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Cenário de resposta

O texto pode dividir-se em duas partes.


A primeira das suas partes constitutivas é a memória de um medo (ll. 1-15) e conta como era penoso
para o protagonista ir ao barbeiro, a quem chamavam Mestre Finezas, na sua infância; a segunda
parte
(ll. 16-37) é a memória de uma admiração e refere o talento do Mestre Finezas como actor nas
representações dos amadores dramáticos da vila.

Cenário de resposta
O medo prende-se com o incómodo associado à operação de cortar o cabelo, que implicava, além da
imobilidade, o desagradável tinir da tesoura ao pé das orelhas e a comichão provocada pelas mechas
de cabelo cortado. Essas sensações todas contribuíam para que a imagem do barbeiro chegasse a
parecer um pouco ameaçadora (ll. 10-11).
A admiração tem a ver com o facto de o Mestre Finezas ser o mais destacado dos actores nas
representações amadoras que tinham lugar na vila.

Cenário de resposta
Esse «mundo diferente», a que se acedia mediante uma preparação especial de indumentária, era o
mundo do teatro: as pessoas, agora tornadas actores, estavam transformadas, falavam com outros
modos e tinham um aspecto diferente, gesticulavam mais. Quanto ao Mestre Finezas, interpretando
um dos seus papéis melodramáticos em que tomava o partido dos mais fracos, sacrificando-se a si
mesmo,
acabava sempre por morrer.

Cenário de resposta
O Mestre Finezas costumava estar em cena durante todo o espectáculo, o que, dadas as suas
qualidades de actor, era muito apreciado por todos. Assim, certa vez, e pelo facto de a sua
personagem morrer ainda no decurso do primeiro acto, todo o público sentiu a sua falta em palco, ele
que era de todos «o melhor artista», ficando os outros reduzidos à qualidade de «canastrões», e
reduzindo-se consideravelmente o prazer retirado do espectáculo.
Mestre Finezas

Agora entro, sento-me de perna cruzada, puxo um cigarro, e à pergunta de sempre respondo soprando o
fumo:
— Só a barba.
Ora é de há pouco este meu à-vontade diante de mestre Ilídio Finezas.
Lembro-me muito bem de como tudo se passava. Minha mãe tinha que fingir-se zangada. Eu saía de casa,
rente á parede, sentindo que aquilo era pior que ir para a escola.
Mestre Finezas puxava um banquinho para o meio da loja e enrolava-me numa enorme toalha. Só me
ficava a cabeça de fora.
Como o tempo corria devagar!
A tesoura tinia e cortava junto das minhas orelhas. Eu não podia mexer--me, não podia bocejar sequer. —
«Está quieto, menino» — repetia mestre Finezas segurando-me a cabeça entre as pontas duras dos dedos:
— «As¬sim, quieto!» — Os pedacitos de cabelo espalhados pelo pescoço, pela ca-ra, faziam comichão e
não me era permitido coçar. Por entre as madeixas caídas para os olhos via-lhe, no espelho, as pernas
esguias, o carão severo de magro, o corpo alto curvado. Via-lhe os braços compridos, arqueados como duas
garras sobre a minha cabeça. Lembrava uma aranha.
E eu — sumido na toalha, tolhido numa posição tão incómoda que todo o corpo me doía — era para ali
uma pobre criatura indefesa nas mãos de mestre Ilídio Finezas.
Nesse tempo tinha-lhe medo. Medo e admiração. O medo resultava do que acabo de contar. A admiração
vinha das récitas dos amadores dramáti¬cos da vila.
Era pelo Inverno. Jantávamos à pressa e nessas noites minha mãe penteava-me com cuidado. Cal-çava uns
sapatos rebrilhantes e umas peúgas de seda que me enregelavam os pés. Saíamos. E, no negrume da noite
que afogava as ruas da vila, eu conhecia pela voz famílias que caminhavam na nossa freme e outras que
vinham para trás. Depois, ao entrar no teatro, sentia-me perplexo no meio de tanta luz e gente silenciosa.
Mas todos pareciam corados de satisfação.
Daí a pouco, entrava num mundo diferente. Que coisas estranhas aconte¬ciam! Ninguém ali falava como
eu ouvia cá fora. E mesmo quando calados tinham outro aspecto; constantemente a mexerem os braços.
Mestre Finezas era o que mais se destacava. E nunca, que me recorde, o pano desceu, no i? último acto,
com mestre Finezas ainda vivo. Quase sempre morria quando a cortina principiava a descer e, na plateia, as
senhoras soluçavam alto.
Aquelas desgraças aconteciam-lhe porque era justo e tomava, de gosto, o partido dos fracos. E, para que os
fracos vencessem, mestre Finezas não tinha medo de nada nem de ninguém. Heroicamente, de peito aberto
e com grandes falas ia ao encontro da morte.

Manuel da Fonseca
I

1. Localiza a acção ilustrando as respostas com expressões do texto:


a) no tempo;
b) no espaço;
1.1- Explica o significado da palavra Finezas.
2. O narrador recorda as suas idas ao barbeiro quando era criança.
a) Que motivos teria ele para considerar tal acontecimento "pior que ir para a escola"?
b) Identifica as características físicas do Mestre Finezas.
c) Justifica a seguinte afirmação: o retrato físico do barbeiro é feito através de um processo de
caracterização directa.
3. Além de barbeiro, Mestre Finezas era também actor e a ida ao teatro revestia-se de uma solenidade
especial. Indica de que forma se traduzia essa solenidade a nível:
a) do vestuário do rapazinho;
b) das atitudes da mãe;
c) das reacções das outras pessoas.

4. Por que razão ficava o narrador impressionado ao entrar no teatro?

5. Mestre Finezas, como actor, era digno de admiração. Porquê?

6. Classifica o narrador, justificando com expressões do texto, quanto à:


a) ciência;
b) presença;
c) posição;
6.1 – Mestre finezas não se deixou corromper pelo progresso. Justifica com expressões do texto.
6.2- O narrador tornou-se confidente do Mestre Finezas. Como justificas essa relação entre ambos?
6.3- O protagonista mostra uma relíquia ao narrador. Qual?
6.4- Como explicas o valor que ela adquire para ele e para o narrador?

7. "E, no negrume da noite que afogava as ruas da vila..."


Identifica a figura de estilo aqui presente.

“Oiço­lhe a voz desencantada” (linha 42).
8-

Explica o valor expressivo do adjectivo utilizado nesta frase.
Comparação: “… os braços compridos, arqueados como duas garras…”; “lembrava uma
aranha.” Estas duas comparações, que fazem parte do retrato físico de Mestre Finezas, reforçam o
medo que o narrador sentia dele quando era criança. Na segunda comparação não foi utilizada a
partícula comparativa “como”, mas um dos possíveis verbos que estabelecem uma comparação:
“lembrar”

Adjectivação: a adjectivação é uma figura de estilo muito utilizada.


Adjectivação simples: em “pernas esguias”, apenas se atribui uma característica ao
elemento descrito.
Dupla adjectivação: “… a mesma figura alta e seca.”; neste caso a descrição que se faz é já
mais completa, portanto, mais expressiva.
Tripla adjectivação: em “Era agora mais forte, agudo, desamparado …”, as características
estão ainda mais destacadas e valorizadas.
Adjectivação anteposta: em “…enorme toalha…”, o adjectivo é colocado antes do nome,
valorizando-se assim mais a qualidade do que o sujeito em si. Neste caso, é dado um maior
destaque ao facto de a toalha em que Mestre Finezas enrolava Carlinhos ser tão grande que ele
apenas ficava com a cabeça de fora, o que aumentava ainda mais o medo do menino.

Por vezes, as várias Classes de palavras podem contribuir para uma maior expressividade
do texto. ex.”murmúrio lento”, “silêncio”, “choro aflito”, lentamente”, “sensação dolorosa”,
“vagos desgostos pensamentos”, “ música desafinada e triste”- estes nomes, adjectivos e
advérbio estão de tal maneira ligados que sugerem uma ideia de melancolia e lentidão. Para isso
contribuem também as formas verbais “ia engrossando”, “demorava, ondeava”, “vinha e
penetrava-me”, “fazia gemer” e o seu aspecto verbal durativo, traduzindo a continuidade da
acção.

Relacionados ainda com a classe de palavras, surgem no texto nomes que se destacam pelo
grau em que se encontram. Um exemplo é “carão”, que aparece na caracterização que o narrador
faz do Mestre Finezas. Este nome, no grau aumentativo, evidencia claramente um dos traços que
contribuíam para o medo do narrador quando criança. Se se substituísse “carão” por cara, já não
teria o mesmo sentido, nem o mesmo impacto. Outro é o nome próprio “Carlinhos”, o nome do
narrador, que está no grau diminutivo. Neste caso, pretende-se realçar toda a afectividade que
Mestre Finezas ganhou àquele menino, que agora, apesar de ser já um homem, é o único em quem
o Mestre pode confiar e que o continua a respeitar como antigamente: “-Estou um velho,
Carlinhos!”; “- tu queres ouvir uma música que eu tocava muito, Carlinhos?”. Se trocarmos
“Carlinhos “ por Carlos a afectividade já não é a mesma.
A pontuação pode também imprimir mais expressividade ao texto: “mas isto!...(…) Isto
nem que eu morra!... É a minha última recordação…”. A pontuação aqui utilizada sugere frases
muito emotivas, quer pelo ponto de exclamação, quer pelas reticências, que também revelam a
suspensão da frase, deixando antever a profunda tristeza de Mestre Finezas.

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