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Notas de Aula
13 de outubro de 2003
1
Sumário
2 Horizonte Infinito 13
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Funcional de Bellman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3 Espaços Métricos e Espaços Vetoriais Normados . . . . . . . . . 14
2.4 Teorema do Ponto Fixo de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.5 Solução da Equação de Bellman . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3 Aplicações 21
3.1 Busca por Emprego . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.2 Demanda por Moeda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2
5 Precificação de Ativos Financeiros 46
5.1 Preços de Ativos como um Passeio Aleatório . . . . . . . . . . . 46
5.2 Precificação de Ativos em Equilı́brio Geral . . . . . . . . . . . . 48
5.3 Prêmio de Risco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.3.1 O Experimento de Mehra e Prescott . . . . . . . . . . . . 52
5.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3
10 Demanda por Moeda 109
10.1 Equilı́brio Monetário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
10.2 Variações na Oferta de Moeda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
10.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
4
Lista de Figuras
5
Lista de Tabelas
6
Parte I
7
Capı́tulo 1
Horizonte Finito
1.1 Introdução
As técnicas de programação dinâmica são as ferramentas matemáticas mais im-
portantes para acompanhar o curso de Macroeoconomia I. Nesta unidade o método
de programação dinâmica será apresentado para o caso onde os agentes possuem
um horizonte de tempo finito. Apesar de proporcionar muitas aplicações acre-
dito que apresentar o método com tempo finito é a melhor maneira de iniciar a
discussão para programação dinâmica com horizonte de tempo infinito. As notas
que seguem foram escritas a partir de Stockey e Lucas (1989) e Wright (1997).
1.2 O Problema
Considere um indivı́duo que busca maximizar o valor esperado de seu fluxo de
utilidade intertemporal. O problema deste indivı́duo pode ser descrito como:
T
X
max E0 β t u(xt , at )
at
t=0
s.a. at ∈ Γ(xt ) (1.1)
xt+1 = f (xt , at , εt ) (1.2)
onde at é a variável escolhida pelo indivı́duo a cada perı́odo, chamada variáveis
de controle, e xt representa uma variável que caracteriza um estado da natureza
que condiciona a decisão do indivı́duo, chama-se xt de variável de estado. O
parâmetro β representa o fator de desconto, quanto menor seu valor mais o in-
divı́duo valoriza o presente.
A restrição (1.1) determina que o valor escolhido para a variável de controle,
at de pertencer a um conjunto determinado pela variável de estado, xt . Por sua
8
vez, a restrição (1.2) fornece a lei de movimento da variável de estado, ou seja,
determina como a variável de estado evolui no tempo. Pela lei de movimeto pode
ser observado que o valor da variável de estado em t + 1 depende do valor da
variável de estado no perı́odo t, do valor da variável de controle no perı́odo t e
de uma terceira variável ε. Esta última é uma variável aleatória descrita por uma
função de distribuição cumulativa que depende de xt e at , de forma que:
F (ε | x, a) = Prob (εt ≤ ε | xt = x, at = a) (1.3)
Dada uma seqüência para a variável de controle {at } é possı́vel usar (1.1) e (1.2)
para construir a distribuição de probabilidade dos futuros estados condicional a
x0 . É com respeito a esta distribuição que se toma as expectativas no problema do
indivı́duo1 .
Outro ponto importante a se notar é que u, Γ, f e F não dependem de t, neste
sentido podemos dizer que o problema é estacionário. O fato de (at , xt ) conter
toda a informação disponı́vel no perı́odo t relevante para determinar a distribuição
de probabilidade de eventos futuros e a hipótese de que a função de utilidade é se-
paravél no tempo implicam que o valo da variável de controle no tempo dependerá
apenas da variável de estado, ou seja, at = αt (xt ), onde αt é chamada de regra
de decisão. Com isto é possı́vel definir o que vem a ser uma polı́tica.
Definição 1.1 Seja X o conjunto das variáveis de estado e A o conjunto das
variáveis de controle. Uma polı́tica de tamanho T é definida como uma seqüência
de regras de decisão πT = (α0 , α1 , . . . , αT ), onde αt : X → A para todo t.
O conjunto de polı́ticas factı́veis é dado por:
Πt = {πT = (α0 , α1 , . . . , αT ) : αt (x) ∈ Γ(x) ∀ x, t} (1.4)
Uma polı́tica será dita estacionária se não depender do tempo, ou seja, αt (x) ≡
α(x). Cada polı́tica gera uma regra de movimento estocástica para a variável de
estado, xt+1 = f (xt , αt (xt ), εt ), que será estacionária se αt for estacionária.
9
onde xt evolui no tempo de acordo com (1.2). Desta forma o problema do in-
divı́duo é escolher πT ∈ ΠT de forma a maximizar WT (x, πT ).
Assuma que Γ(x) é não-vazio, compacto e contı́nuo; que u(x, a) é contı́nua
e limitada e que f (x, a, ε) é contı́nua. Então existe uma solução para o pro-
blema, πT⋆ = (a⋆0 , a⋆1 , . . . , a⋆T ), que é chamada polı́tica ótima. Ademais existe
uma função valor ótima, dada por:
VT (x) = WT (x, πT⋆ ) (1.6)
que é contı́nua e limitada em x.2
De acordo com a lei da expectativas itereadas vale que E0 (·) = E0 [E1 (·)],
desta forma (1.6) pode ser escrita como:
T
X
VT (x0 ) = WT (x0 , πT⋆ ) = E0 β t u(xt , a⋆t )
t=0
( T )
X
= max E0 β t u(xt , at )
πT ∈ΠT
t=0
( T
)
X
= max E0 u(x0 , a0 ) + E1 β t u(xt , at )
πT ∈ΠT
t=1
( T
)
X
= max E0 u(x0 , a0 ) + max E1 β t u(xt , at )
a0 ∈Γ(x0 ) πT −1 ∈ΠT −1
t=1
onde a última igualdade decorre do fato que ações tomadas em t ≥ 1 não afetam
u(x0 , a0 ).3
A partir da definição de função valor é possı́vel perceber que:
T
X
VT −1 (x1 ) = max E1 β t−1 u(xt , at )
πT −1 ∈ΠT −1
t=1
2
Para demonstrações e mais detalhes a este respeito ver Stockey e Lucas (1989) e Wright
(1997).
3
Repare que o subescrito T − 1 significa que a variável é avaliada faltando T − 1 perı́odos para
acabar o horizonte de programação, ou seja, uma variável em T − 1 está um perı́odo a frente de
uma variável em T .
10
Por fim se tirarmos o subscrito em x, a e ε e escrevermos a expressão acima para
qualquer número de perı́odos restantes para o final do horizonte de programação,
S ∈ {1, 2, . . . , T }, podemos escrever a Equação de Bellman:
max u(x, a)
a∈Γ(x)
11
1. Construir V0 (x) a partir da fórmula V0 (x) = maxa∈Γ(x) u(x, a). Guardar a
solução do problema como a = η0 (x).
12
Capı́tulo 2
Horizonte Infinito
2.1 Introdução
Nesta unidade passamos a considerar o caso de horizonte de programação infinito.
As técnicas desta unidade serão fundamentais no decorrer do curso, de forma que é
fundamental que todos tenham certeza de ter compreendido o uso de programação
dinâmica para resolver problemas de otimização com horizonte de tempo infinito.
Assim como a unidade anterior, esta parte segue a exposição em Stockey e Lucas
(1989) e Wright (1997).
13
Seja C o conjunto de funções contı́nuas e limitadas que assumem valores reais
em X. Considere um operador T : C → C tal que:
1. x + y = y + x;
2. (x + y) + z = x + (y + z);
3. α(x + y) = αx + αy;
4. (α + β)x = αx + βx; e
5. (αβ)x = α(βx).
1
Para uma discussão sobre a demonstração desta propriedade de T , ver Stockey e Lucas (1989)
e Wright (1997).
14
Também deve existir um vetor zero θ ∈ X que possua as seguintes propriedades:
6. x + θ = x; e
7. 0x = θ.
Finalmente,
8. 1x = x.
O fato de termos considerado a multiplicação por escalar apenas em relação
a números reais faz com que o espaço vetorial seja considerado um espaço real.
Embora o estudo de espaços complexos possa ser interessante encontra-se fora de
consideração neste curso, aos interessados no assunto recomendo que comecem
por Rudin (1986).
Para que possamos discutir problemas de convergência é preciso que tenhamos
uma noção relativa a distância. Para isto definimos uma métrica, que é uma função
que toma quaisquer dois elemento de um conjunto e fornece um valor que pode
ser considerado como a distância entre estes dois elementos. A partir do conceito
de métrica é possı́vel definir um espaço métrico da seguinte forma:
Definição 2.2 Um espaço métrico é formado por um conjunto S e uma métrica
ρ : S × S → ℜ tais que para todos x, y, z ∈ S vale que:
1. ρ(x, y) ≥ 0, com igualdade se x = y;
15
1. kxk ≥ 0, com igualdade se e somente se x = θ;
2. kαxk = |α| · kxk; e
3. kx + yk ≤ kxk + kyk.
Uma prática comum consiste em considerar qualquer espaço vetorial normado
(S, k · k) como um espaço métrico onde a métrica é dada por ρ(x, y) = kx − yk.
Tendo definido métrica e espaços métricos é possı́vel apresentar o conceito de
convergência de seqüências, qual seja:
Definição 2.4 Uma seqüência {xn }∞
n=0 em S converge para x ∈ S se, para todo
ε > 0 existe um Nε tal que:
ρ(xn , x) < ε, ∀ n ≥ Nε
Desta forma uma seqüência xn em espaço métrico (S, ρ) converge para x ∈ S se
e somente se a seqüência de números reais não negativos {ρ(xn , x)}∞n=0 convergir
para zero. Neste caso escreve-se xn → x.
O critério de convergência exige que os elementos se aproximem cada vez
mais de um único ponto no espaço métrico. Em alguns casos não é possı́vel
identificar este ponto, porém é possı́vel observar que os pontos da seqüência ficam
cada vez mais próximos uns dos outros. Quando uma seqüência apresenta esta
caracterı́stica diz-se que é uma seqüência de Cauchy, a definição formal segue
abaixo.
Definição 2.5 Uma seqüência {xn }∞
n=0 em S é uma seqüência de Cauchy se para
cada ε > 0, existe um Nε tal que:
ρ(xn , xm ) < ε, ∀ n, m ≥ Nε
Note que toda seqüência que converge para algum ponto x ∈ S é uma seqüência
de Cauchy, mas o contrário não é verdade.
Para se determinar se uma seqüência é de Cauchy basta conhecermos os pontos
da seqüência, no caso de seqüências convergentes é preciso saber para onde a
seqüência converge. Isto faz com que seja mais fácil identificar uma seqüência
de Cauchy do que uma seqüência convergente. A próxima definição nos permite
delimitar os espaços métricos onde toda seqüência de Cauchy é convergente.
Definição 2.6 Um espaço métrico (S, ρ) é completo se toda to seqüência de Cau-
chy em S converge para um elemento em S.
Um exemplo de espaço métrico completo é o conjunto dos números reais, ℜ, com
a métrica ρ(x, y) = |x − y|. Quando um espaço vetorial normado é completo
diz-se que consiste em um espaço de Banach, este é um tipo de espaço muito
importante para nossa análise.
16
2.4 Teorema do Ponto Fixo de Banach
Uma vez apresentado o conceito de espaços de Banach e discutidas as principais
caracterı́sticas de um espaço métrico completo é possı́vel retornar ao problema de
determinar se existe um ponto fixo para (2.2). Antes devemos apresentar uma
definição que é fundamental para o restante da seção, trata-se do conceito de
contração.
Teorema 2.1 (Teorema do Ponto Fixo de Banach) Se (S, ρ) for um espaço métrico
completo e T : S → S for uma contração com módulo β, então:
17
Aplicando (2.3) ao resultado acima temos:
ρ(vm , vn ) ≤ β m−1 + . . . + β n+1 + β n ρ(v1 , v0 )
= β n β m−n−1 + . . . + β + 1 ρ(v1 , v0 )
βn
≤ ρ(v1 , v0 ) (2.4)
1−β
Por (2.4) fica claro que {vn } é uma seqüência de Cauchy. Como S é completo
vale que vn → v ∈ S. Para mostrar que T v = v observe que para todo n e para
todo v0 ∈ S vale que:
ρ(T v, v) ≤ ρ(T v, T n v0 ) + ρ(T n v0 , v)
≤ βρ(v, T n−1 v0 ) + ρ(T n v0 , v)
onde a segunda linha é conseqüência de T ser uma contração. Como vn → v,
vale que quando n → ∞ os dois termos a direita da desigualdade vão para zero,
de forma que ρ(T v, v) = 0 o que implica que T v = v. Para mostrar a unicidade
suponha que existe um v̂ 6= v que é outro ponto fixo de T . Então existe a ∈
ℜ, a 6= 0 tal que ρ(v̂, v) = a, neste caso vale que:
0 < a = ρ(v̂, v) = ρ(T v̂, T v) ≤ βρ(v̂, v) = βa
o que consiste em contradição pois β < 1. Para demonstrar a segunda parte do
teorema basta notar que para qualquer n ≥ 1
ρ(T n v0 , v) = ρ T (T n−1 v0 ), T v ≤ βρ(T n−1 v0 , v)
18
2.5 Solução da Equação de Bellman
Na seção 2.2 vimos que, se existir, a função valor corresponde ao ponto fixo do
operador definido em (2.2). Nesta seção usaremos os resultados das seções 2.3 e
2.4 para avaliar a existência de um ponto fixo em (2.2).
Considerando que o espaço métrico definido por C e a norma do sup é com-
pleto3 , precisamos mostrar que o operador em (2.2) é uma contração. Para isto
usaremos as condições de Blackwell4 , ou seja, temos que mostrar que o operador
obedece as propriedades de monotonicidade e de desconto. Para a monotonici-
dade basta observar que se duas funções são tais que h(x) ≥ g(x), ∀x então o
máximo de h(x) será maior que o máximo de g(x), disto segue que (2.2) obedece
a propriedade de monotonicidade. Para a outra propriedade basta notar que:
= T ϕ + βc
Com isto mostramos que o operador em (2.2) é uma contração e que tem módulo
β.
Usando o Teorema do Ponto Fixo de Banach podemos afirmar que a função
valor tal como definida em (2.1) existe e é única. Mais ainda, se tomarmos uma
função qualquer em C e aplicarmos o operador definido em (2.2) sucessivamente
formaremos uma seqüência que converge para a função valor, ou seja, para qual-
quer v0 ∈ C a seqüência {vn }∞ n
n=0 tal que vn = T v0 converge para a função valor.
Este resultado permite a implementação do seguinte algoritmo para encontrar
a função valor:
19
em poucos casos. Numericamente só é utilizado em casos onde não existem al-
ternativas, pois costuma exigir muito tempo do computador e nem sempre temos
certeza sobre o quão exata é a solução.
No processo de iterações descrito acima será possı́vel obter a = ηn (x) da
mesma forma que no algoritmo de programação dinâmica descrito no capı́tulo
anterior. Se ηn (x) assumir um único valor para cada x, pelo menos para n grande
o suficiente, é possı́vel mostrar que ηn apresenta uma convergência pontual para a
polı́tica estacionaria ótima do problema de horizonte infinito. Caso a variável de
estado, x esteja restrita a um conjunto compacto a convergência será uniforme.
2.6 Exercı́cios
1. Mostre que se xn → x e xn → y, então x = y.
2. Mostre que se uma seqüência {xn }∞ n=0 converge para um ponto x ∈ S então
esta seqüência é uma seqüência de Cauchy.
20
Capı́tulo 3
Aplicações
21
desempregado busca maximizar:
∞
X
β t yt
t=0
Uma opção do trabalhador é aceitar a proposta, de forma que a função valor seja
o valor presente de um fluxo de renda sempre igual a w, ou seja:
w
v(w) =
1−β
A outra opção é rejeitar a proposta, neste caso receberá c e terá uma nova oportu-
nidade no próximo perı́odo, de modo que:
Z
v(w) = c + βE[v(w )] = c + β v(w′ )dF (w′ )
′
22
que pode ser escrito como:
w̃ ∞
w̃ w̃
Z Z
′
dF (w ) + dF (w′ )
1−β 0 1−β w̃
Z w̃ Z ∞
w̃ ′ w′
=c+β dF (w ) + β dF (w′ )
0 1−β w̃ 1 − β
v
6
1
Inclinação = 1−β
v(w)
c+β
R∞
v(w′ )dF (w′ )
? ^
0
-
w̃ w
Rejeita a Aceita a
oferta oferta
23
3.2 Demanda por Moeda
Um dos principais problemas da macroeconomia consiste em determinar a razão
das pessoas demandarem moeda como meio de troca. Uma explicação para este
fenômeno é o problema da dupla coincidencia, qual seja, na ausência de moeda só
ocorrrão trocas se dois agentes ao se encontrarem desejarem o bem em posse um
do outro. Se alguém que possua laranja desejar consumir maçãs terá de encontrar
um outra pessoa que deseje laranja e possua maçãs, do contrário não ocorrerá
troca.
Este tipo de explicação não é possı́vel de ser tratada em modelos tradicionais
de macroeconomia que assumem a existência de um único bem. De fato o pro-
blema da dupla coincidencia só pode acontecer em economia que possuam pelo
menos três tipos distintos de bens. Por sua vez os modelos de Equilı́brio Geral
assumem a existência do Leiloeiro Walrasiano, que realiza as trocas no lugar dos
indivı́duos, elimina a possibilidade de introduzir uma demanda por moeda como
meio de troca.
Devido a este problema os macroeconomistas costumam utilizar atalhos para
introduzir moeda em seus modelos. Entre estes os mais conhecidos são: introdução
da moeda na função de utilidade, imposição de um custo de transação na forma
de despesas para realizar trocas ou redução do tempo de lazer (shopping time) e
assumir que alguns bens apenas podem ser adquiridos com a posse de moeda. As
duas últimas alternativas pecam por assumir trocas em uma economia de um bem.
A primeira trata-se de alterar os fundamentos para obter um resultado desejado, o
que faz com que esta abordagem seja alvo de severas crı́ticas por parte de vários
economistas.
A questão da dupla coincidencia, e portanto a da demanda por meio de troca1
foi finalmente tratada com o devido cuidado em uma série de trabalhos escritos
pelos professores Randall Wright e Nobuhiro Kiyotaki2 . A idéia central destes
modelos era estudar a demanda por moeda em uma economia com diversos bens e
sem um Leiloeiro Walrasiano, ou seja, uma economia onde agentes estão sujeitos
ao problema da dupla coincidencia.
Neste seção será apresentado um modelo simplificado de demanda por meio de
troca seguindo as linhas descritas acima, a exposição segue a que está em Wright
(1997). O meio de troca da economia será algo sem nenhum valor intrinseco, neste
caso refere-se a fiat money, em oposição ao caso onde o meio de troca também é
uma mercadoria, caso em que existe o commodity money.
Considere uma economia onde existe um contı́nuo de bens e de agentes dis-
tribuidos uniformemente em um cı́rculo de circunferencia igual a dois. Por sim-
1
Mais a frente, quando falarmos do modelo de gerações superpostas, trataremos de um modelo
de demanda por moeda, porém a moeda será primordialmente uma reserva de valor.
2
Ver Kiyotaki e Wright (1989, 1991 e 1993).
24
plicidade assuma que cada agente i possui a tecnologia que o permite produzir o
bem do tipo i. A produção ocorre sem custo toda vez que o agente está sem ne-
nhum bem3 , esta hipótese faz com que possamos concentrar a análise nas trocas e
ignorar o processo de produção.
As preferências são tais que nenhum indivı́duo deseja consumir seu próprio
bem. Para os outros bens a utilidade depende da distancia entre o referido bem e
o produzido pelo indivı́duo. Com a hipótese a respeito da distribuição dos bens
fica claro que a distancia entre dois bens obedece uma distribuição uniforme no
intervalo [0 1]. O caso mais simples para este tipo de preferência, que será consi-
derado aqui, ocorre quando o indivı́duo decide consumir apenas bens a uma certa
distância do seu, ou seja, a função de utilidade é tal que:
(
U se z ≤ x
u(z) − ε = (3.4)
0 se z > x
onde z representa a distância entre o bem a ser consumido e o bem produzido pelo
indivı́duo, ε é um custo de transação que aparece na forma de desutilidade e U > 0
e x ∈ (0 1) são constantes. É possı́vel mostrar4 que para este tipo de utilidade
uma estratégia ótima para o consumidor será aceitar consumir qualquer bem a
uma distância menor que x do bem produzido. Por causa disto a probabilidade
que um consumidor aceite uma troca é igual a Prob (z ≤ x) = x. Por hipótese a
probabilidade que um encontro ocorra é dada por β ∈ (0 1).
Uma fração M dos agentes desta economia iniciam com moeda ao invés de
qualquer bem, o restante, 1 − M possui seu tipo de bem. Tanto os bens quanto a
moeda são indivsı́veis de forma que todas as trocas ocorrem de um para um, esta
hipótese elimina a necessidade de explicar preços relativos 5 . A questão é analisar
em que condições a moeda será aceita como meio de troca em equilı́brio.
Adicionalmente assuma que os detentores de moeda não podem produzir ne-
nhum tipo de bem enquanto não realizarem um troca e que os encontros sempre
ocorrem, ou seja β = 1. Neste caso a fração de pessoas com moeda será sempre
M e a probabilidade de uma agente qualquer encontrar um detentor de moeda
(comprador) será igual a M , enquanto a probabilidade de encontrar alguém que
detenha um bem qualquer (comprador) será 1 − M .
Considere um agente representativo que acredita que a probabilidade de um
vendedor escolhido ao acaso aceite moeda seja igual a Π. Ele tembém sabe que a
probabilidade de qualquer pessoa (vendedor ou comprador) que encontre ao acaso
3
Para um caso onde a produção possui custo e as oportunidades de produção surgem ao acaso
ver Kiyotaki e Wright (1991) ou Wright (1997).
4
Ver Wright (1997).
5
Para trabalhar com preços relativos é necessário estudar elementos de teoria da negociações
(barganha), a este respeito ver Wright (1997).
25
aceite um bem é igual a x. Seja Vg a função valor de um vendedor e Vm a função
valor de um comprador, considerando o estado estacionário Vg será tal que:
1
Vg = (1 − M )x2 [U + Vg ] + M x max{Vm , Vg }
1+r
+[1 − (1 − M )x2 − M x]Vg ⇒
1
Vg = (1 − M )x2 [U + Vg ] + M x max{Vm , Vg }
1+r
+Vg − (1 − M )x2 Vg − M xVg ⇒
1
(1 − M )x2 U + M x max{Vm − Vg , 0} − Vg
Vg =
1+r
que, com um novo arranjo dos termos, pode ser escrita como:
rVg = (1 − M )x2 U + M x max{Vm − Vg , 0} (3.5)
A equação (3.5) diz que rVg é igual ao valor esperado de realizar uma troca por
outro produto mais o valor esperado de ralizar uma troca por moeda, caso esta
troca seja aceita. Usando um raciocinio semelhante ao dos vendedores é possı́vel
determinar a função valor dos compradores como:
rVm = (1 − M )xΠ(U + Vg − Vm ) (3.6)
Como pode ser observado nas equações (3.5) e (3.6) a decisão relevante é se
o dono de uma mercadoria deve aceitar moeda como meio de troca. A estratégia
que resolve este problema é aceitar moeda com uma probabilidade π de forma
que:
0 se Vm < Vg
π = [0 1] se Vm = Vg (3.7)
1 se Vm > Vg
Desde que tanto (3.5) quanto (3.6) dependem de Π é possı́vel escrever a decisão
acima como função de Π, ou seja, π = π(Π). Um equilı́brio para este modelo
corresponde a um ponto fixo Π = π(Π).
Não é objetivo destas notas descrever todos os equilı́brios deste modelo, os
interessados devem olhar em Kiyotaki e Wright (1991) ou em Wright (1997),
porém dois equliı́brios são interessantes e merecem ser avaliados. O primeiro
ocorre quando Π = 0, neste caso é facil ver que Vg > Vm o que implica que
π = 0, o que garante acondição de equilı́brio. Este equilı́brio é chamado de
equilı́brio não monetário, sua interpretação é de que se as pessoas acreditam que
as outras não aceitarão a moeda como meio de troca elas também não aceitarão.
Talvez por isso não consigamos imprimir nossas próprias moedas e fazer com que
ela circule no mercado.
26
O outro equilı́brio ocorre quando Π = 1, neste caso Vm > Vg e, portanto,
π = 1, o que novamente caracteriza o ponto fixo e o equilı́brio. Este equilı́brio,
chamado de equilı́brio monetário puro, diz que se as pessoas acreditam que
todos aceitarão moeda com meio de troca, então elas também aceitarão. Este
resultado torna muito clara uma caracterı́stica fundamental da moeda, o motivo
pelo qual todos aceitam é moeda é que todos acreditam que todos os outros
aceitam moeda.
27
Parte II
28
Capı́tulo 4
Consumo e Poupança
29
padrão de consumo inalterado. A incapacidade da teoria keynesiana do consumo
de explicar este fato pode ser melhor entendida se usarmos a equação (4.1) para
determinar a poupança das famı́lias, para isto basta lembrar que a poupança con-
siste na parte da renda que não foi consumida, ou seja,
como 0 < c < 1, devemos ter var(C) < var(Y ) e var(S) < var(Y ). A primeira
desigualdade é observada em diversos paı́ses, mas a segunda não, uma vez que a
poupança costuma ser mais volatil que a renda.
Na raiz dos problemas associados à teoria do consumo keynesiana está a
hipótese de que o consumo depende da renda corrente, ou seja, as famı́lias de-
cidem o que vão consumir hoje tomando por base apenas a renda de hoje. Se as
famı́lias apenas consideram a renda presente elas não vão reduzir ou aumentar o
consumo de acordo com a renda que ainda será recebida. Para tornar o argumento
mais claro considere duas pessoas que possuem a mesma renda, podem ser dois
colegas de trabalho, porém um deles espera receber uma herança de um milhão de
reais. Pela teoria keynesiana as duas pessoas vão consumir da mesma forma até o
dia em que o segundo receba a herança, a partir deste dia o herdeiro vai consumir
mais que o colega sem herança. Ocorre que não é este o tipo de comportamento
que observamos na maioria das pessoas, de fato, a certeza de receber a heranç
faz com que o herdeiro consuma mais do que o colega mesmo antes de receber
a herança, ou seja, o herdeiro antecipa o consumo que a renda futura o permite.
A Figura 4.1 ilustra o comportamento do consumidor keynesiano e a Figura 4.2
ilustra o comportamento do consumidor que suaviza o consumo no tempo.
Como ilustra a Figura 4.1 o consumo só aumenta quando a renda aumenta,
da mesma forma o consumo sofreria uma redução no caso da renda sofrer uma
redução, tudo ocorre como se a poupança não fosse utilizada, nem planejada, para
manter o nı́vel de consumo das pessoas. Quando a pessoa suaviza o consumo no
tempo é possı́vel que em alguns perı́odos ela venha a conumir mais que o montante
de sua renda, neste caso a pessoa estaria se endividando ou despoupando, isto faz
com que as variações bruscas da renda sejam repassadas para a poupança e não
para o consumo. A Figura 4.2 mostra o caso de uma pessoa que acumula dı́vidas
30
Renda
Consumo
no começo da vida para paga-las mais adiante, este caso seria consistente como o
exemplo do herdeiro apresentado acima.
Renda
Consumo
31
renda, enquanto a do consumo é um pouco menor. No caso dos Estados Unidos a
variancia do consumo é pouco superior à metade da variancia da renda. A Figura
4.3 mostra o comportamento do ciclo do consumo e da poupança no Brasil, de
forma a ilustrar a maior volatilidade da poupança.
0.25
0.2
0.15
0.1
0.05
−0.05
−0.1
−0.15
−0.25
1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995
32
consistente com as hipóteses de renda permanente e do ciclo da vida, que explica
como as famı́lias suavizam o consumo no tempo.
33
y2
segundo perı́odo avaliada hoje seria equivalente a 1+r , da mesma forma o valor
c2
presente do consumo no segundo perı́odo será dado por 1+r , note que para tarzer
uma variável para valor presente devemos usar a taxa de desconto do mercado e
não a subjetiva3 .
Discutimos como as famı́lias e o mercado descontam o futuro, esta é uma
parte fundamental quando queremos explicar a escolha entre consumir e poupar
que uma famı́lia realiza, porém outros aspectos determinam esta escolha. As pre-
ferências de uma determinada famı́lia também possuem uma papel relevante na
escolha entre consumo e poupança. Como sabemos da teoria do consumidor uma
dada preferência pode ser representada por uma função de utilidade, no nosso caso
esta função deve ser capaz de descrever como a famı́lia obtém utilidade ao consu-
mir no primeiro e no segundo perı́odo, ou seja a função utilidade deve depender de
c1 e c2 , de maneira formal podemos escrever a função de utilidade como U (c1 , c2 ).
Um dos trabalhos mais delicados que temos pela frente é definirmos a forma
da função U (·, ·), este exige que levemos em conta aspectos de cálculo, não po-
demos usar uma função tão complicada que não consigamos resolver o problema,
e aspectos empiricos, nossa função deve levar a reultados compatı́veis com o que
observamos na realidade. Deste modo é comum utilizarmos uma função separável
no tempo da forma:
1
U (c1 , c2 ) = u(c1 ) + u(c2 ) (4.3)
1+γ
a equação (4.3) nos diz que a utilidade em cada perı́odo depende do que foi con-
sumido no perı́odo, ou seja, o almoço de ontem não me gera utilidade hoje, e
que a utilidade total é a soma descontada da utilidade de cada perı́odo. Note que,
como estamos tratando da utilidade da famı́lia, devemos usar a taxa de desconto
subjetiva. Esta forma para a função utilidade torna o problema bem mais simples
2 U (c ,c ) ∂ 2 U (c1 ,c2 )
do ponto de vista algébrico uma vez que o fato de ∂ ∂c 1
1 2
∂c 2
= ∂c2 ∂c1
= 0 nos
evita trabalhar com derivadas cruzadas.
Uma definida U (·, ·) devemos definir a uma forma para a função u(·), conhe-
cida como função de utilidade instantanea, uma escolha bastante popular é a que
apresenta elasticidade de substituição constante, por vezes chamada de isoelástica,
matematicamente esta função é escrita como:
c1−σ −1
1−σ se σ 6= 1
u(c) = (4.4)
ln(c) se σ = 1
3
Isto é semelhante ao que ocorre em teoria do consumidor, embora alguns consumidores este-
jam dispostos a pagar um preço diferente do preço de mercado é este último preço que devemos
utilizar para estudar um dado mercado.
34
note que segundo função de utilidade acima a elasticidade de substituição do con-
sumo no primeiro perı́odo por consumo no segundo perı́odo será dada por:
d ln(c2 /c1 ) d 1 ln |T M S| 1
η= = σ = (4.5)
d ln |T M S| d ln |T M S| σ
onde η representa a elasticidade de substituição e T M S representa a taxa marginal
de substituição. Note que segundo a equação acima a elasticidade de substituição
é constante e igual a σ1 .
Uma vez descritas as preferências das pessoas que desejamos estudar pode-
mos montar o problema de otimização de utilidade, antes, porém, devemos dis-
cutir a restrição orçamentária destas pessoas. Definir corretamente a restrição
orçamentária é, talvez, o mais importante passo a ser dado quando montamos um
problema de economia. No nosso pequeno modelo a pessoa deve decidir o quanto
consumir no primeiro e no segundo perı́odo de vida, de forma que o valor presente
do gasto total com consumo, conforme visto acima, deve ser dado por:
c2
c1 +
1+r
o motivo de usarmos r e não γ foi discutido acima. Para financiar este consumo a
pessoa conta com seu patrimônio inicial mais a renda que recebe a cada perı́odo,
ou seja, o valor presente do montante que a pessoa pode gastar é dado por:
y2
a + y1 +
1+r
Note que em um determinado perı́odo a pessoa pode gastar mais ou menos
do que sua renda deste perı́odo. Quando gasta mais do que a renda do perı́odo
a pessoa se endivida, quando gasta menos do que a renda do perı́odo a pessoa
poupa. Apesar de poder se endividar ou poupar em um dado perı́odo quando
somamos por toda a vida os recursos devem ser iguais aos gastos, ou seja, ao
morrer a pessoa nem deve a ninguém nem é credor de ninguém. Desta forma a
restrição orçamentária toma a forma:
y2 c2
a + y1 + = c1 + (4.6)
1+r 1+r
Definida a restrição orçamentária, podemos escrever o problema de maximização
de utilidade como:
c1−σ
1 −1 1 c1−σ
2 −1
max +
c1 ,c2 1−σ 1+γ 1−σ
y2 c2
s.a. a + y1 + = c1 +
1+r 1+r
35
com o Lagranjeano sendo dado por:
c1−σ 1 c1−σ
1 −1 2 −1 y2 c2
L= + + λ a + y1 + − c1 −
1−σ 1+γ 1−σ 1+r 1+r
c−σ
1 = λ (4.7)
1 −σ 1
c2 = λ (4.8)
1+γ 1+r
substituindo (4.7) em (4.8) temos que:
σ
c1 1+γ
=
c2 1+r
a + y1 + y2 = c 1 + c 1 ⇒
a + y1 + y2
⇒ c1 =
2
36
ou seja, podemos afirmar que:
a + y1 + y2
c1 = c2 = (4.10)
2
apesar de representar um caso muito simples a equação (4.10) nos permite obter
algumas importantes conclusões sobre a escolha entre consumo e poupança. A
primeira é variações na renda em um determinado perı́odo afetam o consumo em
todos os perı́odos e não apenas no perı́odo em que a variação ocorreu. A segunda
conclusão, que decorre da primeira, é que, neste modelo, as pessoas suavizam seu
consumo, ou seja, as escohas são feitas de forma a não alterar o consumo a cada
perı́odo. Finalmente a equação (4.10) nos permite estudar o comportamento da
poupança, para isto lembre que definimos a poupança como a parte da renda que
não é consumida, desta forma a poupança em cada perı́odo será dada por:
a + y1 + y2
s 1 = y1 − (4.11)
2
a + y1 + y2
s 2 = y2 − (4.12)
2
onde si representa a poupança no perı́odo i.
Note que, ao contrário do consumo, a poupança pode variar de um perı́odo
para o outro, em particular se a renda de um perı́odo for menor que a do outro, a
poupança deste perı́odo també será menor. Com isto vimos que nosso modelo é
capaz de explicar porque a poupança é mais volatil que o consumo, isto decorre de
um comportamento ótimo dos agentes. A seguir vamos apresentar uma maneira
alternativa de resolver o modelo descrito nesta seção, esta maneira nos permitirá
utilizar o que vamos chamar de propriedades recursivas do modelo.
37
como:
c1−σ
1 −1 1 c1−σ
2 −1
max +
c1 ,c2 1−σ 1+γ 1−σ
c 1 = a + y1 − s
s.a.
c2 = (1 + r)s + y2
substituindo as restrições na função objetivo podemos escrever o problema da
seguinte forma:
(a + y1 − s)1−σ − 1 1 ((1 + r)s + y2 )1−σ − 1
max +
s 1−σ 1+γ 1−σ
onde a maximização é feita em s.
O problema acima não necessita do Lagranjeano pois não apresenta restrições
à maximização, outa vantagem deste problema é que só precisamos de uma condição
de primeira ordem, que será escrita como:
1+r
(a + y1 − s)−σ = ((1 + r)s + y2 )−σ
1+γ
utilizando novamente as restrições podemos escrever a consição de primeira or-
dem como: 1
c1 1+γ σ
= (4.13)
c2 1+r
note que a equação (4.13) é a Equação de Euler da seção anterior. Desta forma
vimos que a Equação de Euler pode ser obtida tanto pelo problema em valor pre-
sente, quanto pelo problema recursivo. Algumas vezes a forma recursiva é mais
apropriada e será utilizada, outras usaremos o problema em valor presente, porém
você deve ter em mente que a Equação de Euler não depende da forma como
escrevemos o problema.
Podemos continuar o exercı́cio da parte anterior, para isto basta fazer γ = r =
0. Novamente a Equação de Euler fará com que c1 = c2 , usando as restrições
podemos notar que:
a + y1 − y2
a + y1 − s = s + y2 ⇒ s =
2
conhecido o valor de s podemos concluir que o consumo no primeiro perı́odo será
dado por:
a + y1 − y2 a + y1 + y2
c1 = a + y1 − = (4.14)
2 2
o consumo no segundo perı́odo será dado por:
a + y1 − y2 a + y1 + y2
c2 = + y2 = (4.15)
2 2
38
como esperado o valor do consumo é igual nos dois perı́odos, e, também, a solução
do modelo recursivo é igual a do modelo em valor presente.
Quando usamos a forma recursiva, em geral, conseguimos mais intuição a res-
peito do resultado do modelo, podemos confirmar isto no nosso exemplo. Vimos
que, em ambas as formulações a solução foi a mesma, no entanto, observando as
restrições do problema recursivo, percebemos que no segundo perı́odo a pessoa
consome todo o seu patrimônio. O resultado não é surpreendente, afinal ninguém
vai acumular riquezas um dia antes de morrer, mas no problema em valores pre-
sentes não ficou claro este resultado.
A primeira vista este problema pode parecer bem mais complexo do que o
anterior, além de envolver várias somas, existem T variáveis de escolhas, o que
nos obrigaria a calcular T + 1 condições de primeira ordem, uma para cada um
dos ct t = 1, 2, . . . , T e mais uma para o multiplicador de Lagranje. Porém com
um pouco de atenção podemos resolver este problema com apenas duas derivadas,
considere a condição de primeira ordem associada a um ct qualquer:
c−σ
t λ
t−1 = (4.16)
(1 + γ) (1 + r)t−1
39
Para determinarmos a regra de movimento do consumo (Equação de Euler), basta
determinar a condição de primeira ordem com relação a ct+1 , qual seja:
c−σ
t+1 λ
t = (4.17)
(1 + γ) (1 + r)t
e usar a equação (4.16) para retirar λ da equação (4.17). Procedendo desta forma
obtemos a Equação de Euler:
σ1
ct+1 1+r
= (4.18)
ct 1+γ
40
assumindo que a taxa de desconto subjetiva e a taxa de desconto do mercado são
iguais a zero, o consumo passa a ser dado por:
" T
#
1 X
c= a+ (1 − τ )yt (4.21)
T t=1
41
4.4 Modelo com Horizonte Infinito de Programação
É possı́vel utilizar as técnicas de programação dinâmica desenvolvidas na primeira
unidade para resolver o problema de escolher a seqüência ótima de consumo em
um modelo com horizonte de programação infinito e onde existe incerteza. Para
isto considere o problema:
∞
X
max E0 β t u(ct )
ct
t=0
at+1
s.a. ct = yt − − at (4.25)
1 + rt
onde a restrição (4.25) significa que o consumo em um perı́odo t é igual a renda
menos a poupança. Sendo que a poupança é expressa como a variação dos ativos
financeiros avaliados em t. Alternativamente (4.25) pode ser escrita como:
at+1 = (1 + rt )(at + yt − ct ) (4.25′ )
As variáveis de controle são ct e at+1 , a variável at é a variável de estado e as
seqüências {yt }∞ ∞
t=0 e {rt }t=0 seguem processos estocásticos exógenos.
Substituindo (4.25) na função utilidade o problema de maximização pode ser
escrito como: ∞
X
t at+1
max E0 β u yt − + at
at+1
t=0
1 + rt
onde a variável de estado é at e a variável de controle é at+1 .
Por simplicidade assuma que o ativo a é livre de risco, ou seja, rt = r > 0 ∀t.
A Equação de Bellman deste modelo pode ser escrita como:
at+1
V (at , yt , rt ) = max u yt − + at + βEV (at+1 , yt+1 , rt+1 ) (4.26)
at+1 1 + rt
a condição de primeira ordem para este problema é:
1 ∂V
u′ (ct ) = βE (4.27)
1 + rt ∂at+1
diferenciando (4.26) obtemos:
∂V
= u′ (ct ) (4.28)
∂at
avaliando (4.28) em t + 1 em substituindo em (4.27) obtemos a Equação de Euler:
1
u′ (ct ) = βEu′ (ct+1 ) (4.29)
1 + rt
42
colocando ct+1 no lado esquerdo a Equação de Euler passa a ser escrita como:
Note que a equação (4.30′ ) é exatamente igual a equação (4.18), ou seja a Equação
de Euler do modelo com horizonte infinito de programação é igual a do modelo
com T perı́odos.
43
presente, afinal consumir agora ficou mais caro, o primeiro efeito tende a aumen-
tar o consumo4 , pelo menos para as pessoas que são credoras. Como o estoque
de riqueza em uma dada economia costuma ser positivo, podemos assumir que,
em média, as pessoas são credoras e não devedoras. Logo, em média, o efeito
renda associado a um aumento na taxa de juros tende a elevar o nı́vel de con-
sumo e, consequentemente, reduzir a poupança. A questão é responder é sobre
quais condições o efeito substituição mais do que compensa o efeito renda, ou
seja, quais as condições para que um aumento da taxa de juros eleve o volume
de poupança. Para responder a esta questão podemos considerar o caso onde as
pessoas vivem por dois perı́odos e não possuem riqueza inicial.
Como só existem dois perı́odos podemos representar a escolha de consumir no
primeiro ou no segundo perı́odo em um diagrama de curvas de indiferença, como
é comum em teoria do consumidor. A reta orçmentária possui uma inclinação
igual a −(1 + r), uma vez que abrindo mão de consumir uma unidade no primeiro
perı́odo a pessoa pode consumir (1 + r) unidades do segundo perı́odo. Outra ma-
neira de constatar a inclinação da reta orçamentária é observando que a restrição
c2 y2
orçamentária deste problema é dada por c1 + 1+r = y1 + 1+r , de forma que a reta
orçamentária será dada por:
4.6 Exercı́cios
1. No modelo de dois perı́odos mostre que a solução em valor presente implica
que não pode existir poupança positiva no segundo perı́odo, ou seja, mostre
que:
a + y1 + y2
s 2 = y2 − ≤0
2
2. A partir da equações (4.16) e (4.17) encontre a Equação de Euler do pro-
blema com T perı́odos, eq. (4.18).
44
fará com que o consumo a cada perı́odo seja dado por:
" T
# P
N
1 X τ yt
c= a+ yt − t=1
T t=1
T
5. Suponha uma pessoa que vive por dez anos, a sua taxa de desconto subjetiva
é igual a taxa de desconto do mercado que é de 5% ao ano. A pessoa começa
com um patrimônio de R$ 100,00 e sua renda é de R$ 20,00 por ano. Se a
função utilidade é dada por u(ct ) = ln(ct ) quanto a pessoa vai consumir a
cada perı́odo?
45
Capı́tulo 5
46
restrição orçamentária, como definida em (4.25′ ), tomará a forma:
pt+1 + dt+1
(pt+1 + dt+1 )st+1 = [(pt + dt )st + yt − ct ] (5.1)
pt
O rendimento bruto da ação é igual ao seu retorno em t+1 dividido pelo seu preço
em t, ou seja, Rt = (pt+1 + dt+1 )/pt . A Equação de Euler para este problema será
dada por:
pt+1 + dt+1 u′ (ct+1 )
βEt =1 (5.2)
pt u′ (ct )
Sabemos que se X e Y são duas variáveis aleatórias quaisquer então Et (XY ) =
Et (X)Et (Y )+covt (Xt , Yt ), onde covt (Xt , Yt ) = Et [(Xt − Et (Xt ))(Yt − Et (Yt ))].
Substituindo este resultado em (5.2) será possı́vel obter:
u′ (ct+1 )
′
pt+1 + dt+1 u (ct+1 ) pt+1 + dt+1
βEt Et ′ + βcovt , = 1 (5.3)
pt u (ct ) u′ (ct ) pt
Para obter o resultado que o preço dos ativos financeiros segue um passeio aleatório
basta assumir que Et [u′ (ct+1 )/u′ (ct )] é constante e que:
′
u (ct+1 ) pt+1 + dt+1
covt , =0
u′ (ct ) pt
Uma condição suficiente para que a primeira hipótese seja verdadeira é assumir
que a função de utilidade é linear, de forma que u′ (ct ) não depende de ct .
Assumindo, por conveniência, que Et [u′ (ct+1 )/u′ (ct )] é igual a um, a equação
(5.3) implica que:
Et (pt+1 + dt+1 ) = β −1 pt (5.4)
Este resultado permite concluir que, uma vez ajustado pelos dividendos e descon-
tado, o preço de uma ação segue um processo markoviano de primeira ordem e
que nenhuma outra variável explica o preço de uma ação, ou seja, o preço das
ações é descrito por uma passeio aleatório.
A equação (5.4) é uma equação em diferenças que possui uma solução geral
da forma1 : ∞ t
X
j 1
pt = β Et dt+j + γt (5.5)
j=1
β
47
Como β ∈ (0 1) a seqüência de preços tende a infinito quando t → ∞. Uma
maneira de evitar este problema é fazendo γt = 0 ∀t, neste caso o preço do ativo
será dado por:
X∞
pt = β j Et dt+j (5.5′ )
j=1
Neste caso o preço de uma ação seria o valor presente de todos os seus dividendos.
u′ (dt+1 )
p t = Et β (pt+1 + dt+1 ) (5.6)
u′ (dt )
48
Para o caso especial onde a função de utilidade instantânea é dada por u(ct ) =
ln(ct ), a equação (5.7′ ) toma a forma:
∞
X β
p t = Et β j dt = dt (5.8)
j=1
1−β
Eiste uma firma que produz o bem perecı́vel que é consumido pelos agentes e
uma ação que é negociada em um mercado competitivo. Como existe apenas uma
firma o retorno da ação desta firma é igual ao retorno do mercado. A tecnologia
é tal que o produto da firma deve ser menos ou igual a um determinado yt . Este
produto também é igual ao dividendo pago pela firma.
49
A taxa de crescimento de yt segue um processo estocástico caracterizado por
uma cadeia de Markov, ou seja:
yt+1 = xt+1 yt (5.10)
onde xt+1 ∈ {λ1 , . . . , λn } é a taxa de crescimento e a probabilidade de xt+1 ser
igual a λj dado que xt = λi é igual a φij , ou seja:
Prob{xt+1 = λj |xt = λi } = φij (5.11)
Também é assumido que a cadeida de Markov é ergótica, que os λj são todos
positivos e que y0 > 0.
Caso yt seja completamente consumido a cada perı́odo, condição equivalente
a ct = dt no modelo das árvores, Mehra e Prescott (1984) mostram que uma
condição necessária e suficiente para existência da utilidade esperada é que a ma-
triz A = [aij ] = βφij λ1−σ , i, j = 1, . . . , n seja estável, ou seja, Am → 0 quando
m → ∞. Esta condição também garante a existência de equilı́brio.
Usando (5.7′ ), considerando a utilidade instantanea em (5.9) e lembrando que
ct = yt é possı́vel obter:
∞
X ytσ
pet = Et β s−t ys (5.12)
s=t+1
ysσ
50
Usando esta nova convenção e considerando as equações (5.10) e (5.11), é
possı́vel escrever (5.13) como:
n
X
e
p (c, i) = β φij (λj c)σ [pe (λj c, j) + λj c] cσ (5.14)
j=1
pe (c, i) = wi c (5.15)
w = βΛw + γ (5.17)
onde:
Pn
β j=1 φ1j λ1−σ
w1 φ11 λ1−σ
1 · · · φ1n λ1−σ
n j
w = ... , Λ= .. ... ..
, γ= ..
. . Pn .
1−σ 1−σ 1−σ
wn φn1 λ1 · · · φnn λn β j=1 φnj λj
e pe (λj , c) + λj c − pe (c, i)
rij =
pe (c, i)
λj (wj + 1)
= −1 (5.19)
wi
51
O valor esperado do rendimento deste ativo, quando o estado atual é i, será dado
por:
Xn
e e
Ri = φij rij (5.20)
j=1
Considere agora um ativo que, com certeza, vale uma unidade de consumo no
próximo perı́odo. Neste caso fica claro que a equação (5.6) implica que o preço
será dado por:
n
X u′ (λj c)
pfi f
= p (c, i) = β φij
j=1
u′ (c)
Xn
=β φij λ−σ
j (5.21)
j=1
Quando o estado for (c, i) o retorno do ativo livre de risco será dado por:
1
Rif = −1 (5.22)
pfi
π = φT π
esperado do ativo livre de risco é Rf = ni=1 πi Rif . Por sua vez o premio de risco
P
será dado por Re − Rf .
52
Os dados da economia americana para o perı́odo entre 1889 e 1978 mostram
que a taxa média de crescimento do consumo per-capita foi de 1,8%, o desvio
padrão desta taxa foi de 3,6% e a correlação serial da taxa de crescimento do con-
sumo foi de −0,14. Desta forma os valores dos parâmetros foram determinados
como sendo µ = 0,018, δ = 0,036 e φ = 0,43. Este último valor segue do fato que
para a cadeia de Markov com dois estados e matriz de transição simétrica usada
no modelo a correlação serial é igual a 2φ − 1.
Com estes valores definidos o prêmio de risco foi calculado para valores de σ
entre zero e dez e valores de β entre zero e um. O maior valor encontrado foi de
0,35%, o que não chega nem perto dos 6% observados para a economia americana.
Daı́ os autores concluirem que expliar o prêmio de risco é um dos grandes desafios
para teoria neoclássica.
5.4 Exercı́cios
1. No modelo das árvores de Lucas, determine o preços das árvores como
função dos divididendos quando a utilidade instantânea é dada por u(ct ) =
ln ct .
53
Parte III
54
Capı́tulo 6
Modelo de Solow
Definição 6.2 A função de produção agregada é o produto máximo que pode ser
produzido dadas as quantidades dos fatores de produção.
1
Esta seção se baseia fortemente nas notas de aula de aula do prof. Edward C. Prescott (The
Aggregate Production Function).
55
Notação: letras em minúsculas referem-se as variáveis ao nı́vel da planta de
produção, enquanto as letras correspondentes em maiúsculas referem-se as
variáveis agregadas.
Hipótese 6.1 Para todos possı́veis tipos de plantas, k e n são infinitesimais com
respeito aos números agregados K e N .
Hipótese 6.2 Todas as tecnologias das plantas requerem algum montante mı́nimo
estritamente positivo de capital e/ou trabalho.
56
Definição 6.4 Um plano z é factı́vel dado K e N se existem recursos suficientes
para operar a planta; assim uma planta é factı́vel se
X X
kzkn ≤ Ke nzkn ≤ N.
k,n k,n
O produto do plano z é
X
Y (z) = fkn zkn . (6.2)
k,n
s.a. (6.3)
X X
kzkn ≤ 0 e nzkn ≤ N
k,n k,n
Definição 6.5 Uma função apresenta retornos constantes de escala se para qual-
quer λ > 0, f (λx) = λf (x).
O melhor plano dado (K, N ) pode ser multiplicado pelo escalar λ para
produzir λF (K, N ) usando (λK, λN ). O produto máximo possı́vel dado
57
(λK, λN ) deve ser maior que ou igual a todos os outros produtos possı́veis
dado (λK, λN ), por definição.
Em seguida mostramos
Este argumento é o mesmo que o anterior, exceto pelo fato de que os papéis
de (K, N ) e (λK, λN ) são trocados. O melhor plano dado (λK, λN ) pode
ser escalonado pelo fator λ−1 para produzir λ−1 (λK, λN ) usando (K, N ).
O produto possı́vel máximo dado os recursos devem ser maiores do que ou
igual a todos os outros recursos possı́veis.
As desigualdades (6.4) e (6.5) implicam que F (λK, λN ) = λF (K, N ).
Uma função é côncava se ela permanece acima da linha entre dois pontos
quaisquer.
X1 + X2 z1 + z2 1 1 1 1
F( )≥Y( ) = Y (z1 ) + Y (z2 ) = F (X1 ) + F (X2 )
2 2 2 2 2 2
58
Proposição 6.4 Se o mercado de fatores são competitivos, o produto de equilı́brio
competitivo é o produto máximo de f (K, N ). Além disso, o pagamento dos fatores
exaurem o produto total, isto é
Y ′ = rK + wN
onde Y’ é o produto agregado de equilı́brio competitivo, r é o preço de equilı́brio
para o aluguel do capital, e w é o preço de equilı́brio do aluguel do trabalho.
Prova: Faça z ′ = {zkn
′
} ser um plano de produção de equilı́brio competitivo.
Para todas as tecnologias das plantas produtivas,
fkn − rk − wn ≤ 0 (6.6)
Se este não for caso, poderia existir uma oportunidade de lucro, o que é in-
consistente com o equilı́brio. Se a desigualdade é estrita para alguma planta
′
do tipo (k, n), zkn deve ser zero para ser consistente com a maximização de
lucro (lucro zero é melhor do que o lucro negativo). Assim, para todo (k, n)
′
zkn (fkn − rk − wn) = 0 (6.7)
Somando em 6.7 sobre todos os (k, n) nos dá:
Y ′ − rK − wN = 0 (6.8)
Isto estabelece a segunda parte da proposição, nomeadamente, que o pro-
duto é exaurido pelos pagamentos dos fatores de produção.
Faça z = {zkn } ser um plano que maximiza o produto dado por K e N.
Multiplicando 6.6 por zkn e somando sobre todos (k, n), temos:
Y − rN − wN = 0 (6.9)
onde Y − rK − rN é o produto possı́vel máximo, dando K e N . De (6.8)
e (6.7)
F (K, N ) = Y ≤ rK + wN = Y ′ (6.10)
Assim, o equilı́brio competitivo do produto Y ′ é igual ao máximo possı́vel
F (K, N ), como não é possı́vel produzir mais do que o produto possı́vel
máximo.
O resultado que o produto de equilı́brio competitivo é máximo é muito mais
geral. Pode existir qualquer número de insumos. Pode existir qualquer número
de bens de produção onde o máximo significará que o produto de um bem pode
ser aumentado sem a redução da produção de outro bem. No jargão de economia,
a concorrência leva à produção eficiente. Em geral, abstraindo-se de externalida-
des, equilı́brios competitivos são eficientes ou Pareto ótimo, i.e. nenhuma outra
alocação torna a situação de algum indivı́duo sem que piore a situação de outro.
59
6.1.2 Função de Produção Cobb-Douglas e CES
A função de produção com elasticidade constante de substituição (CES – cons-
tant elasticity of substitution) é um estrutura razoavelmente genérica e domina a
pesquisa aplicada em economia. A sua estrutura paramétrica é a seguinte:
Y = A min{aK K, aN N } (6.13)
Y = AK θ N 1−θ (6.14)
60
Figura 6.1: Função de Produção CES
..
..
..
..
..
..
..
..
..
γ = −∞
..
..
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
....
....
....
....
....
....
....
1 ....
......
......
aN ......
.......
.......
.......
........
........
.........
..........
...........
............
.............
...............
.................... γ=0
.........................
γ=1
1
aK K
61
6.2 O Modelo de Solow
Explicar os determinantes do crescimento de uma economia é um dos principais
desafios com que se depara a ciência econômica. Associadas ao crescimento estão
questões que costumam prender a atenção de todos que se dedicam ao tema, como
por exemplo:
3. Existe alguma tendência natural para que a renda de todos os paı́ses venham
a se igualar?
Para podermos tratar destas questões precisamos de uma estrutura lógica que
nos ajude a conduzir a nossa análise, tal estrutura deve ser conter o que acredita-
mos ser os principais fatores que podem explicar o crescimento de uma economia,
deve ser de tal forma que todas as hipóteses que fizermos fiquem bem claras, assim
como devem estar claras todas as implicações de nossas hipóteses. Uma maneira
adequada e bastante popular de realizar esta tarefa consiste no uso de modelos ma-
temáticos, estes modelos são construı́dos de forma que nos forçam a explicitar as
nossas hipóteses, nos obriga a manter a coerência lógica de nossos argumentos de
forma a nos garantir que nossas conclusões decorrem, de forma lógica, de nossos
argumentos. Embora modelos matemáticos não sejam a única forma de garantir
a consistência lógica entre nossas hipóteses e nossas conclusões, são a maneira
mais simples e segura de atingir este objetivo.
O problema do crescimento econômico sempre esteve presente nas discussões
sobre economia sendo este problema, de forma questionável, a principal motivação
do primeiro tratado sobre economia, chamado “Um Inquérito sobre a Natureza e
as Causas da Riqueza das Nações”, escrito por Adam Smith e publicado em 1776,
apesar deste livro tratar de práticamente todos os temas relacionados a economia
o tı́tulo já denuncia a preocupação central com problemas relacionados ao cresci-
mento econômico.
No decorrer do tempo vários modelos matemáticos foram construı́dos para
estudar o crescimento econômico porém, apenas em 1956, apareceu um mo-
delo que capaz de explicar o crescimento a partir do comportamento de firmas
e famı́lias, e não a partir de hipóteses ad hoc sobre a relação entre agregados ma-
croeoconômicos. Este modelo foi devido a Robert Solow que o apresentou em
um artigo chamado “A contribution to the theory of economic growth”. O com-
portamento das famı́lias era trivial,2 de acordo com a teoria keynesiana da época
2
Este problema foi resolvido em 1965 por David Cass (1965) e também por Tjalling Koopmans
(1965).
62
assumiu-se que as famı́lias poupavam uma fração fixa da renda, ou seja,
St = σYt (6.15)
It = St = σYt (6.16)
Kt+1 (1 − δ)Kt It
= + ⇒
At+1 Nt+1 At+1 Nt+1 At+1 Nt+1
Kt+1 (1 − δ)Kt It
⇒ = + ⇒
At+1 Nt+1 (1 + γ)At (1 + η)Nt (1 + γ)At (1 + η)Nt
Kt+1 Kt It
⇒ (1 + γ)(1 + η) = (1 − δ) +
At+1 Nt+1 At Nt At Nt
definindo a variável por unidade de eficiência como a variável dividida pela mão-
de-obra vezes o nı́vel de tecnologia, ou seja, fazendo kt = AKt Nt t e it = AtIN
t
t
, temos
que:
(1 + γ)(1 + η)kt+1 = (1 − δ)kt + it . (6.18)
Nesta economia existe um único produto que as firmas produzem de acordo
com uma função de produção agregada. Faça esta função de produção ser Yt =
f (Ht , Kt ). Assumimos por hipótese que o trabalho empregado é idêntico a população,
63
ou seja Ht = Nt . Aplicando o conceito de unidades de eficiência na função de
produção, temos que o produto por unidades de eficência será dado por:
yt = f (kt ) (6.19)
considerando as equações (6.16), (6.19) temos que:
(1 + γ)(1 + η)kt+1 = (1 − δ)kt + σf (kt ) = g(kt ) (6.20)
esta equação a diferenças de primeira ordem, junto com o estoque de capital inicial
(k0 ), determina o comportamento do estoque de capital por unidades de eficiência
e, por consequência, determina como o produto, o consumo, etc., se comportam
no tempo.
Definição 6.7 Um estado estacionário do sistema é uma solução para k = g(k).
Dizemos que uma economia encontra-se no estado estacionário quando todas
as suas variáveis (estoque de capital, produto, consumo, investimento e poupança)
assumirem um valor constante no tempo.
Nossas hipóteses implicam que, como mostrado na Figura 6.2, g(0) = 0,
g ′ (0) > 1, e existe um único k ∗ > 0 tal que k ∗ = g(k ∗ ). Assim, o modelo tem
dois estados estacionários, k = 0 e k = k ∗ . Além disso, para todo k0 > 0, kt → k ∗
(monotonicamente). Assim, quando t → ∞, yt → y ∗ , ct → c∗ , etc.
A k ∗ temos que σF (k ∗ ) = [(1 + γ)(1 + η) − (1 − δ)]k ∗ , que implica que a
poupança apenas repõe a depreciação e que a razão capital-produto é ky = σδ , e
também que c∗ = y ∗ − δk ∗ . Claramente, k ∗ é crescente em σδ . Além disso, c∗
é primeiro crescente e então decrescente em σ. A taxa de poupança que maxi-
miza o consumo do estado estacionário pode facilmente ser mostrada que satisfaz
F ′ (k ∗ ) = δ; esta é a chamada “regra de ouro” da acumulação de capital de Phelps
(veremos em detalhes na seção ).
Para entendermos o comportamento do modelo de Solow será interessante
considerar um exemplo numérico. Suponha que a taxa de crescimento da população
seja de aproximadamente 2% a.a. e que a tecnologia, ou a produtividade, cresça
a uma taxa de 2,6% a.a., ou seja, η = 0,02 e γ = 0,026,3 assuma também que
a = 0,354 e que a depreciação é de 10% ao ano, ou seja δ = 0, 1. Para diversos
valores de s iremos calcular o comportamento do estoque de capital e do produto
quando a economia parte de um estoque de capital igual a um.5 A Tabela 6.1
mostra o resultado das simulações.
3
Estes valores são consistentes com os encontrados em Ellery Jr., Gomes e Sachsida (2002)
para a economia brasileira.
4
Mais adiante discutiremos o significado de a, por enquanto basta saber que este valor é con-
sistente com algumas observações reportadas para a economia brasileira
5
O valor do estoque de capital inicial não é relevante para este exercı́cio, a demonstração deste
resultado necessita um conhecimento de equações em diferenças e foge ao objetivo destas notas.
64
Figura 6.2: Modelo de Crescimento de Solow
..........................
......................................................
.......................................
...............................
..............................................
....
...................
................
...............
..............
.
..........
...
...
............. σF (k ) t
.......... ⊲
........
.
...
..........
.
.......
.......
......
......
..
........
....
......
....
...
.......
.
....
....
...
..
.....
.
....
...
..
...
.. ..
..
...
...
....
..
...
...
....
..
..
...
k0 k∗ kt
65
Tabela 6.1: Capital e Produto no Modelo de Solow
s = 0,10 s = 0,15 s = 0,20 s = 0,25
ano capital produto capital produto capital produto capital produto
001 1 1 1 1 1 1 1 1
002 0,9555 0,9842 1,0033 1,0012 1,0511 1,0176 1,0989 1,0335
003 0,9158 0,9697 1,0063 1,0022 1,0984 1,0334 1,1919 1,0634
004 0,8802 0,9563 1,0091 1,0031 1,1421 1,0476 1,2791 1,0900
005 0,8484 0,9441 1,0116 1,0041 1,1824 1,0604 1,3604 1,1137
.. .. .. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . . . .
025 0,5960 0,8343 1,0330 1,0114 1,5467 1,1649 2,1281 1,3026
.. .. .. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . . . .
050 0,5593 0,8160 1,0364 1,0126 1,6077 1,1808 2,2614 1,3305
.. .. .. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . . . .
075 0,5560 0,8143 1,0367 1,0127 1,6134 1,1822 2,2739 1,3331
.. .. .. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . . . .
098 0,5557 0,8141 1,0367 1,0127 1,6139 1,1823 2,2749 1,3333
099 0,5556 0,8141 1,0367 1,0127 1,6139 1,1823 2,2749 1,3333
100 0,5556 0,8141 1,0367 1,0127 1,6139 1,1823 2,2749 1,3333
66
a um crescimento do produto por unidades de eficiência no estado estacionário,
nada pode ser afirmado quanto a taxa de crescimento da economia, até porque,
de acordo com a definição de estado estacionário, a taxa de crescimento seria
zero, trataremos deste problema a seguir. O segundo fator importante é que o
Modelo de Solow assume que a taxa de poupança é constante e determinada de
forma exógena, ou seja, as pessoas não decidem o quanto poupar, por hipótese
elas apenas poupam uma determinada fração de sua renda, não importa o que
aconteça, esta é uma das principais crı́ticas ao Modelo de Solow e consiste em um
problema teórico que foi resolvido por David Cass e Tjalling Koopmans em 1965,
adiante retornaremos a este tópico.
67
Uma alternativa muito mais interessante e consistente de abordar a questão do
crescimento no Modelo de Solow é considerar as unidades em que as variáveis
estão sendo medidas. Em nossa análise estamos trabalhando com variáveis medi-
das em unidades de eficiência, enquanto ao medir o desempenho das economias
costumamos usar variáveis per-capita, ora o fato da variável estar estacionária
quando medida em unidades de eficiência não implica que ela deva estar esta-
cionária quando medida de forma per-capita, considere o produto medido por
unidades de eficiênica:
Yt
yt =
At Nt
sabemos que o produto per-capita é igual ao produto dividido pela população, ou
seja:
Yt
ŷt =
Nt
onde ŷt representa o produto per-capita. Consideramos as duas definições temos
que o produto per-capita pode ser escrito como:
ŷt = At yt
ou seja, o produto per capita é igual ao produto por unidade de eficiência multi-
plicado pela variável que mede o progresso tecnológico, qual seja At . Para deter-
minar a taxa de crescimento do produto per-capita quando o produto por unidades
de eficiência encontra-se no estado estacionário, basta usar o fato que, no estado
estacionário, yt+1 = yt = y. Logo temos que, no estado estacionário, o produto
per-capita será tal que:
ŷt = At y
ŷt+1 = At+1 y = (1 + γ)At y
68
Desta forma podemos afirmar que quando uma economia se encontra no ca-
minho de crescimento equilibrado o produto per-capita cresce a uma taxa igual a
do progresso tecnológico, dito de outra forma, o Modelo de Solow conclui que, no
longo prazo, a taxa de crescimento da economia (determinada pela taxa de cres-
cimento do produto per-capita será igual a taxa de crescimento da produtividade.
A principal implicação deste resultado é que aumentar a taxa de poupança não
aumenta a taxa de crescimento da economia no longo prazo.
No curto prazo, porém, o aumento da taxa de poupança leva a um aumento
da taxa de crescimento da economia. O motivo é simples, uma vez que a maior
taxa de poupança leva a um maior nı́vel de produto per-capita a economia deverá
crecer a uma maior taxa até encontrar o novo estado estacionário. Uma vez que
a economia alcança este novo estado estacionário, ou este novo caminho de cres-
cimento equilibrado, o produto per-capita volta a crescer a uma taxa igual à da
produtividade.
Podemos fazer um experimento numérico para avaliar os efeitos de um au-
mento na taxa de poupança. Considere uma economia onde η = 0,02, γ = 0,026,
a = 0,35 e δ = 0,10, assuma também que a taxa de poupança é de 15%, ou seja
s = 0,15. Suponha que o governo implementa uma polı́tica que faz com que a
taxa de poupança suba para 25%, ou seja, s = 0,25. Como vimos na Tabela 6.1
o produto por unidades de eficiência saltará de aproximadamente 1,01 para 1,33.
Por meio das equações (6.18) e (6.21) podemos determinar o comportamento do
produto per-capita antes, durante e depois da transição para o novo caminho de
crescimento equilibrado, que estará associado ao novo estado estacionário.
Na Figura 6.3 assume-se que a mudança na taxa de poupança ocorreu em 2010,
a área hachureada, que vai de 2010 a 2025, representa o perı́odo de transição, a
partir de 2025 a economia volta a seu caminho de crescimento equilibrado. Na
figura o produto per-capita está representado em escala logaritmica, de forma
que a taxa de crescimento da economia é igual a inclinação da curva no gráfico.
Desta forma, fica fácil perceber que a taxa de crescimento da economia, ou seja,
a inclinação da curva, só aumenta durante o perı́odo de transição. A Figura 6.3
ilustra o que foi discutido acima, de maneira que podemos enunciar a seguinte
proposição:
Proposição 6.5 A taxa de poupança é importante na determinação do nı́vel de
renda e da taxa de crescimento de curto prazo, porém a taxa de poupança não
influencia a taxa de crescimento no longo prazo. Quando consideramos o longo
prazo a taxa de crescimento da economia será determinada apenas pela taxa de
crescimento tecnológico, ou seja, a economia só irá apresentar um crescimento
sustentável se for capaz de operar com tecnologias cada vez mais produtivas.
Em termos de polı́tica econômica a proposição acima diz que a forma de o
governo aumentar a taxa de crescimento da economia é permitir que as empresas
69
Figura 6.3: Caminho de Crescimento Equilibrado com Mudança em σ
2.5
1.5
0.5
0
2000 2020 2040 2060 2080 2100 2120
70
Figura 6.4: Regra de Ouro da Acumulação de Capital
c∗
couro ...............
...........
............................................................
...........
..........
.......... ........
..
...
.......... ........
......
. .......
... .......
..
.......
. ......
......
...
...... ......
...
...... ......
......
...
..... ......
...... ....
..... ....
....
..... ....
..... ....
..... ....
....
. ....
....
....
. ....
....
. ....
.
... ....
....
. ....
....
....
. ....
...... ...
...
.
.. ...
. ...
..... ....
..... ...
.... ...
.... ...
...
.... ...
.. . ...
.. . ...
...
.. . ...
.. . ...
.. . ...
.. . ...
...
.. . ...
... ...
..
σouro σ
∂F (kouro )
= (1 + γ)(1 + η) − (1 − δ) (6.23)
∂kouro
Neste caso, a taxa de poupança correspondente é denominada σouro , e o nı́vel
associado do consumo por unidades de eficiência no estado estacionário é dado
por couro = F (kouro ) − [(1 + γ)(1 + η) − (1 − δ)]kouro .
A condição da equação (6.23) é chamada a regra de ouro da acumulação
de capital, originalmente formulada por Phelps (1966).8 Na Figura 6.5 mostra-
mos como funciona a regra de ouro. A figura considera três taxas de poupança
possı́veis, σ1 , σouro , σ2 , onde σ1 < σouro < σ2 . O consumo por unidade de
eficiência, c, é igual a distância vertical entre a função de produção, F (k), e a
curva de poupança. Para cada σ, o valor do estoque de capital de estado esta-
cionário corresponde k ∗ a intersecção entre a curva σF (k) e a reta [(1 + γ)(1 +
η) − (1 − δ)]k. O valor de c∗ é maximizado quando k ∗ = kouro , porque a tangente
da função de produção neste ponto é paralela a [(1 + γ)(1 + η) − (1 − δ)]k. A
8
A fonte deste nome é a bı́blica conduta da regra de ouro. ...
71
Figura 6.5: A Regra de Ouro e a Ineficiência Dinâmica
kt+1
[(1 + γ)(1 + η) − (1 − δ)]k .....................
..................
...............
..............
....................
............
............
.......
F (k)
............
...........
.....
...............
..
...........
...........
..........
..........
.
..................
...
..........
.........
∂F (k) .......................
...
N
..
...
∂k ........ ∗
N ....
... c 2
.......
.....
.... σ F (k) 2
...
. ........................................................
.... .....................................
.... c ............................
... ouro .........
. .
.............................
.. .....
.... .................
.... ...............
......
... H
N .....................
.
.............
.............
...
.......... .....................
...
. ...................................................
....
....
.........
......... ∆c ............................
.................................
.......................................
... ......... .........................
........
.
....
..
........
..
....
H ...................
..... .. ..................
σ ouro F (k)
...
...
...
.......
.......
........ H .............
...............
................
..... ....
........ .
.... ..............
... .. ...
... ...... ................
...... .....................................................................................................
................
.... ....... .......... ....................................................
.... ....... .......... ....................................
...... ........... ............ ..........................
....................
... ... .....
.. .. ...
... ... ...... .............
.............
...... .......
........
σ F (k) 1
... .... ...... ...........
....... ..... ...........
...... ..... ..........
.............. ........
.. .. ........
........ ........
........ ........
........... ........
.......
............... ............
.
...... .....
........ ........
....... .....
......... .......
..... ...
...... ......
...... ....
.............
.
.......
........
.........
............
...
kouro k2∗ kt
taxa de poupança que resulta em k ∗ = kouro é uma que faz a curva σF (k) cortar a
reta [(1 + γ)(1 + η) − (1 − δ)]k no valor kouro .
Quando uma taxa de poupança é melhor do que outra? A resposta direta para
esta questão seria endogeinizar esta escolha ao comportamento das famı́lias, ou
seja, seria a utilização do modelo neoclássico de crescimento Cass-Koopmans.
Todavia, podemos fazer uma breve análise de estática comparativa para endereçar
esta questão. Podemos argumentar que no presente contexto que uma taxa de
poupança que sempre exceda σouro é ineficiente porque maiores quantidades de
consumo podem ser obtidas em todos os pontos do tempo através da redução da
poupança.
Considere uma economia tal como descrita pela taxa de poupança σ2 na Figura
6.5. Neste caso σ2 > σouro , tal que kouro > k2 e c∗2 < couro . Imagine que,
partindo do estado estacionário, a taxa de poupança é reduzida permanentemente
para σouro . Neste caso, o consumo por unidade de eficiência aumenta inicialmente
em ∆c, como descrito na Figura 6.5. Uma vez que c∗2 < couro , concluı́mos que
durante a transição para o novo estado estacionário o valor de c sempre será maior
72
do que c∗2 . Portanto, quando s > souro , a economia está super-poupando, no
sentido de que o consumo pode ser aumentado em todos os pontos do tempo
pela diminuição da taxa de poupança. Uma economia que poupa em excesso é
dita ser dinamicamente ineficiente, porque a trajetória do consumo por unidades
de eficiência permanece abaixo de trajetórias alternativas em todos os pontos do
tempo.
Se σ1 < σouro , como na Figura 6.5 então o montante do consumo por unidades
de eficiência de estado estacionário pode ser aumentado por meio de um aumento
da taxa de poupança. Todavia, deve se notar que o aumento da poupança pode
diminuir c ao invés de aumentá-lo durante o perı́odo de transição. O resultado
final depende por tanto do valor que os indivı́duos dão ao consumo ao longo do
tempo, questão esta que apenas pode ser endereçada com o modelo de crescimento
Cass-Koopmans.
73
população da mão-de-obra ocupada, porém esta diferença deve ser feita quando
desejamos extrair medidas de uma economia real. Denotando a mão-de-obra ocu-
pada por Lt a função de produção passa a ser dada por:
Qt = Ktθ (At Lt )1−θ (6.24)
A partir da equação (6.24) podemos determinar a produtividade total dos fato-
res, At , de forma bem simples. Basta isolar At na parte esquerda da equação, ou
seja:
1
1−θ
Qt
At = (6.25)
Ktθ L1−θ
t
uma forma mais elegante, e simples, de calcular a produtividade total dos fatores
seria tomar o logaritmo da equação (6.25), ou seja, fazendo:
1 θ
ln At = ln Qt − ln Kt − ln Lt (6.25′ )
1−θ 1−θ
como em geral estamos interessados na taxa de crescimento de At o uso de (6.25′ )
é mais recomendado que o de (6.25).
Note que o cálculo da produtividade total dos fatores foi feito de forma a que
a função de produção fosse observada. Se pensarmos em um contador que deseje
fechar o balanço de uma firma a produtividade total dos fatores corresponderia a
conta lançada sobre a rubrica de outros, ou seja, o cálculo da produtividade total
dos fatores é feito de forma residual. Por tratar-se de um residuo e pelo fato do
método de cálculo ser devido a Solow é comum chamar a produtividade total dos
fatores de Resı́duo de Solow.
74
Uma maneira simples de fazer a contabilidade do crescimento consiste em
dividir todos os termos da função de produção descrita na equação (6.24) pela
população, Nt , de forma a obter:
Qt (At Lt )1−θ
= Ktθ (6.26)
Nt Nt
a equação (6.26) pode ser escrita da forma:
θ
Qt 1−θ Kt Lt
= (At ) (6.26′ )
Nt Lt Nt
onde o termo do lado esquerdo da equação representa o produto per-capita, o
primeiro termo do lado direito representa a produtividade, o termo entre paren-
teses representa a relação entre capital e mão de obra, também chamado de in-
tensividade do capital, e o terceiro termo representa a percentagem da população
empregada.
A equação (6.26′ ) nos mostra que o produto per-capita é determinado pela
produtividade, pela intensividade do uso do capital e pela proporção de pessoas
empregadas. A taxa de crescimento do produto per-capita será determinada pela
soma da taxa de crescimento de cada um dos três termos descritos acima9 , da
forma:
ηq = (1 − θ)γ + θηk + ηn (6.27)
onde ηq representa a taxa de crescimento do produto per-capita, γ a taxa de cresci-
mento da produtividade, ηk a taxa de crescimento da relação capital/mão-de-obra
e ηn a taxa de crescimento do emprego. Assim como no caso do Resı́duo de
Solow, conhecidos ηq , ηk e ηn , é possı́vel determinar γ de forma residual.
Uma polı́tica de crescimento muito usada na América Latina nas décadas de
50, 60 e 70 era promover a implantação de industrias intensivas em capital, esta
polı́tica era inspirada em uma tese da Comissão Econômica para a América Latina
(CEPAL) que propunha que tais industrias agregavam mais valor que as industrias
que não são intensivas em capital. O resultado deste tipo de polı́tica é que, via de
regra, os paı́ses latino-americanos tiveram seus crescimento explicado quase que
todo por maior uso do capital. Como já foi visto este tipo de crescimento só é
sustentável no curto prazo10 , de forma que a América Latina experimentou um
grande crescimento neste perı́odo que não mostrou-se sustentável nas décadas de
80 e 90. A Tabela 6.2 mostra a Contabilidade do Crescimento para alguns paı́ses
latinos.
9
Para chegar a este resultado basta derivar a equação (6.26′ ) em relação ao tempo e obter a taxa
de crescimento do produto per-capita.
10
No longo prazo apenas ganhos de produtividade causam crescimento.
75
Cresc. do Prod. Contribuição do(a):
Produtividade Capital Trabalho
Paı́s 60s 70s 80s 60s 70s 80s 60s 70s 80s 60s 70s 80s
Argentina 3,5 3,2 -1,7 0,7 0,6 -2,6 2,0 2,0 0,3 0,8 0,6 0,6
Bolı́via 6,7 4,5 0,7 3,6 0,8 -0,6 2,0 2,4 -0,2 1,1 1,3 1,5
Brasil 5,9 8,4 1,5 1,5 2,5 -1,4 2,5 3,8 1,7 1,8 2,1 1,3
Chile 4,2 2,7 3,1 1,6 0,5 0,6 1,7 0,8 1,0 0,9 1,5 1,5
Colombia 5,5 5,5 3,2 2,3 2,0 -0,2 1,6 2,0 1,8 1,7 1,5 1,5
Paraguai 4,2 9,5 1,5 0,8 3,6 -3,8 2,0 4,0 3,4 1,4 1,9 1,9
Uruguai 1,7 2,6 -0,2 1,1 1,6 -0,9 0,1 0,9 0,4 0,4 0,1 0,3
Venezuela 6,1 3,0 0,7 3,2 -2,4 - 2,0 1,0 2,6 0,8 1,9 2,9 1,9
Média da A.L. 5,1 4,8 0,6 1,9 0,7 -2,0 2,0 2,5 1,2 1,3 1,6 1,4
Fonte: Gregory e Lee (1999)
6.5 Convergência
Foi visto que a economia convergirá para seu estado estacionário independente-
mente das suas condições iniciais, ou seja, o nı́vel de renda de uma determinada
economia não depende das riquezas que esta possuia no inicio do pocesso de
acumulação. Este resultado decorre da hipótese de rendimentos decrescentes, a
medida que uma economia acumula muito capital, o rendimento deste tende a di-
minuir e, portanto, a remuneração do capital tende a cair, induzindo as pessoas a
acumular menos capital, ou seja, investir menos. Por outro lado, em uma econo-
mia com pouco capital o efeito contrário deve ocorrer, qual seja, o rendimento do
capital deve ser alto de forma a induzir as pessoas a acumular muito capital, ou
seja, investir muito. Desta forma, a medida que uma economia torna-se mais rica,
sua taxa de crescimento, em unidades de eficiência, torna-se menor.
Este resultado levou alguns economistas a estudar uma hipótese conhecida
como convergência entre a renda dos paı́ses. Segundo esta hipótese a taxa de
crescimento possui uma relação negativa com a riqueza de um determinado paı́s,
76
de forma que paı́ses pobres tendem a apresentar taxas de crescimento maiores que
a de paı́ses ricos. No extremo esta hipótese corresponde a dizer que, no longo
prazo, a renda de todos os paı́ses deverá se igualar.
o que implica:
1
1−θ
s
k= (6.28)
(1 + γ)(1 + η) − (1 − δ)
de forma que o produto por unidades de eficiência no estado estacionário será
dado por:
θ
1−θ
s
y= (6.29)
(1 + γ)(1 + η) − (1 − δ)
11
Baumos apenas considerou paı́ses que atualmente são desenvolvidos.
12
A linha de regressão é praticamente horizontal.
77
Figura 6.6: Relação entre Taxa de Crescimento e Riqueza, 1955 - 1990
5
Taxa de crescimento 1955 − 1990
−1
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000
PIB per−capita em 1955
78
Figura 6.7: Clubes de Convergência
2 4
3.5
1.5
3
Taxa de crescimento 1955 − 1990
0.5
1.5
1
0
0.5
−0.5 0
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000
PIB per−capita em 1955 PIB per−capita em 1955
79
Capı́tulo 7
80
nevolente que decide qual a seqüência de consumo deve ser escolhida para ma-
ximizar a utilidade dos agentes desta economia. Assume-se também que as pre-
ferências de todos os indivı́duos são iguais. Estas hipóteses nos permitem evitar
problemas relacionados a definição de equilı́brio competitivo, o que será feito
mais a frente.
Para realizar a produção a economia em análise conta com uma tecnologia
representada por uma função de produção que exibe retornos constantes de escala
e rendimentos decrescentes em cada um dos fatores. Para ser preciso a função de
prdução, F : ℜ2+ → ℜ+ é diferenciável, estritamente crescente, homogenea de
grau um e estritamente quase-concava, com:
81
O problema descrito em (7.5) pode ser colocado na forma de um problema de
programação dinâmica como os estudados na primeira parte destas notas de aula.
Para isto considere que kt seja a variável de estado e kt+1 a variável de controle, a
regra de movimento da variável de estado assume a forma mais simples possı́vel,
qual seja, o valor da variável de estado no próximo perı́odo é igual ao da variável
de controle no perı́odo atual. A Equação de Bellman é dada por:
V (kt ) = max {u (f (kt ) + (1 − δ)kt − kt+1 ) + βV (kt+1 )} (7.6)
kt+1
As hipóteses sobre a função F e as que são usuais para funções de utilidade, quais
sejam, u′ (·) > 0 e u′′ (·) < 0, garantem que (7.6) possui uma única solução.
Mais ainda, com estas mesmas hipóteses é possı́vel mostrar que V é duas vezes
diferenciável, estritamente crescente, estritamente concava e que a solução para o
porblema de maximização nolado direito de (7.6) e estritamente interior1 . Nestas
circustâncias a escolha ótima de kt+1 será dada por:
u′ (f (kt ) + (1 − δ)kt − kt+1 ) = βV ′ (kt+1 ) (7.7)
A solução para o problema em (7.7) fornece a regra de decisão invariante no
tempo, ou seja, determina kt+1 em função de kt ; de forma mais geral podemos di-
zer que esta solução permite escrever a variável de controle em termos da variável
de estado, nos moldes do que foi feito na primeira parte destas notas de aula. A
unicidade da solução é garantida pelo fato de V ser estritamente concava. Esta
regra de decisão, escrita como kt+1 = α(kt ), é uma equação em diferenças de
primeira ordem que, junto com o valor do estoque de capital inicial, k0 , determina
completamente a seqüência ótima de capital, {kt }∞ t=0 .
Uma propriedade imediata da função α(·) é que α(0) = 0. Além disso, pelo
Teorema da Função Implı́cita, sabemos que α(·) é diferenciável e que sua derivada
é dada por:
′ [f ′ (k) + 1 − δ] u′′ (c)
α (k) = ′′ >0 (7.8)
u (c) + βV ′′ (α(k))
onde a desigualdade segue das propriedades de f , u e V . Do fato que α′ (·) > 0
segue que a função α é estritamente crescente.
Uma outra estratégia para representar a regra de decisão consiste em eliminar
′
V (kt+1 ) de (7.7). Para isto devemos diferenciar (7.6) de modo a obter:
V ′ (kt ) = u′′ (f (kt ) + (1 − δ)kt − kt+1 ) [f ′ (kt ) + 1 − δ] (7.9)
Avaliando (7.9) em t + 1, substituindo em (7.8) e lembrando que ct = f (kt ) +
(1 − δ)kt − kt+1 chega-se a seguinte Equação de Euler:
u′ (ct ) = βu′ (ct+1 ) [f ′ (kt+1 + 1 − δ)] (7.10)
1
A este respeito ver Stockey e Lucas (1989)
82
A Equação de Euler em (7.10) mostra que a taxa marginal de substituição entre
u′ (ct )
consumo em t e t+1, µ = βu′ (ct+1 ) , deve ser igual a taxa técnica de transformação,
dada por f ′ (kt+1 ) + 1 − δ, que, por sua vez, representa o quanto de produto pode
ser obtido em t + 1 a partir de uma unidade de poupança em t.
O problema de caracterizar a seqüência ótima {kt }∞ t=0 por meio da Equação
de Euler é que esta define uma equação em diferenças de segunda ordem, pois
encontram-se presentes kt , kt+1 e kt+2 . Como só uma condição inicial, k0 , é
imposta existem infinitas seqüências que atendem a esta condição e (7.10). Desta
forma a Equação de Euler é uma condição necessária mas não suficiente para
determinar a seqüência ótima.
É possı́vel demonstrar que se uma seqüência {kt }∞ t=0 satisfaz a condição inicial
e (7.10) então ela será ótima se também obedecer a condição:
83
equação (7.10) pode-se concluir que o estado estacionário será dado por k = 0 ou
por um k = k ⋆ > 0 tal que:
1
f ′ (k ⋆ ) = δ − 1 + (7.13)
β
as propriedades quanto a concavidade de f garantem que só existe um k ⋆ .
Defina a taxa de desconto intertemporal como γ tal que β = 1/(1 + γ). A
condição do estado estacionário poderá ser escrita como:
f ′ (k ⋆ ) = γ + δ (7.13′ )
Note que o valor do estoque de capital no estado estacionário, e de todas as ou-
tras variáveis, não depende da forma da função de utilidade instantanea u, o único
parâmetro de preferências relevante é a taxa de desconto intertemporal, ou alter-
nativamente, o fator de desconto.
Outro ponto importante é que, conquanto γ > 0, o estoque de capital no
estado estacionário é diferente do estoque de capital associado a regra de ouro2 .
Este resultado é bastante intuitivo, uma vez que os agentes descontam o futuro
não há porque maximizar o consumo no estado estacionário, pelo contrário, é de
se esperar que os agentes sacrifiquem um pouco de consumo no longo prazo em
benefı́cio de consumo presente.
Fora do estado estacionário o modelo com poupança endógena se comporta
de modo similar ao Modelo de Solow3 . Entretanto isto não deve ser considerado
como um incentivo para abandonar o modelo desta seção em nome do mais sim-
ples da unidade anterior. Caso desejemos saber como a mudança do ambiente
econômico, e.g. a mudança de um parâmetro, muda a taxa de poupança o Modelo
de Solow não pode nos ajudar em nada. Problemas como este que fazem com que
o economista deva sempre buscar justificar seus modelos a partir do comporta-
mento otimizador dos agentes.
Tipicamente para determinar a função α(·) é necessário recorrer a técnicas
numéricas. Entretanto existem alguns poucos exemplos que admitem um solução
analı́tica, consideraremos um deles e, a partir do algoritmo de programação dinâ-
mica, vamos determinar a função α(·). Considere uma economia onde a função de
utilidade instantânea é dada por u(ct ) = ln(ct ), a função de produção é uma Cobb-
Douglas do tipo F (K, N ) = K θ N 1−θ , que pode ser escrita como f (k) = k θ , e
ocorre depreciação total do estoque de capital a cada perı́odo, ou seja, δ = 1.
Neste caso, a partir do problema em (7.6), podemos montar a seqüência:
Vn+1 (kt ) = max ln(ktθ − kt+1 ) + βVn (kt+1 )
(7.14)
kt+1
2
Como visto no Modelo de Solow o estoque de capital da regra de ouro neste caso seria tal que
′
f (k) = δ.
3
Ver Wright (1997).
84
Por vezes, para simplificar a notação, em problemas como o descrito a cima é
comum escrever as variáveis em t sem o subescrito de tempo e as variáveis em
t + 1 com uma linha. Usando esta notação e assumindo V0 = 0, podemos definir
a primeira iteração de (7.14) da forma:
θ ′
V1 (k) = max ln(k − k ) + 0
′k
V1 (k) = θ ln(k)
θβ
Isto implica uma regra de decisão do tipo k ′ = α2 (k) = 1+θβ k θ , que, por sua vez
implica que V1 é tal que:
θ θβ θ βθ θ
V2 (k) = ln k − k + βθ ln k
1 + θβ 1 + βθ
1 θ βθ θ
= ln k + βθ ln k
1 + θβ 1 + βθ
1 βθ
= ln + θ ln (k) + βθ ln + βθ2 ln (k)
1 + θβ 1 + βθ
= θ(1 + βθ) ln(k) + Θ
85
onde Θn é constante em relação a k e k ′ , mas não em relação a n. Tomando o
limite quando n → ∞ em (7.15) e (7.16) é possı́vel obter a função polı́tica como:
A restrição (7.19) foi modificada para explicitar que as horas trabalhadas, ht , de-
terminam a quatidade produzida. Enquanto a restrição (7.20) estabelece que todo
o tempo do indivı́duo deve ser dividido entre trabalho e lazer, por conveninecia o
tempo disponı́vel foi normalizado para um.
86
Substituindo (7.19) e (7.20) na função utilidade é possı́vel escrever o problema
de maximização acima como:
∞
X
max β t u (f (kt , ht ) + (1 − δ)kt − kt+1 , 1 − ht ) (7.21)
{kt ,ht }
t=0
As regras de decisão ótimas são as funções ht = h(kt ) e kt+1 = k(kt ) que resol-
vem o sistema formado pelas equações (7.23) e (7.24).
Para obter a Equação de Euler basta calcular V ′ (·) em (7.22), adiantar em um
perı́odo e substituir em (7.24′ ). Desta forma é possı́vel obter:
f1 (k ⋆ , h⋆ ) = γ + δ (7.26)
Note que a condição (7.26) tem a mesma forma da condição (7.13′ ). Estas condições
estabelecem que o retorno do capital f1 (k ⋆ , h⋆ ) − δ tem de ser igual a taxa de des-
conto intertemporal, γ.
87
Para adicionar o componente estocástico a prática comum consiste em seguir
a sugestão em Brock e Mirman (1972), qual seja, adicionar um termo estocástico
a função de produção tal que esta seja escrita como y = zt f (kt , ht ). Em geral
assume-se que este componente estocástico, zt , depende do seu valor no perı́odo
anterior e de uma seqüência, {εt }∞
t=0 , de variáveis aletórias independentes e iden-
ticamente distribuidas, ou seja, zt+1 = z(zt , εt ). Um exemplo comum é assumir
que zt segue um processo autoregressivo do tipo:
7.3 Equilı́brio
Até agora toda a discussão concentrou-se no problema de encontrar a alocação
escolhida por um planejador central que busca maximizar o bem-estar de toda a
88
sociedade. Com isto evitou-se tratar abertamente de questões relativas a equilı́brio
competitivo. Apesar de conveniente esta estratégia apresenta problemas tanto me-
todológicos quanto operacionais.
Do ponto de vista metodológico construir um modelo sem definir e apresen-
tar de forma detalhada o seu equilı́brio pode levar a conclusões erradas sobre as
aplicações do modelo. Também pode tornar bastante ardua a tarefa de alguém
que deseje avaliar o modelo de forma quantitativa, por exemplo por meio de
simulações numéricas. A questão operacional diz respeito ao fato que em várias
aplicações interessantes a solução do problema do planejador central não coincide
com o equilı́brio de mercado4 .
Em geral a solução do planejador central coincide com o equilı́brio de mercado
quando valem o Primeiro e o Segundo Teoremas Fundamentais do Bem-Estar
Social5 . Para tratar dos outros casos é preciso ter uma definição de equilı́brio.
A possibilidade de usar o conceito de equilibrio competitivo no estilo Arrow-
Debreu foi explorada em Cooley e Prescott (1995), onde os autores apontam que
a abordagem deste tipo é limitada a alguns casos onde existe apenas um tipo de
famı́lias e não existem distorções. Em particular ficam de fora casos interessantes
como economias com externalidades, restrições sobre os mercados ou sobre os
contratos, competição monopolistica e esquemas de impostos distorcivos.
O conceito de equilı́brio mais utilizado nos modelos de economia dinamica
é o de Equilı́brio Competitivo Recursivo (ECR), desenvolvido em Prescott e
Mehra (1980). Este será o conceito explorado no restante desta parte do curso, os
motivos para esta escolha são que o ECR pode ser aplicado a uma grande classe
de modelos, com e sem distorções, e que, em vários casos, este equilı́brio pode
ser computado e utilizado para gerar séries artificiais.
Considere inicialmente a versão do Modelo de Solow com poupança endógena.
Neste caso a oferta de trabalho é perfeitamente inelástica e não existem choques
na economia. Por hipótese a taxa de crescimento da população e a taxa de cresci-
mento da produtividade são iguais a zero, de forma que, em equilı́brio, as variáveis
agregadas serão iguais as variáveis individuais.
A economia é composta por firmas e famı́lias. As firmas contratam capital
e trabalho das famı́lias e produzem o único bem da economia por meio de uma
função de produção que exibe retornos constantes de escala. A hipótese de re-
tornos constantes faz com que seja possı́vel ignorar problemas de organização
industrial nesta economia. Tanto faz imaginar que existe um grande número de
firmas operando em um mercado perfeitamente competitivo como assumir que
4
Dois destes exemplos estão em Hansen e Prescott (1995), um com impostos distorsivos e
outro de uma economia monetária com restrição do tipo cash-in-advance.
5
O primeiro diz que todo equilı́brio competitivo é ótimo no sentido de Pareto, o segundo diz
que existe sempre um esquema de transferências que faz com que um ponto ótimo no sentido de
Pareto seja um equilı́brio competitivo.
89
existe uma única firma que se comporta com se estivesse em um mercado compe-
titivo. O segundo caso, apesar de soar estranho, facilita a definição de equilı́brio.
Isto ocorre porque, neste caso, a demanda por fatores da firma é igual a demanda
agregada por fatores. Considerando a hipótese da firma representativa, ou do mo-
nopolista que se comporta com em concorrência perfeita, vale que o lucro da firma
será dado por:
Π(Kt , Ht ) = F (Kt , Ht ) − rt Kt − wt Ht (7.33)
onde Kt representa o capital agregado, Ht as horas totais trabalhadas, rt a remuneração
paga pelo uso de uma unidade de capital e wt representa o salário por hora de tra-
balho. Para simplificar o problema considerou-se que o preço do único bem desta
economia é igual a um.
As condições de primeira ordem associadas ao problema de maximização de
lucros da firma serão dadas por:
∂F (Kt , Ht )
wt = = F2 (Kt , Ht ) (7.34)
∂Ht
∂F (Kt , Ht )
rt = = F1 (Kt , Ht ) (7.35)
∂Kt
As equações (7.34) e (7.35) garantem que as firmas vão contratar capital e trabalho
de forma a igualar a produtividade marginal de cada fator ao preço de mercado
deste fator.
O problema das famı́lias é um pouco mais delicado pois envolve a decisão de
acumular capital, lembre que todos os fatores de produção pertencem as famı́lias,
o que implica na existência de um problema dinâmico. Para definir o problema
dinâmico da famı́lia é preciso levar em consideração que tanto o estoque de ca-
pital agregado quanto o estoque de capital da famı́lia são variáveis de estado. O
primeiro influencia no valor das rendas recebidas pelas famı́lias por meio de seu
efeito sobre o salário e a remuneração do capital. O segundo determina o quanto
a famı́lia dispõe paara gastar uma vez que representa a riqueza da famı́lia. De-
notando o estoque de capital da famı́lia por k, o investimento da famı́lias por x
e o investimento agregado como X, o problema dinâmico das famı́lias pode ser
escrito como:
90
Definição 7.1 Um equilı́brio competitivo recursivo consiste em uma função va-
lor v(k, K) : ℜ2+ → ℜ; uma função polı́tica, d(k, K) : ℜ2+ → ℜ+ , que gera de-
cisões a respeito de c(k, K) e x(k, K) para o agente representativo; uma função
polı́tica agregada D(K) : ℜ+ → ℜ+ que gera decisões agregadas C(K) e
X(K); funções para os preços dos fatores, r(K) : ℜ+ → ℜ+ e w(K) : ℜ+ →
ℜ+ , tais que estas funções satisfaçam:
∂ezt F (Kt , Ht )
wt = = ezt F2 (Kt , Ht ) (7.37)
∂Ht
∂ezt F (Kt , Ht )
rt = = ezt F1 (Kt , Ht ) (7.38)
∂Kt
As equações (7.37) e (7.38) podem ser interpretadas da mesma forma que as
equações (7.34) e (7.35).
No caso da função utilidade é preciso introduzir o lazer como argumento da
função utilidade. Note que não se trata de um artifı́cio para obter um determinado
resultado, a idéia que o trabalho provoca perda de bem-estar está presente entre
oc economistas desde os trabalhos de Jeremy Bentham e Stanley Jevons, e, em
certo sentido, pode ser vista como parte fundamental da revolução marginalista
91
que mudou o pensamento econômico no século XIX. Com esta modificação o
problema dinâmico das famı́lias passa a ser dado por:
7.4 Calibração
Após construir um modelo dinâmico e definir o equilı́brio competitivo recursivo é
importante resolver o modelo de modo a criar séries artificiais que possam ser
comparados com séries correspondentes observadas em um determinado paı́s.
Este tipo de abordagem segue o proposto em Lucas (1981) onde o autor afirma
que:
92
“... a ‘theory’ is not a collection of assertions about the behavior of
the actual economy but rather a explicit set of instructions for buil-
ding a parallel or analogue system – a mechanical imitation economy.
A ‘good’ model, from this point of view, will not be exactly more ‘real’
than a poor one, but provide better imitations.”
Para realizar esta tarefa duas questões devem ser consideradas. A primeira con-
siste em determinar em que medida as séries geradas pelos modelos correspondem
as séries existentes para a economia que está sendo analisada. A segunda consiste
em como determinar valores para parâmetros de forma que o modelo seja consis-
tente com alguns fatos da economia sob estudo. Esta segunda parte é conhecida
como calibração.
Para realizar um exercı́cio de calibração é preciso que a economia artificial
seja capaz de reproduzir fatos da economia real. Como o objeto de estudo deste
capı́tulo é o ciclo econômico, vamos determinar os parâmetros de forma a repro-
duzir caracterı́sticas de longo prazo da economia americana6 . Primeiro passo é
introduzir crescimento populacional e crescimento da produtividade no modelo
com oferta de trabalho e choques estocástico.
Como não existem distorções o equilı́brio competitivo recursivo será equiva-
lente a escolha ótima do planejador central. Por simplicidade a segunda aborda-
gem será utilizada. Considerando que a população cresce a uma taxa η e a pro-
dutividade cresce a uma taxa γ o problema do planejador central pode ser escrito
como:
"∞ #
X
max E β t (1 + η)t [(1 − α) ln ct + α ln(1 − ht )]
t=0
zt
s.a. ct + xt = e (1 − γ)t(1−θ) ktθ h1−θ
t
(1 + γ)(1 + η)kt+1 = (1 − δ)kt + xt
zt+1 = ρzt + εt
z ′ = ρz + ε
6
A escolha pela economia americana justifica-se pelo fator desta ter sido amplamente estudada,
para um análise deste tipo aplicada a economia brasileira ver Ellery Jr, Gomes e Sachsida (2002).
93
As condições de primeira ordem para este problema são:
θ−1 1−θ
β(1 + η) θezt+1 kt+1
(1 + γ)(1 + η) ht+1 + 1 − δ
= (7.39)
ct ct+1
zt θ −θ
(1 − θ)e kt ht α 1
= (7.40)
ct 1 − α 1 − ht
No caminho de crescimento equlibrado as equações (7.39) e (7.40) passam a ser
escritas como:
1+γ y
+δ−1=θ (7.41)
β k
y α h
(1 − θ) = (7.42)
c 1−α1−h
enquanto que a lei de movimento do capital pode ser escrita como:
k k x
(1 + γ)(1 + η) = (1 − δ) + (7.43)
y y y
Calibrar o modelo significa dar valores ao parâmetros α, β, γ, δ, η, θ, ρ e σε de
forma que a economia artificial reproduza o longo prazo da economia real. Para
a taxa de crescimento da população, η podemos usar a taxa de crescimento da
população observada. Como um dos resultados deste modelo é que, no longo
prazo, a taxa de crescimento do produto per-capita é igual a taxa de crescimento
da produtividade, o parâmetro γ pode ser determinado como a taxa de crescimento
do PNB per-capita.
O próximo parâmetro a ser determinado é o que representa a intensividade de
capital na tecnologia, θ. No caso da função de produção Cobb-Douglas é possı́vel
escrever a participação da renda do capital na renda total como:
94
7.5 Exercı́cios
1. Mostre que se Yt = F (Kt , Nt ) onde a função F : ℜ2+ → ℜ+ apresenta
retornos constantes de escala é possı́vel escrever
Yt Kt
=F , 1 = f (kt )
Nt Nt
2. Mostre que se as hipóteses sobre a função F feitas na seção 7.1 forem ver-
dadeiras então a função f definida acima é diferenciável, estritamente cres-
cente e estritamente concava com:
f (0) = 0, f ′ (k) > 0, lim f ′ (k) = ∞, lim f ′ (k) = 0
k→0 k→∞
95
Capı́tulo 8
96
8.1 Modelo com Trabalho Indivisı́vel
8.2 Choque de Demanda
97
Parte IV
98
Capı́tulo 9
Assim como nos modelos anteriores assume-se que o tempo é discreto. Porém,
ao invés de assumir que as pessoas vivem por um perı́odo infinito de tempo,
considera-se que as pessoas vivem por apenas um número finito de perı́odos. Por
simplicidade admite-se que o número de perı́odos que o agente vive é conheci-
mento comum.
Apesar dos agentes viverem por um perı́odo finito de tempo, a economia existe
por um número infinito de perı́odos. Isto permite que instituições como o go-
verno possam existir mesmo depois da morte dos agentes. A cada perı́odo nasce
uma geração e morre outra, de forma que número de gerações existentes em cada
perı́odo é sempre igual.
A Figura 9.1 ilustra a superposição de gerações para o caso onde cada geração
vive por dois perı́odos. O esquema descrito nesta figura segue indefinidamente,
de forma que sempre existem duas gerações convivendo em um dado perı́odo
de tempo. Note que noprimeiro perı́odo exsitem os chamados velhos iniciais,
algumas vezes é importante considerá-los com fins de analisar os impactos de
bem-estar de uma dada polı́tica. Em outras ocasiões assume-se que a economia
não teve inı́cio e desconsidera-se a existência dos velhos iniciais.
Assume-se que a geração nascida no perı́odo t possui N (t) inidivı́duos, de
forma que em cada perı́odo t a população é igual a N (t − 1) + N (t), onde
N (t − 1) é o número de velhos e N (t) o número de jovens. Caso as gerações
vivamP um número J de perı́odos então a população em cada perı́odo t será dada
por Ji=1 N (t + J − i). Esta estrutura garante que existem tantos tipos de agen-
tes heterogêneos quanto seja o número de gerações vivas em um dado perı́odo.
Seguindo McCandless (1991) continuaremos considerando apenas o caso de duas
gerações, apenas onde for dito explicitamente serão considerados os casos de mais
de duas gerações.
99
Velhos
Iniciais
Jovens da Velhos da
Geração 1 Geração 1
Jovens da Velhos da
Geração 2 Geração 2
Jovens da Velhos da
Geração 3 Geração 3
Jovens da
Geração 4
...
-
t=1 t=2 t=3 t=4
100
Em cada perı́odo existe um único bem, que pode ser interpretado como o
mesmo bem em perı́odos diferentes. O ponto fundamental é que uma unidade
do bem no perı́odo t é diferente de uma unidade do bem no perı́odo t + s para
s 6= 0. Isto faz que com exista um infinito número de bens na economia, um
para cada perı́odo de tempo. Em alguns caso assume-se que existe uma tecno-
logia capaz de transformar bens de um perı́odo em bens de outro perı́odo1 . Em
outros casos é conveniente assumir que o bem de um perı́odo deve ser completa-
mente consumido no mesmo perı́odo. O total de bens disponı́vel no perı́odo t será
denotado por Y (t).
Definição 9.1 Uma alocação de consumo no perı́odo t é dada pelo consumo dos
N (t) N (t−1)
jovens cht (t) h=1 e pelo consumo dos velhos vivos em t, cht−1 (t) h=1 .
Desta forma é possı́vel definir alocações factiveis para o caso de economia sem
produção e tecnologia de armazenagem.
A definição 9.2 enfatiza a idéia de que uma alocação é factı́vel quando o total de
consumo em cada perı́odo é menor ou igual ao total de recursos disponı́veis neste
perı́odo.
1
Um caso onde é comum assumir a existência deste tipo de tecnologia é quando existe
produção; parte do bem existente no perı́odo t pode tornar-se capital no futuro e permitir a
produção de bens de outros perı́odos.
101
As pessoas que vivem nesta economia tem preferências definidas sobre uma
cesta de consumo com os bens existentes durante seus perı́odos de vida. A função
de utilidade para o indivı́duo h pertencente a geração nascida em t será do tipo
uht cht (t), cht (t + 1) . É comum assumir que a função de utilidade possui todas as
propriedades de monotonicidade e convexidade de preferências bem comportadas,
além de ser contı́nua e diferenciável.
102
dotação e seu consumo em um dado perı́odo, ou seja, st = et (t) − ct (t) e Rt como
sendo a taxa bruta de retorno de st entre os perı́odos t e t + 1. O termo bruto para
taxa de juros significa que ela engloba o principal mais o retorno. Assim a forma
recursiva do problema do consumidor é dada por:
Desta forma fica estabelecido que (9.3) e (9.4) implicam (9.2). Da mesma maneira
é possı́vel mostrar que se ct (t) e ct (t+1) obedecem (9.2), então também obedecem
(9.3) e (9.4). Segue que as alocações de equilı́brio competitivo e de equilı́brio
recursivo são as mesmas.
9.3 Bem-Estar
Para iniciar a análise sobre as propriedades de bem-estar do modelo de gerações
superpostas é preciso definir alguns conceitos- chave que permitirão comparar
103
duas alocações. O primeiro destes conceitos é o de eficiência, o segundo é o
conceito de superioridade no sentido de Pareto.
Definição 9.5 Uma alocação factı́vel A é dita eficiente se não existir nenhuma
outra alocação factı́vel onde o consumo total de algum bem seja maior que em A
sem que exista redução no consumo total de algum outro bem.
ii. Pelo menos uma pessoa prefere estritamente A a B, ou seja, para pelo
menos uma pessoa vale que A ≻ B.
Considere que a cada perı́odo existem oito unidades do único bem de consumo,
que é não perecı́vel. Considere a alocação onde todos os bens são consumidos
pelos jovens, ou seja, ct (t) = 8 e ct (t + 1) = 0. É fácil ver que esta alocação
é factı́vel, resta saber se existe alguma outra alocação factı́vel que seja Pareto-
superior a esta.
104
Existirá uma alocação superior a descrita acima se for possı́vel mostrar que
existe uma outra alocação factı́vel tal que alguém melhore e ninguém piore. Para
responder esta pergunta vale notar que, como o consumo quando velho é zero e a
utilidade é o produto do consumo quando jovem e quando velho, a alocação acima
faz com a utilidade de todos seja igual a zero em todos os perı́odos. Para os velhos
iniciais sabe-se que o consumo é igual a zero.
Considere agora uma outra alocação tal que ct (t) = 6 e ct (t + 1) = 2. Neste
casoa utilidade do todos od agentes nascidos em t ≥ 1 será estritamente positiva
e os velhos iniciais aumentam seu consumo de zero para duas unidades. Portanto
todos estão melhores nesta alocação do que no caso anterior, de forma que esta
alocação é superior no sentido de Pareto a alocação anterior.
Suponha agora que a alocação seja tal que os velhos consomem tudo e os jo-
vesn não consomem nada, ous eja ct (t) = 0 e ct (t + 1) = 8. Neste caso todas
as gerações nascidas em t ≥ 1 ficarão exatamente como estavam na primeira
alocação, o que equivale a dizer que os nascidos em t ≥ 1 ficam indiferentes entre
a primeira alocação e esta alocação. Entretano na primeira alocação os velhos ini-
ciais não consomem nada, enquanto nesta eles consomem oito unidades, portanto
estão melhor nesta do que na outra. Desta forma a alocação (ct (t), ct (t + 1)) =
(8, 0) é superor no sentido de Pareto a alocação (ct (t), ct (t + 1)) = (0, 8).
Resta comparmos as alocações (ct (t), ct (t + 1)) = (8, 0) e (ct (t), ct (t + 1)) =
(6, 2). Todos os nascidos em t ≥ 1 preferem a segunda alocação a primeira,
entretanto os velhos iniciais estão melhores com a primeira do que com a segunda.
Desta forma as duas alocações não podem ser comparadas.
Definição 9.7 Uma alocação de consumo é ótima no sentido de Pareto se for
factı́vel e não existir outra alocação de consumo factı́vel que seja superior a ela
no sentido de Pareto.
No exemplo acima as alocações (3, 5), (2, 6) e (4, 4) são todas ótimas no sen-
tido de Pareto. Entretanto a alocação (5, 3) não é ótima no sentido de Pareto, isto
ocorre porque a alocação (3, 5) é Pareto-superior a esta2 .
Uma vez que definimos uma alocação ótima no sentido de Pareto podemos
analisar as propriedades de bem-estar do equilı́brio competitivo em um modelo de
gerações superpostas. Em particular desejamos saber se a alocação de equilı́brio
é ótima no sentido de Pareto. Dito de outra forma desejamos saber se o Primeiro
Teorema Fundamental do Bem-Estar Social pode ser aplicado nos modelos de
gerações superpostas. Antes de iniciar esta discussão vale enunciar e demonstrar
este teorema.
Teorema 9.1 (Primeiro Teorema Fundamental do Bem-Estar Social) Se (X ⋆ , p⋆ )
é um equilı́brio Walrasiano então X ⋆ é ótima no sentido de Pareto.
2
Se isto não estiver claro lembre dos velhos iniciais.
105
Demonstração: Seja i o ı́ndice para bens e h o ı́ndice para pessoas e suponha
que a economia possui I bens, i = 1, 2, . . . , I e H pessoas, h = 1, 2, . . . , H.
Por contradição, considere que existe uma alocação factı́vel X ′ que seja Pareto-
superior a alocação X ⋆ . Como X ⋆ maximiza a utilidade dada a restrição orçamentária
de cada agente para que X ′ ≻ X ⋆ para algum agente é preciso que
I
X
pi (x′hi − ehi ) ≥ 0
i=1
esta última desigualdade implica que para pelo menos um bem i vale que:
H
X
(x′hi − ehi ) > 0
h=1
106
competitivo não é ótimo no sentido de Pareto, ou seja, não podemos aplicar Pri-
meiro Teorema Fundamental do Bem-Estar social em modelos de gerações super-
postas3 .
Considere novamente o ECR e suponha que a função de utilidade representa
preferências bem comportadas. Neste caso substituindo as equações (9.3) e (9.4)
na função objetivo a condição de primeira ordem para o problema de maximização
será:
Pela equação (9.6) vale que Rt = µ (ct (t), ct (t + 1)) onde µ(·) é a taxa marginal
de substituição.
Uma implicação importante da equação (9.6) e do resultado sobre autarquia é
que no ECR vale que Rt = µ (et (t), et (t + 1)), ou, no caso de equilı́brio competi-
pt
tivo pt+1 = µ (et (t), et (t + 1)).
Como os bens podem ser livrementes tranferidos entre jovens e velhos a taxa
com que a sociedade pode trocar consumo no primeiro perı́odo por consumo no
segundo perı́odo é um. Quando a taxa marginal de substituição é menor que um
resulta que os jovens estariam dispostos a receber menos de uma unidade do bem
do segundo perı́odo em troca do bem do primeiro perı́odo, ou seja, existe um de-
sejo de poupar. Porém poupança é inconsistente com equilı́brio, de forma que o
desejo de poupar não é realizado e, portanto, uma alocação que permita poupança
poderá ser Pareto-superior ao equilı́brio competitivo. Desta forma podemos afir-
mar que o equilı́brio competitivo não será ótimo no sentido de Pareto quando
µ (ct (t), ct (t + 1)) < 14 .
Um último comentário diz respeito a natureza da falha do Primeiro Teorema
Fundamental do Bem-Estar Social. Como se sabe é comum que este teorema falhe
devido a existência de mercados incompletos, e o modelo de gerações superpostas
apresenta mercados incompletos a meida que não é possı́vel realizar trocas com
os que ainda não nasceram e com os que já morreram. Entretanto em nenhum
momento este resultado foi utilizado para mostrar que o equilı́brio pode não ser
eficiente. De fato a demonstração foi feita a partir do conceito de equilı́brio com-
3
Observando com atenção a demonstração do Primeiro Teorema nota-se que a troca de so-
matórios foi fundamental para obter o resultado, como em modelos de gerações superpostas exis-
tem infinitos bens esta troca não é possı́vel e, portanto, a demonstração não pode ser feita. Para
mais detalhes a respeito de modelos de gerações superpostas e o Primeiro Teorema ver Wright
(1997).
4
Em Wright (1997) demonstra-se o resultado que a condição µ(·) ≥ 1 é uma condição ne-
cessária e suficiente para que o equilı́brio competitivo seja ótimo no sentido de Pareto.
107
petitivo, não do ECR, onde é possı́vel imaginar que todas as trocas, inclusive a de
indivı́duos que ainda não nasceram, são realizadas em t = 1.
108
Capı́tulo 10
109
A análise da equação (10.4) permite concluir que quando qt+1
qt
> Rt a demanda
por moeda será infinita. Como a oferta de moeda é finita, neste caso não é possı́vel
igualar oferta e demanda por moeda. Por outro lado quando qt+1 qt
< Rt a quanti-
dade demandada de moeda será igual a zero. Desta forma só existirá um equilı́brio
monetário quando qt+1qt
= Rt , ou seja, apenas quando o retorno da moeda for igual
ao dos tı́tulos haverá um equilı́brio monetário.
Por fim, considerando que os indivı́duos da mesma geração possuem as mes-
mas funções de utilidade e as mesmas dotações iniciais, vale que st = 0. Desta
forma (10.2) e (10.3) podem ser escritas como:
ii. Dada a seqüência {qt }, {ct (t), ct (t + 1)} resolve o problema de maximização
de utilidade sujeito a (10.2′ ) e (10.3′ ).
iii. Os mercados se equilibram, ou seja, ct (t) + ct−1 (t) = et (t) + et−1 (t).
Repare que desde que qt > 0 é possı́vel afirmar que mt = M , pois pela
Lei de Walras o equilibrio no mercado de bens implica no equilibrio do mercado
monetário. Desta forma quando qt > 0 diz-se que existe ume quilı́brio monetário,
caso em que o nı́vel de preços será definido como Pt = q1t . Por outro lado, quando
qt = 0 o nı́vel de preços tenderá a infinito e diz-se que ocorre um equilı́brio não-
monetário.
Quando existe um equilı́brio monetário, ou seja quando qt > 0, é possı́vel
substituir as equações (10.2′ ) e (10.3′ ) na função de utilidade e obter a seguinte
condição de primeira ordem:
u1 (·, ·) qt+1
µ (et (t) − qt mt , et (t + 1) + qt+1 mt ) = = (10.5)
u2 (·, ·) qt
110
Conquanto que 0 < mt < etq(t) t
é possı́vel determinar a demanda por moeda a
2
partir da equação (10.5) . A primeira desigualdade é conseqüência do equilı́brio
monetário. A segunda será verdadeira se valer que µ(·, ·) → ∞ quando ct (t) → 0.
Usando a condição que mt = M é possı́vel escrever (10.5) na forma qt+1 =
f (qt ). Nestas condições um equilı́brio monetário será caracterizado por qualquer
seqüência limitada que obedeça a função f : ℜ → ℜ. Um estado estacionário
será um ponto fixo de f , ou seja, deverá ser tal que q = f (q).
111
possı́vel transferir recursos no tempo. Desta forma pode ser dito que nos mode-
los de gerações superpostas a função primordial da moeda é agir como reserva de
valor.
Para tornar as cisas mais claras pode ser interessante usar um exemplo para
avaliar os conceitos apresentados acima. Suponha que a função utilidade seja do
tipo:
u (ct (t), ct (t + 1)) = ln(ct (t)) + β ln(ct (t + 1)) (10.6)
Neste caso a equação (10.5) pode ser utilizada para determinar a demanda por
moeda, sendo esta determinada por:
βet (t)qt+1 − et (t + 1)qt
mt = m(qt , qt+1 ) = (10.7)
qt qt+1 (1 + β)
Suponha que a dotação no segundo perı́odo é igual a zero e que a dotação
no primeiro perı́odo é constante e igual a ê, ou seja, (et (t), et (t + 1)) = (ê, 0),
uma das implicações desta suposição é que em todos os perı́odos t ≥ 1 o produto
será igual a et (t) = ê. Usando a condição de equilı́brio no mercado monetário,
mt = M , e esta hipótese a equação (10.7) pode ser utilizada para determinar q.
Fazendo as devidas substituição obtem-se:
βê
qt = ≡ q ⋆ ∀t (10.8)
(1 + β)M
Neste caso existe apenas um equilı́brio monetário que corresponde ao estado es-
tacionário.
Uma outra implicação da equação (10.8) pode ser obtida se substituirmos q
pelo nı́vel de preços e lembrarmos que o produto é igual a dotação do primeiro
perı́odo, ou seja, Yt = ê. Com estas modificações chega-se a:
1+β
P⋆ Y = M (10.9)
β
112
particulares, quais sejam: existe um único equilı́brio, que é estacionário; o nı́vel de
preços é determinado como uma proporção do estoque de moeda e que a poupança
é uma fração constante da renda. Tais resultados podem ser alterados se supormos
que a dotação é do tipo (et (t), et (t + 1)) = (e1 , e2 ) ∀t ≥ 1. Neste caso a equação
(10.7) e o equilı́brio no mercado monetário implicam que:
Para determinar o estado estacionário basta buscar por um valor de q tal que
q = f (q), sabe-se que este valor existirá e será único se f ′ (0) = µ < 1. Impondo
a condição de estado estacionário em (10.10) é possı́vel obter:
βe1 − e2
qt = = q⋆ (10.11)
(1 + β)M
Note-se que existirá o equilı́brio monetário, ou seja, qt > 0 apenas quando βe1 >
e2 , condição que será observada se e somente se µ(e1 , e2 ) < 1.
A função f (qt ) definida em (10.10) é convexa, estritamente crecente e tende
a infinito5 . A partir destes fatos podemos analisar os equilı́brios monetários não-
estacionários do modelo. Quando q0 = q ⋆ a economia ficará sempre no estado
estacionário, cabe discutir o que ocorre quando q0 > q ⋆ e quando q0 < q ⋆ . A
Figura 10.1 ilustra estes casos.
Se o valor inicial da moeda, q0 , for maior do que q ⋆ então a equação (10.10)
implica em qt → ∞, de forma que qualquer seqüência iniciando com um valor
da moeda maior do que o de estado estacionário não pode ser um equilı́brio6 . Por
outro lado qualquer seqüência que siga a equação (10.10) e comece em um ponto
q0 ∈ (0, q ⋆ ) será limitada e, portanto, caracterizará um equilı́brio monetário, desta
forma existe um continumm de equilibrios monetários para o modelo.
Uma outra caracterı́stica importante é que o equilı́brio será de tal forma que
qt → 07 . Isto implica que, mesmo com a oferta monetária constante, haverá uma
hiperinflação, ou seja, Pt → ∞. Este resultado contradiz a Teoria Quantitativa
da Moeda pois o nı́vel de preços não é proporcional ao estoque de moeda. No
caso do modelo de gerações superpostas a hiperinflação decorre de profecias auto-
realizáveis. No limite a moeda perde o valor e o equilı́brio volta a ser autarquia.
5
Você será convidado a demonstrar estas propriedades como um exercı́cio.
6
Lembre que para que a seqüência {qt } seja um equilı́brio é preciso que obedeça a f (q) e que
seja limitada.
7
A não ser no caso onde q0 = q ⋆ .
113
...
...
...
...
.....
qt+1 6
.
..
..
..
..
...
.
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........
.
...
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........
........
..
.........
.........
.........
..........
...
...
............
.
..........
...........
...........
........... -
⋆
q0 q qt
114
10.2 Variações na Oferta de Moeda
Nesta seção vamos relaxar a hipótese de que a oferta de moeda seja constante e,
então, procurar por condições onde exista uma proporcionalidade entre o nı́vel
geral de preços e o estoque de moeda8 . Considere que a oferta de moeda cresce a
uma taxa z, ou seja, Mt+1 = zMt , por simplicidade assuma que a cada perı́odo a
moeda emitida é distribuida de forma lump-sum entre os velhos. Desta forma as
restrições orçamentárias passarão a ter a forma:
ct (t) = et (t) − qt mt (10.12)
ct (t + 1) = et (t + 1) + qt+1 (mt + τt ) (10.13)
onde τt é a quantidade de moeda que o indivı́duo recebe quando velho.
O equilı́brio no mercado monetário exige que mt = Mt , enquanto que, por
definição, vale que τt = Mt+1 − Mt = (z − 1)Mt . Com estas considerações a
condição de primeira ordem passa a ser escrita como:
qt+1
µ (et (t) − qt Mt , et (t + 1) + qt+1 Mt+1 ) = (10.14)
qt
Fazendo novamente a hipótese de (et (t), et (t + 1)) = (e1 , e2 ) ∀t, a equação (10.14)
pode ser escrita como:
qt+1
µ (e1 − qt Mt , e2 + qt+1 Mt+1 ) = (10.14′ )
qt
No caso de função de utilidade log-linear a equação (10.14′ ) toma a forma:
e2 qt
qt+1 = (10.15)
βe1 − (z + β)Mt qt
Como Mt muda no tempo não existe um equilı́brio estacionário para esta econo-
mia. Entretanto é possı́vel buscar por uma solução que atenda a proporcionalidade
entre o nı́vel de preços e o estoque de moeda. Isto implica em buscar uma solução
onde Pt = ΨMt ∀t, com Ψ > 0. Para chegar a esta solução basta inserir na
equação (10.15) a condição q1t = ΨMt , de forma que:
qt+1 e2
= 1
qt βe1 − (z + β)Mt ΨM t
ΨMt e2
=
ΨzMt βe1 − (z + β) Ψ1
z+β
βe1 = + e2 z
Ψ
z+β
Ψ= (10.16)
βe1 − e2 z
8
Wright (1997) analisa equilı́brios não estacionários onde a Teoria Quantitativa da Moeda não
se aplica.
115
A partir da equação (10.16) é possı́vel concluir que existirá um Ψ > 0 se e somente
se zµ(e1 , e2 ) < 1. Este resultado é uma generalização da condição para existência
de um equilı́brio monetário estacionário.
10.3 Exercı́cios
1. Mostre que a função f : ℜ → ℜ definida na equação (10.10) obedece as
seguintes propriedades:
i. f ′ (q) > 0
ii. f ′′ (q) > 0
βe1
iii. f (q) → ∞ quando q → (1+β)M
116
Capı́tulo 11
117
iguala o consumo dos velhos ao valor de sua riqueza mais a renda do capital, note
que os velhos não trabalham.
A solução deste problema é a conhecida Equação de Euler do consumo1 . Para
o caso de função de utilidade com elasticidade de substituição constante toma a
forma: 1
ct (t + 1) 1 + rt+1 σ
= (11.3)
ct (t) 1+γ
Das equações (11.1) e (11.2) é possı́vel escrver ct (t) como função da renda e do
salário. Usando a Equação de Euler em (11.3) torna-se possı́vel determinar ct (t)
tal que:
1
(1 + γ) σ
ct (t) = 1 1−σ wt (11.4)
(1 + γ) σ + (1 + rt+1 ) σ
A equação (11.3) determina o consumo no primeiro perı́odo como uma fração
da renda recebida neste perı́odo, que é igual a renda do trabalho, wt . Considerando
que a poupança é igual parte não consumida da renda temos que:
" 1
#
(1 + γ) σ
st = 1 − 1 1−σ wt
(1 + γ) σ + (1 + rt+1 ) σ
= ζ(rt+1 )wt (11.5)
1
A este respeito ver o capı́tulo sobre teoria do consumo
118
Onde F : ℜ2 → ℜ é a função de produção, KtF o capital demandado pela firma e
Nt a quantidade de trabalho demanda pela firma. As condições de primeira ordem
para este problema implicam que:
∂F (Ktf , Nt ) ∂F (Ktf , Nt )
rt = wt = (11.7)
∂Ktf ∂Nt
119
Para tornar o problema consistente é preciso escrever a regra de movimento do
capital em unidades de eficiencia, desta forma devemos ter:
onde Ω é uma constante. A fórmula acima mostra que, assim como no modelo
básico de crescimento e no Modelo de Solow, o estoque de capital tende a um valor
que não depende das condições iniciais do problema. Desta forma o resultado
que, no longo prazo, a taxa de crescimento do produto per-capita é igual a taxa de
crescimento da produtividade permanece valido.
120
Capı́tulo 12
Equivalência Ricardiana
121
Capı́tulo 13
Previdência Social
122
Apêndice A
ou seja,
Xt = X̂ext (A.2)
O desvio xt pode então ser pensado como o desvio percentual da variável de seu
valor de EE.
Isto implica que
Xt
xt = d log Xt = d
X̂
e
d(1 + Xt )
d log(1 + Xt ) = ≈ xt
1+X
se Xt é um número pequeno.
Dada uma expressão qualquer
123
Agora aplicamos log na equação acima (A.5):
1
log f (X, Y ) + f1 (X, Y )Xxt +
f (X, Y )
1 1
+ f2 (X, Y )Y yt ≈ log g(Z) + g1 (Z)Zzt (A.9)
f (X, Y ) g(Z)
é dada por
n
X m
X
fi (X 1 , ..., X n )X i xit ≈ gj (Z 1 , ..., Z k )Z j ztj . (A.11)
i=1 j=1
124
Método sem Diferenciação
Em muitos casos, um método mais simples é disponı́vel para log-linearizar um
modelo sem explicitar a diferenciação. Na maioria dos casos não é necessário
diferenciar as funções f e g. Em primeiro lugar observamos que podemos escrever
Xt da seguinte forma:
Xt
Xt = X = Xelog(Xt /X) = Xext . (A.12)
X
Então uma aproximação de Taylor em torno do EE, x = 0, implica que
Xt = Xext
≈ Xe0 + Xe0 (xt − 0)
= X(1 + xt ). (A.13)
Pela mesma lógica podemos escrever
Xt Yt ≈ X(1 + xt )Y (1 + yt )
= XY (1 + xt + yt + xt yt )
≈ XY (1 + xt + yt ), (A.14)
uma vez que xt yt ≈ 0 quando xt e yt são suficientemente pequenos.
Em seguida, note que
f (Xt ) ≈ f (X) + f ′ (X)(Xt − X)
≈ f (X) + f ′ (X)X(Xt /X − 1)
≈ f (X) + f (X)η(1 + xt − 1)
≈ f (X)(1 + ηxt ) (A.15)
onde η = ∂f∂X(X) X
f (X)
.
Portanto, podemos usar alguns simples passos para log-linearização, alguns
como descritos em Uhlig (1998, p. 34). Após as alterações necessárias na equação
original use os seguintes passos e aproximações:
1. Reescreva todas as variáveis como Xt = Xext ;
2. Use as seguintes regras:
Xt ≈ X(1 + xt ) (A.16)
Xt Yt ≈ XY (1 + xt + yt ) (A.17)
f (Xt ) ≈ f (X)(1 + ηxt ) (A.18)
ext +ayt ≈ 1 + xt + ayt (A.19)
xt yt ≈ 0 (A.20)
xt+1
Et [ae ] ≈ Et [axt+1 ] mais uma constante. (A.21)
125
Vale notar que as constantes são excluı́das de cada equação, uma vez que as
equações satisfazem as relações de estado estacionário.
Exemplo A.1 Suponha um exemplo baseado na restrição orçamentária de uma
economia:
Yt = Ct + It
reescreva isto como
Ct It
1= +
Yt Yt
Usando (A.17) obtemos:
C I
1 ≈ (1 + ct − yt ) + (1 + it − yt )
Y Y
C I C I
+ yt ≈ (1 + ct ) + (1 + it )
Y Y Y Y
Uma vez que em estado estacionário
C I
Y =C +I ⇒ =−
Y Y
Portanto, a restrição orçamentária linearizada é:
C I
yt ≈ c t + it .
Y Y
Equações Multiplicativas
Se a equação a ser linearizada contém apenas termos multiplicativos existe um
procedimento adequado para este caso. Suponha a seguinte equação:
Xt Yt
=α
Zt
onde α é uma constante. Para log-linearizar devemos dividir a equação pelas
variáveis de estado estacionário:
Xt Yt
X Y α
Zt
= =1
Z
α
Agora tome logs
Xt Yt Zt
log + log − log = log(1) = 0
X Y Z
Agora usando a equação (A.1) chegamos rapidamente ao seguinte resultado:
xt + yt − zt = 0
Vale notar que neste caso esta equação log-linearizada não é uma aproximação.
126
Outros Exemplos
Exemplo A.2 Log-linearização de Rt = θ KYt−1
t
+ 1 − δ. Faça
rt Yt
R̂e = θ eyt e−kt−1 + 1 − δ
Kt−1
127
Aplicando logs temos:
A Λt Yt Nt
log = log + log − log
1−θ Λ̂ Ŷ N̂
Aplicando a definição de desvio-logaritmo (A.1) e aproximando para o EE, temos
portanto:
nt = y t + λ t .
Caselli’s Recipe
Aqui apresentamos algumas dicas bem organizadas de como aplicar log-linearização.
Estas dicas são devidas a Francesco Caselli (2003).
2. Obviamente, g(X̂) = 0;
4. Olhe para o que você tem. Você pode usar g(X̂ = 0) = 0 para conseguir
uma equação linear em xt ?
(a) Se a resposta é sim, então pare. Note que isto funciona com Yt =
Ktθ (Zt Nt )1−θ . Também note que o resultado é exato e não uma aproximação.
(b) Caso contrário, continue.
6. Olhe para o que você tem. Tente de novo usar g(X̂) = 0 para fazer isto
linear em xt . Isto funcionou?
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