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ANÁLISE DA FLAMBAGEM ELÁSTICA E DA RESISTÊNCIA DE TELHAS

AUTOPORTANTES DE AÇO FORMADAS A FRIO

Jonathan da Maia Santos de Melo

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do título de Mestre em Engenharia
Civil.

Orientador: Eduardo de Miranda Batista

Rio de Janeiro
Março de 2017
Melo, Jonathan da Maia Santos de
Análise da flambagem elástica e da resistência de
telhas autoportantes de aço formadas a frio / Jonathan da
Maia Santos de Melo. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE,
2017.
IX, 92 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Eduardo de Miranda Batista
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2017.
Referências Bibliográficas: p. 85-92.
1. Vigas-calha. 2. Perfis de aço formados a frio. 3.
Estabilidade elástica. I. Batista, Eduardo de Miranda. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,
Programa de Engenharia Civil. III. Título.

iii
DEDICATÓRIA

A Deus, o autor da vida,


e aos meus pais, João e Leonir,
pelo apoio incondicional, carinho
e, principalmente, por suas orações.

iv
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Eduardo de Miranda Batista, pela atenciosa orientação e apoio, além
do constante estímulo ao aprendizado.

A todo o corpo docente e discente do PEC/COPPE/UFRJ, que participaram de


alguma forma para a materialização deste trabalho. Em especial, ao apoio constante do
companheiro de turma e de profissão Igor Leite e do colega Felipe Vidal, que partiu
dessa caminhada, mas, enquanto esteve aqui, abrilhantou nosso dia a dia com sua
presença e companheirismo.

Ao Dr. Juarez Moara Santos Franco pela incansável paciência, atenção e


participação direta no desenvolvimento desse trabalho. Grande parte dos resultados
dessa pesquisa foi viabilizada por suas sugestões e análises críticas.

Aos meus familiares, pelo carinho, incentivo e amizade. Sem o apoio dos mesmos
essa conquista seria deveras dificultada.

Acima de tudo, a DEUS pela constante presença e pelo fornecimento da


inspiração divina, afinal “...todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles
que amam a Deus...” Rm 8:28.

v
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ANÁLISE DA FLAMBAGEM ELÁSTICA E DA RESISTÊNCIA DE TELHAS


AUTOPORTANTES DE AÇO FORMADAS A FRIO

Jonathan da Maia Santos de Melo

Março/2017

Orientador: Eduardo de Miranda Batista

Programa: Engenharia Civil

Este trabalho aborda os principais aspectos estruturais relacionados ao


desempenho do sistema de cobertura autoportante composto por elementos conhecidos
como “vigas-calha”. Esse sistema construtivo se dirige à cobertura de grandes vãos,
dando origem a um sistema estrutural com comportamento ortotrópico no plano da
cobertura. O estudo é baseado na variação das propriedades geométricas e sua relação
com a eficiência estrutural de perfis formados a frio de geometria trapezoidal. Tal
eficiência é mensurada, principalmente, por meio da análise dos momentos fletores
críticos de flambagem em perfis, obtidos via análise de flambagem elástica. Os
resultados indicam que a geometria e dimensões de enrijecedores intermediários são
mais importantes para causar mudanças no comportamento de flambagem dos perfis do
que a manipulação geométrica da seção transversal dos mesmos. Foi demonstrado que
pequenos ajustes na geometria dos enrijecedores podem alterar significativamente os
momentos críticos, podendo tal prática ser utilizada para o aprimoramento de perfis
trapezoidais enrijecidos usuais. Os resultados apresentados descrevem a metodologia
adotada e a geometria de seções trapezoidais obtidas, classificadas com desempenho
adequado, do ponto de vista da sua resistência estrutural e da eficiência para a área de
abertura.

vi
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

ELASTIC BUCKLING AND STRENGHT ANALYSIS OF STEEL COLD-FORMED


STIFFENED TRAPEZOID ROOFING MEMBERS.

Jonathan da Maia Santos de Melo

March/2017

Advisor: Eduardo de Miranda Batista

Department: Civil Engineering

The present investigation addresses the main structural aspects related to the
performance of large span orthotropic roofing system, based on thin-walled stiffened
cold-formed sections, CFS. The study is focused on the structural performance under
bending effects of stiffened trapezoidal CFS, strongly affected by the variation of its
cross-section geometrical properties. The structural efficacy is estimated with the aid of
elastic buckling analysis allowing identification of the concerned buckling modes and
critical bending moments. The obtained results indicate the main geometrical aspects
and dimensions of the intermediate stiffeners to be considered in order to improve the
buckling behavior of the trapezoidal CFS. It was concluded that the design of improved
trapezoidal CFS are deeply dependent of the shape, geometry and distribution of the
intermediate stiffeners in the cross-section. Minor adjustments in the geometry of the
intermediate stiffeners can significantly change the buckling behavior. The adopted
methodology is described and the final results of improved trapezoidal CFS indicate the
best sections for both structural resistance and roofing coverture efficacy.

vii
Sumário
1 Introdução ............................................................................................................... 1
1.1 Objetivo ............................................................................................................. 3
1.2 Estrutura da Dissertação .................................................................................... 4
2 Descrição das características das vigas-calha ...................................................... 6
2.1 Tecnologia de fabricação e emprego das telhas autoportantes existentes ......... 6
2.1.1 Tipos de aço utilizados ............................................................................... 7
2.1.2 Geometrias de seção transversal ............................................................... 10
2.1.3 Espessuras e vãos usuais .......................................................................... 12
2.1.4 Montagem e aspectos logísticos ............................................................... 14
2.2 Tipologia selecionada para estudo ................................................................... 16
3 Revisão Bibliográfica............................................................................................ 20
3.1 Normas relacionadas ........................................................................................ 21
3.2 Flambagem de placas ....................................................................................... 23
3.3 Modos de flambagem em PFF sob flexão simples .......................................... 26
3.3.1 Modo de flambagem local (L) .................................................................. 27
3.3.2 Modo de flambagem distorcional (D) ...................................................... 28
3.3.3 Modo de flambagem global (G) ............................................................... 29
3.4 Métodos para a análise de estabilidade elástica ............................................... 29
3.4.1 Análise pelo MFF ..................................................................................... 30
3.4.2 Análise pelo MEF ..................................................................................... 32
3.4.3 Análise pela GBT ..................................................................................... 34
3.5 Os enrijecedores intermediários ....................................................................... 35
3.6 Métodos para estimar o momento fletor resistente .......................................... 38
3.6.1 Método da Largura Efetiva (MLE)........................................................... 39
3.6.2 Método da Resistência Direta (MRD) ...................................................... 40
3.6.3 Método da Seção Efetiva (MSE) .............................................................. 43
3.6.4 Comentários .............................................................................................. 44
4 Desenvolvimento de vigas-calha aprimoradas com base na análise de
flambagem elástica ....................................................................................................... 45
4.1 Metodologia empregada................................................................................... 45
4.2 Gerador de coordenadas da ST e ponto de partida .......................................... 47
4.3 Variações geométricas ..................................................................................... 48
4.4 Seleção de três tipologias ................................................................................. 51
4.5 Análises de perfis enrijecidos .......................................................................... 54
4.5.1 Análise por placas..................................................................................... 55
4.5.2 Refinamento dos resultados ...................................................................... 56
4.5.3 Ajustes finais na geometria....................................................................... 58

viii
4.5.4 Resumo dos resultados ............................................................................. 59
4.6 Condições de contorno no modelo de análise .................................................. 62
4.7 Hipóteses de carregamento .............................................................................. 65
4.7.1 Peso próprio da cobertura ......................................................................... 67
4.7.2 Sobrecargas............................................................................................... 67
4.7.3 Vento ........................................................................................................ 67
4.8 Vãos máximos e balanços requeridos .............................................................. 69
4.8.1 Análises de flambagem elástica................................................................ 69
4.8.2 Estimativa de resistência e vãos obtidos................................................... 71
4.9 Discussão ......................................................................................................... 79
5 Conclusões ............................................................................................................. 81
5.1.1 Sugestões para trabalhos futuros .............................................................. 83
Referências .................................................................................................................... 85

ix
1 Introdução

Recentemente, os avanços tecnológicos revolucionaram a construção civil


brasileira, à medida que permitiram a materialização dos cada vez mais ousados
desafios arquitetônicos. Tais avanços viabilizaram novas possibilidades para projetos de
grandes ambientes, para cujas coberturas são requeridas soluções estruturais eficientes,
a um custo competitivo.

Uma das alternativas para a construção dessas coberturas, que apresentam grandes
vãos entre apoios, são as estruturas leves, que têm sido utilizadas em detrimento dos
métodos tradicionais com estruturas metálicas robustas ou estruturas em concreto.
Dentre os materiais disponíveis, nota-se a tendência marcante do uso do aço para a
finalidade apontada.

Nas últimas duas décadas tem sido evidente a expansão do emprego de estruturas
de aço no Brasil, sobretudo no mercado brasileiro de coberturas, onde o aço está
presente em cerca de 20%, de acordo com o Centro Brasileiro da Construção em Aço –
CBCA [1]. Apresentando características de resistência, rigidez e leveza, as coberturas
em aço obtidas por perfis formados a frio (PFF) têm sido amplamente utilizadas,
conduzindo a soluções competitivas.

Devido à grande variabilidade de seções transversais (ST’s) fabricáveis, é possível


o desenvolvimento de elementos de chapa dobrada que acumulam as funções de
cobertura e estrutura ao mesmo tempo. Trata-se das telhas autoportantes, ou vigas-
calha, as quais, por apresentarem altura consideravelmente maior que as telhas
convencionais, permitem o aumento do espaçamento entre apoios, além de gerar
economia com estrutura.

Por serem compostas por PFF com espessuras de paredes finas, da ordem de 0,8 a
1,55 mm, estas coberturas estão sujeitas à incidência dos fenômenos de flambagem
típicos dos perfis de chapa dobrada com elevada esbeltez. Portanto, os critérios de
verificação das telhas autoportantes incluem análises de flambagem elástica para
determinação de cargas críticas e modos de flambagem local (L) e distorcional (D).

Tais análises podem ser conduzidas por diversas ferramentas, a exemplo de


métodos numéricos como o Método dos Elementos Finitos (MEF) e o Método das

1
Faixas Finitas (MFF). Esta pesquisa se utiliza do software livre CUFSM, baseado no
MFF, para proceder o estudo de perfis de vigas-calha.

Como pode ser verificado na Figura 1, é comum o uso de enrijecedores


intermediários nas almas e mesas desses perfis com o objetivo de aumentar sua
capacidade de carga e sua eficiência, já que tais enrijecedores funcionam como um
‘apoio’ longitudinal aos elementos comprimidos [2].

Figura 1 – Exemplos de telhas autoportantes, ou vigas-calha.


(a) acervo fotográfico do autor;
(b) ilustração disponível em: https://www.multiporte.com.br/produtos/.

Em suma, conforme apresentado por MELO et al. [3] em seus estudos


concernentes ao mesmo tema, o desempenho das telhas autoportantes é relacionado:

i. à adequação entre a geometria de sua seção transversal e a tecnologia de


conformação a frio disponível;

ii. à maximização da área de cobertura;

iii. à maximização dos momentos fletores críticos de flambagem, positivos e


negativos;

iv. ao combate da flambagem local; e

v. à investigação da interação desses modos, a fim de evitá-los.

Da pesquisa de telhas autoportantes planas existentes no mercado brasileiro atual,


dotadas de enrijecedores intermediários de diversos tipos, verificou-se que, para peças

2
com cerca de 1,0 mm de espessura, os vãos livres vencidos se encontram na faixa de 12
a 14 metros, com balanços de 2 a 6 metros.

Portanto, um estudo dos parâmetros enumerados de ‘i’ a ‘v’, acima, seria útil para
a proposição de melhorias em peças hipotéticas, visando possíveis acréscimos nos vãos
livres vencidos, com mínimo impacto da eficiência do sistema, relacionada à taxa de
cobertura Cob = Lb / Ls, que representa a razão entre a projeção horizontal da telha
(daqui por diante chamada de ‘cobrimento’) e a largura da bobina de aço.

A taxa de cobertura pode ser considerada uma das medidas de eficiência das viga-
calha, já que está relacionada à economia de material e à redução do peso próprio do
sistema. Vigas com inclinações acentuadas nas almas tendem a apresentar momentos
resistentes altos e taxas de cobertura baixas.

1.1 Objetivo

Este trabalho tem por objetivo avaliar o desempenho estrutural de telhas


autoportantes do ponto de vista da flambagem na flexão simples.

A partir da pesquisa de diversas opções de vigas-calha comerciais existentes, foi


criada uma concepção específica para este estudo, empreendendo-se nela uma série de
alterações geométricas que visam a descoberta dos parâmetros mais influentes nos
fenômenos de flambagem associados, de modo que tais parâmetros sirvam como
subsídio para a criação de geometrias fabricáveis, com interesse prático.

Os artifícios utilizados para a melhoria das peças são, basicamente, a variação


geométrica da seção transversal e a utilização de enrijecedores intermediários, sendo
estes últimos testados com diferentes tipos e espaçamentos.

O estudo da interação entre variáveis geométricas e desempenho mecânico é


avaliado, principalmente, com base em momentos críticos de flambagem elástica. Os
resultados das análises de flambagem elástica dos perfis serão acompanhados da
apresentação dos valores da taxa de cobertura Cob = Lb / Ls. Ao final deste estudo,
busca-se atingir alguns objetivos específicos, quais sejam:

i. simplificar e melhorar o arranjo dos enrijecedores nas peças;

3
ii. a partir de uma largura de bobina de aço predefinida (utilizada como
matéria-prima para a conformação a frio das peças), maximizar a projeção
horizontal das telhas, visando maior potencial de cobertura de cada
unidade;

iii. maximizar os momentos críticos de flambagem elástica.

iv. possibilitar a cobertura de vãos maiores que os usuais desta tipologia;

v. viabilizar o projeto de telhas autoportantes com espessuras de aço mais


finas quanto possível; e

vi. verificar a melhora do desempenho estrutural proporcionada pelo estudo


dos tipos de enrijecedores e seus espaçamentos.

1.2 Estrutura da Dissertação

Esta dissertação é composta por 5 capítulos, onde o capítulo 1 se presta à


introdução do tema e apresenta os objetivos deste trabalho.

No capítulo 2 é apresentado um estudo das concepções existentes no mercado de


vigas-calha, discutindo aspectos como os tipos de materiais empregados e a geometria
de algumas peças. Ao final, foi selecionada certa tipologia para estudo mais
aprofundado ao longo desta dissertação.

O capítulo 3 abordou os aspectos teóricos sobre a flambagem dos perfis de seção


aberta de parede delgada, discutindo-se os modos de flambagem associados à
determinada tipologia de telha autoportante, os quais constituem a fundamentação
teórica para o projeto e dimensionamento dos perfis de chapa dobrada. Também fazem
parte do escopo deste capítulo a apreciação de algumas normas técnicas correlatas, bem
como a discussão sobre alguns software aplicáveis ao presente estudo.

O capítulo 4 apresenta, inicialmente, a metodologia deste estudo, compreendendo


os passos tomados ao longo do mesmo para que sejam atingidos os objetivos. Esse
mesmo capítulo se presta às análises de flambagem dos perfis estudados, culminando
em peças com geometria aperfeiçoada, cujos resultados de desempenho são discutidos
ao final do capítulo.

4
O capítulo 5 apresenta as conclusões deste trabalho, trazendo ao final algumas
sugestões para o desenvolvimento de trabalhos futuros.

5
2 Descrição das características das vigas-
calha

Para a definição de procedimentos que objetivam o aprimoramento de perfis


usuais de telhas autoportantes, é imprescindível conhecer o estado da arte dessas
estruturas no âmbito do mercado brasileiro.

Aspectos relacionados com a tecnologia dessas coberturas, tais como o tipo de


material empregado, o modo de fabricação, transporte e montagem das peças in loco, a
espessuras das telhas, entre tantos outros, devem ser considerados em um estudo prévio.

Para tanto, nos tópicos a seguir são selecionados e discutidos alguns aspectos
considerados primordiais ao processo de familiarização com a tipologia estrutural em
tela.

2.1 Tecnologia de fabricação e emprego das telhas


autoportantes existentes

Por conta dos grandes comprimentos das peças, é comum a fabricação de vigas-
calha a partir de bobinas de aços estruturais manipuladas por um processo contínuo em
mesa perfiladeira de roletes para conformação a frio. Essa forma de fabricação dos
perfis é uma alternativa ao emprego de prensas dobradeiras (processo descontínuo),
pouco aplicáveis ao caso estudado, já que o comprimento do perfil fica limitado à
largura da prensa. A Figura 2 ilustra esses processos.

Figura 2 – (a) Processo descontínuo (prensa) [4]; (b) Processo contínuo (perfiladeira)
[4]; (c) Bobina de aço estrutural [5].

6
O processo contínuo (Figura 2b) é realizado a partir do deslocamento longitudinal
de uma chapa de aço sobre os roletes de uma linha de perfilação. Os roletes vão
conferindo à chapa, gradativamente, a forma definitiva do perfil. Uma vez que a mesa
perfiladeira é alimentada pelo desenrolar de uma bobina de aço, o perfil é cortado
quando deixa a linha de perfilação e atinge o comprimento indicado no projeto.

Para peças com comprimentos maiores, que compõem o escopo deste trabalho,
cujo transporte à obra seja inviável, há a opção de fabricação pelo processo contínuo no
próprio canteiro por meio de máquinas perfiladoras autotransportáveis, conforme
ilustrado pela Figura 3.

Figura 3 – Fabricação de telhas ao nível do solo com perfiladeira autotransportável [6].

2.1.1 Tipos de aço utilizados

Pela grande versatilidade do material, o aço é produzido em uma vasta variedade


de tipos e formas. Parâmetros como o controle da composição química, a garantia de
propriedades mecânicas e a geometria desejada para as peças figuram entre algumas das
exigências para o material, que são levadas em consideração quando da escolha do tipo
a ser empregado.

Em se tratando das estruturas em perfis leves formados a frio, existem diversas


normas para especificação dos aços recomendados para este fim. No Brasil, é
obrigatório o emprego das normas nacionais da Associação Brasileira de Normas
Técnicas - ABNT NBR, assim como normas da “American Society for Testing and
Materials” - ASTM para a fabricação de aços estruturais na forma de bobinas e chapas
planas.

7
A Tabela 1, adaptada da ABNT NBR 14762:2010 [7], apresenta os tipos de aço
especificados em normas brasileiras para uso estrutural, com aplicação para chapas
finas.

Tabela 1 – Chapas finas e Bobinas de aço para uso estrutural, especificadas em


normatização brasileira. Adaptado de ABNT NBR 14762:2010 [7].

Depreende-se da Tabela 1 que a utilização de bobinas para aplicações com PFF


implica, a priori, na escolha de um dos seguintes tipos de aços:

1. Aços resistentes à corrosão atmosférica, também conhecidos como aços


patináveis; e

2. Aços com revestimento metálico.

Os aços patináveis são aços de alta resistência e baixa liga que apresentam maior
resistência à corrosão atmosférica que os aços estruturais comuns. A resistência à
corrosão se dá por meio da formação da pátina, uma camada densa, aderente e protetora
de óxidos que surge na superfície do aço durante a exposição atmosférica [8].

Ocorre que o crescimento da camada de óxido protetora nos aços patináveis é


muito influenciado pelas condições do clima local, quais sejam a temperatura, umidade,
dias chuvosos, distância do mar e poluição do ar. Assim, para o emprego em coberturas,
caracterizadas por condições de contínuo molhamento e secagem insatisfatória, a
formação da pátina fica consideravelmente prejudicada.

8
Além disso, embora esse tipo de aço seja fabricado pelas usinas siderúrgicas
nacionais, aspectos referentes a sua fabricação e especificação, juntamente com os
custos de aquisição envolvidos, fazem com que os aços patináveis não sejam uma
escolha corrente no mercado das telhas autoportantes.

De acordo com o CBCA [9], para aplicações em coberturas são utilizados


preferencialmente os aços revestidos, que são ofertados nos seguintes tipos:

i. Zincados por imersão a quente;

ii. Aluzinc ou Galvalume;

iii. Pré-pintados; e

iv. Aços inoxidáveis.

Dentre esses tipos, os aços zincados de qualidade estrutural (Grau ZAR, conforme
especificações da ABNT NBR 7008:2012 [10]) apresentam boa aceitação para emprego
em vigas-calha.

O processo mais comum de zincagem dos aços consiste na “galvanização por


imersão a quente”, por meio do qual as peças são mergulhadas num banho de zinco
fundido. Esse procedimento também garante ao aço galvanizado resistência à corrosão
do substrato metálico, seja pelo revestimento resistente que é criado, seja pelo fato de o
zinco ser usado como anodo de sacrifício.

Por estas razões bobinas de aço galvanizado têm sido a opção mais adotada na
concepção de telhas autoportantes, já que reúnem num só produto a resistência
mecânica do substrato aço à corrosão conferida pela camada de revestimento de zinco,
apresentando boa performance nas operações posteriores de conformação, soldagem e
pintura [11].

Com relação ao fornecimento dessas bobinas, dados comerciais como larguras e


espessuras podem variar de acordo com a usina fornecedora. A Tabela 2 apresenta as
características das bobinas zincadas produzidas em três usinas de grande porte.

9
Tabela 2 – Características de fornecimento das bobinas laminadas a frio, zincadas,
utilizadas na conformação de vigas-calha, obtidas em catálogos técnicos de três usinas.
Norma Grau do Espessura t Largura (mm)
Usina
Técnica Aço (mm)
CSN 0,30 – 3,00 1000 – 1500
1

ArcelorMittal 0,50 – 2,00 *


NBR 7008 ZAR
2

Gerdau 0,30 – 2,70 1000 – 1500


3

* A ArcelorMittal não faz menção a faixas de largura padronizadas, podendo a


fabricação ser personalizada, conforme cada demanda.

De acordo com os catálogos técnicos das três usinas, outras faixas de largura
podem ser obtidas mediante consulta.

2.1.2 Geometrias de seção transversal

Foram pesquisados diversos padrões e modelos de vigas-calha fabricados na


atualidade. Como forma de estabelecer parâmetros de comparação ao longo deste
trabalho, foram selecionados quatro modelos de fabricantes distintos, com dimensões
ilustradas a seguir. Tais modelos serão referenciados, doravante, como “Fabricantes A,
B, C e D”.

Observam-se, nas Figuras 4 a 7, diferentes padrões de seção transversal das vigas-


calha, cujas conformações exemplificam a versatilidade do trabalho com chapas finas.
Em todas as peças são utilizadas variações de enrijecimentos longitudinais, podendo ser
estes reforços de duas dobras (Fabricante C), reforços trapezoidais (Fabricantes A e C)
ou, ainda, reforços circulares (Fabricantes B e D).

1
Dados disponíveis em:
http://www.csn.com.br/conteudo_pti.asp?idioma=0&conta=45&tipo=59673&prSv=1
2
Dados disponíveis em:
http://vega.arcelormittal.com/produtos_mercados/catalogos/pdf/arcelormittal-catalogo-acos-planos.pdf
3
Dados disponíveis em:
https://www.comercialgerdau.com.br/pt/produtos/bobina-zincada#ad-image-0

10
Figura 4 – Telha autoportante do fabricante Santo André - Fabricante A.
(a) ilustração disponível em: http://www.sandre.com.br/telha_autoportante_259.php.
(b) dimensões da seção transversal (formulada pelo autor).

Figura 5 – Telha autoportante do fabricante Multiporte - Fabricante B.


(a) ilustração disponível em: https://www.multiporte.com.br/produtos/.
(b) dimensões da seção transversal (formulada pelo autor).

Figura 6 – Telha autoportante do fabricante Telhas e Ultra-Painéis - Fabricante C.

11
(a) ilustração disponível em: http://www.telhaseultrapaineis.com.br/tup-260/.
(b) Dimensões da seção transversal (formulada pelo autor).

Figura 7 – Telha autoportante do fabricante Açoport - Fabricante D.


(a) ilustração disponível em: http://acoport.com.br/telhas-autoportantes/dados-tecnicos/.
(b) Dimensões da seção transversal (formulada pelo autor).

Existem ainda os enrijecedores triangulares, testados por SOUZA et al. [12] em


perfis do tipo U enrijecido, apresentando boas respostas em elementos submetidos à
compressão, conforme ilustrado na Figura 8.

Figura 8 – Perfil U enrijecido com enrijecedor de alma triangular [12].

2.1.3 Espessuras e vãos usuais

As telhas autoportantes são usualmente projetadas para trabalharem biapoiadas,


fazendo-se uso de balanços nas extremidades. Além disso, são encontradas nas formas
plana ou em arco, sendo esta última mais adequada para vencer maiores vãos. As duas
tipologias são exemplificadas na Figura 9.

12
Figura 9 – Tipologias: (a) telha plana; e (b) telha em arco. Adaptado de AÇOPORT
[13].

Este estudo concentrará atenção apenas na tipologia plana, cujo aprimoramento


representa um desafio maior que as telhas em arco, uma vez que estas são capazes de
vencer vãos da ordem de 40 metros.

Os principais parâmetros técnicos com impacto direto na determinação dos vãos


livres vencidos pelas vigas-calha planas são:

i. a resistência do aço empregado;

ii. a geometria da seção transversal enrijecida;

iii. as flechas limites para as telhas;

iv. as hipóteses de carregamento; e

v. a espessura da chapa.

Uma maneira de comparar, de forma simplificada, os vãos vencidos pelas peças


dos quatro fabricantes consiste na verificação da relação ‘vãos vencidos x espessuras
dos perfis’, já que os itens ‘i’ a ‘iv’ são bastante heterogêneos, podendo variar para cada
aplicação e conforme especificações de cada fabricante. As espessuras utilizadas, no
entanto, são padronizadas pelas usinas fornecedoras das bobinas de aço, sendo usual a
fabricação de vigas-calha com 0,80 – 0,95 – 1,11 – 1,25 e 1,55 mm de espessura.

A Figura 10 apresenta os vãos vencidos pelas peças dos Fabricantes ‘A’ a ‘D’ em
função dos balanços utilizados nas extremidades das telhas e da espessura das mesmas.
Os dados utilizados para a confecção das curvas foram obtidos a partir dos catálogos do
próprio fabricante.

13
Figura 10 – Vãos vencidos pelas telhas autoportantes dos Fabricantes A, B, C e D.

Cumpre sublinhar que o objetivo dessas comparações é tão somente expor, de


maneira mais clara, a ordem de grandeza dos vãos livres factíveis com alternativas já
aceitas no mercado, para condições usuais de carregamento. Como as peças não são
fabricadas com o mesmo tipo de aço, com a mesma largura de bobina e não consideram
as mesmas hipóteses de carregamento, seria equivocado comparar o desempenho das
mesmas a partir do exposto na Figura 10.

Observa-se na Figura 10 que as telhas planas encontradas no mercado, com


condições de apoio de acordo com a Figura 9a, são capazes de vencer vãos livres de
cerca de 20 metros para espessuras de chapa de 1,55 mm, dependendo das hipóteses de
carregamento consideradas. Para espessuras próximas a 1,0 mm, são comuns vãos de 15
metros.

Neste estudo, serão analisadas telhas de tipologia plana com 1,0 mm de espessura,
buscando-se verificar a possibilidade de vencer vãos ainda maiores que 15 metros, após
a implementação das melhorias propostas.

2.1.4 Montagem e aspectos logísticos

Como exemplificado nos tópicos anteriores, o sistema construtivo autoportante


ora investigado é constituído por telhas metálicas em aço zincado, justapostas,

14
interligadas através de parafusos galvanizados com arruelas de vedação e fixação,
formando um sistema ortotrópico de cobertura [14].

Alguns fabricantes sugerem em seus catálogos técnicos o emprego de presilhas,


que prendem as vigas-calha umas às outras, propiciando melhor performance às ações
do vento, conforme ilustrado na Figura 11.

Figura 11 – Exemplos de suportes de contraventamento usados em sistemas de


cobertura autoportantes.

A fixação das telhas na estrutura varia entre os fabricantes e depende da geometria


das peças, sendo necessários suportes para fixação em alguns casos. A Figura 12
apresenta o esquema de fixação das peças dos Fabricantes A e C, ao passo que a Figura
13 apresenta o esquema para as peças dos Fabricantes B e D.

Figura 12 – Esquema de fixação das telhas dos Fabricantes A e C.


(a) ilustração disponível em: http://www.sandre.com.br/telha_autoportante_259.php.
(b) ilustração disponível em: http://www.telhaseultrapaineis.com.br/tup-260/.
Ilustrações adaptadas pelo autor.

15
Figura 13 – Esquema de fixação das telhas dos Fabricantes B e D.
(a) ilustração disponível em: https://www.multiporte.com.br/produtos/.
(b) ilustração disponível em: http://acoport.com.br/telhas-autoportantes/dados-tecnicos/.
Ilustrações adaptadas pelo autor.

Dependendo do comprimento das telhas, as mesmas podem ser adquiridas em


peças e transportadas até o canteiro de obras por meio de carretas ou caminhões
“Truck”. De acordo com o CBCA [9], na fabricação de telhas convencionais é usual
adotar comprimentos até 12 metros, como forma de viabilizar o transporte sem a
necessidade de veículos especiais.

Conforme já mencionado, peças de grandes comprimentos podem ser fabricadas


no próprio canteiro de obras com perfiladoras autotransportáveis.

Dependendo das dimensões da obra, a montagem das telhas na posição final pode
contar ainda com equipamentos como torres metálicas, guindastes, lanças telescópicas e
andaimes.

2.2 Tipologia selecionada para estudo

Apresentadas algumas tipologias de telhas autoportantes existentes no mercado


brasileiro, faz-se necessário definir uma geometria hipotética de viga-calha para, a partir
dela, empreender as técnicas de aprimoramento dos perfis.

FRANCO et al. [15] estabelece a definição de um tipo genérico de PFF, baseado


em suas operações de fabricação. O subtipo de PFF denominado “viga-calha” é dotado
de propriedades constantes ou essenciais e de propriedades variáveis ou acidentais, uma
vez que partilha certas características que o identifica como tal, semelhantemente a
todos os outros perfis abertos de aço formados a frio.

16
Os termos “essenciais” e “acidentais” são usuais para definir tipos, sendo
encontrados na literatura relacionada à ciência da computação e à gramática da forma
[3].

Para definir as propriedades essenciais das peças a serem estudadas, além da


observação dos modelos usuais disponíveis comercialmente foram levadas em
consideração recomendações disponíveis em normas que tratam do projeto de estruturas
em PFF.

Embora a normatização brasileira (ABNT, 2010) não apresente, de maneira direta,


recomendações para geometrias análogas às vigas calha, as normas norte-americana
(AISI, 2012 [16]) e europeia (EUROCODE 3,1993 [17]) trazem ilustrações desses tipos
de perfis (Figura 14).

Figura 14 – (a) Ilustração de perfil trapezoidal da norma norte-americana AISI, 2012


[16]. (b) Ilustração de perfil trapezoidal da norma europeia EUROCODE 3, 1993 [17].

Visando facilitar a interpretação das normas para o perfil estudado, buscou-se


adotar uma determinada geometria de viga-calha cujas propriedades essenciais fossem
capazes de, ao mesmo tempo, garantir a semelhança do perfil com as imagens da Figura
14 e com os modelos dos fabricantes apresentados anteriormente.

Como resultado, chegou-se à seção transversal ilustrada na Figura 15, utilizada


como ponto de partida para este trabalho.

17
Figura 15 – Seção transversal de viga-calha – geometria inicial.

As propriedades essenciais desta viga-calha são:

i. seção transversal monossimétrica;

ii. duas mesas superiores;

iii. uma mesa inferior;

iv. duas almas inclinadas;

v. dois enrijecedores de aba verticais ‘e’ de 25 mm de largura de parede


(medida baseada nos enrijecedores de aba dos Fabricantes A e B –
exigência para fixação de telhas adjacentes); e

vi. geração por operações de dobra sobre uma chapa de largura Ls = 1200
mm.

As propriedades acidentais desta viga-calha são:

i. o ângulo θ entre alma e mesas;

ii. a largura das mesas e das almas;

iii. quantidade, disposição e conformação dos enrijecedores intermediários; e

iv. a espessura ‘t’ da parede da chapa.

As diferentes combinações que serão implementadas pelo manuseio das


propriedades acidentais terão como cerne a busca pelo aprimoramento do fator de
aproveitamento de material, já denominado de taxa de cobertura Cob = Lb / Ls. A Figura
16 exemplifica os parâmetros Lb e Ls.

18
Figura 16 – Ilustração dos parâmetros Ls (largura da bobina de aço) e Lb (cobrimento).

As premissas para adoção de enrijecedores, espessuras das chapas e demais


alterações geométricas serão vistas adiante, em capítulos específicos.

A Tabela 3 apresenta as propriedades mecânicas do aço sugeridas pela ABNT


NBR 14762:2010 [7], que serão utilizadas ao longo deste trabalho.

Tabela 3 – Propriedades mecânicas do aço consideradas.

Propriedade Símbolo Valor

Módulo de Elasticidade E 200.000 MPa

Coeficiente de Poisson ν 0,3

Módulo de Elasticidade Transversal G 77.000 MPa

Coeficiente de Dilatação Térmica β 1,2x10-5 C-1

Massa Específica ρ 7850 kg/m³

Tipo de Aço ZAR-345 fy = 345 MPa

Largura da Bobina Ls 1200 mm

19
3 Revisão Bibliográfica

Os perfis de aço usados na construção podem ser divididos em três grupos:

i. perfis laminados a quente;

ii. perfis soldados; e

iii. perfis formados a frio (PFF).

As duas primeiras classes constituem o grupo dos perfis pesados, ao passo que os
perfis formados a frio são também chamados de ‘perfis leves’.

Os estudos sobre o comportamento dos PFF como elementos estruturais tiveram


início nos trabalhos pioneiros do professor George Winter, desenvolvidos a partir de
1939, na Universidade Cornell, com o patrocínio da “American Iron and Steel Institute”
(AISI).

Baseada nos trabalhos de George Winter, em 1946 a AISI publicou a primeira


regulamentação sobre o assunto: “Specification for the Design of Light Gage Steel
Structural Members”. Desde então, vários grupos de pesquisa têm concentrado esforços
na investigação do comportamento dos PFF.

Relacionados diretamente ao escopo da presente dissertação destacam-se alguns


grupos de pesquisa, a saber:

 Nos EUA, o grupo de pesquisa do professor Benjamin W. Schafer, na


“The John Hopkins University”;

 Na “University of Missouri-Rolla”, EUA, os estudos empreendidos pelos


professores Wei-Wen Yu e Roger LaBoube;

 Em Portugal, o grupo de pesquisa do IST, na “Universidade de Lisboa”,


liderado pelo professor Dinar Camotim;

 Na Austrália, o grupo da “The University of Sidney”, liderado pelo


professor G. Hancock, destacando-se também os estudos do professor Kim
Rasmussen;

20
 No Brasil, os trabalhos diversos realizados na Universidade Federal do Rio
de Janeiro/ COPPE, por iniciativa do professor Eduardo de Miranda
Batista;

 Ainda no Brasil, encontramos grupos significativos de dissertações e teses


de doutorado na Universidade Federal de Ouro Preto e na Universidade de
São Paulo/ Escola de Engenharia de São Carlos.
Na pesquisa bibliográfica para este estudo não foram encontradas referências
internacionais significativas dirigidas a pesquisas para seções trapezoidais enrijecidas.

3.1 Normas relacionadas

Com a crescente utilização dos perfis leves, ao longo de décadas, pesquisadores


têm se dedicado a trabalhos teóricos e experimentais buscando compreender o
comportamento estrutural destes elementos e apresentar soluções seguras, práticas e
econômicas [18].

Como resultado dessas pesquisas foram sendo geradas normas e recomendações


em uma série de países, como o Brasil, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia,
além das normas europeias (EUROCODES), entre outros.

O trabalho de RODRIGUES et al. [18] propõe uma análise qualitativa e


comparativa entre as principais normatizações recentes que tratam dos PFF, que são:

i. ABNT NBR 14762:2010 [7] – Norma Brasileira;

ii. AISI S100-2012 [16] – “American Iron and Steel Institute”;

iii. EN 1993-1-3 [17] – “European Standard”; e

iv. AS/NZS 4600:2005 [19] – Australian/ New Zeland Standard.

No Brasil, a norma correlata ao assunto é a ABNT NBR 14762:2010 –


Dimensionamento de estruturas de aço constituídas por perfis formados a frio [7]. Essa
Norma, baseada no método dos estados-limites, estabelece os requisitos básicos ao
dimensionamento, à temperatura ambiente, de perfis estruturais de aço formados a frio
destinados a estruturas de edifícios.

21
Nos EUA, Canadá e México, a normatização é estabelecida por meio da “North
American Specification for the Design of Cold-Formed Steel Structural Members” [16].
Esta norma é aplicável a todos os tipos de emprego de PFF e nela são abordadas as
formulações para o cálculo de resistências dos elementos pelos Métodos da Largura
Efetiva - MLE e da Resistência Direta - MRD, que serão discutidos adiante. A
normatização norte-americana é ainda utilizada em muitos países que não possuem uma
especificação técnica equivalente para os PFF.

Na Europa, o “Eurocode 3 (EC3)” corresponde ao conjunto de normas destinadas


aos projetos de estruturas de aço. O EC3 é dividido em seis partes, sendo incluída na
parte 1 (EN 1993-1) [20] as regras e disposições gerais para edifícios em aço. Essa
primeira parte é ainda subdividida em doze subpartes, das quais a terceira subparte (EN
1993-1-3) [17] é a que versa sobre os elementos de chapas finas conformados a frio.

A especificação técnica que orienta o dimensionamento das estruturas metálicas


constituídas por PFF na Austrália é a norma AS/NZS 4600:2005 – “Cold-formed steel
structures” [19]. Esta norma também apresenta as formulações para a estimativa de
resistências pelo Método da Largura Efetiva - MLE e pelo Método da Resistência Direta
- MRD, desenvolvido inicialmente nos EUA.

À semelhança da versão norte-americana, com relação ao MRD, a norma


australiana também apresenta tabelas com limites geométricos para peças pré-
qualificadas à compressão e sujeitas à flexão. A Figura 17 ilustra dois perfis com
geometrias análogas aos perfis estudados nessa dissertação. Abaixo dos mesmos são
listadas as respectivas restrições geométricas sugeridas para a aplicabilidade do MRD,
pela norma norte-americana.

22
Figura 17 – Limitações geométricas para aplicabilidade do MRD em peças sob flexão.
Adaptado da AISI [21].

3.2 Flambagem de placas

Antes de mencionar os aspectos teóricos da flambagem de placas, faz-se


pertinente definir o termo “chapas”.

De acordo com PFEIL [22], “as chapas são produtos laminados, nos quais uma
dimensão (a espessura) é muito menor que as outras duas (largura e comprimento)”. A
Figura 18 apresenta uma sugestão para a diferenciação de chapas grossas e finas [22].

23
Figura 18 – Características das chapas grossas e finas [22].

Acerca dos fenômenos de flambagem, o comportamento das placas é diferente do


comportamento de um elemento unidimensional como uma barra. Isso ocorre porque as
placas, possuindo características bidimensionais, são capazes de suportar tensões acima
da crítica devido à redistribuição de tensões para as partes enrijecidas. Apresentam,
portanto, trajetória pós-crítica estável e com ganho de resistência. Este fenômeno é
denominado “comportamento pós-flambagem”, bastante pronunciado em placas com
elevada relação largura/ espessura.

Tal comportamento é diferente do que ocorre com as barras comprimidas ao


atingir a tensão crítica de flambagem. Neste caso, para pequenos acréscimos da força
normal, além da força crítica, os deslocamentos transversais resultam demasiadamente
elevados, motivo pelo qual, do ponto de vista prático, o comportamento pós-flambagem
não é considerado no projeto de barras comprimidas.

O mecanismo pós-flambagem fica evidenciado pela Figura 19. A placa, contínua,


é substituída por linhas (barras) longitudinais (direção do carregamento) e linhas
(barras) transversais. Trata-se de um modelo simplificado, para auxiliar na compreensão
do comportamento físico do fenômeno da flambagem. Nesse caso, as linhas
transversais, tracionadas, tratam de estabilizar a flambagem das linhas longitudinais,
levando a um enrijecimento do conjunto estrutural conforme o carregamento aumenta,
superando o valor do carregamento crítico de flambagem.

24
Figura 19 – Placa comprimida simplesmente apoiada no contorno. Trajetórias de
equilíbrio. Adaptado de REIS e CAMOTIM [23].

O gráfico da Figura 19 mostra que as placas, ao atingirem a carga crítica, sofrem


translações normais ao seu plano médio, evoluindo para uma trajetória de pós-
flambagem estável.

Acerca do termo “flambagem”, é válido esclarecer que o mesmo é empregado


para designar problemas de bifurcação do equilíbrio, presente em sistemas ideais (sem
imperfeições) e com carregamento centrado, válido tanto para barras quanto para placas.

O modo de falha por flambagem local, (ou de placa), ocorre em perfis de chapa
fina dobrada sujeitos a carregamentos frequentemente menores aos que correspondem à
plastificação total ou parcial da sua seção transversal. A Figura 20 ilustra o
comportamento de uma placa isolada perfeita sob compressão.

25
Figura 20 – Comportamento das placas isoladas perfeitas sob compressão [22].

No dimensionamento dos elementos de aço de paredes finas, a resistência pós-


flambagem deve ser levada em conta para a seleção de seções mais econômicas. Pode-
se determinar a tensão crítica de flambagem elástica a partir da equação diferencial
baseada na hipótese de pequenos deslocamentos, discutida por TIMOSHENKO e GERE
[24]. As propriedades da trajetória de pós-flambagem são obtidas através de uma
Análise Não Linear de Estabilidade (ANLE). O tema envolve uma discussão mais
ampla e é explorado pormenorizadamente por REIS e CAMOTIM [23].

Devido à elevada esbeltez dos perfis de parede fina, os fenômenos de flambagem


condicionantes ocorrem, em geral, em regime elástico.

3.3 Modos de flambagem em PFF sob flexão simples

Como já mencionado, as análises lineares de estabilidade, também conhecidas por


análises elásticas de estabilidade, permitem obter os esforços críticos de flambagem e os
respectivos modos, ou seja, os menores valores de esforços que provocam a flambagem
da barra ideal e as deformadas associadas.

26
Os PFF com comprimento não muito superior à largura das paredes podem
apresentar modos de flambagem local de placa. Para comprimentos intermediários,
pode ocorrer o modo distorcional. Para perfis de chapas mais “longas”, onde o
comprimento é predominante nas dimensões da peça, pode ocorrer o modo de
flambagem global, o qual é dependente da geometria da seção transversal e do
comprimento do perfil. Esses três são os modos clássicos em PFF, e serão abordados
com frequência nesta pesquisa.

Serão apresentados a seguir os conceitos básicos concernentes a cada modo. Uma


forma mais rigorosa de definir estes modos de flambagem pode ser encontrada nos
trabalhos de TIMOSHENKO e GERE [24], ALLEN e BULSON [25] e REIS e
CAMOTIM [23].

3.3.1 Modo de flambagem local (L)

O modo local está associado à flambagem de placa, com deslocamentos de flexão


fora do plano das paredes do perfil (mesa, alma ou enrijecedor), cujas linhas de
intersecção bem como o ângulo entre os elementos mantêm-se inalterados. A Figura 21
ilustra a incidência deste modo em um dos modelos de viga-calha estudados neste
trabalho.

Figura 21 – Modo de flambagem local de placa em PFF de viga-calha solicitado por


momentos fletores que comprimem as fibras superiores.

Pode-se observar na Figura 21 que a deformação da seção se deve, basicamente, à


flexão das paredes internas. As paredes externas, que tem um bordo livre, sofrem
essencialmente rotação de corpo rígido. Com relação às linhas de interseção entre as
paredes, permanecem retilíneas nesse modo.

27
Dependendo da idealização das condições de contorno, que simulam a união entre
vigas-calha adjacentes, a configuração deformada da peça no modo local pode sofrer
alterações, mantendo, porém, as características gerais descritas no parágrafo anterior. A
inserção de enrijecedores longitudinais também causa impactos na geometria
deformada, sendo tais impactos objeto de análise mais detalhada apresentada adiante.

Quando o comprimento das placas comprimidas é sensivelmente maior que quatro


vezes a sua largura, o modo de flambagem local exibe comprimentos de semionda
longitudinais curtos, da mesma ordem de grandeza da largura da placa [26].

3.3.2 Modo de flambagem distorcional (D)

O modo distorcional, quando relevante, ocorre em perfis com comprimento


intermediário entre os perfis que sofrem flambagem local e global. Em geral,
apresentam comprimentos de semionda da ordem de cinco a dez vezes superiores aos
que ocorrem para o modo local de placa [26].

De acordo com PINTO [26], os primeiros trabalhos sobre o fenômeno da


flambagem distorcional são atribuídos a Douty - 1962, Desmond et. al. - 1981, Pekoz -
1982 e Hancock - 1987.

A Figura 22 exemplifica um caso de PFF de viga-calha sujeito a este modo.

Figura 22 – Modo de flambagem distorcional de placa em PFF de viga-calha solicitado


por momentos fletores que comprimem as fibras inferiores.

O modo de flambagem distorcional caracteriza-se pela flexão de uma ou mais


paredes, acompanhada pelo deslocamento das arestas comuns a esses elementos e por
deformações por empenamento ou “warping”. As configurações deformadas das seções

28
transversais (ST’s) assumem disposições diferentes ao se variar o sentido do momento
fletor e condições de contorno, entre outros parâmetros.

3.3.3 Modo de flambagem global (G)

O modo de flambagem global ocorre, de modo geral, em barras de comprimento


longo e está relacionado às propriedades geométricas da seção do perfil (momento de
inércia, constantes de torção e de empenamento), à excentricidade da carga aplicada e às
condições de contorno da barra.

O modo global em perfis de chapa dobrada pode ocorrer basicamente de três


formas. A primeira, bem comum em pilares esbeltos, ocorre em torno do eixo de menor
inércia e denomina-se flambagem por flexão. A segunda forma de ocorrência, a
flambagem por torção, envolve a rotação da seção transversal em torno de um eixo
definido pelo centro de torção, ou centro de cisalhamento. A terceira e mais complexa
forma envolve a combinação de flexão e torção, conhecida como flambagem lateral de
vigas e, em barras sob compressão axial, denominada de flexo-torção de colunas. A
flambagem torcional de uma viga-calha está ilustrada na Figura 23. Maiores detalhes de
cada um desses modos globais podem ser obtidos em TIMOSHENKO e GERE [24].

Figura 23 – Modo de flambagem torcional em PFF de viga-calha solicitado por


momentos fletores que comprimem as fibras superiores.

3.4 Métodos para a análise de estabilidade elástica

O projeto de estruturas em perfis de aço formados a frio é fortemente dependente


das análises de flambagem elástica e, consequentemente, o comportamento elástico

29
desses perfis deve ser obtido com a maior acurácia possível, a fim de produzir
resultados confiáveis para serem aplicados em procedimentos de projeto [27].

A identificação dos modos de flambagem requer análises de flambagem baseadas


na solução de grandes problemas de autovetores. Para isso, pode-se aplicar fórmulas
previamente obtidas da teoria de estabilidade elástica, usual para os casos de flambagem
global, ou pode-se fazer uso de programas computacionais que viabilizam a resolução
desses problemas, relacionados à identificação da bifurcação do equilíbrio.

Em suma, a solução geral para o problema de estabilidade de primeira ordem


pode ser obtida com o auxílio das seguintes ferramentas [28]:

i. Métodos diretos;

ii. Método das Faixas Finitas (MFF) [29];

iii. Método dos Elementos Finitos (MEF) [30]; e

iv. Teoria Generalizada de Vigas – “Generalized Beam Theory” (GBT) [31];

Os métodos diretos, em geral baseados nas soluções das equações diferenciais


originadas da Teoria da Estabilidade Elástica, discutidos em TIMOSHENKO e GERE
[24], são aplicáveis a todos os modos de flambagem, exceto ao modo distorcional [28].

Os softwares mais comuns relacionados às ferramentas ‘ii. a iv.’, enumeradas


acima, são:

 MFF – Software CUFSM [32];

 MEF – Softwares comerciais, por exemplo SAP200 [33], ABAQUS [34]


e ANSYS [35]; e

 GBT – Software GBTUL [36].

3.4.1 Análise pelo MFF

Para as estruturas com geometrias planas regulares e condições de contorno


simples, as análises de estabilidade por meio do Método das Faixas Finitas (MFF)
podem ser vantajosas em relação ao uso do clássico Método dos Elementos Finitos
(MEF). Isso se dá pelo fato do MFF exigir, em geral, menor esforço computacional e
menor quantidade de requisitos essenciais para sua aplicação.

30
No MFF, a estrutura é dividida em subdomínios bidimensionais (faixas) ou
tridimensionais (camadas), nos quais um par oposto de lados (2D) ou um ou mais pares
opostos de faces (3D) de um dado subdomínio são coincidentes com o contorno da
estrutura. A geometria da estrutura é usualmente constante ao longo de uma ou duas
coordenadas, ao passo que a largura de uma faixa é constante de uma extremidade a
outra [29].

A estrutura básica do MFF é similar a qualquer outro método estudado na análise


matricial de estruturas. As funções de forma de membrana são assumidas por
polinômios em algumas direções, enquanto em outras são empregadas séries
continuamente diferenciáveis, as quais satisfazem às condições de contorno
empregadas.

A análise com base no MFF efetua, sistematicamente, acréscimos de semi-ondas


senoidais para determinar o comportamento da flambagem de um perfil. A montagem
da solução matricial de autovalores resulta na identificação da carga crítica e a solução
de autovetores no modo de flambagem.

Dentre o rol de software desenvolvidos para análises de estabilidade com base


no MFF, destaca-se o CUFSM – “Finite Strip Method – Cornell University” – um
programa de uso livre (“freeware”), que constitui uma boa ferramenta para a análise de
flambagem elástica de PFF (esfoços críticos de flambagem, modos de flambagem, etc.)
[29].

O software foi desenvolvido pelos professores Benjamim W. Schafer e Zhanjie


Li, podendo ser obtido no endereço eletrônico inserido no rodapé4. Neste mesmo
endereço são disponibilizados, além do programa, os manuais e tutoriais respectivos.

O programa examina a seção de interesse fazendo uma análise de estabilidade


elástica. Como resultado, é apresentado um gráfico com a tensão crítica de flambagem
elástica e seus respectivos modos de flambagem para cada comprimento de meia-onda
analisado. A típica curva de flambagem para uma dada seção é denominada como a
“assinatura do perfil” dadas suas características intrinsecamente associadas àquela seção
transversal.

No MFF, em se reduzindo o número de graus de liberdade da estrutura, incorre-se


em uma solução mais ‘leve’ em termos de esforço computacional do que o MEF. A

31
Figura 24 dispõe um exemplo de resultado de análise linear elástica de perfil de viga-
calha pelo software CUFSM.

Figura 24 – Exemplo de análise linear elástica em PFF de viga-calha realizada pelo


software CUFSM.

As versões 3.12 (e em diante) do software dispõem ainda da ferramenta


denominada cFSM (“Constrained Finite Strip Method”), a qual possibilita a
identificação e decomposição dos modos elásticos de flambagem. Nestes casos, o
CUFSM permite adotar casos gerais de condições de extremidade e não apenas
simplesmente apoiados e empenamento livre, caso do MFF original.

3.4.2 Análise pelo MEF

A análise de PFF por meio de softwares com base no MEF pode ser uma boa
opção quando se faz necessário analisar estruturas que não se enquadram nas limitações
do MFF, sendo tais limitações as extremidades simplesmente apoiadas, seção
transversal constante e carregamento axial.

Nestes tipos de software, o perfil também é discretizado na direção longitudinal,


gerando uma malha de elementos finitos. Funções polinomiais são utilizadas para a

4
http://www.ce.jhu.edu/bschafer/cufsm/.

32
interpolação dos deslocamentos nodais nas direções transversais e longitudinais da
estrutura.

Diferentes tipos de condições de contorno e carregamento podem ser utilizados,


além do fato de que o carregamento, as propriedades geométricas da seção e as
restrições podem variar ao longo do comprimento da peça analisada [30].

Um dos software mais usados para análises numéricas via MEF, com aplicação ao
problema da flambagem, é o software ANSYS [35]. Além de análises de flambagem
elástica (“buckling”) por autovalores, com as quais se obtém os modos de flambagem, o
software permite ao usuário a realização de análises não-lineares, permitindo a
introdução de imperfeições inicias nas peças e a consideração de plasticidade e tensões
residuais. A Figura 25 ilustra um modelo de viga-calha analisado pelo software.

Figura 25 – Deformadas de perfil trapezoidal, (a) vista isométrica ANSYS; (b) vista da
seção transversal ANSYS; (c) vista da seção transversal MFF. Adaptado de TRICHES
[37].

Pela simulação de grandes deslocamentos e/ou deformações e pela possibilidade


de consideração da plastificação, as análises não-lineares podem ser efetuadas para
identificar as condições de colapso e resistência estrutural.

Em BATHE [30] é disponibilizada uma revisão completa dos fundamentos dessas


não-linearidades e sua aplicação ao método dos elementos finitos.

33
O principal entrave ao uso do software ANSYS é a complexidade requerida na
entrada de dados de cada peça analisada. As modelagens em elementos finitos, com
vistas ao estudo de pós-flambagem, exigem:

i. seleção rigorosa do tipo de elemento finito;

ii. estudos de sensibilidade da malha adotada;

iii. implementação das condições de contorno;

iv. definição das relações constitutivas do aço empregado; e

v. amplificação de configuração deformada (modo de flambagem) para


atualização da geometria inicial.

3.4.3 Análise pela GBT

Outra teoria, que também vem sendo largamente aplicada para a análise linear dos
perfis formados a frio, é a Teoria Geralizada de Vigas ou “Generalized Beam Theory
(GBT)”. Essa teoria permite identificar a contribuição de cada modo pré-definido de
deformação no comportamento estrutural.

De forma sucinta, pode-se dizer que a GBT se desenvolve a partir da ideia de


aproximar o campo de deslocamentos através de uma combinação linear de “modos de
deformação” previamente identificados, fazendo com que os graus de liberdade do
sistema sejam os fatores de participação de cada um desses modos na configuração
deformada final da barra [38].

Enquanto no MFF as funções da linha média da seção transversal são definidas


sobre o domínio restrito da largura de cada faixa finita, na GBT tais funções são
determinadas ao longo de toda a linha média da seção através de uma sequência
especial de procedimentos.

Originalmente desenvolvida por SCHARDT [39], tem sido aplicada


principalmente por DAVIS [40] e CAMOTIM e SILVESTRE [41] no desenvolvimento
de diversas soluções analíticas, para a aplicação prática em PFF.

Baseada na GBT, BEBIANO et al. [42] e [43] desenvolveram o software GBTUL


(acrônimo para GBT na Universidade de Lisboa), uma ferramenta muito eficaz para
realizar análises de flambagem elástica.

34
A entrada de dados do software, que requer as propriedades elásticas e as
dimensões da seção transversal do perfil, é bastante semelhante ao software de faixas
finitas. Assim como o CUFSM, o GBTUL fornece as curvas de assinatura do perfil de
paredes finas em estudo, que relacionam o comprimento do membro com sua carga
crítica. Também são fornecidas as participações modais nas peças estudadas para cada
comprimento.

Neste trabalho, optou-se por implementar os cálculos tomando por base o


software CUFSM, em detrimento dos softwares ANSYS e GBTUL. O programa de
faixas finitas foi selecionado por apresentar uma interface simplificada de entrada
dados, que viabilizou a criação de uma ferramenta automatizada para a geração de
geometrias de vigas-calha, a qual será apresentada em tópico específico.

Adicionalmente, o programa CUFSM apresenta código aberto e autorização dos


autores para sua manipulação e reprogramação.

3.5 Os enrijecedores intermediários

Uma maneira econômica de aumentar a resistência à flambagem local de chapas


finas pode ser obtida pelo emprego de enrijecedores longitudinais. Tais enrijecedores,
dispostos intermediariamente aos componentes planos da seção transversal dos perfis,
servem para manter um apoio contínuo ao elemento comprimido, paralelamente ao
esforço solicitante, conforme ilustrado na Figura 26.

35
Figura 26 – Modos de flambagem locais de placa, (a) modo de flambagem sem
enrijecedor; (b) modo de flambagem com enrijecedor. Dimensão “s” representando o
comprimento de semionda. Adaptado de SEVERO JÚNIOR [44].

Conforme ilustrado na Figura 26, atuando como apoios, além de impactar o


carregamento crítico de flambagem, os enrijecedores subdividem a largura original da
chapa em sublarguras. Atuando como restrição à flambagem local devido à redução das
larguras dos elementos de placa, os enrijecedores intermediários aumentam o
carregamento crítico da seção.

A Figura 27 ilustra os dois modos de flambagem que caracterizam o


comportamento dos elementos sob compressão com enrijecedores intermediários. No
presente estudo, a fim de diferenciá-los, esses modos serão denominados de
enrijecimentos eficientes e ineficientes. Os enrijecimentos são ditos eficientes quando
apresentam características de rigidez suficientes para serem idealizados como apoios
contínuos.

Figura 27 – Seção transversal de placa submetida à compressão. (a) enrijecimento


ineficiente; (b) enrijecimento eficiente. Adaptado de SILVA [45].

36
A normatização europeia (EN 1993-1-3) [17] apresenta alguns dos tipos mais
comuns de enrijecedores intermediários usados em PFF, como pode ser verificado na
Figura 28.

Figura 28 – Enrijecedores intermediários usuais. Adaptado do EUROCODE [17].

Este trabalho focará no estudo do comportamento de vigas-calha enrijecidas com


as tipologias de enrijecedores da Figura 29. Aspectos como a facilidade de fabricação e
a previsão normativa dessas “dobras” foram os balizadores dessa decisão.

A Figura 30 ilustra os ganhos de estabilidade propiciados pelos enrijecedores


intermediários em três chapas quadradas. Nessas chapas sob compressão uniforme, com
espessura ‘t’ de 1,0 mm e dimensões de 60x60 mm, foram testados os três tipos de
enrijecedores mais usuais, cujas dimensões são parametrizadas conforme a Figura 29.
As tensões críticas de flambagem foram obtidas por meio do programa computacional
CUFSM, pelo método das faixas finitas.

Figura 29 – Enrijecedores intermediários considerados no presente estudo: 2, 3 e 4


dobras e ângulo fixo de 45°. Dimensões ‘h’ medidas no eixo das paredes [14].

37
Figura 30 – Tensões críticas de flambagem local elástica em placas quadradas
enrijecidas, com apoios simples em todo o contorno.

Em uma análise inicial, para estas pequenas chapas, é possível concluir que os
enrijecedores com geometria trapezoidal são os que conferem as maiores tensões
críticas de flambagem local elástica, para alturas 'h' crescentes. Nota-se que para
pequenas dimensões de 'h', o enrijecedor de dobra simples apresenta resultados
ligeiramente mais interessantes.

O que se propõe na presente dissertação é justamente estender esse tipo de


investigação às paredes de vigas-calha, observando comparativamente os ganhos de
momentos críticos de flambagem elástica em relação ao fator de aproveitamento de
material (Lb / Ls), dado pela relação entre a largura de cobertura ‘Lb’ e a largura da
bobina ‘Ls’.

3.6 Métodos para estimar o momento fletor resistente

Do ponto de vista prático, ao se pensar em aprimoramento de telhas autoportantes,


é automático que o raciocínio convirja para questões relacionadas à resistência das
peças. O processo de busca pela melhoria das propriedades das vigas-calha não deve
adotar um viés apenas científico, mas sim, considerar todos os aspectos diretamente
impactantes na relação de custo-benefício associado.

38
Como já abordado, as telhas autoportantes são elementos estruturais projetados
para vencer grandes vãos. Tais peças são sujeitas, a priori, a carregamentos que causam
esforços internos ao longo das mesmas, sendo os momentos fletores na região central
das peças os esforços mais relevantes.

Nessa ótica, o estudo das telhas autoportantes proposto por este trabalho esbarra
em uma questão fundamental: a partir do estudo de diversas geometrias de vigas-calha,
que culmina na seleção de modelos eficientes com as melhores taxas de cobertura, qual
seria o vão máximo de viga factível, adotando determinada hipótese de carregamento?

Para responder a esse questionamento se faz necessário o estudo das ferramentas


disponíveis atualmente para o cálculo da resistência de PFF. Em se tratando de peças de
paredes finas, sujeitas a fenômenos de flambagem, vale lembrar que os próprios
momentos críticos de flambagem elástica podem ser considerados indicadores indiretos
do nível de desempenho estrutural dos sistemas de cobertura ora estudados [3].

Basicamente, considerando as opções difundidas nas normas destinadas ao projeto


de estruturas em PFF, podem-se citar três métodos de dimensionamento de chapas:

i. Método da Largura Efetiva (MLE);

ii. Método da Resistência Direta (MRD); e

iii. Método da Seção Efetiva (MSE).

3.6.1 Método da Largura Efetiva (MLE)

As normas destinadas ao projeto de estruturas em PFF apresentam o clássico


Método da Largura Efetiva, o qual permite considerar a flambagem local (instabilidade
de chapa) por meio de propriedades geométricas reduzidas (ou efetivas) da seção. Neste
método, cada elemento constituinte do perfil é analisado separadamente com base no
conceito das larguras efetivas desenvolvido originalmente por Von Karman et al - 1932
e posteriormente calibrado com base em resultados experimentais por Winter - 1968
[46].

Como forma de considerar a redução de rigidez da placa, foi proposto por Von
Karman que, ao invés de se utilizar uma distribuição de tensões não-uniforme em uma
placa de largura b, fosse considerada toda a força aplicada sendo suportada por uma

39
placa de largura fictícia bef (menor do que b), sujeita a uma distribuição uniforme de
tensões (Figura 31).

Figura 31 – (a) Placa real sob compressão uniforme sofrendo flambagem local. A
largura b e a distribuição de tensões é não-uniforme; (b) Placa efetiva, com largura
efetiva bef e distribuição de tensões uniforme. Adaptado de TRICHES [37].

Este método foi empregado por muitos anos e ainda consta da ABNT NBR
14762:2010 [7]. No entanto, a solução manual é bastante trabalhosa. O Método das
Larguras Efetivas, cuja concepção pouco contribui para a compreensão dos fenômenos
que afetam a estabilidade, leva à aplicação de um conjunto de cálculos relativamente
complexos onde a presença de erros por parte do projetista nem sempre é facilmente
detectável [26].

As complexidades do método são agravadas se os perfis a serem calculados


englobarem enrijecedores intermediários. Como as seções enrijecidas se tornam mais
complexas, as interações que ocorrem entre os elementos também contribuem para uma
menor acurácia desse método, que como citado anteriormente, estuda os elementos
isoladamente.

3.6.2 Método da Resistência Direta (MRD)

Com vistas a melhorar a celeridade e eficiência do dimensionamento de PFF,


contornando os problemas expostos anteriormente no MLE, foi desenvolvido por
SCHAFER e PEKÖZ [47] o Método da Resistencia Direta (MRD). Este método usa as
cargas críticas de flambagem (local, distorcional e global) determinadas com base numa

40
analise computacional, para, com base em curvas de resistência calibradas
experimentalmente, prever a resistência do perfil.

Atualmente, o método já está inserido nas versões correntes das normas norte-
americana, australiana e brasileira.

A aplicação do método é muito expedita, residindo a principal dificuldade na


determinação das cargas (tensões) críticas locais, distorcionais e globais. Para isso, é
necessário recorrer a métodos numéricos ou analíticos para flambagem elástica, tais
como: elementos finitos, diferenças finitas, GBT, MFF, entre outros. Softwares como o
CUFSM são bastante utilizados como dados de entrada ao MRD.

O MRD permite a análise de seções complexas, com múltiplos reforços


longitudinais, sem que com isso aumente a dificuldade na aplicação do método. Isto,
associado à representação gráfica da configuração dos modos de flambagem, permite a
compreensão do comportamento da seção analisada face aos fenômenos de flambagem,
o que facilita ações de aprimoramento dos perfis.

Para o caso das vigas-calha, uma vez obtidos os momentos críticos elásticos, os
momentos fletores resistentes são determinados para os respectivos modos de
flambagem, por meio de curvas de dimensionamento específicas, como as apresentadas
na norma ABNT NBR 14762:2010 [7].

O MRD é abordado no Anexo C da supracitada norma brasileira, e suas


formulações para barras submetidas à flexão simples encontram-se dispostas a seguir.

i. Flambagem lateral com torção (FLT):

𝑀𝑅𝑒 = 𝑊𝑓𝑦 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜆0 ≤ 0,6 (Eq. 1)

𝑀𝑅𝑒 = 1,11(1 − 0,278𝜆0 2 )𝑊𝑓𝑦 𝑝𝑎𝑟𝑎 0,6 < 𝜆0 < 1,336 (Eq. 2)

𝑊𝑓𝑦
𝑀𝑅𝑒 = 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜆0 ≥ 1,336 (Eq. 3)
𝜆0 2

𝑊𝑓𝑦 0,5
𝑜𝑛𝑑𝑒 𝜆0 = ( ) (Eq. 4)
𝑀𝑒

ii. Flambagem local (FL):

𝑀𝑅𝑙 = 𝑀𝑅𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜆𝑙 ≤ 0,776 (Eq. 5)

41
0,15 𝑀𝑅𝑒
𝑀𝑅𝑙 = (1 − ) 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜆𝑙 > 0,776 (Eq. 6)
𝜆𝑙 0,8 𝜆𝑙 0,8

𝑀𝑅𝑒 0,5
𝑜𝑛𝑑𝑒 𝜆𝑙 = ( ) (Eq. 7)
𝑀𝑙

iii. Flambagem distorcional (FD):

𝑀𝑅𝑑𝑖𝑠𝑡 = 𝑊𝑓𝑦 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜆𝑑𝑖𝑠𝑡 ≤ 0,673 (Eq. 8)

0,22 𝑊𝑓𝑦
𝑀𝑅𝑑𝑖𝑠𝑡 = (1 − ) 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜆𝑑𝑖𝑠𝑡 > 0,673 (Eq. 9)
𝜆𝑑𝑖𝑠𝑡 𝜆𝑑𝑖𝑠𝑡

𝑊𝑓𝑦 0,5
𝑜𝑛𝑑𝑒 𝜆𝑑𝑖𝑠𝑡 = ( ) (Eq. 10)
𝑀𝑑𝑖𝑠𝑡

iv. Cálculo de deslocamentos:

𝑀𝑅𝑠𝑒𝑟
𝐼𝑒𝑓 = 𝐼𝑔 ( ) ≤ 𝐼𝑔 (Eq. 11)
𝑀𝑛

𝑜𝑛𝑑𝑒
𝑀𝑛 é o momento fletor solicitante calculado considerando as combinações de
ações para os estados-limites de serviço;
𝑀𝑅𝑠𝑒𝑟 é o momento fletor resistente, calculado pelas fórmulas anteriores, porém
substituindo o produto 𝑊𝑓𝑦 por 𝑀𝑛 ;
𝐼𝑔 é o momento de inércia da seção bruta.

No estudo conduzido por DINIS et al. [48] foi evidenciado, a partir de resultados
numéricos e experimentais, que a interação local-distorcional-global (LDG) em colunas
de aço formadas a frio, associada às coincidentes cargas críticas de flambagem local,
distorcional e global, pode ser responsável pela ocorrência de uma não negligenciável
perda de resistência desses perfis, em relação aos resultados fornecidos pela aplicação
das formulações do MRD.

SILVESTRE et al. [49] analisaram a resistência última de colunas e vigas com


seção C afetadas por fenômenos de interação envolvendo modos de instabilidade locais
de placa e distorcionais (LD). Por meio de um estudo paramétrico alargado, utilizando

42
análises elasto-plásticas de 2a ordem efetuadas através do método dos elementos finitos,
concluiu-se pela existência de uma significativa redução da resistência última
provocada pela interação LD.

As reduções de resistência dos perfis sob influência de interações LD ou LDG não


são consideradas nas formulações originais do MRD, calibradas e validadas para
estimar resistências últimas associadas a colapsos em modos locais de placa e
distorcionais puros.

Para o caso específico das vigas-calha, merece atenção especial o caso de


interação entre os modos local-distorcional, porque estes modos apresentam
comprimentos de semi-onda respectivamente curto e longo, apresentando uma
tendência à interação dos modos com consequente redução no momento fletor
resistente.

Pela inexistência de estudos específicos da interação dos modos de flambagem em


seções trapezoidais de vigas-calha, este trabalho faz uso das formulações clássicas do
MRD, cabendo o alerta de que os resultados obtidos merecem investigações adicionais
experimentais e/ ou numéricas, fora do escopo dessa pesquisa.

3.6.3 Método da Seção Efetiva (MSE)

O Método da Seção Efetiva (MSE), como uma extensão do Método da Área


Efetiva (MAE), foi concebido para o projeto de PFF com base nos resultados reais de
flambagem local da seção, juntamente com formulações calibradas para resistência de
colunas e vigas. As equações de resistência foram obtidas do Método da Resistência
Direta (MRD), como estão apresentadas na normatização norte-americana da AISI.
Além disso, como consequência de suas formulações propostas, o Método da Seção
Efetiva pode ser empregado alternativamente ao tradicional Método da Largura Efetiva
(MLE), se aplicado às seções de PFF para as quais foi desenvolvido [50].

De acordo com o texto da norma brasileira (ABNT NBR 14762:2010) [7], nesse
método a flambagem local é considerada por meio de propriedades geométricas efetivas
(reduzidas) da seção transversal das barras.

O método foi proposto por BATISTA [50] e [51], cujos trabalhos contemplaram,
inicialmente, aplicações para colunas e vigas. A ideia foi viabilizar um método simples

43
para o cálculo da resistência de perfis, evitando a obrigação de acesso a programas
computacionais para obtenção dos esforços críticos de flambagem.

A versão atual da norma brasileira [7] traz as formulações para a obtenção dos
momentos fletores resistentes de cálculo para barras submetidas à flexão simples. No
entanto, como já abordado, as formulações foram calibradas para seções transversais
usuais, em cujas geometrias as vigas-calha deste estudo não se enquadram.

3.6.4 Comentários

Tendo em vista a semelhança geométrica das vigas-calha deste estudo com os


modelos apresentados na Figura 17 (que dispõe as limitações geométricas sugeridas na
norma americana do AISI para aplicabilidade do MRD em peças sob flexão), ao final
dessa dissertação serão utilizadas as formulações do MRD para o cálculo da estimativa
da resistência das peças.

Ao longo dessa pesquisa, foram evitadas combinações de variáveis acidentais nas


vigas-calha cujas peças resultantes fujam sobremaneira das limitações impostas na
normatização norte-americana (vide tabelas da Figura 17). Esse cuidado será tomado
pelo fato de fugir do escopo deste trabalho a validação rigorosa do MRD para as
tipologias de viga-calha ora investigadas.

Nesse contexto, a fim de se obter resultados coerentes, buscou-se seguir o


máximo possível as recomendações do anexo da norma norte-americana (norma esta
pioneira na utilização do MRD). SCHAFER [52] aponta as vantagens da aplicação do
MRD em comparação com o MLE.

Nos trabalhos [3] e [14], a apresentação do mesmo tema dessa dissertação


abordou a geração de centenas de modelos de modo automatizado, em se utilizando
conceitos de gramática da forma aplicados em ferramenta computacional específica
desenvolvida para tal. Nesses trabalhos, o desempenho mecânico das peças aprimoradas
foi avaliado com base em momentos críticos de flambagem elástica apenas, os quais,
por sua vez, foram identificados por julgamentos de engenharia.

No entanto, a presente dissertação envolveu a análise racional de todas as peças


testadas, sendo analisados os modos de flambagem atuantes para cada nova geometria
gerada.

44
4 Desenvolvimento de vigas-calha
aprimoradas com base na análise de
flambagem elástica

4.1 Metodologia empregada

A metodologia empregada na presente pesquisa consiste na análise racional e


julgamento de engenharia de modelos de seção transversal de viga-calha tomadas como
ponto de partida para os estudos, visando o aprimoramento de perfis disponíveis no
mercado. Para tanto, a avaliação de desempenho das peças foi realizada a partir da
observação de seus momentos críticos de flambagem, seus modos de flambagem, suas
taxas de cobertura e os vãos máximos factíveis.

Foram implementados procedimentos racionais e sistemáticos em basicamente


sete etapas, descritas a seguir:

1. Gerador de coordenadas da ST e ponto de partida;

2. Variações geométricas;

3. Seleção de três tipologias;

4. Análises de perfis enrijecidos;

5. Discretização do contorno das peças;

6. Hipóteses de carregamento; e

7. Vãos máximos e balanços requeridos.

Os momentos fletores que provocam compressão na mesa superior da viga serão


identificados neste trabalho por MTC, onde o índice sobrescrito significa top
compression; analogamente, a compressão na mesa inferior é induzida pelo momento
MBC, onde BC denota bottom compression.

A Figura 32 esquematiza um fluxograma das sete etapas supracitadas, que serão


abordadas pormenorizadamente no presente capítulo.

45
Figura 32 – Fluxograma esquemático das etapas do estudo.

46
4.2 Gerador de coordenadas da ST e ponto de partida

O ponto de partida desta investigação é uma viga-calha sem enrijecedores e com


proporções definidas arbitrariamente. As dimensões desta peça foram inspiradas na
concepção do Fabricante A – Santo André (ver Figura 4).

A Figura 33 apresenta as dimensões da “peça inicial” deste trabalho.

Figura 33 – Peça inicial e suas dimensões.

A análise de estabilidade elástica por meio do software CUFSM enseja o


lançamento das coordenadas dos nós das ST’s dos perfis. Ao longo deste trabalho, a
determinação manual das coordenadas dos nós das ST’s seria uma tarefa dispendiosa,
em termos de tempo, sobretudo para as peças enrijecidas a serem analisadas mais
adiante.

Para facilitar o cálculo dessas coordenadas, utilizou-se a linguagem de


programação Visual Basic para implementar um programa de automatização dessa
atividade, a partir de dados de entrada. Trata-se de um sistema generativo externo ao
aplicativo CUFSM, com interface gráfica amigável, que gera como resultado arquivos
em formato .txt com as coordenadas desejadas.

A Figura 34 apresenta a janela única do programa, denominado pelo autor de


“Calculadora VC”.

47
Figura 34 – (a): Implementação de sistema generativo com interface gráfica amigável.
(b): arquivo de texto com inputs para análise de flambagem elástica no programa
computacional CUFSM.

Todas as peças analisadas doravante possuem Ls (largura da bobina de aço) igual


a 1200 mm. Em um primeiro momento, foram analisadas com as extremidades
superiores, nos bordos livres dos enrijecedores de borda verticais (região de ligação com
a viga-calha vizinha), restringidas à translação no plano da ST.

4.3 Variações geométricas

Como forma de estudar a contribuição da inclinação da alma nas variáveis de


interesse, buscou-se acrescentar no estudo peças com inclinações ligeiramente menores
e maiores em relação à peça inicial. Assim, definiram-se os ângulos de 40° e 70°,
adicionalmente ao ângulo de 56°, conforme exemplificado na Figura 35. Ao longo deste
trabalho as peças com tais inclinações serão denominadas:

 Tipo 1 – Telhas com 40°;

 Tipo 2 – Telhas com 56°; e

 Tipo 3 – Telhas com 70°.

48
Figura 35 – Definição das tipologias 1, 2 e 3 de viga-calha.

Definidas essas tipologias, pôde-se investigar os impactos da altura das ST’s, ou


seja, do módulo resistente W, nos momentos críticos de flambagem elástica. Além
disso, foi possível verificar a relação de proporcionalidade existente entre os momentos
críticos e os “cobrimentos” Lb., representado pela taxa de cobertura Cob = Lb / Ls.

Para avaliar os ganhos de momentos críticos em termos totais foi definida a


variável "amplitude", que consiste na soma dos mesmos, em módulo, nos dois sentidos
BC TC
de aplicação: Ampl = |MCr | + |MCr |. Valores altos de amplitude não necessariamente
representam perfis “bons”, mas sim, perfis versáteis, com faixa maior de utilização entre
momentos críticos atuantes nos dois sentidos.

A Figura 36 apresenta os resultados originados da análise de flambagem para as


seções Tipo 1, Tipo 2 e Tipo 3, além dos resultados da taxa de cobertura Cob, para
chapa com espessura ‘t’ de 1,0 mm.

49
Amplitudes de Momentos Críticos: Esp 1mm
8,76 0,9
7,81 0,8
Momento Crítico [kN.m] 6,05 0,7
0,6

Cob = Lb / Ls
0,5 Mcr Sup

0,4 Mcr Inf

0,3 Cobrim.

0,2
-1,20 -1,55 0,1
-1,74
0
T1 T2 T3

Figura 36 – Amplitudes de momentos críticos locais de placa e cobrimento para peças


T1, T2 e T3 de espessura t = 1,0 mm e Ls =1200 mm.

Antes de partir para as análises de telhas enrijecidas é válido o seguinte


questionamento: seria possível aumentar significativamente os momentos críticos
apenas rearranjando as larguras das placas, mantendo-se a inclinação das almas e a
largura de fabricação das peças (Ls)?

Com vistas a sanar essa questão foram testadas ST’s com variações incrementais
de 20 mm, a partir dos Tipos 1, 2 e 3, de quatro maneiras distintas, denominadas “A”,
“B”, “C” e “D”. O incremento na dimensão de uma placa acarreta consequentemente
em redução da dimensão de outra, conforme ilustrado na Figura 37.

Figura 37 – Variações geométricas propostas.

50
Implementando-se seis variações incrementais em cada um dos modos
exemplificados na Figura 37, foi possível obter 24 ST’s diferentes para cada “Tipo”,
com cobrimentos e momentos críticos variados. A Tabela 4 exemplifica os resultados
obtidos para a “variação B” do Tipo 2.

Tabela 4 – Variações incrementais “B” em peças Tipo 2, t = 1,0 mm, e seus respectivos
resultados.

Na Tabela 4 foram variadas as dimensões ‘b’, ‘c’ e ‘d’, permanecendo constantes


a dimensão ‘a’ e a largura da bobina de fabricação do perfil. Neste exemplo, as
variações se mostraram desvantajosas em termos de aumento da amplitude de
momentos críticos, já que causaram a diminuição desse parâmetro em relação à telha de
origem (Padrão).

4.4 Seleção de três tipologias

Analisando-se as amplitudes das 24 ST’s geradas para cada tipo, foi possível
realizar uma triagem de modo a prosseguir os estudos apenas com as melhores peças.
Escolhendo-se as 7 ST’s que forneceram as maiores amplitudes de momentos críticos
para cobrimentos crescentes, foi possível construir o gráfico ilustrado na Figura 38,
indicativo do desempenho de cada seção.

O gráfico foi construído considerando diferentes faixas de espessuras das peças, a


fim de averiguar a ordem de grandeza da influência desse parâmetro nos resultados.

51
Figura 38 – Amplitudes de momentos críticos para as sete “melhores” peças de cada
Tipo para 4 classes de espessuras.

Constatando-se a relação de independência entre as espessuras das peças e as


geometrias das ST’s, no que tange aos momentos críticos observados, ao longo deste
trabalho serão efetuados cálculos apenas para a espessura ‘t’ de 1,0 mm, como forma de
simplificar as análises e a compreensão dos resultados como um todo.

Dentro das classes “T1, T2 e T3”, as subtipologias que forneceram as maiores


amplitudes de momentos críticos foram denominadas T1*, T2* e T3*. A Figura 39
apresenta os resultados obtidos, que podem ser comparados com os resultados da Figura
36.

52
Amplitudes de Momentos Críticos: Esp 1mm
0,9
9,63 0,8
Momento Crítico [kN.m] 8,59
0,7
6,65
0,6

Cob = Lb / Ls
0,5 Mcr Sup

0,4 Mcr Inf


Cobrim.
0,3
0,2
0,1
-2,17 -2,82 -3,16 0
T1* T2* T3*

Figura 39 - Amplitudes de momentos críticos locais de placa e cobrimento para peças


T1*, T2* e T3* de espessura t = 1,0 mm e Ls =1200 mm.

Finalmente, as peças T1*, T2* e T3* foram as selecionadas para implementar a


próxima etapa de melhorias: a inserção de enrijecedores intermediários. Na Figura 40 é
possível identificar as diferenças geométricas entre as peças “T” e “T*”.

Figura 40 – Comparação entre as geometrias inicial e final, respectivamente “T” e “T*”,


para seções com espessura t = 1,0 mm. Dimensões apresentadas em milímetros.

53
4.5 Análises de perfis enrijecidos

Visando aumentar ainda mais a capacidade de carga e a eficiência das peças


estudadas é possível inserir enrijecedores intermediários nas mesmas. Para a avaliação
da eficiência dos enrijecedores foram realizadas análises de flambagem elástica via
método de faixas finitas, onde foram obtidos, mais uma vez, momentos críticos e os
respectivos modos de flambagem. A Figura 41 ilustra os enrijecedores intermediários
utilizados nesse estudo.

Figura 41 – Enrijecedores triangulares, trapezoidais e de dobra simples.

A geometria dos enrijecedores, suas quantidades e localizações nas peças


seguiram as seguintes premissas:

i. foram adotadas dimensões ‘h’ de 4, 8, 12 e 16 mm;

ii. as peças analisadas com enrijecedores foram as peças T1*, T2* e T3*,
com extremidades superiores restringidas à translação no plano da ST; e

iii. foram analisadas ST's com a inclusão de 1, 2 ou 3 enrijecedores


intermediários em cada elemento de placa: flanges superior e inferior e
alma. Adicionalmente, os enrijecedores são idênticos entre si em cada
elemento de placa.

Os procedimentos para a especificação das combinações mais eficientes de


enrijecedores foram conduzidos exclusivamente por análises racionais e julgamentos de
engenharia, seguindo progressivamente 3 etapas, de acordo como se segue:

1 ª Etapa: Análise por placas;

54
2 ª Etapa: Refino; e

3 ª Etapa: Ajustes.

4.5.1 Análise por placas

Nessa primeira etapa foram testados enrijecedores, isoladamente, na mesa


superior, na alma e na mesa inferior. Os testes foram realizados avaliando-se o aumento
dos momentos críticos nas peças parcialmente enrijecidas. Ao final, foi realizada a
análise da peça resultante, que representa a justaposição das melhores configurações de
enrijecimento obtidas em cada elemento de placa: flanges e alma (Figura 42 e Figura
43).

Figura 42 – Geometria e amplitudes de momentos críticos para as peças enrijecidas na


1ª Etapa.

55
Amplitudes de Momentos Críticos: Esp 1mm
0,8
23,69
0,7
Momento Crítico [kN.m]
20,83

15,40 0,6

Cob = Lb / Ls
0,5
Mcr Sup
0,4
Mcr Inf
0,3 Cobrim.

0,2

-7,43 0,1
-9,75
-11,07
0
T1* 1 Et T2* 1 Et T3* 1 Et

Figura 43 – Amplitudes de momentos críticos locais de placa e cobrimento para peças


T1*, T2* e T3* de espessura t = 1,0 mm e Ls =1200 mm, após a 1ª Etapa.

4.5.2 Refinamento dos resultados

Ao contrário da etapa anterior, onde os pontos de partida para os testes com


enrijecedores eram as peças “lisas”, ou seja, não enrijecidas, esta etapa denomina-se
“refino” por utilizar como ponto de partida as peças ilustradas na Figura 42.

A ideia foi variar novamente as quantidades, tipos e alturas de enrijecedores em


cada placa, mantendo-se as demais enrijecidas e inalteradas. Ao selecionar a melhor
configuração para as mesas superiores, por exemplo, essa solução é mantida constante
durante a próxima etapa de análise e aprimoramento dos enrijecedores na alma.

A Figura 44 apresenta as melhores seções transversais obtidas na segunda etapa.


A Figura 45 mostra as amplitudes de momentos críticos e os respectivos cobrimentos
das peças.

56
Figura 44 – Geometria e amplitudes de momentos críticos para as peças enrijecidas na
2ª Etapa.

Amplitudes de Momentos Críticos: Esp 1mm


73,90 0,8
66,31
0,7
Momento Crítico [kN.m]

51,62
0,6
Cob = Lb / Ls

0,5
Mcr Sup
0,4
Mcr Inf
0,3 Cobrim.

0,2
-25,10
-37,11 0,1
-44,13
0
T1* 2 Et T2* 2 Et T3* 2 Et

Figura 45 – Amplitudes de momentos críticos locais de placa e cobrimento para peças


T1*, T2* e T3* de espessura t = 1,0 mm e Ls =1200 mm, após a 2ª Etapa.

Os resultados apresentam como melhor solução a presença de três enrijecedores


triangulares de h = 12 mm nas mesas superiores. Em todas as outras paredes, os
melhores resultados foram obtidos com enrijecedores trapezoidais de h = 16 mm. Testes
com três enrijecedores trapezoidais (com h = 16 mm) nas mesas superiores não foram
possíveis, haja vista a extrapolação da largura dessas mesas.

57
4.5.3 Ajustes finais na geometria

Essa etapa de análise teve como pontos de partida as peças da Figura 44 e


consistiu, basicamente, no aperfeiçoamento das seções por pequenos ajustes nas
dimensões e distribuição dos enrijecedores. Até então, os enrijecedores haviam sido
dispostos nas peças conforme a imagem da Figura 46a. Implementando-se ajustes na
disposição dos enrijecedores, testou-se as peças com a configuração dos mesmos
conforme a imagem (b) da Figura 46. Os ajustes consistem no rearranjo dos
espaçamentos entre cada enrijecedor, tornando-os equivalentes.

Figura 46 – Ilustração (a): distribuição de enrijecedores nas etapas 1 e 2. Ilustração (b):


ajustes das distâncias dos enrijecedores nas placas.

Conforme evidenciado na Figura 47 e na Figura 48, a realização de tais ajustes


culminou em resultados consideravelmente mais satisfatórios, comparativamente às
etapas anteriores.

58
Figura 47 – Geometria e amplitudes de momentos críticos para as peças enrijecidas na
3ª Etapa.

Amplitudes de Momentos Críticos: Esp 1mm


0,8
101,63
93,18
0,7
Momento Crítico [kN.m]

59,88 0,6
Cob = Lb / Ls

0,5
Mcr Sup
0,4
Mcr Inf
0,3 Cobrim.

0,2
-24,95 0,1
-37,54
-45,11
0
T1* 3 Et T2* 3 Et T3* 3 Et

Figura 48 – Amplitudes de momentos críticos locais de placa e cobrimento para peças


T1*, T2* e T3* de espessura t = 1,0 mm e Ls =1200 mm, após a 3ª Etapa.

4.5.4 Resumo dos resultados

A Figura 49, a seguir, ilustra a evolução dos resultados para a peça T1* com
espessura t = 1,0 mm. A Figura 50 apresenta as curvas de fator de carga x
comprimentos de meia-onda para as peças T1* nas três etapas. Essas curvas são obtidas
a partir das análises de flambagem pelo programa computacional CUFSM, sendo usual
descrevê-las como "curvas de assinatura" das seções transversais analisadas (nessa
figura tem-se, portanto, três curvas de assinatura).

59
Figura 49 – Evolução dos resultados de cada etapa de análise – Peça T1*, de espessura t
= 1,0mm.

Figura 50 – Fator de carga x comprimentos de meia-onda para a peça T1* de espessura t


= 1,0 mm, solicitada por momentos fletores que comprimem as fibras superiores.

Da Figura 49 é possível constatar que, para as peças T1*, o ganho propiciado pela
inserção de enrijecedores após várias etapas de análises atingiu 963% em termos de
amplitude de momentos críticos. Esse resultado evidencia que esse tipo de seção só
pode ser considerado (para uso prático) com a inserção de enrijecedores.

60
Com a discretização do contorno bastante conservadora (extremidades superiores
das peças restringidas à translação no plano da ST), as curvas de assinatura constantes
da Figura 50 demonstram um afastamento do modo de flambagem global, sendo as
peças submetidas, basicamente, aos modos locais de placa e a modos distorcionais da
seção.

A proximidade das cargas críticas de flambagem local e distorcional aponta para


uma possível interação desses modos, que poderia trazer impactos negativos à
resistência dos perfis.

Para trazer os resultados mais próximos da realidade, faz-se necessária a


investigação das formas de discretização do contorno que melhor representam as
situações usuais de utilização dessas telhas.

A configuração final das peças, a ser utilizada nos próximos itens, contou ainda
com um último rearranjo nas almas, com eliminação dos enrijecedores em seu ponto
médio (onde as tensões normais são virtualmente nulas).

Por questões de praticidade de fabricação, também foram substituídos os


enrijecedores das mesas superiores, passando de três enrijecedores triangulares para
apenas um, ligeiramente maior, trapezoidal. Isso permite uma solução mais racional e
econômica com redução desprezível nos momentos associados à flambagem local
destas peças.

Adicionalmente, estes ajustes finais resultam na elevação da taxa de cobertura


Cob = Lb / Ls. As peças finais serão denominadas de T1*enr, T2*enr e T3*enr, e estão
apresentadas na Figura 51.

61
Figura 51 – Configurações geométricas finais. Dimensões em milímetros.

4.6 Condições de contorno no modelo de análise

Como já mencionado no item anterior, é preciso investigar qual condição de


vínculos entre vigas-calha adjacentes representa com mais proximidade o
comportamento real dessas ligações.

Tendo em vista que o rebite de ligação entre duas telhas fica bem próximo da
extremidade das abas e, também, tendo em vista que as mesas superiores podem auxiliar
no travamento de duas peças vizinhas, pensou-se basicamente em duas idealizações
para os vínculos de extremidade, conforme ilustrado na Figura 52.

62
Figura 52 – Ilustração (a): viga-calha sem enrijecedores. Ilustração (b): conectores de
aba típicos entre vigas-calha adjacentes. Ilustração (c): condições de apoio sugeridas na
análise de estabilidade elástica. Adaptado de MELO et al. [3].

Para viabilizar o processo decisório da melhor opção de vínculo, qual seja, a que
promove o comportamento de flambagem mais próximo do sistema ortotrópico de
cobertura ora estudado, foi simulado no software CUFSM uma peça única com quatro
calhas enrijecidas (Figura 53), com todos os nós livres a translações e rotações no plano
da ST. Também foram simuladas peças individuais com vinculações nas extremidades,
utilizando as opções 1 e 2.

Como critério de julgamento das análises do software de faixas finitas, pode-se


comparar os fatores de carga obtidos para cada caso, bem como analisar as semelhanças
dos traçados das curvas de assinatura.

Das Figuras 53 a 55 é possível verificar os resultados obtidos.

Figura 53 – Seções transversais analisadas.

63
Figura 54 – Fator de carga x comprimentos de meia-onda para a peça T1*enr de
espessura t = 1,0 mm solicitada por momentos fletores que comprimem as fibras
inferiores (MBC).

Figura 55 – Fator de carga x comprimentos de meia-onda para a peça T1*enr de


espessura t = 1,0 mm, solicitada por momentos fletores que comprimem as fibras
superiores (MTC).

A Figura 54 demonstra que a idealização dos vínculos pouco importa para o caso
de aplicação de momentos fletores que comprimem as fibras inferiores das peças.

Visualizando a Figura 55 é possível concluir que opção 2 é a que mais se


aproxima de uma condição com múltiplas peças (neste exemplo simulado com 4 peças,

64
livres nas extremidades). A opção 1 fornece resultados ligeiramente a favor da
segurança.

Será utilizado, portanto, no decorrer deste estudo, o tipo de vinculação da opção 2.


Os resultados não variaram com a inserção de mais peças na análise, motivo pelo qual
continuará sendo utilizando, ao longo dos estudos, apenas uma ST em cada análise.

Analisando a curva de assinatura para 4 peças, na configuração MTC, verifica-se


que há uma tendência de surgimento do modo de flambagem global, já que a
extremidade do conjunto fica livre. Em alguns casos são construídas platibandas nos
bordos da cobertura, como forma de conter essas peças de extremidade.

Uma vez que existem mecanismos para afastar o modo global das situações
práticas, nos próximos capítulos serão efetuados os cálculos de resistência das peças
considerando críticos os modos local e distorcional apenas.

4.7 Hipóteses de carregamento

Efetuadas com êxito as etapas de modelagem do domínio de um conjunto de PFF


de viga-calha e, também, analisados os momentos críticos de flambagem de diversas
peças, que culminou na seleção da tipologia ‘T*enr’, parte-se para o questionamento
final deste trabalho: qual seriam os vãos admissíveis de utilização dessas coberturas?

A resposta a esse questionamento enseja o cálculo da capacidade resistente dos


perfis, que por sua vez, demanda a adoção de hipóteses de carregamento nos mesmos.

Em geral, a adoção de coberturas autoportantes é mais comum em galpões de


grandes dimensões, já que estes tipos de telhas são capazes de vencer vãos
consideráveis a um custo satisfatório. O Manual de Construção em Aço – Galpões para
Usos Gerais [53] apresenta uma série de modelos de galpões industriais e comerciais
compatíveis com o esquema de cobertura proposto nesta dissertação.

Baseando-se em alguns modelos apresentados no manual [53], foi definida uma


estrutura hipotética a ser coberta com as telhas deste estudo, cujas dimensões adotadas
encontram-se discriminadas na Figura 56.

65
Figura 56 – Dimensões do galpão hipotético a ser considerado.

Baseando-se no catálogo de alguns fabricantes de telhas autoportantes, constata-se


que a inclinação mínima das telhas é da ordem de 2%, ao passo que tal valor foi adotado
como premissa para este trabalho.

Alguns estudos como os de PEREIRA et al. [54] se prestam à análise dos


impactos do empoçamento em estruturas metálicas de coberturas. Não faz parte do
escopo da presente dissertação a análise dos riscos de colapso estrutural causados por
empoçamento, embora seja importante citá-los, a fim de alertar quanto aos riscos
associados ao uso de coberturas de baixa inclinação.

As hipóteses de carregamento consideradas nesse estudo foram as seguintes:

 Peso próprio da cobertura;

 Sobrecarga distribuída;

 Sobrecarga pontual;

 Vento de Pressão; e

 Vento de Sucção.

Para o emprego das formulações da NBR 14762 [7], no que tange aos estados
limites último e de utilização, foram consideradas as combinações de carregamento em
duas situações, ilustradas na Figura 57.

66
Figura 57 – Hipóteses de carregamento considerando ventos de pressão e sucção.

4.7.1 Peso próprio da cobertura

O peso próprio da cobertura foi calculado considerando a massa específica do aço


de 7850 kg/m³. Foram consideradas a espessura das peças e a largura da bobina de aço
de 1200 mm.

4.7.2 Sobrecargas

Este estudo considerou a incidência de dois tipos distintos de sobrecargas: a


sobrecarga distribuída, da magnitude de 0,25 kN/m², sugerida pela ABNT NBR 8800
[55], e uma sobrecarga pontual, no meio do vão das telhas, de 0,8 kN, simulando uma
pessoa com aproximadamente 80 kg de massa.

4.7.3 Vento

Nos cálculos da incidência de vento na estrutura, as direções 0 e 90° foram


arbitradas conforme ilustrado na Figura 56. As forças de sucção e sobrepressão atuantes
na superfície da cobertura foram calculadas com base nas orientações da ABNT NBR
6123:1988 – Forças devidas ao vento em edificações [56].

As pressões internas foram consideradas de acordo com as orientações do item 6.2


da mesma norma [56]. Foram consideradas três hipóteses diferentes para as condições
de permeabilidade de galpões: estrutura vedada por completo, estrutura aberta em todas

67
as laterais e estrutura parcialmente vedada e aberta. Dessa maneira, foi possível
investigar diferentes situações usuais a fim de prosseguir os estudos com a disposição
que forneceu os resultados mais desfavoráveis. Os parâmetros considerados foram os
seguintes:

 Fator topográfico S1 = 1 (Terreno plano ou fracamente acidentado);

 Fator topográfico S2 = 1,07 (Calculado por meio da fórmula disponível no


item 5.3.3 da ABNT NBR 6123:1988);

 Fator topográfico S3 = 0,95 (Edificações e instalações industriais); e

 Velocidade básica do vento V0 = 40m/s.

A Adoção desses parâmetros culminou nos seguintes resultados:

o Pressões efetivas Δp: (vide Tabela 5). Os coeficientes aerodinâmicos


internos e externos foram combinados mediante recomendações do
capítulo 6 da NBR 6123:1988 [56], para o caso de coberturas em galpões
com diferentes condições de permeabilidade.

o Sobrepressão = 503,6N/m²; Sucção = -1.208,7N/m²

Tabela 5 – Pressões efetivas sobre a cobertura.

PRESSÕES EFETIVAS Δp [N/m²]

Galpão todo fechado


Δp1 -1.007,2 Vento 0°
Δp2 402,9 Vento 0°
Δp3 -1.007,2 Vento 90°
Δp4 201,4 Vento 90°
Galpão todo aberto
Δp5 -1.007,2 Vento 0°
Δp6 503,6 Vento 0°
Δp7 -1.007,2 Vento 90°
Δp8 302,2 Vento 90°
Galpão com partes permeáveis
Δp9 -1.208,7 Vento 0° (face perm.)
Δp10 503,6 Vento 0° (face imperm.)
Δp11 -1.208,7 Vento 90° (face perm.)

68
Δp12 302,2 Vento 90° (face imperm.)

4.8 Vãos máximos e balanços requeridos

Definidas as hipóteses de carregamento para as vigas-calha deste estudo, é


possível estimar a resistência dos perfis ‘T*enr’ a partir da implementação dos cálculos
do MRD. Como já discutido, o Método da Resistência Direta demanda a inserção de
dados provenientes de análises de estabilidade elástica.

Portanto, para a determinação dos vãos máximos admissíveis das vigas-calha,


deve-se primeiro analisar os resultados das análises de flambagem dessas peças.

4.8.1 Análises de flambagem elástica

Em trabalho correlato ao tema [3], foram estudados os modos de flambagem


característicos de peças muito semelhantes às presentes. As análises de estabilidade
foram efetuadas para duas direções de momento fletor (orientadas em relação ao eixo
horizontal que contém o centroide da seção, obviamente).

Cumpre citar, ainda, que as análises consideram vigas isoladas e simplesmente


apoiadas, empenamento livre, abas restritas horizontalmente e raio de dobramento nulo.
Os resultados apresentaram quatro modos de flambagem induzidos por MTC e outros
quatro modos por MBC, que podem ser constatados na Figura 58 e na Figura 59,
respectivamente.

Figura 58 – Modos de flambagem elástica para vigas-calha com mesa superior


comprimida (MTC): (a-c) modos locais e (d) modo distorcional [3].

69
Figura 59 – Modos de flambagem elástica para vigas-calha com mesa inferior
comprimida (MBC): (a-c) modos locais e (d) modo distorcional [3].

As curvas de assinatura da Figura 60 e da Figura 61 apresentam a sobreposição


dos resultados das análises de estabilidade elástica para as peças T1*enr, T2*enr e
T3*enr.

Figura 60 – Fator de carga x comprimentos de meia-onda para as peças T1*enr, T2*enr


e T3*enr, de espessura t = 1,0 mm, solicitadas por momentos fletores que comprimem
as fibras superiores (MTC).

70
Figura 61 – Fator de carga x comprimentos de meia-onda para as peças T1*enr, T2*enr
e T3*enr, de espessura t = 1,0 mm, solicitadas por momentos fletores que comprimem
as fibras inferiores (MBC).

Os modos de flambagem críticos para as peças da Figura 60 e da Figura 61


assemelham-se, respectivamente, aos modos TL3 e BL1 da Figura 58 e da Figura 59.

As Figuras 60 e 61 apresentam pontos de mínimos locais com fatores de carga


muito próximos, representando diferentes modos de flambagem.

Tendo em vista a incidência de modos locais e distorcionais com fatores de carga


próximos, foram feitas estimativas de resistência pelo MRD considerarando essas duas
possibilidades, a fim de verificar qual modo apresenta a menor resistência para essas
peças.

4.8.2 Estimativa de resistência e vãos obtidos

Este item apresenta os vãos e balanços obtidos para as peças T1*enr, T2*enr e
T3*enr (ângulos mesa inferior – alma iguais a 40, 56 e 70°, respectivamente). A Figura
62 apresenta as variáveis a serem determinadas. Os cálculos de resistência dos perfis
levaram em consideração as formulações da NBR 14762 [7], expostas no item 3.6.2.

71
Figura 62 – Parâmetros “l” (vão central) e “a” (balanços) a serem obtidos.

Nos cálculos de resistência, foram consideradas diferentes combinações de


carregamentos para os esforços solicitantes no Estado Limite Último. Para o cálculo das
flechas no meio do vão e nos balanços, foram consideradas combinações no Estado
Limite de Serviço.

O valor limite considerado para as flechas seguiu o disposto na tabela A.1 da


norma ABNT NBR 14762 [7], que estabelece o valor de L/250 como limitador das
flechas em vigas de cobertura e considera no cálculo um momento de inércia efetivo.

A Figura 17 ilustra algumas dimensões recomendadas para a aplicabilidade do


MRD, em perfis trapezoidais semelhantes ao ora estudado. A Figura 17 foi retirada da
norma norte-americana [16].

A Tabela 6 apresenta a comparação dos parâmetros recomendados com os valores


adotados neste trabalho, cujas variáveis estão demarcadas na Figura 63. Das Figuras 64
a 78 são ilustrados os resultados finais deste trabalho, para peças com espessura ‘t’ de
1,0 mm.

72
Figura 63 – variáveis geométricas para vigas-calha tipo T*.

Tabela 6 – Dimensões das seções e recomendações normativas para aplicabilidade do


MRD.

Dim. [mm] θ = 40° θ = 56° θ = 70° AISI-AS/NZS


d 213,06 277,51 311,49
d1 114,74 114,74 114,74
---------
b1 151,50 151,50 151,50
t 1,00 1,00 1,00
d/t 213,06 277,51 311,49 d/t < 203
b1/t 151,50 151,50 151,50 b1/t < 231
(d/senθ)/b1 2,19 2,21 2,19 > 0,42; < 1,91
d/2d1 0,93 1,21 1,36 0,55 < d/2d1 < 1,69
B1/d1 1,32 1,32 1,32 1,10 < B1/d1 < 3,38
E/fy 579,71 579,71 579,71 E/fy > 310
θ 40 56 70 52° < θ < 84°
n° enrs
(1,2,2) (1,2,2) (1,2,2) Máx 2 por parede
(Ms, A, Mi)

73
Figura 64 – Vãos requeridos para peças biapoiadas sem balanços (T1*enr; θ = 40°).

Figura 65 – Vãos requeridos para peças biapoiadas sem balanços (T2*enr; θ = 56°).

Figura 66 – Vãos requeridos para peças biapoiadas sem balanços (T3*enr; θ = 70°).

74
Figura 67 – Balanços requeridos para peças biapoiadas (T1*enr; θ = 40°).

Figura 68 – Balanços requeridos para peças biapoiadas (T2*enr; θ = 56°).

Figura 69 – Balanços requeridos para peças biapoiadas (T3*enr; θ = 70°).

75
Figura 70 – Relação balanço/ vão central para peças biapoiadas (T1*enr; θ = 40°).

Figura 71 – Relação balanço/ vão central para peças biapoiadas (T2*enr; θ = 56°).

Figura 72 – Relação balanço/ vão central para peças biapoiadas (T3*enr; θ = 70°).

76
Figura 73 – Balanço necessário x balanço máximo para peças biapoiadas.
(T1*enr; θ = 40°).

Figura 74 – Balanço necessário x balanço máximo para peças biapoiadas.


(T2*enr; θ = 56°).

Figura 75 – Balanço necessário x balanço máximo para peças biapoiadas.


(T3*enr; θ = 70°).
77
Figura 76 – Balanços requeridos devido aos esforços internos e às flechas.
(T1*enr; θ = 40°).

Figura 77 – Balanços requeridos devido aos esforços internos e às flechas.


(T2*enr; θ = 56°).

Figura 78 – Balanços requeridos devido aos esforços internos e às flechas.


(T3*enr; θ = 70°).
78
4.9 Discussão

Os resultados das análises finais das peças deste estudo foram resumidos pelas
Figuras 64 a 78. Para peças biapoiadas, sem balanços, com espessura ‘t’ de 1,0 mm,
solicitadas pelas hipóteses de carregamento ora propostas, foi possível atingir vãos da
ordem de 9 a 13 metros (Figuras 64 a 66). Esses gráficos mostram as razões de esforços
solicitantes/ esforços resistentes e as razões de magnitude de flechas/ flechas limites
para as ST’s no meio do vão. As indicações “TC” e “BC” fazem menção a Top
Compression e Bottom Compression, respectivamente, visando apresentar os resultados
tanto para solicitações que comprimem as mesas superiores quanto as que comprimem a
mesa inferior.

Da Figura 67 a 69, são ilustrados os ganhos de resistência do conjunto quando


inseridos balanços nas extremidades das peças. Com vãos centrais fixos nos valores de
12, 15 e 18 metros, respectivos às peças com ângulos alma/mesa de 40, 56 e 70°,
observa-se que balanços na faixa de 4 a 6 metros são capazes de adequar as peças aos
critérios de segurança dos estados limites.

Nos gráficos dessas figuras, a curva representativa da flecha nos balanços sofre
uma mudança de direção relacionada à mudança de direção da própria flecha, já que,
para balanços de pequena magnitude, as deformações de extremidade ocorrem de baixo
para cima, ao passo que para balanços maiores, tais deformações ocorrem de maneira
inversa.

DaFigura 70 a 72, são apresentadas as relações de balanço/ vão central para


diferentes faixas de vãos centrais. À medida que se aumentam os vãos centrais, são
necessários balanços maiores, até que a flecha máxima permitida seja excedida. O ponto
onde as curvas se cruzam denota o vão central máximo admissível. Observa-se que a
relação balanço/ vão central é a mesma para as três peças estudadas, resultando no valor
de a / l = 0,41.

Da Figura 73 a 75 são apresentados os resultados em termos de magnitude dos


balanços. Constatou-se que, para as peças com ângulo da alma em relação à horizontal
igual a 40, 56 e 70°, os vãos centrais máximos se encontram na faixa de 15 a 22 metros,
com balanços da ordem de 6 a 9 metros.

79
Por fim, da Figura 76 a 78 são mostrados os balanços necessários para diferentes
vãos centrais, considerando cada uma das variáveis relevantes (esforços “BC”, “TC”,
flecha no meio do vão e flecha nos balanços). Verifica-se que a flecha máxima dos
balanços é o limitador principal do aumento dos vãos vencidos, uma vez que o aumento
dos balanços é diretamente proporcional ao aumento dos vãos centrais, visando adequar
as flechas no meio dos vãos.

Os resultados foram obtidos pela aplicação das formulações do MRD, apesar de


alguns parâmetros não estarem dentro dos limites recomendados, conforme ilustrado na
Tabela 6. Observa-se que os parâmetros não atendidos guardam relação com a altura
“d” dos perfis deste estudo, um pouco maiores do que a limitação sugerida.

Foram analisadas no software de faixas finitas algumas peças análogas às desse


estudo porem com dimensão “d” reduzida aos valores limites. Observou-se que os
comportamentos de flambagem, avaliados por meio das curvas de assinatura, foram
semelhantes aos comportamentos das peças T1*enr, T2*enr e T3*enr.

Não entrou no escopo desse trabalho a validação rigorosa do MRD para as peças
T*enr, ou seja, os resultados obtidos apenas poderiam ser ratificados por meio de
análises experimentais. Tais resultados visam, portanto, apresentar a ordem de grandeza
das melhorias obtidas a partir da manipulação geométrica de perfis de viga-calha e
nortear a faixa de vãos admissíveis para hipóteses de carregamento usuais no Brasil.

80
5 Conclusões

Este trabalho apresentou os aspectos gerais da concepção e do desempenho


mecânico de coberturas autoportantes com base em vigas-calha de seção trapezoidal
enrijecida. Inicialmente, foi dado ênfase ao estado da arte dessas estruturas em perfis
formados a frio, no âmbito brasileiro.

Ficou evidenciado a preponderância dessas estruturas em materiais zincados,


produzidos a partir de bobinas de aços estruturais de largura compreendida entre 1000 a
1400 mm. Uma rápida análise do mercado demonstrou que, para o uso em coberturas
planas, encontram-se disponíveis peças que vencem até 15 metros de vão livre central,
com balanços da ordem de 4 a 6 metros, se considerada a espessura ‘t’ de 1,0 mm.

Pautando-se na realidade comercial encontrada e visando facilitar a fabricação das


peças, foi adotada para este trabalho uma geometria inicial arbitrária de viga-calha,
dotada de algumas propriedades constantes e variáveis ao longo do estudo.

Antes de iniciar o estudo e propor melhorias para estas peças, foi pertinente
elucidar alguns aspectos teóricos que norteiam o desempenho dos perfis de aço
formados a frio sujeitos a momentos fletores.

Teceu-se comentários sobre algumas normas correlatas e abordaram-se as


questões mais relevantes sobre a teoria da estabilidade de chapas, com ênfase no estudo
da flambagem e seus modos de manifestação em chapas finas.

Foram apresentados alguns softwares para análises de estabilidade elástica, dentre


os quais o mais propício para este estudo foi o CUFSM, utilizado como ferramenta para
o estudo dos modos de flambagem e como intermediário para os cálculos das
resistências de alguns perfis selecionados. Também foi desenvolvida uma aplicação em
linguagem Visual Basic como forma de apoio na geração das coordenadas de vigas-
calha a serem estudadas.

Por fim, foi proposta uma metodologia para atingir os objetivos específicos desta
dissertação. Os passos consistiram basicamente na melhoria contínua de determinadas
tipologias de viga-calha, a partir de manipulações geométricas nas seções transversais.
Também foram considerados os ganhos em termos de momentos críticos de flambagem

81
elástica e de resistência a momentos fletores causados pela inserção de enrijecedores
intermediários nas peças.

Observou-se que a inserção de poucos enrijecedores com alturas da ordem de 16


mm proporcionou os resultados mais interessantes. Comparando-se o desempenho de
enrijecedores triangulares, trapezoidais e de dobra simples, foi possível concluir que os
melhores resultados foram obtidos com o modelo trapezoidal, cuja inserção de poucas
unidades com tamanho compatível culminou em ganhos relevantes de momentos
críticos, além deste tipo de enrijecedor ser bastante positivo na diminuição do efeito de
“perda de cobrimento das peças”.

Foi confirmado que as características variáveis dos enrijecedores intermediários


são muito mais relevantes para o comportamento de flambagem que as proporções da
largura das paredes dos perfis e que o ângulo das almas. A Figura 40 apresenta a
evolução dos modelos “T” para os modelos “T*”, apenas pela manipulação geométrica
das ST’s. Em termos percentuais, para a transição das peças T1, T2 e T3 para as peças
T1*, T2* e T3* foram obtidos 21% de aumento da amplitude de momentos críticos de
flambagem.

Após as três etapas de análises de seções enrijecidas, com implementações de


melhorias no arranjo dos enrijecedores nas peças, os modelos enrijecidos apresentaram
962, 1146 e 1147% de aumento da amplitude de momentos críticos de flambagem em
relação às peças sem enrijecedores T1*, T2* e T3*, respectivamente. Logo, fica
evidenciada a maior relevância desses parâmetros quanto mais esbeltos forem os
elementos de placa (mesas e alma) que compõem essas vigas-calha. Cabe lembrar que o
percentual de ganhos reduziu bastante após o estudo das condições de contorno, quando
foi liberado o grau de liberdade de translação vertical nas extremidades superiores, onde
foram inseridos apoios do primeiro gênero.

Este trabalho contribuiu, ainda, para a proposição de análises críticas que


permitem aos profissionais da área projetarem coberturas autoportantes com melhor
aproveitamento dos vãos para as coberturas planas. De acordo com este estudo, haveria
a possibilidade de analises pormenorizadas no sentido de viabilizar a construção de
coberturas com vãos centrais da ordem de 15 a 21 metros, se utilizados balanços entre 6
a 8,8 metros, para peças com 1,0 mm de espessura ‘t’ apresentando taxa de cobertura
Cob = Lb / Ls competitiva. Conforme consta da Figura 10, para essa espessura, alguns

82
dos modelos encontrados no mercado seriam capazes de cobrir, no máximo, 15 metros
de vão central, com balanços menores que 6 metros.

Com relação aos modos de flambagem nos perfis estudados, verificou-se a


predominância dos modos locais de placa, devendo as análises serem feitas caso a caso,
já que os softwares disponíveis atualmente não dispõem de algoritmos automatizados
para identificação modal das seções trapezoidais utilizadas nesse estudo.

É válido relembrar a possiblidade de interação envolvendo modos de flambagem


locais de placa e distorcionais (LD) nos perfis de viga-calha estudados. Da análise das
curvas de assinatura dos perfis T*enr (Figura 60 e Figura 61) é possível constatar essa
tendência, que traria possíveis impactos negativos nas resistências dos perfis.

Para uma correta avaliação dos impactos da interação LD nessas estruturas,


estudos como os de DINIS et al. [48] e SILVESTRE et al. [49] poderiam ser
empreendidos para vigas-calha, visando obter a ordem de grandeza da redução no
momento fletor resistente causado pela interação entre os modos de flambagem.

A priori, para peças com espessura ‘t’ = 1,0 mm, por meio de um rápido estudo
das condições de contorno, os modos globais das ST’s não se demonstraram críticos em
nenhum momento. A execução de ensaios seria bastante pertinente para um estudo mais
rigoroso, que permitiria conclusões mais seguras a respeito do contorno entre as peças.

5.1.1 Sugestões para trabalhos futuros

Este trabalho, de características introdutórias ao estudo de vigas-calha enrijecidas,


poderia ter o seu escopo ampliado ao abordar temas correlatos, necessários ao pleno
entendimento dos fenômenos associados às coberturas autoportantes.

Para aqueles que desejam explorar o assunto, trazendo contribuições científicas ao


aperfeiçoamento ainda mais amplo desses tipos de perfis, foram elencadas algumas
sugestões para trabalhos futuros, quais sejam:

i. criação de algoritmos para identificação modal de PFF de vigas-calha, a


fim de evitar as etapas manuais na verificação de perfis e possibilitar
métodos de análise e seleção de perfis automatizados;

ii. realização de ensaios para averiguar se as condições de desempenho


discutidas neste trabalho são observadas na prática. Como opções para

83
estes ensaios, sugere-se a construção de caixas de sucção, à semelhança do
modelo executado nos trabalhos de [2] ou, ainda, aplicação de carga
gradual em corpo de prova do perfil estudado, apoiado com grampos e
carregado por meio de tambores de água, com inserção de extensômetros
em posições específicas, à semelhança dos ensaios em perfis cartola
desenvolvidos por [56]; e

iii. ao realizar os ensaios descritos no item “ii.”, acima, verificar os impactos


das imperfeições geométricas iniciais nas resistências a momentos fletores
das peças.

84
Referências

[1] CBCA – Centro Brasileiro da Construção em aço – Perfil dos Fabricantes


de Telhas de Aço e Steel Deck. Brasil, O Nome da Rosa Editora, 2014.

[2] JAVARONI, C. E., Perfis de Aço Formados a Frio Submetidos à Flexão:


Análise Teórico-Experimental, Tese de D.Sc., Escola de Engenharia de São
Carlos da Universidade de São Paulo, SP, Brasil, 1999.

[3] MELO, J. M. S., FRANCO, J. M. S., BATISTA, E. M., “Sistema Generativo e


Flambagem de Seções Transversais Enrijecidas: Aplicação em Sistema
Ortotrópico de Cobertura em Aço”. VII Congresso Latino-Americano da
Construção Metálica (Construmetal), SP, Brasil, 20-22 setembro 2016.

[4] SILVA, A. C., Estudo de Ligações Parafusadas em Perfis Formados a


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