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Café Monárquico
Em 1918, quase 30 anos depois da proclamação da República, Monteiro Lobato concebeu um primor de
crônica. O texto versava sobre as decepções com o novo regime, àquela altura ainda em processo de maturação.
“O Brasil é uma nação a fazer. Ou refazer, já que destruíram os alicerces da primeira tentativa séria”, escreveu.
1. Autor
José Renato Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor e editor brasileiro. "O Sítio do Pica-pau
Amarelo" é sua obra de maior destaque na literatura infantil. Criou a "Editora Monteiro Lobato" e mais tarde a
"Companhia Editora Nacional". Foi um dos primeiros autores de literatura infantil de nosso país e de toda
América Latina. Metade de suas obras é formada de literatura infantil. Destaca-se pelo caráter nacionalista e
social. O universo retratado em suas obras são os vilarejos decadentes e a população do Vale do Paraíba,
quando da crise do café. Situa-se entre os autores do Pré-Modernismo, período que precedeu a Semana de
Arte Moderna.
2. Tempo e Obra
“A Luz do Baile” é uma obra incomum dentre tantos escritos de Lobato; afinal, ele é o autor dos contos
infantis, das “reinações de narizinho”, do encantamento com o mundo lúdico... São esses olhos com tanta
ludicidade que compreendem a época de transição psicossociocultural da Monarquia para a República.
Além disso, os novos governantes do Brasil não efetivavam seus conceitos; de líderes republicanos que
inspiravam as melhores tradições e virtudes como o antigo imperador. O artigo de Lobato, na verdade, torna-
se um “manifesto profético” da história republicana no Brasil; a história de ontem, se mistura a de hoje,
formando uma “unidade de desastre”.
3. “A luz do baile”
A alusão feita denota algumas interpretações: 1) Luz dos grandes salões de festa. Luminária majestosa que
ilumina todo baile; 2) Luz que impede a corrupção e os maus modos .
Governo e escritos corrobora com a personalidade ímpar do imperador D. Pedro II. O Brasil não possui
apenas um rei, mas um que ilumina mentes ao seu redor e estimular o nascer da luz nas mentes de seus súditos.
O rei não está nos palácios apenas; ele é presente na administração pública, não somente como gestor,
mas, também, como uma foice nas ideias de apropriação particular do estado.
O estado brasileiro, até então, digno de louvores, do mais humilde funcionário ao alto escalão, torna-
se uma alcateia, onde reina o personalismo e a apropriação do estado.
GRUPO DE ESTUDOS 17 DE NOVEMBRO
Café Monárquico
3.4. Se falta luz...
A falta de um líder daquela estirpe, desencadeou uma famigerada ação dos abusadores da civilização e
do estado organizado.
A experiência republicana, no Brasil, tem sido um fracasso evidente. Uma análise deste 127 anos de
história republicana revelam uma instabilidade crônica das instituições, uma sucessão de sobressaltos político-
sociais e o surgimento, de tempos em tempos, de "salvadores da pátria" que, em pouco tempo, se tornam
decepções dolorosas.
Vivemos hoje momentos especialmente críticos dessa experiência. Próceres republicanos reconhecem
que todo o sistema político está em xeque, enquanto uma operação sem precedentes - a Lava Jato - vai
revelando ao País como, a partir da própria Presidência da República, se atuou para subverter a ordem legal do
País, com um assalto generalizado ao Estado, ao seu (nosso) patrimônio e às instituições do Estado de Direito.
Mas, como traduzir, em poucas palavras, a diferença entre o ambiente social, político e institucional
que imperava no regime monárquico e o que passou a vigorar na república? Monteiro Lobato o fez de modo
didático, num texto que passo a transcrever:
O juiz era honesto, se não por injunções da própria consciência, pela presença da honestidade no trono.
O político visava o bem comum, se não pelo determinismo de virtudes pessoais, pela influência catalítica da
virtude imperial. As minorias respiravam, a oposição possibilitava-se: o chefe permanente das oposições estava
no trono. A justiça era um fato: havia no trono um juiz supremo e incorruptível. O peculatário, o defraudador,
o político negocista, o juiz venal, o soldado covarde, o funcionário relapso – o mau cidadão, enfim – muitas
vezes passava a vida inteira sem incidir num só deslize. A natureza o propelia ao crime, ao abuso, à extorsão, à
violência, à iniquidade, mas sofreava as rédeas aos maus instintos a simples presença da eqüidade e da justiça
no trono.
Foi preciso que viesse a República, e que se alijasse do trono a força catalítica, para patentear-se bem
claro o curioso fenômeno. O mesmo juiz, o mesmo político, o mesmo soldado, o mesmo funcionário, até 15 de
novembro honesto, bem intencionado e bravo e cumpridor dos deveres, percebendo ordem de soltura na
ausência do imperial freio, desenfrearam a alcatéia dos maus instintos mantidos de quarentena.
Daí o contraste, dia a dia mais frisante, entre a vida nacional sob Pedro II e a vida nacional sob quaisquer
das boas intenções quadrienais que se revezam na curul republicana.
Pedro II era a luz do baile: muita harmonia, respeito às damas, polidez de maneiras, jóias de arte sobre
os consolos, dando o conjunto uma impressão genérica de apuradíssima cultura social.