avaliado neste conceito o que se gerou


de valor novo, em um determinado intervalo de tempo. É importante ressaltar este
ponto para que não se confunda a produção agregada de um determinado ano
com o estoque de riqueza. Portanto estamos falando do fluxo de produção gerado
no período, e não no patrimônio total. Se fossemos comparar com a renda de um
trabalhador, é o equivalente a dizermos que a soma do produto é a soma de seu
salário líquido (já descontados os impostos), enquanto que a riqueza é a soma de
tudo que a pessoa possui (carros, casa, móveis).

Há diversas medidas de produção agregada e de renda agregada, e para cada


medida há normalmente mais de um método de se apurar seu valor. Como você
deve imaginar, apurar a soma de tudo que foi produzido em um país inteiro em
um ano não é exatamente uma tarefa simples. Portanto há métodos distintos e
nenhum deles consegue fornecer uma medida perfeita da produção, mas sim
valores satisfatoriamente aproximados.

64
Produto Interno Bruto: O que significa
e como se mede
No Brasil, mede-se a Produção do país, sobretudo com o uso deste conceito
chamado de Produto Interno Bruto (PIB). Ele apura a soma de todos os bens
finais que são produzidos no território nacional, em um determinado período
(em geral no ano). Neste caso, importa se os bens foram produzidos no Brasil,
independentemente se foi produzido por uma empresa brasileira ou estrangeira.
Além disso, avaliam-se somente os bens finais. Também não entram nesta conta
os bens usados revendidos, afinal nestes casos trata-se apenas da transferência
de propriedade de um bem que foi produzido em um período anterior, e não a
produção de um bem novo.

Há outros conceitos macroeconômicos que também buscam averiguar o nível


de prosperidade de um país ou região. A despesa nacional é a somatória de todos
os gastos e despesas realizadas no país. Se supusermos que os principais grupos
econômicos são as famílias, o setor público e o setor externo, podemos dizer que
a despesa é a soma dos gastos com bens de consumo, investimentos, despesas
do setor público (consumo + investimento), somando-se ainda a exportações e
subtraindo-se as importações.

Há ainda uma terceira maneira de se averiguar a prosperidade nacional. Trata-


se da avaliação da renda obtida por cada grupo de agentes. Neste caso, a avaliação
é feita com a soma dos salários (renda das famílias), aluguéis, juros e lucros (renda
do capital).

Vale notarmos que em uma economia sem acúmulos indefinidos de estoque,


Produção, Despesas e Renda nacionais devem ser iguais.

Finalmente, um ponto importante a ser ressaltado é que, na maioria das vezes,


avaliamos não o valor do PIB de um determinado ano, mas sim a taxa de crescimento
anual do PIB. Desta forma, dizer que o PIB cresceu 5% em um determinado ano
significa que a produção nacional foi 5% maior naquele ano em comparação com
o ano anterior.

As Contas Nacionais com o Exterior


Um dos relacionamentos mais importantes de um país é dado pelas transações
comerciais, de capitais e financeiras com outros países. Tais transações agrupam-
se no conceito de contas nacionais, mais especificamente em uma contabilidade
denominada de Balanço de Pagamentos.

65
Macroeconomia I: Os Princípios que Regem a Economia
UNIDADE
IV
Neste balanço, são registrados os relacionamentos econômicos de brasileiros
(empresas, famílias, setor público) com agentes do “resto do mundo” (outros
países). O Balanço de Pagamentos está dividido em três grupos.

Na Balança Comercial registram-se todas as transações comerciais com o


exterior, isto é, exportações e importações. Exportações são os movimentos de
venda de produtos realizados por brasileiros para outros países; importações são
os movimentos de venda de mercadorias de outros países para o Brasil. A soma do
valor das exportações (normalmente avaliados em dólares dos EUA) subtraída do
valor das importações resulta no saldo da Balança Comercial. Caso o resultado seja
negativo, significa que a Balança Comercial encontra-se deficitária.

No Balanço de Serviços, encontram-se os lançamentos dos pagamentos de


serviços (fatores de produção ou não-fatores). Uma das principais contas neste
balanço são os pagamentos de juros de empréstimos feitos pelos nacionais junto a
credores estrangeiros. Assim, quando um brasileiro toma empréstimos de credores
externos, ele deve pagar juros e amortizações ao credor ao longo do tempo. Os
juros são registrados neste Balanço. Outra conta extremamente importante são os
repatriamentos de lucros de empresas transnacionais. Assim, somam-se os lucros
de empresas brasileiras atuando no exterior (somente a parcela que for repatriada
ao Brasil) e subtraem-se os lucros de empresas estrangeiras que atuam no Brasil e
repatriam seus lucros a suas matrizes no exterior. Compõem ainda o Balanço de
serviços, os pagamentos de fretes, seguros, viagens internacionais, entre outros.
Este último grupo é o de serviços “não-fatores”.

No Balanço de Capitais. Neste balanço são registrados os movimentos e fluxos de


capital entre países. Assim, a entrada de capitais no Brasil, seja para investimentos
financeiros ou para investimentos diretos (formação bruta de capital fixo), é
registrada com sinal positivo neste balanço. Já a saída de capitais é registrada com
sinal negativo.

Finalmente, existe uma conta no balanço de Pagamentos que registra a remessa


de recursos entre nacionais e estrangeiros sem que haja uma contrapartida de
mercadorias, obrigações ou prestação de serviços. Trata-se da conta de transferências
unilaterais. Nesta conta são registradas, por exemplo, as transferências de recursos
de um familiar que trabalha no exterior para sua família no Brasil.

As Contas do Setor Público


Conforme enfatizamos anteriormente, um dos principais agentes da economia
é o setor público, não só pelo seu tamanho e magnitude, mas também pelo
poder que tem em controlar diversas variáveis macroeconômicas e pelas suas
políticas macroeconômicas. Em consequência de sua importância, as finanças e
as contas públicas são seguidas de perto. As políticas econômicas realizadas pelo
setor público podem ser acompanhadas pela contabilidade do governo, sendo
que muitas vezes os gastos e investimentos públicos são as próprias ferramentas
de suas políticas econômicas.

66
Por outro lado, um descontrole nos gastos públicos pode levar a efeitos
indesejados na economia, com um aumento da inflação, entre outros.

Os Agregados Monetários e a Inflação


A moeda tem um papel crucial na economia e é também um tema de extrema
complexidade, devido aos múltiplos efeitos que tem sobre os mais variados
agregados macroeconômicos.

Em razão de sua importância, a quantidade de moeda que circula na economia


é seguida de perto pelo setor público, sobretudo pelo Banco Central, o principal
responsável pelo controle monetário no Brasil. Existem diversos agregados
monetários, mas dois deles são mais importantes. O primeiro deles é a Base
Monetária, o chamado “M1”, consiste no total de papel moeda em poder do
público (famílias, empresas, setor público) somado aos depósitos à vista, isto é,
os depósitos em conta corrente nos Bancos Comerciais. O segundo deles é o
“M2”, ou os “meios de pagamento ampliados”, incorpora o M1 e ainda contas
de poupança e depósitos a prazo. Há ainda muitos outros conceitos de agregados
monetários, evoluindo em graus decrescentes de liquidez.

Complementando os agregados monetários, há diversos controles e índices


que medem a inflação no Brasil. Os índices de inflação são medidas que avaliam
a variação generalizada de preços de determinados grupos de mercadorias. Por
exemplo, o INCC, índice nacional da construção civil, medido pela FGV, apura
a variação dos preços das mercadorias e serviços utilizados na construção civil
mensalmente. Existem inúmeros índices de inflação calculados no Brasil, cada
um servindo um propósito e avaliando a evolução dos preços em determinados
segmentos da economia.

67
Macroeconomia I: Os Princípios que Regem a Economia
UNIDADE
IV
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Economia Descomplicada – Macroeconomia
https://youtu.be/LNdojP3G13Q

Filmes
Trabalho Interno (Inside Job)
2010. Através de uma pesquisa extensiva e entrevistas com economistas, políticos
e jornalistas, ‘Inside Job – A Verdade da Crise’, mostra-nos as relações corruptas
existentes entre as várias partes da sociedade. Narrado pelo ator Matt Damon e
realizado por Charles Fergunson, este pe o primeiro filme que expõe a verdade acerca
da crise econômica de 2008. A catástrofe, que custou mais de 20 trilhões de dólares,
fez com que milhões de pessoas perdessem suas casas e empregos.
https://youtu.be/YamDhfIi6Hs

Leitura
Macroeconomia
BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 5 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.
https://goo.gl/REsgOw
Macroeconomia
ABEL, Andrew B.; BERNANKE, Ben S.; CROUSHORE, Dean. Macroeconomia. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
https://goo.gl/jdijgp

68
Referências
MOCHÓN, F. Princípios de economia. São Paulo: Prentice Hall, 2007

VASCONCELLOS, M. A. S.; ENRIQUEZ GARCIA, M. Fundamentos de Economia.


2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

69
V
Macroeconomia II:
Moedas e Políticas Econômicas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Guilherme Antonio Ziliotto

Revisão Técnico:
Profa. Ms. Herida Cristina Tavares

Revisão Textual:
Profa. Ms. Eliane Negamini
Macroeconomia II: Moedas e Políticas Econômicas
UNIDADE
V
Contextualização
A continuidade do estudo da Macroeconomia levar-nos-á, nesta Unidade, para
o estudo da moeda e de diversas políticas econômicas.

A moeda é um dos elementos mais estudados na economia, por sua importância


e complexidade. Variações na moeda podem impactar diversas outras variáveis da
economia, como o nível de preços e a produção de bens. Veremos, assim, algumas
destas relações.

Mais especificamente, veremos de que forma variações na oferta de moeda


podem gerar inflação, e por que a inflação pode ser extremamente prejudicial para
os negócios e para a economia como um todo.

Ainda estudaremos diversas outras variáveis que influenciam a economia, e como


o setor público tenta controlar tais variáveis para atingir determinados objetivos.
São as chamadas políticas econômicas.

72
O Papel da Moeda na Economia
O estudo da moeda é um dos temas mais interessantes, importantes e, ao mesmo
tempo, complexos da macroeconomia.

A moeda assume um papel essencial dentro do capitalismo, e mesmo de


outros modos de produção, e tem o poder de causar diversos efeitos no ambiente
econômico. Alguns desejáveis, outros indesejáveis. Daí a importância em se estudar
e controlar a moeda, seja qual for a orientação política do governo em questão.

Nos itens seguintes veremos várias destas influências da moeda na economia e


verificaremos também de que forma o controle da moeda (monetário) se converte
em um instrumento de política econômica, além de outros instrumentos de política
econômica, seja contemplando a moeda ou não.

Por que usamos dinheiro?

O dinheiro, mais propriamente expresso no termo genérico “moeda”, é um


instrumento utilizado pelos agentes econômicos para pagamento dos bens que
são trocados entre eles. Quando compramos um determinado produto, damos ao
vendedor certa quantidade de dinheiro, isto é, moeda em troca desta mercadoria.
Estamos utilizando, com isso, a moeda como um intermediário universal das trocas.
Ela permite trocar qualquer mercadoria por qualquer outra mercadoria, desde que
respeitas as magnitudes de valor.

Perceba que o conceito de moeda inclui todos os meios de pagamento uti-


lizados de forma comum pelos agentes econômicos. No caso das sociedades
modernas, utilizamos moeda metálica, papel moeda (as cédulas e notas) e, mais
recentemente, diversas inovações monetárias que nos possibilitam transferir
moeda de forma eletrônica, como por exemplo, as transferências eletrônicas de
pagamento com cartão de débito. Isso não significa que o cartão de débito em
si seja a moeda, mas sim que esse instrumento facilita a transferência da moeda
de um agente a outro. A inovação, nesse caso, está no fato de a moeda perma-
necer em sua forma eletrônica, que é simplesmente um registro nos bancos de
dados dos bancos comerciais.

Em sociedades mais antigas, diversas mercadorias e outros objetos foram


utilizados como moeda. Conchas, sal, gado, entre outros objetos, foram utilizados
largamente. A moeda metálica, em geral utilizando metais nobres, passou a ser
utilizada por ser mais rara, resistente à degradação do ambiente (imagine tentar
comprar algo com sal, em um dia chuvoso), ser divisível (facilitando as trocas de
pequenos valores assim como de grandes valores), entre outras características. As
moedas também passaram a ser cunhadas, e sua emissão passou a ser direito
exclusivo de apenas algumas autoridades de um país ou região. Nos países
modernos, somente os bancos centrais podem imprimir ou criar papel-moeda.1 No

1 Os bancos comerciais conseguem expandir a disponibilidade de moeda, mas não criam moeda propriamente dita.
Mesmo quando podem expandir a disponibilidade de moeda, os bancos comerciais estão sempre sujeitos ao controle
e à regulação dos bancos centrais.

73
Macroeconomia II: Moedas e Políticas Econômicas
UNIDADE
V
modo de produção feudal, para fazermos um paralelo, a moeda metálica somente
podia ser cunhada pelo senhor feudal. Em razão disso, até hoje referimo-nos ao
direito de criar moeda como “direito de senhoriagem”. Isso garante que o estoque
de moeda em circulação na economia possa ser controlado, pois somente valem
como moeda os valores oficialmente criados pela autoridade monetária.

Mas por que utilizamos moeda? Como chegamos ao uso tão abstrato de um
pedaço de metal ou papel que pode representar o equivalente em valor de toneladas
de outros produtos?

Para ilustrar por que utilizamos moeda, vamos pensar em uma situação hipo-
tética. Suponha que há, em uma economia simples, apenas 3 produtores, seus
nomes são “A”, “B” e “C”. Eles produzem, respectivamente, os produtos “PA”,
“PB” e “PC”, que são distintos. Suponha que “A” (que produz “PA”) deseja obter
PB. “B”, que produz PB, deseja obter PC. Enquanto “C”, deseja obter PA. Su-
ponha que esta economia não conheça o uso da moeda. Como seriam feitas as
trocas? “A” não pode trocar diretamente PA com o produtor “B”, pois A deseja
PB, mas B não tem interesse em PA, e sim em PC. Da mesma forma, uma troca
direta entre B e C é impossível, pois B quer PC, mas C quer PA. Assim, a troca
nesta economia só seria possível se os três produtores se encontrassem simulta-
neamente para realizar o intercâmbio. Por exemplo, A daria PA ao C, aceitando
PC em troca. Em seguida, A daria PC ao B, que daria PB em troca. A terminaria,
com PB; B com PC e C com PA.

A
• tem PA
• quer PB

C B
• tem PC • tem PB
• quer PA • quer PC

Figura 1 – Exemplo de esquema de trocas em economia amonetária (sem moeda)

Troca sem Moeda


Mesmo no caso simples de apenas 3 produtores e 3 produtos, as trocas em uma
economia sem moeda são complexas e seria necessário unir os agentes ou realizar
diversas “rodadas” de trocas para que se possa atingir um equilíbrio.

74
Agora imagine tentarmos fazer isso em uma economia real, com milhões de
produtores distintos, com múltiplos interesses em inúmeros produtos distintos.
Seria praticamente impossível que os produtores e consumidores desta economia
conseguissem todos adquirir o que desejam.

A
tem PA

Moeda

C B
tem PC tem PB

Figura 2 – Trocas com o uso da moeda

Troca com Moeda


Comparativamente ao exemplo anterior, as trocas são extremamente facilitadas
pelo uso da moeda.
Troca-se tudo pela moeda, que tem curso obrigatório por lei, e posteriormente
troca-se a moeda pelos demais bens desejados.
Economias capitalistas complexas e com alta especialização e divisão do trabalho só
são possíveis com o uso generalizado da moeda.

Contudo, com o uso da moeda, as trocas são facilitadas. Afinal, trocamos


qualquer produto por moeda, e depois trocamos moeda por qualquer outro
produto (novamente, sempre considerando a troca de valores equivalentes). Um
profissional, por exemplo, oferece seu produto (trabalho) em troca de dinheiro.
Depois, utiliza este dinheiro para trocar pelos muitos de bens que deseja adquirir.

Uma economia de mercado complexa e com alto grau de especialização (divisão


do trabalho) é impossível sem o uso generalizado da moeda.

75
Macroeconomia II: Moedas e Políticas Econômicas
UNIDADE
V
Medidas da Moeda e sua Importância no Brasil
A função que atribuímos à moeda no exemplo anterior foi a de “intermediário das
trocas”, isto é, a moeda atua como facilitador das trocas por ser um representante
universal na troca de qualquer valor da economia.

Além dessa função, a moeda tem outras atribuições.

A moeda também tem o papel de reserva de valor. Ou seja, significa que a


moeda pode ser acumulada, e este acúmulo de moeda permite, em condições
ideais, que o seu proprietário guarde a riqueza no valor equivalente ao que a soma
do valor monetário representa. Dessa forma, o proprietário de um terreno no
valor de R$100 mil é tão rico, em um dado momento, quanto um proprietário de
R$100 mil em dinheiro. Com uma vantagem ao dinheiro que pode ser trocado
por qualquer mercadoria, naquele momento, inclusive pelo terreno. Isto é, quem
possui riqueza na forma de dinheiro “vivo” pode usá-lo instantaneamente para
adquirir qualquer outro bem de soma equivalente. Já o proprietário do terreno
normalmente teria que vendê-lo para somente depois poder adquirir outros bens
com seu valor.

Outra função importante da moeda é atuar como unidade de conta, ou seja,


ser um denominador comum monetário. Isso permite a criação de uma unidade
de valor (tal como o metro é a unidade de medida para comprimentos). Por isso,
medimos o valor das mercadorias em reais, ou R$, porque é uma forma comum
de apreciarmos quanto de valor há embutido em cada mercadoria. Isso permite a
comparabilidade entre elas e a troca de mercadorias de valores iguais.

Quanto custa a moeda? (moeda e juros)

Já verificamos que uma pessoa que tem uma determinada quantidade de moeda
é tão rica quanto uma pessoa que detém bens de valor idêntico. Além disso, a moeda
tem a vantagem de poder ser trocada por qualquer outro bem imediatamente, isto
é, tem liquidez plena e é de curso forçado.

Por que então as pessoas não possuem propriedade exclusivamente em moeda?


Um das respostas a essa pergunta vem do fato de que reter moeda tem um custo.
No exemplo do terreno versus a moeda, a desvantagem de se reter riqueza na
forma de moeda é que, ao longo do tempo, a moeda por si só não produz mais
riqueza, enquanto o terreno poderia produzir rendimentos na forma de um aluguel,
ou mesmo ser cultivado para produção agrícola, entre outras funções econômicas.
Dessa forma, reter moeda tem pelo menos o custo de oportunidade de não se estar
dando um fim mais produtivo àquela riqueza, sendo que em caso de uma aplicação
produtiva essa riqueza provavelmente aumentaria. Já a riqueza na forma de moeda
pura e simples não aumenta.2

2 Salvo no caso de uma deflação crônica, que é um caso raro nas economias capitalistas modernas.

76
O custo em reter moeda é refletido nas taxas de juros de uma economia. Os
juros, aliás, podem também ser vistos como o “preço do dinheiro”. Ou seja, se uma
economia tem juros de 10% ao ano, significa que, para obter R$100 de que você
não dispõe (um empréstimo), você precisará pagar R$10 de juros. Naturalmente,
ao final do empréstimo, você paga os juros de R$10 e ainda precisa devolver o
dinheiro que tomou emprestado. Em uma economia de juros altos como a brasileira,
dizemos que o dinheiro é caro.
Se há um custo em reter moeda (ou tomar dinheiro emprestado), quais seriam
os motivos que levariam pessoas a retê-la mesmo considerando este custo? O
primeiro motivo é a retenção de moeda para que sejam realizadas transações.
Trata-se daquela quantidade mínima de dinheiro que deixamos na forma líquida
para realizarmos os pagamentos necessários em nosso cotidiano.
O segundo motivo é a retenção de moeda por precaução, quando as empresas
e famílias deixam parte da riqueza na forma líquida para eventuais pagamentos não
previstos que possam surgir.
O terceiro motivo é a retenção de moeda por especulação. Neste caso, trata-se
da retenção de moeda com a expectativa de que surjam boas oportunidades de
investimento ou compras a preços mais baixos no futuro.
Nessa relação de custo-benefício, um aumento das taxas de juros desestimula a
retenção de moeda pelas pessoas; por outro lado, uma redução das taxas de juros
irá reduzir custo do dinheiro, estimulando empréstimos e a retenção de dinheiro na
sua forma líquida.

Moeda e Inflação
Além das suas funções, custos e benefícios explorados anteriormente, a moeda
tem ainda a característica de influenciar outras variáveis econômicas, como
a produção, os investimentos, o nível de preços (e a inflação), entre outras, de
forma direta ou indireta. Trata-se, assim, de uma variável chave na economia e na
condução das políticas macroeconômicas.

Uma das principais relações é a relação entre a quantidade de moeda na


economia e a inflação. Existem diversas teorias que tratam do tema, mas nesta
disciplina abordaremos somente uma delas, refletida em uma equação reveladora.

Trata-se da Teoria Quantitativa da Moeda. Segundo tal teoria, há uma relação


entre a quantidade de moeda na economia e os preços de produtos e serviços que
são transacionados. Esta relação está cristalizada na equação descrita a seguir:

M.V=P.Q

Nesta equação, M é a quantidade de moeda na economia (se necessário, relembre


o tema sobre os agregados monetários analisados anteriormente); V é a velocidade
de circulação da moeda; P é o nível de preços; e Q é o nível de produção e renda.
Sendo P o nível de preços, variações positivas de P significam inflação; variações
negativas de P significam deflação.

77
Macroeconomia II: Moedas e Políticas Econômicas
UNIDADE
V
Sendo assim, vamos supor que, em uma determinada economia, consideramos
que V e Q são constantes, em um dado momento. O que ocorre se M aumenta?
A resposta é óbvia: P deve aumentar na mesma proporção. Isso significa que, se
a velocidade de circulação da moeda estiver constante e não houver variação da
produção, um aumento no estoque de moeda será refletido em um aumento do
nível de preços, ou seja, inflação. Portanto, identificamos uma relação clara entre
moeda e inflação.

Em geral, é razoável supor que V seja estável, senão constante, no curto prazo.
Mas Q pode variar. Neste cenário, se M aumenta, para que não haja inflação,
Q deve aumentar na mesma proporção do aumento de M, pois então P ficaria
constante. Ou seja, se houver aumento da produção, M pode aumentar nesta
mesma proporção sem que haja maiores riscos de que se provoque inflação.

Essas identidades são fundamentais no controle monetário e da inflação. São


largamente utilizadas pelos Bancos Centrais para monitoramento e controle da
moeda e suas relações com a produção e o nível de preços.

Um dos principais argumentos usados pelos adeptos da teoria quantitativa da


moeda no combate à inflação é o combate ao déficit público. Isso porque, quan-
do o setor público gasta mais do que arrecada, incorrendo em déficit, ele tem à
sua disposição a possibilidade de emitir moeda para pagar por seus gastos. Ao
fazer isso, o governo está aumentando M. Se isso for feito a uma velocidade
maior que o aumento do PIB (representado por Q), que é de certa forma limi-
tado pela necessidade de investimentos, entre outros aspectos, a consequência
direta é que haverá um aumento de P, portanto inflação. Desta forma, um dos
requisitos da estabilidade de preços e manutenção de baixa inflação é o equilí-
brio das contas públicas.

Existem ainda outras teorias e causas possíveis da inflação, como inflação de


custos, inflação de demanda, inflação oligopolista, entre outras, que não serão
tratadas aqui. Entretanto, o aluno interessado em se aprofundar encontrará
uma vasta literatura à sua disposição para entender o tema. É particularmente
interessante a evolução do pensamento e das teorias de inflação, desde a década
de 1970 até os anos 1990, bem como a ampla experiência brasileira no combate
à inflação crônica que perdurou no país ao longo dessas décadas. O Brasil é
reconhecidamente o país com o maior conhecimento acumulado no assunto e
com maior aparelhamento para seu monitoramento (múltiplos índices de inflação,
órgãos de controle etc.).

Como a inflação alta afeta os negócios?

A inflação afeta os negócios negativamente, de várias formas.

Se tomarmos como referência as funções da moeda, vemos que a sustentação


de altos níveis de inflação destrói cada uma dessas funções, impedindo o bom
funcionamento de qualquer economia de mercado.

78
Quando ocorre inflação, o valor da moeda se deteriora. Significa que, por um
lado, cada vez mais moeda é necessária para comprar a mesma quantidade de
bens. Significa ainda que, se a moeda for retida em sua forma líquida, ela perde
poder de compra. Portanto em um ambiente de alta inflação a moeda não serve
mais como reserva de valor.

Nesse ambiente de variações importantes de preços, aos poucos perde-se a


referência do valor da moeda; afinal, cada dia os preços sobem e não se sabe
mais quanto representa o valor de R$100. Quem se lembra da época de alta
inflação no Brasil, desde a década de 1980 até o ano de 1994, irá se lembrar
que não se podia fazer as contas em moeda local, pois não se conseguia perceber
o significado daquela quantidade de moeda em valor de mercadorias, mesmo
porque os valores mudavam diariamente. Assim, a moeda perdia também a
função de unidade de medida.

Outra consequência da inflação alta é que, ao se reter uma moeda que se


desvaloriza constantemente, perde-se muito poder de compra. Por isso, os agentes
passam a não desejar mais reter tal moeda e ao final passam a não aceitá-la (o que
é um conflito com a legislação que obriga seu uso). Muitas vezes os agentes de
países que convivem com alta inflação passam a tentar utilizar moedas de outros
países, consideradas mais fortes, para suas trocas. No caso brasileiro da década de
1980, houve em parte utilização de dólares pelos agentes, ainda que de maneira
informal. Por vezes utilizam-se metais nobres, como ouro ou prata.

Há ainda outros efeitos da inflação sobre a economia. Talvez o mais devastador


deles seja o desestímulo que causa ao investimento. Isso porque os investidores
precisam de um ambiente estável para tomar suas decisões de investimento. Como
investimentos demoram anos para dar retorno, o investidor precisa estimar sua
rentabilidade futura, seus preços, seus custos, etc., para poder decidir como e se
vai investir. Em um ambiente de alta inflação ou incerteza é impossível prever tais
variáveis, de modo que decisões de investimento acabam por ser postergadas. A
consequência disso é que a economia passa a crescer a taxas mais baixas do que
em um ambiente de inflação controlada.

O governo, através de sua autoridade monetária, pode controlar a oferta de


moeda utilizando vários instrumentos. Os mais populares são: o controle da
base monetária diretamente e da emissão de moeda; a venda ou recompra de
títulos públicos, sendo que a venda de títulos absorve moeda e, portanto, diminui
M; variações na taxa de depósito compulsório, que deve ser obedecida pelos
bancos comerciais, sendo que um aumento do depósito compulsório reduz M;
mudando a regulamentação das políticas de crédito, sendo que uma restrição ao
crédito diminui M (ainda que em graus de liquidez menores); mudança direta nas
políticas de juros, sendo que um aumento nas taxas de juros diminui M; entre
outros instrumentos.

79
Macroeconomia II: Moedas e Políticas Econômicas
UNIDADE
V
Políticas Econômicas
O que são políticas econômicas e o que eu tenho a ver com isso?

Os conhecedores do modo de produção capitalista sabem que o mercado é


uma potente máquina de estímulo à produção e à geração de riqueza, mas não
necessariamente irá realizar, naturalmente ou isoladamente, todos os anseios de
uma sociedade. É comum, por exemplo, que o capitalismo, agindo livremente, tenda
a acentuar desigualdades econômicas e concentrar a riqueza. Assim, é necessário
que haja uma atuação da sociedade, externa ao mercado, que possa produzir os
efeitos que tal sociedade deseja e que estão para além do poder do capitalismo na
sua forma pura. Nas sociedades modernas, essa atuação é, em geral, atribuição do
Estado, ou seja, do setor público.

As políticas econômicas são o conjunto de práticas realizadas por tais agentes que
estão além ou acima do mercado, que têm por função atingir objetivos da sociedade
que o capitalismo por si só não conseguiria produzir. As políticas econômicas
têm os mais variados objetivos, sendo alguns deles, conforme já mencionamos, a
desconcentração de renda, a manutenção de altos níveis de emprego das pessoas
e dos recursos, redução da pobreza, promoção de altos níveis de bem-estar social,
produção de bens públicos, estímulo à concorrência, manutenção de inflação baixa
e um ambiente econômico estável, entre muitos outros.

Determinação de Atividade Econômica e Emprego


Uma das principais políticas econômicas é tentar reduzir ao mínimo o desemprego
dos recursos econômicos, em especial do trabalho. Desemprego é, resumidamente,
a presença de um recurso ou fator de produção que não está sendo utilizado, isto
é, está sendo desperdiçado. Da ótica pura e simples da eficiência econômica, é
bastante irracional o desemprego de recursos, pois significa que há recursos e
fatores capazes e disponíveis para a produção de riqueza, mas que eles não estão
sendo utilizados. Tais fatores podem ser o capital, o trabalho, terras etc.

Em especial, preocupamo-nos como o desemprego do trabalho, tanto pelo


lado da produção que pode ser aumentada se o desemprego for reduzido, como
também pelo lado social, já que é considerado extremamente cruel que pessoas que
somente tenham o trabalho para subsistir, não tenham a opção de vendê-lo. Dessa
maneira, muitas das políticas públicas pretendem aumentar o nível de emprego, ou
em outras palavras, manter baixa a taxa de desemprego na economia.

Existe uma relação próxima entre o nível de produção de uma economia e o seu
nível de emprego. É, também, uma relação de mútua e direta estimulação, o que quer
dizer que, ao aumentar o nível de produção, há um aumento no nível de emprego;
e ao aumentar o nível de emprego, há um novo incentivo ao aumento de produção.
Funciona assim: ao aumentar a produção, digamos, através do investimento feito
por uma empresa de fogões em uma fábrica nova, é preciso empregar pessoas

80
que irão trabalhar na fábrica. Portanto o investimento foi feito e contratam-se
pessoas para que haja o aumento de produção. Mas a própria contratação de
pessoas irá estimular uma segunda onda de aumento de produção. Pois as pessoas
que estavam desempregadas irão estar agora empregadas e recebendo salários e,
consequentemente, com poder de compra que não tinham antes. Isso significa que
irão consumir e, com isso estimular a produção de mais bens. Por isso, costumamos
dizer que, quando se realiza um investimento, o aumento total na produção é maior
do que o próprio investimento, pois há um efeito multiplicador nesse estímulo.

Vamos pensar, agora, nas diversas ferramentas que os governos têm à sua
disposição para aumentar a produção (e a renda) e o emprego. Para isso, vamos
relembrar a equação da renda dada na unidade 4. Dissemos que os gastos de
um país, que equivalem ao seu produto (Y), são a soma dos gastos com bens
de consumo (C), investimentos (I), despesas do setor público (G), somando-se
ainda a exportações (X) e subtraindo-se as importações (M). De forma algébrica,
podemos dizer que:
Y = C + I + G + (X – M)
Assim, para tentar aumentar a renda nacional, o setor público pode tentar
influenciar, direta ou indiretamente, para o aumento de qualquer das variáveis C, I,
G e X, ou para a diminuição de M.

Algumas das políticas de aumento da renda e do emprego seriam:


• Aumento dos gastos ou investimentos públicos, diretamente;
• Estímulo ao consumo provado, com aumento do crédito ao consumo;
• Inventivo ao investimento, via redução das taxas de juros (Selic);
• Estímulo às exportações, com a desburocratização da documentação exigida
pelas autoridades.

Estes são apenas alguns exemplos entre uma infinidade de práticas possíveis.
Outro ponto importante a ressaltar sobre as políticas econômicas é que elas
podem ter múltiplos efeitos, alguns desejáveis e outros indesejáveis. Exemplifica-
damente, um aumento dos gastos públicos pode estimular o aumento da produção
nacional, mas pode também, como explicamos no item anterior, estimular a infla-
ção. Assim, seria como um remédio que traz um benefício, mas, juntamente com
ele, um efeito colateral importante. Em vista disso, o setor público deve utilizar
medidas que tenham os menores efeitos negativos possíveis, como o estímulo ao
investimento privado.

Modelos de Crescimento Econômico e Ciclos de Negócio


O crescimento econômico é um dos objetivos de política econômica mais
perseguido, entre outros fatores, pela maior abundância de bens e prosperidade
que reflete, bem como pelos seus efeitos na capacidade de consumo e emprego de
uma sociedade.

81
Macroeconomia II: Moedas e Políticas Econômicas
UNIDADE
V
Além das políticas que estimulam o crescimento econômico, os economistas
investigam como se dá o crescimento de forma mais autônoma, isto é, através das
próprias forças do mercado e da sociedade, ao longo do tempo. Isso é conhecido
como crescimento endógeno de longo prazo.

Existem muitas teorias que buscam explicar esse crescimento. Na maioria


delas, a oferta é mais importante do que a demanda, isto é, sinaliza-se que, no
longo prazo, as sociedades tendem a desejar consumir tudo aquilo que podem
produzir, mas há um limite técnico e mesmo físico à capacidade de produção de
uma sociedade em um dado momento. Entretanto, o crescimento de longo prazo
é dado justamente pela capacidade das sociedades em alargar estes limites, pouco
a pouco, mas continuamente.

Na teoria neoclássica, um dos principais modelos de crescimento econômico


(“Solow-Swan”), explica o crescimento da capacidade de produção das sociedades
através do desenvolvimento técnico, isto é, da capacidade de criar mecanismos que
aumentem a produtividade do trabalho (novamente, vale aqui o exemplo da fábrica
de alfinetes). Outro modelo, denominado modelo de Domar, enfatiza a poupança
das pessoas e a acumulação de capital de deriva dela, aumentando a capacidade de
produção através do contínuo aumento da capacidade física de produzir.

Existem muitas outras teorias que buscam entender ou explicar por que algumas
sociedades são mais prósperas e têm economias que crescem a velocidade maiores
que outras.

O que é o desenvolvimento?

É a mesma coisa que crescimento?

Mesmo considerada a importância do crescimento econômico, cada vez mais


cresce a concepção de que a abundância de bens é apenas parte do desenvolvimento
de uma sociedade. Existem ainda muitos outros aspectos que levam uma sociedade
a se considerar desenvolvida e, nesse sentido, sociedades com o mesmo nível de
renda per capita podem ter graus de desenvolvimento diferentes. Dessa forma,
podem existir países ricos (com alto PIB per capita), mas menos desenvolvidos do
que outros.

Quais seriam outras características exigidas para o desenvolvimento? A


resposta deve ser dada, mais propriamente, pela própria sociedade que busca esse
desenvolvimento, e está relacionada com seus valores e princípios. Mas em geral,
há alguns fatores normalmente comuns a todas as sociedades.

Em geral, desenvolvimento são as características que levam a sociedade a uma


condição de bem-estar social, além, é claro, da abundância de bens e recursos.
Esse bem-estar é muitas vezes refletido na forma da erradicação da pobreza, da
obtenção do pleno-emprego, da redução da desigualdade social, de altos níveis de
segurança interna e externa, de boas condições de saúde, segurança alimentar,
educação e habitação.

82
Economia e Democracia
Vimos que as sociedades têm desejos que vão além da propriedade e da
abundância material. Um destes anseios, ainda que não seja de ordem econômica,
é normalmente a liberdade, ainda que não seja um valor unânime entre os povos.

Existe uma ligação entre uma economia de mercado e a liberdade de atuação


política e econômica, isto é, a democracia. Não se trata de uma condição de
existência, afinal, há exemplos tão claros como a China, em que predomina uma
sociedade de alto nível de crescimento econômico e, ainda sim, uma sociedade
com poucas liberdades políticas.

No longo prazo, contudo, vimos que há a necessidade de diversas ações estatais


de promoção do crescimento e correções de imperfeições dadas pela natureza do
capitalismo. Assim, sem uma representação política democrática, é possível que o
modelo econômico adotado seja não necessariamente um reflexo dos anseios da
população, mas uma imposição do que as classes políticas dominantes entendem
que seja o melhor modelo. Dessa maneira, é possível que um sistema político
não democrático promova o desenvolvimento e o crescimento econômicos, mas
é também provável que tal sistema venha a destoar, no longo prazo, dos reais
princípios e valores daquela sociedade.

83
Macroeconomia II: Moedas e Políticas Econômicas
UNIDADE
V
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Economia Descomplicada
https://youtu.be/HMPNQJRinKE

Leitura
Macroeconomia
BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 5 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.
https://goo.gl/zwfdCh
Macroeconomia
ABEL, Andrew B.; BERNANKE, Ben S.; CROUSHORE, Dean. Macroeconomia.
São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
https://goo.gl/l7VNcS

84
Referências
MOCHÓN, F. Princípios de economia. São Paulo: Prentice Hall, 2007.

VASCONCELLOS, M. A. S.; ENRIQUEZ GARCIA, M. Fundamentos de


Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

85
VI
Macroeconomia III: Setor Externo

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Herida Cristina Tavares

Revisão Textual:
Profa. Vera Lídia de Sá Cicarone
Macroeconomia III: Setor Externo
UNIDADE
VI
Contextualização
“Política cambial não muda, ela veio para ficar”, diz Mantega

Por Eduardo Campos, Edna Simão, Lucas Marchesini, Ligia Guimarães


e José de Castro | Valor

Atualizado às 13h25 BRASÍLIA – O câmbio é flutuante sim, mas, se exagerar na dose,


a gente vai lá e conserta. Essa foi a conclusão do ministro da Fazenda, Guido Mantega,
ao falar sobre a política cambial no Brasil durante o Encontro Nacional de Prefeitos e
Prefeitas, nesta quarta-feira.“A política cambial não muda, ela veio para ficar”, disse
o ministro. “Não permitiremos variação especulativa. Aviso aos navegantes”, alertou,
dizendo que a moeda pode flutuar, mas “dentro de um patamar”, sem precisar qual
patamar é esse. “Não espere que o câmbio venha a derreter.”
O ministro frisou que o câmbio brasileiro é flutuante e que o importante é manter a
estabilidade da taxa. Segundo Mantega, a elevada volatilidade prejudica os exportadores.
Ele complementou que as empresas continuarão sendo estimuladas a exportar. Segundo
o ministro, junto com a queda de juros e as desonerações, a política cambial é uma “força
poderosa” para dar competitividade à economia. De acordo com Mantega, “estávamos
com o real muito valorizado” e as ações tomadas nesse campo foram importantes para
dar competitividade à indústria. “O real é mais competitivo”, disse.“Estávamos com
um câmbio muito valorizado, com o real valorizado. O pessoal que ia para o exterior
gostava disso, e se ressentiu um pouco. Em compensação, isso deu competitividade para
a indústria brasileira”, afirmou.
“Para nós, é mais importante ter a indústria, que vai aumentar o salário, do que deixar
a indústria atrofiar baseada em vantagem cambial [dos outros]”, acrescentou durante
a palestra.

Para Mantega, o Brasil sofreu uma “enxurrada” de importados em 2011 porque,


segundo o ministro, “o câmbio de certos países estava manipulado para baixo”.

Câmbio e Inflação
O ministro da Fazenda disse que a taxa de câmbio não é instrumento de política monetária.
“Não é instrumento para abaixar preços”, declarou, ressaltando que o instrumento para
isso é a taxa de juros. Mantega reconheceu, no entanto, o impacto da valorização do
dólar de cerca de 20% no ano passado sobre a inflação de 2012.
Segundo ele, se o dólar não tivesse se valorizado, o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) de 2012 teria sido de 0,4 ponto percentual a 0,5 ponto
percentual menor do que o 5,84% registrado. Ainda assim, disse ele, esse é um fenômeno
que não se repete. Agora em 2013 não há pressão inflacionária em função da taxa de
câmbio, pois ela está mais estabilizada. “No ano passado tivemos a elevação do dólar,
que nós apoiamos, agora não temos isso. O câmbio caminha para um patamar mais
adequado”, disse.
Fonte: Jornal Valor Econômico
Explor

Para ler o artigo completo, acesse: https://goo.gl/99sO57

88
O que é Taxa de Câmbio?
Taxa de câmbio é o preço de uma moeda estrangeira em moeda nacional. Ou
seja, é a taxa com a qual duas moedas diferentes podem ser trocadas. Por exemplo,
a cotação do dólar é 2 reais, ou seja, cada 1 dólar vale 2 reais.
Explor

Saiba mais em: http://www.bcb.gov.br/?txcambio

A Importância do Câmbio em Âmbito Nacional


A taxa de câmbio influencia o nível de produção e do emprego do país, conforme
as variações nas exportações e nas importações. Também impacta na taxa de
inflação, pois, se um produto ou insumo importado se torna mais caro, o país sofre
uma pressão nos preços. Por isso, os Governos tentam regulamentar e manipular
a taxa de câmbio.
Explor

Inflação: Aumento generalizado e contínuo dos preços.

Por que variações nas exportações e nas importações podem afetar o nível de produção
Explor

de um país?

A Importância do Câmbio para o Comércio Internacional


Para os países realizarem transações, eles precisam ter a cotação de suas moedas.
Chamamos o comércio de moedas de mercado cambial. O comércio entre os
países seria impossível sem a taxa de câmbio, pois, por exemplo, se um produto
vale 100 dólares, o importador brasileiro precisa trocar reais por dólares. Assim,
se a taxa de câmbio estiver em 2,00 Reais/Dólar, o importador brasileiro precisará
de 200 reais para comprar o produto.
Explor

Saiba mais em: https://goo.gl/lcQYdc

Dado que a moeda é um produto como qualquer outro, o que determina seu
preço são as forças de oferta e demanda.

No Brasil, tem-se, por exemplo, oferta e demanda por dólares:

89
Macroeconomia III: Setor Externo
UNIDADE
VI
Oferta de Moeda
Os principais ofertantes de moedas (dólares) são:
• Exportadores brasileiros: Os exportadores brasileiros vendem seus produtos
a outros países e recebem em moeda estrangeira.
• Investidores estrangeiros: Os investidores estrangeiros possuem moeda
do seu país e, quando decidem investir no Brasil, têm que trocar sua moeda
estrangeira pelo Real.
• Turistas estrangeiros: Os turistas estrangeiros vêm para o Brasil com a moeda
de seu país, porém, para consumir no Brasil, necessitam trocá-las por Real.
• Tomadores de Empréstimos no exterior e outros: Os bancos estrangeiros
possuem a moeda de seu país e os agentes brasileiros que tomam empréstimos
externos devem trocar a moeda por Real.

Demanda por Moeda


Os principais demandantes de moedas (dólares) são:
• Importadores de mercadorias norte-americanas, que necessitam de
dólares. Quem importa qualquer mercadoria deve pagar por ela na moeda do
país de origem do produto.
• Remessa de lucro. Empresas estrangeiras que atuam no Brasil e recebem em
reais, procuram a moeda de seu país de origem para enviar os lucros.
• Turistas brasileiros. Os turistas brasileiros, quando viajam para o exterior,
devem levar consigo a moeda de cunho forçado do país de destino.
• Investidores Nacionais. Qualquer investidor brasileiro que deseje atuar no
exterior deve possuir a moeda do país no qual deseja investir.
• Agentes que necessitam de dólares para saldar dívidas contraídas no exterior
e outros.

Em tese, o equilíbrio entre a demanda e a oferta das diferentes moedas ocorre na


definição da taxa de câmbio. Essa tendência ao equilíbrio se dá devido ao mercado
de moedas ter homogeneidade dos produtos e à transparência do mercado, causada
pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e pelo grande número de pessoas
que transacionam nesse mercado.

As oscilações na demanda e na oferta de determinada moeda devem condu-


zir as modificações no equilíbrio desse mercado (taxa de câmbio). Pode, assim,
ocorrer uma:
• Valorização cambial ou apreciação cambial: ocorre quando aumenta
o poder de compra da moeda nacional perante outras moedas. Fator que
representa uma queda da taxa de câmbio.

90
• Desvalorização cambial ou depreciação cambial: representa uma perda do
poder de compra frente outras moedas, o que corresponde a um aumento da
taxa de câmbio.

Trocando ideias...Importante!
Uma diferenciação importante para avaliar a competitividade dos produtos nacionais é
a que existe entre a taxa de câmbio real e a nominal. A taxa de câmbio real é a taxa de
câmbio nominal deflacionada pela razão entre inflação doméstica e inflação externa.
Dessa forma, se a desvalorização nominal superar a variação da inflação, o produto
nacional torna-se mais competitivo, ou seja, mais barato.

É obvio que a competitividade do produto nacional é diretamente influenciada


pelo patamar da taxa de câmbio vigente, pois a desvalorização cambial aumenta
a competitividade dos produtos do país, já uma valorização cambial reduz a
competitividade. Devido a isso, os países procuram desvalorizar sua taxa de câmbio
para aumentarem suas exportações. Porém, se todos os países procuram usar esse
artifício para aumentar sua competitividade, ocorre a chamada guerra cambial ou
guerra comercial.

Guerra Cambial/Comercial: quando os países desvalorizam ou mantêm sua taxa de câm-


Explor

bio desvalorizada para estimular as exportações.

Outra artimanha dos países para manipular a taxa de câmbio é utilizar a política monetária.
Explor

Por exemplo, conforme aumenta a taxa de juros, aumenta o ingresso de fluxo de capital no
país, fator que pressiona o câmbio para uma valorização.

Importante! Importante!

Quando aumenta a taxa de juros...


• Incentiva o ingresso de recursos financeiros do exterior;
• Instrumento anti-inflacionário;

Regimes Cambais
O Banco Central de cada país pode determinar o regime cambial vigente. Esse
regime cambial pode ser definido da seguinte forma: câmbio fixo e câmbio flutuante.

91
Macroeconomia III: Setor Externo
UNIDADE
VI
Explor
Saiba mais em: http://www.bcb.gov.br/?txcambio

Taxa de Câmbio Fixa


O Banco Central fixa a taxa de câmbio, assim o ajuste é via oferta e demanda de
divisas naquele valor. Porém podem ocorrer pressões nesse regime cambial.

Se ocorrer excesso de oferta, para manter a taxa de câmbio fixa, o Banco Central
compra a moeda estrangeira, a fim de evitar a valorização da taxa de câmbio.

O contrário é verdadeiro: se ocorrer excesso de demanda por moeda estrangeira,


o Banco Central vende moeda, assim a moeda nacional não desvaloriza.

Desse modo, com o regime de câmbio fixo, as oscilações da oferta e da demanda


de moeda não fazem variar a taxa de câmbio, pois o Banco Central intervêm para
manter o equilíbrio naquela taxa fixada.

Por que ter uma Taxa de Câmbio Fixo?


A vantagem do câmbio fixo é o maior controle da inflação, pois evita aumentos
de preços dos produtos importados. Já, entre as desvantagens, está o fato de que
o Banco Central deve manter reservas cambiais, que ficam vulneráveis aos ataques
especulativos. Com isso, a política monetária do país torna-se passiva, uma vez que
fica dependente da situação cambial, pois, caso a demanda por moeda aumente e
as reservas do Banco Central se esgotem, o Banco Central precisa aumentar a taxa
de juros para atrair moeda estrangeira.

Taxa de Câmbio Flutuante


O mercado determina a taxa de câmbio; assim o preço flutua para garantir o
equilíbrio entre a oferta e a demanda.

“Suja”: o Banco Central intervêm comprando/vendendo divisas. Geralmente isso


ocorre com o objetivo de evitar grandes oscilações na taxa de câmbio, que podem
prejudicar negócios já fechados em outra taxa de câmbio.
Bandas cambiais: o governo admite flutuação da taxa de câmbio dentro de um limite.

Impactos
Como vimos, a taxa de câmbio é uma das variáveis macroeconômicas importan-
tes para a economia. Seus impactos ocorrem em diversas outras variáveis macro-
econômicas, como veremos.

92
Exportações e importações
(Balança Comercial)
Uma desvalorização cambial pode aumentar as exportações e reduzir as impor-
tações, pois o produto nacional torna-se mais barato e o importado, mais caro.
Já uma valorização cambial pode aumentar as importações e reduzir as
exportações, já que o poder de compra da moeda nacional aumenta e, dessa forma,
é possível comprar com o mesmo valor mais produtos de outros países.
Por exemplo, um perfume que custa 100 dólares, se a cotação do dólar for
de US$/R$1 (patamar considerado como valorizado), o perfume sairá por 100
reais. Já se houver uma desvalorização para o patamar de US$/R$ 4, o mesmo
perfume aumentará para 400 reais. Logo, neste novo patamar, haverá uma
redução das importações, pois o preço do produto quadriplicou. Da mesma forma,
as exportações aumentarão, pois, com o mesmo um dólar, o estrangeiro comprará
mais produtos do Brasil.
Exemplo
Cotação Custo Taxa de Importação Taca de Exportação
US$/R$1 R$ 100,00 Maior Menor
US$/R$4 R$ 400,00 Menor Maior

Inflação
Com uma valorização cambial, ocorre o que chamamos de âncora cambial.
São dois os fatores que seguram a taxa de inflação. Primeiro: com o aumento das
importações, aumenta a concorrência, fator que tende a pressionar a redução dos
preços nacionais. Segundo: com a queda do preço dos produtos importados, os
produtos são vendidos no Brasil por um preço mais baixo. Além disso, os produtos
nacionais que possuem algum insumo de produção terão seus custos reduzidos,
logo poderá haver uma redução dos preços.

Âncora cambial: quando o governo mantém ou valoriza o câmbio para reduzir a taxa
Explor

de inflação.

O contrário é verdadeiro, uma desvalorização cambial tende a aumentar a taxa


de inflação.

Dívida Externa
Com a desvalorização cambial, aumenta o estoque da dívida externa em reais,
não afetando seu saldo em dólares. Por exemplo, se o Brasil possui uma dívida
de 1 bilhão de dolares e o câmbio desvaloriza, a sua dívida continuará 1 bilhão de
dolares, mas aumentará em reais.

93
Macroeconomia III: Setor Externo
UNIDADE
VI
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Banco Central do Brasil
http://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/home

94
Referências
GREMAUD, Amaury Patrick; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de
TONETO Jr, Rudinei. Economia Brasileira Contemporânea. 7ª ed. São Paulo:
Atlas, 2008.

LACERDA, Antonio Correa de. Economia Brasileira. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

MANKIW, N. G.. Introdução à Economia. São Paulo: Pioneira Thompson


Learning, 2005.

PASSOS, Carlos Roberto Martins e NOGAMI, Otto. Princípios de Economia. 5ª


ed. SP: Thomson, 2005.

PINHO, D. B., VASCONCELLOS, M. A. S. de. (Org.). Manual de Economia:


equipe de professores das USP. 5ª edição. São Paulo: Saraiva, 2006

SILVA, César R. L. e LUIZ Sinclair. Economia e Mercados – Introdução à


economia. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

VASCONCELLOS, M. A. S.. Economia Micro e Macro. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2001.

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