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Introdução
Ao ouvir as palavras cidadão e cidadania, é comum nos remetermos às ideias de
cidade e de participação dos indivíduos em sua sociedade. Além disso, cidadania
também está associada à concepção de direitos que conformam uma vida digna,
ou seja, o cidadão vive em uma coletividade, a sociedade, participa dela e possui
direitos e deveres que lhe garantem uma vida digna. Essa poderia ser uma maneira
de definir o que é cidadania, ligada à um coletivo de pessoas que atuam na
sociedade de forma democrática e igualitária. Contudo, ao olhar ao nosso redor,
será mesmo que todos os indivíduos de nossa sociedade participam ativamente
das decisões que envolvem suas cidades, estados e a nação brasileira? Ou ainda,
todas essas pessoas, que poderiam ser consideradas cidadãos, exercem de fato a
cidadania? Em outras palavras, possuem as condições necessárias a uma vida
digna? A igualdade, tão clamada e defendida pela sociedade moderna está de fato
sendo defendida e praticada em nossa sociedade?
Neste capítulo, vamos estudar as origens dessas ideias que parecem tão
naturalizadas em nosso dia a dia, entender como foram instituídas e quais são os
principais desafios para uma sociedade justa e igualitária na contemporaneidade.
Acompanhe esse capítulo com atenção e bons estudos!
Figura 1 - Revolução Francesa, quando burgueses e camponeses uniram-se para depor o Estado
Absolutista. Fonte: Oleg Golovnev, Shutterstock, 2018.
VOCÊ O CONHECE?
Os filósofos ingleses Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704), e o franco-suíço Jean-
Jacques Rousseau (1712-1778) são conhecidos como contratualistas por defenderem que o surgimento
do Estado Moderno é resultado de um contrato social, em que os homens viveriam em um estado de
natureza e decidiram abrir mão de sua total liberdade para a constituição da sociedade civil. Contudo,
estes filósofos divergiam quanto ao estado de natureza e a função do Estado. Para Hobbes, esta
instituição viria para evitar uma guerra de todos contra todos; para Locke, atuaria como um juiz, já para
Rousseau foi a instituição da propriedade privada que provocou o surgimento do Estado, posto que o
estado de natureza seria o Éden, da felicidade plena.
VOCÊ SABIA?
Educação, saúde, moradia, trabalho, lazer, esporte e segurança são direitos
garantidos a todos os cidadãos brasileiros pela Constituição Federal de 1988. Ainda
que na teoria isso seja de conhecimento, na prática, esses direitos estão longe de
serem garantidos pelo Estado, fazendo com que uma parcela da população recorra
aos serviços privados, e a maioria simplesmente viva cotidianamente sem acessá-
los, ainda que a existência dos impostos seja justificada para garanti-los.
Figura 2 - Exemplo de ocupação irregular muito comum no Brasil devido à falta de moradia em
melhores condições. Fonte: De Visu, Shutterstock, 2018.
Figura 3 - Praticante de religião de matriz africana, que apesar de estar garantida pela constituição
brasileira, continuam sofrendo violência. Fonte: Vitoriano Junior, Shutterstock, 2018.
VOCÊ SABIA?
A Arábia Saudita é um país em que as diferenças entre os direitos e papéis de
homens e mulheres é bastante desigual, visto sob o contexto dos direitos humanos.
As mulheres precisam da autorização de um parente masculino para viajarem,
trabalharem ou casarem. Foi o último país no mundo a negar as mulheres o direito
de voto, conquistado apenas em 2015, e ainda assim, a representatividade das
mulheres é irrisória, apenas 1 em cada 10 eleitores.
Figura 5 - Mulher protestando em ato público pela garantia de direitos civis, políticos e sociais. Fonte:
arindambanerjee, Shutterstock, 2018.
VOCÊ O CONHECE?
O psiquiatra e filósofo martinicano, de ascendência francesa e africana, Franz Fanon (1925-1961),
escreveu sobre os efeitos do racismo na subjetividade de homens racializados e lutou pela
independência da Argélia. Suas obras “Pele negra, máscaras brancas” (1952) e “Os condenados da
terra” (1961) são referências dos estudos culturais e pós-coloniais.
Figura 6 - A capoeira é uma arte marcial brasileira, desenvolvida por africanos e brasileiros
escravizados e durante muito tempo sua prática foi proibida. Fonte: Val Thoermer, Shutterstock,
2018.
Por décadas e mesmo nos dias atuais, o mito de que no Brasil não existem
conflitos raciais ainda é disseminado quando se deseja discorrer sobre a
sociedade brasileira. O problema é que ele mascara e invisibiliza a realidade de
grupos brasileiros (negros e indígenas), contribuindo assim para a perpetuação de
violências, desigualdades e segregações.
CASO
No Brasil, existem aproximadamente 6 milhões de trabalhadores
domésticos. Destes, mais de 95% são mulheres, e em torno de 70%
mulheres negras. Apenas 30% destas trabalhadoras possuem a carteira de
trabalho registrada e contribuem para a previdência social. Isso quer dizer
que durante décadas essas mulheres trabalharam sem a garantia de um
salário mínimo, uma jornada de trabalho estabelecida e a garantia de
aposentadoria. Somente em 2015, foi regulamentada a “lei das
domésticas”, LCP 150 (BRASIL, 2015), que visa equiparar os direitos das
trabalhadoras domésticas aos demais trabalhadores. A lei abarca somente
trabalhadoras mensalistas, enquanto cresce o número de diaristas, que
trabalham várias vezes por semana. Algumas trabalhadoras preferem o
trabalho na forma de diaristas, pois podem flexibilizar seus horários,
porém com isso apenas recebem quando estão trabalhando, além de que
os danos para a saúde a longo prazo podem ser bem maiores.
Atualmente, o Ministério do Trabalho busca fiscalizar e punir os
empregadores que não estão obedecendo a lei 150/15. Os movimentos
sociais continuam se organizando para conseguirem mais direitos para as
diaristas, que já representam aproximadamente 30% do grupo.
Figura 7 - Exemplo do sincretismo que forma a sociedade brasileira, mulher negra performatiza uma
dança com influências indígenas. Fonte: ostill, Shutterstock, 2018.
Síntese
Concluímos a unidade introdutória aprendendo que o conceito de cidadão nem
sempre abarcou todos os indivíduos de uma determinada sociedade, assim como
a consolidação dos direitos humanos continua sendo um desafio diário,
sobretudo, para minorias sociais.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
aprender que a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) se
constitui como o documento de referência para a implementação dos
direitos humanos nas constituições dos mais diversos países;
estudar os percursos históricos para o surgimento da cidadania e a garantia
dos direitos humanos no contexto brasileiro, chamando atenção para os
desafios que persistem na consolidação da igualdade e justiça social em
nosso país.
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