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E TRIBUTÁRIO I
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
CDD 343.03
Prefácio 9
Despesa pública 20
O que é despesa pública? 20
Classificações 20
Legalidade da despesa pública 21
Estágios da despesa 21
Precatórios judiciais 22
Receita pública 22
O que é receita pública? 22
Classificações 23
Renúncia de receita 23
Crédito público 24
O que é crédito público? 24
Classificações 24
Técnicas instrumentais 24
Vedações legais 24
Orçamento público 25
O que é o orçamento público? 25
Processo de elaboração 25
Tribunal de contas 26
O que é o tribunal de contas? 26
Qual é a função do Tribunal de Contas? 26
Controle e fiscalização 27
Estrutura e organização 27
O que é o tributo? 38
Conceitos doutrinários 38
Conceito legal 39
Espécies tributárias 44
Teoria bipartite 44
Teoria tripartite 44
Teoria quadripartite 45
Teoria pentapartite 45
Competência tributária 46
Conceito 46
Atributos 46
Conflitos 48
Capacidade tributária ativa 50
Espécies de competência 51
Hermenêutica 77
Interpretação 77
Integração 83
Interpretação econômica 85
Prezados(as) alunos(as),
9
Nosso estudo começa pela função financeira do Estado e termina com a
identificação de quem deve pagar o tributo.
Bons estudos!
10
1
Atividade financeira
do estado
Atividade financeira do estado
Introdução
OBJETIVOS
• Compreender o que é o Direito Financeiro;
• Identificar a Atividade financeira do Estado diante das demais atividades do Estado;
• Conhecer os princípios do Direito Financeiro;
• Identificar as fontes do Direito Financeiro;
• Conhecer os elementos e objetos da atividade financeira do Estado pela análise de seus
conceitos e classificações: despesa, receita, crédito e orçamento públicos;
• Identificar a aplicação desses institutos na atividade financeira do Estado e seus mais impor-
tantes problemas: legalidade da despesa, renúncia, controle do crédito e do orçamento público;
• Compreender os métodos de controle e fiscalização do orçamento público;
• Identificar a função e a estrutura dos tribunais de contas;
• Apreender os limites e vedações impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
capítulo 1 • 12
O que é a atividade financeira do estado?
Vamos aqui traçar elementos-chave para essa atividade. Procure sempre identificar sua
presença ou ausência e saiba que, se presentes os três elementos a seguir, estamos diante
da atividade financeira do estado que deve se submeter às regras do direito financeiro.
capítulo 1 • 13
Presença indispensável de uma pessoa jurídica de direito público
Nem toda atividade estatal será uma atividade financeira. Então separemos
aqui apenas as atividades de conteúdo econômico, aquelas que dizem respeito à
obtenção de recursos e realização de gastos. A entrada e saída de dinheiro e de bens
públicos de forma geral interessam ao Direito Financeiro.
Não se preocupa o Direito Financeiro em regular quem será a pessoa indicada
para ocupar um determinado cargo público. O Direito Financeiro se preocupa
mais com a questão de efetuar o pagamento à pessoa certa para o fim de não ter
capítulo 1 • 14
de realizar uma despesa maior. O procedimento de escolha de um servidor ou
funcionário público é tema do Direito Administrativo.
Assim, já podemos antecipar que, como outras disciplinas, o Direito Financeiro
guardará uma relação evidente com o Direito Administrativo. Enquanto um é o
agir mais essencial do Estado, o outro regula como fazer esse agir acontecer diante
de uma sociedade que se relaciona por questões financeiras.
Poder financeiro
capítulo 1 • 15
O poder de executar/administrar é aquele que faz cumprir essa lei, executando
as despesas, percebendo as receitas e os créditos públicos. É a essência do dia a dia
da Atividade Financeira do Estado.
O poder de julgar, ou a função jurisdicional, não possui nenhuma peculiari-
dade aqui. No Brasil, há um consenso de que a jurisdição é una. Assim sendo, não
há um poder judiciário especial para dirimir esses conflitos.
2 Ferreira, J. R. G. Os princípios do direito financeiro. Disponível em: <https://goo.gl/9M9OER>. Acesso em: 13 fev. 2017.
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Seguindo a linha de se relacionar aos princípios do art. 37 da CRFB/88, a publi-
cidade também é importante, pois trata-se de erário público. É importante que tudo
seja divulgado nos veículos oficiais de comunicação para conhecimento público.
O princípio da unidade, que não está expresso na Constituição, é, portanto,
um princípio implícito, mas referido no art. 2º da Lei 4.320/64 e implícito no
art. 165, § 5º, da CRFB/88. Ele preconiza que o orçamento deve ser uno, deve
haver um só para cada ano. Deve ser integrado, e assim o ideal é que seja apenas
uma lei orçamentária.
O princípio da totalidade, erigido pela doutrina, possibilita a coexistência de
múltiplos orçamentos que devem ser consolidados. É o que podemos extrair do art.
165, § 5º, ao fazer a leitura de seus incisos que determinam a previsão do orçamento
fiscal, orçamento da seguridade social e orçamento de investimentos das estatais.
O princípio da universalidade estabelece que o orçamento deve conter to-
das as receitas, todos os recursos, todas as despesas. É importante que isso seja
observado, pois veremos que o orçamento nada mais é do que o instrumento de
autorização para a gestão fiscal. Aliás, na CRFB/88 tivemos a inovação de incluir
no próprio orçamento até as operações de crédito.
O princípio da anualidade, chamado por alguns de periodicidade, determina
que o orçamento deve ser elaborado para ter vigência no período de um ano, que
vai, no Brasil, de 01 de janeiro a 31 de dezembro. Em verdade, apresentam-se
como exceção a esse princípio os créditos especiais e extraordinários autorizados
nos últimos quatro meses do exercício, reabertos nos limites de seus saldos, que se-
rão incorporados ao orçamento do exercício seguinte. Não se deve confundir esse
princípio com o não mais vigente princípio da anualidade tributária. Para a anua-
lidade tributária, era exigida uma autorização anual para que o tributo pudesse
ser cobrado. Faltasse essa autorização, o tributo estaria suspenso para aquele ano.
Outro princípio de grande relevo é o da exclusividade orçamentária. Ele aboliu
uma prática muito antidemocrática que consistia em fazer incluir nas disposições
finais regras que não tinham relação com o conteúdo próprio do orçamento – as
então denominadas caudas orçamentárias. Assim, o orçamento só deve conter a pre-
visão da receita, a fixação da despesa e a autorização para a operação de crédito e
abertura de créditos suplementares. Qualquer outro tema é estranho ao orçamento e
inconstitucional. Esse princípio está explícito no art. 165, § 8º, da CRFB/88.
Pelo princípio da especificação (especialização ou discriminação), as receitas e
despesas devem estar bem definidas no orçamento, com suas origens e aplicação,
para que se possa acompanhar e controlar os gastos públicos. Isso pode ser referido
nos arts. 5º e 15 da Lei 4.320/64.
capítulo 1 • 17
O princípio da não afetação ou não vinculação das receitas aplica-se claramen-
te somente aos impostos por determinação do art. 167, IV, da CRFB/88. Veremos
que esse é inclusive o elemento diferenciador do imposto em relação aos demais
tributos. Há algumas exceções constitucionais que tratam da repartição do produ-
to da arrecadação de alguns tributos, da destinação de recursos para manutenção
e desenvolvimento do ensino e prestação de garantias às operações de crédito por
antecipação de receita.
O princípio do orçamento bruto é um princípio antigo que estabelece que as
receitas e as despesas devem aparecer no orçamento em seus valores brutos – sem
deduções. Com isso, impede-se a inclusão de valores líquidos ou saldos que podem
confundir a leitura do orçamento. Esse princípio está no art. 6º da Lei 4.320/64.
Princípios implícitos são os da clareza ou objetividade que preconiza que a
linguagem do orçamento seja clara e objetiva, compreensível a todas as pessoas
que precisem manipular. É claro que isso não é fácil de ser aplicado em virtude
dos critérios contábeis. E há ainda o princípio da exatidão, segundo o qual as esti-
mativas devem ser as mais exatas possíveis, de forma a garantir consistência como
instrumento de programação.
O último princípio, após a EC 95/2016, podemos extrair da CRFB/88. Com
mais clareza, é o do equilíbrio. O equilíbrio antes restringia-se à questão das opera-
ções de crédito e as despesas de capital. A ideia não é nova: parte dos anos 30, pois
se busca evitar o déficit público. Apesar de na prática ser difícil obedecê-lo, há agora
metas que, segundo muitos especialistas, chegam a sacrificar as despesas sociais mais
importantes de uma nação. Antes o endividamento só era expressamente admitido
para a realização de investimentos ou abatimento da dívida. Agora há restrições ao
crescimento das despesas como forma de controlar o endividamento público.
capítulo 1 • 18
Constituição Financeira
Leis orçamentárias
capítulo 1 • 19
Despesa pública
A despesa pública é a soma ou conjunto dos gastos realizados pelo Estado. Assim,
a despesa é tudo aquilo que o Estado paga, o que sai de sua conta para alguma conta.
Classificações
Nesse ponto, é interessante destacar como as despesas virão no orçamento; para isso,
é forçosa a leitura dos art. 40 E 41 da lei 4.320/64. Nesse sentido, as despesas virão
originariamente no orçamento como créditos orçamentários. Eventuais alterações que
possam ocorrer no decorrer do ano serão feitas, em regra, através de lei ordinária, com
a abertura de créditos adicionais que serão suplementares, quando destinados a reforço
de dotação orçamentária, ou especiais, quando destinados a despesas para as quais
não haja dotação orçamentária específica. Excepcionalmente, o conteúdo do orçamento
poderá ser objeto de medida provisória, conforme autorização expressa do art. 167, § 3º,
da constituição, para abertura de créditos extraordinários quando destinados a despesas
urgentes e imprevistas em caso de guerra, comoção intestina ou calamidade pública.
capítulo 1 • 20
Quanto à regularidade, temos as despesas ordinárias – realizadas para manuten-
ção dos serviços públicos, em que se repetem todos os exercícios - e as extraordinárias
– de caráter excepcional, esporádico, em virtude de circunstância não constante.
Quanto à afetação patrimonial, a despesa pode ser efetiva – aquela que reduz
a situação líquida patrimonial do Estado - e a não efetiva – aquela que não gera
nenhuma alteração na situação líquida patrimonial do Estado.
Quanto à competência, elas podem ser federais, estaduais, distritais e municipais.
Quanto ao resultado, as despesas podem ser produtivas quando se limitam a
criar unidades de atuação estatal, reprodutivas quando representam o aumento da
capacidade produtora do país e improdutivas quando desnecessárias.
Estágios da despesa
capítulo 1 • 21
Precatórios judiciais
Receita pública
capítulo 1 • 22
públicas são receita, pois alguns deles estão sujeitos à restituição, por exemplo.
Nesse caso, são ingressos, mas não receitas, e se sujeitam a regras distintas.
Aqui é importante fazer a distinção entre ingresso e receita: “Considera-se in-
gresso toda quantia recebida pelos cofres públicos, seja restituível ou não, daí tam-
bém ser chamado simplesmente de entradas”.4 Assim, receita é o ingresso definitivo.
Classificações
Renúncia de receita
capítulo 1 • 23
A LRF impõe, portanto, restrições e condições para essa renúncia que estão
estabelecidas em seu art. 14. De maneira resumida, podemos dizer que a renúncia
de receita está condicionada a uma estimativa de impacto e a uma de duas me-
didas: medida de compensação que evite seu resultado ou previsão orçamentária.
Dessa forma, o equilíbrio do orçamento estaria mantido.
Crédito público
Classificações
Técnicas instrumentais
Vedações legais
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quadrimestre em que se ultrapassar os limites de despesa com pessoal ou quando
se exceder o limite de dívida consolidada e no último ano de mandato.
Orçamento público
Resumidamente, o orçamento pode ser definido como uma lei em sentido formal (pois
tem forma de lei), uma lei temporária (pois tem vigência por período determinado) e uma
lei ordinária, e é uma lei especial.
Processo de elaboração
O orçamento terá início com um texto elaborado pelo Poder Executivo e en-
tregue ao Poder Legislativo para discussão, aprovação e conversão em lei. Ele deve
ser composto, a depender da existência das estruturas em cada ente federativo, do
orçamento fiscal, do orçamento da seguridade social e do orçamento de investi-
mento das empresas estatais.
O PPA deve ser elaborado no primeiro ano de governo e encaminhado até
31 de agosto desse ano. Ele está previsto no art. 165 da CRFB/88 e se destina a
apontar de que forma serão organizadas as ações públicas destinadas, objetivando
o cumprimento dos fundamentos e os objetivos de governo. Na realidade, nele é
declarado o conjunto das políticas públicas do governo para um período de quatro
anos, com fundamento, em princípio, nos compromissos firmados na eleição.
A LDO é feita a cada ano e deve ser enviada ao Poder Legislativo até o dia 15
de abril de cada ano, e sua finalidade é orientar a elaboração do orçamento anual e
sua execução, estabelecendo diretrizes, objetivos e metas para aquele ano. A LOA
é o próprio orçamento e deve ser apresentada até o dia 31 de agosto. Ela deve ser
votada e aprovada até o final de cada legislatura.
capítulo 1 • 25
Tribunal de contas
capítulo 1 • 26
e, conforme previsão constitucional (art. 71, VIII a XI), na hipótese de ilegalidade
ou irregularidade das contas.
A sexta é a corretiva, pois, havendo ilegalidade ou irregularidade nos atos de
gestão, caberá ao Tribunal de Contas estabelecer prazo para cumprimento da lei,
e, se não atendido o ato administrativo, o Tribunal de Contas deve determinar a
sustação do ato impugnado.
A sétima função é a função de ouvidoria, pois é de sua responsabilidade rece-
ber denúncias e representações relativas a irregularidades ou ilegalidades que lhe
sejam comunicadas pelos responsáveis pelo controle interno, autoridades, partidos
políticos, associações, sindicatos e até mesmo o cidadão.
Controle e fiscalização
Estrutura e organização
capítulo 1 • 27
Lei de responsabilidade fiscal, lc 101 de 04 de maio de 2000 (LFR)
Histórico
Natureza jurídica
capítulo 1 • 28
uma lei nacional, já que deve ser observada pelos três níveis: federal, estadual e
municipal. Assim sendo, apenas por um processo legislativo mais complexo pode
se tratar da matéria, e essa lei se aplica a todos os entes da federação.
Principais regras
Disposições preliminares
Planejamento
capítulo 1 • 29
próprio, o refinanciamento da dívida. As despesas devem estar previstas de forma
clara e delimitada para um único exercício financeiro – mesmo que essa dotação
para além do ano esteja contemplada no PPA.
Esse planejamento é tão meticuloso que, trinta dias após a publicação dos or-
çamentos, deverão ser estabelecidos uma programação financeira e o cronograma
de execução mensal de desembolso. E haverá limitação do empenho e movimen-
tação financeira se, ao final do bimestre, verificar-se que não é possível atender às
despesas. Além disso, em maio, setembro e fevereiro o executivo fará demonstra-
ção e avaliação do cumprimento das metas fiscais em audiência pública.
Receita Pública
Despesa Pública
O primeiro ponto de atenção é a geração de despesa que veda aquelas que não
estejam estimadas no orçamento e nos dois subsequentes, além da declaração do orde-
nador de que seu aumento tem adequação orçamentária e financeira compatível com
a LDO e o PPA. Ou, ainda, que seja uma despesa obrigatória de caráter continuado.
Regra importante é o limite de despesas com pessoal, que inclui os ativos,
os inativos e os pensionistas, relativo a mandatos eletivos, cargos, funções ou
capítulo 1 • 30
empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remu-
neratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proven-
tos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas
extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e
contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência.
Assim, são estabelecidos limites: União, 50% (2,5% para o Legislativo e TCU,
6% para o Judiciário, 40,9% para o Executivo e 0,6% para o Ministério Público da
União); Estados e DF, 60% (3% para o Legislativo e TCE, 6% para o Judiciário,
49% para o Executivo e 2% para o Ministério Público dos Estados); e Municípios,
60% (6% para o Legislativo e Tribunal de Contas do Município, quando houver,
e 54% para o Executivo).
E, para controlar essas despesas, algumas condutas foram consideradas nulas, como
aquelas que comprometem o limite legal e as que não seguirem a sua forma de geração.
Transferências voluntárias
capítulo 1 • 31
Dívida e endividamento
capítulo 1 • 32
Regula as relações entre o Banco Central e os entes da Federação, relativamen-
te à compra de título da dívida, à permuta de título da dívida de ente da federação
por título da dívida pública federal e à concessão de garantia.
Trata ainda da garantia e da contragarantia que os entes poderão conceder em
operações de crédito. E ainda de restos a pagar, impondo limitações temporais que
guardam relação com o final do mandato.
Gestão patrimonial
capítulo 1 • 33
ATIVIDADE
A Lei 13.414, de 10 de janeiro de 2017, estabelece o orçamento anual para o exercício
financeiro de 2017, com vigência de 01 de janeiro a 31 de dezembro do mesmo ano. Ela esti-
ma a receita da União para R$ 3.505.458.268.409,00 e fixa despesa de igual valor. Ela trata
do orçamento fiscal, da seguridade social e de investimentos das empresas em que a União
detém a maioria do capital social com direito a voto. Esse orçamento estima o crescimento
do PIB (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) em 1,3% e em 4,8% a inflação.
Desse valor total, os gastos com juros e amortização da dívida pública devem consumir R$
1,7 trilhão. A receita corrente líquida estimada é de R$ 1.486.361.613.706,00. Além disso,
R$ 6.884.847.793,00 é o total de gastos com pessoal previsto no orçamento. Identifique,
segundo as informações dadas, quais os princípios que estão sendo seguidos, indicando, se
for o caso, os dispositivos aplicáveis.
GABARITO
Resposta: O caso apresenta dados do orçamento real de 2017. Nesse sentido, quanto
à sua vigência é observado o princípio da anualidade. Quanto à estimativa de receitas e
fixação de receitas, há um claro equilíbrio orçamentário, o que se coloca em consonância
com a Emenda Constitucional 95/2016 e a preocupação do crescimento das despesas. Por
fim, o limite de gastos com pessoal está em consonância com o disposto no artigo 19 da
LC 101/00, pois os valores de despesa com pessoal não somam 50% da receita corrente
líquida estimada.
REFLEXÃO
Este capítulo abordou questões que vêm ocupando as discussões centrais de nosso dia
a dia. A questão financeira foi capaz de levar uma Presidente da República a sofrer impeach-
ment. Neste capítulo, introduzimos o tema do Direito Financeiro.
Para isso, cuidamos de definir a Atividade financeira do Estado – o conjunto de ações do
Estado concernentes à obtenção de recursos para a realização de despesas voltadas ao atendi-
mento das necessidades públicas. É por isso que tem como elementos a presença indispensável
de uma pessoa jurídica de direito público, atividade de conteúdo econômico e instrumental.
capítulo 1 • 34
Muitos princípios orientam o direito financeiro: alguns deles, positivados; outros, não.
Todos eles merecem um estudo cuidadoso em razão da importância do tema.
Muitas das regras do Direito Financeiro se encontram hoje na Constituição, que reser-
vou o tratamento de suas normas gerais para lei complementar. Essas leis hoje são a Lei
4.320/64 – recepcionada com status de lei complementar - e a LC 101/00 – Lei de Res-
ponsabilidade Fiscal. As leis orçamentárias são leis concretas e leis ordinárias de iniciativa
do poder executivo.
Para um estudo mais detalhado, forçoso é conhecer os elementos dessa atividade es-
tatal. E começamos pela despesa Pública – soma dos gastos realizados pelo Estado para
atender a suas necessidades. Na sequência, estudaremos os recursos públicos, a receita
pública – recursos que se incorporam ao patrimônio público - e o crédito público – recursos
que não se incorporam ao patrimônio público.
Tudo isso estará consolidado no Orçamento Público, tema central do estudo e lei que
consolida toda essa previsão e planejamento.
O estudo não estaria concluído sem que fosse feita a análise do controle e da fiscaliza-
ção. Esse controle poderá ser interno em decorrência do poder de autotutela, mas poderá
ser externo, principalmente pelo Poder Legislativo, com o auxílio do Tribunal de Contas. Ins-
trumento maior de regulamentação e que merece ser mais estudado é a Lei de Responsabi-
lidade Fiscal. Essa lei complementar nacional trouxe limites e vedações aos administradores
públicos que ainda precisam ser mais bem aplicados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARNEIRO, C. Curso de Direito Tributário e Financeiro. São Paulo: Saraiva. 2016.
ROSA JR., L. E. F. da. Manual de Direito Financeiro & Direito Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2012.
TORRES, R. L. Curso de Direito Financeiro e Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2016.
capítulo 1 • 35
capítulo 1 • 36
2
Tributos: espécies e
competência
Tributos: espécies e competência
Introdução
OBJETIVOS
• Compreender o conceito de tributo;
• Identificar as espécies tributárias e a controvérsia a respeito dessa classificação;Cconhe-
cer a distribuição constitucional de competências tributárias;
• Identificar o destinatário do produto da arrecadação tributária.
O que é o tributo?
Conceitos doutrinários
capítulo 2 • 38
Em sentido radicalmente oposto, encontramos o Prof. Ives Gandra da Silva
Martins, que defende que o tributo é uma verdadeira norma de rejeição social. O tema
é mais bem tratado dentro do espectro do direito penal tributário como uma forma de
considerar a conduta do sonegador fiscal como não reprovável pela sociedade.
Conceito legal
E, para melhor compreensão desse conceito, será ideal dividi-lo em seis partes
e analisar cada parte e suas peculiaridades.
Prestação pecuniária: o tributo é uma prestação pecuniária, pois ele é objeto
de uma relação de natureza obrigacional. Ao contrário do que já foi entendido, o
tributo não é objeto de uma relação de poder estabelecida entre um Estado sobe-
rano e um súdito. Estamos diante de uma “obrigação de dar quantia certa”.
Compulsória: essa obrigação, diferentemente da maioria das obrigações de
direito privado, não nasce da vontade das partes. Ela é uma obrigação ex lege. A
vontade bastante e necessária para seu nascimento está na lei. Esse é um elemen-
to importante para diferenciar o tributo de outras prestações devidas ao Estado.
Sempre que o vínculo não tiver o elemento da compulsoriedade, sempre que hou-
ver uma adesão volitiva do particular que crie o vínculo, aquilo não é um tributo.
Exemplo disso é a prestação de serviço em que o Estado te libera para consumir
de outros fornecedores. Nesse caso, o valor cobrado é um preço, e não um tributo.
Trata-se de um preço público ou tarifa – essa comumente atribuída aos particula-
res que prestam serviços em regime de permissão ou concessão pública.
E aqui a distinção não é meramente conceitual. Estamos a definir qual é o
regime jurídico aplicável: a legislação tributária ou a legislação de direito adminis-
trativo ou de direito civil.
capítulo 2 • 39
Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: Esse elemento do conceito
não está em contradição com a natureza pecuniária dessa prestação. A criação do
tributo, a sua regulamentação, pode trazer uma previsão do valor devido não dire-
tamente em moeda, mas em índices de indexação, em percentuais, em quotas. Isso
facilita a manutenção do tributo em valores atualizados sem que se tenha de impor
uma avalanche legislativa anual para a sua correção e atualização.
Que não constituía sanção de ato ilícito: Tributo e multa são institutos dis-
tintos. Aliás, o direito tributário tem pouca preocupação com a repercussão so-
cial do não pagamento do tributo, sua preocupação é mais arrecadatória. Assim,
muitas leis e benefícios são aprovados para estimular a arrecadação, ainda que isso
importe em um perdão ao sonegador fiscal.
Toda vez que o “fato gerador” for a prática de uma infração, o que será impos-
to ao infrator será uma multa. A multa é submetida a regras e princípios penais.
Por outra sorte, ainda que o tributo não seja sanção de ato ilícito, ele incidirá
sobre o ato ilícito toda vez que esse ato ilícito se amoldar ao tipo tributário. O
Código Tributário Nacional adota, no art. 118, I, o princípio do pecunia non olet
– dinheiro não tem cheiro -, e a ilicitude da conduta não afasta a incidência do tri-
buto. Se isso pode parecer uma imoralidade para o Estado, questionável também
seria um ordenamento jurídico que não impusesse ao desonesto o dever de pagar
os tributos, pesando sobre o patrimônio honesto toda carga tributária.
Um terceiro ponto, ainda sobre esse elemento do conceito, é a extrafisca-
lidade – o Estado, ao tributar, pode utilizar o valor do tributo imposto como
uma intervenção no comportamento do contribuinte. Assim, diante de opções
legalmente válidas, o Estado pode tornar aquela socialmente mais desejável, mais
barata do que aquela indesejável. É o que faz de forma geral com a importação e a
exportação, com a função social da propriedade etc.
capítulo 2 • 40
Instituído em lei: tão caro ao direito tributário, o princípio da legalidade é
incluído no próprio conceito de tributo. Em 1966, quando o Código Tributário foi
publicado, não contávamos com um Sistema Constitucional Tributário tão sólido
como o de hoje. Hoje, temos o tratamento do tema na Constituição como nunca ti-
vemos nas constituições anteriores. Assim é que os autores do Código fizeram incluir
dentro do próprio conceito o princípio da legalidade. Esse princípio será visto mais
adiante ao estudarmos as limitações constitucionais ao poder de tributar.
Cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada: Cabe
ao Direito Administrativo o estudo do ato administrativo e sua clássica distin-
ção entre atos vinculados e discricionários. No direito tributário, temos por certo
que os atos de cobrança do tributo são vinculados – o que significa que não há
qualquer margem para avaliação de conveniência e oportunidade na cobrança do
tributo. O tributo previsto em lei deve ser cobrado como ali aparece, e o procedi-
mento de cobrança deve seguir o estabelecido na legislação tributária.
Devemos mencionar também que o Código fez uma escolha quanto à compe-
tência para a cobrança. A cobrança deverá ser feita mediante atividade administra-
tiva, o que veda a transferência da dívida ativa a instituições financeiras.
Isso diz respeito exclusivamente à cobrança. Não é ato de cobrança a simples
arrecadação que se relaciona com o fato de ser emitido um boleto bancário para
que o devedor se dirija ao banco e efetue o pagamento. Aliás, mais adiante, no art.
119, o Código estabelece que o sujeito ativo, o credor da obrigação tributária, é
pessoa jurídica de direito público.
capítulo 2 • 41
Natureza econômica da operação
Função
Repercussão
Cumulatividade
capítulo 2 • 42
cumulativos são aqueles que, incidindo assim, são incorporados ao custo do bem
e oneram o preço final da mercadoria, sem qualquer sistema de creditamento dos
valores pagos em operações anteriores. Já os não cumulativos são os que a lei permite
e prevê a sua dedução dos valores do tributo já recolhido aos valores a serem pagos.
Quantidade de incidências
Quanto aos aspectos relevantes para quantificação do tributo, os tributos são divi-
didos em reais e pessoais. É possível encontrar uma classificação errada desses tributos.
Tratemos da forma correta, que considera que todo tributo incide sobre o patrimônio.
Reais são aqueles em que a quantificação do tributo devido leva em conside-
ração apenas aspectos objetivos que digam respeito ao fato gerador e, em alguns
casos específicos, ao bem tributado. Pessoais são os que levam em consideração as
características do próprio contribuinte.
Não há corretas predefinições de tributos reais ou pessoais, já que a Constituição
determina que, sempre que possível, os impostos (assim entendidos os tributos)
terão caráter pessoal.
Competência
Essa classificação, por mais elementar que seja, merece ser citada para que
possamos compreender melhor como se define nossa federação. Os tributos serão
federais, estaduais, distritais e municipais.
capítulo 2 • 43
Vinculação a uma atividade estatal
Espécies tributárias
Teoria bipartite
Teoria tripartite
Para a teoria tripartite, defendida, por exemplo, por Roque Antonio Carrazza
e Paulo de Barros Carvalho, e tradicionalmente no CTN, o critério de distinção
das espécies tributárias é o fato gerador, tal como previsto no art. 4º do CTN, e
capítulo 2 • 44
também nos artigos 16, 77 e 81. Assim, os tributos são impostos, taxas e contri-
buição de melhoria – como diz o art. 5º do CTN.
Teoria quadripartite
Teoria pentapartite
capítulo 2 • 45
juntamente com os impostos. A distinção será pela determinação da destinação do
produto da arrecadação deles. O empréstimo compulsório tem como destinações
situações de calamidade pública ou guerra externa e investimento urgente de rele-
vância nacional. Quanto às contribuições parafiscais, uma atividade estatal especí-
fica que tende a beneficiar um grupo de contribuinte, e não necessariamente toda
a sociedade. Elas, em alguns livros, são encontradas como contribuições especiais.
Por isso, concluímos com a identificação das espécies tributárias em cinco:
impostos, taxas, contribuição de melhoria, empréstimos compulsórios e contri-
buições parafiscais.
Competência tributária
Conceito
Atributos
capítulo 2 • 46
Facultativa. Ela é uma verdadeira autorização, e não determinação, para que
o tributo seja criado. A Constituição não determina que o tributo seja instituído,
mas, se o tributo for instituído, que ele o seja pelo ente nela designado.
Por outro lado, uma regra no nosso Direito parece impor o contrário. Na
LC 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal), o art. 11 determina que não poderá
haver transferências voluntárias (ou seja, a entrega de recursos além dos predeter-
minados na Constituição) para ente federativo que não tenha instituído todos os
seus impostos. O que a lei de responsabilidade fiscal quer é evitar que um ente
federativo se torne dependente de outro.
Irrenunciável. A competência tributária é determinada para que os entes fe-
derativos tenham autonomia viabilizada pela existência de recursos próprios. Não
há como negar que a receita pública mais importante é o tributo. Através do
tributo, recursos são obtidos diretamente da sociedade que deve contribuir para
a prestação de serviços públicos. Assim, a autonomia dos entes federativos é irre-
nunciável, e a competência tributária é igualmente irrenunciável. Ainda que ele
não institua o tributo, ele não pode renunciar a eles.
Se por um lado o ente federativo não está obrigado a instituir o tributo,
por outro lado ele está proibido de renunciar. A competência não será exer-
cida, mas estará lá sempre à sua disposição. Estará sempre à disposição para
quando ele dela necessitar.
Indelegável. Esse atributo se encontra expresso no art. 7º do CTN. A com-
petência tributária é exclusiva. As funções de arrecadar e fiscalizar podem, sim,
ser delegadas. Isso, contudo, não é competência, mas capacidade tributária ativa.
Inalterável. A Constituição proíbe que um ente amplie ou diminua a sua
competência. Somente uma emenda constitucional poderia alterar a competência.
Há propostas para alterar a competência tributária reorganizando a distribuição
dos impostos. Questiona-se a possibilidade, ainda que por emenda constitucional,
de alterar-se essa competência. O problema cuida da questão da cláusula pétrea
que determina no art. 60, § 4º, I, da CRFB/88 que não poderá sequer ser objeto
de emenda a proposta tendente a abolir a forma federativa de Estado. Uma alte-
ração da competência tributária deve ser feita com muito cuidado para que não
se retire a autonomia, o poder de se autogerir, de qualquer dos entes federativos.
Improrrogável. O não exercício da competência pelo ente predeterminado na
Constituição não a transfere para outro ente. Essa determinação está no art. 8º do CTN.
A competência tributária será exercida somente por quem a Constituição determinou.
capítulo 2 • 47
Incaducável. Trata-se do poder de fazer leis, para o qual não há prazo, não
há fim, não há limite temporal. Um exemplo disso é a instituição do imposto
sobre grandes fortunas. Apesar de quase três décadas de previsão constitucional,
ainda é possível a sua instituição. E, para acrescentar, qualquer legislação que já foi
elaborada, e que até esteja em vigor, também poderá ser alterada, pois o poder de
legislar não está submetido a prazo no nosso ordenamento jurídico.
Conflitos
Uma vez que a Constituição não é observada e um ente institui tributo de ou-
tro ente federativo, estamos diante de um conflito de competência. A Constituição
distribuiu os fatos geradores entre os três entes federativos e ainda preencheu qual-
quer lacuna através da instituição da competência tributária residual. Assim, se o
fato não está previsto na Constituição, o tributo será instituído pela União.
Para o Prof. Luiz Emygdio, teríamos três institutos, e para ele invasão de com-
petência é distinta do bis in idem e da bitributação1.
Dentro do contexto do conflito de competência tributária, dois institutos pre-
cisam ser definidos.
Bis in idem
Segundo o STF, haverá bis in idem quando o mesmo ente federativo instituir
a mesma espécie tributária sobre o mesmo fato gerador. Cuidado, que há uma
diferença notável quanto às contribuições sociais. A doutrina e a jurisprudência
acabaram por criar uma peculiaridade. A distinção não estará no fato gerador, mas
em sua destinação.
1 ROSA JR., L. E. F. da. Manual de Direito Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2012, p. 165.
capítulo 2 • 48
As contribuições não têm um fato gerador próprio, mas sim uma
destinação própria. Em relação a essas contribuições, nós não
vamos aplicar a regra do art. 4º, II, do CTN, que considera irrelevante
a destinação legal do produto da arrecadação, mas sim somá-la à
natureza do seu fato gerador. A estipulação dessas contribuições
exigiu uma evolução na interpretação desse dispositivo, já que a
destinação constitucional é que vai determinar a qual regime jurídico
elas se encontram submetidas.
(CARNEIRO, C. Curso de Direito Tributário e Financeiro. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 336.)
Devemos lembrar que há uma exceção. O bis in idem nem sempre é incons-
titucional. Nele não há invasão de competência, uma vez que um ente cria um
tributo que a Constituição prevê para ele mesmo. Há quem afirme (e essa é a tese
para o fisco) que esse novo tributo somente seria inconstitucional se ele tivesse
efeito confiscatório em virtude de a soma dos dois tributos, o novo e o antigo,
gerar um dever de pagar tão elevado que colocasse o indivíduo em uma situa-
ção muito onerosa. Por outro lado, não há palavras inúteis ou desnecessárias na
Constituição. A Constituição expressamente autoriza o bis in idem no caso de
guerra externa, artigo 154, II, o que nos leva a crer que, diante de uma situação de
paz, essa possibilidade não existe.
Bitributação
capítulo 2 • 49
Capacidade tributária ativa
Conceito
Tanto a competência como a capacidade tributária são exercidas por uma úni-
ca pessoa, mas essa pode ser delegada. Então, ainda que conforme a classificação
constitucional, enquanto a competência é exclusiva, a capacidade tributária é pri-
vativa. O que não autoriza a cobrança por mais de um ente. Aliás, o próprio CTN
autoriza no art. 164 que, na hipótese de o tributo ser cobrado por mais de um ente
federativo, o sujeito passivo poderá promover judicialmente uma ação de con-
signação em pagamento, em face dos que lhe cobram, a fim de que se determine
exatamente qual é o único credor.
A capacidade, por outro lado, em virtude de ser ato administrativo, e não le-
gislativo, é vinculada à lei. Ao administrador público é dado fazer aquilo que a lei
determina ou autoriza; logo, a capacidade tributária ativa não é facultativa: como
determina o art. 142, parágrafo único, do CTN, ela é vinculada e obrigatória.
E essa mesma lei poderá autorizar a sua renúncia pela remissão. Se é a
Constituição que define os contornos da competência, na capacidade tributária
ativa esses contornos são definidos por lei. A remissão é o perdão do tributo de-
vido, renúncia à cobrança do tributo. A capacidade tributária ativa é renunciável
nos termos da lei.
O poder de fiscalizar e cobrar tributos pode ser delegado, como o é para a
fiscalização e cobrança administrativa do ITR pelos Municípios. Ele é tributo da
competência da União (art. 153, VI, da CRFB/88). Toda a legislação do ITR de-
verá ser elaborada pelo poder legislativo federal (Congresso Nacional). Contudo,
a Constituição prevê expressamente que a União poderá delegar a fiscalização e a
cobrança aos Municípios.
A capacidade tributária ativa é alterável, pois pode receber os contornos que o
ente federativo quiser, o que decorre da própria autonomia federativa, que é compos-
ta também pela autonomia administrativa. Cada ente federativo poderá estabelecer,
capítulo 2 • 50
dentro dos limites das normas gerais (estabelecidas nacionalmente e previstas, por
exemplo, no CTN), como exercerá a fiscalização e a cobrança do tributo.
A capacidade também não será prorrogável, pois, ainda que não exercida, não
se transfere a outro ente.
Por fim, ela, capacidade tributária ativa, é caducável em decorrência da pres-
crição e da decadência. Esses institutos podem ser definidos sucintamente da se-
guinte forma: decadência é a perda do prazo para lançar o tributo, enquanto a
prescrição é a perda do prazo para promover a ação para cobrança do tributo.
Espécies de competência
Classificação tradicional
Privativa
Comum
capítulo 2 • 51
temos a competência comum. Assim é com as taxas e a contribuição de melhoria,
uma vez que a determinação é de que elas competem à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios – mas não diz qual taxa cabe a cada um.
Mas isso não nega a regra de que a competência tributária é privativa. A ques-
tão se resolve no âmbito da competência administrativa. Uma vez que estamos
diante de tributos vinculados, tributos em que o fato gerador é uma atividade
específica do Estado. A taxa terá como fato gerador ou o exercício regular do po-
der de polícia, ou a prestação de serviço público. A contribuição de melhoria terá
como fato gerador uma obra pública que gere valorização imobiliária. Nesses dois
casos, estamos diante de tributos que dependem de um agir do Estado - compe-
tência administrativa determinará quem pode praticar o ato ao qual está vinculado
o tributo. E esse será o ente competente. Assim, a competência tributária comum
será delimitada pela competência administrativa.
Ainda quando estamos diante da competência administrativa comum, não
será possível que todos possam cobrar o mesmo tributo. O aparente conflito será
resolvido como o é no Direito Administrativo: pela teoria do interesse predomi-
nante. Devemos verificar no caso concreto se estamos diante de uma questão em
que o interesse predominante é nacional – para exercício de atividade pela União
e, logo, cobrança de tributo por ela -, regional – para exercício de atividade pelo
Estado e cobrança de tributo por ele - ou local – para exercício de atividade pelo
Município e cobrança de tributo por ele.
Residual
capítulo 2 • 52
E, para sermos mais completos, podemos dizer que, se a competência admi-
nistrativa delimita a competência tributária comum, se a competência administra-
tiva residual é dos estados (art. 25, § 1º, CRFB/88) e se a competência tributária
comum diz respeito às taxas e à contribuição de melhoria, a competência residual
relativa às taxas e à contribuição de melhoria é dos estados.
Extraordinária
Classificações incomuns
Cumulativa ou múltipla
Especial
Por fim, para os que distinguem, competência especial seria o poder de insti-
tuir empréstimos compulsórios e contribuições especiais. Essa competência seria
destacada pelo fato de apenas recentemente (com a Constituição de 1988) eles
terem entrado no rol dos tributos.
capítulo 2 • 53
Repartição de receitas tributárias
Funções
Conceito
2 CARNEIRO, C. Curso de Direito Tributário e Financeiro. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 383.
capítulo 2 • 54
Todos os entes federativos controlam essa repartição, de tal forma que a
Constituição determina, através do art. 162, a publicação da receita que foi repar-
tida até o último dia do mês subsequente.
capítulo 2 • 55
No art. 153, § 5º, I, da CRFB/88, encontramos a regra que determina a repar-
tição direta do produto da arrecadação do IOF sobre o ouro como ativo financeiro
da União para os estados, enquanto o inciso II trata da transferência da União para
os municípios. Na verdade, esse imposto tem notável função extrafiscal. Senão
qual seria o interesse que a União teria em instituí-lo para fiscalizá-lo e cobrá-lo
sem qualquer proveito? Sim. Do total arrecadado, 30% pertencem aos estados e
70%, aos municípios. A União não permanece com nada. Todo produto arrecada-
do é entregue a estados e municípios.
No art. 159 II, § 3º, CRFB/88, a Constituição regula a transferência da União
para os estados de 10% do produto da arrecadação do IPI relativamente às expor-
tações (se houver). Os estados também deverão repartir o que recebem da União,
entregando 1/4 aos municípios. Sendo assim, à União caberá 90%; aos estados,
7,5%; e, aos municípios, 2,5% do produto da arrecadação do IPI sobre as expor-
tações. Há, por assim dizer, uma dupla transferência.
No art. 159, III, é determinada a repartição entre União e estados de 29% do
produto da arrecadação da Cide-combustíveis que deverá ser aplicada em finan-
ciamento de programas de infraestrutura de transportes. Por sua vez, nem tudo
caberá aos estados, que também entregarão aos municípios 1/4 do que lhes cou-
ber, conforme previsão expressa no § 4º do mesmo artigo. Assim, para simplificar,
a União fica com 71%; os estados, com 21,75%; e os municípios, com 7,25%.
Outra forma de repartição direta é a transferência do ITR da União para os mu-
nicípios. A União transfere aos municípios a metade do que arrecadar. Aqui estamos
tratando da hipótese em que o município prefere não firmar convênio para fiscalizar
e cobrar pessoalmente. A hipótese em que a capacidade tributária ativa é transferida
para o município será vista na hipótese de repartição direta por retenção.
Dos estados para os municípios, temos a transferência de metade do produto
da arrecadação do IPVA. Daí podemos verificar o interesse dos municípios na fis-
calização desse tributo. Aliás, é por esse motivo que o veículo vem a ser licenciado
no município, pois a divisão é feita em função dessa divisão.
Também dos estados para os municípios temos a repartição do ICMS entre
estados e municípios. Aqueles ficam com 75%, e estes com 25%. A parcela que é
transferida aos municípios será dividida de duas formas: três quartos, no mínimo,
na proporção do valor adicionado nas operações relativas à circulação de merca-
dorias e nas prestações de serviços realizadas em seus territórios; e até um quarto,
conforme lei estadual.
capítulo 2 • 56
Algumas leis dividem a parcela dos municípios segundo critérios de proteção
ao meio ambiente. É o chamado ICMS ecológico ou ICMS verde. Ele pode servir
para estimular a conservação da biodiversidade considerando o percentual de áreas
de conservação nos territórios dos municípios, por exemplo. O ICMS ecológico
nada mais é do que o conjunto de critérios ambientes utilizados para determinar a
participação de cada município em parcela do ICMS arrecadado pelo estado onde
está localizado. Ao final, sugeriremos uma atividade para que você possa conhecer
melhor essa novidade.
capítulo 2 • 57
autarquias e fundações), o imposto de renda resultado dessa retenção sobre as
remunerações, em vez de ser recolhido aos cofres do Tesouro Nacional, será retido
na conta daquela fonte pagadora como forma de repartição por retenção. Isso
pode ser conferido nos arts. 157, I, e 158, I, da CRFB/88.
Outra hipótese que já foi vista pela metade é a prevista no inciso II do art. 158
da CRFB/88. Vimos como forma de repartição direta propriamente dita que, toda
vez que a União fiscalizar e cobrar o ITR, metade dele será entregue ao município
onde estiver localizado o imóvel. Mas como fica se o imposto for fiscalizado e cobra-
do pelo próprio município em hipótese de delegação de capacidade tributária ativa?
Aliás, qual seria o interesse da União em transferir esse tributo? E qual seria o
interesse do município em arcar com a arrecadação? Como vimos, para a União esse
tributo é extrafiscal e dá enorme trabalho arrecadar. Imagine para ela criar uma es-
trutura para fiscalizar cada propriedade rural no imenso território brasileiro. Então,
na verdade, ele é muito mal fiscalizado. Imagine ainda mais que a alíquota varia em
função não só do tamanho do imóvel mas também da utilização. Isso significa dizer
que a fiscalização deve ser constante, próxima ao contribuinte. Se isso não ocorrer, o
tributo não cumpre a sua função nem gera a arrecadação devida.
Sendo assim, a União transfere ao município a arrecadação, e esse se incumbe
de fiscalizar, o que satisfaz a União. Mas você pode se perguntar: o que o municí-
pio ganha com isso? Simples. O município, a teor do art. 158, II, se não exercer
a capacidade tributária ativa, ficará com metade do que a União arrecadar. Se o
município exercer essa função, ele ficará com a totalidade do ITR arrecadado em
razão de repartição de receita de impostos direta por retenção.
Nesse caso, os tributos serão entregues a um fundo que será responsável por
repartir de forma equitativa.
O Fundo de Participação dos Estados recebe 21,5% do produto da arrecada-
ção do IR e IPI. Lei complementar, na forma do art. 161 da CRFB/88, determina
como esses recursos serão distribuídos entre os estados. Ela é a LC 62/89, cujos
dispositivos foram declarados inconstitucionais por não cumprirem sua finalidade
principal, ou seja, prever critérios adequados para repartição. Foi então que foi
aprovada a LC 143, de 17 de julho de 2013.
capítulo 2 • 58
O Fundo de Participação dos Municípios recebe 22,5% do produto da arre-
cadação do IPI e do IR. Além disso, recebe também mais 1%, o que será entregue
no primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano.
Há ainda fundos regionais, que receberão 3% da arrecadação do IPI e do IR,
especialmente para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, sendo que a meta-
de desses recursos deverá ser destinada exclusivamente ao semiárido do Nordeste.
E, por fim, o Fundo de Compensação de Exportação, previsto no art. 159, II,
da CRFB/88, para o qual serão destinados 10% do produto da arrecadação do IPI,
proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos industriali-
zados, limitado a 20% do montante, devendo eventual excedente ser distribuído
entre os demais participantes.
capítulo 2 • 59
a importante parcela das receitas dos estados e municípios. A arrecadação realizada
pela União e a distribuição feita pelos estados e municípios podem importar em
redistribuição de riquezas.
Vedação de retenção de repasses. Com certeza, já ficou claro para você que
estamos diante de uma questão que afeta o pacto federativo. A divisão desses re-
cursos é algo que pretende corrigir o federalismo assimétrico brasileiro. No Brasil,
há entes federativos mais ricos em questões de impostos do que outros, como fica
evidente quando comparamos a União com qualquer outro ente.
É por isso que a Constituição deixa expresso no artigo 160 que é vedada a re-
tenção desses recursos. A regra geral é essa. Não pode um ente federativo pretender
colocar o outro ente à sua dependência por via de bloqueio desses repasses. Mas
veja: essa é a regra geral.
Diga-se, por oportuno, que nenhum ente federativo pode criar condições ou-
tras para esse repasse. O Estado de Sergipe, por exemplo, quis estabelecer condi-
ções, e o STF se pronunciou nesse sentido:
capítulo 2 • 60
excepcionais devem ser interpretadas de forma restritiva. Exceção se interpreta restri-
tivamente para que não se torne a regra, para que não seja mais do que uma exceção.
O segundo argumento é o de que tratamos de norma constitucional que versa
sobre algo que pode colocar em risco o pacto federativo. E, sobre esse ponto, é
claro que não pode haver sequer proposta de emenda constitucional, como deixa
claro o art. 60, § 4º, I, da CRFB/88.
Antes, contudo, de verificarmos as hipóteses previstas na Constituição, necessá-
rio se faz chamar a atenção para hipótese prevista no art. 11, parágrafo único, da LC
101/00 – Lei de Responsabilidade Fiscal. Quando essa lei foi publicada, houve uma
ação direta de inconstitucionalidade, alegando-se que cuidava de uma hipótese de
retenção ali determinada fora daquelas que vamos ver autorizadas na Constituição.
A norma não foi declarada inconstitucional, pois, a bem da verdade, as trans-
ferências que estavam vedadas ali naquela lei não eram transferências obrigatórias
das que vimos acima. Eram transferências voluntárias. E esse bloqueio não foi
proibido. O objetivo da lei de responsabilidade fiscal foi vedar que um ente federa-
tivo se constituísse em dependente das benesses de outro ente. Assim foi a decisão:
A primeira hipótese que autoriza o bloqueio diz respeito à garantia dos crédi-
tos do ente que está repassando o tributo.
Curiosamente, aqui vemos que alguns julgadores do TRF da 4ª Região te-
riam exercido a opção pela teoria dualista que veremos na primeira aula da pró-
xima disciplina. Segundo essa teoria, apesar de a obrigação tributária nascer com
o fato gerador, o crédito tributário nasce somente com o lançamento. Nesse sen-
tido, há julgados que somente admitem o bloqueio do repasse, em se tratando
de crédito tributário, após o devido lançamento. É o que você pode ler no AMS
1999.71.005108-0 da 1ª Turma do TRF da 4ª Região. Mas isso não é pacífico.
capítulo 2 • 61
Outro ponto importante é que cuidamos de créditos de outro ente federativo
ou sua autarquia. Significa dizer que, se há crédito de uma sociedade de economia
mista ou empresa pública, isso não poderá ser garantido com esse instrumento.
Nesse sentido, por evidente, já se posicionou o STF:
ATIVIDADE
A União decidiu instituir uma contribuição sobre a propriedade de bicicletas na base
de 5% (cinco por cento) ao ano. O fato gerador será a propriedade da bicicleta. O tributo,
contudo, não terá destinação específica. Além disso, a União conta com esses recursos para
equilibrar exclusivamente suas contas. Após o primeiro mês de exigência do tributo, o Estado
do Rio de Janeiro exige que lhe seja entregue parcela do produto da arrecadação do tributo.
Nesse caso hipotético, qual seria a avaliação correta sobre as diversas condutas?
capítulo 2 • 62
GABARITO
Resposta: O caso apresenta questões relativas às espécies tributárias, espécies de com-
petência e espécies de repartição de receitas tributárias. Como visto, o tributo cobrado em
função de fato gerador que não seja relativo a qualquer atividade estatal específica será um
imposto, e não uma contribuição. Além disso, estamos diante de um imposto da competência
residual, já que não há o fato gerador para esse imposto previsto na Constituição de forma
expressa a nenhum ente federativo. Por fim, deve-se incluir que os impostos residuais terão
o produto de sua arrecadação repartida entre os Estados.
REFLEXÃO
Este capítulo abordou questões centrais do Direito Tributário. A partir dele, conhecemos o que
é um tributo, em sua definição legal, mas também na sua definição doutrinária, o que torna possível
uma visão mais crítica do Direito Tributário e dos seus autores desde o início de seu estudo.
Centramos nosso estudo acerca do conceito de tributo no conceito legal de tributo. Aliás,
o conceito é consideravelmente complexo e levanta uma série de questões. Vimos que, des-
se conceito, é possível perceber que o tributo é objeto de uma relação obrigacional, um víncu-
lo de natureza patrimonial. Essa relação estabelece o dever de ser realizado um pagamento
de uma importância em pecúnia, em decorrência da lei, e não da vontade das partes – e
independentemente de qualquer juízo de aprovação da conduta do sujeito passivo.
Estudamos que o tributo não é uma única espécie. Há, segundo a jurisprudência pacífi-
ca do STF, cinco espécies tributárias distinguíveis pelo fato gerador (situação necessária e
suficiente ao nascimento da obrigação), bem como pela destinação específica dos recursos.
Identificadas as espécies tributárias, verificamos que a Constituição atribui a diversos
entes federativos o poder de instituir tributos por lei. Esse poder corresponde à Competência
Tributária – poder privativo (ou exclusivo), facultativo, improrrogável, indelegável, irrenunciável
e incaducável. Aliás, distinto do poder de fiscalizar e cobrar o tributo, o que é denominado de
capacidade tributária ativa.
Depois dessas distinções, pudemos ainda acrescentar que os valores arrecadados são
divididos entre os entes federativos por determinação da Constituição, que ressalva restritas
hipóteses para inobservância dessa distribuição.
capítulo 2 • 63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARNEIRO, C. Curso de Direito Tributário e Financeiro. São Paulo: Saraiva, 2016.
ROSA JR., L. E. F. da. Manual de Direito Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2012.
TORRES, R. L. Curso de Direito Financeiro e Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2016.
capítulo 2 • 64
3
Fontes e
hermenêutica
tributária
Fontes e hermenêutica tributária
Introdução
OBJETIVOS
• Compreender as fontes do Direito Tributário;
• Identificar as classificações de fontes do direito e sua aplicação ao Direito Tributário;
• Conhecer as fontes do Direito Tributário;
• Compreender a função da hermenêutica tributária;
• Identificar as fontes de interpretação do Direito Tributário;
• Identificar os métodos de interpretação do Direito Tributário;
• Compreender os resultados da interpretação do Direito Tributário;
• Analisar a integração do Direito Tributário e seus métodos.
capítulo 3 • 66
Contexto histórico das fontes do direito tributário
capítulo 3 • 67
Por seus fracassos, em 10 de junho de 1215, os barões ingleses o obrigaram a
aceitar um documento conhecido como os “Artigos dos Barões” em troca de reno-
varem sua fidelidade ao rei. Em 15 de junho, foi elaborado um documento formal
para a assunção desse compromisso, que se chama Magna Carta.
Nesse documento, um dos compromissos mais importantes vem a ser
justamente o de:
capítulo 3 • 68
A lei será compreendida como o ato normativo, genérico, abstrato, coerciti-
vo, resultado de um processo legislativo constitucionalmente estabelecido. A lei é
uma expressão em sentido estrito que designa aqueles atos normativos capazes de
inovar no ordenamento jurídico, estabelecendo regras de comportamento, deveres
e obrigações, bem como direitos.
Examinando esse conceito, podemos dizer que lei é ato, pois se configura
como resultado da conduta humana. A lei é um ato normativo, pois, diferente-
mente dos atos de execução, ela não faz com que algo mude no mundo jurídico e
natural em si: ela estabelece padrões de comportamento a serem seguidos.
É genérico e abstrato, pois não possui um destinatário em especial nem trata
de um ato ou fato determinado. Ela descreve hipóteses que irão se aplicar a diver-
sas condutas de diversos agentes. Assim, podemos já antecipar que a lei tributária
deve estabelecer hipóteses de incidência. A designação fato gerador está relacio-
nada mais diretamente aos acontecimentos no mundo natural que se adequam
ao conceito abstrato e, subsumindo-se àquela hipótese, produzirão os efeitos pre-
vistos na lei – no mais das vezes, o estabelecimento de um vínculo jurídico de
natureza patrimonial que tem por objeto o pagamento de um tributo –, que é a
obrigação tributária principal.
A lei é coercitiva, pois ela precisa estabelecer consequências imperativas de
forma a forçar o seu cumprimento, a sua observância. Caso contrário, impossível
seria a vida minimamente organizada em sociedade. Portanto, sanções precisam
estar relacionadas com a imposição de uma regra ou mesmo com a possibilidade
de o poder estatal, através do Estado-Juiz, forçar o cumprimento de uma regra.
Para que tudo isso seja válido em nosso ordenamento jurídico, essa lei deve
seguir o procedimento de elaboração estabelecido na CRFB/88; a saber, os artigos
59 e seguintes. Ali encontramos as regras do processo legislativo que limitam o
poder estatal de criar deveres e obrigações.
Classificação
Uma das formas mais eficientes de conhecer e apresentar algum instituto ju-
rídico é procurar reuni-lo em agrupamentos – classificá-lo. As fontes do Direito
podem se submeter a algumas classificações. Assim, teremos certeza de que, ao
usarmos uma expressão jurídica, estaremos fazendo de forma adequada, e isso não
causará nenhuma confusão ou prejuízo.
capítulo 3 • 69
Fontes materiais e fontes formais
As fontes formais são atos ou fatos jurídicos cuja ocorrência faz nascer direitos
e obrigações. Para a tributação, a maior fonte material do Direito é o fato gerador,
que, ao teor da definição legal, é a situação definida em lei como necessária e su-
ficiente à sua ocorrência.
As fontes formais são instrumentos jurídicos que regulam direitos e obriga-
ções. É o que estamos aqui a estudar. Veremos no Direito Tributário Brasileiro o
que poderá criar hipóteses de incidência, que, no caso concreto, serão fatos gera-
dores de obrigações tributárias.
As fontes acessórias são aquelas que somente são utilizadas na ausência das
fontes principais (ex.: princípios gerais de direito e costumes).
capítulo 3 • 70
(entendidos também como normas) e costumes (para algumas situações e ramos
do Direito absolutamente excepcionais).
As fontes indiretas são aquelas utilizadas para orientar a aplicação das fontes diretas.
No nosso Direito, devemos entender que a doutrina e a jurisprudência são dessa espécie.
Devemos esclarecer que o que deve ser compreendido como doutrina é em
princípio toda produção impressa, fonográfica ou vídeo-fonográfica sobre uma
determinada matéria ou assunto. Assim, é aquilo que os pesquisadores produzem
como resultado da interpretação das normas jurídicas e até das decisões dos tri-
bunais – e ainda de outras disciplinas fora do campo do Direito que procuram
estudar o comportamento humano.
Ainda precisamos esclarecer que existe diferença entre jurisprudência e pre-
cedente. No dia a dia, é comum nos referirmos à jurisprudência quando falamos
de um único julgado, mas isso é errado. Jurisprudência é o resultado de decisões
reiteradas no mesmo sentido em relação a um determinado assunto. O precedente
é aquele julgado que, por sua relevância, acaba por influenciar outros julgados que
tratarem de situações semelhantes.
Aliás, o novo Código de Processo Civil (CPC) atribuiu efeitos obrigatórios e
gerais para os julgados proferidos pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior
Tribunal de Justiça, em recursos extraordinários e especiais repetitivos, e para os
acórdãos produzidos pelos demais tribunais, em incidente de resolução de deman-
das repetitivas (IRDR) e em incidente de assunção de competência.
Assim, podemos passar a incluir, além da jurisprudência, o precedente como
fonte indireta do Direito Brasileiro.
Em conclusão, podemos falar que serão objeto desse nosso estudo as fontes
formais principais e diretas, como classificamos a legislação. E esse estudo será
feito partindo de certa hierarquia, a começar pelo topo, que é a Constituição, e a
concluir pelas normas complementares – que pouco podem em nosso ordenamen-
to, mas onde vemos os maiores excessos do Estado.
Espécies
Constituição
capítulo 3 • 71
quais são os tributos que podem ser instituídos, repartir o poder de instituir os im-
postos e estabelecer as limitações constitucionais ao poder de tributar. E por isso
podemos dizer que as normas constitucionais que tratam do Direito Tributário e
se encontram em nossa Constituição não estão lá por um acaso. No nosso sistema
jurídico, elas devem ser tratadas por norma constitucional:
Algumas delas não podem sequer ser objeto de emendas, de reformas, pois po-
deriam violar o pacto federativo – como a supressão de uma competência ou viola-
ção dos direitos fundamentais –, como a revogação de limitações constitucionais.
Aliás, a questão da reforma tributária se encontra nesse ponto. Uma das propostas
é unificar o ICMS, e o seu problema é que ele hoje é um tributo estadual. Sua
unificação seria retirá-lo da competência dos Estados e transferi-lo para a União.
Emendas Constitucionais
Lei complementar
capítulo 3 • 72
poderia ser alterada por lei ordinária, já que aquele dispositivo seria essencialmen-
te ordinário apesar de formalmente complementar. Ora, cabe à Constituição criar
reservas à Lei Complementar.
As funções mais importantes da lei complementar em matéria tributária estão
no art. 146 da Constituição. E, entre elas, a criação das normas gerais. Abra o seu
CTN na primeira página e confira que ele é formalmente uma Lei Ordinária. Ele
foi aprovado como uma lei ordinária. É que, em 1966, quando ele foi publicado,
não havia exigência de Lei Complementar. Foi com a Constituição de 1967 (art.
18, § 1º) que tal exigência surgiu. Assim, pela teoria da recepção, e como o nosso
Sistema Constitucional não adota a inconstitucionalidade formal supervenien-
te, esse artigo foi recepcionado desde então com status de lei complementar. A
Constituição de 1988 repete a mesma reserva, o que mantém essa sua natureza.
Alguns tributos, como já vimos, serão instituídos por lei complementar: os
empréstimos compulsórios (art. 148, CRFB/88), o imposto sobre grandes fortu-
nas (art. 153, VII, CRFB/88), os impostos residuais (art. 154, I, CRFB/88) e as
contribuições sociais residuais (art. 195, § 6º, CRFB/88).
Além disso, há outras reservas à lei complementar em matéria tributária: algu-
mas relativas ao ITCMD (imposto sobre as transmissões causa mortis e doação),
nos termos do art. 155, § 1º, III; outras relativas ao ICMS (imposto sobre a circu-
lação de mercadorias e serviços), como determina o art. 155, § 2º, XXI, a) a i); a
fixação de alíquotas máximas e mínimas e outras regras do ISSQN (imposto sobre
serviços de qualquer natureza), art. 156, § 3º; bem como o limite para concessão
de remissão ou anistia sobre determinadas contribuições sociais, nos termos do
art. 195, § 11, todos da CRFB/88.
Lei ordinária
A terceira é a lei ordinária. Tipo de lei que é aprovada por maioria simples, ou
seja, o primeiro número inteiro depois da metade entre os presentes. Ela é a regra
geral para a instituição dos tributos.
O art. 97 do CTN estabelece o rol de matérias sujeitas à reserva de lei. Em
regra, tudo aquilo que está nesse dispositivo será estabelecido por lei. Como visto,
raramente os tributos são instituídos por lei complementar – ao contrário do que
muitos popularmente acreditam.
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Lei delegada
Quanto à quarta fonte, lei delegada, apenas faremos referência por es-
tar na Constituição, mas nunca foi utilizada no Direito Tributário. Aliás, há
uma controvérsia sobre o seu cabimento. É que essa lei, prevista no art. 68 da
Constituição, é elaborada pelo executivo mediante delegação solicitada ao legis-
lativo. E, como você já viu na disciplina anterior, a competência é o poder de
instituir tributos por lei.
Temos apenas 13 leis delegadas em todo o nosso ordenamento jurídico, a
última delas tratando de conteúdo perfeitamente adequado à estrutura da
Administração Pública Federal.
Mas vamos deixar essa discussão de lado, pois as chances de ocorrer na prática
são remotíssimas. O executivo preferirá editar uma medida provisória em vez de
pedir ao legislativo antes.
Medida provisória
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Tratados e convenções internacionais
Decretos Legislativos
Decretos
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Convênios interestaduais
Resoluções do Senado
Normas complementares
Nada mais são do que atos normativos que servem para orientar a aplicação das
leis. Atos normativos que não podem inovar no Direito tampouco podem criar di-
reitos e obrigações (de forma a onerar o patrimônio do contribuinte). São eles os atos
normativos administrativos, as decisões administrativas com eficácia normativa, os
costumes da administração (práticas reiteradamente adotadas pela Administração) e
os convênios entre administrações no interesse da fiscalização (que não são os convê-
nios do ICMS, mas convênios entre os entes para colaboração mútua).
Elas não podem revogar tributos, mas a sua observância pelo contribuinte
dispensa o pagamento de multas, juros de mora e penalidade. O contribuinte que
agiu conforme orientação da Fazenda Pública continua devendo tributo que não
pode ser revogado por normas complementares.
capítulo 3 • 76
Hermenêutica
Interpretação
Vamos estudar agora a atividade que busca o sentido da lei, da norma inscrita
no texto legal. Ou seja, essa atividade pressupõe a existência de positivação. E
seguimos o nosso estudo nessa ordem, pois o Direito Brasileiro segue a tradi-
ção romano-germânica do direito positivado. Assim sendo, as regras serão criadas
principalmente através de processo legislativo. É assim que se constrói no Direito
Brasileiro a segurança jurídica, e não só ela, a justiça, pois o legislativo é composto
por representantes escolhidos pelo povo.
Para tentar organizar o nosso estudo, vamos procurar estudar a interpretação
a partir de três enfoques: quem interpreta (fontes de interpretação), como se in-
terpreta (métodos de interpreta) e qual a conclusão (resultados da interpretação).
Fontes de interpretação
Autêntica
A autêntica é interpretação realizada pela própria lei. Nela vemos conceitos defini-
dos pela própria lei que, na realidade, não criam nenhum direito ou obrigação novos.
Percebam que aqui não estamos falando da interpretação feita pelo legislador.
O legislador (por exemplo, o autor de um projeto de lei) não é fonte autêntica.
Assim como um e-mail postado que deixa de ser de exclusiva interpretação de seu
autor, é a lei. Tão logo publicada, ela deixa de pertencer ao seu autor, que, se queria
dizer algo, permitiu com sua redação outra interpretação e nada mais pode fazer.
A lei publicada é como um filho que ganha a sua independência.
Além disso, considerando que se encontra em norma positivada, ela vincula.
Por isso, a escolhemos para começar nosso estudo.
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Jurisprudencial
Doutrinária
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apenas para que você perceba que mesmo uma autoridade dessa envergadura pode
ser abandonada pelo STF:
Métodos de interpretação
Passemos agora ao estudo destes que são os mecanismos utilizados para a in-
terpretação da regra positivada: os critérios que os doutrinadores buscam definir
para encontrar uma interpretação mais adequada e uniforme.
Antes, precisamos registrar que atualmente se consagrou o pluralismo meto-
dológico. Segundo essa teoria, não podemos escolher este ou aquele método de in-
terpretação para uma determinada lei. Temos de passá-la por todos esses critérios
de tal forma que nenhum método de interpretação poderá ser utilizado de forma
exclusiva. Ao final, estaremos mais certos de termos alcançado o melhor resultado.
Interpretação gramatical
capítulo 3 • 79
Se não conseguimos entender o que cada uma daquelas palavras significa e o
sentido de determinada construção de sentença, não podemos seguir para qual-
quer outro método de interpretação. É como se fossemos estrangeiros de nosso
próprio idioma natal.
Intepretação lógica
Interpretação sistemática
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É nesse sentido que temos a Súmula Vinculante 31, que determina ser in-
constitucional a incidência de ISS sobre operações de locação de bens móveis.
Isso porque a locação é definida pelo Código Civil (CC) e esta não confunde com
aquela, nem uma espécie da outra.
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conceito de livro digital. Hoje, eles são uma realidade e possuem a mesma função
de um livro impresso tradicionalmente.
Interpretação teleológica
Resultados da interpretação
E concluímos esta parte de nosso estudo com a análise da conclusão a que po-
demos chegar ao comparar o texto da lei com a norma que dele pudemos extrair.
Interpretação extensiva
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para onde ela deve ficar. Já fizemos isso aqui quando falamos da imunidade de
culto. Ora, o texto fala no templo, mas concluímos que tudo aquilo que necessa-
riamente guarnece a atividade religiosa é igualmente imune.
Interpretação restritiva
Integração
capítulo 3 • 83
Precisamos apenas esclarecer que não veremos quais são as fontes de integra-
ção por razões óbvias. A primeira é que não poderemos ter a integração autêntica,
pois, se não há lei, não é possível que ela se complemente. A segunda é que so-
mente a jurisprudência e a doutrina serão mesmo fontes de integração. E, nesse
sentido, não precisamos repetir definições já feitas.
Métodos de integração
Analogia
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Princípios gerais de Direito Público
Equidade
Limites
Esses métodos de integração sofrem de pelo menos dois limites. Duas situa-
ções em que não se podem aplicar. Por conta do princípio da legalidade, a ana-
logia não pode permitir a cobrança de tributo, e a equidade não pode resultar na
dispensa ao pagamento de tributos, até porque, se é a lei que estabelece tributos,
somente ela os pode dispensar (art. 150, § 6º, CRFB/88). Há exceção a essa regra:
o próprio CTN autoriza que, por razões de equidade, possa a autoridade adminis-
trativa tributária perdoar o tributo devido.
Interpretação econômica
capítulo 3 • 85
A lei tributária interpretada funcionalmente, levando em conta a
consistência econômica do fato gerador(...), a normalidade dos meios
adotados para atingir certos fins (...) e a finalidade ou função que o
tributo instituído vai desempenhar.
(Falcão, A. de A. Fato gerador da obrigação tributária. São Paulo:
Noeses, 2013, p. 50.)
Nosso Código tem norma que decorre, de certa forma, dessa teoria. É o pa-
rágrafo único do art. 116, também chamado de norma geral antielisiva. A elisão
é a fuga ao pagamento do tributo. A norma geral antielisiva é dispositivo legal
que permite de forma genérica que a autoridade administrativa desconsidere
formas jurídicas adotadas pelos contribuintes aos fatos com o único intuito de
reduzir a carga tributária.
capítulo 3 • 86
ATIVIDADE
Um contribuinte do imposto de renda está elaborando sua declaração de ajuste anual.
Ele recebeu uma indenização por dano moral paga por uma companhia de ônibus em virtude
de acidente sofrido por ele que resultou em afastamento de seu trabalho por mais de 15
(quinze) dias. Ele recebeu também indenização a título de lucros cessantes e indenização a
título de danos materiais decorrentes dos tratamentos médicos que teve de realizar.
Ele está com dúvidas acerca do pagamento de imposto de renda sobre os danos morais.
Isso porque acessou o sítio eletrônico da Receita Federal do Brasil em uma página denomi-
nada “Perguntão” e lá encontrou o seguinte conteúdo: 210 - Qual é o tratamento tributário
da indenização recebida por danos morais?
Essa indenização, paga por pessoa física ou jurídica, em virtude de acordo ou decisão
judicial, é rendimento tributável sujeito à incidência do imposto sobre a renda na fonte e
na declaração de ajuste. Entretanto, no caso de verba percebida a título de dano moral por
pessoa física, a fonte pagadora está desobrigada de reter o tributo devido pelo contribuinte,
e a Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) não constituirá os respectivos créditos
tributários, tendo em vista a vigência do Ato Declaratório PGFN nº 9, de 20 de dezembro de
2011. (Lei nº 8.541, de 23 de dezembro de 1992, art. 46; Decreto nº 3.000, de 26 de março
de 1999 - Regulamento do Imposto sobre a Renda - RIR/1999, art. 718; Ato Declaratório
PGFN nº 9, de 20 de dezembro de 2011)Diante disso, ficou bastante confuso, pois não en-
tende aquele valor como um acréscimo, e sim como uma verdadeira reparação.
Assim sendo, como podemos orientá-lo? Responda indicando a fonte de interpretação
adequada bem como o método de interpretação que predomina no caso concreto.
GABARITO
Resposta: O caso apresenta informação real extraída do próprio sítio eletrônico da Re-
ceita Federal do Brasil. Assim, é a interpretação daquele órgão.
Entretanto, o tema já foi objeto de inúmeros questionamentos judiciais e resultou na
consolidação de entendimento pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre o assunto na
Súmula 498 (Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais). Nesse
sentido, podemos dizer que a fonte de interpretação foi a jurisprudencial e que se trata de
método de interpretação verdadeiramente sistemático, uma vez que o Direito Civil conceitua
a indenização, ainda que por dano moral, como uma mera reparação.
capítulo 3 • 87
REFLEXÃO
Este capítulo abordou questões relativas às fontes do Direito Tributário. Foi um estudo im-
portante, pois pudemos compreender que tipo de dispositivos cuida da relação jurídica tributária.
Neste capítulo, aprofundamos nossos estudos sobre o tema, cuidando das classificações
das fontes do Direito e sua aplicação ao Direito Tributário. O estudo tem relevo sobre as
fontes formais, principais e diretas do Direito. Elas são as que definem as situações a serem
tributadas. Essas fontes compreendem o conceito de lei (em sentido estrito) e legislação (em
sentido amplo, qualquer ato normativo).
Para que possamos dar sequência ao estudo de qualquer ramo do Direito, é importante iden-
tificar as suas regras. Assim, vimos que o Direito Tributário possui regramentos introduzidos desde
normas constitucionais até decisões administrativas ou práticas reiteradas da administração.
Depois de conhecidas essas regras jurídicas, passamos ao estudo da hermenêutica tri-
butária. Aliás, a hermenêutica é genericamente a atividade de identificar a norma jurídica
contida expressa ou implicitamente no ordenamento jurídico. Sempre que ela estiver ex-
pressa no ordenamento jurídico, daremos início à interpretação através do cuidado de suas
fontes, métodos e resultados. Mas, quando aparentar haver uma lacuna (o que nunca há, haja
vista que o ordenamento deve ser sempre completo para trazer solução a todos os conflitos
apresentados ao Estado), estaremos diante da atividade de integração do Direito – cuja fun-
ção é garantir a integridade do ordenamento jurídico.
Por fim, abordamos tema antigo, mas pouco visitado: o tema da interpretação econômica,
que é em verdade uma interpretação dos fatos. Não se trata exatamente de uma interpreta-
ção da lei, pois o que se avalia com olhares econômicos é o ato praticado pelo contribuinte,
e não tanto a lei que se pretende aplicar.
Após esse estudo, estaremos aptos a cuidar das normas jurídicas mais importantes do Direito
Tributário por elas estabelecerem garantias ao contribuinte e à própria relação jurídica tributária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARNEIRO, C. Curso de Direito Tributário e Financeiro. São Paulo: Saraiva, 2016.
ROSA JR., L. E. F. da. Manual de Direito Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2012.
TORRES, R. L. Curso de Direito Financeiro e Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2016.
capítulo 3 • 88
4
Limitações
constitucionais ao
poder de tributar
Limitações constitucionais ao poder de tributar
Uma classificação tradicional de dispositivos constitucionais estabelece que há
aqueles que figuram como normas materialmente constitucionais e outros como
normas formalmente constitucionais. As últimas são aquelas que, por sua forma,
por estarem em um documento ao qual é reconhecido o status de norma cons-
titucional, são constitucionais. As materialmente constitucionais são aquelas que
possuem esse caráter por tratarem de conteúdo próprio para uma Constituição – o
que pode ser resumido em normas que tratam do poder. O poder impõe sua forma
de manifestação, sua distribuição e seus limites.
Não é por outro motivo que nossa Constituição estabelecerá as limitações ao
poder de tributar.
Já vimos em outra oportunidade que a tributação é, sem dúvida alguma, um
ato de poder. Não é sem o seu poder que o Estado invade nosso patrimônio para
extrair dele o que necessita para a realização de suas despesas. Em função disso,
a Constituição limita o poder do Estado e o faz a partir desses dispositivos que
cuidaremos neste capítulo.
OBJETIVOS
• Compreender a função das limitações constitucionais ao poder de tributar;
• Conhecer as limitações vinculadas ao valor segurança jurídica;
• Conhecer as limitações vinculadas ao valor justiça;
• Conhecer as limitações vinculadas ao valor liberdade;
• Identificar as imunidades tributárias;
• Conhecer as limitações constitucionais vinculadas ao federalismo fiscal.
capítulo 4 • 90
princípios – legalidade, tipicidade e não surpresa –, que, estendidos, correspon-
dem a cinco normas princípios: legalidade, tipicidade, irretroatividade, anteriori-
dade e noventena.
Aliás, é importante que se esclareça que “a natureza jurídica das limitações ao
poder de tributar é de garantia constitucional”1. Isso porque elas não deverão ser
suprimidas ou reduzidas sequer por uma emenda constitucional.
Legalidade
1 CARNEIRO, C. Curso de Direito Tributário e Financeiro. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 386.
capítulo 4 • 91
parágrafo do mesmo artigo a exigência de lei específica para concessão de qualquer
benefício ao contribuinte.
Medida Provisória
Exceções
capítulo 4 • 92
Tipicidade
Aberta ou fechada
Entender o que é tipicidade não deve ser algo difícil como vimos. O problema
que surge é um problema de linguagem: o tipo tributário admitirá conceitos legais
indeterminados e normas em branco?
O conceito legal indeterminado é o recurso utilizado pelo legislador que trans-
fere ao intérprete o dever de complementar a lei. Assim, o legislador se utiliza de
palavras que por si só possuem um significado amplo, inexato. A norma em bran-
co é aquela que se utiliza do recurso de permitir que venha ela a ser complemen-
tada por outro ato normativo – no mais das vezes, ato normativo de hierarquia
inferior; por exemplo, um decreto ou uma resolução.
Na prática, acaba valendo a tipicidade aberta. Não é, em verdade, possível
conviver sem os conceitos legais indeterminados. Até seria possível abrir mão das
normas em branco. Mas, quando a linguagem cria obstáculos ao legislador, eles
costumam ser bem difíceis de serem ultrapassados. Portanto, o uso de expressões
abertas é um recurso indissociável da atividade legislativa.
O princípio da legalidade se aplica aos elementos do tipo tributário; como não são
elementos do tipo tributário, o prazo e as denominadas obrigações acessórias do art.
113, § 2º, do CTN podem ser, em princípio, alterados por qualquer ato normativo.
Por que “em princípio”? Porque não podemos esquecer que, se de algum modo
a regra relativa à obrigação acessória interferir em prejuízo do particular na obriga-
ção principal, aquela deverá se submeter a todos os princípios e regras aplicáveis a
capítulo 4 • 93
esta. Isso é bastante comum com as regras relativas à escrituração do ICMS com
vistas a garantir a não cumulatividade, o que veremos mais adiante.
Irretroatividade
Não basta para a segurança que o tributo seja fixado por lei, até porque a lei po-
deria criar regras para situações já ocorridas, e isso traria uma grande insegurança.
Então, o art. 150, III, a, da CRFB/88 determina que as leis somente podem
alcançar fatos geradores/situações que ocorrem em sua vigência. A redução de
tributo pode alcançar fato que ocorreu antes se assim estabelecer expressamente. É
claro que, se a Constituição não trouxer regra que o proíba (e não há), a lei pode
fixar tratamento mais benéfico para situação anterior.
Exceções
Imposto de renda
Mas, de tudo isso, o que traz maior perplexidade no estudo desse princípio é
a análise da Súmula 584 do STF. O fato gerador do imposto de renda é definido,
por muitos doutrinadores, como complexivo ou periódico (formado por um con-
junto de fatos ocorridos ao longo de determinado período – a saber, 1º de janeiro
a 31 de dezembro, especialmente quando se tratar de pessoa física e que não seja
de tributação exclusiva). Caso uma lei entre em vigor em qualquer outro dia que
não 1º de janeiro, será ela aplicável a quais fatos geradores?
capítulo 4 • 94
De acordo com o artigo 105 do CTN, parece-nos que a lei nova seria aplicável
retroagindo a 1º de janeiro do mesmo ano em que entra em vigor. Mas isso viola
flagrantemente o princípio da irretroatividade.
Pela Súmula 584 do STF, a solução é ainda mais gravosa para o contribuinte.
Ela determina que seja aplicada a lei que estiver em vigor não no ano da ocorrência
do fato, mas no ano em que deve ser feita a declaração. Uma interpretação mais
protetiva do contribuinte conduziria à conclusão de que deve prevalecer a aplica-
ção do artigo 150, III, a, da CRFB/88. A lei nova somente poderá alcançar fato
que tenha tido início, meio e fim sob sua vigência.
Anterioridade
capítulo 4 • 95
da anterioridade, um prazo de 90 dias a contar da publicação para que a lei possa
ser aplicada. Trata-se de um acréscimo à anterioridade. Leis publicadas no início
do ano nem precisam da noventena, só aquelas do final do ano ou os casos de
exceção à anterioridade que não sejam exceção à noventena. A noventena também
tem exceções calcadas na extrafiscalidade e na urgência. Essas exceções estão no
artigo 150, § 1º, segunda parte, CRFB/88.
Isonomia
Generalidade e universalidade
capítulo 4 • 96
De igual forma, afirma-se que universalidade traz uma ideia de objetividade, de
objeto. Universalidade significa que todo fato que demonstre riqueza será em prin-
cípio gerador de tributo. Então, encontramos aqui o fundamento para a tributação
de várias situações, até mesmo do ato ilícito – princípio do pecunia non olet.
Também é importante dizer que esses princípios não pertencem exclusiva-
mente ao imposto de renda, sendo aplicáveis a todo ordenamento tributário.
Capacidade contributiva
capítulo 4 • 97
A quarta expressão é “capacidade econômica”. Capacidade econômica é dife-
rente de capacidade financeira. Capacidade financeira diz respeito à liquidez, ou
seja, a possuir ou não o contribuinte dinheiro para pagar o tributo. Já a capacidade
econômica diz respeito a possuir patrimônio, ainda que não em espécie. Se o cons-
tituinte falasse em capacidade financeira, bastaria comprometer todos os recursos
com bens e deixar a sua conta no banco zerada.
Ela será concretizada por uma séria de técnicas ou princípios técnicos.
Pessoalidade é a análise de características do contribuinte como forma de
avaliar o montante de tributo devido. É o que ocorre no imposto de renda quando
se avalia a quantidade de dependentes ou a realização de determinados tipos de
despesa, ou ainda a idade, ou condição de saúde.
Proporcionalidade é a regra geral. Os tributos devem ser proporcionais e não
ter o mesmo valor para todos. A primeira forma de evitar isso é a proporcionalidade
que pode ser definida como alíquota fixa – quanto maior a riqueza, maior o valor do
tributo devido, mas sempre na mesma proporção. Confira agora na sua legislação a
redação da súmula 656 do STF. Ela determina alíquota fixa para o ITBI.
Ainda assim, não é o critério mais justo. Se o imposto de renda tivesse uma
alíquota só, se todos tivéssemos de pagar 10% de imposto de renda, não seria nada
justo. Afinal, quem seria mais sacrificado: o pobre, ao pagar 10% de seu salário mí-
nimo, ou o rico, ao pagar 10% de um rendimento de 100 mil reais, por exemplo? Se
você pensou que era o rico, imagine-se tentando sobreviver e pagar suas contas com
o que sobra do salário mínimo e com o que sobra do rendimento de 100 mil reais.
Progressividade. A progressividade pode ser fiscal quando guarda relação com
a capacidade contributiva. Ou a progressividade pode ser extrafiscal – a alíquota
será aumentada de forma a desestimular algum comportamento do contribuinte,
como forma, portanto, de política pública. Essa é prevista na Constituição para
o ITR (art. 153, § 4º, II,I da CRFB/88) e para o IPTU (art. 182, § 4º, II, da
CRFB/88) como forma de estimular a função social da propriedade.
Mas a progressividade fiscal – técnica de aferição da capacidade contributiva
– determina que, quanto maior a riqueza, maior será a alíquota. A Constituição a
prevê expressamente para o IR (art. 153, § 2º, I, da CRFB/88) e IPTU (art. 156,
§ 1º, I, da CRFB/88). Assim, quanto maior a base de cálculo, maior a alíquota.
Durante muito tempo, predominou de forma pacífica que essa progressividade
precisaria de previsão constitucional. Tanto é que tivemos a edição de duas súmu-
las do STF nesse sentido: a 656 e a 668.
capítulo 4 • 98
Contudo, recentemente o STF admitiu a progressividade de alíquotas para o
ITD – apesar de não haver previsão constitucional para isso, salvo por aplicação
do princípio da capacidade contributiva.
Seletividade. Como última forma de aplicarmos o princípio da capacidade
contributiva, se pode apontar a técnica em que as alíquotas serão fixadas em fun-
ção da essencialidade do bem objeto de tributação. Isso ocorre ao IPI (art. 153,
§ 3º, I, da CRFB/88), ao ICMS (art. 155, § 2º, III, da CRFB/88), ao IPVA (art.
155, § 6º, II, da CRFB/88) e ao IPTU (art. 156, § 1º, II, da CRFB/88).
Não confisco
Outro princípio afeito ao valor justiça é o não confisco, com previsão expressa no
art. 150, IV, da CRFB/88. Uma definição de não confisco estabelece que a tributação
confiscatória é aquela que é tão elevada ao ponto de extinguir a riqueza tributada.
Assim, há uma divergência no fato de como fazer essa análise. Para uns, o con-
fisco deveria ser analisado de forma geral – pela soma de todos os tributos devidos
– ou de forma isolada – por cada tributo. A última é mais comumente adotada
pelo STF. Até porque, se já o tivesse feito de forma geral, poderia, segundo muitos,
ter reconhecido o confisco no Direito Brasileiro. Afinal, temos uma das maiores
cargas tributárias do mundo.
Esse princípio, como quase todos, não é absoluto e cede espaço para a extra-
fiscalidade. É claro que objetivos maiores podem fazer com que o não confisco
seja abandonado. Por exemplo, uma alíquota de 330% para o cigarro não é con-
siderada como confiscatória. Nem uma alíquota de 60% para as importações. Em
ambos os casos, o propósito do fisco é evitar a ocorrência desses fatos geradores.
capítulo 4 • 99
Não cumulatividade
Esse princípio está afeito ao valor justiça, pois evita que cada cadeia seja onera-
da cada vez mais. Há tributos que se classificam como plurifásicos, ou seja, incidem
por várias vezes na cadeia de circulação do mesmo bem. Caso a incidência em uma
fase fosse completamente independente da outra, haveria a incidência do mesmo
tributo sobre ele várias vezes. Portanto, a não cumulatividade determina que o
valor pago em operações anteriores seja compensado nas operações seguintes.
Isso impõe uma escrituração extremamente complexa e também promove
problemas relativos a benefícios fiscais no meio da cadeia, já que o não recolhi-
mento de tributos não gera créditos para as operações subsequentes.
Neutralidade
Apesar de não ter sido a primeira a passar por nosso objeto de análise, a liber-
dade é o primeiro grande valor a ser construído contra o Estado. O homem é por
natureza livre. A liberdade em seu exercício depende da vontade humana, de sua
consciência, da condição de seu agir. Aliás, esse é o primeiro dos valores erigidos
no lema da Revolução Francesa: liberté, egalité, fraternité. O custo de tudo que
fazemos é um grande impeditivo para seguirmos em uma ou outra direção. Assim,
ao fixar os tributos, o Estado pode acabar tolhendo os particulares de adotarem
uma conduta ou outra em decorrência do custo dos tributos.
capítulo 4 • 100
É claro que essa liberdade somente tem aplicação ampla dentro do território
nacional, já que não seria possível à Constituição garanti-la no território de outros
países, mas ela se aplica a todo o sistema tributário brasileiro. Nesse sentido, so-
mente há uma única exceção prevista na Constituição: o pedágio cobrado em via
conservada pelo poder público.
Note bem que, em via que não é conservada pelo poder público, não podemos
falar de pedágio como espécie de tributo, pois o tributo tem de ser cobrado pelo
poder público. Senão não é tributo.
Aliás, aqui se levanta a grande controvérsia sobre a natureza jurídica do pe-
dágio. Segundo autores como Misabel Derzi, Roque Antônio Carrazza e Luciano
Amaro, esse dispositivo justifica o reconhecimento de que o pedágio é um tributo,
que se submeterá sempre aos limites constitucionais. Geraldo Ataliba reconhece-o
especificamente como uma taxa, pois remunera serviço público de conservação
das estradas decorrente do gasto pelo uso delas. Já para Sacha Calmon Navarro
Coelho, Ricardo Lobo Torres e Hely Lopes Meirelles, é um preço público ou uma
tarifa, pois não é cobrada em razão de serviço específico e divisível nem hoje é
cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada – haja vista o
enorme número de concessões.
Essa proteção está no art. 152 da CRFB/88. Assim como o princípio visto
acima, a liberdade tutelada é a de ir e vir. Isso porque origem e destino trazem a
ideia de deslocamento, mas os destinatários dessa regra são somente os Estados e
Municípios. É por isso que não podemos ter alíquota de IPVA diferenciada em ra-
zão dos veículos serem ou não importados, enquanto o ICMS interestadual pode
ter alíquota distinta conforme o Estado de origem. No primeiro caso, compete ao
legislador estadual fixar as alíquotas, e, no segundo caso, conforme o art. 155, §
2º, IV, da CRFB/88, compete ao Senado Federal.
Imunidades
capítulo 4 • 101
Do mesmo modo que a Constituição outorga competências, ela também afasta
determinadas situações.
Normalmente, o objetivo é preservar alguns valores ou a manutenção de alguns direi-
tos. As imunidades só vêm previstas na Constituição porque são regras de competência.
A Constituição não utiliza a expressão imunidade: ela é doutrinária e juris-
prudencial. A Constituição veda a instituição de tributo, determina a gratuidade,
isenta ou estabelece a não incidência.
A imunidade afasta somente o dever de pagar tributos, mas não afasta os de-
veres instrumentais, como a emissão de notas fiscais, a prestação de informações
ou o dever de declarar. E, na hipótese de que elas não sejam cumpridas, poderá, se
prevista, ser cobrada multa.
É por isso que veremos na próxima disciplina que não estamos em verdade
diante de uma relação de acessoriedade, e sim de uma relação de instrumentali-
dade. Isso porque, pela teoria da gravitação jurídica, o acessório segue a sorte do
principal. Mas aqui o principal (recolhimento do tributo) não existe, mas o “aces-
sório” (ex. declaração) persiste.
Classificações
capítulo 4 • 102
da CRFB/88, que imuniza as pequenas glebas rurais (aspecto objetivo) quando as
explore, só ou com sua família, o proprietário que não possua outro imóvel.
Quanto à eficácia: a imunidade será incondicionada ou condicionável. A
imunidade é incondicionada quando estivermos diante de uma norma constitu-
cional de eficácia plena e aplicabilidade imediata, como é o caso das imunidades
recíprocas. Quando a norma constitucional for de eficácia contida e aplicabilidade
imediata, nesse caso ela poderá ter de atender a requisitos previstos em lei.
Quanto à forma de previsão: será explícita quando perfeitamente iden-
tificável no texto constitucional. É o caso das imunidades do art. 150, VI, da
CRFB/88. Por outro lado, há hipóteses em que, mesmo ausente a norma expres-
sa, podemos encontrar a proibição constitucional de tributação no ordenamento
jurídico. Nesse caso, estaremos diante das imunidades implícitas, como é o caso
da intributabilidade como forma de evitar a tributação confiscatória, ou seja, a
intributabilidade do mínimo vital.
Quanto à abrangência da vedação: ela será excludente – quando estiver re-
servada à tributação para um tipo de tributo e exclusão de outros, como ocorre no
artigo 153, § 5º, da CRFB/88 - ou incisiva – quando prevê determinada situação
em que só pode haver incidência de algum imposto, excluindo os demais, no
exemplo do artigo 153, § 3º, da CRFB/88.
Quanto aos princípios que privilegiam: as imunidades podem ser ontoló-
gicas, como resultado de um princípio constitucional, tendo a isonomia em suas
variadas manifestações a ligação que identifica as imunidades de natureza ontoló-
gica. O exemplo é o da conferida às instituições de educação e de assistência social
sem fins lucrativos que decorre do importante serviço público que prestam. E elas
poderão ser políticas quando conferidas para prestigiar outros princípios cons-
titucionais que puderem beneficiar pessoas com capacidade contributiva. Nesse
grupo, se incluem as imunidades dos templos, das entidades sindicais de trabalha-
dores, dos partidos políticos e suas fundações, dos jornais, periódicos e do papel
destinado à sua impressão.
Quanto ao seu alcance: as imunidades podem ser genéricas ou tópicas/espe-
cíficas. Essa classificação nos permitirá fazer um estudo mais detalhado das imuni-
dades. Por essa razão, a detalharemos a seguir.
Institutos afins
capítulo 4 • 103
imunidade. Imunidade haverá somente quando a Constituição determinar; de outra
forma, será não incidência pura e simples, isenção, alíquota zero ou ainda remissão.
Não incidência pura e simples: é um fenômeno de nosso ordenamento ju-
rídico no qual não há a incidência de tributo pelo simples fato de haver lacuna
na lei. Ou seja, não se deve nenhum tributo, pois nenhum tributo foi instituído.
Podemos citar como exemplo a criação de um possível imposto residual sobre a
propriedade de cachorros, como o tributo alemão die Hundesteuer.
Isenção: também terá previsão de que não poderá ser cobrada, mas essa isen-
ção não se encontra na Constituição: ela está em norma infraconstitucional. Aliás,
essa é a diferença mais importante entre os dois institutos. Podemos então dizer
que a imunidade é a hipótese de não incidência constitucionalmente qualificada,
enquanto a isenção é a hipótese de não incidência legalmente qualificada.
Alíquota zero: é uma hipótese de incidência. Nesse caso, o tributo incide
e seria devido. Contudo, um dos aspectos quantitativos é reduzido a zero, e, ao
multiplicarmos pelo outro aspecto quantitativo, a base de cálculo, o resultado será
sempre zero. É muito comum nos tributos regulatórios em que a alíquota é uma
exceção do princípio da legalidade e pode ser alterada pelo próprio executivo.
Assim, quando se quer incentivar algum setor econômico, em vez de criar uma
isenção – o que demandaria todo um processo legislativo demorado –, o governo
pode reduzir a alíquota a zero.
Remissão: é um favor legal no qual o tributo era originariamente devido, mas
posteriormente o seu pagamento foi perdoado. Aqui o benefício surge depois da
ocorrência do fato gerador, diferentemente de todas as hipóteses acima.
capítulo 4 • 104
exigem regulamentação, segundo a doutrina, serão autoaplicáveis, enquanto outras,
para o STF, dependerão de regulamentação para que possam produzir efeitos.
Imunidades genéricas
As imunidades que serão tratadas agora estão no art. 150, VI, da CRFB/88 e
tratam de vedações para qualquer ente federativo e para todo e qualquer imposto.
Aqui há uma proteção da liberdade de várias espécies (política, religiosa etc.). Essa
imunidade se aplica aos impostos – em princípio, todo e qualquer imposto –, pois
eles não possuem qualquer parâmetro para a sua fixação por se tratarem do único
tributo não vinculado
Imunidade recíproca: determina que é vedado instituir impostos sobre o pa-
trimônio, rendas e serviços uns dos outros (entes federativos, inclusive suas autar-
quias e fundações). É como afirma Humberto Ávila:
capítulo 4 • 105
comprador (particular) de um bem de entidade beneficiada pela imunidade do
pagamento do ITBI, por exemplo.
A limitação só se aplica quando estivermos diante do poder público no exercí-
cio de sua função pública. Mais especificamente, quando ele estiver desenvolven-
do atividade econômica de tal forma que não pode sequer haver risco à concorrên-
cia e à livre iniciativa. Já quanto aos serviços concedidos, devemos observar que a
imunidade não beneficia os concessionários de serviços públicos que explorarem
atividade econômica desde que o serviço público não seja prestado em caráter de
monopólio – como o fazem os Correios e a Infraero.
capítulo 4 • 106
Instituição religiosa. IPTU sobre imóveis de sua propriedade que se
encontram alugados. A imunidade prevista no art. 150, VI, b, CF, deve
abranger não somente os prédios destinados ao culto mas também
o patrimônio, a renda e os serviços ‘’relacionados com as finalidades
essenciais das entidades nelas mencionadas’’. O § 4º do dispositivo
constitucional serve de vetor interpretativo das alíneas b e c do inciso VI
do art. 150 da CF. Equiparação entre as hipóteses das alíneas referidas.
(RE 325.822, Rel. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 18-12-
2002, Plenário, DJ de 14-5-2004.)
capítulo 4 • 107
do art. 14 do CTN: não distribuir qualquer parcela de seu patrimônio ou rendas,
aplicar integralmente no Brasil os seus recursos e manter escrituração regular.
Imunidade das entidades sindicais de trabalhadores. Aqui o propósito é pro-
teger a liberdade de associação dos trabalhadores. A Constituição centra sua atenção
nos sindicatos dos trabalhadores, e não os dos empregadores, pois esses nunca tiveram
sua liberdade tolhida. Aliás, seu poder econômico é capaz de lhes garantir liberdade.
Imunidade das entidades de educação e de assistência social. O propósito
dessa imunidade, como se viu, é atender a interesses públicos, interesses da própria
coletividade. O art. 203 da CRFB/88 estabelece a abrangência da expressão “assis-
tência social”: proteção à família, à maternidade, à infância etc.
O Estado tem se mostrado incapaz de prestar os serviços públicos constitucio-
nalmente reconhecidos. Assim, é uma imunidade subjetiva na qual se prestigiam
aqueles que prestam serviços que deveriam ser satisfatoriamente prestados pelo
Estado. Essa é uma imunidade condicionada aos requisitos que se encontram tam-
bém no art. 14 do CTN.
Não ter fins lucrativos não é o mesmo que não ter lucro. O lucro é extrema-
mente positivo para alcançar seus propósitos; ele não pode é ser distribuído.
Há duas súmulas relativas a esse dispositivo. Da primeira, já falamos, de certa
forma, ao tratarmos da imunidade dos templos, que é a Súmula 724 do STF, que
conclui pela extensão da imunidade sobre o imóvel de propriedade de uma dessas
pessoas, ainda quando alugado a terceiro, mas desde que o produto do aluguel seja
aplicado nas atividades fins delas.
A segunda é a Súmula 730 do STF, que colocou uma pá de cal nas tentativas dos pla-
nos de previdência de verem reconhecida a incidência da imunidade sobre suas ativida-
des. Em verdade, havendo contribuição de segurados, não estaremos diante de uma ins-
tituição de assistência social sem fins lucrativos. Aí se distingue seguridade de assistência.
O que se deve cuidar, entretanto, é da questão do tributo indireto que gera
inúmeras controvérsias. Predomina o entendimento de que a imunidade não per-
siste, pois ela diz respeito somente ao contribuinte de direito:
capítulo 4 • 108
Nesse aspecto, contudo, devemos acompanhar a jurisprudência, já que a ad-
vocacia privada e os contribuintes não se contentam com esse entendimento e
continuam levando essa questão aos tribunais.
Imunidade da liberdade de expressão. Acho importante deixar claro que não
se trata de uma questão cultural. Sei que muitos doutrinadores assim afirmam.
O problema é que a questão cultural é menos abrangente do que a liberdade de
expressão. Se afirmarmos que o objetivo é de ordem cultural, então o governo
poderia fazer uma análise e toda publicação que lhe interessar classificá-la como
cultural ou não a fim de taxar. E, taxando, dificultaria a sua circulação. Ao afirmar
que é liberdade de expressão, esse controle não poderá ser feito, e somente poderá
haver restrição de circulação quando estivermos diante de um crime, como, por
exemplo, o racismo.
Então estarão excluídos apenas os folhetos publicitários que não possuírem nenhu-
ma verdadeira expressão. Mas estão protegidas publicações como álbuns de figurinhas
A imunidade atinge livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua pu-
blicação. Hoje não se trata apenas do impresso. Imunes são o livro, o jornal e a
revista, e não o meio. Pode ser eletrônico, áudio etc. Aliás, temos uma lei que de-
fine a Política Nacional do livro (Lei 10.753/2003) e o define independentemente
do formato. O que está em discussão é se os e-readers serão alcançados pela imu-
nidade. Ora, quando a Constituição foi elaborada, sequer pensávamos que isso
existiria. E hoje a tecnologia avançou tanto que eu estou aqui em uma sala, e você
está em outro ambiente qualquer. Você pode até estar em uma praia, um sítio,
um barco, aproveitando a liberdade que a tecnologia lhe provê e aprofundando
seus conhecimentos em Direito Público entre um mergulho e outro. E, se quiser,
adquirirá um livro eletrônico para aprofundar seus estudos sem ter de esperar para
procurar uma livraria aberta em um grande centro urbano.
Imunidade musical. A Constituição de 1988 foi objeto da EC nº 75 de 2013,
que passou a contar com a seguinte alínea do art. 150, VI, da CRFB/88: fonogra-
mas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou
literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas
brasileiros, bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os conte-
nham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.
A justificativa da PEC que resultou na emenda foi a barreira econômica im-
posta aos artigos produzidos licitamente no Brasil em virtude de sua carga tri-
butária e da concorrência com os artigos de pirataria. Essa imunidade inclui o
fonograma – toda fixação de sons de uma execução ou interpretação, ou de outros
capítulo 4 • 109
sons, ou de uma representação de sons que não seja uma fixação incluída em uma
obra audiovisual - e o videofonograma – gravação de som e imagem de uma inter-
pretação musical, ou seja, os vídeos musicais.
Assim, estariam alcançados pela imunidade os impostos que incidem na pro-
dução de um CD ou DVD, que vai desde a contratação de estúdio, músico, mixa-
gem, produção, até a distribuição a lojas para venda a consumidores finais (exceto
a industrialização, na fase final, de multiplicação de cópias).
Imunidades específicas
A divisão aqui proposta tem como objetivo maior facilitar o nosso estudo, pois
selecionamos aquelas mais importantes, as que geram maiores controvérsias, e dei-
xamos as pontuais para este momento final. Essas imunidades dizem respeito, em
geral, a um único tributo, e não a uma única espécie tributária, como visto até agora.
Imunidade das taxas para o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder: Art. 5º, XXXIV, a, da CRFB/88.
Essa imunidade, como todas as outras, deve ser lida com cautela.
capítulo 4 • 110
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, salvo com-
provada má-fé: Art. 5º, LXXIII, da CRFB/88.
O que se destaca aqui é o acesso à justiça no que tange aos chamados
remédios constitucionais.
Imunidade da gratuidade de justiça aos hipossuficientes: Art. 5º, LXXIV,
da CRFB/88.
Vale consignar o texto específico da lei que regula esse benefício, a Lei nº 1.060/50:
capítulo 4 • 111
Essa questão já foi apresentada ao STF, pois aqui impende avaliar a natureza jurídica
da atividade desempenhada pelos registradores, prevalecendo o seguinte entendimento:
Imunidade das taxas para o habeas corpus e o habeas data e os atos neces-
sários ao exercício da cidadania: Art. 5º, LXXVII, da CRFB/88.
Imunidade dos rendimentos provenientes de aposentadoria e pensão pa-
gos a pessoa maior de 65 anos cuja renda total seja constituída, exclusivamen-
te, de rendimentos de trabalho, ao Imposto de Renda: art. 153, § 2º, II, da
CRFB/88. Tem como objetivo proteger o idoso como uma garantia fundamental
que se tentou revogar por emenda, mas que é inconstitucional.
Imunidade ao IPI de produtos destinados ao exterior: art. 153, § 3º, III,
da CRFB/88. Seu objetivo é estimular as exportações, pois devemos exportar pro-
dutos, e não tributos.
Imunidade de pequenas glebas rurais ao ITR: art. 153, § 4º, da CRFB/88.
É um aspecto do princípio da função social da propriedade e erradicação da po-
breza (art. 3º, II, 5º, XXIII, 170 e 186, da CRFB/88). Aliás, guarda relação direta
com o princípio da capacidade contributiva, normalmente ausente nos proprietá-
rios desses imóveis, mas não se restringe a ela, pois independe dessa análise.
Imunidade do ICMS sobre produtos industrializados, excluídos os semie-
laborados, destinados a exploração: art. 155, § 2º, X, a, da CRFB/88. É seme-
lhante à que vimos anteriormente quanto ao IPI.
capítulo 4 • 112
Imunidade do ICMS das operações que se destinam a outros Estados pe-
tróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados,
e energia elétrica: art. 155, § 2º, X, b, da CRFB/88. Parece que o objetivo é
diminuir o custo desses produtos, mas acaba-se enfraquecendo a arrecadação dos
Estados produtores em benefício dos contribuintes.
Imunidade em relação ao ICMS e IPI do ouro quando definido como ati-
vo financeiro ou instrumento cambial: art. 155, § 2º, X, c, da CRFB/88.
Imunidade em relação a qualquer outro imposto exceto ao ICMS, ISS e
Imposto de Exportação nas operações relativas a energia elétrica, serviços de tele-
comunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do país: art. 155, §
3º, da CRFB/88. O dispositivo trata somente de impostos, razão pela qual o STF su-
mulou entendimento (Súmula 659), segundo a qual poderão incidir PIS e COFINS.
Imunidade dos direitos reais de garantia ao ITBI: art. 156, II, da CRFB/88.
O objetivo aqui seria não onerar ainda mais o contribuinte.
Imunidade em relação ao ITBI na transmissão de bens ou direitos in-
corporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital e da
transmissão de bens ou direitos decorrentes da fusão, incorporação, cisão ou
extinção de pessoa jurídica: art. 156, § 2º, I, da CRFB/88.
Imunidade em relação a impostos nas operações de transferência de imó-
veis desapropriados para fins de reforma agrária: art. 184, § 5º. Embora a
Constituição fale em isenção, estamos diante de uma imunidade, pois encontra-
mos essa norma na Constituição.
A imunidade é justificada diante do fato de ser a reforma agrária meio para a
realização do princípio da função social da propriedade e do objetivo programáti-
co da República de erradicar a pobreza e as desigualdades sociais e regionais.
Imunidade da contribuição da seguridade social para entidades de assis-
tência social: art. 195, § 7º, da CRFB/88.
Aqui estamos diante de um claro exemplo de imunidade, mesmo que a
Constituição denomine de isenção. Senão vejamos:
capítulo 4 • 113
Imunidade da contribuição da seguridade social para os beneficiários de
assistência social: art. 203, caput, da CRFB/88.
Imunidade do serviço de educação para o ensino fundamental: art. 208,
I, da CRFB/88. Essa imunidade não deixa de estar relacionada com a imuni-
dade genérica do art. 150, VI, c, da CRFB/88 que vimos anteriormente. Aqui,
como vimos, e em tantos outros artigos, o propósito do Estado é fazer-se presente
onde não está de forma direta. Assim, uma vez que não logre êxito em prestar o
serviço de educação de maneira universal, o faz através de incentivos fiscais de
ordem constitucional.
Imunidade da celebração do casamento: art. 226, § 1º, da CRFB/88.
É curioso que aqui a nossa Constituição segue a tradição de incentivar o ca-
samento. Para tanto, já se questionou se o alcance era para os reconhecidamente
pobres ou para todos, tanto que:
capítulo 4 • 114
Apesar de recente, esse dispositivo já gerou questionamento perante o STF,
tendo em vista a existência de norma infraconstitucional que lhe dava eficácia:
capítulo 4 • 115
concedido pela União quanto aos tributos federais. Dessa forma, o art. 155, II,
“b”, do CTN não pode ter sido recepcionado pela Constituição.
Importante é esclarecer que a concessão de benefícios através de tratados in-
ternacionais não constitui benefício heterônomo. Isso porque o benefício é conce-
dido pela República Federativa do Brasil, e não pela União Federal. Mas há ainda
assim quem veja os reflexos práticos negativos que isso pode gerar na federação.
Nesse sentido, se posiciona o STF reiteradamente:
Uniformidade geográfica
Não é só intervindo na tributação dos outros entes que a União pode afron-
tar o pacto federativo e colocar em conflito os vários entes federativos. Isso pode
ocorrer também quando ela conceder algum tratamento mais benéfico aos contri-
buintes que estejam em um ente da federação.
Assim, o art. 151, I, da CRFB/88 proíbe que a União conceda tratamento que
não seja uniforme no território nacional, à exceção da concessão de benefício que
tenha por escopo o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico nas diversas
regiões do país. O exemplo disso é a Zona Franca de Manaus.
capítulo 4 • 116
ATIVIDADE
Em 1988, poderíamos dizer que o livro é um conjunto de folhas impressas e reunidas em
volume encadernado ou brochado. Mas será que hoje esse é o mesmo conceito? Vivemos
uma realidade em que podemos adquirir a mesma versão de um livro impresso de maneira
eletrônica, ou seja, podemos baixar o conteúdo de um livro. Contudo, um empecilho sempre
esteve à frente dessa ideia: o desconforto da leitura em telas que produzem imagem através
de luz. O cansaço visual é maior, além do próprio desgaste da saúde da vista. Por isso, foi
necessário criar equipamentos próprios à satisfação dessa necessidade. Daí surgiram os
e-readers. Nesse sentido, é possível alcançar esses livros pela imunidade?
GABARITO
Resposta: O caso apresenta questão de extrema atualidade e que permite analisar como
se deve interpretar uma imunidade constitucional. Nesse sentido, podemos destacar as pa-
lavras do Min. Dias Toffoli: “A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88
aplica-se ao livro eletrônico (e-book), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para
fixá-lo”. Esse pronunciamento foi resultado do julgamento de dois recursos: RE 330.817 e
RE 595.676.
REFLEXÃO
Este capítulo abordou questões relativas às limitações constitucionais ao poder de tri-
butar. Vimos que as limitações se constituem em verdadeiras garantias fundamentais do
contribuinte contra o poder de império do Estado no exercício da tributação.
O estudo das limitações foi estruturado de forma a agregar essas garantias em função
dos valores que se pretende proteger.
Assim, o primeiro grupo de limitações tratou da legalidade, tipicidade, não surpresa (ir-
retroatividade, anterioridade e noventena) com o propósito de ver protegida a segurança
jurídica do contribuinte diante de inovações do Estado com o propósito de tributar.
O segundo grupo de limitações foi daquelas que se vinculam com o valor justiça tribu-
tária. Esse valor congrega o princípio maior da isonomia, que, por si só, já abarca os demais
capítulo 4 • 117
princípios. Entretanto, fizemos uma distinção nos demais princípios, que são o da generalida-
de, universalidade, capacidade contributiva, não confisco, não cumulatividade e neutralidade.
Ainda tratamos do valor liberdade. Nesse ponto, cuidamos de vedações relativas à liber-
dade de ir e vir. Tratamos também de limitações muito importantes consistentes em intribu-
talidades – as imunidades.
Por fim, conhecemos as limitações vinculadas ao federalismo fiscal. Afinal, nos organiza-
mos em uma federação, e é importante evitar possíveis conflitos entre os entes federativos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARNEIRO, C. Curso de Direito Tributário e Financeiro. São Paulo: Saraiva, 2016.
ROSA JR., L. E. F. da. Manual de Direito Financeiro & Direito Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2012.
TORRES, R. L. Curso de Direito Financeiro e Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2016.
capítulo 4 • 118
5
Obrigação e
responsabilidade
tributárias
Obrigação e responsabilidade tributárias
A relação jurídica tributária não é uma relação como qualquer outra. Aliás,
ela sequer é uma relação como a estabelecida há cinquenta anos, quando o nosso
Código foi elaborado. Tendo em vista que a relação entre Estado e indivíduo em
muito mudou nos últimos anos, não se poderia esperar que fosse diferente.
Já foi relação de poder, compreendendo que o Estado simplesmente fazia valer
a sua vontade soberana diante do patrimônio de seus súditos. Mas essa construção
não pode mais ser pensada. Em 1988, inauguramos uma nova era constitucional.
Temos hoje o que se denomina de "Constituição cidadã”. Ou seja, não mais súdi-
tos: somos titulares de direitos contra o Estado.
É bem verdade que não somos assim vistos de forma geral. O cidadão ain-
da é um provedor das necessidades públicas que se justificam diante dos direitos
prestacionais que nos deve o Estado. Mas a construção de uma sociedade justa e
solidária não é algo que se faz no papel. Precisamos construir a imagem de cidadão
no nosso agir diário.
Mas em que avançamos? Avançamos no sentido de que hoje há uma relação
mais equilibrada e o reconhecimento de que determinados elementos para o nas-
cimento dessa obrigação precisam estar previstos em lei. Neste capítulo, vamos
estudar essa relação e quais são os seus elementos.
OBJETIVOS
• Identificar as espécies de obrigação tributária;
• Conhecer os elementos da hipótese de incidência da obrigação tributária;
• Compreender os elementos do consequente tributário;
• Identificar as espécies de responsabilidade tributária;
• Compreender as hipóteses de substituição tributária;
• Compreender as hipóteses de transferência tributária;
• Identificar as hipóteses de responsabilidade de terceiros;
• Compreender a responsabilidade por infrações.
capítulo 5 • 120
Obrigação tributária principal
Obrigação é o poder jurídico pelo qual uma pessoa (sujeito ativo), com
base na lei ou no contrato (causa), pode exigir de outra, ou de um grupo
de pessoas (sujeito passivo), o cumprimento de uma prestação possível,
lícita, determinável e possuindo expressão econômica (objeto).
(ROSA JR., L. E. F. da. Manual de Direito Financeiro & Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Renovar, 2012, p. 282.)
capítulo 5 • 121
A outra é defendida por Klaus Tipke, Dieter Bierk, Ricardo Lobo Torres,
Roque Antonio Carrazza e Geraldo Ataliba. Eles defendem um enfoque mais
constitucional. A obrigação tributária depende da vontade da lei, mas essa vontade
deve se adequar à Constituição. Aliás, a própria tese de Bierk demonstra sua preo-
cupação com aspectos constitucionais, já que tratava do princípio da capacidade
contributiva como medida de controle da norma tributária.
Todas essas teorias servem para compreender, inclusive, como a doutrina do
Direito Tributário e o próprio Direito Tributário evoluíram.
Durante muito tempo, foi pacífico em nossa doutrina que a obrigação tributá-
ria nasce com a ocorrência do fato gerador e o crédito, somente com o lançamento.
O problema é que essa frase é fácil de decorar mas também fácil de criticar.
Se podemos definir obrigação como uma relação de crédito e débito, como seria
possível haver obrigação sem crédito? Que o crédito nascesse em um momento
posterior? Além disso, como poderia a decadência (perda do prazo para lançar)
extinguir o crédito se ele só nasceria com o lançamento? Então vamos ver como
se dividem essas teses.
A primeira teoria é a dualista; nela, seriam necessários dois momentos, o fato
gerador e o lançamento, para que a obrigação tributária esteja completa. O fun-
damento dessa teoria é a interpretação conjugada dos arts. 114 e 145 do CTN
que afirmariam, então, que a obrigação tributária nasce com o fato gerador e o
lançamento constitui o crédito tributário.
A segunda teoria é a monista. Nesse caso, basta apenas um momento para que
a obrigação nasça - e nasça por completo. Esse momento é a ocorrência do fato
gerador. Este entendimento é fundado na leitura de uma combinação diferente de
artigos do CTN: o art. 114 e o art. 139. Assim, a obrigação tributária nasce com o
fato gerador e o crédito tributário decorre dela. Essa teoria é mais compatível com
a teoria geral das obrigações.
Esse tema será mais bem aprofundado no estudo do crédito tributário, pois
desse estudo deriva a teoria dos graus de eficácia do crédito tributário também
chamada de processo de concreção do crédito tributário.
capítulo 5 • 122
Elementos da obrigação tributária
O que vamos estudar agora é o tipo tributário - der Tatbestand, como dizem os
alemães. Trata-se de assunto bastante importante, pois é assim que podemos ana-
lisar toda norma que cria um tributo. Isso porque toda norma jurídica que atribui
efeitos jurídicos para atos ou fatos pode ser dividida em duas partes: a hipótese de
incidência e o consequente.
Aliás, para deixar claro, estamos adotando o entendimento de que hipótese de incidência
e fato gerador não são sinônimos. Como estabelecido, a hipótese de incidência é a
previsão abstrata da lei, enquanto o fato gerador é a situação concreta.
O aspecto material é a situação que precisa ocorrer para que o tributo seja
devido. A sua ocorrência concreta é o fato gerador. E, aqui, algumas breves consi-
derações precisamos fazer.
capítulo 5 • 123
sendo resolutória (art. 127, CC), a obrigação tributária nasce com a celebração do
negócio jurídico – nesse caso, a condição nada é importante para o tributo.
E se estivermos diante de um ato ilícito? Ou de uma venda que foi realizada,
entregue a mercadoria, mas que o comprador inadimpliu as parcelas devidas a tí-
tulo de pagamento? Isso tudo é absolutamente irrelevante para a relação tributária.
Mas é certo que jamais um ato ilícito estará descrito na hipótese de incidência;
ele poderá ser até fato gerador. Quanto ao ato ilícito, aplica-se o princípio do non
olet, segundo o qual o dinheiro não tem cheiro e, portanto, poderá ser tributado.
A avaliação é feita pelo aspecto econômico.
Podemos dizer que o fato gerador é relevante para identificar o momento
de surgimento da obrigação tributária, determinar o sujeito passivo, os demais
elementos da obrigação e o regime jurídico aplicável ao lançamento, precisar o
prazo para homologação do pagamento antecipado dos tributos indiretos, distin-
guir espécies tributárias, conceitos de incidência e não incidência, verificar elisão e
evasão, escolha pela interpretação econômica.
Aliás, é interessante trabalharmos os conceitos de elisão e evasão, ainda que de
forma breve. Como a obrigação tributária é ex lege, depois da ocorrência do fato
gerador não há outra legítima opção ao contribuinte que não seja pagar o tributo.
Um adequado planejamento tributário tende a evitar a ocorrência do fato gerador.
Assim, a elisão será a forma de planejamento tributário lícito em que o contri-
buinte, tendo mais de uma opção, escolhe aquela com nenhum ou menor encargo
tributário. Nesse sentido, as chamadas normas gerais antielisivas, que afastariam
essa liberdade de escolha do contribuinte, seriam até mesmo inconstitucionais por
violarem a liberdade contratual do contribuinte.
A evasão, por sua vez, pode ser entendida como gênero, abrangendo a forma
lícita e ilícita de economia fiscal. Mas também é comumente reservada à ilícita
forma de evitar o pagamento do tributo. E, para diferenciar se é lícita ou ilícita, o
fato gerador terá suma importância – evidente! Há quem utilize como critério o
aspecto temporal: se a conduta se verifica antes da ocorrência do fato, diz-se que é
lícita; se depois, ilícita. Mas é possível criticar isso, citando como exemplo a saída
da mercadoria do estabelecimento (momento de ocorrência do fato gerador do
ICMS) e a possível falsificação de uma nota fiscal que irá acompanhar o produto.
Em resumo, o ideal é analisar o conteúdo do ato.
Alguns conceitos são, assim, importantes. A elusão designa a prática de atos
que não são nem simulados, nem elisivos, na forma do art. 116, parágrafo único,
do CTN. Simulação é disfarçar o ato ou fato jurídico, apresentando-o de forma
capítulo 5 • 124
enganosa para esconder a real intenção. A fraude é um negócio jurídico real, ver-
dadeiro (o que difere da simulação), feito com o intuito de prejudicar terceiros ou
violar a lei. O negócio jurídico indireto é um negócio intrinsecamente verdadeiro,
é real, mas realizado pelas partes para alcançar resultado normalmente diferente.
Dissimulação é mais utilizado como ocultação: esconder algo que existe.
O aspecto temporal trata do momento de ocorrência do fato gerador. Esse
tema é relevante, pois vai designar também o regime jurídico aplicável, uma vez
que se aplica a lei vigente na data da ocorrência do fato gerador.
A maioria da doutrina defende que o fato gerador pode ser instantâneo, com-
plexivo ou continuado. O fato gerador instantâneo é aquele cuja ocorrência se dá
em um único instante por motivo óbvio. Assim é o fato gerador do imposto de
transmissão causa mortis. Afinal, não há nada mais instantâneo. Diferente é o fato
gerador do IPTU: apesar de ele se dar em um único instante, a lei determina que
seja todo dia 1º de janeiro, uma ficção jurídica que se repete igualmente todo ano,
sem que se faça nada para que ele volte a ocorrer. Por isso, ele é denominado de
continuado, pois incide continuadamente.
Então o que é o fato gerador complexivo? Paulo de Barros Carvalho vai dizer
que isso é um neologismo desnecessário. Essa expressão vem do Direito Tributário
italiano, idioma em que a palavra complessivo existe. Os tributos que se encontram
nesse rol são aqueles que não resultariam de um único instante, mas da soma de
vários instantes que ocorressem em um determinado período. Nesse grupo, cos-
tuma-se incluir o imposto de renda, que, como exemplo no caso da pessoa física,
tem seu fato gerador na soma de todos os acréscimos patrimoniais que ocorrem
de 1º de janeiro a 31 de dezembro. Para Paulo de Barros Carvalho, se o fato não
está completo – e, no caso do imposto de renda, estaria completo no último se-
gundo do ano –, ainda não é fato gerador. Então o fato gerador se daria no último
segundo do ano.
Para concluirmos esse ponto, é importante esclarecer que não se trata de prazo
para pagamento: esse é mero exaurimento da obrigação. Tanto é assim que o prin-
cípio da anterioridade submete os elementos da obrigação tributária a aguardarem
até o início do ano seguinte para aplicar-se qualquer alteração legislativa; isso não
se aplica ao prazo de recolhimento, conforme Súmula 669 do STF.
O aspecto espacial corresponde ao local de ocorrência do fato gerador, que
pode ter como importância determinar a competência tributária, como é o caso
do ICMS, de forma a definir qual é o estado competente para aquele tributo.
capítulo 5 • 125
Também não estamos falando de local do pagamento do tributo. Esse local do
pagamento será definido posteriormente como mero exaurimento do tributo.
Consequente
Ocorrido o fato já descrito no momento e local definidos por lei, há uma conse-
quência: alguém deverá o pagamento de um valor tal para outrem. Então aqui temos
os aspectos subjetivos e quantitativos. Vamos tratar dos aspectos subjetivos ativo e
passivo inicialmente, mas vamos deixar o detalhamento da responsabilidade tributária
para o final deste capítulo. O tema é tão complexo que merece um tópico próprio.
O primeiro aspecto subjetivo é o sujeito ativo. O art. 119 do CTN nos ensina
que sujeito ativo é aquele que pode exigir o cumprimento da obrigação tributária.
Resumidamente: o credor. Sendo assim, não estamos falando necessariamente do
ente competente, que, como visto anteriormente, é o ente com o poder de insti-
tuir os tributos por lei. Cuidamos do titular da capacidade tributária ativa – o po-
der de exigir o pagamento do tributo. Poderá ser o próprio titular da competência
ou um terceiro a quem ele delegar essa tarefa. Lembre que a capacidade tributária
ativa pode ser delegada, como estabelece o art. 7º do CTN, diferentemente da
competência tributária.
E vamos esclarecer ainda mais com um exemplo: uma autarquia, como o
INSS, jamais terá competência. Ora, jamais o INSS, em sua estrutura, poderá
fazer uma lei. Mas ele poderá certamente exigir o pagamento das contribuições a
ele devidas que se constituem tributos.
O segundo aspecto subjetivo é o sujeito passivo: Nos termos do art. 121 do
CTN, vemos que o sujeito passivo é a pessoa obrigada ao pagamento do tributo
ou penalidade pecuniária. Essa pessoa poderá ser o contribuinte – aquele que tem
relação pessoal e direta com o fato gerador ou o responsável – que não tem essa
relação com tal fato.
Os aspectos quantitativos correspondem a duas expressões bastante utilizadas
na doutrina: an debeatur e quantum debeatur. O an debeatur é a causa da obrigação
tributária, enquanto o quantum debeatur é o montante do tributo devido. Já vimos
o an debeatur ao estudarmos o fato gerador e a hipóteses de incidência; vejamos o
quantum debeatur.
O tributo pode ser fixo ou variável. Poderá a lei simplesmente estabelecer valor
igual para todos em reais ou em um índice oficial de indexação. Por exemplo, o tri-
buto pode ser fixado em uma certa quantidade de UFIR (Unidade de Referência
capítulo 5 • 126
Fiscal). Muitas taxas são fixadas assim para remunerar um serviço público. O mais
comum, entretanto, é que o tributo seja variável. E as duas variáveis que se pres-
tam à fixação do tributo são a base de cálculo e a alíquota.
A base de cálculo é a representação econômica do fato gerador. Por exemplo,
no IPTU, ela será o valor venal do imóvel. Aliás, valor venal é valor de venda. Se
no seu município esse valor não corresponde ao de mercado, isso é uma distorção.
Para que ele seja justo, a base de cálculo deve ser o valor de mercado e as alíquotas
deverão ser ajustadas.
A alíquota, por sua vez, é o coeficiente que se deve aplicar à base de cálculo.
A legislação brasileira contempla dois tipos: específica e ad valorem. A específica
é aquela fixada por quantidade do bem objeto da tributação, como, por exemplo,
na CIDE (contribuição de intervenção no domínio econômico) incidente sobre
os combustíveis, fixada em sua maioria em m³. Confira na Lei nº 10.336/01, arts.
5º e 9º, e Decreto nº 4.066/01, art. 1º.
A alíquota ad valorem é aquela estabelecida em percentuais. É a que você co-
nhece no imposto de renda. Essa alíquota pode ser fixa, progressiva ou seletiva. A
alíquota fixa é uma alíquota única: independentemente da riqueza do contribuin-
te, ele terá de pagar a mesma alíquota, o mesmo percentual. A alíquota progressiva
pode variar em razão do valor da base de cálculo (quanto maior a base de cálculo,
maior a alíquota – ex.: imposto sobre a renda) ou pode variar de maneira extra-
fiscal (de forma a desestimular o comportamento do contribuinte – ex.: imposto
sobre a propriedade territorial rural – alíquota maior para a maior quantidade de
terras improdutivas). A alíquota seletiva é aquela que varia conforme a essenciali-
dade do bem tributado (ex.: imposto sobre produto industrializado).
Nomenclatura
capítulo 5 • 127
emitir notas fiscais, escriturar livros contábeis, fornecer documentos exigíveis pelo
fisco: nada disso possui diretamente um valor. Daí porque alguns chamam de
dever jurídico, e não obrigação.
Não é acessória, pois, segundo a teoria da gravitação jurídica, acessório é tudo
aquilo que acompanha a sorte do principal. Isso pode ser deduzido do parágrafo
único do art. 175 e do parágrafo único do art. 194, ambos do CTN. Em ambos os
casos, vemos a ressalva expressa de que, mesmo que não esteja presente a obrigação
principal, a acessória persiste. Além disso, ela não é transitória como a obrigação
principal, que se extingue com o pagamento. Ela persiste, é mais estável. Então ela
não é acessória. O mais adequado é designá-la como instrumental, pois não é um
fim em si mesmo, mas sim um mecanismo que se presta à fiscalização do tributo
– objeto da obrigação principal que deve ser recolhido.
Fato gerador
Mais uma evidência de que não se trata de uma obrigação acessória está no art.
115 do CTN. O dispositivo deixa claro que o fato gerador dessa obrigação não é
o daquele da obrigação principal.
E, de certa forma, podemos dizer que o sujeito passivo dela é um auxiliar do
fisco, pois pratica atos próprios do interesse exclusivo da administração, como di-
ria Ives Gandra da Silva Martins, “sem receber nada em troca, a não ser a ameaça
de punição, se não cumprir a exigência fiscal”.1
Por outro lado, quanto ao sujeito ativo, a competência para instituir essas obri-
gações depende da competência para instituir o tributo. Não seria lógico que o tri-
buto pudesse ser fiscalizado e cobrado por quem não tem competência. Ou que
algum dever fosse imposto por quem não tenha interesse direto em vê-lo cumprido.
Forma de fixação
O art. 113, § 2º, do CTN faz referência à legislação tributária. Mesma expres-
são presente no art. 96 do CTN – inclui todo e qualquer ato normativo.
Aqui o tema é controvertido. A rigor, como determina a Constituição (art. 5º,
II, da CRFB/88), ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer nada senão em
virtude de lei. Assim, o comportamento constitucionalmente adequado ao fisco é
que a lei crie o dever formal e o ato normativo infralegal cuide de esmiuçá-lo. Mas
1 MARTINS, I. G. da S. Decadência e prescrição. São Paulo: RDTAPET, 2007, p. 185.
capítulo 5 • 128
esse não é o entendimento que predomina. Predomina que esses deveres podem
ser fixados por qualquer ato normativo, uma vez que não oneram diretamente o
patrimônio do contribuinte.
Natureza jurídica
Forma de fixação
Como se trata de uma multa, neste caso não há dúvida: ela deverá ser fixada por lei.
Fato gerador
capítulo 5 • 129
O único benefício é que, como o objetivo do Direito Tributário não é san-
cionar, a lei afasta a aplicação da multa na hipótese de o contribuinte confessar
a infração cometida e recolher o tributo eventualmente devido: é o instituto da
denúncia espontânea. Ainda aprofundaremos esse tema neste capítulo.
Responsabilidade tributária
Essa responsabilidade pode nascer desde a ocorrência do fato gerador (responsabilidade por
substituição) ou em virtude de uma circunstância posterior (responsabilidade por transferência).
capítulo 5 • 130
Convenções entre particulares
Solidariedade
capítulo 5 • 131
Capacidade tributária passiva
Domicílio tributário
O Código Civil, no art. 70, define o domicílio como “o lugar onde ela estabe-
lece a sua residência com ânimo definitivo”. É o local onde a pessoa será encontra-
da para dela exigir-se o cumprimento de seus deveres e obrigações.
No Direito Tributário, a regra é que o domicílio será de eleição – domicílio
escolhido. Mas, caso o contribuinte não tenha escolhido seu domicílio, será o lu-
gar da sua sede ou o lugar de cada estabelecimento em relação aos fatos que derem
origem à obrigação.
Imagine-se a hipótese de o sujeito ter dois imóveis: um, localizado no bairro
que foi objeto do maior número de novelas no Brasil (Leblon); e outro, que já
foi tema de filme internacionalmente premiado (Cidade de Deus). E se o contri-
buinte preferir escolher o último como seu domicílio tributário? Ou se um imóvel
estiver localizado em Tefé (município do Amazonas que costuma ficar isolado em
época de estiagem) e outro no centro de Manaus, e o contribuinte preferir escolher
o de Tefé? Será que o fisco pode recusar?
É claro que pode! E a regra está no § 2º do art. 127 do CTN. Mas não
precisa de tudo isso: basta que se possa identificar um propósito de embaraçar
a fiscalização.
capítulo 5 • 132
E é também, como toda responsabilidade penal, pessoal. Há uma controvérsia
que ainda não foi resolvida no caso de sucessão. Aliás, o tema deveria ser levado
mais aos tribunais. Falecendo o contribuinte, deixando de pagar tributos e multa,
os herdeiros terão de adimplir o tributo e a multa? Ainda que no limite das forças
do espólio? No que tange ao tributo, não há dúvida. Mas, quanto à multa, há po-
sicionamento em ambos os sentidos: para os que entendem pela não transferência
aos herdeiros, o fundamento está na intranscendência; para os outros, a ideia é
que, após o lançamento, o dever é meramente patrimonial.
Instituto bastante peculiar é o da denúncia espontânea. O art. 138 do CTN
determina que a responsabilidade será excluída pela denúncia espontânea acom-
panhada do pagamento do tributo e seus acréscimos. Não basta parcelar, pois o
próprio art. 155-A, em seu § 1º, esclarece que, salvo determinação em contrário,
o parcelamento não exclui a incidência de juros e multas.
A legislação tributária deixa claro que o intuito é arrecadar, e não punir. Assim,
está afastado, segundo entendimento predominante, qualquer tipo de multa – a
sancionatória e a moratória –, pois o código não escolhe entre uma ou outra.
Alguns pontos importantes devem ser relacionados: segundo o STJ, a multa
não se aplica à obrigação acessória, pois, ao definir que deve vir acompanhada do
pagamento, não poderá incluir obrigação, que não tem por objeto o pagamento
de tributo. De igual forma, no caso de tributo sujeito a lançamento por homolo-
gação, em que tenha sido feita a declaração e pago fora do prazo, não cabe o be-
nefício, pois o importante é que o fisco não tenha nenhum conhecimento do fato.
Conceito
capítulo 5 • 133
Substituição regressiva ou para trás
capítulo 5 • 134
complementado, pois isso devolveria todo o trabalho de fiscalizar. E se o fato gerador
teve efetiva base de cálculo a menor, o próprio STF oscila em seu entendimento.
Será interessante finalizar esse tema com uma breve citação ao Prof. Claudio
Carneiro e seu entendimento crítico:
Conceito
Devedores solidários
Estão previstos nos arts. 124 e 125 do CTN. Como vimos ainda há pouco, o
responsável solidário é aquele que responde pela totalidade da dívida, mesmo que
haja com ele outros devedores. No Direito Tributário, a solidariedade é somente
passiva. Isso porque a capacidade tributária ativa é privativa.
capítulo 5 • 135
Devedores sucessores
Essa responsabilidade é encontrada desde o art. 129 até o art. 133 do CTN.
O dever de recolher o tributo se transfere ao responsável porque o devedor origi-
nário, por algum motivo, desapareceu. Assim, ela pode ser causa mortis, em que
se transfere o ônus aos herdeiros na forma do art. 131, II e III, do CTN. E o que
é importante é que aqui, ainda que o tributo não tenha sido lançado, essa respon-
sabilidade é transferida.
No caso de multas, há entendimento no sentido de que, se já foram lança-
das, elas seriam transferidas, mas devemos aqui notar também qual é a natureza
das multas: se são de caráter moratório ou de caráter sancionatório. No caso das
multas moratórias, elas devem ser transferidas, segundo entendimento prevalente,
pois trata-se de simples indenização pela demora no pagamento, pelo tempo que o
credor não pôde dispor da importância. No caso das multas sancionatórias, a coisa
é diferente. Só haverá ciência de sua existência após o lançamento, pois resultam
da aplicação da penalidade (as moratórias são já conhecidas, porquanto o atraso
no pagamento já as faz induzir). Mas há controvérsia quanto à sucessão, pois pode
se questionar pela aplicação do princípio da intranscendência ou pessoalidade da
pena – segundo o qual a pena não pode passar da pessoa do apenado.
Pode ser também inter vivos na transmissão de imóveis (art. 130 do CTN), de
bens móveis (art. 131, I, do CTN), de estabelecimento comercial, industrial ou
profissional (art. 133 do CTN) e a decorrente de fusão, incorporação, transforma-
ção ou cisão da sociedade (art. 132 do CTN).
Na hipótese da sucessão imobiliária, responderá, em regra, o adquirente pelos
tributos devidos em razão do imóvel. E passa a ser novo devedor do todo devido,
independentemente do valor do imóvel. Assim, se a dívida ultrapassar o valor do
imóvel, o adquirente responde por ela. Ele somente não responderá na hipótese
de, constando na escritura a quitação de todos os tributos, ficar delas sabendo em
momento posterior (art. 130 do CTN). E também na hipótese de bem levado à
hasta pública na execução para pagamento dos tributos, quando não será devido
pelo responsável, inclusive na hipótese de faltar quantia para tanto pelo resultado
do leilão. Aliás, não pode sequer o edital do leilão afastar essa regra, uma vez que
ela é fixada por lei complementar de normas gerais, aplicável, portanto, a todos os
entes federativos.
Uma questão bastante peculiar é a relação de tributos que são abrangidos
pela sucessão imobiliária. Segundo entendimento predominante, aplica-se essa
capítulo 5 • 136
sucessão apenas aos impostos devidos em razão do bem (IPTU, ITR, ITBI), taxas
em razão de serviços prestados em virtude da propriedade (incêndio, coleta de lixo
etc.) e contribuição de melhoria. Muitos municípios, contudo, condicionam a
concessão do habite-se ao pagamento do ISS devido na construção. Tal condição,
caso prevista em lei municipal, somente será lícita se exigida do proprietário que
realizou a obra, mas não do adquirente, já que não há previsão de transferência
dessa responsabilidade. A mesma celeuma, vamos verificar para as contribuições
sociais devidas em virtude da construção.
E como fica se na certidão que for anexada ao instrumento de aquisição vier
a ressalva para outros eventuais tributos, ou seja, não listados? Isso sempre ocorre.
Todos os entes federativos colocam essa ressalva. Mas ela só tem o condão de não
valer como perdão para o devedor originário. O adquirente não pode ver transfe-
rida a responsabilidade para ele nessa hipótese.
Na hipótese de sucessão mobiliária, o art. 131, I, do CTN traz tratamento
diferente da sucessão imobiliária. Nele, não há a ressalva para o caso de haver
certidões que comprovem a situação negativa. O cuidado deve ser até redobrado,
lembrando-se, inclusive, que pela leitura do texto a responsabilidade sequer estará
limitada ao valor do bem. É o que você deve ter em mente ao adquirir, por exem-
plo, um carro. Aliás, nem a notificação ao DETRAN, prevista no artigo 134 do
CTB (Código de Trânsito Brasileiro), se aplica aos tributos.
Na hipótese da sucessão causa mortis, o art. 131, II e III, do CTN cuida,
segundo boa parte da doutrina, de todos os bens (móveis ou imóveis). Alguns
entendem que seria somente em relação aos bens móveis, já que os imóveis
estariam em todas as hipóteses no art. 130. Em resumo, a responsabilidade é
do espólio relativamente aos tributos devidos antes da abertura da sucessão –
cuidado, abertura da sucessão não é abertura do inventário ou arrolamento,
mas data da morte (real ou ficta). Após a abertura do inventário, os herdeiros
responderão na qualidade de responsáveis até a data da adjudicação; após essa
data, serão diretamente contribuintes.
Aqui a responsabilidade deve alcançar os tributos, e não genericamente os
créditos tributários, o que pode fortalecer o entendimento de que as multas não
serão transferidas. Até porque, com a morte, extingue-se a punibilidade.
Na hipótese de sucessão empresarial, temos verdadeiramente quatro situações.
Fusão é a reunião de duas pessoas jurídicas, tendo por resultado a constituição de
uma terceira. Transformação é a modificação de uma pessoa jurídica em outra dis-
tinta. Incorporação é a aquisição de uma pessoa jurídica por outra, só restando essa
capítulo 5 • 137
última ao final do negócio jurídico. A cisão, apesar de não estar expressa, também
deve se submeter à regra: é a divisão de uma pessoa jurídica em outras duas ou mais,
fazendo desaparecer a primeira, restando somente as novas. É que, à época da elabo-
ração do Código Tributário, ela não constava em nossa legislação. A responsabilida-
de será daquela que surgiu em lugar da(s) anterior(es). Apenas para complementar
esses conceitos societários, eles hoje se encontram nos artigos 220, 227, 228, 229 e
233 da Lei 6404/76 e no Código Civil, que, por mais recente, prevalece diante de
qualquer incompatibilidade (arts. 1.113, 1.116, 1.119 e 1.122).
Mais uma vez, temos uma redação que trata apenas dos tributos. Aqui, a juris-
prudência parece entender que a responsabilidade se transfere, sim, no caso de multa.
Em caso de extinção da pessoa jurídica, mas surgindo uma outra pessoa ju-
rídica que explore a mesma atividade por um dos sócios da extinta, ela poderá
responder. Aqui é o que se pode denominar de sucessão empresarial de fato.
Na sucessão de atividade empresarial por aquisição de fundo de comércio ou
estabelecimento, a responsabilidade será integral, se o alienante cessar a exploração
do comércio, indústria ou atividade, e subsidiária, se ele prosseguir na exploração
ou iniciar dentro de seis meses (a contar da alienação) nova atividade no mesmo
ou em outro ramo.
Não é uma sucessão de empresas, pois não deixa de existir uma para surgir
outra. O fundo é comércio e a universalidade de bens que guarnecem a atividade
empresarial. Isso não se confunde com a venda de alguns bens. O artigo exige que
haja liame entre as atividades a anterior e a sucessora.
As escusas estão no § 1º do art. 133. Não haverá sucessão em processo de fa-
lência ou recuperação desde que o adquirente não seja sócio da sociedade falida ou
em recuperação, ou de controladora, ou ainda parente em linha reta, ou colateral
até o 4º grau, ou identificado como agente do falido, ou em recuperação.
Devedores terceiros
Os terceiros são pessoas exteriores à relação jurídica que têm por objeto o
pagamento de tributo.
O art. 134 prevê uma verdadeira hipótese de responsabilidade subsidiária,
ainda que não use essa palavra, pois inicia estabelecendo que haverá responsa-
bilidade “nos casos de impossibilidade do cumprimento da obrigação principal
pelo contribuinte”. Seria possível se confundir achando que isso não é correto,
pois, mais adiante, o Código fala “respondem solidariamente”, mas não se deve
capítulo 5 • 138
ler assim. Deve-se entender que não há solidariedade entre os corresponsáveis,
mas subsidiariedade.
Apesar de ser terceiro em relação à obrigação, é condição para que se constitua
como responsável que, de alguma forma, este participe do ato que configure o fato
gerador do tributo. E também de algum fato que se impute ao responsável que foi
fundamental para gerar o inadimplemento. Aliás, como é um fato que se imputa
a um terceiro, necessário é que seja instaurado procedimento administrativo para
verificar a ocorrência do mesmo.
Nos incisos I a V, temos hipóteses de representação. No inciso VI, hipótese
em que o ato se realiza na presença indispensável do responsável. No inciso VII,
hipótese em que o ato se realiza por conta do responsável.
A transferência dessa responsabilidade se dará, quanto à penalidade, somente
com as de caráter moratório, seguindo o princípio da intranscendência já mencio-
nado anteriormente.
No art. 135 do CTN, temos uma responsabilidade exclusiva das pessoas ali
listadas, o que exclui qualquer outra, ou seja, integralmente. O legislador fala em
responsabilidade pessoal, o que nos leva, pelas interpretações literal e sistemáti-
ca, à conclusão de que estamos diante de uma situação bem diferente das vistas
anteriormente. A pessoa jurídica, por exemplo, originariamente contribuinte, é
excluída quando alguém age em seu nome fora dos limites dos poderes sociais ou
praticando infração à lei, contrato social ou estatutos.
Aliás, aqui tratamos de responsabilidade pessoal, e não de desconsideração da
personalidade jurídica, pois ela irá alcançar tão somente aqueles que agem com
excesso de poder ou infração à lei, contrato social ou estatutos.
E como decorre de conduta propriamente praticada pelo responsável, todos os
valores (tributo, acréscimos moratórios e multas punitivas), independentemente
da natureza, são transferidos, não guardando sequer relação com a participação do
sócio no capital social. Ou seja, ele responde como se fosse o próprio contribuinte.
Essa conduta deve ser apurada em processo administrativo próprio para que
se possa imputar ao responsável e não se confunde com o mero inadimplemento
– que não é ilícito por si só. Esse entendimento já está pacificado no STJ, como
se deve conferir pela leitura da Súmula 430. A infração deve ser prévia ou conco-
mitante ao fato gerador.
Um exemplo é a apropriação indébita das contribuições devidas pelos em-
pregados que foi retida de seus salários. Sempre que se constituírem em crime,
haverá a hipótese do art. 135, III, do CTN. E algo que não deve ser considerado
capítulo 5 • 139
como exemplo é a dissolução irregular, pois em verdade ela é um fato posterior
que não permite a subsunção do art. 135 do CTN. É claro que algo pode ser feito!
Aplicação da teoria do art. 50 do CC: desconsideração da personalidade jurídica,
que possui os próprios requisitos. Mas esse não é o entendimento do STJ, que su-
mulou (Súmula 435) a possibilidade de redirecionamento da execução fiscal nessa
hipótese para alcançar o patrimônio dos sócios. O que se deve fazer para evitar isso
é, ao menos, comunicar à junta comercial da dissolução.
ATENÇÃO
Um dos dispositivos mais controversos é o art. 150, § 7º, da CRFB/88. Esse dispositivo
autoriza a cobrança antecipada do imposto plurifásico por responsável tributário na moda-
lidade substituição para frente. Assim, o governo estabelece pautas fiscais para presumir o
valor futuro da mercadoria e propõe soluções distintas para situações que ocorrerem diferen-
temente do pautado. Na hipótese de o fato gerador não ocorrer, ou seja, a mercadoria não ser
vendida, o valor deverá ser integralmente ressarcido. Na hipótese de o fato gerador ocorrer,
mas a mercadoria for vendida por valor superior ao pautado, nada será feito no caso: o fisco
assume o prejuízo, pois lhe seria mais caro fiscalizar todas as fases de circulação do bem. E
na hipótese de a mercadoria ser vendida a preço inferior à pauta, o prejuízo seria do contri-
buinte, vez que somente haveria restituição na hipótese de a venda não ocorrer. O STF, há
décadas, se debate em torno do tema. Qual é o posicionamento mais recente sobre o tema?
GABARITO
Resposta: Foi concluído pelo Supremo Tribunal Federal (STF) o julgamento do Recurso
Extraordinário (RE) 593849, com repercussão geral reconhecida, no qual foi alterado enten-
dimento do STF sobre o regime de substituição tributária do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS). O Tribunal entendeu que o contribuinte tem direito à diferença
entre o valor do tributo recolhido previamente e aquele realmente devido no momento da venda.
O julgamento foi retomado com o pronunciamento do ministro Ricardo Lewandowski, o
último a votar, acompanhando a posição majoritária definida pelo relator da ação, o ministro
Edson Fachin. Segundo o voto proferido por Lewandowski, o tributo só se torna efetivamente
devido com a ocorrência do fato gerador, e a inocorrência total ou parcial exige a devolução
sob pena de ocorrência de confisco ou enriquecimento sem causa do Estado.
capítulo 5 • 140
Também foi definida a modulação dos efeitos do julgamento de forma que o entendi-
mento passa a valer para os casos futuros e somente deve atingir casos pretéritos que já
estejam em trâmite judicial. Segundo o ministro Edson Fachin, a medida é necessária para se
atender ao interesse público, evitando surpresas, como o ajuizamento de ações rescisórias e
de novas ações sobre casos até agora não questionados.
Foi fixada também a tese do julgamento para fim de repercussão geral: “É devida a res-
tituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pago a
mais no regime de substituição tributária para frente se a base de cálculo efetiva da operação
for inferior à presumida”.
REFLEXÃO
Neste capítulo, tratamos de identificar as espécies de obrigação tributária. Vimos que,
pelo que se denomina obrigação tributária, temos tanto o dever de pagar tributo como os
chamados deveres jurídicos instrumentais, correspondentes a um comportamento do contri-
buinte voltado à fiscalização da tributação.
Também conhecemos os elementos da chamada hipótese de incidência da obrigação
tributária que correspondem aos aspectos material, temporal e espacial - situação necessária
ao nascimento da obrigação tributária, momento de ocorrência do fato gerador e local de
ocorrência do fato gerador, respectivamente.
Em consequência, estudamos os aspectos subjetivos, credor e devedor, e os aspectos
quantitativos - esses correspondem ao quanto é devido, que pode ser fixo ou variável (pos-
suindo base de cálculo e alíquota).
Como verdadeiro complemento do estudo da obrigação tributária, identificamos as espé-
cies de responsabilidade tributária. Esse ponto guarda inúmeras controvérsias, inclusive com
a questão da substituição tributária.
Para concluir o estudo, analisamos a responsabilidade por infrações que se destaca
da obrigação principal mesmo reunida a ela por definição e conveniência legal - apesar de
não técnica.
O tema é repleto de controvérsias, como vimos, e será sempre necessário acompanhar
o entendimento dos tribunais.
capítulo 5 • 141
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARNEIRO, C. Curso de Direito Tributário e Financeiro. São Paulo: Saraiva, 2016.
ROSA JR., L. E. F. da. Manual de Direito Financeiro & Direito Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2012.
TORRES, R. L.. Curso de Direito Financeiro e Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2016.
capítulo 5 • 142
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 143
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 144